VENENO DO CAMPO À CIDADE
PROIBIDOS, FALSIFICADOS E PERIGOSOS
Na segunda-feira, veja
como resíduos de
pesticidas, herbicidas e
inseticidas comprometem
a água, ameaçando a
saúde de toda a população
A
CAIO CIGANA
venda descontrolada de agrotóxicos ganhou na internet um novo
canal para driblar a lei, dificultando a fiscalização e ampliando
o risco à saúde de consumidores
e agricultores.A novidade agrava
um cenário em que uso exagerado dos químicos
na lavoura – o consumo cresceu muito acima da
área plantada –, contaminação da água e dificuldade de identificar eventuais excessos de veneno
nos alimentos que chegam à mesa se combinam
para elevar o perigo escondido nos alimentos.
Zero Hora flagrou a venda ilegal de agrotóxicos
pela internet.A reportagem negociou a compra e
a entrega de três produtos com comercialização e
uso proibidos no Estado, apresentando-se como
agricultor ou dono de agropecuária em e-mails e
ligações telefônicas gravadas. Questionado sobre
o risco de a carga de ser apreendida, o vendedor
que se identifica como Mauricio, de Monte Aprazível (SP),não mostra receio com a venda ilegal:
– Se eles (a fiscalização) travar (sic), o pessoal
dá um jeito de recolher a mercadoria, mas se
passar entrega tranquilo – garante.
Sem regras, a negociação online de defensivos
aumenta a brecha para irregularidades que vão
de crimes ambientais a infrações mais graves,
como derrame de produtos falsificados, contrabandeados e roubados. No Estado, a venda pela
internet permite que agricultores e donos de lojas
negociem herbicidas e inseticidas proibidos por
terem sido banidos em seus países de origem de-
Três agrotóxicos negociados por ZH via
internet foram barrados do RS em julho
■ Gramoxone e Gramocil – Usados no controle de plantas daninhas. Laudo da Fepam indica
que o paraquat, princípio ativos dos dois, supera
o nível aceitável de exposição para quem aplica,
mesmo com o uso de equipamentos de proteção
individual. Os efeitos da intoxicação são irreversíveis. Pode causar fibrose pulmonar. Proibido na
União Europeia desde 2007.
■ Mertin – Inseticida à base de trifenil hidróxido
de estanho, banido da União Europeia desde 2002.
De acordo com a Fepam, é extremamente tóxico à
vida marinha e aos pássaros. Em humanos, atua
no sistema nervoso central. A intoxicação causa
letargia, perda de mobilidade, diarreia e anorexia,
fraqueza generalizada e depressão.
ALERTA AO CONSUMIDOR
■ No Brasil, os principais ingredientes que aparecem em amostras irregulares de hortigranjeiros são
clorpirifós, acefato e dimetoato. Todos podem estar em marcas de agrotóxicos legais e ilegais.
■ Os três são inseticidas, e os sintomas da intoxicação após consumo indevido ou contato durante
a aplicação vão desde vômitos e diarreias a paralisia da musculatura respiratória, que pode levar à
morte. Alguns dos efeitos no sistema nervoso central são ansiedade, irritabilidade e depressão.
4
DINHEIRO
FLAGRANTE DETECTA PRODUTOS
ILEGAIS E SEM ORIGEM
No dia 14 de novembro,a partir das investigações
de ZH, fiscais da Secretaria da Agricultura deram
uma batida em uma agropecuária de Venâncio
Aires citada por um dos vendedores como cliente
antigo.Além de o estabelecimento sequer ter licença
para vender agrotóxicos,foram encontrados produtos proibidos, sem registro no Ministério da Agricultura (Mapa) e sem origem comprovada.Apenas
ano passado,a Secretaria da Agricultura flagrou 73
estabelecimentos sem autorização para a venda de
agrotóxicos e outros 26 com agrotóxicos ilegais.
O chefe da divisão de fiscalização de agrotóxicos do Mapa, Álvaro Ávila, ressalva que a
comercialização de defensivos pela internet,
apesar de não ter regulamentação, não é proibida – desde que obedeça a lei. O problema é que,
mesmo quando fungicidas, herbicidas e inseticidas são legais, em regra as vendas são feitas
por empresas sem licença para comercializar
venenos agrícolas.
As ofertas aparecem em sites populares que
abrigam anúncios de venda de todo tipo de produto, segmentado em agronegócio, e em portais
especializados em defensivos criados por companhias reais ou fictícias. As especializadas dizem
funcionar como uma espécie de bolsa de mercadorias, apenas aproximando fornecedores e
compradores. Como não venderiam diretamente
o produto, isso dificulta o enquadramento na lei.
Mesmo assim, abrigam anúncios de interessados
na compra de produtos vetados no Rio Grande
do Sul. Quando a fiscalização vai até o endereço
onde funcionaria o negócio, ninguém é encontrado. O que atrai, muitas vezes, é o preço abaixo do mercado, embora não exista a garantia de
o produto ser legal. E, na hipótese de ser falso, o
comprador sequer tem amparo para reclamar.
