Carlos Pimenta Vamos viajar! Dirão alguns que será uma actividade pouco filatélica, dirão outros que só interessará a quem tiver a possibilidade de o fazer, isto é, possua um computador, esteja ligado à Internet e considere que uma ciberviagem para ver selos e ter lazeres similares se justifica. E terão toda a razão os que levantam dúvidas sobre o interesse jornalístico, o mesmo se podendo dizer do artigo de história postal altamente especializado que muito poucos lerão, do estudo temático que eventualmente só será lido por quem se apaixonou por esse assunto ou está aberto para tais amores. São as contingências de não existirem revistas filatélicas para o grande público compradas por todo e qualquer cidadão que as veja na banca dos jornais e por elas seja atraído. Mas será que poderemos classificar de filatélico o mexer num computador e ver informações e imagens sem tocar nessa matéria-prima que são as cartas, os selos, as obliterações? Obviamente que a minha tendência seria responder pela afirmativa mas seria um impulso errado. A pergunta está mal feita, tanto mais quanto não estamos a falar de culinária, antropologia ou crimes passionais, embora tudo isso possa dar lugar a tratamento filatélico. As fronteiras da filatelia estão em sistemática mudança, a vida tem sido mais rápida que os regulamentos, aliás como é habito (vejam-se as “classes abertas” nas exposições para dar espaço à liberdade criadora ou a incapacidade da literatura filatélica ser pensada para os novos meios audio-visuais e informáticos) e mal estará quem se pretenda armar em juiz ou polícia dos bons costumes filatélicos. Mal estarão também os que julgam que apenas o anuncio das novas emissões é digno de realce e apoio porque estarão a autolimitar-se, autolimitando a filatelia. É pois com consciência tranquila que os convidamos para viajar, na esperança de que algumas teias de aranha sejam varridas, que mais alguns computadores sejam utilizados filatelicamente, que alguns jovens, ou menos jovens, entre mulheres nuas e imagens do cinema fantástico sintam prazer em ver selos e sobre eles se informarem. Comecemos a nossa viagem pelas Administrações Postais. No momento em que vos escrevo há quase setenta administrações postais que já fazem divulgação das suas actividades (algumas utilizando mais do que um endereço), nomeadamente filatélicas, por intermédio da Internet. Portugal e Macau estão entre elas. Provavelmente quando ler este artigo aquele número já está desactualizado. Todos os dias aparecem novas páginas filatélicas nas redes informáticas internacionais. O sector mais dinâmico e com recursos para o fazer são os comerciantes, mas as Administrações Postais já compreenderam claramente que têm muitas vantagens em acompanhar esse movimento. Não será de estranhar que os chamados países desenvolvidos sejam os mais representados mas assistimos a rápido alargamento geográfico destas actividades. Aí está Botswana (http://urgento.gse.rmit.edu.au/untpdc/ incubator/africahp/bwa/bw13.htm) a prová-lo. Não dá grandes hipóteses de consulta mas terá disponível uma história em inglês do nascimento e desenvolvimento desta administração postal. Aí estão outras dos chamados países do Sul, tais como África do Sul (http://www. sapo.co.za/), Namíbia (http://www.nampost.com.na) ou Uruguai (http://www.correo.com.uy/), apenas para dar alguns exemplos. Retenhamo-nos um pouco neste último caso (do Uruguai), para começarmos a analisar o que se pode visitar. Poderá informar-se dos serviços dessa administração postal e dos códigos postais. Será certamente com alegria que verifica que tem uma secção estritamente sobre filatelia, a qual foi recentemente actualizada (as datas de actualização das páginas são um dos importantes indicadores da sua qualidade), onde poderá informar-se sobre os planos filatélicos dos últimos sete anos, observar múltiplas fotografias (se é coleccionador de um tema esteja atento!) e ter acesso às novidades. Ver a imagem do primeiro selo de correio desse país e a sua história também está ao seu alcance, assim como ser informado do lançamento do primeiro livro filatélico dos Correios do Uruguai. Se a sua atenção está antes virada para o próximo Campeonato do Mundo de Futebol então a visita ideal será aos Correios de França (http:// www.telecom.gouv.fr/english/sommaire.htm e http://www.laposte.fr). Aí encontrará muita