XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA
APLICADOS ÀS ATIVIDADES DE
CARREGAMENTO MANUAL DE
CAMINHÕES EM UMA EMPRESA DE
CERÂMICOS
Marcio Carvalho da Silva (PPGEP/UFPB)
[email protected]
Thiago Aurélio Freire Freitas (UFPB)
[email protected]
Francisco Soares Másculo (PPGEP/UFPB)
[email protected]
As atividades laborais de carregadores de caminhões em fábricas de
tijolos demandam alta carga muscular e quando o ritmo de trabalho
aumenta por exigências de resultados, essa tarefa pode gerar riscos
para a saúde desses trabalhadores. Nessse sentido, o presente estudo
tem como objetivo verificar as posturas adotadas no trabalho dos
carregadores de caminhão de uma olaria visando identificar pontos
críticos que potencializam o desenvolvimento de doenças
osteomioarticulares relacionadas ao trabalho (DORT) em curto, médio
e longo prazo. Utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
com a ferramenta de análise postural, OWAS (Ovako Working Posture
Analysing System) e o Diagrama de áreas dolorosas onde os
trabalhadores indicaram as regiões do corpo que sofrem maior
estresse muscular, bem como algumas considerações sobre a
Movimentação Manual de Cargas através do método de NIOSH.
Foram realizadas observações diretas e indiretas com vídeos, registros
fotográficos e questionários com o propósito de aplicar as informações
coletadas ao software WinOWAS para gerar as categorias de riscos.
Os resultados apontam que, todas as quatro etapas que correspondem
à atividade dos carregadores de caminhão, contém pelo menos uma
postura situada entre as categorias críticas (3 e 4) em relação a
coluna, membros superiores e inferiores. Dessa forma, o ritmo de
trabalho acelerado, flexões e rotações constantes da coluna associada
à elevada carga transportada favorecem a desenvolvimento de doenças
ocupacionais e, portanto, necessitam intervenção ergonômica imediata
para minimizar os riscos na saúde dos trabalhadores.
Palavras-chaves: Análise Ergonômica, DORT, Carregamento de
Caminhões
1. Introdução
A ergonomia enquanto disciplina científica que compreende as interações entre seres
humanos e outros elementos de um sistema visando otimizar o bem estar e o desempenho
global do mesmo (IEA, 2000), envolve uma série de outros fatores que interagem entre si
buscando influenciar e atender as exigências oriundas da relação do homem com o seu
trabalho.
A importância em estudar e avaliar as causas pelas quais se verificam a ocorrência de
prejuízos a saúde dos trabalhadores, em decorrência das más condições de trabalho, tem sido
alvo de inúmeras pesquisas no ramo da Ergonomia, cuja preocupação está em analisar como
são realizadas as atividades de trabalho que determinam o comportamento do homem com o
seu posto de trabalho abordando tanto os aspectos físicos quanto cognitivos.
Dessa forma, pretende-se com o auxílio de técnicas e ferramentas de análise ergonômica,
identificar e apontar as situações que contribuem para a inadequação dos ambientes que os
tornam impróprios ao trabalho. E, a partir dessa informação, tornar possível a intervenção
ergonômica com o propósito de evitar prejuízos tanto para a empresa (redução nos índices de
produtividade) quanto para o trabalhador (surgimento de doenças ocupacionais).
De acordo com Fornazari, et al (2000), a imposição de ritmos de trabalho intensos e jornadas
prolongadas, atreladas a posturas incorretas e ambientes ergonomicamente inadequados ao
trabalhador são interpretadas como causa do comprometimento da sua saúde e da sua destreza
nas tarefas habituais, predispondo-o ao desenvolvimento de doenças ocupacionais.
As atividades com alto grau de criticidade associado ao carregamento de cargas pesadas,
como é o caso das atividades de carregamento de caminhões, são as que mais contribuem para
o surgimento das doenças osteomusculares tendo como principal sintoma as lombalgias,
caracterizada por dores e desvios na coluna lombar comprometendo a postura considerada
adequada para a realização do trabalho.
O presente artigo tem por objetivo avaliar, ergonomicamente, as atividades do trabalho de
carregadores de caminhões em uma fábrica de tijolos, com o propósito de investigar os riscos
de doenças ocupacionais através da análise das posturas adotadas na execução de tais
atividades.
2. Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
Segundo Iida (2005), a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) tem como objetivo aplicar os
conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma condição de trabalho.
Consiste em uma seqüência de coletas de dados e informações que viabilizem as mudanças
necessárias para a melhoria do ambiente de trabalho, contemplando a satisfação do
trabalhador (MAIA, 2008).
Uma AET, conforme sugere Iida (2005), pode ser dividida em cinco etapas, a saber:
 Análise da demanda: caracteriza-se como o ponto de partida do estudo do posto de
trabalho  Permite delimitar o (s) problema (s) a serem abordados em uma análise
ergonômica;
 Análise da tarefa: compreende não só as condições técnicas de trabalho, mas também as
condições ambientais e organizacionais de trabalho  É o trabalho prescrito;
 Análise da atividade: trata-se da mobilização das funções fisiológicas e psicológicas do
2
indivíduo, em um determinado momento  conjunto de ações de trabalho que caracteriza
os modos operativos;
 Diagnóstico: É uma síntese da análise ergonômica, baseia-se diretamente nas hipóteses
formuladas  Evidencia as diversas síndromes que caracterizam as patologias
ergonômicas da situação de trabalho;
 Recomendações: Sugestões de melhoria dos postos analisados visando aumento do
rendimento e satisfação do empregado.
Em atividades que envolvem levantamento e movimentação de cargas alguns pontos são
considerados importantes para o estudo ergonômico dos postos e das condições de trabalho no
intuito de preservar a integridade física do trabalhador. Dentre eles podemos destacar:
a) Características e tipo de carga que é necessário movimentar e transportar:
 Constituição da carga (material, forma, volume, etc.);
 Localização da carga no contexto do espaço de trabalho;
 Intensidade (peso da carga).
b) Esforço físico exigido na tarefa:
 Intensidade das forças que é necessário exercer para vencer a resistência que a carga
oferece;
 Tipo de músculos e órgãos envolvidos na manipulação da carga;
 Freqüência do número de elevações e outros movimentos efetuados.
c) Condições físicas dos trabalhadores:




Sexo;
Idade;
Capacidade e condição física no momento;
Outras características individuais.
d) Exigências específicas de cada atividade em particular:
 Condições ambientais do local / espaço de trabalho onde é efetuada a movimentação das
cargas;
 Duração e freqüência dos ciclos de trabalho;
 Percurso e deslocamentos que os trabalhadores têm de percorrer.
Para cada uma das etapas anteriores é possível aplicar alguns métodos e técnicas, bem como
ferramentas para a coleta de dados com o objetivo de diagnosticar as condições de trabalho
em cada posto.
O presente estudo concentrou-se na análise postural e na Movimentação Manual de Cargas
(MMC). Nesse sentido, serão utilizados os métodos OWAS, o Diagrama de Regiões
Dolorosas e o NIOSH. O primeiro método consiste em avaliar as diferentes posturas
assumidas nos postos de trabalho, baseando-se na observação direta ou indireta (por registros
fotográficos e vídeos) onde são consideradas as posturas assumidas pelas costas (dorso),
braços e pernas durante a realização do trabalho que recebe uma pontuação de acordo com o
grau de criticidade da atividade. O segundo método consiste em uma representação do corpo
3
fragmentado em pequenos segmentos, cuja a finalidade é definir as áreas que apresentam
dores oriundas da atividade após uma jornada de trabalho. Por fim, o terceiro método é
utilizado para determinar a carga máxima a ser manuseada e movimentada manualmente
numa atividade de trabalho.
3. Biomecânica Ocupacional
As interações entre o trabalho e o homem são bases de pesquisas da biomecânica ocupacional
na qual se analisam, essencialmente, a aplicação de forças e tensões a que os grupos
musculares são mantidos durante uma determinada postura no desempenho das atividades
laborais. Esse comportamento postural adotado pelos trabalhadores, resumidamente, é
influenciado pelas características da tarefa e pelo meio ambiente de trabalho, estes
fatores podem desenvolver sobrecargas e aumento do gasto energético com conseqüente
produção de tensões nos músculos, ligamentos e articulações resultando em desconfortos e
dores, que são precedentes de doenças ocupacionais (ANJOS, 2008).
O estudo da biomecânica ocupacional envolve, entre outros fatores, a caracterização do
trabalho em dinâmico e/ou estático, posições para execução do trabalho (deitado, sentado ou
em pé), identificação de áreas dolorosas do corpo (diagrama de Corlett e Manenica),
aplicações de forças, transmissão de movimentos e levantamento e transportes de cargas.
Todos esses aspectos são avaliados conjuntamente para diagnosticar os possíveis pontos de
máximas tensões a que o corpo está submetido no período da atividade laboral, com o
propósito de evitar o desenvolvimento de sintomas como dor, formigamento, câimbras entre
outros, mediante intervenção adequada.
4. Análise Postural no Trabalho e Movimentação de Cargas
A postura pode ser definida pelo arranjo característico que cada indivíduo encontra para
sustentar o seu corpo e utilizá-lo na vida diária, envolvendo uma quantidade mínima de
esforço e sobrecarga, conduzindo à eficiência máxima do corpo (KENDALL et al, 1995)
A adoção de posturas inadequadas na realização de determinadas funções, associadas a outros
fatores de risco existentes no posto de trabalho, como sobrecarga imposta à coluna vertebral,
vibrações e manutenção de uma postura por tempo prolongado constituem as maiores causas
de afastamento do trabalho e de sofrimento humano (COUTO, 1995).
As condições de trabalho que permitem mudanças na postura são as mais indicadas para
redução de problemas na coluna vertebral pela diminuição de momentos das forças exigidas
pela tarefa. Os postos de trabalho que não permitem essa flexibilidade de adaptação postural
deve tomar outras medidas para evitar a fadiga e o estresse muscular, bem como, a
conseqüente diminuição da eficiência do trabalhador.
De acordo com Iida (2005), uma das maiores dificuldades em analisar e corrigir as más
posturas no trabalho está na identificação e no registro das mesmas. Dessa forma, algumas
técnicas e métodos de auxílio à coleta e processamento de dados são utilizadas nesse
processo.
A correção das referidas não conformidades deve pautar-se pela correta aplicação dos vários
princípios ergonômicos a fim de otimizar a compatibilidade entre o homem, as máquinas e o
ambiente físico de trabalho. Isto conseguir-se-á através do equilíbrio entre as exigências das
tarefas, das máquinas e as características anatômicas, fisiológicas, cognitivas e perceptomotoras do homem (PORTAL EMPRESARIAL, 2006).
4
5. Metodologia
A metodologia adotada na presente pesquisa caracteriza-se por ser um estudo de caso de
caráter qualitativo descritivo onde se buscou, por meio de observação indireta (vídeos e
fotos), analisar as atividades de carregamento de caminhões de uma empresa fabricante de
tijolos, a fim de verificar as posturas assumidas pelos funcionários responsáveis por atividades
de levantamento e transporte de cargas (tijolos). Evidencia-se, portanto, a relação entre o
trabalhador e o trabalho que executa, através do qual são descritos os principais movimentos
adotados nessa função.
A metodologia adotada baseou-se nos pressupostos da Análise Ergonômica do Trabalho
(AET), conforme descrito anteriormente. No que tange a análise da tarefa os principais
aspectos abordados foram: tipos de trabalho (com exigências físicas ou cognitivas), ritmos e
cargas a que são submetidos os trabalhadores. No tocante a análise das atividades, buscou-se
informações acerca dos movimentos, tempo e o processo do trabalho.