– Pela internet, não tem como checar se a empresa existe ou é fantasma. Nossa preocupação
com isso é total. Abre brechas para que as pessoas que não tomam a cautela necessária sejam
ludibriadas – alerta Fernando Marini, gerente
de produto do Sindicato Nacional da Indústria
de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg).
Além de ignorar o receituário agronômico, instrumento semelhante ao usado em medicamentos controlados, o transporte do produto também
afronta a legislação. Embora os agrotóxicos sejam
classificados como carga perigosa, os vendedores
prometem entregá-los até em veículos particulares.Se o volume adquirido for pequeno,mais duas
ilegalidades: podem chegar ao destinatário pelos
Correios e,ainda,fracionados.
➧ [email protected]
RICARDO DUARTE
PRODUTOS VETADOS
vido ao alto teor tóxico e ao perigo à saúde e ao
ambiente. Gramoxone 200 e Gramocil são feitos à
base de paraquat, princípio ativo que, apenas entre 2005 e 2011, causou 165 envenenamentos e 35
mortes conforme registros do Centro de Informações Toxicológicas (CIT) do Estado.Outro produto
proibido é o Mertin 400. Mesmo alertados de que
o produto era proibido no Rio Grande do Sul,vendedores confirmam a entrega no Estado.A multinacional Syngenta, fabricante dos três produtos,
tenta liberar esses agrotóxicos na Justiça gaúcha.
O CAMINHO DA CLANDESTINIDADE
1
Mesmo sabendo da ilegalidade,
vendedores confirmam a entrega
de agrotóxicos proibidos no Rio
Grande do Sul.
2
Site que tem os telefones
de contato com os prefixos
de Santa Catarina, mas não
informa endereço exato e por
isso dificulta a fiscalização do Estado
vizinho, exibe anúncio de interessado
gaúcho em adquirir 400 litros de Gramocil, produto vetado no RS.
E-mails e conversas telefônicas confirmam que
vendedores do Oeste do
Estado de São Paulo,
região que concentra grande número de
empresas irregulares e falsificação de
defensivos, atuam com entregas no Rio
Grande do Sul.
3
TRECHOS
Robson Pereira Corrêa, diretor
Comercial da Defensivos do Brasil
ZH – Sou de Guaíba e preciso de
Mertin, Gramocil e Gramoxone.
Robson – Desculpa, qual é o produto?
ZH – Mertin, Gramocil...
Robson – Ah, vocé é o rapaz do Gramoxone e Gramocil?
ZH – Isso. Eu precisava de uns 100
litros de cada. Vocês entregam aqui?
Robson – Sim, te entrego aí, sem problemas.
ZH – É que estes produtos estão com
uma proibição recente.
Robson _ Mas é mais com relação à
comercialização. Você vai comprar em
produtor rural, né?
Maurício Vendas Agrícolas
ZH – Eu te consultei sobre Mertin.
Mauricio – Eu tô lembrando, é que eu
tenho bastante e-mail... Tá precisando de Mertin? Vai usar na lagarta do
arroz?
ZH – Não, no feijão.
Maurício – É porque a lagarta já esta
pegando resistência pro Mertin.
ZH – É o seguinte: o problema, comentei no e-mail, é que aqui está proibido.
Maurício – Ah, é por isso.
ZH – Eu queria saber como a gente
pode fazer. Tu entrega mesmo?
Maurício – A gente entrega. Quantos
litros é? (sic)
ZH – Preciso de 250.
Maurício – A gente entrega.
ZERO HORA > DOMINGO | 24 | NOVEMBRO | 2013
5
FOTOS RONALDO BERNARDI
ZH mostra como
produtos que
envenenam
quem aplica e
são proibidos até
nos seus países
de origem são
negociados pela
internet e entregues
em todo o Estado,
onde são proibidos
A partir de informações obtidas pela investigação de ZH, fiscais da Secretaria da Agricultura
deram uma batida em uma agropecuária
de Venâncio Aires no último dia 14. O
estabelecimento sequer tem autorização
para vender agrotóxicos. Foram encontrados
mais de 500 litros de produtos sem registro
no Mapa e sem origem comprovada, além
de Gramoxone. Notas apreendidas mostram
que a empresa de Valmor Kist comercializou
Gramoxone durante o período de proibição,
e tem fornecedores da região oeste de São
Paulo. Um deles é a Plant Fort Comércio de
Produtos Agrícolas Ltda, de São José de
Rio Preto, que não tem licença para venda
agrotóxicos mas anuncia na internet o produto
Mertin 400, proibido no Rio Grande do Sul. O
vendedor gravado por ZH, que se identifica
como Genessy Domingues, admite entregas
no Estado, inclusive para Kist.
TRECHOS
Plant Fort
Genessy Domingues
ZH – Está com muito cliente aqui no RS?
Domingues – Eu tenho bastante. Tenho
um cliente nosso muito antigo, deixa eu
tentar lembrar a cidade...
ZH – Mas eu digo agora, depois da proibição dos produtos?
Domingues – Tenho, tenho. Até esta semana vendi para o seu Valmor, um cliente
antigo de uma loja.
ZH – Que cidade?
Domingues – Venâncio Aires.
ZH – Ninguém nunca pegou nada?
Domingues – Espero que fique um bom
tempo sem acontecer.
4
Site da empresa Defensivos do
Brasil informa um endereço em
Tubarão (SC), mas conforme
Milton Luiz Breda, gerente de
fiscalização de insumos agrícolas da Secretaria da Agricultura de Santa Catarina, no local
não foi encontrado qualquer sinal do negócio.
6
Na mesma agropecuária, foram encontradas
notas emitidas em janeiro pela Biofarm
RP Comércio de Produtos Orgânicos Ltda.
A Biofarm foi alvo de uma operação ano
passado da Polícia Civil de Mato Grosso
com apoio de São José do Rio Preto. No
local foram descobertas ainda 200 embalagens de produtos falsificados. A investigação
começou quando os Correios de Mato
Grosso detectaram produtos da empresa
despachados via postal.
7
No início da negociação nos sites, aparecem vários compradores do Rio Grande do Sul interessado em adquirir o Mertin.
8
Outro vendedor do interior de São Paulo
anuncia Tordon no Mercado Livre. O produto,
altamente tóxico, é enviado pelos Correios e
fracionado, o que é proibido. Nenhuma das
supostas empresas citadas (Chácara Completa, Plant Fort ou Uni Agro, que também se
apresenta como Mauricio Vendas Agrícolas)
tem cadastro para venda de agrotóxicos na
Coordenadoria de Defesa Agropecuária de
São Paulo. Quando os fiscais vão aos endereços, as empresas não são encontradas.
CONTRAPONTOS
DEFENSIVOS.NET
O responsável pela empresa, Emerson
Machado, não foi localizado. A Informação
obtida por telefone na quinta-feira era de que
Machado teria feito uma cirurgia. ZH também
tentou um contato por e-mail, sem retorno.
DEFENSIVOS DO BRASIL
O diretor comercial Robson Pereira Corrêa
ressalta que a empresa não vende diretamente os produtos, mas funciona como uma
bolsa de mercadorias. Diz que, no caso do
Mertin, tem a informação “do fornecedor e do
suporte” de que apenas a comercialização
está proibida no Estado. Admite lembrar de
negociações envolvendo também Gramocil e
Gramoxone no ano passado. Corrêa se negou a informar o endereço do seu escritório
e admitiu que o site não tem CNPJ.
CHÁCARA COMPLETA
Identificado como contato da empresa
Chácara Completa que anuncia Tordon pela
internet, Elvis Lemes disse que não era
responsável pela envio do produto e negou a
remessa fracionada e pelos Correios.
PLANT FORT
Genessy Domingues diz que a empresa parou de vender “este tipo de produto” e negou
que tenha anunciado Mertin na internet, por
meio do site MF Rural.
VALMOR REPRESENTAÇÕES
O proprietário, Valmor Kist, negou a venda
de agrotóxicos proibidos. Pediu que a reportagem falasse com um agrônomo
responsável pela empresa, mas não forneceu o contato do profissional.
MAURÍCIO VENDAS AGRÍCOLAS
A reportagem não conseguiu contato
telefônico com os responsáveis e não teve
retorno de e-mails.
DINHEIRO
5
VENENO DO CAMPO À CIDADE
Vidas em risco
RICARDO DUARTE
ZEROHORA.COM
> Em vídeo, saiba mais
sobre os efeitos dos
agrotóxicos na saúde dos
trabalhadores do campo
O LIMBO
DAS LEIS
LEODIR DE PARIS
foi duas vezes vítima
de intoxicação mesmo
utilizando proteção
O
comércio irregular
de agrotóxicos pela
internet, em parte
alimentado por produtos falsificados,
sem registro e vendidos por empresas fantasmas, eleva
o risco à saúde de trabalhadores rurais que têm contato com produtos
químicos. Com predomínio de minifúndios voltados à produção de uvas
e hortigranjeiros, Bento Gonçalves
é o município gaúcho com o maior
número de registros de intoxicação
por agrotóxicos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação do
governo federal.
Além do uso intensivo de defensivos na fruticultura, superior às lavouras de soja e milho, o elevado número de notificações é resultado da persistência da vigilância sanitária em
confirmar casos suspeitos. De 2007
à metade deste ano, Bento Gonçalves
teve 94 – quase um quinto – dos 458
casos do Estado. Mas o tamanho do
problema é maior do que indicam os
números. Estimativa da Organização
Mundial da Saúde (OMS) mostra
que,para cada registro de intoxicação
por agrotóxicos, outros 50 casos deixaram de ser verificados.
Hoje trabalhando em uma empresa de transportes, o ex-agricultor
Leodir de Paris, 55 anos, teve dois
acidentes enquanto aplicava fungicidas em parreirais, nos últimos cinco
anos. No primeiro, sofreu queimaduras em partes do rosto que esta-
6
DINHEIRO
INTOXICADOS
Nos últimos cinco anos foram 2.295
atendimentos por intoxicação, o
número diminuiu e voltou a crescer
511
483
494
412
395
2008 2009 2010
2012
2011
Fonte: CIT
Os cinco municípios com mais
notificações em cinco anos
Bento Gonçalves
Alpestre
Progresso
Uruguaiana
Teutônia
94
32
28
21
18
Fonte: Sinan
vam desprotegidas e, no segundo, as
pernas foram atingidas.
– Nesta segunda vez, demorei 90
dias para ficar curado – lembra De
Paris que diz ter usado equipamentos de proteção individual (EPIs)
nas duas oportunidades.
Para o ex-agricultor, a principal causa das intoxicações na região é a utilização desmedida dos produtos:
– O pessoal usa demais e de forma
desordenada, sem consultar profissional habilitado, como agrônomos.Vai
muito pelo que o vendedor diz.
A exposição aos agrotóxicos desde
a infância também cobrou um preço
ao agricultor Jorge Salton,59 anos,que
há 15 decidiu abandonar a produção
convencional e, por questão de saúde,
dedicar-se aos orgânicos.
Antes de tomar a decisão, conviveu
por quatro anos com alergias, dores
de cabeça e mal-estar sempre que
aplicava químicos. A necessidade foi
reforçada quando o filho Joemir, à
época com 15 anos e hoje com 31, repetiu os sintomas.
– Quando entrava no parreiral onde
o produto havia sido aplicado,já começava a me sentir mal.Eu usava proteção
mas não adiantava – relata Jorge.
Para técnicos da Embrapa Uva e
Vinho, poucos agricultores usam
EPIs de forma adequada por falta de
orientação e desconforto. Para completar, aplicam um volume de químicos superior ao necessário com medo
de quebra na produção.
– Além da perda financeira pelo
excesso nas aplicações, aumenta o
risco de intoxicação – avalia o supervisor de campos experimentais da
Embrapa de Bento Gonçalves, Roque
Antônio Zilio.
Uma das principais especialistas no
tema no Estado, a médica Neice Faria,
coordenadora da vigilância de saúde
do trabalhador de Bento Gonçalves e
professora de medicina do trabalho
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lembra que, além
dos episódios agudos, a exposição
aos agrotóxicos é relacionada a males
crônicos que podem se manifestar ao
longo dos anos. São registrados casos
de câncer, desequilíbrio hormonal,
problemas respiratórios e de saúde
mental,como depressão.
– Há pesquisas mostrando que os
agrotóxicos fazem parte da cadeia
causal de suicídios – observa Neice.
A CADA QUATRO DIAS,
CINCO ATENDIMENTOS
Embora não existam estatísticas
precisas sobre intoxicações agudas,os
números de atendimentos por telefone no Centro de Informação Toxicológica (CIT) do Estado mostram que
o quadro é mais grave do que indica
o Sistema de Informação de Agravos
de Notificação. Considerando apenas
acidentes e uso indevido, sem contabilizar tentativas de suicídio, foram
2.295 chamados ao CIT nos últimos
cinco anos. Embora os acidentes se
concentrem nos meses mais quentes,
é como se, a cada quatro dias, cinco
casos de intoxicação por defensivos
fossem atendidos. Em dois terços dos
casos, as ligações partem de profissionais como médicos e enfermeiros.
Para Virgínia Dapper, médica do
trabalho e toxicologista do Centro
Estadual de Vigilância em Saúde, um
dos entraves para dados mais precisos é a falta de capacitação dos profissionais para diagnosticar as intoxicações agudas e as doenças crônicas
causadas por agrotóxicos.
A falta de regulamentação para a venda ou intermediação de
negócios envolvendo agrotóxicos
pela internet facilita o comércio
irregular e dificulta a repressão à
atividade ilegal. Por ser uma prática recente, não está prevista em
nenhuma lei que trata da venda
de defensivos agrícolas. E por
enquanto, admite Álvaro Ávila,
chefe da divisão de fiscalização
de agrotóxicos do Mapa, não
existe nada em tramitação.
– Esse assunto vem se tornando
um problema para a fiscalização
de todos os Estados. Há necessidade de prever, nas legislações
estaduais, uma proibição mais
efetiva sobre este tipo de comercialização – sustenta Milton Luiz
Breda, gerente de fiscalização de
insumos agrícolas da Companhia
Integrada de Desenvolvimento
Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), que já andou à caça de
empresas virtuais que dizem se
localizar em cidades catarinenses, mas não têm habilitação para
atuar no negócio e não são encontradas nos endereços indicados.
O uso da web para a negociação de defensivos também preocupa os paranaenses. Em julho, a
Agência de Defesa Agropecuária
do Paraná foi o primeiro órgão
da área a alertar para as irregularidades. Um dos problemas
levantados era o aparecimento
de empresas virtuais que fraudam documentação para participar de licitação de venda de
agrotóxicos de origem duvidosa
– falsificados ou roubados – para órgãos públicos, que depois
usavam o produto em locais não
permitidos pela legislação, como
praças, ruas e calçadas.