informação sobre as iniciativas filatélicas associadas ao evento e poderá visualizar o rei do acontecimento: o primeiro selo francês com a forma de uma bola. Aqui cabe fazer um reparo. As administrações postais são uma importante fonte de informação sobre a actividade filatélica de um País mas existem muitas outras. Normalmente são empresas comerciais, filatelistas ou associações filatélicas que resolvem disponibilizar as mais ricas informações sobre a filatelia de uma determinado espaço geográfico. Assim, por exemplo, será numa página pessoal (http://www.citeweb.net/phila) que vai encontrar dados sobre os primeiros selos franceses e um conjunto de imagens, estudos e trabalhos sobre os carimbos postais daquele País. Se domina o alemão ou o japonês não hesite em visitar a Administração Postal da Alemanha (http://www.unibielefeld.de/~fweiler/ stamps.html) e do Japão (http://www.sphere.ad. jp/iwaoka). Poderá acontecer que mesmo não sabendo essas línguas seja capaz de percorrer essas páginas e aproveitar algumas imagens. Será de aceitar que se coloque na Internet páginas apenas na língua de um País, neste caso o alemão ou o japonês? Mais uma vez é uma pergunta sem sentido. Cada um tem a liberdade de fazer o que bem entende. Em consequência dos seus actos terá um determinado público, uma certa visibilidade internacional. No fundo os problemas que estão em jogo são bastante mais complexos e sérios que os anteriormente referidos. É o confronto entre a afirmação das línguas e identidades nacionais e a crescente aceitação da língua inglesa (portadora de uma certa cultura) na comunicação universal. São duas posturas: a universalização via uniformização ou via diversificação. Em termos informáticos assiste-se hoje a duas tendências simultâneas: generalização do inglês como linguagem universal na Internet (ou não tivesse sido o nascimento desta nos EUA e este país não tivesse uma posição dominante) e um cada vez maior número de programas para tradução simultânea entre diversas línguas. No primeiro caso alguns combinam o inglês com as suas línguas nacionais outros quase consideram um desprestígio utilizar as suas línguas nacionais esperando que o efeito de imitação lhes dê o que não conseguem alcançar de outra forma. Pela nossa parte defendemos a dignificação das línguas nacionais, veículos de comunicação, instrumento de arte, transporte de tradições e culturas que dão expressão a uma vivência humana multiforme, pluricromática e colectivamente enriquecedora. Sem que se negue a necessidade da comunicação universal e o global entendimento entre os homens. Descansemos destes percursos linguísticos visitando tranquilamente os correios brasileiros onde encontrará uma história do correio brasileiro, uma lista-gem dos produtos filatélicos disponíveis, informações sobre os selos recentemente emitidos ou a emitir, assim como outros aspectos da iniciativa filatélica daquela administração. O gostoso jeitinho brasileiro não se deixa de manifestar no apelo a um bate-papo: “Fale Conosco” é uma das opções do seu menu. Encontrar a p á g i n a brasileira em português certamente que não foi surpresa, mas talvez já o seja a visita guiada a Saint-Pierre & Miquelon (http://205.250.151.22/encyspmweb/), “A França na América do Norte”. Trata-se de uma informação genérica, alheia à respectiva administração postal, que dedica grande atenção à filatelia. Uma informação disponível em diversas línguas, entre as quais o português (embora a informação mais completa seja em francês, como seria de esperar). Últimas emissões, planos para o futuro, história postal, artigos diversos, sobrecargas, envelopes do primeiro dia, correio marítimo e muitas outras coisas podem ser consultadas, estudadas, importadas, impressas. Um verdadeiro achado que não deixará de estimular o nosso interesse em fazermos uma visitinha àquela região. Reservemos para uma próxima viagem a visita aos Correios Portugueses. Aí não seremos meros espectadores recolhendo o que nos é oferecido mas cidadãos e filatelistas que pugnam pela dignificação da filatelia portuguesa. E porque a filatelia é uma actividade universalmente desenvolvida e institucionalmente reconhecida terminemos este percurso na visita à página nas Nações Unidas em Nova Iorque (http://www.un.org/Depts/ UNPA) onde se encontram as referência a uma recente emissão filatélica em homenagem à filatelia: