EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA PRÁTICA EDUCATIVA COM
ALUNOS DO BAIRRO SÃO JOSÉ
Cristhiane da Silva Cavalvcanti
Taísa Caldas Dantas
RESUMO
O presente artigo científico tem a finalidade de demonstrar resultados de uma prática educativa
vivenciada no Bairro São José, João Pessoa – PB, com alunos da EJA , numa perspectiva de
alfabetizar a partir do resgate da cidadania social. Tendo como referencial teórico Paulo Freire,
utilizamos a partir da leitura de mundo dos educandos, ou seja, consideramos a vivência dos
alunos para relacionar a prática alfabetizadora com o resgate da cidadania social dos alunos da
comunidade do Bairro do São José. A metodologia apresentou ainda um caráter lúdicopedagógico e dinâmico tendo ainda um respaldo interdisciplinar. Observamos, portanto, que a
problemática referente a alfabetização é algo que precisa ser discutida de forma ampla e
contextualizada para que seja capaz de formar cidadãos conscientes de sua responsabilidade
social. Percebemos que a prática pedagógica posta aqui em questão foi capaz de contribuir além
da formação de indivíduos à margem da sociedade, como também para uma formação da
cidadania social na qual estes se perceberam como atores do processo de mudança capazes de
exercerem a cidadania com autonomia e criticidade, contribuindo ainda para seu desempenho e
compromisso perante a sociedade.
Palavras- Chaves: Cidadania. Prática educativa. EJA. Paulo Freire.
JEUNES ET ADULTES: UNE PRATIQUE POUR L'EDUCATION AUX ÉLÈVES
DE SAN JOSE DE VOISINAGE
RÉSUMÉ
Cet article scientifique vise à démontrer les résultats d'une pratique éducative expérimenté dans
le quartier de San José, João Pessoa - PB, avec des étudiants d'éducation des adultes, en vue de
l'alphabétisation de la rédemption de la citoyenneté sociale. Le cadre théorique Paulo Freire,
nous utilisons de la vue du monde des étudiants, à savoir, considérer l'expérience des élèves de
raconter l'enseignant pratique a la rescousse de la citoyenneté sociale des étudiants dans la
communauté de Barrio de San Jose La méthodologie a également présenté un spectacle
ludique, éducatif et dynamique et dispose d'un soutien interdisciplinaire. Nous avons observé,
toutefois, que les questions relatives à l'alphabétisation est une chose qui doit être examinée
globalement et dans un contexte de pouvoir former des gens conscients de leur responsabilité
sociale. Nous nous rendons compte que les pratiques pédagogiques mises en cause ici a été en
mesure de contribuer au-delà de la formation des individus en marge de la société, mais aussi
pour la formation de la citoyenneté sociale dans laquelle ils se percevaient comme des acteurs
dans le processus de changement capable d'exercer l'autonomie et la citoyenneté avec criticité,
contribuant ainsi à leur performance et leur engagement envers la société.
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Mots-clés: Citoyenneté. Pratique de l'éducation. EJA. Paulo Freire.
INTRODUÇÃO
O presente artigo científico tem a finalidade de demonstrar os resultados de uma
experiência vivenciada no Bairro São José, João Pessoa – PB, com alunos da EJA, numa
perspectiva de alfabetizar a partir do resgate da cidadania.
A motivação em realizar este trabalho, surgiu diante do reconhecimento que a
educação tem na vida de um indivíduo, tendo em vista que se ela realmente formar cidadãos
críticos, constitui um poderoso instrumento de libertação e desenvolvimento não só de uma
pessoa, mas de uma cidade, de um povo e de toda uma nação.
Importante destacar que vige no nosso País a Constituição de 1988, garantindo a todos
o acesso e a permanência em um ensino de qualidade, inclusive para aqueles que a ele não
tiverem acesso em idade própria.
Cumpre salientar, entretanto, que apesar do acesso a educação por parte daqueles que
não estão em idade própria está a cada dia crescendo, tendo em vista do fácil acesso a esse nível
de ensino nas escolas públicas, o que se observa é que o ensino ministrado encontra-se muito
aquém do mínimo desejado para uma nação, tendo em vista que estamos apenas transferindo
conteúdos e não de fato formando cidadãos críticos, capazes de refletir e mudar o contexto em
que vivem.