Os agrotóxicos são a causa de
3 milhões
de intoxicações por ano no mundo. Mais
de dois terços ocorrem em países em
desenvolvimento
Fonte: OMS
ZERO HORA > DOMINGO | 24 | NOVEMBRO | 2013
VENENO DO CAMPO À CIDADE
C
riado para avaliar a
presença de resíduos de agrotóxicos
em alimentos, o
ProgramadeMonitoramento de Qualidade de Produtos Hortigranjeiros no
Rio Grande do Sul,reativado em 2013
após cinco anos parado, anda com
lentidão. Desde maio foram coletadas 130 amostras de frutas, legumes
e verduras na Ceasa, mas apenas 15
laudos foram concluídos pelo Laboratório Central do Estado (Lacen).
Os resultados já chamam a atenção. Em um terço das amostras
– três de tomate e duas de batata –
foram encontradas irregularidades.
Em todos os casos, uso de produtos
não autorizados. O monitoramento tenta flagrar resíduos acima dos
limites permitidos. De posse dos
resultados, o Ministério Público Estadual (MPE) chama os produtores
e exige que passem a respeitar as
normas de aplicação de defensivos,
sob pena de perder o direito da
venda dos hortigranjeiros na Ceasa
por até um ano.
Para a coordenadora do programa, a bióloga Suzana Nietiedt, a demora nos resultados é fruto da falta
de estrutura e de equipe no Lacen.
Para piorar, dos 380 princípios ativos de agrotóxicos registrados no
país, o laboratório consegue detectar apenas 130 princípios ativos. As
irregularidades, por sua vez, seriam
consequência da falta de orientação
dos produtores.
– A nossa assistência técnica está
sucateada, e a Secretaria da Agricultura não dá conta da fiscalização.
Os produtores ficam à mercê das
Ameaças no prato
empresas que vendem os produtos
– avalia Suzana.
Em outra frente, a Promotoria
Especializada de Defesa do Consumidor da Capital já conseguiu
cinco liminares que obrigam os
maiores supermercados do Estado
a cumprir uma norma técnica estadual de 2005 determinando que
as redes façam o rastreamento dos
hortigranjeiros. Outros quatro casos aguardam resposta da Justiça.
O objetivo é conseguir chegar aos
produtores que fizeram aplicações
irregulares de agrotóxicos quando
amostras analisados apresentam
resultados fora do padrão legal.
ANÁLISES NÃO INCLUEM
TODOS OS PRODUTOS
Como a principal irregularidade
encontrada no monitoramento é o
uso de produtos não autorizados para as culturas onde foram encontrados,produtores reivindicam a aplicação de uma normativa do Ministério
da Agricultura, da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do
Ibama que abre a possibilidade dos
agrotóxicos serem registrados para
um grupo de vegetais, e não por cultura. Como os hortigranjeiros têm
pouco peso na venda de defensivos,
há pouco interesse das empresas em
investir nos registros.
A Anvisa também analisa agrotóxicos em alimentos nos pontos de venda, como supermercados. Mas nem
todos são vistoriados a cada ano. O
pimentão, por exemplo, que na análise anterior aparecia como campeão
(83%),não figura no último relatório,
de 2012 (veja quadro ao lado).
VILÕES NA MESA DOS GAÚCHOS
■ O Programa de Avaliação de Resíduos
de Agrotóxicos (Para), da Anvisa, mostra
que, no ano passado, os produtos com
o maior número de amostras irregulares
no Estado foram pepino, morango e
cenoura. Os resultados insatisfatórios
incluem a presença de defensivos não
autorizados para alimentos em que foram
encontrados (a maior parte dos casos) ou
resíduos acima dos limites máximos.
Percentual de irregularidades
PEPINO
81%
MORANGO
80%
CENOURA
66%
TENTATIVA DE APERTAR O CONTROLE
■ Para melhorar o controle, a Secretaria da Agricultura planeja
implantar sistema semelhante ao do Paraná. A ferramenta permite
acompanhar em tempo real a emissão da nota fiscal de defensivos, saber qual
produto foi comprado e identificar a localização da propriedade.
■ O Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul acha que o ideal seria um
responsável técnico pelas propriedades voltadas ao cultivo de frutas e hortaliças.
PARA EVITAR
RISCO EXCESSIVO
LAVAR RETIRA OS
RESÍDUOS DA COMIDA?
■ Não completamente, mas contribui. Os agrotóxicos são divididos
quanto ao modo de ação entre
sistêmicos e de contato. Sistêmicos,
quando aplicados, circulam através da seiva por todos os tecidos
vegetais. De contato agem externamente, mas em parte também são
absorvidos pela planta. Portanto,
permanecem nos alimentos mesmo
após a lavagem.
QUAIS OS EFEITOS
DA INGESTÃO?
