Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Medicina Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Liliane de Souza Vieira ANÁLISE DE CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO DE HIPERTENSOS DE ALTO E MUITO ALTO RISCO CARDIOVASCULAR ATENDIDOS NO CENTRO HIPERDIA DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, ENTRE 2010-2011. Juiz de Fora 2013 Liliane de Souza Vieira ANÁLISE DE CUSTO E EFETIVIDADE DO TRATAMENTO DE HIPERTENSOS DE ALTO E MUITO ALTO RISCO CARDIOVASCULAR ATENDIDOS NO CENTRO HIPERDIA DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, ENTRE 2010-2011. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, área de concentração: Política, gestão e avaliação do Sistema Único de Saúde, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Alfredo Chaoubah Juiz de Fora 2013 Dedico este trabalho à minha família, que é meu alicerce. Chegar até aqui só foi possível porque vocês sempre estiveram ao meu lado, me apoiando e aguentando meus momentos de tristeza, ansiedade, aflição e, o mais importante: acreditando que eu seria capaz. Compartilho com vocês a felicidade de concluir este trabalho e ter conquistado mais um passo neste longo caminho que é a busca do conhecimento. AGRADECIMENTOS Antes de tudo e de todos, é preciso agradecer Àquele que é a razão da minha vida: Deus, o meu Senhor, que acolheu todas as minhas preces e me trouxe conforto e paz durante todos os momentos. Ao meu esposo, que sempre esteve ao meu lado, que muito contribuiu com seus conhecimentos de informática e, acima de tudo, por sua paciência e compreensão. À minha amada filha, que veio durante este trabalho e só me trouxe alegria. Seu sorriso infantil, inocente e sincero foram as molas propulsoras desta conquista. É por você que busco ser melhor a cada dia. À minha mãe, que sempre me motivou e acreditou em mim, e que, juntamente com minha irmã Elisângela, formou uma dupla inigualável, pronta para me ajudar em todos os momentos. À minha querida amiga Izabella, que sempre esteve disponível, e que generosamente contribuiu para a conclusão deste trabalho fazendo as devidas correções e sugestões e, acima de tudo, sendo meu ombro amigo durante todo o mestrado. Ao meu orientador, Alfredo Chaoubah, que aceitou este desafio. Que me transmitiu conhecimento e tranquilidade durante a condução desta pesquisa, que soube me compreender nos momentos que mais precisei. Ao Prof. Luiz Cláudio e à Prof. Mariângela, que generosamente compartilharam seus conhecimentos apresentando sugestões e críticas que enriqueceram esta pesquisa. Aos professores do mestrado, que me proporcionaram uma base de conhecimento em Saúde Coletiva essencial a este trabalho. À querida secretária do mestrado, Elisângela, que respondeu a todas as minhas dúvidas em tempo recorde. À Drª Arise, colaboradora deste trabalho, que sempre me atendeu prontamente e muito contribuiu com seus conhecimentos médicos. Ao Gil Castor, que se disponibilizou a me ajudar com o banco de dados, tornando este trabalho possível. Ao Leandro, por ter se disponibilizado a me ajudar consultando o preço de medicamentos. Ao Dr. Rogério e Dr. Marcus, do Centro Hiperdia, que autorizaram a realização desta pesquisa. A todas as minhas amigas do Laboratório, em especial a Andréia, Cláudia e Sarah, que suportaram minha ausência no trabalho e escutaram diariamente todas as minhas lamúrias e me encorajaram a chegar até aqui. À minha coordenadora, Lourdes, que me apoiou e permitiu que me dedicasse a este estudo. À Universidade Federal de Juiz de Fora e ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UFJF, por ter cumprido mais uma vez o seu grande papel de formar, mais que pesquisadores, cidadãos dispostos a contribuir com a saúde brasileira. "Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas a perguntas." Luís Fernando Veríssimo RESUMO Introdução: A hipertensão arterial é uma doença crônica altamente prevalente em todo o mundo. É um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e apresenta elevado impacto econômico e social. Embora o impacto econômico da hipertensão arterial seja um tema de grande relevância no âmbito da saúde pública, ainda são escassos os estudos que analisam os custos do tratamento dessa doença, especialmente na Atenção Secundária. Este foi o primeiro estudo realizado em Minas Gerais com o objetivo de analisar os custos médicos diretos e a efetividade do tratamento da hipertensão na saúde pública. Método: O estudo envolveu usuários de alto e muito alto risco cardiovascular acima de 18 anos, exceto gestantes, atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. Os custos médicos diretos foram mensurados ao longo de um ano de acompanhamento. Consideraramse os custos com medicamentos anti-hipertensivos, exames laboratoriais e complementares e com consultas médicas e não médicas. A efetividade do tratamento foi avaliada por meio do percentual de usuários controlados (PA ≤ 130/80 mmHg) e a perspectiva adotada foi a do SUS como órgão comprador de serviços. Resultados: Dos 111 usuários avaliados, 60% eram do sexo feminino e 40% do sexo masculino. A média de idade foi de 59 anos (DP = 11,7; 27-84 anos). O custo direto total foi de R$ 91.487,53, e o custo médio direto total foi de R$ 824,21/usuário/ano, sendo os medicamentos os responsáveis pela maior parcela (R$ 539,51; 65%), seguidos pelos exames (R$ 194,56; 24%) e consultas (R$ 90,67; 11%). A taxa de usuários que alcançaram os níveis pressóricos recomendados para pacientes de alto e muito alto risco cardiovascular foi de 30,3%. Conclusão: Não houve diferença de custo em relação ao sexo, idade e escolaridade, porém, observou-se maior custo com exames entre os usuários brancos e naqueles com comorbidades. O custo com consultas foi mais elevado em usuários que não alcançaram o controle pressórico, e o custo com exames foi maior no grupo de usuários que permaneceram normotensos durante o acompanhamento. As taxas de controle encontradas foram maiores do que as observadas em outros estudos que avaliaram pacientes de alto risco cardiovascular. Usuários com IMC elevado obtiveram menor controle da pressão arterial. Embora a variabilidade metodológica dificulte a comparação entre os estudos analisados, o tratamento proposto pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora sugere viabilidade econômica e potencial para reduzir custos com doenças cardiovasculares. Descritores: Hipertensão arterial. Custo da doença. Atenção Secundária ABSTRACT Introduction: Hypertension is a highly prevalent chronic disease worldwide. It is one of the main risk factors in the development of cardiovascular disease, and has high economic and social impacts. Although its economic impact is a topic of great relevance in the context of public health, studies that analyze the costs of treating this disease are still scarce, especially those at secondary level of care. This was the first research carried out in Minas Gerais State with the aim of analyzing direct medical costs and effectiveness of hypertension treatment in public health. Method: With the exception of pregnant women, this study involved patients above 18 years of age at high and very high cardiovascular risk, who were undergoing treatment at the Centro Hiperdia of Juiz de Fora. Direct medical costs were measured over one year follow-up, considering antihypertensive medications, laboratory and ancillary tests, and medical and non-medical appointments. The effectiveness of the treatment was assessed through the percentage of patients controlled (BP ≤ 130/80 mmHg). We adopted the perspective of the Brazilian Public Health System (SUS) as a purchaser of services. Results: Of the 111 patients evaluated, 60% were female and 40% were male. The average age was 59 years (SD = 11.7; 27-84 years). The total direct cost was R$ 91,487.53, and the average total direct cost was R$ 824.21/patient/year, with medications being responsible for the greater share of that cost (R$ 539.51; 65%), followed by exams (R$ 197.98; 24%) and consultations (R$ 90.67; 11%). The rate of patients who have achieved the recommended blood pressure levels for patients at high and very high risk of cardiovascular disease was 30.3%. Conclusion: There was no difference in cost with respect to the patient’s sex, age and school attendance. However, with regard to examinations, white patients and those with comorbidities demanded higher costs. The cost of medical consultations was higher for those patients who did not achieve blood pressure control, and the cost of examinations was higher in the group who remained normotensive during the followup period. The control rates we found were higher than those reported in other studies that evaluated patients at high risk of cardiovascular disease. Patients with high BMI presented lower blood pressure control. Although the methodological variability among the studies analyzed makes comparisons difficult, the multidisciplinary treatment program adopted by the Centro Hiperdia of Juiz de For a suggests economic viability and potential to reduce costs with cardiovascular disease. Keywords: Hypertension. Cost of the disease. Secondary care 16 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Quadro da classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no consultório (pacientes ≥18 anos) .............................................................. 18 Figura 2: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos na Atenção Primária à Saúde ..................................................................................................................... 26 Figura 3: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos de alto risco na Atenção Secundária à Saúde .................................................................................... 27 Figura 4: Quadro das metas de PA de acordo com as características individuais .... 38 Figura 5: Equação farmacoeconômica básica........................................................... 