História das Relações
Internacionais
Gilberto Maringoni
UFABC – 1º. Semestre 2014
10 de março a 30 de maio
1. Apresentação do curso, do
programa e da metodologia
• Ementa
• Examinar a historia das Relações Internacionais
(RI) a partir do desenvolvimento das relações
políticas e econômicas entre os diferentes povos
e continentes. Análise da formação do sistema
mundial, dos impérios coloniais mercantilistas e
dos sucessivos ciclos de hegemonia vinculados
à expansão européia. Formação e
desenvolvimento da diplomacia.
• A construção das Relações
Internacionais na Idade Moderna
confunde-se com a história da
formação dos Estados nacionais
europeus e da difusão do modo de
produção capitalista em escala
global. A partir das expedições
ultramarinas, lideradas inicialmente
por Portugal e Espanha, a Europa
tornou-se universal.
• O sociólogo mexicano Enrique Dussel[1]
assinala, no ensaio Europa, modernidade
e eurocentrismo que, empiricamente,
“nunca houve uma historia mundial até
1492 – data de início da operação do
‘Sistema-mundo’. Antes dessa data, os
impérios ou sistemas culturais coexistiam
entre si. Apenas com a expansão
portuguesa (...) todo o planeta se torna o
‘lugar’ de uma só ‘História mundial’”.
•
[1] DUSSEL, Enrique.”Europa, modernidade e eurocentrismo”, in A
colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas
latino-americanas. Edgardo Lander (org). Colección Sur Sur, CLACSO,
Buenos Aires, Argentina, 2005. pgs.55-70
• O foco principal do curso é tratar o
desenvolvimento das RI como
caudatário da dinâmica de formação
dos Estados nacionais e do
desenvolvimento do capitalismo.
Assim, as esferas da política, da
economia – finanças, investimento,
comércio e circulação de capitais -,
da sociedade e da cultura serão
examinadas a partir de sua
articulação com aqueles processos.
Sobre a escolha do Estado como tema central do
curso, vai aqui uma observação de Perry
Anderson, em Linhagens do Estado absolutista:
• “Hoje, quando a “Historia a partir de baixo”
tornou-se reconhecida tanto em círculos
marxistas como não-marxistas e produziu já
importantes benefícios para nossa
compreensão do passado, é apesar de tudo
necessário relembrar um dos axiomas básicos
do materialismo histórico: que a luta secular
entre as classes resolve-se em última instância
no nível político da sociedade – e não no plano
econômico ou cultural. Em outras palavras, é a
construção ou destruição dos Estados que sela
as modificações básicas nas relações de
produção, enquanto subsistirem as classes”.
Carl Polanyi,
A grande transformação:
• “A ação deliberada do Estado nos séculos XV e
XVI impingiu o sistema mercantil às cidades e
municipalidades ferrenhamente protecionistas.
O mercantilismo destruiu o particularismo
desgastado do comércio local e intermunicipal,
eliminando as barreiras que separavam esses
dois tipos de comércio não-competitivo e, assim,
abrindo caminho para o mercado nacional que
passou a ignorar, cada vez mais, a distinção
entre cidade e campo, assim como as que
existiam entre as várias cidades e províncias”.
Luiz Augusto Estrella Faria (UFRGS)
Capitalismo, espaço e tempo:
• A relação mercantil na história
humana apresentou sempre uma
dimensão espacial.
• De seus primórdios, o ato da troca
resultou do encontro de homens que
vinham de lugares diferentes e
proporcionou-lhes a possibilidade de ter
acesso a valores de uso produzidos além
de seu espaço econômico próprio.
• Nesse sentido, a troca foi sempre uma
ampliação do espaço econômico, cuja
dimensão possível esteve sempre
condicionada pelo desenvolvimento
dos meios de transporte e
comunicação.
• Antes do advento do capitalismo,
entretanto, o espaço da troca era dado
pelos processos de deslocamento e
pela expansão territorial das
sociedades.
• A ampliação do espaço estava, então,
sujeita a uma lógica de acumulação de
poder proporcionada pela conquista de
mais território, como mostra Giovanni
Arrighi.
• A própria noção de geografia econômica
não fazia sentido mais que descritivo do
espaço das atividades produtivas, pois os
limites geográficos eram as fronteiras do
poder político, e a expansão econômica —
a acumulação de riquezas — surgia como
resultante da expansão territorial.
• O capitalismo modifica
essa situação; sob sua
égide, a ampliação do
espaço vai ser resultado
do desenvolvimento do
mercado, de seu
crescimento.