Para tanto, foram gravadas as etapas das atividades mediante elaboração de vídeos e registros
fotográficos, a partir dos quais foram possíveis observar sistematicamente os métodos
adotados para execução das tarefas durante o abastecimento de um caminhão. Tais
procedimentos possibilitaram fornecer informações ao software WinOWAS para posterior
análise da criticidade das atividades assim como, servir de subsídios ao cálculo do Limite de
Peso Recomendado (LPR) e o Índice de Levantamento (IL) proposto pelo método de NIOSH.
Também foram analisadas as regiões do corpo onde apresentavam maior incidência de dor
após uma jornada de trabalho pelo uso do diagrama de Corlett e Manenica.
De maneira simplificada, esta metodologia pode ser apresentada da seguinte forma:






Análise das atividades (Visão Macro atividade  observação indireta);
Definição das atividades mais prejudiciais a saúde do trabalhador;
Aplicação de questionários para identificação das regiões do corpo com áreas dolorosas;
Avaliação pelo método OWAS (software WinOWAS);
Classificação das atividades de trabalho quanto ao nível de desconformidade operacional
Determinação do Índice de Levantamento pelo método NIOSH.
Após o levantamento das informações é feito o tratamento dos dados para diagnosticar os
pontos que exigem maior atenção por parte dos dirigentes da empresa.
6. Caracterização da Atividade de Levantamento de Cargas
As atividades relacionadas ao levantamento e movimentação de cargas pressupõem como
instrumento de trabalho, o próprio corpo do trabalhador.
Em termos biomecânicos, no processo de movimentação de cargas, o peso dos segmentos
corporais juntamente com a carga transportada correspondem à resistência e a força muscular
exercida para realizar o trabalho correspondente à força de potência (PORTAL
EMPRESARIAL,2006).
A atividade em análise é considerada exaustiva uma vez que desencadeia uma sequência de
posturas inadequadas resultando em fadiga e estresse muscular após uma jornada de trabalho.
Embora ocorra adaptação a tais condições de trabalho com conseqüente acomodação
muscular em decorrência do tempo dos funcionários nessa ocupação, no longo prazo, ao
persistir em condições inadequadas do trabalho, tal situação poderá contribuir para o
surgimento de doenças osteomusculares degenerativas com possível afastamento do
5
funcionário.
A atividade de carregamento de caminhões acontece segundo as seguintes etapas:
 ETAPA 1 – Nessa fase três funcionários retiram os tijolos do forno e abastecem os
carrinhos para levarem até os caminhões de distribuição;
 ETAPA 2 – Tendo abastecido os carrinhos, os mesmos são transportados até o local onde
encontram-se os caminhões;
 ETAPA 3 – Retira-se os tijolos do carrinho e coloca-os na lateral da carroceria do
caminhão.
 ETAPA 4 – Essa é a fase final que é caracterizada pelo abastecimento dos caminhões onde
é feita a transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão. Nessa etapa, três
funcionários ficam na parte inferior do caminhão entregando os tijolos, enquanto outros
dois ficam na parte superior para receber e acomodar os tijolos na carroceria.
Para realizar a avaliação postural, considerou-se a análise da seqüência das atividades
executadas pelos 5 trabalhadores durante o carregamento de um caminhão segundo as etapas
descritas anteriormente.
Vale ressaltar que a atividade exige um esforço muscular elevado, e portanto, a mesma é
executada por homens com idade entre 35 a 40 anos. Por seu caráter repetitivo, não exige que
os funcionários tenham um grau de instrução elevado. O ritmo de trabalho possibilita um
carregamento de 8.000 tijolos em aproximadamente 55 minutos. As etapas das tarefas
executadas pelos trabalhadores podem ser vistas na figura 1.
Figura 1 – Fases da atividade de carregamento do caminhão: (1) Abastecimento do carrinho; (2) Transporte do
carrinho até o caminhão; (3) Transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão e (4) Acomodação dos tijolos
no caminhão
Os resultados apresentados a seguir mostram um diagnóstico em que se classificam as fases
do trabalho segundo os métodos de análise ergonômica propostos no presente estudo. Com
essas informações é possível verificar o grau de criticidade de cada etapa da atividade de
carregamento de caminhões.
7. Resultados e Discussões
7.1 Análise das posturas – WinOWAS
Com base nas informações fornecidas ao software WinOWAS acerca do modo como são
feitas as tarefas de carregamento de caminhões com tijolos, sob o ponto de vista das posturas
adotadas nas etapas descritas anteriormente, obteve-se os seguintes resultados:
a) Etapa 1 – Retirada dos tijolos do forno e abastecimento dos carrinhos
Essa etapa consiste em abastecer o carrinho com tijolos para posteriormente transportá-lo até
o local onde se encontra o caminhão responsável pela distribuição aos consumidores finais.
Inicialmente o trabalhador recolhe o tijolo da pilha localizada no forno e deposita no carrinho.
6
Ao realizar tal procedimento, ele flexiona a coluna para erguer uma carga composta por 4
tijolos com dimensões de 24 X 14 X 11,5 cm – Peso: 3,6kg, sendo 2 em cada mão, a cada vez
que repete a atividade. Isso equivale a uma carga total de 14,4 kg.
Num ritmo acelerado os trabalhadores executam essa operação com um tempo médio de ciclo
de aproximadamente 3 segundos. A figura 2 mostra a seqüência de passos adotados nessa
atividade seguida pelo seu respectivo gráfico gerado pelo sistema WinOWAS.
Figura 2 – Seqüência de movimentos de um trabalhador ao abastecer um carrinho
Gráfico 1 – Análise das posturas ao pegar o tijolo e colocar no carrinho
A partir deste gráfico, verifica-se que a atividade acontece com associação da flexão e rotação
do dorso em 70% do tempo, situando-se na categoria 3 e, portanto, exige medidas para mudar
a postura o mais rápido possível, pois favorece ao surgimento de dores lombares nessa região.
No que tange a região dos braços, apesar de 70% da atividade ser realizada com a posição dos
membros abaixo dos ombros e, com isso, inserir-se na categoria 1 considerada normal,
observa-se que 30% da atividade é realizada com ambos os braços acima dos ombros
situando-se na categoria 2 que é passível de melhorias futuras.
Para a região das pernas, observa-se uma alternância entre as categorias 1 e 2, sendo
consideradas dentro da normalidade com uma leve tendência a potenciais danos a saúde e,
portanto, exige análises e melhorias em revisões futuras.
b) Etapa 2 – Transportando o carrinho até o caminhão
Essa tarefa acontece após o abastecimento do carrinho onde o passo seguinte consiste no
trabalhador empurrá-lo até próximo do caminhão distribuidor. Os movimentos adotados para
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realização dessa tarefa exige que o trabalhador impulsione o carrinho com uma força elevada
para tirá-lo da inércia e pô-lo em movimento assumindo dessa forma uma postura inclinada
lateralmente no momento do impulso e inclinada frontalmente durante o deslocamento,
conforme pode ser visto na seqüência da figura 3.