46 Figura 6: Plano de custo-efetividade ......................................................................... 51 Figura 7: Equação da razão de custo-efetividade incremental .................................. 52 Figura 8: Tipos de custos em uma avaliação econômica .......................................... 53 Figura 9: Quadro das variáveis utilizadas no estudo ................................................. 62 Figura 10: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por faixa etária e sexo . 70 Figura 11: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por escolaridade ......... 71 Figura 12: Gráfico da quantidade de anti-hipertensivos prescritos............................ 72 Figura 13: Gráfico do número de medicamentos por usuário ................................... 73 Figura 14: Gráfico das classes de anti-hipertensivos prescritas por quantidade de comprimidos .............................................................................................................. 73 Figura 15: Gráfico do número de classes de anti-hipertensivos por usuário ............. 74 Figura 16: Gráfico da quantidade de comprimidos e custo por medicamento em um ano. ........................................................................................................................... 77 Figura 17: Quadro com a distribuição dos usuários em grupos de ........................... 83 16 LISTA DE TABELAS Tabela 1 : Classificação e distribuição dos usuários de acordo com IMC, segundo a OMS (2000) ............................................................................................................... 70 Tabela 2: Medicamentos Anti-hipertensivos por classe utilizados pelos usuários do Centro Hiperdia no período de 2010 a 2011 ............................................................. 75 Tabela 3: Média e custo médio dos exames complementares realizados pelos usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011 .................. 78 Tabela 4: Média e custo médio dos exames laboratoriais realizados pelos usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011................................. 78 Tabela 5: Média e custo médio da consulta médica realizada por usuário/ano (20102011) ......................................................................................................................... 79 Tabela 6: Média e custo médio da consulta não médica realizada por usuário/ano . 80 Tabela 7: Custo direto anual total e custo direto anual médio do tratamento da hipertensão dos usuários atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010 à 2011. ........................................................................................................ 81 Tabela 8: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com o sexo dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. ........................................ 81 Tabela 9: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a presença de comorbidades nos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. .......... 82 17 Tabela 10: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a cor da pele dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. ........................................ 82 Tabela 11: Associação entre as variáveis quantitativas (Idade , IMC, custos) e controle da pressão arterial de acordo com a análise de variância ........................... 85 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14 2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................ 17 2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL ................................................................................ 17 2.1.1 Fatores de risco e estratificação ................................................................... 19 2.1.2 Epidemiologia da hipertensão ....................................................................... 21 2.1.3 Hipertensão arterial e suas complicações ................................................... 23 2.1.4 Avaliação clínica e laboratorial do usuário hipertenso ............................... 24 2.1.5 A rede de atenção ao usuário hipertenso no SUS ....................................... 27 2.1.6 Controle e Tratamento .................................................................................... 30 2.1.7 Tratamento não medicamentoso ................................................................... 32 2.1.8 Tratamento farmacológico ............................................................................. 33 2.1.8.1 Esquemas Terapêuticos ............................................................................... 35 2.1.9 Definição de metas ......................................................................................... 37 2.2 CUSTOS DA HIPERTENSÃO ............................................................................ 38 2.3 ECONOMIA DA SAÚDE ..................................................................................... 43 2.3.1 Avaliações Econômicas ................................................................................. 45 2.3.1.1 Análise de custo ............................................................................................ 46 2.3.1.2 Análise de custo-minimização ....................................................................... 47 2.3.1.3 Análise de custo-efetividade ......................................................................... 48 2.3.1.4 Análise de custo-utilidade ............................................................................. 49 2.3.1.5 Análise de custo-benefício ............................................................................ 50 2.3.2 Representação de Comparação de Custo- Efetividade ............................... 50 2.3.3 Categorização dos custos ............................................................................. 52 2.3.4 Desfechos ou consequências da intervenção ............................................. 54 2.3.5 Análise de sensibilidade ................................................................................ 55 2.3.6 Perspectiva ...................................................................................................... 56 2.3.7 Padronização de custos ................................................................................. 58 2.3.8 Fonte de dados ............................................................................................... 58 3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 59 4 OBJETIVOS.......................................................................................................... 60 4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................. 60 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 60 5 MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 61 5.1 DESENHO DO ESTUDO .................................................................................... 61 5.2 FONTE DE DADOS ............................................................................................ 61 5.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO ................................................................................ 63 5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ............................................................................... 63 5.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO .............................................................................. 63 5.6 ANÁLISE DOS CUSTOS .................................................................................... 64 15 5.6.1 Medicamentos ................................................................................................. 64 5.6.2 Consultas médicas e não médicas................................................................ 65 5.6.3 Exames ............................................................................................................ 66 5.7 MEDIDA DA EFETIVIDADE................................................................................ 67 5.8 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ................................................................................ 67 5.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS............................................................................... 68 6 RESULTADOS ..................................................................................................... 69 6.1 PERFIL DA POPULAÇÃO .................................................................................. 69 6.2 PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO ................................................................... 71 6.3 CUSTOS ............................................................................................................. 75 6.3.1 Custos dos Medicamentos............................................................................. 75 6.3.2 Exames ............................................................................................................ 77 6.3.3 Consultas......................................................................................................... 79 6.3.3.1 Consultas médicas ........................................................................................ 79 6.3.3.2 Consultas não-médicas................................................................................. 79 6.3.4 Custo Total por Usuário ................................................................................. 80 6.3.5 Custo com base no perfil dos usuários ........................................................ 81 6.4 EFETIVIDADE .................................................................................................... 83 6.4.1 Efetividade com base no perfil dos usuários ............................................... 