• No volume de sua obra
intitulado O Tempo do
Mundo, Fernand Braudel
traça um percurso da relação
entre o desenvolvimento das
relações mercantis e a
diferenciação dos espaços
econômicos.
• No livro, ele mostra como o
espaço vai-se ampliando na
medida em que os mercados
locais vão desaparecendo,
fundindo-se na formação do
mercado capitalista.
• Fernand Braudel também mostra
o papel da evolução dos meios
de transporte e comunicação
nesse processo.
• Desse passo, nasce o mercado
capitalista, e uma nova dimensão
de espaço econômico é
constituída.
• O desdobramento dessa
ampliação do espaço resulta de
uma dialética de unidade e
contradição entre o Estado, de
um lado, o lugar do poder, e a
zona urbana, de outro, o lugar da
riqueza.
• Num primeiro momento, surgem em
lugares diferentes, pois, nos séculos
XV e XVI, quando nascem os
primeiros Estados modernos
(Portugal, Espanha, Inglaterra,
França, Escandinávia), as zonas
urbanas, onde se concentra a
acumulação da riqueza, estão no eixo
Itália-Alemanha, que só vai
presenciar a formação de Estados
nacionais muito tardiamente.
• "Será necessário o novo
impulso econômico do
século XVIII para que o
ferrolho se solte e a
economia se ponha sob o
controle dos Estados e dos
mercados nacionais",
aponta Fernand Braudel.
• O encontro desses dois lugares
forma uma díade em que as cidades
são submetidas ao poder central do
Estado.
• Ao longo dos séculos seguintes, o
advento das democracias
representativas e dos padrões de
política de governo liberais faz a
balança de poder voltar a pender
para o lado dos donos da riqueza.
• Ou seja, é através da criação de
um espaço público de disputas
políticas – o Estado – que o
sistema interestatal, próprio das
Relações Internacionais, pode
surgir. É esta a pedra angular de
nosso curso, sem deixar de lado
outras esferas dessa dinâmica.
Programa
1. Apresentação do curso, do programa e da
metodologia;
2. Primeiros Estados nacionais europeus. A onda dos
descobrimentos;
3. 1648-1789: Paz de Westfalia e conceito de soberania;
4. A Revolução Francesa e a Época Napoleônica;
5. 1815-1848 - Restauração e revolução;
6. O século britânico: indústria, armada e comércio;
7. Os nacionalismos europeus e a Era dos Impérios. A
“questão oriental”;
8. I Guerra Mundial, Revolução Russa e crise sistêmica;
9. Saídas da crise e a II Guerra. Hegemonia dos EUA;
10. A descolonização e a emergência do 3º. Mundo.
ONU, organismos multilaterais, bipolarização e
Guerra Fria;
Programa por aula
•
10 de março: Apresentação do curso, do programa e da metodologia;
•
14 de março: Primeiros Estados nacionais europeus. A onda dos
descobrimentos;
FIORI, José Luís, No princípio era Portugal
(http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/No-principio-era-Portugal/26869 )
SILVA FILHO, Constituição, estrutura e atuação dos poderes locais na
comarca de Vila Rica, págs. 29 a 48
(file:///C:/Documents%20and%20Settings/Gilberto.GILBERTOD05DB0/Meus%20documentos/Downloads/GERALDO_SILVA_FILHO.pdf )
•
•
17 de março: 1648-1789: A Paz de Westfalia e o conceito de soberania;
ARRIGHI, Giovanni, O Longo século XX, Contraponto/ Editora UNESP, Rio
de janeiro/ São Paulo, 1996, pags. 27 a 46
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências, Editora
Campus, Rio de Janeiro, 1989, pags. 39 a 82
BREMER, Juan José, Tiempos de guerra y paz, Editorial Taurus, Cidade do
México, 2012, págs. 23 a 33
http://www.editorialtaurus.com/uploads/ficheros/libro/primeraspaginas/201201/primeras-paginas-tiempos-guerra-paz.pdf