Nesse sentido, tendo em vista que a cidadania é um direito do individuo para que o
mesmo se reconheça como ser participativo do processo social, a proposta desse trabalho foi
alfabetizar a partir do resgate da cidadania, visando não apenas formar exímios leitores, mas
cidadãos que sejam conscientes dos seus deveres para com a sociedade e de seus potenciais
enquanto agentes transformadores do seu próprio ambiente e do mundo em que vivemos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Cumpre iniciar essa fundamentação discorrendo a respeito de que desde a Constituição
Federal de 1988, ao ser disciplinado o Direito à Educação, foi garantido o direito ao ensino
fundamental á todos os cidadãos, como um direito que deve ser oferecido pelo Estado
gratuitamente, conforme dispõe o art. 208, que impõe que o ensino fundamental deverá ser: “...
obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não
tiverem acesso na idade própria”
No artigo supra citado, há um avanço no sentido de efetivar o direito à educação a
todos, mesmo para aqueles que a ele não tiverem acesso na idade própria. Ou seja, garantido
está a oferta gratuita da educação de jovens e adultos, que devem funcionar nas redes públicas
de ensino, durante o período noturno. Sendo assim, quando existirem jovens, adultos e até
senhores, que não tenham tido oportunidade na idade própria de cursar o ensino fundamental,
caso queiram, é assegurado o direito a alfabetização, sob pena de o Governo ser
responsabilizado.
Conforme exposto, o direito ao ensino fundamental é de natureza gratuita e
obrigatória, sendo cabível esclarecer em que consiste essa obrigatoriedade e gratuidade do
ensino fundamental. Primeiro, a obrigatoriedade consiste no dever que o Estado possui de
garantir a todos, indistintamente, apesar de nível social, capacidade, integridade, o ensino
fundamental. Ou seja, todo cidadão deverá cursar a escolaridade elementar, que é o ensino
fundamental, sob pena de o Estado ser responsabilizado, pois aquele é um dever indiscutível
deste para com todos os indivíduos. A respeito dessa obrigatoriedade, tão importante na
efetividade do direito ao ensino fundamental, oportuno é lembrar a observação de Romualdo
Portela de Oliveira:
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Ao se afirmar que o ensino fundamental é obrigatório, está-se
trabalhando com um direito e uma dupla obrigatoriedade. Um direito,
na medida em que todo cidadão, a partir de tal declaração, tem o
direito de acesso à educação. A dupla obrigatoriedade refere-se, de
um lado, ao dever do Estado de garantir a efetivação de tal direito e,
de outro, ao dever do pai ou responsável de provê-la, uma vez que
passa a não fazer parte do seu arbítrio a opção de não levar o filho à
escola. É uma prerrogativa que lhe escapa (OLIVEIRA, 2002, p.15).
A gratuidade, por sua vez, significa que esse nível de alfabetização obrigatório deverá
ser concedido nas redes públicas de ensino, com qualidade e condições semelhantes às escolas
privadas de ensino, pois, majora aí dois princípios supremos e em uma escala de valores, os
mais importantes, que é o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio de que todos
são iguais perante a lei. Portanto, todos possuem o direito a uma educação gratuita, digna e
satisfatória. Enriquecedora é a observação que Romualdo Portela faz:
A gratuidade é a contrapartida da obrigatoriedade do cidadão
freqüentar a escola e da obrigação do Estado em fornecê-la a todos,
pois do contrário, a compulsoriedade seria apenas um ônus para a
família, não se caracterizando um direito do indivíduo (OLIVEIRA,
2002, p. 16).
Importante destacar, que a Constituição Federal ampara, não apenas o acesso ao ensino
fundamental, como também condições essenciais para permanência do aluno na escola. O
inciso VII, do citado artigo 208, garante ainda: “atendimento ao educando, no ensino
fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde” Ou seja, o Estado tem o dever de proporcionar todo o
suporte que seja necessário para o bom desempenho dos alunos no ensino, principalmente
para aqueles que encontram-se fora da faixa etária, diante de todas as dificuldades encontradas.
Todos esses serviços estabelecidos pela Constituição brasileira fazem parte dos deveres
do Estado relativos à garantia do direito à educação, uma vez que para grande parcela dos
alunos, esses serviços são essenciais à freqüência e à permanência na escola. É preciso
realmente entender a garantia desses serviços auxiliares como constitutivos do próprio direito à
educação ou a exclusão escolar continuará a ser gerada por fatores econômicos (OLIVEIRA,
2002, p. 16).
Ainda disciplinando o direito ao ensino fundamental, a Constituição consagra no artigo
206, a garantia de um padrão de qualidade. Nesse mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (Lei nº 9394/ 96) trouxe diversas contribuições para a regulamentação
de toda a educação básica, aplicando-se ao ensino fundamental e, por conseqüência, a
Educação de Jovens e Adultos. A Lei de Diretrizes e Bases prescreve em seu art. 4º, que:
O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
(...)