84 7 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 86 8 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 98 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101 ANEXO A – TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFJF ....................................................................................................................... 114 14 1 INTRODUÇÃO O processo de transição demográfica que ocorre em todo o mundo, caracterizado por baixas taxas de fecundidade e natalidade, e aumento da expectativa de vida, está acarretando uma elevação na proporção da população idosa. No Brasil, o número de idosos (≥ 60 anos de idade) saltou de 3 milhões, em 1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002, aumento de aproximadamente 500% em quatro décadas (LIMA-COSTA; VERAS, 2003). Em 2010 esse número foi de aproximadamente 21 milhões (11% da população total), e estima-se que em 2025 essa população atinja 32 milhões, o que colocará o país no sexto lugar em número de idosos no mundo (IBGE – Sinopse do Censo Demográfico 2010). O envelhecimento populacional está fortemente associado à transição epidemiológica, responsável pela mudança no perfil de morbimortalidade da população, com predomínio das doenças crônicas não transmissíveis sobre as doenças transmissíveis (KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987; SCHRAMM et al., 2004), e vem provocando expressiva elevação dos recursos despendidos com a saúde (KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987). O avanço das doenças crônicas não transmissíveis também se justifica pela transição nutricional experimentada, que, de acordo com a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN) (BRASIL, 2013), provocou muitas mudanças negativas nos padrões alimentares da população brasileira, como o aumento do consumo de alimentos de origem animal e industrializados, gorduras e açúcares refinados, além da redução do consumo de carboidratos complexos e fibras. Isso contribuiu para o aumento não só de algumas doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e cânceres, mas também da taxa de obesidade e sobrepeso na população brasileira (FILHO, RISSIN, 2003). Doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, são responsáveis por considerável número de mortes prematuras, pela perda de qualidade de vida, incapacidades e afastamento do trabalho, e têm forte impacto 15 econômico para o sistema de saúde, para as famílias e para a sociedade como um todo (BRASIL, 2009). De acordo com o Anuário de Estatístico da Previdência Social (2011) do Ministério da Previdência Social, as doenças cardiovasculares são as principais causas de aposentadorias por invalidez, representando 14,8% de todas as causas deste tipo de aposentadoria. E como principal fator de risco para o desenvolvimento destas doenças destaca-se a hipertensão arterial (BRASIL, 2006b; EKMAN, et al., 2008). Estudo realizado em Recife (PE) revela que as principais doenças crônicas não transmissíveis responsáveis pela concessão de auxílio-doença no período de 2000-2002 foram hipertensão arterial, diabetes mellitus, artroses, câncer de mama e intestino, transtorno de humor e esquizofrenia (MOURA; CARVALHO; SILVA, 2007). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são as principais causas de mortes em todo o mundo (OMS, 2011a). No Brasil, foram responsáveis por 28,6% de todos os óbitos ocorridos em 2010 (BRASIL, 2011). Esse cenário evidencia o grande desafio que o envelhecimento populacional e consequente aumento das doenças crônicas e suas complicações representam para o sistema público de saúde, por exigirem tratamento contínuo e consumirem mais recursos e tecnologias. Num país em que a saúde é considerada um direito de todos e um dever do Estado (BRASIL, 1988), garantida por meio de um sistema universal, integral e equitativo que, contraditoriamente, dispõe de recursos financeiros bastante limitados, esse desafio se torna ainda maior. No Brasil, em 2009, o gasto total em saúde foi de 270 bilhões de reais, o que equivale a 8,5% do PIB no mesmo ano. Deste percentual, o setor público contribui com apenas 4% (CARVALHO, 2009), valor aquém dos 6% que alguns países que também possuem sistemas de saúde universais, como Reino Unido, Inglaterra, Alemanha, Canadá e Espanha, aplicam no setor. Para Ligia Bahia, diretora da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), os recursos limitados em saúde são fruto não apenas da falta de 16 dinheiro em si, mas também da pouca clareza na definição das prioridades nessa área. Embora seja ponto pacífico que utilizar-se apenas de critérios econômicos para se fazerem escolhas em saúde não seja algo moralmente aceito, uma vez que a vida humana não tem preço, esses critérios também precisam ser considerados ao se formularem políticas públicas, estabelecerem protocolos de atendimento e propor um tratamento novo. Mapear os custos e avaliar a efetividade e o impacto de uma intervenção sobre o sistema público de saúde é condição essencial para se predizer se será possível sustentá-la economicamente e, assim, buscar sempre maior eficiência, efetividade e qualidade dos serviços prestados à população. Nesse contexto, as análises econômicas se destacam como ferramentas úteis para a avaliação de custos e benefícios das intervenções em saúde, auxiliando gestores, clínicos e formuladores de políticas com vistas a uma alocação de recursos mais efetiva. Diante do exposto e da necessidade de se tornar a economia da saúde uma aliada no processo de tomada de decisão, o presente estudo visa estimar os custos envolvidos na prestação de um acompanhamento multidisciplinar ao hipertenso de risco cardiovascular alto e muito alto fornecido pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora MG. Este centro, assim como os outros nove espalhados pelo estado de Minas Gerais, é uma iniciativa do governo mineiro com o objetivo de melhorar a qualidade do atendimento aos portadores de hipertensão e diabetes. Conhecer, portanto, seus custos e estimar os benefícios associados a este serviço poderá contribuir para orientar os gestores, clínicos e tomadores de decisão mineiros, e também aqueles dos demais estados brasileiros que tenham a intenção de instituir um serviço semelhante. 17 2 REVISÃO DA LITERATURA Esta seção se destina a apresentar o referencial teórico que fundamenta o estudo realizado. Primeiramente, discutem-se a hipertensão e seus principais aspectos, como conceito, estratificação da doença e dos fatores de risco, epidemiologia, tratamento medicamentoso e não medicamentoso, metas terapêuticas e custos da doença, dentre outros. Em seguida são abordados o acompanhamento e o tratamento do hipertenso no SUS, especialmente no âmbito da Atenção Secundária, onde se enquadram os Centros Hiperdia de Minas Gerais. Na segunda parte do texto destacam-se tópicos relevantes em economia da saúde, como avaliações econômicas e seus diferentes tipos, categorização dos custos, perspectiva do estudo e análise de sensibilidade. 2.1 HIPERTENSÃO ARTERIAL Hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela OMS (2011b) como o bombeamento constante de sangue pelos vasos sanguíneos com força excessiva. Trata-se de uma condição clínica multifatorial, onde os níveis da pressão arterial permanecem elevados, conforme definem as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (DBH) (2010), sendo considerada por muitos autores como o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares (EKMAN; BEUZON-BIENFAIT; JACKSON, 2008; GROSSO et al., 2011). A HAS está associada ao aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, como infarto, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, doença vascular periférica (BROWN; HAYDOCK, 2000), doenças cerebrovasculares (acidentes vasculares encefálicos - AVE), doença renal e retinopatia avançada (VI DBH, 2010). 18 Atualmente, no Brasil, a classificação da pressão arterial (PA) é feita de acordo com as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010), conforme quadro a seguir: Pressão Pressão sistólica diastólica (mmHg) (mmHg) Ótima <120 <80 Normal <130 <85 Limitrofe* 130-139 85-89 Hipertensão estágio 1 140-159 90-99 Hipertensão estágio 2 160-179 100-109 Hipertensão estágio 3 ≥180 ≥110 Hipertensão sistólica isolada ≥140 <90 Classificação Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para a classificação da pressão arterial *Pressão normal-alta ou pré-hipertensão são termos que se equivalem na literatura Figura 1: Quadro da classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no consultório (pacientes ≥18 anos) Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial - 2010 Essa classificação é semelhante à adotada na Europa, conforme publicado no “2007 guidelines for the management of arterial hypertension” (MANCIA et al., 2007). Diferentemente, nos Estados Unidos, de acordo com o VII Relatório do Joint National Committee (JNC) sobre prevenção, detecção, avaliação e tratamento da hipertensão, algumas modificações foram inseridas na classificação da hipertensão. Uma delas é a inclusão de um novo estágio, denominado “pré-hipertensão”, definido como uma pressão arterial sistólica (PAS) entre 120 e 139 mmHg e uma pressão arterial diastólica (PAD) entre 80 e 89 mmHg. Essa nova classificação visa identificar indivíduos anteriormente classificados como “normotensos” e sugerir mudanças no estilo de vida, a fim de reduzir ou prevenir o aumento da pressão arterial. A outra modificação realizada foi a junção dos estágios 2 e 3 em um único estágio, designado como “estágio 2”. Desta forma, hipertensão é subdividida em apenas dois estágios. No estágio 1, os níveis de pressão sistólica são de 140 a 159 mmHg, e a pressão diastólica de 90 a 99 mmHg. No estágio 2, a pressão sistólica 19 está acima de 160 mmHg, e a diastólica acima de 100 mmHg. Portanto, segundo o citado relatório, são considerados normais os indivíduos com a pressão arterial menor que 120/80 mmHg, pré-hipertensos aqueles com níveis de pressão sistólica entre 120 e 139 mmHg e pressão diastólica entre 80 e 89 mmHg, e hipertensos aqueles com níveis de pressão sistólica/diastólica maiores ou iguais a 140/90 mmHg (ESTADOS UNIDOS, 2004). Globalmente, o valor limite que demarca a HAS é pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg. O diagnóstico é feito com base em medidas repetidas em pelo menos três ocasiões diferentes (VI DBH, 2010). A HAS pode se manifestar como sistólica isolada, diastólica ou combinada. A pressão diastólica aumenta até aproximadamente os 50 anos de idade, com tendência a se estabilizar na sexta década, e a sistólica continua a aumentar. Desta forma, a hipertensão diastólica isolada ou combinada (sistólica e diastólica) predomina até cerca dos 50 anos de idade, e a hipertensão sistólica é a forma mais comum entre idosos (ESTADOS UNIDOS, 2004). A hipertensão arterial ainda pode ser classificada como essencial ou secundária. A primeira é assim denominada por não apresentar causa aparente identificável, e corresponde à maioria dos casos. Já a HAS secundária possui fator etiológico bem estabelecido, como, por exemplo, doença parenquimatosa renal, doença renovascular, coartação da aorta, doença endócrina ou neurológica, hipertensão gestacional, dentre outros (BRASIL, 2006 b). 2.1.1 Fatores de risco e estratificação São considerados fatores de risco para hipertensão: idade avançada, sexo e etnia, excesso de peso e obesidade, ingestão excessiva de sal e de álcool, sedentarismo e fatores genéticos que predispõem à doença (VI DBH, 2010), tabagismo e hereditariedade (OMS, 2011b). 20 Idade (homens > 55 e mulheres > 65 anos), tabagismo, dislipidemias (triglicérides ≥ 150 mg/dl, LDL colesterol > 100 mg/dl e HDL < 40 mg/dl), diabetes mellitus e história familiar prematura de doença cardiovascular (homens < 55 anos e mulheres < 65 anos) são considerados fatores de risco cardiovasculares adicionais (VI DBH,2010). O risco cardiovascular pode ser estimado pelo escore de Framingham, desenvolvido por pesquisadores norte-americanos por meio de um estudo longitudinal de base populacional na cidade de mesmo nome. Esse modelo permite classificar os usuários em baixo, moderado, alto ou muito alto risco de ocorrência de evento cardiovascular (morte coronariana, infarto do miocárdio, insuficiência coronariana, angina, acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico e hemorrágico, ataque isquêmico transitório, doença arterial periférica e insuficiência cardíaca (BRASIL, 2012). Desta forma, os usuários nos estágios 1,2 ou 3 da hipertensão podem ser estratificados em 4 grupos, de acordo com a presença de fatores de risco cardiovascular, lesões em órgãos-alvo (rins, cérebro e coração) e condições clínicas associadas, como doença cardíaca, renal, cerebrovascular ou arterial periférica, ou retinopatia avançada (VI DBH, 2010): Grupo de risco baixo: usuários com hipertensão estágio 1 sem fator de risco cardiovascular adicional. Grupo de risco moderado: usuários hipertensos estágio1 com um ou dois fatores de risco adicionais, e hipertensos estágio 2 com ou sem fatores de risco cardiovascular. Grupo de risco alto: usuários hipertensos estágio 1, 2 ou 3 com três ou mais fatores de risco, ou no estágio 3 sem fatores de risco. Grupo de risco muito alto: usuários com hipertensão estágio 1 e 2 com condições clínicas associadas; estágio 3 com mais de um fator de risco, lesão em órgão-alvo, síndrome metabólica, diabetes mellitus ou condições clínicas associadas. Essa estratificação possui importante valor prognóstico, pois avalia o risco de um evento cardiovascular grave para os 10 anos subsequentes. No grupo de baixo 21 risco, essa probabilidade é menor que 15%, no grupo de risco moderado é de 15% a 20%, no grupo de alto risco é de 20% a 30% e, por último, no grupo de muito alto risco a probabilidade é de 30% (MINAS GERAIS, 2007). Esse modelo apresenta validade científica e é amplamente utilizado em todo o mundo, inclusive no Brasil. Atualmente, a nova versão da linha guia que estabelece as diretrizes para a atenção ao hipertenso e diabético adotada em Minas Gerais, embora ainda não publicada, recomenda o uso do escore de Framingham revisado para estimar o risco cardiovascular (MINAS GERAIS, 2011). Esse modelo apresenta um algoritmo gênero-específico baseado em múltiplos fatores de risco, tais como idade, HDL, colesterol total, PAS tratada e não tratada, tabagismo e diabetes, que podem ser facilmente verificados em consultas médicas da Atenção Primária, a fim de se identificarem os usuários de alto risco para qualquer evento cardiovascular (D’AGOSTINO, 2008). 2.1.2 Epidemiologia da hipertensão As doenças crônicas não transmissíveis são as principais causas de morte no mundo. Em 2008, foram responsáveis por 36 milhões de óbitos. As doenças cardiovasculares responderam por 48% das mortes, seguidas pelo câncer (21%), doenças respiratórias crônicas (12%) e diabetes (3%). Dentre esses óbitos, 9 milhões ocorreram em indivíduos com menos de 60 anos de idade, e poderiam ter sido evitados, uma vez que os principais fatores de risco envolvidos são comuns à maioria das doenças crônicas e preveníveis, como hipertensão arterial, tabagismo, aumento da glicose, inatividade física, sobrepeso ou obesidade (OMS, 2011a). Nos EUA, Reino Unido e França, assim como na maioria dos países de alta renda, mais de 80% das mortes são provocadas por doenças crônicas não transmissíveis (OMS, 2011a). O quadro brasileiro não é diferente. Em 2008, as doenças crônicas não transmissíveis foram responsáveis por 74% de todas as mortes, com predomínio das 22 doenças cardiovasculares (33%), seguidas pelo câncer (16%), doenças respiratórias (6%) e diabetes (5%). Doenças maternas e infantis, infecto-parasitárias e condições nutricionais responderam por 14% dos óbitos, e 12% foram atribuídos a causas externas (OMS, 2011a). O aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis, portanto, evidencia a transição epidemiológica em curso e gera um quadro bastante diferente daquele da década de 1930, quando as doenças infecciosas respondiam por 46% de todas as mortes ocorridas no país (SCHMIDT, 2011). Dentre as doenças crônicas não transmissíveis destaca-se a hipertensão, considerada um grande desafio em saúde pública em todo o mundo, especialmente por se tratar de um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares (BRASIL, 2006b). Sua prevalência mundial foi de 26,4% na população adulta no ano 2000, e estima-se que em 2025 alcance o valor de 29,2% (KEARNEY et al., 2005). Entre os idosos essa prevalência é ainda maior, alcançando 50% das pessoas na faixa etária de 60-69 anos e 75% daquelas com idade acima de 70 anos (ESTADOS UNIDOS, 2004). Um estudo transversal de base populacional realizado com indivíduos acima de 65 anos na China, Índia e em países da América Latina (Cuba, República Dominicana, Porto Rico, Venezuela, Peru e México) demonstrou que a prevalência em áreas urbanas variou entre 52,6% e 79,8%, no Peru e Porto Rico, respectivamente (PRINCE et al., 2011). No Brasil, considerando-se o valor de PA ≥ 140/90 mmHg, a prevalência da hipertensão varia entre 22% e 44%, com média de 32,5%, sendo um pouco mais elevada no gênero masculino (35,8%) do que no feminino (30%) (VI DBH, 2010). Passos, Assis e Barreto (2006) apresentaram, como resultado de uma revisão de treze estudos de base populacional, uma variação da prevalência de hipertensão em adultos entre 19% e 44%, com evidente tendência de aumento com o acréscimo da idade. Ainda de acordo com esses autores, a prevalência é semelhante à relatada em países da América Latina, embora varie conforme a população estudada. Raros são os estudos que descrevem a prevalência da hipertensão por estágio da doença ou por grupo de risco cardiovascular. Neste sentido, podemos 23 citar um estudo brasileiro que descreveu as seguintes taxas de prevalência da hipertensão segundo os estágios da doença: 53,3% para o estágio 1, 35,7% para o estágio 2 e 11% para o estágio 3 (OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2003). Em Minas Gerais, estima-se que a prevalência da hipertensão na população acima de 20 anos seja de 20%, e que, deste total, 40% sejam portadores de baixo risco, 35% de risco moderado e 25% de alto e muito alto risco cardiovascular (MINAS GERAIS, 2006). De acordo com esses parâmetros, a população estimada de hipertensos em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 2011, foi de 74.760 indivíduos. 2.1.3 Hipertensão arterial e suas complicações A elevação da pressão arterial (PA), quando não tratada, é responsável por causar lesões em órgãos-alvo, como artérias, coração, rins e sistema nervoso central, resultando no desenvolvimento ou agravamento de doenças cardiovasculares e renais (BRASIL, 2006b). A HAS está fortemente associada com cerca de 80% dos casos de AVE e 60% dos casos de doença isquêmica do coração (BRASIL, 2006a). Em termos de mortalidade, é responsável por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral, 25% das mortes por doença arterial coronariana e, se associada ao diabetes, por 50% dos casos de insuficiência renal terminal (BRASIL, 2006b). Está bem estabelecido que níveis elevados de pressão arterial aumentam a incidência de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular encefálico (AVE) e insuficiência renal (FUCHS; ZEN; MELCHIOR, 2000). Importante meta-análise, que avaliou 61 estudos de coorte contemplando 1 milhão de indivíduos sob risco, confirmou que a associação entre pressão arterial e risco de eventos cardiovasculares é exponencial e contínua a partir da PAS de 115 mmHg e PAD de 75 mmHg. O estudo ainda mostrou que, na faixa etária de 40-69 anos, um aumento de 20 mmHg na PAS ou de 10 mmHg na PAD está associado 24 com o dobro de chances de ocorrência de acidente vascular cerebral e mortalidade por doença isquêmica do coração (LEWINGTON et al., 2002). Em usuários em estágios iniciais da doença renal crônica foi observada uma relação direta entre a PA e a mortalidade cardiovascular, independentemente de outros fatores de risco (BORTOLLO, 2008), evidenciando que o controle da PA nos estágios iniciais da doença renal crônica (DRC) possui grande potencial preventivo da progressão da lesão renal (VI DBH, 2010). A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é considerada como resposta à sobrecarga de pressão e aumento do “stress” da parede do ventrículo, a fim de manter uma função cardíaca normal. E quando a hipertensão é acompanhada de HVE, o risco de mortalidade e morbidade cardiovascular é ainda maior (NOGUEIRA, J, 1999). 2.1.4 Avaliação clínica e laboratorial do usuário hipertenso A avaliação do risco cardiovascular, cerebrovascular e renal é considerada mais importante do que o diagnóstico isolado da hipertensão ou diabetes (BRASIL, 2006a). Sendo assim, os principais objetivos da avaliação inicial de um usuário hipertenso são a confirmação da elevação persistente da pressão arterial, a identificação dos fatores de risco, sinais sugestivos de hipertensão secundária, lesões de órgão-alvo e doenças associadas (CORREA, 2005), além da obtenção de informações sobre a condição socioeconômica, estilo de vida e medicamentos utilizados (VI DBH, 2010). Para que todos esses aspectos sejam contemplados, o tempo mínimo recomendado para a avaliação inicial é de 30 minutos (VI DBH, 2010). Também são recomendados pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) a medida da frequência cardíaca, cuja elevação está associada a maior risco cardiovascular, a circunferência da cintura, para avaliação da obesidade visceral, e o 25 exame de fundo de olho, principalmente em hipertensos estágio 3 com diabetes ou lesão em órgão-alvo. Na avaliação laboratorial inicial de todos os usuários hipertensos, os exames recomendados são urinálise, dosagem de potássio plasmático, creatinina, glicemia de jejum, colesterol total e HDL e triglicérides, ácido úrico plasmático e eletrocardiograma convencional. Exames complementares, como radiografia de tórax, ecocardiograma, microalbuminúria, ultrassom de carótida, teste ergométrico e hemoglobina glicada, entre outros, devem ser solicitados para usuários com indícios de doença cardiovascular ou outras doenças associadas, para aqueles com dois ou mais fatores de risco e para usuários acima de 40 anos com diabetes (VI DBH, 2010). De acordo com o VII Relatório do JNC (ESTADOS UNIDOS, 2004), usuários no estágio 2 da doença ou com comorbidades, como insuficiência cardíaca ou diabetes, necessitam de mais consultas e exames laboratoriais para controle da pressão arterial do que os hipertensos controlados, os quais, por sua vez, podem realizar consultas mais espaçadas, por exemplo, a cada 3 ou 6 meses. A Secretaria Estadual de Minas Gerais recomenda os seguintes parâmetros para acompanhamento dos hipertensos nas Unidades de Atenção Primária e Secundária: Procedimento Estratificação dos portadores por risco cardiovascular global Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco Consulta médica 2 consultas / ano 3 consultas /ano 3 consultas /ano Consulta de 2 consultas / ano 4 consultas / ano 2 consultas / ano Atividade de Grupo 4 atividades / ano 4 atividades / ano 4 atividades / ano Visita domiciliar pelo 12 visitas / ano 12 visitas / ano 12 visitas / ano ECG 1 a cada 3 anos 1 / ano 1 / ano Fundoscopia 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano enfermagem ACS* Raio X de tórax 1 / ano (continua) 26 Exames Laboratoriais Baixo Risco Moderado Risco Alto Risco 1 a cada 3 anos 1 a cada 2 anos 1 / ano Creatinina 1 / ano 1 / ano 1 / ano Potássio 1 / ano 1 / ano 1 / ano Colesterol Total 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano Colesterol Frações 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano Triglicérides 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano 1 / ano Glicemia de jejum Urina de rotina Microalbuminúria Hemoglobina ou 1 / ano 1 a cada 2 anos 1 / ano 1 / ano hematócrito Figura 2: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos na Atenção Primária à Saúde (conclusão) Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais - Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes, 2010. *ACS= Agente comunitário de saúde Consultas Consulta de Cardiologia Quantidade 3 consultas / ano Exames MAPA Quantidade 1 a cada 2 anos (Monitoramento Ambulatorial da Pressão Arterial) Consulta de Oftalmologia 1 consulta a cada 2 anos HOLTER 1 a cada 4 anos Consulta de Nefrologia 3 consultas / ano para Eletrocardiograma 2 por ano 3,2% de todos os HAS atendidos na APS Consulta de Angiologia 1 consulta a cada 2 anos Teste de Esforço 1 a cada 2 anos Consulta de Enfermagem 2 consultas / ano Retinografia sem 1 a cada 2 anos contraste Avaliação do pé-diabético 1 avaliação / ano Retinografia com 1 a cada 5 anos contraste Laserterapia Consulta de Nutrição 2 consultas / ano para 75% dos usuários consultados pela Cardiologia (Continua) 27 Consultas Atendimento de Psicologia Quantidade Exames Quantidade 4 consultas / ano para 25% dos usuários consultados pela Cardiologia Assistência Social 1 consulta / ano para 15% dos usuários consultados pela Cardiologia Figura 3: Quadro do Atendimento Programado aos Hipertensos de alto risco na Atenção Secundária à Saúde (conclusão) Fonte: Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais - Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes, 2010. 2.1.5 A rede de atenção ao usuário hipertenso no SUS Em 2001, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde, sociedades científicas e associações de portadores de hipertensão arterial (HAS) e diabetes mellitus (DM), o Ministério da Saúde criou o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus, com o intuito de reorganizar a rede de saúde para proporcionar aos usuários melhor atendimento, contínuo e sistemático, e reduzir a morbimortalidade por estas doenças, com foco na prevenção, diagnóstico precoce e vinculação dos usuários à rede de assistência (BRASIL, 2001). O plano consistiu em quatro etapas: 1) Capacitação de profissionais de saúde da Atenção Primária; 2) Campanha de informação e identificação de casos suspeitos de HAS e DM e promoção de hábitos saudáveis; 3) Confirmação diagnóstica e início da terapêutica; 4) Operacionalização geral do plano (BRASIL, 2001). De acordo com esta nova organização, a porta de entrada dos usuários portadores destas patologias é a Atenção Primária, e estes somente serão encaminhados para o atendimento secundário e terciário quando necessário. 28 São consideradas como critérios para encaminhamento de hipertensos para a Atenção Secundária as seguintes condições clínicas: insuficiência cardíaca crônica, insuficiência renal crônica, angina no peito, HAS e DM secundárias, HAS resistente ou grave, HAS ou DM em gestantes, crianças ou adolescentes, AVE ou infarto agudo do miocárdio (IAM) prévios, dislipidemia de difícil controle, edema agudo de pulmão, complicações oculares, lesões vasculares de extremidades e doença aneurismática da aorta (BRASIL, 2006a). Em Minas Gerais, a estratégia adotada para a implementação do plano foi definida pela Resolução SES Nº 2.606, de dezembro de 2010, com a instituição do programa Hiperdia Minas, que visa estruturar a rede de atenção à saúde dos portadores de hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e doença renal crônica através do sistema regionalizado e integrado de serviços de saúde. São objetivos do programa: estimular a prevenção, melhorar a qualidade de vida dos usuários e reduzir a morbimortalidade pelas doenças referidas, além de qualificar os profissionais de saúde da rede pública para que ofereçam atendimento integral aos usuários portadores destas doenças (MINAS GERAIS, 2010). Ainda de acordo com essa resolução, a rede de atenção será estruturada por serviços de Atenção Primária, Secundária e Terciária à saúde, além de sistemas de apoio e logísticos. Na Atenção Secundária estão os serviços que demandam profissionais especializados e tecnologias de diagnóstico e terapêutica para tratamento dos usuários. Destacam-se aí os dez centros Hiperdia criados pelo governo de Minas Gerais entre 2009 e 2012, localizados em municípios polos de microrregiões (Brasília de Minas, Itabira, Itabirito, Janaúba, Jequitinhonha, Juiz de Fora, Patrocínio, Santa Luzia, Santo Antônio do Monte e Viçosa). Os centros Hiperdia oferecem uma assistência multidisciplinar aos usuários hipertensos de alto ou muito alto risco cardiovascular e àqueles com HAS resistente ou suspeita de HAS secundária, encaminhados pela Atenção Primária à saúde (APS). Após avaliação do usuário hipertenso e realização de exames complementares, o mesmo retorna à Atenção Primária com um plano de cuidado individualizado, interdisciplinar e compartilhado com a APS (ALVES JÚNIOR, 29 2011a). Desta forma, os centros Hiperdia colaboram para o desenvolvimento de uma Atenção Primária mais eficaz e resolutiva, capaz de fornecer um atendimento de qualidade para os portadores de diabetes e hipertensão. De acordo com um estudo feito pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais, esses centros, exceto o de Santa Luzia, inaugurado após o estudo, cobrem 12 das 76 microrregiões sanitárias, abrangendo uma população de 2,6 milhões de mineiros (13,61% da população total). No período de abril de 2010 a junho de 2011, o estudo avaliou o Centro Hiperdia da cidade de Santo Antônio do Monte e um centro de especialidades médicas (CEM) tradicional que, ao contrário do primeiro, não possui sistema de contrarreferência adequado nem equipe multidisciplinar. Os resultados apontaram que, após 3 interconsultas programadas no Centro Hiperdia de Santo Antônio do Monte, 87% dos usuários hipertensos tiveram redução na PA a níveis ótimos, e 71% dos diabéticos apresentaram redução na hemoglobina glicada. Outra importante conclusão foi que, através das internações e amputações evitadas pelo Serviço de Diabetologia do Centro Hiperdia, gastos da ordem de R$178.406,68 foram evitados, gerando uma economia maior do que o recurso investido pela Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais nesse serviço, da ordem de R$145.570,36 (ALVES JÚNIOR, 2011a). Embora o objetivo do estudo fosse comparar o CEM com os Centros Hiperdia, isso não foi possível devido à falta de dados no CEM para avaliar a redução da PA e da hemoglobina glicada (ALVES JUNIOR, 2011b). Em Juiz de Fora, o Centro Hiperdia foi inaugurado em maio de 2010, por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora e a Fundação Instituto Mineiro de Estudos e Pesquisas em Nefrologia (IMEPEN). Diferentemente dos demais centros, que atendem apenas o município-polo e sua microrregião, o Centro Hiperdia de Juiz de Fora atende usuários das microrregiões de Juiz de Fora, Lima Duarte e Bom Jardim de Minas, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Bicas, num total de 37 municípios. Dispõe de uma equipe multiprofissional composta por angiologistas, endocrinologistas, cardiologistas, nefrologistas, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, dentistas, farmacêutico, educadores físicos e assistentes sociais. Também são oferecidos exames como ecocardiografia com dopller (ECO), 30 MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), Holter de frequência, teste de esforço, eletrocardiograma e ITB (Índice Tornozelo Braquial) (FUNDAÇÃO IMEPEN, 2012). No município de Juiz de Fora existe ainda outro serviço de Atenção Secundária, denominado Serviço de Controle de Hipertensão, Diabetes e Obesidade (SCHDO), que recebe usuários com os mesmos critérios do Centro Hiperdia. 2.1.6 Controle e Tratamento O controle da hipertensão arterial é de extrema importância para a saúde pública, visto que altos níveis pressóricos estão diretamente relacionados à aterosclerose, doença isquêmica do coração, morte súbita e mortalidade geral (JOFFRES et al.,1992). A detecção precoce, tratamento e controle da HAS são, portanto, importantes estratégias para a prevenção primária das doenças cardiovasculares. O tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível, especialmente em usuários de alto ou muito alto risco cardiovascular, a fim de se obterem as maiores vantagens em termos de expectativa de vida (MOREIRA, 2008). Os principais objetivos do tratamento são: melhorar a qualidade de vida dos hipertensos, prevenir as complicações relacionadas aos altos níveis de PA, tratar as comorbidades (MINAS GERAIS, 2007) e reduzir a morbimortalidade associada à doença (IRMAK; DUZOZ; BOZYER, 2011). Segundo Jönsson, Hansson e Stalhammar (2003), a escolha do valor limite para se iniciar a intervenção, a definição dos valores ótimos dos níveis pressóricos a serem alcançados e a escolha do anti-hipertensivo a ser ministrado são as três principais questões que devem ser consideradas no gerenciamento da hipertensão. Apesar dos avanços ocorridos na terapia medicamentosa e de seu reconhecido benefício, a taxa mundial de usuários controlados ainda é baixa. Nos EUA, segundo o Center for Disease Control (CDC), dos 48 milhões de usuários que 31 recebem tratamento farmacológico para hipertensão, apenas 46% têm sua condição controlada (PA <140/90mmHg) (CDC, 2011). Na Galícia, Espanha, Perez-Fernandez e colaboradores (2007) descrevem que apenas 36% dos usuários em tratamento estão controlados. No Peru, a taxa de usuários controlados subiu de 46,7% para 73,3% após um programa de educação com foco nos fatores de risco, desenvolvido por enfermeiros (IRMAK; DUZOZ; BOZYER, 2011). Prince e colaboradores (2011) estudaram a prevalência, conhecimento, tratamento e controle da pressão arterial em usuários acima de 65 anos de idade em oito áreas urbanas e quatro áreas rurais na América Latina, Índia e China, e encontraram diferentes taxas de controle (PA<140/90mmHg). Em Porto Rico, 58% dos hipertensos estavam controlados. No Peru, em área urbana a taxa foi 71% e na área rural 84%. Em outras cidades latino-americanas e em uma área urbana da China, os níveis de controle variaram de 22% a 39%. Na índia, a taxa de controle foi bastante baixa, apenas 12% na área urbana e 9% na área rural, assim como na área rural da China, com apenas 2% de hipertensos controlados. No Brasil, as taxas de controle descritas nos estudos sofrem grandes variações. Por exemplo, um estudo realizado com funcionários da Universidade do Rio de Janeiro apresentou taxa de controle de aproximadamente 60%, resultado contrastante com a maioria dos estudos encontrados na literatura. Isso poderia ser justificado por se tratar de uma população que também apresenta maiores taxas de reconhecimento e tratamento da doença, 80% e 68% respectivamente (NOGUEIRA D et al., 2010). Já um estudo realizado por Gus e colaboradores (2004), no Rio Grande do Sul, apontou que apenas 10,4% do total de hipertensos apresentavam-se controlados. Em São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto, Moreira (2008) encontrou uma taxa de controle equivalente a 52,9% entre os usuários tratados. Outro estudo transversal realizado no município de Cianorte, Paraná, com usuários entre 20-69 anos de idade, encontrou uma taxa de controle (PA< 140/90mmHg) de 20,9% entre os hipertensos sob tratamento (OLIVEIRA, NOGUEIRA, 2003). 32 Dentre os fatores que contribuem para a pequena taxa de controle, destacamse a baixa adesão ao tratamento e a escolha inadequada ou dose insuficiente dos anti-hipertensivos (EKMAN; BEUZON-BIENFAIT; JACKSON, 2008). A falta de adesão ao tratamento está ligada ao surgimento de complicações, redução da qualidade de vida dos usuários e aumento da resistência aos fármacos, além do desperdício de recursos financeiros públicos (OLIVEIRA et al., 2010). Segundo estimativa da OMS (2003), a taxa de não adesão ao tratamento prescrito é de 50 a 70%. 2.1.7 Tratamento não medicamentoso O tratamento não medicamentoso consiste em mudanças no estilo de vida, tais como perda de peso, incentivo à atividade física, alimentação saudável (BRASIL, 2006b; ESTADOS UNIDOS, 2004), abandono do tabagismo, moderação no consumo de álcool e de sal, controle do estresse e dieta própria para hipertensos (frutas, verduras, alimentos integrais, leite desnatado e derivados, alimentos pobres em gorduras saturadas e colesterol e rico em fibras, cálcio, potássio e magnésio) (ESTADOS UNIDOS, 2004). Portanto, o tratamento não medicamentoso é fundamental para a prevenção da HAS e controle da PA dos usuários hipertensos, e a adoção de um estilo de vida saudável é recomendada para todos os usuários hipertensos, seja para aqueles com baixo risco cardiovascular ou para os que apresentam pressão arterial limítrofe. Após os primeiros seis meses de tratamento não medicamentoso o usuário deve ser reavaliado para monitorar o controle da PA. Em usuários com risco médio, alto ou muito alto o tratamento precisa ser combinado (medicamentoso e não medicamentoso), a fim de se alcançar a meta preconizada o mais precocemente possível, com redução do impacto causado pela elevação da PA, proteção dos órgãos-alvo e a diminuição da progressão do processo aterosclerótico (VI DBH, 2010). 33 2.1.8 Tratamento farmacológico Vários ensaios clínicos têm demonstrado os benefícios do tratamento medicamentoso sobre a diminuição média de 35% a 40% na incidência de acidentes vasculares cerebrais, redução média de 20% a 25% de infarto do miocárdio e redução de mais de 50% na ocorrência de insuficiência cardíaca. Estes benefícios parecem ser independentes da classe do fármaco utilizado (NEAL; MAC MAHON; CHAPMAN, 2000). As classes de anti-hipertensivos disponíveis para uso clínico no Brasil são: diuréticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina I e inibidores diretos da renina (VI DBH, 2010). De acordo com as VI DBH (2010), a escolha do medicamento deve considerar os seguintes fatores: Eficácia via oral; Posologia que permita o menor número de doses diárias e que possa ser iniciada com as menores doses efetivas, permitindo aumento gradativo quando necessário; Não ser manipulado, por falta de evidências de eficácia, controle de qualidade, bioequivalência e interação química entre os compostos; Segurança e tolerabilidade; Capacidade de ser administrado em associação, para usuários nos estágios 2 e 3 da hipertensão e para aqueles com alto ou muito alto risco cardiovascular; Eficácia clínica comprovada por meio de ensaios clínicos, sendo capaz de reduzir a morbimortalidade cardiovascular associada à HAS. Atendendo aos requisitos listados, qualquer medicamento anti-hipertensivo comercialmente disponível no Brasil, salvo as indicações e contraindicações específicas, pode ser empregado no tratamento da hipertensão (VI DBH, 2010). 34 Em relação à eficácia clínica, diversos ensaios clínicos foram encontrados na literatura, dentre eles o VALUE que revelou significativa redução na incidência de insuficiência cardíaca no grupo tratado com o anti-hipertensivo bloqueador do receptor da angiotensina I (valsartana), quando comparado ao grupo tratado com bloqueadores dos canais de cálcio (anlodipino) (JULIUS et al., 2006). Por outro lado, o ASCOT (Ensaio Anglo-Escandinavo sobre Eventos Cardíacos), ensaio clínico randomizado e multicêntrico realizado com usuários da Dinamarca, Finlândia, Suécia, Reino Unido, Irlanda e Noruega, demonstrou que esquemas terapêuticos baseados em bloqueadores dos canais de cálcio (anlodipino associado a perindopril) são capazes de reduzir significativamente o número de acidentes vasculares fatais e não fatais (23%), a mortalidade geral (11%) e o total de eventos cardiovasculares (16%), quando comparados ao regime baseado em betabloqueadores (atenolol associado à bendroflumetiazida). Ainda segundo este estudo, a associação de atorvastatina, um hipocolesterolêmico, ao tratamento anti-hipertensivo baseado em anlodipino provocou significativa redução (53%) na ocorrência de eventos cardiovasculares ao ser comparado ao não uso da atorvastatina (DAHLÖF et al., 2005). Porém, outro ensaio clínico sobre tratamento anti-hipertensivo e hipolipemiante para prevenir o infarto do miocárdio, denominado ALLHAT, ao comparar anlodipino ou lisinopril com clortalidona, não encontrou diferenças significativas favoráveis ao primeiro esquema. Além disso, a clortalidona foi mais efetiva na redução da incidência de insuficiência cardíaca (HEIDENREICH et al., 2008). Ainda, de acordo com o ensaio LIFE, o medicamento losartana (bloqueador do receptor de angiotensina I) possui efeito significativamente preventivo sobre a morbimortalidade cardiovascular, quando comparado ao betabloqueador atenolol (DAHLÖF et al., 2002). Diante das diversidades entre os ensaios clínicos, percebemos que a escolha do anti-hipertensivo se torna uma tarefa bastante complexa e diretamente relacionada ao objetivo do tratamento, comorbidades, indicações e contraindicações de cada usuário. A decisão terapêutica deve levar em consideração a presença de fatores de risco, de lesão em órgão-alvo e de doença cardiovascular estabelecida, e não somente os níveis de PA (VI DBH, 2010). Também é preciso avaliar os efeitos 35 adversos, contraindicação e custo do medicamento (LINJER et al., 2005), uma vez que o usuário pode abandonar o tratamento por diversos motivos, como, por exemplo, problemas financeiros ou falta de informação sobre a importância da continuidade do mesmo (BRASIL, 2006b). Nesse contexto, estudos de custo-efetividade se revelam importantes ferramentas para auxiliar na escolha terapêutica, pois muitas vezes a eficácia de novos tratamentos descrita em ensaios clínicos pode não ser superior à dos tratamentos já empregados e ter um custo mais elevado. Isto é o que aponta o estudo de custo-efetividade sobre clortalidona, anlodipino e lisinopril como drogas de primeira escolha para o tratamento da hipertensão realizado por Heindenreinch e colaboradores (2008), ao demonstrar que, se 10% dos 30 milhões de hipertensos dos Estados Unidos tivessem sido tratados inicialmente com clortalidona, ao invés de anlodipino e lisinopril, como recomendam alguns ensaios clínicos, teriam sido economizados 6,4 bilhões de dólares nos seis primeiros meses, sem causar prejuízo na efetividade do tratamento. Pesquisadores brasileiros também defendem o uso dos diuréticos, particularmente a clortalidona, que, segundo eles, são tão eficazes quanto os novos agentes anti-hipertensivos. Além de bem tolerados, apresentam baixo custo, e seu principal efeito adverso, a hipocalemia, pode ser facilmente contornado com a associação de diuréticos poupadores de potássio, como amilorida. Apesar disso, observa-se baixa prescrição dos diuréticos, em relação aos bloqueadores dos receptores de angiotensina (FUCHS et al., 2011). 2.1.8.1 Esquemas Terapêuticos A abordagem terapêutica da HAS deve ser alvo de constantes reavaliações, a fim de se garantir o alcance das metas preconizadas. Para o controle farmacológico da hipertensão são consideradas a monoterapia ou a terapia combinada. 36 Geralmente, a monoterapia é indicada como terapia inicial para hipertensos no estágio 1 e com risco cardiovascular baixo ou moderado. Porém, se a redução da pressão arterial para valores menores que 140/90 mmHg não for atingida, mesmo com reajuste da dose, a associação de medicamentos deve ser considerada (VI DBH, 2010). Ensaios clínicos demonstraram que os diuréticos possuem efeito protetor semelhante às demais classes de anti-hipertensivos com relação às doenças cardiovasculares, além de apresentarem boa tolerabilidade. Por isso, o sétimo relatório do JNC (2004) recomenda a terapia inicial com diuréticos tiazídicos para todos os hipertensos, seja em monoterapia ou em combinação com outras classes de anti-hipertensivos (bloqueadores dos receptores de angiotensina, inibidores da enzima conversora de angiotensina, inibidores dos canais de cálcio) que também possuem eficácia clínica comprovada por ensaios clínicos. A terapia anti-hipertensiva combinada é indicada em aproximadamente 2/3 dos casos, pois, na maioria das vezes, a monoterapia não é suficiente para reduzir a PA aos níveis desejados (VI DBH, 2010). Deste modo, a adição de uma segunda droga, de classe diferente, deveria ser iniciada (ESTADOS UNIDOS, 2004). Geralmente, a maioria dos usuários hipertensos, especialmente os de alto risco, diabéticos ou com doença renal, necessitam de terapia anti-hipertensiva combinada com pelo menos dois fármacos diferentes, para alcançar a meta de níveis pressóricos desejada (FOGARI et al., 2011). No caso dos usuários nos estágios 2 e 3, a terapia inicial poderá ser feita com duas drogas anti-hipertensivas, seja em prescrições separadas ou em combinações de dose fixa, pois a terapia combinada aumenta a probabilidade de se alcançarem as metas mais rapidamente, ao provocar maiores reduções na PA em doses menores, diminuir os efeitos adversos e proporcionar maior adesão ao tratamento (LAW et al., 2003; SICA, 2002). Apesar de não existir uma combinação ótima de anti-hipertensivos, as diretrizes norte-americanas para hipertensão recomendam a inclusão de diuréticos tiazídicos (ESTADOS UNIDOS, 2004). Em alguns casos, quando existem outras comorbidades, algumas classes de anti-hipertensivos são indicadas, com base em 37 dados científicos sobre sua eficácia em termos de redução da morbimortalidade para determinado grupo de usuários. Por exemplo, para usuários com doença renal crônica recomenda-se o uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e antagonistas da aldosterona (VI DBH, 2010). Um estudo que avaliou os principais ensaios clínicos envolvendo o efeito da terapia medicamentosa em usuários hipertensos de alto risco cardiovascular global demonstrou que os IECA, ou antagonistas dos receptores de angiotensina, associados ou não a bloqueadores dos canais de cálcio, são boas alternativas de tratamento, capazes de reduzir eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e mortes por doenças cardiovasculares (TSAI, 2011). No Brasil, como medicação padrão para o tratamento da hipertensão arterial o Ministério da Saúde adotou captopril 25mg, hidroclorotiazida 25mg e propanolol 40mg, medicamentos considerados essenciais pela OMS e com eficácia e segurança comprovadas cientificamente. Esses medicamentos são disponibilizados em toda a rede pública de saúde (BRASIL, 2011). 2.1.9 Definição de metas As metas de PA preconizadas pelas VI DBH (2010) estão demonstradas na Figura 4: 38 Categoria Considerar Hipertensos estágios 1 e 2 com risco cardiovascular baixo e médio 140/90mmHg Hipertensos e comportamento limítrofe com risco cardiovascular alto e muito alto, ou com 3 ou mais fatores de risco, DM, SM ou LOA 130/80mmHg Hipertensos com insuficiência renal com proteinúria >1,0 g/l DM- Diabetes melito;SM-Síndrome metabólica; LOA- lesões em órgão alvo Figura 4: Quadro das metas de PA de acordo com as características individuais Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010. De acordo com Hansson e colaboradores (1998), a redução da PA para valores menores que 140/90 mmHg está associada com a redução de eventos cardiovasculares. Estudos demonstram que uma redução de 4 mmHg, em um ano, é capaz de reduzir em 35% a 42% a incidência de AVE (BRASIL, 2001). Em usuários hipertensos com alto e muito alto risco cardiovascular, ou com três ou mais fatores de risco, em diabéticos ou naqueles com doença renal, a meta a ser alcançada é de PA menor do que 130/80 mmHg, segundo a Associação Americana de Diabetes (2010). Portanto, para o grupo com o qual se trabalhou neste estudo, a meta a ser alcançada é de níveis pressóricos menores ou iguais a 130/80 mmHg. 2.2 CUSTOS DA HIPERTENSÃO A HAS descontrolada provoca significativo ônus social e econômico ao setor saúde, refletindo sobre a seguridade social e sobre a população (LESSA, 2006). Esse impacto está ligado à sua alta prevalência, necessidade de tratamento contínuo (AMBROSIONI, 2001) e suas complicações. 39 A HAS é considerada uma doença cara de se tratar (BERNARD; TOWNSEN; SYLVESTRI, 1998). É também uma das razões mais comuns de visitas médicas, representando cerca de 20% a 40% de todas as consultas médicas (AMBROSIONI, 2001). Nos Estados Unidos, em 2003, foi estimado um gasto de 37,2 bilhões de dólares com o tratamento da HAS e suas complicações, dos quais 47,8% foram destinados aos medicamentos (ELLIOT, 2003). Existem poucos estudos publicados sobre o custo da hipertensão (ESPOSTI, 2001). Segundo Perman e colaboradores (2011), a maioria das avaliações econômicas relacionadas à hipertensão trata da comparação entre dois tratamentos farmacológicos. Todavia, por considerarem apenas o aspecto farmacológico do tratamento, esses tipos de avaliações oferecem pequena direção aos tomadores de decisão com relação à escolha de qual serviço de saúde fornecer à população. Estes últimos autores compararam dois tipos de programas de acompanhamento de hipertensos. O primeiro, designado “assistência usual”, que consiste no acompanhamento por médicos da Atenção Primária, realizado por meio de consultas programadas ou não programadas, tratamento farmacológico e consultas com especialistas quando referenciados pela Atenção Primária. O segundo, denominado “Programa de Hipertensão”, é baseado no acompanhamento multidisciplinar da hipertensão desenvolvido para usuários idosos (≥ 65 anos) em um hospital na Argentina, que, além dos cuidados citados acima, realiza outros serviços, como contato pessoal e por telefone com os usuários, dieta e atividade física, educação continuada para estimular o autocuidado e prontuário eletrônico. De acordo com os autores, o programa multidisciplinar foi a alternativa mais efetiva a um custo incremental relativamente pequeno (RCEI=1,124 dólares internacionais /anos de vida ganhos). Esposti e colaboradores (2001), a fim de avaliar a carga econômica da hipertensão, fizeram um estudo de custo da doença com base em dados observacionais, sob a perspectiva do Sistema Nacional de Saúde Italiano. Os custos do acompanhamento de mil usuários hipertensos com idade entre 20 e 89 anos por general practitioners (GPs) em Ravena, Itália, foram estimados ao longo de 1 ano. Foram considerados os custos dos medicamentos