Seminário> Família: realidades e desafios 18 e 19 de Novembro de 2004 Homens e Mulheres entre Família e Trabalho Anália Cardoso Torres Quatro ideias fundamentais. • Grande valorização da família em todos os países da Europa, como elemento central da vida dos indivíduos. Das lógica tradicionais às lógicas modernas. Valorização da família segundo moldes não tradicionais. • Grande valorização, tanto pela parte dos homens como das mulheres, do trabalho profissional • Não é a taxa de actividade feminina que trava a natalidade. Nos países com taxa de actividade feminina baixa, como é o caso dos do Sul, excepto Portugal, o índice sintético de fecundidade é dos mais baixos da Europa e do Mundo. As mulheres em casa não são a solução para o aumento da natalidade. • Mais políticas de apoio à conciliação entre trabalho e família, maior fecundidade, mais bem estar para homens e para mulheres. » Inquérito a uma amostra representativa da população entre os 20 e os 50 anos de 1700 homens e mulheres. Resultados para o nível Nacional de uma pesquisa inscrita numa Rede Europeia de Investigação. » Livro Homens e mulheres e entre Família e Trabalho, 2004, CITE. » Entrevistas em profundidade sobre Vida Conjugal e Trabalho. – Livro Vida Conjugal e Trabalho, 2004 » Dados do European Social Survey . Inquérito longitudinal em que estão envolvidos mais de 20 países da Europa. Dados de 2002. Textos em www.aps.pt Nada 0 importante Família Política Organizações de voluntariado Amigos Trabalho Centro da escala Tempos livres Religião Is ra e l G ré c ia P o rt u g a l Esp an h a It a lia E s lo v é n ia P o ló n ia R e p .C h e c a H u n g ria Irla n d a S u íç a L u x e m b u rg o B é lg ic a H o la n d a Á u s t ria A le m a n h a F ra n ç a R e in o U n id o D in a m a rc a F in lâ n d ia S u é c ia N o ru e g a Importância de cada um dos aspectos na vida dos inquiridos Extremamente importante 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 Média Europa (ESS) Portugal Suécia Reino Unido Casados 57,8 64,9 46,1 55,7 Divorciados 5,1 2,2 8,9 7,1 Coabitação 20,4 4,0 36,9 21,8 • A maioria está casada ou vive em coabitação. São poucos os que permanecem divorciados. A coabitação, na média europeia, representa um terço dos que estão casados. •Nos países escandinavos e do Norte há menor formalização das relações conjugais face aos países do sul, pois há menos casados e muito mais coabitação. No Sul verificam-se os valores mais baixos relativos à coabitação, a entrada na vida conjugal faz-se através do casamento. Portugal, apesar de bastante abaixo da média Europeia é o país do sul, onde há mais divorciados. A elevada taxa de actividade feminina contribui para explicar esta especificidade portuguesa. • Portugal, em comparação com outros países da Europa: apesar da forte conjugalização, mais famílias com vários núcleos conjugais e com parentes, menos famílias de pessoas sós. • Mas as pessoas que vivem sós são mais velhas em Portugal (e no Sul). Nos países escandinavos os jovens saem de casa dos pais mais cedo. Assim, nesses países a população que vive só é mais jovem. Tendências globais • Das lógicas tradicionais às lógicas modernas. Valorização da família segundo novos moldes. » Conjugalização (tamanho médio da família menor). » Na relação pais/filhos, maior autonomização. » Na relação conjugal. Centralidade do amoroso. Bem estar individual, garante do bem-estar a dois. » Maior autonomia económica (cônjuges, pais filhos), menor dependência da instituição como tal. Maior taxa de actividade feminina. » Menor valorização dos laços institucionais, maior informalidade, posições mais pragmáticas face às instituições. » Mais risco, mais imprevisibilidade, novos problemas. • Sentimentalização, Secularização, Individualização. • Convergência. Mas também configurações específicas, convivência de modelos e práticas diferentes entre países e internamente a cada país. •Homens (89%) e mulheres (71,6%) contribuem financeiramente para os rendimentos da família. •Os rendimentos dos agregados familiares são globalmente baixos: 58,8% gerem mensalmente montantes inferiores a 1251€. •Os rendimentos das mulheres são manifestamente inferiores aos dos homens: 61,4% das mulheres têm como rendimento pessoal menos de 375€ mensais, enquanto só 26,4% dos homens se encontram no mesmo