Figura 3 – Seqüência de movimentos de um trabalhador ao transportar um carrinho para próximo do caminhão
Gráfico 2 – Análise das posturas ao transportar o carrinho com tijolos até o caminhão distribuidor
Este gráfico mostra que devido a carga transportada ser maior que 20 kg, e ser justamente no
momento em que se exige um impulso maior para por o carro em movimento, a atividade
enquadra-se na categoria 3 no que tange a exigência muscular na região do dorso. Permanecer
em 60% do tempo da atividade em flexão e torção dorsal com ambas as pernas fletidas em
20% do tempo, mesmo que os braços permaneçam abaixados em 100% do tempo, são fatores
merecedores de atenção neste procedimento.
c) Etapa 3 – Transferência de tijolos do carrinho para o caminhão
Essa tarefa compreende a movimentação de tijolos do carrinho até o caminhão onde são
posicionados na lateral da carroceria do veículo para posterior arrumação. Os movimentos
realizados pelo trabalhador nessa etapa da tarefa exige uma postura inclinada e torcida do
dorso, além de estar levantando cargas com as mãos acima do ombro (ver seqüência na figura
4).
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Figura 4 – Seqüência de movimentos de um trabalhador na transferência de tijolos para o caminhão
Gráfico 3 – Análise das posturas na transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão
Na análise dessa fase da tarefa de carregamento, o método OWAS indica que para a região
das pernas a atividade é realizada sempre de pé com 1 das pernas fletidas. Verifica-se ainda,
que as costas assumem uma postura com associação das posições fletidas e torcionada em
50% do tempo, quando o trabalhador pega os tijolos do carrinho e impulsiona a carga para o
caminhão. Ao realizar esse movimento o método OWAS classifica a postura das costas na
categoria 3 que exige cuidados o mais rápido possível. Nos 50% restantes do tempo, as costas
assumem a postura torcionada e, portanto essa movimentação, sob essas condições, é
classificada na categoria 2 que indica melhorias futuras.
d) Etapa 4 – Acomodação dos tijolos na carroceria do caminhão
Essa tarefa consiste em arrumar os tijolos situados na lateral da carroceria de forma a
aproveitar ao máximo o espaço disponível do caminhão. Observa-se a partir da figura 5 que o
trabalhador realiza a tarefa com o dorso flexionado e torcido e com apenas uma das pernas
flexionadas. Ao pegar a carga movimenta-se por impulsão até elevar a carga no local
desejado. Essa movimentação acarreta uma sobrecarga na coluna favorecendo o surgimento
de dores musculares.
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Figura 5 – Seqüência de movimentos de um trabalhador na acomodação de tijolos no caminhão
Gráfico 4 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão
Na fase final do trabalho as principais considerações apresentadas pelo OWAS exige que se
tenha uma maior atenção para a região das pernas classificada na categoria 3 onde indicou que
em metade do tempo a atividade é realizada de pé com uma das pernas flexionadas. É
importante observar também que a posição do dorso no momento em que o trabalhador
acomoda uma fileira nova de tijolos, permanece com a postura torcida durante 50% do tempo
de ciclo da atividade (ver etapa 2 da figura 5). Por esta razão encontra-se inserida na categoria
3, em que se exige intervenção ergonômica o mais rápido possível, sob pena de que baixe a
produtividade do trabalhador pelo aparecimento de doenças ocupacionais que o levem a ser
afastado do serviço.
O gráfico 5 mostra o panorama geral da atividade identificando o percentual de todas as
posições assumidas pelo dorso, braços e pernas durante a execução da tarefa completa.
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Gráfico 5 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão
A partir das informações contidas nesse gráfico é possível chegar as seguintes conclusões:
 43% do tempo total da atividade foi realizada com o dorso assumindo uma postura
flexionada e torcida concomitantemente e, portanto, ocupou a categoria 3 na classificação
do OWAS indicando com isso, a necessidade de adotar medidas intervencionistas o mais
rápido possível;
 No tocante aos membros superiores, boa parte do tempo das tarefas (63%) eram realizadas
com os braços abaixo dos ombros garantindo maior estabilidade aos movimentos e
reduzindo o trabalho estático. No entanto 37% do tempo das atividades eram realizadas
com os braços acima dos ombros e, por essa razão, foi classificada na categoria 2 que
indica uma carga fisiológica da postura levemente prejudicial, sendo necessário adotar
medidas para mudar a postura em um futuro próximo;
 A posição mais freqüente das pernas ao longo da atividade ocorre na postura em pé com
uma perna flexionada (49%). Tal posição encontra-se classificada na categoria 3
considerada prejudicial à fisiologia do trabalhador. Dessa forma, pode-se concluir que tal
postura torna o trabalho instável no que tange a sustentação postural do trabalhador no
momento em que levanta a carga, podendo ocasionar lesões musculares intra discal e
conseqüente surgimento de patologias como: hérnias e lombalgias.