IX – Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a
variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensinoaprendizagem
Dessa forma, explícito está na Magna Carta e na Lei que rege a Educação Nacional
que não é apenas oferecer o acesso ao ensino, mas o dever do Estado para com os educandos,
é garantir um ensino de qualidade. Fácil é para aqueles que detêm o poder, julgarem essa
situação pondo a culpa da baixa qualidade desse ensino na incompetência daqueles que dirigem
as escolas. Mas o problema da educação brasileira está na sua base estrutural, ou seja, o que
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falta é a perfeita coerência entre a qualidade e a quantidade necessária ao número de alunos que
precisam estudar. Legislação não falta para declarar o amparo à educação brasileira, o que falta
é realmente pôr em prática tudo o que está prescrito.
Ao garantir um padrão de qualidade, e não apenas o acesso a esse nível de ensino, estáse falando de uma educação que realmente forme cidadãos críticos e conscientes do seu papel
na sociedade e não apenas freqüentadores da escola, que simplesmente aprendem a decifrar o
mundo das letras, mas não conseguem fazer a leitura do seu próprio mundo.
Com a exigência do mercado de mão-de-obra cada vez mais qualificada, desde a década
de 30, período de intensa industrialização, tem-se que as escolas voltam-se cada vez para o
mercado de trabalho e deixam de lado objetivos que deveriam ser primordiais, como a
formação da pessoa humana.
Nesse sentido, na luta incessante de se buscar uma educação com qualidade, surgiram
desde a década de 40, diversos movimentos políticos-educacionais, dentre eles a proposta de
alfabetização de Paulo Freire, em 1962, onde segundo Vanilda Paiva, tinha o fim de “ajudar o
homem a ajudar-se, a fazer-se agente de sua própria recuperação através de uma postura
conscientemente crítica diante de seus problemas”1
Com todos os enfoques trazidos por Paulo Freire no sentido de se buscar uma
educação que realmente formasse cidadãos, observamos que a educação de adultos é uma
preocupação nacional, nos deparamos nas últimas décadas com uma luta pela erradicação do
analfabetismo desta faixa etária. Com base nessa esfera, Carlos (2008, p.21) afirma que “a
assunção da educação de adultos se deu, sobretudo, através de sua vinculação com a
problemática da instalação de um regime republicano(...)”
É essencial destacarmos que a Educação de Jovens e Adultos é, hoje, antes de tudo, um
compromisso contra a discriminação e exclusão de pessoas jovens e adultas analfabetas e a
favor da garantia desse direito humano, fundamental a toda a população. É um espaço de
encontro, de celebração, de solidariedade, de reflexão, formação, pesquisa e em torno das
questões que envolvem a educação de pessoas jovens e adultas numa perspectiva cidadã.
Dentro do legado deixado pelo Mestre Paulo Freire, é preciso educar para o mundo,
para a cidadania, para um mundo melhor. Dessa forma, a educação só alcançará o seu fim
maior, quando conseguir formar cidadãos que saibam cuidar não apenas do seu próprio
mundo, mas que tenha um olhar voltado para o outro.
Nesse sentido, conforme afirma Nilda Tevês Ferreira,
Cidadão é, pois, aquele que aprende a inibir sua inclinação a centrarse em si mesmo, se libertar de seus próprios limites... Espera-se que
o indivíduo esteja sempre pronto a se submeter ao ideal comum,
sempre a serviço do interesse da comunidade. (FERREIRA, P. 134,
1993)
Dessa forma, vê-se que a educação destas pessoas adultas já com uma bagagem cultural
deve ser trabalhada de forma contextualizada para que assim a prática signifique uma práxis
verdadeira que surta o efeito da cidadania, da conquista da autonomia deste individuo.
Paulo Freire acompanhou e contribuiu para a definição dos projetos e programas da
EJA. Foi assim que nasceu o Movimento de Educação de Jovens e Adultos. O seu trabalho
tinha como princípios básicos o diálogo como princípio, a formação da consciência, a ação
cultural, o princípio da esperança, a educação popular e consequentemente a emancipação. A
concepção de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo.
Esta autonomia está presente na capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí
que o homem se diferencia do animal. E educação sem autonomia, não é Educação, porque a
1
PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. 5. ed. São Paulo: Edições Loyola,
1987.
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Educação implica na possibilidade de reflexão, e não dá pra refletir sem autonomia, porque a
reflexão é livre e sem limites.