escalão. Rendimento pessoal mensal, segundo o sexo Homens Mulheres Menos de 375 € 26,4 61,4 De 376 a 750 € 56,0 30,7 De 751 a 1250 € 13,5 6,4 De 1251 a 1750 € 2,8 1,1 De 1751 a 2250 € 0,5 0,4 Mais de 2250 € 0,8 - Total 100,0 100,0 N 647 739 • Os níveis de instrução são muito baixos: até ao 9º ano 79%. Mesmo no escalão mais jovem (20 a 30 anos) só 29% completaram o secundário e 7% cursos médios ou superiores. • A maioria dos inquiridos exerce profissão: 90,3% dos homens e 71,4% das mulheres têm actividade profissional. • Quanto maior é o nível de instrução maior é a probabilidade de se ser uma mulher activa: 90,9% das mulheres que têm formação de nível médio ou superior estão empregadas. • Em contrapartida, as mulheres domésticas são as menos instruídas. O grupo dos baixos rendimentos (até 750€) é também aquele em que há mais domésticas (34%). • Concentração dos empregos femininos em categorias caracterizadas pela precariedade e pelos baixos níveis salariais. • Por outro lado, há certa preponderância feminina em sectores (globalmente minoritários) como o das profissões intelectuais e científicas: há 5,9% de mulheres mas apenas 3,7% de homens. • Estudar e tirar uma licenciatura compensa financeiramente. Mas verificam-se assimetrias de género. • Quanto às interajudas e às redes familiares de apoio: quando os rendimentos são mais baixos há menos ajudas. Ou seja, quem mais precisa menos ajuda tem. •Onde estão os idosos que precisam de cuidados especiais *? % Em casa do inquirido/a ou de um familiar do/a inquirido/a 52,6 Em casa do próprio idoso 44,8 Num lar/casa de repouso 2,6 Total 100,0 (*) Consideraram-se cuidados especiais aqueles que pudessem estar relacionados com perdas ou limitações de autonomia, implicando situações de dependência. Por ex: cuidados de saúde, cuidados de higiene, alimentação e preparação das refeições, deslocações, etc. Horas ocupadas em diversas actividades, segundo o sexo, ao dia de semana Horas ocupadas em diversas actividades durante o dia de semana Horas ocupadas pelos homens Horas ocupadas pelas mulheres Diferenças (aproximadas) de horas Trabalho pago (incluindo deslocações) 9.0 8.1 +0,9 Lazer e cuidados pessoais 3.1 2.3 +0,8 Trabalho doméstico e cuidados com os filhos e outros familiares 1.3 3.8 - 2.5 Trabalho remunerado nos últimos 7 dias (%) 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 Masculino Total Israel Grécia Portugal Espanha Itália Eslovénia Polónia Rep. Checa Hungria Irlanda Suiça Luxemburgo Bélgica Holanda Alemanha Reino Unido Dinamarca Suécia Noruega 0,0 Finlândia 10,0 Feminino •No contexto do sul, mantém-se a especificidade de Portugal: maior representação feminina no mercado de trabalho, maior carga horária e os valores mais altos, do sul da Europa, do índice sintético de fecundidade. •Estes factores poderão indicar que as mulheres portuguesas têm de se desdobrar entre família e trabalho, articulação ainda mais dificultada pela insuficiência de redes, recursos e equipamentos sociais em Portugal. Mulheres activas, (25-64 anos), segundo o nível de instrução atingido, 2002 (%) En s i n o B ás i co 0 10 20 En s i n o S e cu n dári o 30 40 En s i n o Mé di o e S u pe ri or 50 60 70 80 90 Dinam ar ca 88,4 Sué cia 88,1 Finlândia 87,8 Fr ança Bé lgica 84,4 83,3 Por tugal Es panha Itália Gr é cia Ale m anha 91,1 83,1 82,7 82,4 83 Aus tr ia Holanda Luxe m bur go Re ino Unido Ir landa EU 15 100 84,4 84,1 79,5 87,3 83,6 84,6 Irlanda 1,90 França > > Luxemburgo Noruega> > 1,80 Finlândia Holanda 1,70 > Reino Unido > Dinamarca > > 1,60 Filhos por mulher (em idade fértil) >> Suécia Bélgica > 1,50 > Portugal Suíça > 1,40 Alemanha Espanha > > 1,30 Grécia Polónia > Hungria Itália >> > Áustria > 1,20 > Eslovénia 40,00 50,00 Republica Checa 60,00 Mães trabalhadoras 70,00 80,00 No plano dos valores • • Forte valorização da família e do trabalho profissional feminino. Vontade de conciliar trabalho e vida familiar. Mas defesa do retraimento dos homens na vida familiar para o seu maior envolvimento na profissão. Forte orientação para a família 3.72 Forte orientação para o trabalho profissional das mulheres 3.24 Atitude positiva perante o envolvimento masculino na vida familiar 3.31 Atitude positiva perante o trabalho pago 3.83 Atitude negativa perante a divisão tradicional das tarefas 2.91 Só trabalhando