 Verifica-se ainda que a carga varia de acordo com a participação direta do trabalhador com
o levantamento de peso. Em 14% do tempo o trabalhador leva por meio do carrinho uma
carga superior a 20 kg que é constituída pelo agrupamento de tijolos que é transportado de
uma só vez. Os 86% restantes do tempo, o trabalhador levanta os tijolos nas próprias mãos.
No método OWAS ainda é possível identificar as atividades que ocuparam as categorias 3 e 4
considerada as mais prejudiciais a saúde do trabalhador. É o que apresenta o gráfico 6 onde se
evidenciam as fases da atividade de carregamento com maior propensão a incidência de
doenças ocupacionais.
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Gráfico 6 – Análise das posturas na acomodação dos tijolos no caminhão
As fases da atividade que ocuparam a categoria 4 (postura extremamente prejudicial), foram a
de abastecimento do carrinho e a transferência dos tijolos do carrinho para o caminhão. São as
que mais exigem da musculatura do trabalhador com freqüentes movimentações combinadas
de rotação e flexão simultâneas e portanto, necessitam medidas imediatas para mudar as
posturas evitando, com isso, sobrecargas na coluna vertebral.
É interessante observar que no transporte do carrinho houve uma variação de categorias, isto
é, em mais da metade do tempo encontra-se classificada na categoria 3 e no tempo restante
encontra-se inserida na categoria 4. O movimento associado ao deslocamento assume a
categoria 3 e o movimento de impulsão do carrinho para provocar o deslocamento, assume a
categoria 4, haja visto necessitar de uma potência maior.
A partir do gráfico conclui-se que toda a atividade de carregamento manual de caminhões é
crítica e necessita de um estudo ergonômico visando reduzir os riscos de lesões corporais e o
surgimento de dores constantes que comprometam significativamente a realização do
trabalho.
7.2 Análise das regiões dolorosas
Paralelamente ao método OWAS fez-se um levantamento das principais sensações sentidas
pelos trabalhadores após uma jornada de trabalho de aproximadamente 9h, com foco na
identificação das zonas que mais sofrem com o trabalho pesado, conforme apresentado no
quadro a seguir.
QUADRO 1 – Percepções das sensações de desconforto na musculatura dos funcionários
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LADO ESQUERDO
POSIÇÃO
VALOR
11
1,7
12
2,5
13
1,2
14
0,0
31
2,1
32
1,0
33
0,0
34
1,6
35
3,7
51
2,9
52
2,7
53
0,0
LADO DIREITO
POSIÇÃO
VALOR
21
1,7
22
2,5
23
1,2
24
0,0
41
2,1
42
0,9
43
0,0
44
1,5
45
3,8
61
2,9
62
2,7
63
0,0
REGIÕES
Ombro
Braço
Antebraço
Mão
Pescoço
Dorso Superior
Dorso Médio
Dorso Inferior
Quadril
Coxa
Perna
Pé
FONTE: Desenvolvido pelos autores
A tabela indica as médias de 10 funcionários avaliados após um dia de trabalho que opinaram
sobre os níveis de desconforto na musculatura do corpo. Verifica-se que as regiões com
maiores exigências são: os braços (nível de dor de 2,5), musculatura do pescoço (nível de dor
de 2,1), quadril (esquerdo: 3,7 e direito: 3,8), coxa (nível 2,9) e perna (nível 2,7).
A partir dos relatos dos funcionários é possível verificar o despreparo desses profissionais
cuja responsabilidade parte da gerência em fornecer um treinamento orientado para a
compreensão dos métodos de trabalho e da maneira correta de exercer a atividade.