■ Se absorvidos dentro dos valores diários aceitáveis, não há dano à
saúde. Se essas quantidades forem
ultrapassadas, as consequências
podem variar desde sintomas como
dores de cabeça, alergia e coceiras
até distúrbios do sistema nervoso
central ou câncer, nos casos mais
graves de exposição (trabalhadores
rurais).
COMO DIMINUIR
A EXPOSIÇÃO?
■ Optar por orgânicos ou alimentos
da época, com quantidades menores
de veneno. Procurar produtos com
origem identificada, pois isto aumenta o
comprometimento dos produtos quanto
à qualidade.
Fonte: Anvisa
RICARDO DUARTE
ZERO HORA> DOMINGO | 24 | NOVEMBRO | 2013
DINHEIRO
7
26
Economia
ZERO HORA SEGUNDA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2013
VENENO DO CAMPO À CIDADE
Venda cresce três
Depois de mostrar flagrante
de venda ilegal de produtos
proibidos no Estado na edição
de domingo, ZH detalha a
situação de abuso no consumo
de pesticidas, herbicidas e
inseticidas.A venda dessas
substâncias cresceu o triplo
em relação ao avanço da área
plantada, e a proporção do
emprego no Estado é quase o
dobro da média nacional.
CAIO CIGANA
O
alerta de ambientalistas e entidades ligadas
à saúde sobre o risco
cada vez maior de químicos na agricultura é
sustentado por dados. O cruzamento das estatísticas de safra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de comercialização
do Sindicato Nacional da Indústria
de Produtos para Defesa Vegetal
(Sindiveg) mostra que, nos últimos
cinco anos, a venda de agrotóxicos
subiu 22,1%, três vezes acima do
crescimento da área cultivada. Se
comparado ao avanço da produtividade, é quatro vezes maior.
Criado para monitorar esse mercado, o observatório da indústria de
agrotóxicos da Universidade Federal
do Paraná (UFPR) confirma que, na
última década, o consumo de defensivos disparou no país. O faturamento da indústria do setor no Brasil
de 2001 a 2010, por exemplo, saltou
215%, enquanto a área plantada com
as principais commodities subiu
30%. Outro indicador que reforça o
excesso é o de importações. Em valor, subiram 650% entre 2000 e 2011,
enquanto a Alemanha, segunda no
ranking, teve avanço de 192% – e a
média mundial ficou em 80%.
– Esse ritmo indica o uso cada
vez maior de agrotóxicos, que não é
acompanhado pela expansão dos
principais cultivos – avalia Victor Manuel Pelaez Alvarez, coordenador do
observatório da UFPR.
Descontrole faz
surgir pragas
Para Alvarez, a venda de agrotóxicos deixou de seguir boas práticas
agronômicas, como diagnóstico da
situação da lavoura por profissional
habilitado e uso mediante receita.
– Estão usando de forma preventiva. É como fazer quimioterapia para
prevenir o câncer – compara.
Visão semelhante tem o pesquisador de controle de pragas Adeney de
Freitas Bueno, da Embrapa Soja. Para o especialista, uma das causas é o
esfacelamento da assistência técnica
oficial a partir da década de 1980. À
época, a agricultura brasileira adotava o manejo integrado de pragas
(conjunto de técnicas que mantém o
volume das pragas em níveis abaixo
do capaz de causar prejuízo). A prática foi modelo no mundo, mas acabou abandonada.
– Com a saída da assistência técnica
oficial,os agricultores ficaram na mão
das assistências técnicas das revendas de agrotóxicos. Por mais isentas
que sejam, sua função é vender e são
remuneradas por isso. Assim, ficam
comprometidas – ressalta Bueno.
O pesquisador lembra que, na década de 1980, os plantadores de soja
brasileiros faziam de uma a duas
aplicações de inseticidas por ano.
Agora, dependendo da região, são
de cinco a 10 doses. Existe temor de
possíveis efeitos colaterais.
– O uso descontrolado e intenso
vai causar o surgimento de outras
pragas. A explosão da helicoverpa é
um exemplo – sustenta Bueno, referindo-se à lagarta que na última safra aterrorizou produtores de soja e
algodão e teve confirmação também
no Rio Grande do Sul.
Procurada, a Associação Nacional
de Defesa Vegetal (Andef), que reúne 15 fabricantes de agrotóxicos no
Brasil, não se manifestou.