RODRIGUES, Alessandra, CARVALHO, David, DINIZ, Luciano, Uma
abordagem sobre a compreensão da soberania no decurso da história
http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/bh/alessandra_mahe_cos
ta_rodrigues.pdf
•
•
24 de março : A Revolução Francesa e a Época Napoleônica;
HOBSBAWM, Eric J., A era das revoluções, Editora Paz e Terra, São
Paulo, 1977, pags. 23 a 116 (Caps. 1 a 4)
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências, Editora
Campus, Rio de Janeiro, 1989, pags. 119 a 140
ANDERSON, Perry, Internacionalismo, um breviário, Anos 90, Porto
Alegre, 2005, p.13-42
•
28 de março : 1815-1848 - Restauração e revolução;
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências, Editora
Campus, Rio de Janeiro, 1989, pags. 143 a 189
HOBSBAWM, Eric J., A era das revoluções, Editora Paz e Terra, São
Paulo, 1977, pags. 321 a 332
HOBSBAWM, Eric J., A era do capital, Editora Paz e Terra, São Paulo,
1982, pags. 21 a 46
•
31 de março e 4 de abril: O século britânico: indústria, armada e
comércio;
POLANYI, Karl, A grande transformação, Editora Campus, Rio de
Janeiro, 2000, pags. 15 a 35
HOBSBAWM, Eric J., A era do capital, Editora Paz e Terra, São Paulo,
1982, pags. 49 a 86
•
•
7 de abril: Os nacionalismos europeus e a Era dos
Impérios. A “questão oriental”;
HOBSBAWM, Eric J., A era do capital, Editora Paz e
Terra, São Paulo, 1982, pags. 101 a 134 (Caps. 5 e 6)
HOBSBAWM, Eric J., A era dos impérios, 1875-1914,
Editora Paz e Terra, São Paulo, 2003, págs. 87 a 124
e 203 a 232
ANDERSON, Perry, Internationalism, a breviary, New
Left Review, Londres, março/abril de 2002
(http://newleftreview.org/II/14/perry-andersoninternationalism-a-breviary)
•
11 de abril - PROVA
•
14 de abril: Os nacionalismos europeus e a Era
dos Impérios. A “questão oriental” (Parte II);
•
•
25 de abril: I Guerra Mundial e Revolução Russa
POLANYI, Karl, A grande transformação, Editora
Campus, Rio de Janeiro, 2000, pags. 36 a 47
HOBSBAWM, Eric J., A era dos extremos, Companhia
das Letras, São Paulo, 1996, pags. 29 a 89
•
28 de abril – Devolução das provas/ Crise
sistêmica
PARKER, Selwyn, O crash de 1929, Editora Globo,
São Paulo, 2009, pags. 21 a 52 5 e 9 de maio:
Saídas da crise e a II Guerra Mundial. Hegemonia
dos EUA;
HOBSBAWM, Eric J., A era dos extremos, Companhia
das Letras, São Paulo, 1996, pags. 223 a 252 e 253 a
281
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes
potências, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1989,
pags. 331 a 356
•
• 12 e 16 de maio: A descolonização e a
emergência do 3º. Mundo. ONU,
organismos multilaterais,;
ARRIGHI, Giovanni, O Longo século XX,
Contraponto/ Editora UNESP, Rio de
janeiro/ São Paulo, 1996, pags. 247 a 334
KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das
grandes potências, Editora Campus, Rio
de Janeiro, 1989, pags. 356 a 415
•
19 de maio: A Guerra Fria e o mundo bipolar;
ARRIGHI, Giovanni, O Longo século XX, Contraponto/
Editora UNESP, Rio de janeiro/ São Paulo, 1996,
pags. 337 a 371
HOBSBAWM, Eric J., A era dos extremos, Companhia
das Letras, São Paulo, 1996, pags. 537 a 562
HOBSBAWM, Eric, “Porque a hegemonia dos EUA
difere da do Império britânico”, in Globalização,
democracia e terrorismo, Companhia das Letras, São
Paulo, 2008, págs. 54 a 86
•
•
23 de maio: PROVA
•
30 de maio: Devolução e debate sobre as provas/
Avaliação da disciplina
26 de maio: Exibição do filme ‘Dr. Fantástico’ (Stanley
Kubrick)
• Metodologia
• Aulas expositivas, discussão de textos e pesquisas
bibliográficas.