as mulheres são verdadeiramente independentes Eu continuaria a trabalhar mesmo se pudesse receber um salário igual ao que recebo actualmente sem ter que trabalhar para isso Homens Mulheres Total 3.13 3.42 3.27 Homens Activos Mulheres Activas Total 3.05 3.04 3.05 Quanto ao envolvimento dos homens na vida familiar? Os homens devem participar activamente na educação das crianças: 4.01 Os homens devem fazer metade das tarefas domésticas: 3.53 Mas fraca adesão à ideia... Os homens devem reduzir a actividade profissional quando nasce um filho: Mulheres: 2.94 Homens: 2,74 Discordância… • “Eu trabalhei numa fábrica que era de produtos de sabonete líquido, detergente para as loiças e essas coisas...e então eram linhas. E esse trabalho, realmente, eu gostava tanto de fazer aquilo, trabalhar de linha, é um trabalho que rende, que se vê feito. E o trabalho de casa, eu gosto de fazer, mas é uma coisa que andamos sempre naquilo, naquele círculo (...) Eu gostava desse trabalho de linhas, gostava mesmo muito. Era um trabalho engraçado”. Mãe de duas crianças de 2 e 5 anos • "Agora sou senhora do dinheiro, sou senhora de comprar aquilo que quero, quando posso" Mãe de 5 crianças • Só não gostaria de deixar de trabalhar porque sou um bocado orgulhosa...eu ganho para comer. Se a gente não trabalhar já tem que se sujeitar mais àquilo que eles querem...Gostava de arranjar um trabalho não com tanta repressão, exigência...gostava de ser efectiva...mesmo que ganhasse menos, mas que fosse um trabalho em que eu me sentisse bem (...) ”. Mãe de duas crianças N o ru e g a S u é c ia F in lâ n d ia D in a m a r c a R e in o U n id o F ra n ç a A le m a n h a Á u s t r ia H o la n d a B é lg ic a L u x e m b u rg o S u íç a Ir la n d a H u n g r ia R e p .C h e c a P o ló n ia E s lo v é n ia It a lia Esp an h a P o rt u g a l G r é c ia Is r a e l Extremamente importante 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Nada importante Importância da família e do trabalho, na vida das mulheres e dos homens Família (homens) Trabalho (mulheres) Trabalho (homens) Centro da escala Família (mulheres) Trinómio divisão do trabalho pago, divisão do trabalho não pago e valores e atitudes. Assimetrias fortes que penalizam na prática as mulheres. Porquê? 1) Inexistência de valorização da extensão e do volume de trabalho pago produzido pelas mulheres. 2) Não reconhecimento do peso da carga doméstica e idêntica não valorização deste contributo. 3) Imposição às mulheres, mas também aos homens, de constrangimentos de género: • Constrangimentos objectivos que atravessam e configuram a relação conjugal. • Obstáculos “estruturais” – a organização da divisão do trabalho entre os sexos - e simbólicos – a incorporação e naturalização das desigualdades. As mulheres são trabalhadores com família, os homens são trabalhadores “livres”. Conclusões globais •Forte investimento em toda a Europa na família e nos afectos. Investimento associado a uma valorização da actividade profissional, como fonte de identidade pessoal e social e de autonomização, tanto para homens como para mulheres. •Taxa de actividade feminina alta não tem que corresponder a baixos índices de fecundidade. Pelo contrário. A inserção estável no mundo do trabalho associada a políticas activas de conciliação entre trabalho e família, para os dois sexos, pode traduzir-se em aumento da fecundidade. Vê-se, pela positiva, nos países escandinavos e pela negativa nos países do leste europeu. •Homens e mulheres são muito parecidos nos seus investimentos. Mas as mulheres, por constrangimentos de género, receiam afirmar claramente como o trabalho é importante para elas e os homens mesmo que não queiram – são “obrigados” a vestir mais a pele do trabalho do que a da família. Ainda que não prescindam de ter filhos…. Portugal: Média de anos de escolaridade concluídos 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 15-29 anos 30-44 anos 45-59 anos 60 anos e + Homens 9,97 8,78 7,22 4,61 Mulheres 10,96 8,64 5,94 3,35 Homens Mulheres Israel G récia Portugal Espanha Itália Eslovénia Polónia Rep.Checa Hungria Irlanda Suíça Luxem burgo Bélgica Holanda Alem anha Reino Unido Dinam arca Finlândia Suécia Noruega Escalão etário: 15 - 29 anos Média de anos de escolaridade concluídos 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0