[email protected]
MÉDIA ELEVADA E USO EXCESSIVO
Bacia
Intensidade do uso de agrotóxicos chega a
representar 33,2 litros por habitante, mas
varia conforme a bacia hidrográfica no Estado
Rio Ijuí
Várzea
Passo
Fundo
Apuaê/Inhandava
Ijuí
Alto-Jacuí
Butuí/Icamaquã
Taquari-Antas
Rio Ibicuí
Ibicuí
Pardo
Vacacaí e
Vacacaí-Mirim
Quaraí
Rio das Antas
Rio Caí
Caí
Mampituba
Sinos
Tramandaí
Rio Jacuí
Gravataí
Baixo-Jacuí
Guaíba
Santa Maria
Rio Camaquã
Camaquã
Rio Negro
De 0 a 333 litros - baixa
De 334 a 666 - média
De 667 a mil - alta
Obs.: Percentual médio do Estado e do Brasil
Obs2.: Não existe padrão recomendado
Área
plantada
Produção
Produtividade
Venda de
agrotóxicos
6,1%
11,3%
5,6%
22,1%
Faturamento
da indústria
36,2%
OBS: Os dados de área plantada, produção e
produtividade se referem às seis principais lavouras
anuais do país: milho, soja, trigo, feijão, arroz e algodão
Fonte: IBGE
Litros/km²/ano Litros/habitante/ano
Litoral Médio
Gravataí
88,77
0,135
Sinos
67,03
0,200
Caí
140,97
1,551
Taquari-Antas
265,96
6,220
Alto Jacuí
919,02
33,204
Vacacaí e Vacacaí-Mirim
197,26
5,897
Baixo Jacuí
135,66
6,696
Lago Guaíba
199,51
0,459
Pardo
367,21
6,702
60,58
0,874
261,89
25,054
63,87
4,606
Região hidrográfica do Litoral
Tramandaí
Litoral Médio
Camaquã
Mirim-São Gonçalo
128,85
3,925
Mampituba
162,75
9,512
Região hidrográfica do Uruguai
Ca
n
Go al d
nç e S
alo ão
Mirim-São Gonçalo
LEGENDA
Em cinco anos, a venda
de defensivos agrícolas
aumentou três vezes
mais do que o avanço
da área plantada no
país, indicando abuso na
aplicação dos produtos
Região hidrográfica do Guaíba
Turvo/Santa Rosa/
Santo Cristo
Piratinim
AUMENTO
DESPROPORCIONAL
Apuaê/Inhandava
277,14
14,004
Passo Fundo e Várzea
786,46
22,629
Turvo/Santa Rosa/Santo Cristo
874,65
24,122
Piratinim
e Butuí/Icamaquã
404,55
40,820
Ibicuí
224,37
19,192
Quaraí
197,28
43,526
Rio Santa Maria
145,92
12,326
67,03
1,866
650,54
20,542
Rio Negro
Ijuí
Economia
ZERO HORA SEGUNDA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2013
27
vezes mais do que lavouras
RICARDO DUARTE
ANÁLISE DA ÁGUA NÃO
CAPTA CONTAMINAÇÃO
Agrotóxicos
mais usados
Exame detecta
a presença?
Glifosato
Acefato
Difeconazole
Metamidofós
Metalaxil-m
Cipermetrina
Diflubemzuron
Folpete
Tiofanato metílico
Carbofuran
Sim
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
FEIRAS ECOLÓGICAS
Onde comprar verduras e
legumes sem agrotóxicos
PORTO ALEGRE
●
Frutas, legumes e verduras estão entre os alimentos mais impactados pelo excesso de defensivos
Consumo no RS é quase o
dobro da média nacional
●
●
●
●
O excesso e o descontrole no uso
de agrotóxicos geram consequências
que ultrapassam os limites do campo e ameaçam a qualidade da água,
inclusive a distribuída à população
urbana.Com um estudo que mapeou
o uso de defensivos por bacia hidrográfica do Rio Grande do Sul, o Estado terá a partir do próximo ano uma
portaria própria que ampliará a lista
de princípios ativos de pesticidas e
herbicidas analisados pelas companhias de abastecimento de água.
Coordenado pelo Centro Estadual
de Vigilância em Saúde, o trabalho fez
projeções com base em informações
coletadas sobre a safra 2009/2010 e indicou o uso de 85 milhões de litros de
agrotóxicos no Estado, o equivalente a
34 piscinas olímpicas cheias de veneno agrícola. É como se cada gaúcho
utilizasse 8,3 litros de veneno a cada
ano no período analisado. O volume
per capita gaúcho é bem superior ao
nacional, no Estado que é o terceiro
maior produtor de grão.Um estudo da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) mostra que, em 2011, a
média do país foi de 4,5 litros.
Premiado na Mostra Nacional de
Experiências Bem Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de
Doenças (Expoapi), organizada pelo
Ministério da Saúde, o estudo identificou as regiões que mais aplicam
Entre os
50
tipos de agrotóxicos mais
utilizados nas lavouras brasileiras,
22
são proibidos na União Europeia
Fonte: Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)
defensivos. Sem surpresa, o mapa
aponta o noroeste do Estado, principal região produtora de grãos, com
os maiores volumes por quilômetro
quadrado. O quadro mais grave ocorre na Bacia Hidrográfica doAlto Jacuí,
com relação entre volume e área de
919 litros por quilômetro quadrado e
consumo equivalente a 33,2 litros por
habitante na safra 2009/2010.