• Avaliação
• Duas provas dissertativas/ Lista de presença
• Horário das aulas
• BH1335 - História das Relações Internacionais
A- Matutino (São Bernardo) – Segunda-feira das 10:00
às 12:00, sala A2-S111-SB, semanal - Sexta-feira das
08:00 às 10:00, sala A2-S111-SB, semanal
• BH1335 - História das Relações Internacionais
A- Noturno (São Bernardo) - Segunda-feira das 21:00
às 23:00, sala A1-S103-SB, semanal - Sexta-feira das
19:00 às 21:00, sala A1-S103-SB, semanal
•
42 horas/aula
Bibliografia básica:
• KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das
grandes potências, Editora Campus, Rio de
Janeiro, 1989
• LESSA, Antonio Carlos, História das relações
internacionais – a Pax Britannica e o mundo do
século XIX, Editora Vozes, Petrópolis, 2005
• WATSON, Adam, A evolução da sociedade
internacional: Uma análise histórica
comparativa, Editora Universidade de Brasília,
Brasília, 2004
Bibliografia complementar
•
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•
ANDERSON
, Perry, Linhagens do Estado absolutista, Editora Brasiliense, São Paulo, 2004
ARRIGHI, Giovanni, O Longo século XX, Contraponto/ Editora UNESP, Rio de janeiro/ São Paulo, 1996
BOBBIO, Norberto et alli, Dicionário de política, LGE Editora/ Editora UNB, Brasília, 2004
(http://bibliotecasolidaria.blogspot.com.br/2009/11/diccionario-de-politica-de-norberto.html)
FIORI, José Luís, O poder global, Boitempo Editorial, São Paulo, 2007
HOBSBAWM, Eric J., A era das revoluções, Editora Paz e Terra, São Paulo, 1977
__________________, A era do capital, Editora Paz e Terra, São Paulo, 1982
__________________, A era dos impérios, 1875-1914, Editora Paz e Terra, São Paulo, 2003
__________________, A era dos extremos, Companhia das Letras, São Paulo, 1996
__________________, Nações e nacionalismo desde 1780, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1990
KRIPPENDORF, Ekkehart, História das relações internacionais, Antídoto, Lisboa, 1979
LYRIO, Maurício Carvalho, Ascensão da China como potência: Fundamentos políticos internos, Fundação
Alexandre Gusmão, Brasília, 2010
(http://www.funag.gov.br/biblioteca/index.php?option=com_docman&task=search_result&Itemid=41)
NOVAIS, Fernando, Estrutura e dinâmica do antigo sistema colonial, Editora Brasiliense, 1993
PARKER, Selwyn, O crash de 1929, Editora Globo, São Paulo, 2009
PECEQUILO, Cristina, A política externa dos Estados Unidos, EdUFRGS, Porto Alegre, 2003
POLANYI, Karl, A grande transformação, Editora Campus, Rio de Janeiro, 2000
SARAIVA, José Flávio Sombra (org.), História das Relações Internacionais Contemporâneas – da sociedade
internacional do século XIX à era da globalização, Editora Saraiva. São Paulo, 2007
(http://books.google.com.br/books?id=DKewvkeGn_gC&printsec=frontcover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#
v=onepage&q&f=false)
SIGRILLO, Ângelo, O fim da URSS e a nova Rússia - De Gorbachev ao pós-Yeltsin, Editora Vozes, Petrópolis,
2000
SOUSA, Fernando, Dicionário de relações internacionais, Edições Afrontamento, Porto, 2005
(http://www.aeflup.com/ficheiros/Dicionario%20de%20Relacoes%20Internacionais.pdf)
Artigos
• ANDERSON, Perry, Nation-States and National Identity
(http://www.lrb.co.uk/v13/n09/perry-anderson/nationstates-and-national-identity)
• ________________, Internationalism, a breviary
(http://newleftreview.org/II/14/perry-andersoninternationalism-a-breviary)
• FIORI, José Luís, No princípio era Portugal
(http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.
cfm?coluna_id=5787)
• Faria, Luiz Augusto Estrella, Capitalismo, espaço e
tempo
(http://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view
File/1946/2322)
2. Primeiros Estados nacionais
europeus. A onda dos descobrimentos
• No princípio era Portugal
• José Luís Fiori
• O sistema mundial em que vivemos –
interestatal e capitalista - surgiu na
Europa, e só na Europa, entre 1150 e
1450, de um longo conflito sistêmico entre
“feudos” e “centros imperiais” de poder,
que conseguiram transformar suas
“economias naturais” em economias
capitalistas mais poderosas do que a dos
seus rivais.
• Neste período, a
Península Ibérica
cumpriu um papel
decisivo, na formação do
próprio sistema e no
início da sua expansão
para fora da Europa.
• Os reinos de Castela, Leon e Aragão, que
se transformaram no núcleo político do
Império Habsburgo, que dominou a
Europa, durante o século XVI, sob a
batuta de Carlos V e Felipe II.
• Mas antes dos espanhóis, foi o reino de
Portugal que se estruturou primeiro,
como estado nacional, e foi ele também
que liderou o primeiro século da expansão
mundial da Europa, depois da sua
conquista de Ceuta, em 1415.