Paulo Freire acompanhou e contribuiu para a definição dos projetos e programas do
EJA. Foi assim que identificamos a Educação de Jovens e Adultos. O seu trabalho tinha como
princípios básicos o diálogo como princípio, a formação da consciência, a ação cultural, o
princípio da esperança, a educação popular e consequentemente a emancipação. A concepção
de educação de Paulo Freire percebe o homem como um ser autônomo, capaz de interagir com
o meio social em que se encontra inserido.
Esta autonomia está presente na capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí
que o homem se diferencia do animal. E educação sem autonomia, não é Educação, porque a
Educação implica na possibilidade de reflexão, e não dá pra refletir sem autonomia, pois a
reflexão é livre e sem limites.
A discussão se apresentou de maneira coerente com a realidade dos alunos, questões
como direito à educação, cidadania e ações políticas por parte dos governantes e manifestações
de protesto por parte da sociedade foram mencionadas como alternativas ao certo descaso que
vem ocorrendo atualmente. O que nos diz Freire:
O discurso da globalização que fala de ética esconde, porém, que a
sua é a ética do mercado e não da ética universal do ser humano, pela
qual devemos bravamente se optamos, na verdade, por um mundo
de gente. (Freire, p, 34 1996)
Compreendemos, portanto que a educação é uma forma de comportamento, que
proporciona ao individuo atitude perante a sociedade, podendo este se expressar, expressar sua
maneira de pensar, para que possa ter a liberdade para expor suas idéias e para que a sociedade
possa respeitá-lo como cidadão.
A escola, este poderoso aparelho ideológico, tem a responsabilidade de formar
cidadãos aptos criticamente a se reconhecerem como peças chaves do processo de mudança da
questão social.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto foi desenvolvido no CEDAC (Centro de Apoio Comunitário), uma ONG,
situada no Bairro São José, na cidade de João Pessoa. O público alvo da nossa intervenção foi
uma turma de alfabetização de jovens e adultos, em que tivemos por metodologia a
alfabetização de forma contextualizada em uma perspectiva fundamentada na pedagogia
freiriana, na qual enfoca-se na leitura do mundo em que os educandos estão inseridos. A
escolha dessa metodologia justifica-se a partir da necessidade de se trabalhar noções de
cidadania, uma vez que a comunidade é vítima de diversos problemas de cunho social.
Para se alcançar a metodologia acima descrita, estão sendo realizadas desde o mês de
fevereiro atividades de alfabetização, em que foram trabalhados conceitos como: cidade,
cidadão, escola, comunidade, qualidade de vida, entre outros. Tais atividades tiveram uma
abordagem interdisciplinar, pois a medida que o processo de alfabetização foi feito, foram
trabalhados noções de cidadania, a disciplina de língua portuguesa, e também noções de outras
disciplinas curriculares, tais como: ciências, matemática, geografia e história; além do tema
transversal do meio ambiente.
Ao nos depararmos com uma turma de EJA, sentimos a necessidade de realizar as
atividades com um caráter dinâmico e lúdico, tendo em vista que a grande parte da turma era
de idade avançada, acima dos 40 anos, e os alunos apresentavam problemas ligados a falta de
estímulo e motivação, baixa auto-estima, justificados principalmente pelo fato de se
encontrarem fora do âmbito escolar por muitos anos, fora aqueles que nunca chegaram a
conhecer a escola.
Em síntese, foram usados como recursos metodológicos: aulas expositivas, uso de
filmes, oficinas pedagógicas, dinâmicas, etc. Além disso, a metodologia usada teve como
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princípio norteador a liberdade de expressão, enfocando sempre o diálogo, incentivado-os a
partilhar suas próprias vivências, valorizando assim a identidade cultural. Tais atividades foram
realizadas sempre resgatando a vivência dos alunos com um caráter lúdico pedagógico, para
que tais práticas surtissem um efeito significativo para os alunos da comunidade.
RESULTADOS OBTIDOS
Do ponto de vista trabalhado, podemos compreender que a Educação de Jovens e
Adultos se apresentou durante nosso estudo como uma prática educativa que foi inserida de
forma interdisciplinar, em que os alunos puderam se reconhecer como partes fundamentais do
processo de transformação da comunidade em que estão inseridos.
Observamos que além de alfabetizar, o processo se deu de forma contextualizada com
a realidade dos alunos, o que surtiu um resultado positivo, pois as atividades tornaram-se
interessantes, na medida em que partiu-se de algo que lhes era comum, ou seja, os problemas
ocorridos no cotidiano da comunidade.