Novos exames só
no próximo ano
Como o trabalho, também será
montado um ranking dos agrotóxicos considerados mais críticos para
cada região, e haverá a possibilidade
de complementar a lista de produ-
tos analisados pelas companhias de
abastecimento no momento de avaliar a água tratada distribuída à população em cada uma das bacias do
Estado. Dos 10 agrotóxicos considerados mais críticos para o Rio Grande do Sul, por exemplo, apenas três
fazem parte da relação de produtos
verificados hoje pelas empresas, conforme a Portaria 2.914/11, do Ministério da Saúde. A norma ministerial,
hoje, relaciona apenas 27 químicos
aplicados na agricultura.
– Em março do próximo ano, teremos uma portaria estadual que
vai incluir os parâmetros (princípios
ativos) mais críticos para cada uma
das bacias hidrográficas do Estado,
que também passarão a ser analisados pelas companhias de água – explica o chefe da Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde do Estado,
Salzano Barreto.
Publicado em 2011 com informações coletadas no ano anterior,o Atlas
do Saneamento do IBGE também dá
pistas quanto à contaminação pela aplicação desenfreada de veneno
agrícola, poluindo mananciais utilizados para captar água destinada à
população. No Rio Grande do Sul, 37
municípios relataram a presença de
agrotóxicos nos pontos de captação
– mesmo que depois, tratado, o líquido ganhasse potabilidade.
●
Onde: Avenida Getúlio Vargas (no
pátio da Secretaria Estadual da Agricultura), bairro Menino Deus
Quando: quartas-feiras, das 13h às
19h e sábados das 7h às 12h30min
Onde: Avenida Otto Niemeyer, esqui-
na com a Avenida Wenceslau Escobar, bairro Tristeza
Quando: sábados das 7h às
12h30min
Onde: Avenida José Bonifácio, 675,
bairro Bom Fim
Quando: sábados,das 7h às
12h30min
INTERIOR
●
PELOTAS
Onde: Avenida Dom Joaquim, esquina
com a Rua Povoas Junior
●
Quando: sábados, das 8h às 14h
●
Onde: Avenida Bento Gonçalves entre
●
Quando: terças-feiras, das 8h às 14h
●
Onde: Largo do Mercado Público, das
●
Quando: quintas-feiras, das 15h às
as Ruas Barroso Ferreira Viana
15h às 20h
20h
●
CAXIAS DO SUL
Onde: Rua Augusto Pestana, antiga
Estação Férrea
●
Quando: sábados, das 6h30min às
11h30min
●
Onde: Rua Santos Dumont, bairro
●
Quando: quartas-feiras, das 14h às 18h
●
SANTA CRUZ DO SUL
Onde: Rua Tomás Flores, 805
Quando: terças e sextas, das 14h às
Nossa Senhora de Lourdes
●
18h30min
●
BRASIL É O SEGUNDO
MAIOR CONSUMIDOR
NO PLANETA
Apesar da informação difun-
dida de que o Brasil passou a
ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos, o país
ainda segue atrás dos Estados
Unidos, afirma Victor Alvarez,
do obser vatór io da indústria de agrotóxicos da UFPR.
No ano passado, o mercado
nor te-amer icano negociou
US$ 13,7 bilhões em defensivos, enquanto no Brasil a cifra
foi de US$ 9,7 bilhões.
Fiscalização
deverá ser
intensificada
O comércio irregular de agrotóxicos na internet, revelado domingo em ZH, surpreendeu o diretor
de defesa vegetal da Secretaria da
Agricultura, José Candido Motta.A
reportagem mostrou que a rede é
um canal para venda de produtos
proibidos e sem registro.Em outros
casos, há despachado por correio, o
que também é ilegal.
– Sabíamos que existia, mas não
com essa dimensão – diz Motta.
Para tentar estancar a ilegalidade, a Secretaria da Agricultura reforçará a vigilância nos postos de
fiscalização na divisa com Santa
Catarina. Os Correios receberão
pedido oficial para criar uma forma de barrar o despacho de defensivos. Motta avalia que, a partir
da implantação do monitoramento eletrônico da venda de agrotóxicos legalizados, previsto para
operar em março de 2014, será
possível liberais fiscais para coibir
o comércio ilegal. Hoje, a estrutura
é precária: para fiscalizar cerca de
mil estabelecimentos com licença
de venda de agrotóxicos e mais
de 400 mil propriedades, o Estado
tem 20 técnicos, entre agrônomos
e engenheiros florestais.
A polêmica repercute também na
Assembleia Legislativa. Um projeto
de lei da deputada Marisa Formolo
(PT) propôs em maio a identificação clara, ao consumidor, se algum
agrotóxico foi usado em alimentos
– nos pontos de venda, para produtos in natura, e nas embalagens
para industrializados.
Em julho, o projeto teve parecer
favorável na Comissão de Constituição e Justiça, primeiro passo das
propostas na Casa, mas foi solicitada nova análise a pedido de Fiergs,
Farsul, Fetag e Fecomércio. Não há
previsão de avanço no Legislativo.
Download

ZH - Agrotóxico 24 e 25.11.2013 Cad. Dinheiro