• Ceuta, hoje um enclave espanhol no Marrocos, na entrada do
estreito de Gibraltar, era ponto estratégico na passagem do
Atlântico para o mar Mediterrâneo.
• Portugal nasceu de um
pequeno “feudo” - situado
entre os rios Minho e Douro que se rebelou contra Leon e
Castela, em 1143, e depois
travou uma guerra expansiva
de mais de dois séculos, em
duas frentes: contra os
muçulmanos, ao sul, e contra
os espanhóis, ao leste.
•
• Foi neste período de guerra quase
contínua com os “mouros” e os
“castelhanos” que se formou o estado
português, depois da “reconquista” de
Lisboa, em 1147, e da expulsão definitiva
dos árabes, do Algarve, em 1249; e
depois da assinatura do Tratado de Paz,
de 1432, referendando a separação e o
reconhecimento mútuo entre Portugal e
Castela, algumas décadas após a
Revolução de Avis, de 1385.
• Mas foi só no século
seguinte à expulsão
mulçumana de 1249, que
Portugal criou as estruturas
legais, tributárias e
administrativas do seu
estado moderno.
• V. pags. 41/43
• O mesmo Estado que seguiu se
expandindo, durante mais um século e
meio, depois da paz com os castelhanos,
até construir o primeiro grande império
marítimo da história moderna.
• O impulso inicial desta expansão “para
fora” não parece ter tido um objetivo nem
um sucesso mercantil imediato, e só
promoveu a ocupação e a colonização
dos territórios conquistados, depois de
1450, na Ilha da Madeira.
• Além disto, o empreendimento português
contou com ajuda externa, mas se
financiou sobretudo através da
capacidade tributária do novo estado, e da
riqueza de suas Ordens Militares
religiosas – em particular, os Templários,
sucedidos pela Ordem de Cristo, depois
do seu fechamento em 1312 – que
forjaram em conjunto uma verdadeira
máquina de guerra, conquista e
tributação.
• Na altura de 1147, a economia
portuguesa era local, e o seu
comércio era feito em espécie.
• Mas depois de 1249, houve um
aumento constante da circulação
nacional de mercadorias, a partir da
reforma monetária e do tabelamento
de preços, promovido por D. Afonso
III, na década de 1250.
• Em 1293, D. Diniz criou a primeira Bolsa de
Mercadorias do país, com um sistema de
seguros para os navios e cargas portuguesas, e
durante toda a segunda metade do século XIII,
foram criadas mais de 40 feiras comerciais,
responsáveis pela ativação de um incipiente
mercado nacional.
• Até o século XVI, o Estado português foi o
maior proprietário de terras do país, e atuou
como uma espécie de “banco de
financiamento” das atividades econômicas
públicas e privadas.
• Foi só em 1500, que o governo
português conseguiu criar o seu
sistema de títulos da divida
pública consolidada, e só foi
depois de 1540 que esta espécie
primitiva de “capitalismo de
Estado” foi cedendo lugar ao
desenvolvimento de um
capitalismo privado de grandes
companhias mercantis.
• Entretanto, este processo foi
interrompido em 1580, pela
incorporação de Portugal pelo
império espanhol de Felipe II, e
depois, pela submissão
diplomática, financeira e
comercial definitiva de Portugal, à
Holanda e à Inglaterra, a partir de
1640.
Esta história pioneira de Portugal deixou algumas
lições sobre a formação do sistema inter-estatal e do
próprio capitalismo:
• i. O primeiro estado nacional europeu já nasceu
dentro de um sistema de poderes competitivos;
ii. Suas fronteiras territoriais, sua unidade
política, e sua identidade nacional foram
construídas por duas guerras que duraram mais
de 200 anos;
iii. Estas guerras “nacionais” se prolongaram
imediatamente, num movimento de expansão
“para fora”, na direção da África, Ásia e
América, que durou mais um século e meio;
• iv. Estas guerras e conquistas
não tiveram inicialmente um
objetivo prioritariamente
mercantil, mas assim mesmo,
no longo prazo, tiveram um
papel decisivo na criação e
expansão de uma economia
de mercado e de um
capitalismo nacional
incipiente;
• v. Neste período, esta economia nacional
de forte cunho estatal, não alcançou a se
“privatizar”, nem chegou a criar um
sistema nacional de bancos e crédito
capaz de mobilizar o capital financeiro
português, o segredo do sucesso posterior
da Holanda e da Inglaterra;
vi. Por fim, se pode dizer que Portugal
teve um papel decisivo no “big-bang”
do “sistema interestatal capitalista”,
que está vivendo uma nova explosão
expansiva neste início do século XXI.