7.3 Cálculo do Limite de Peso Recomendado (LPR) e o Índice de Levantamento (IL)
Por fim, utilizou-se do método de NIOSH, para determinar o Limite de Peso Recomendado,
dado pela seguinte equação:
LPR = 23 x FDH x FAV x FDVP x FFL x FRLT x FQPC
Onde:
FDH  fator distância horizontal do indivíduo à carga; FAV  fator altura vertical da carga
FDVP  fator distância vertical percorrida desde a origem até o destino; FFL  fator
freqüência de levantamento; FRLT  fator rotação lateral do corpo; FQPC  fator qualidade
da pega da carga.
Considerando-se todos esses fatores chegou-se ao resultado de um LPR de 5,397 que
contribui para o cálculo de um Índice de Levantamento de 2,668.
Segundo os princípios do método tais valores indicam que o risco de vir a ter alguma lesão na
coluna ou no sistema músculo-ligamentar é alto e aumenta de forma considerável, sendo
portanto, necessária intervenção para possíveis correções ou redução no tempo de exposição
do funcionário a tais condições de trabalho.
8. Conclusão
Verifica-se a partir deste estudo que as atividades voltadas para o carregamento de cargas,
especificamente o carregamento de caminhões de tijolos, apresentam condições inadequadas
ao trabalho situando-se nas categorias 3 e 4 do sistema OWAS que determinam medidas
intervencionistas imediatas a fim de reduzir o risco de aparecimento de doenças
osteomioarticulares relacionadas ao trabalho (DORT). As posturas envolvendo flexão
combinada à rotação dorsal, apoio nas pernas com flexão dos joelhos e que exigem braços
13
acima da altura dos ombros são apontadas pelo OWAS como as de maior risco de lesões e
comprometimentos musculoesqueléticos. Verifica-se que, todas as 4 etapas da atividade dos
carregadores de caminhão, contem pelo menos uma posição situada entre as categorias 3 ou 4,
seja na postura do dorso, braços ou das pernas dependendo do grau de potência muscular
exigido pela atividade. Dessa forma, o ritmo de trabalho acelerado, flexões e rotações
constantes da coluna associada à elevada carga transportada favorecem a desenvolvimento de
doenças ocupacionais e, portanto, necessitam intervenção ergonômica imediata para
minimizar os riscos na saúde dos trabalhadores.
Referências
COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho – Manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: Ergo,
1, 1995.
ANJOS, Denise C. S. dos. Aspectos da biomecânica ocupacional na abordagem fisioterapêutica preventiva.
Universidade
Federal
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Sergipe,
2008.
Disponível
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http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/biomecanica/biomecanica_ocupacional_denise.
htm (Acesso dia 29/08/2009)
FORNAZARI, C. A.; SILVA, G. A.; NISHIDE, C.; VIEIRA, E. R. Postura viciosa. Revista Proteção, São
Paulo, v. 13, ed. 99, mar. 2000.
IIDA, Itirio. Ergonomia projeto e produção. 3ª ed., São Paulo – SP: Edgar Blücher, 1995
MAIA, Ivana M. O. Avaliação das condições posturais dos trabalhadores na produção de carvão vegetal em
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Engenharia de Produção. UTFPR: Ponta Grossa, 2007.
KENDALL, P. F.; McCREARY E. K.; PROVANCE P. G. Músculos provas e funções. São Paulo: Manole,
1995.
SEREDNICKI, Persio F.; AGNOLETTO, Rafael A.; CATAI, Rodrigo E.; CORDEIRO, Arildo D.;
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PORTAL
EMPRESARIAL.
Movimentação
Manual
de
http://negocios.maiadigital.pt/hst/ergonomia/mmc (Acesso dia: 26/09/2009)
Cargas.
Disponível
em:
14
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métodos de análise ergonômica aplicados às atividades