O resultado foi bastante satisfatório, pois além de uma alfabetização, foi proporcionado
uma leitura de mundo em que os alunos estão inseridos, despertando nos alunos a
conscientização de que eles são sujeitos ativos e modificadores da sociedade em que eles vivem.
Tais atividades estimularam as capacidades cognitivas afetivas e sociais de leitura do mundo a
partir dos aspectos relativos à alfabetização e a cidadania.
Percebemos que existe uma apatia relacionada a situação social, um sentimento de
incapacidade e de falta de esperança de que alguma coisa possa mudar. Porém, durantes esses
meses trabalhados, foi perceptível o despertar de uma maior sensibilidade para as questões
relacionadas a comunidade.
Em conseqüência desse despertar da consciência, foi bastante trabalhado nos alunos a
questão da pró-atividade, como também de se reconhecerem como cidadãos ativos capazes de
serem autônomos nesse processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reinserção desses indivíduos no contexto educacional, tendo como resgate a
cidadania, lhes proporciona uma participação social a partir da leitura do mundo em que eles
vivem, ou seja, a realidade vivenciada a cada dia.
Ao finalizar esse trabalho, reconhecemos o quão importante é a Educação de Jovens e
Adultos, uma vez que uma das metas da EJA, é a formação de um cidadão crítico e
participativo na sociedade. Então, ao se alfabetizar no contexto da EJA, percebemos que
trabalhar com cidadania, é uma abordagem significativa para que autonomia e criticidade sejam
desenvolvidas.
Tendo em vista que o aluno da EJA traz consigo uma bagagem de experiência e
conceitos adquiridos ao longo da sua história, incluídos em sua vivência, conceitos esses
também relacionados com o ser cidadão, busca-se através da educação, desconstituir as
impressões acerca de noções de cidadania que esse aluno traz consigo. Nesse sentido, objetivase reconstruir essa relação do indivíduo com o meio social e as relações que este estabelece
com a comunidade, podendo refletir por si próprio sobre sua ação responsável para com a
sociedade.
Dessa forma, a alfabetização da EJA associado ao enfoque da cidadania, traz consigo
uma práxis significativa, na medida em que o educando possa voltar seus conhecimentos
obtidos para uma atitude prática, aliada a uma postura política em que o mesmo possa de
forma democrática desenvolver sua cidadania.
Essa experiência tornou-se enriquecedora e satisfatória na medida em que foi possível
proporcionar aos educandos momentos de resgate de sua cidadania além de encontros com sua
própria identidade, o que possibilitou contribuir para o fortalecimento da auto-estima dos
alunos, os quais em sua grande maioria encontram-se à margem da sociedade.
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Nesse sentido, analisamos as atividades da EJA associadas à cidadania como práticas
educativas significativas para a leitura de mundo e conseqüentemente contribuindo para sua
formação social, além de melhorar sua conduta no processo de ensino-aprendizagem,
desenvolvendo seu potencial crítico, possibilitando alternativas para questionamentos e
dúvidas, passando assim a ser um indivíduo sedento de curiosidades, objetivando solucionar os
conflitos comuns à sua comunidade.
Encerramos tal discussão, citando um grande referencial da educação de jovens e
adultos: Paulo Freire. Em um de seus fragmentos, ele afirma:
O que proponho é um trabalho pedagógico que, a partir do
conhecimento que o aluno traz, que é uma expressão da classe social
à qual os educandos pertencem, haja uma superação do mesmo, não
no sentido de anular esse conhecimento ou de sobrepor um
conhecimento a outro. O que se propõe é que o conhecimento com
o qual se trabalha na escola seja relevante e significativo para
formação do educando.” (FREIRE, p. 83, 1999)
Portanto, concluímos afirmando a importância de se trabalhar aspectos de cidadania a
partir da história de vida dos alunos, especificamente no caso abordado, a Educação de Jovens
e Adultos. Como afirma Freire, o trabalho pedagógico deve partir do conhecimento que o
aluno traz consigo e que este seja relevante para sua formação enquanto cidadão social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>.
__________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei nº 9394/96).
Disponível em: <portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/lei9394.pdf>.
FERREIRA, Nilda Teves. Cidadania: uma questão para a educação. 8. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1993
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
8
FREIRE, Paulo. A educação na cidade. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1999.
PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. 5. ed. São Paulo:
Edições Loyola, 1987.
OLIVEIRA, Romualdo Portela de; ADRIÃO, Theresa (orgs.) Organização do ensino no
Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. 1. ed. São Paulo: Xamã, 2002.
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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA PRÁTICA