Rompendo vínculos
• O processo de formação da monarquia – e do Estado
unificado português - iniciou-se por volta de 1139. Nesse
ano, Afonso Henriques, fundador da dinastia dos
Borgonha, rompeu os vínculos de subordinação política
com o reino de Castela, declarando-se rei em uma
extensão de terras situadas entre as regiões dos rios
Minho e Douro.
• A partir daí, o reino expandiu-se para os territórios
situados na porção meridional da península,
conquistando territórios mouros, até incorporarem, no
século XIII, o reino muçulmano do Algarve. Portugal
define suas fronteiras históricas.
• De forma pioneira na Europa, tem seguimento
um processo de unificação e construção do
Estado português, com fisionomia e aparência
de instituição pública e organismo político com
administração impessoal, reconhecida pela
nobreza e pelas oligarquias comerciais.
• Consolida-se um corpo legislativo e montase um aparelho judiciário baseado no direito
romano. A administração pública passou a se
basear na economia das cidades e não mais
dos feudos.
• O advento da dinastia de Avis consolida e
aprofunda essa tendência, especialmente
a partir de 1383, nas guerras contra
Castela.
• O Estado passa a ter instrumentos
fiscais centralizados e um corpo bélico
unificado de defesa e do monopólio do
comércio.
Geraldo Silva Filho
Constituição, estrutura e atuação dos poderes locais na comarca de
Vila Rica (1711-1750)
• Portugal do final da Idade Média firmou-se como um
Estado de guerra, o que exigia finanças sólidas e
capacidade de mobilização de vastos contingentes de
soldados e militares, impossível de ser obtido no âmbito
da organização feudal. Com polítiocas fiscais rígidas e a
possibilidade de ter soberania sobre a moeda e um
corpo parlamentar representativo das diversas
oligarquias locais, o Estado moderno toma foco.
• Entre 1385 e 1490 – as cortes portuguesas reuniramse 55 vezes. Isso quer dizer que a Coroa realizava com
certa regularidade um processo de consulta com seus
segmentos sociais dominantes – nobreza, clero e
comerciantes – para participar de decisões importantes
do Estado.
O surgimento dos primeiros Estados
nacionais no final da Idade Média e do
feudalismo resultaram da combinação de
duas condições históricas determinantes:
• 1. O alargamento de suas bases
territoriais e demográficas;
• 2. Com o desaparecimento do escravismo
e de uma crescente e gradual
complexidade da vida urbana abre espaço
para a consolidação de uma classe
burguesa.
Protagonismo português
Fatores principais
• Inúmeros foram os fatores que colaboraram
com o protagonismo português no processo das
grandes navegações, entre eles, destaca-se a
centralização política de Portugal. Isso porque,
já no século XIV o Estado português passou por
um processo de unificação política, por meio da
Dinastia de Avis (1385-1582), que facilitou a
organização de sistema de arrecadação de
impostos e estrutura administrativa centralizada.
• Em segundo lugar, está uma burguesia
mercantil, que, na ausência de investimentos
efetivos do Estado, que não vislumbrava
inicialmente resultados positivos nessas ações,
abriu espaço para que a iniciativa privada o
fizesse.
• Salienta-se, também, como fator favorável, a
posição geográfica portuguesa, banhada pelo
mar Mediterrâneo e pelo oceano Atlântico,
verdadeiramente debruçado sobre a África, o
que a colocava numa situação de contato direto
com as possibilidades de navegação pelas vias
marítimas.
Formação do Estado português
• O surgimento da monarquia
nacional portuguesa, assim
como a espanhola, está
estreitamente associada às
guerras de expulsão dos
muçulmanos da Península
Ibérica que ficaram
conhecidas como Guerras de
Reconquista.
• Desde a expansão islâmica, ocorrida no
século VIII, povos árabes dominavam boa
parte da Península Ibérica. Os reinos
cristãos de Leão, Castela, Navarra e
Aragão limitavam-se a uma pequena
porção ao norte da península.
• A partir do século XI, no contexto das
Cruzadas e da expansão do cristianismo,
esses reinos cristãos iniciam uma guerra
contra os muçulmanos. Na luta contra os
árabes, esses reinos contaram com o
apoio do nobre francês Henrique de
Borgonha.
• A formação do Estado português está
associada justamente à doação, feita pelo
soberano de Leão, Afonso VI. Além de
receber o condado Portucalense, Henrique
casou-se com a filha ilegítima do rei, Dona
Teresa.
• A independência do condado em relação ao
reino de Leão foi conseguida pelo filho de
Henrique e Teresa, D. Afonso Henriques, após
muita luta e a expulsão de Dona Teresa em
1139 para garantir a independência, porque ela
defendia a sujeição do condado ao reino dos
pais.
• D. Afonso Henriques, então, inicia a
dinastia de Borgonha, e dá
prosseguimento à guerra contra os
muçulmanos, expandindo as
fronteiras do novo reino para o sul da
península.
• O novo monarca doava terras à
nobreza guerreira, porém, sem o
direito a hereditariedade, o que
impediu a formação de uma nobreza
proprietária autônoma, mantendo a
hegemonia da autoridade real.
• Além de se expandir, o novo reino
enriquecia graças à posição
privilegiada de entreposto
comercial entre as rotas do mar
mediterrâneo e do norte da
Europa.
• O setor mercantil lusitano tornou-se mais
forte a partir do século XIV graças ao
advento da peste negra e das guerras no
continente, que tornavam as rotas por
terra mais inseguras.
• Em 1383, o último rei da
Dinastia de Borgonha morre
sem deixar herdeiros diretos,
desencadeando uma acirrada
disputa sucessória, sendo que
parte da nobreza apoiava a
entrega da coroa de Portugal
ao rei de Castela, genro de
Fernando I, último soberano
da casa de Borgonha.
• Porém os comerciantes aliados a setores
populares conseguem impor no trono
D.João, Mestre de Avis, derrotando os
exércitos castelhanos e setores da
nobreza na batalha de Aljubarrota.
• Esse episódio da história de Portugal ficou
conhecido como Revolução de Avis. A
consequência desse episódio foi o início
da dinastia de Avis, que se aproximou da
burguesia mercantil, e que fez Portugal
largar na frente nas Grandes Navegações
e nos “Descobrimentos”.
• A Guerra dos 80 anos ou Revolta Holandesa
de 1568 a 1648, foi o conflito de secessão na
qual o território englobando aquilo que é hoje
os Países Baixos se tornou um país
independente frente à Espanha.
• Durante esta guerra, a República Holandesa
tornou-se uma potência mundial por um curto
período, com grande poder naval, e
beneficiou de um crescimento econômico,
científico e cultural sem precedentes.
• Entre 1580 e 1640, Portugal foi anexado à
Holanda. Herdou a guerra contra
Espanha.
• Depois, até 1689, o reino guerreou contra
os dois. Portugal converteu suas colônias
em centros militares e geradores de
receita para a coroa.
• Ao contrário dos holandeses, ingleses e
venezianos, os portugueses não
concederam aos mercadores autorização
para organizarem um governo colonial.
Embora o sistema gerasse um cipoal de
corrupção e negócios clandestinos, pode
alimentar a coroa por um bom tempo.
• Os espanhóis só investiram depois na
conquista ultramarina, a partir de 1492,
conquistando qase toda a América Central
e a do Sul.
• Por essa época, entraram em cena as
Companhias da Índias Ocidentais e
Orientais, dirigidas por holandeses e
ingleses. No século XVII a supremacia
dos mares seria ds holandeses.
• A supremacia lusitana estendeu-se até
fins do século XVIII.
Final do século XVI
• Estados unitários: Espanha, França, Ingaterra
tendem a formar unidades econômicas num
mundo medieval em que essas unidades são as
grandes cidades.
• Diplomacia: invenção veneziena, pela
necessidade de contatos permanentes entre
aliados (1495)
• Portugueses e espanhóis fundam impérios
ultramarinos e dividem o Novo Mundo pelo
tratado de Tordesilhas (1494) e de Saragoça, no
pacífico.
Paul Kennedy
Ascensão e queda das grandes potências
O advento da modernidade
• Ao redor do ano de 1500
situa-se a divisão de mundo
entre a época pré-moderna e
a moderna. A queda de
Constantnopla (1453), pelas
mãos dos turcos otomanos
acontecera meio século antes.
• Os tempos marcam também a supremacia
econômica das cidades-estado italianas,
centradas em Veneza, Genova, Florença
e Milão, verdadeiros enclaves capitalistas
num mundo feudal.
•
Elas anteciparam em pelos menos dois
séculos várias das características do
sistema interoestatal moderno. Essas
características se deram especialmente
na gestão do Estado e da guerra.
• O período assistiu a hegemonia
econômico-financeira de dois Estados,
primeiramente Veneza e depois
Amsterdam.
Estado e guerra
• Nas relações inter estatais, a
principal característica dos Estados
capitalistas é a busca do equilíbrio de
poderes, que reduz custos de defesa,
Assim, pode se desenvolver um
sistema de diplomacia que serviria de
modelo para estados 200 anos
depois.
• O conhecimento do mundo que os
europeus tinham era escasso e
fragmentado. Pouco ou nada sabiam das
civilizações orientais e menos ainda do
que existia nas Américas.
• O período coincide, na Europa, com a
formação do Estado-nação, em meio ao
mundo feudal. Novas classes sociais
afloram no cenário político e social, como
a burguesia. Melhores meios de
comunicação também ao o tom.
• Mas era a guerra e suas conseqüências
que criavam uma pressão contínua no
sentido da formação da nação. Isso não
apenas por apelos patrióticos, mas
especialmente pela organização e custeio
dos exércitos engendrar novas políticas
tributárias, delimitadas geograficamente,
visando financiar o aparato bélico.
• Uma conseqüência dessas foi a extensão
do envolvimento dos estados em
atividades não militares.
Crescimento para fora
• Em meados do século XV, as potências
européias começaram a criar impérios fora do
continente. A partir de 1415, com a captura de
Ceuta, na costa marroquina, os portugueses
dão início a uma expansão de ultramar que
duraria dois séculos.
• Em 1460, os portugueses haviam se apossado
da costa ocidental da África e de madeira e
Açores, no meio do Atlântico. Em aliança com
empresários genoveses, começaram a viabilizar
comercialmente as novas colônias.
• No fim do século, Vasco da
Gama havia estendido a
influência portuguesa ao
Índico e ao pacífico.
• Tentaram quebrar o monopólio
muçulmano-veneziamno do
acesso às especiarias e
mercadorias de luxo na África.
Quase conseguiram.
Giovanni Arrighi
O longo século XX
• O aspecto crucial do surgimento do moderno
sistema interestatal foi a oposição constante
entre as lógicas capitalista e territorialista do
poder, bem como a recorrente resolução de
suas contradições através da reorganização do
espaço político-econômico mundial pelo
principal Estado capitalista de cada época.
• Essa dialética entre capitalismo e territorialismo
é anterior ao estabelecimento, no século XVII,
de um sistema interestatal pan-europeu.
• Inicialmente, o subsistema
regional de cidades-Estados
capitalistas que emergiu na Itália
setentrional não foi mais do que
um dos “enclaves anômalos”que
se multiplicaram no espaço
político do sistema de poder
medieval.
• Italia
• Mas à medida que se acelerou a decadência do
sistema de governo medieval, o enclave
capitalista da Itália setentrional organizou-se
num subsistema de jurisdições políticas
separadas e independentes, unidas pelo
princípio do equilíbrio do poder e por densas e
vastas redes de diplomacia com sedes
permanentes.
• De variadas formas, esse subsistema de
cidades-Estado – centrado em Veneza, Genova,
Florença e Milão – antecipou em pelo menos
dois séculos muitas das principais
características do moderno sistema interestatal.
Esse subsistema, um enclave capitalista em pleno
mundo medieval, tinha pelo menos quatro
características essenciais ao desenvolvimento do
posterior sistema interestatal:
1. Era um sistema predominantemente
capitalista
2. Era baseado num “equilíbrio de
poder”, que conseguiu preservar
suas principais características
políticas e econômicas, impedindo
que a lógica territorialista
suplantasse a dinâmica capitalista;
3. Por força da dinâmica capitalista, tinham
sua relação social fundamental baseada
no trabalho assalariado, o que lhes
garantia a formação de um mercado
interno que impulsionava o próprio
desenvolvimento;
4. O poder político assumiu a direção de
novas e inéditas redes de diplomacia.
Isso possibilitava a administração dos
monopólios de comércio na rede por
parte do poder estatal. As redes
diplomáticas eram construídas através da
longas rotas comerciais.
• Tais características – em especial
o equilíbrio de poder, peça
essencial do sistema interestatal
posterior – deu previsibilidade ao
funcionamento do sistema,
otimizou gastos bélicos e
promoveu inédita concentração
de riqueza e poder nas mãos da
oligarquia.
• http://portugalglorioso.blogspot.com.br/201
4/03/mapa-da-europa-1000-dc-atehoje.html
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NOVO Plano geral do curso História das RI – 1-2014