anti-hipertensivos, exames 40 laboratoriais, eletrocardiogramas, consultas médicas programadas, consultas com especialistas, consultas em hospitais sem internação e hospitalizações por eventos cardiovasculares. Dentre os itens citados, os medicamentos representaram o custo mais relevante (42,7%), seguidos das admissões hospitalares (28,4%), consultas com os GPs (15,1%) e, por último, os exames (10,6%). O custo médio total em usuários sem tratamento prévio foi significativamente menor que em usuários em tratamento, 457.512 e 725.573 liras italianas, respectivamente. O custo médio total também foi maior em usuários acima de 65 anos de idade, quando comparados aos usuários mais jovens. No Brasil, o custo direto anual estimado do tratamento da HAS para o sistema público de saúde, em 2005, foi de aproximadamente 398 milhões de dólares, o que equivale a 1,11% do custo total de saúde e 0,08% do PIB brasileiro no mesmo ano (DIB, RIERA, FERRAZ, 2010). A maior parte do custo direto associado à hipertensão se refere aos medicamentos (COSTA et al., 2002; ESPOSTI et al., 2001). Alguns autores destacam que a baixa adesão ao tratamento anti-hipertensivo está diretamente relacionada ao aumento dos custos de atenção à saúde (MULLINS et al., 2002), e apontam que a redução do custo do tratamento farmacológico anti-hipertensivo poderia ser obtida com a inclusão de medicamentos genéricos e com a utilização dos medicamentos mais caros, tais como os inibidores da enzima conversora de angiotensina, somente em usuários de alto risco (MOREIRA et al., 2009). Nesse contexto, torna-se evidente a importância dos estudos farmacoeconômicos, ainda bastante raros no Brasil (AREDA; BONIZIO; FREITAS, 2011), especialmente porque as análises econômicas das diferentes terapias antihipertensivas, além de escassas e desatualizadas, em sua grande parte foram produzidas em outros países, que, pelas características dos seus sistemas de saúde, dificultam a generalização dos resultados (POLANCZYK, 2002). Todavia, alguns estudos brasileiros relevantes consideraram o custo e a efetividade das medicações anti-hipertensivas. Entre 1999 e 2000 foi realizado em Pelotas (RS) um estudo de base populacional, cujo principal objetivo foi descrever o custo da assistência à saúde a usuários hipertensos ambulatoriais, comparando-o 41 com o custo do tratamento do diabetes mellitus e da bronquite crônica, e avaliar o custo-efetividade de diferentes classes de drogas anti-hipertensivas. O custo do tratamento anti-hipertensivo, apurado via questionário aplicado a 259 pessoas hipertensas, foi calculado somando-se o preço dos medicamentos, seguro de saúde, consulta médica, exames laboratoriais, raios X, transporte e alimentação. O custo médio mensal da assistência à hipertensão, diabetes e bronquite foi semelhante. Os medicamentos representaram a maior parcela dos custos diretos do tratamento da hipertensão e diabetes, sendo os betabloqueadores e diuréticos os medicamentos que tiveram melhor razão custo-efetividade, quando comparados aos inibidores da enzima conversora de angiotensina e bloqueadores dos canais de cálcio. Porém, somente 55% dos usuários que fizeram uso de diuréticos mantiveram sua pressão sobre controle (<160/95 mmHg) (COSTA et al., 2002). Outro estudo de base populacional, realizado em adultos acima de 40 anos no período de 2004 a 2005, em São José do Rio Preto (SP), objetivou avaliar o nível de consciência e controle da doença e razão de custo-efetividade das principais classes farmacológicas de anti-hipertensivos utilizadas. Os custos do tratamento anti-hipertensivo foram estimados com base nos medicamentos utilizados e suas respectivas posologias. A efetividade foi avaliada por meio da porcentagem de usuários controlados (<140/90 mmHg). As três principais classes de medicamentos utilizados foram IECA (43,3%), diuréticos (26,1%) e betabloqueadores (20%), e o maior controle foi obtido através de betabloqueadores. Porém, em monoterapia, os diuréticos apresentaram a melhor razão de custo-efetividade (MOREIRA et al., 2009). Um estudo realizado por Tsuji (2007), em São Paulo, buscou analisar o efeito do tratamento “tradicional” e do tratamento “atual” no controle da PA. Os usuários foram divididos em 2 grupos, de acordo com o seguinte esquema terapêutico: associação de hidroclorotiazida e atenolol (tradicional) e a associação de losartan e anlodipino (atual). Além disso, os usuários foram classificados como hipertensos estágios 1 e 2 (HT 1-2), isto é, aqueles sem comorbidades e com 140 ≤ PAS < 180mmHg e 90 < PAD < 110mmHg, e hipertensos estágio 3 (HT 3), isto é, com comorbidades e PA ≥ 180/110mmHg. Os custos incluídos nessa pesquisa foram 42 somente os custos diretos relacionados ao consumo de medicamento antihipertensivo, ao tratamento de efeitos adversos e a visitas médicas não programadas. Não foram quantificadas visitas médicas programadas, nem exames laboratoriais e complementares, por terem sido semelhantes nos dois grupos. A efetividade do tratamento foi avaliada por meio da redução da PAS e PAD por usuário em mmHg, embora a própria autora tenha reconhecido que outros desfechos, como redução dos eventos cardiovasculares, seriam uma melhor medida de efetividade. O estudo encontrou melhor razão custo-efetividade com o tratamento tradicional iniciado com diurético e betabloqueador, do que com o atual, iniciado com bloqueadores dos canais de cálcio e inibidor do receptor de angiotensina II, nos hipertensos HT 1-2. Já nos hipertensos HT 3, não houve diferença da razão de custo-efetividade entre os tratamentos. O impacto econômico da hipertensão sobre o SUS é ainda maior quando a consideramos um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares, que são responsáveis por alta frequência de internações com elevados custos médicos e socioeconômicos. Por exemplo, em 2010, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 1.128.101 internações de pessoas acima de 20 anos, resultando em um gasto de mais de dois bilhões de reais para o sistema público de saúde brasileiro (DATASUS, 2013) Pesquisadores brasileiros estimaram o custo anual da doença cardiovascular grave no país em pelo menos R$ 30,8 bilhões, dois quais 36,4% foram destinados à saúde, 8,4% ao seguro social e reembolso por empregadores e 55,2% relacionados à perda de produtividade. Para usuários acima de 35 anos de idade, os custos diretos em saúde representaram 8% do gasto total do país em saúde e 0,52% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004. Os autores concluem que, embora a prevalência de doenças cardiovasculares graves (5%) seja relativamente baixa, os custos anuais totais por essa doença são bastante elevados e com tendência ao crescimento, em virtude do aumento de casos de doenças cardiovasculares graves e suas complicações decorrentes do processo de envelhecimento populacional (AZAMBUJA et al., 2008). 43 Os custos diretos hospitalares da hipertensão foram estimados em um estudo bastante antigo realizado por Souza e Silva e colaboradores (1986) no Hospital Universitário do Rio de Janeiro. O custo direto total por usuário foi de 102.48 dólares, gastos da seguinte forma: 32,6% com consultas ambulatoriais, 29,2% com internações, 25,7% com medicamentos, 10,2% com exames complementares e 2,3% com atendimentos de emergência. O estudo ainda demonstrou que apenas 32,9% dos usuários tiveram a PAD reduzida (< 90 mmHg) na última consulta. De acordo com os autores, a redução dos custos hospitalares com a HAS poderia ser proporcionada por uma Atenção Primária mais efetiva, evitando complicações e internações. 2.3 ECONOMIA DA SAÚDE O grande conflito entre a ética econômica e a ética individualista da saúde, onde salvar uma vida não tem preço, é uma questão antiga e sem muitas soluções (DEL NERO, 1995). Porém, considerando-se o crescente aumento dos custos das tecnologias de saúde e a escassez de recursos orçamentários, é essencial trazer para saúde os princípios da economia, a fim de se definir com maior racionalidade a priorização da aplicação destes recursos. Afinal, Economia é a “ciência da escassez”, e sua prática no campo da saúde objetiva obter o “máximo valor para o dinheiro”, garantindo, além da efetividade clínica, o custo-efetividade do fornecimento da assistência em saúde (HAYCOX, 2009). A avaliação econômica de tecnologias e programas de saúde tem aumentado significativamente nas últimas décadas em vários países (HERRERA; BALBÍN, 2001). Diante da importância dessas análises na área da saúde, e visando orientar a formulação de políticas públicas, foram criadas instituições que formulam diretrizes para a execução de análises econômicas, para que seus resultados sejam criteriosos e confiáveis (VANNI et al., 2009). No contexto internacional destaca-se a 44 Austrália, que, em 1992, foi um dos primeiros países a exigir estudos econômicos para avaliar a inclusão de novos medicamentos à lista de produtos oferecidos gratuitamente à população (BRASIL, 2008). Na Inglaterra e País de Gales, é o National Institute for Clinical Excellence (NICE), fundado em 1999, o responsável por avaliar os benefícios clínicos e econômicos das tecnologias novas e existentes, além de formular as recomendações e orientações sobre as tecnologias de assistência à saúde (BRASIL, 2008; RASCATI, 2010). No Canadá, cabe à agência Canadian Agency for Drugs and Technologies in Health (CADTH) formular as diretrizes para as avaliações econômicas em saúde (VANNI et al., 2009). No Brasil, compete ao Departamento de Economia da Saúde, da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE), do Ministério da Saúde, institucionalizar e fortalecer a economia da saúde no âmbito do SUS, bem como monitorar os gastos em ações e serviços públicos em saúde, além de realizar estudos econômicos que avaliem a incorporação de novas tecnologias, proporcionando aumento da eficiência no uso dos recursos públicos e garantia de equidade na sua distribuição (BRAIL, 2009b). A economia da saúde brasileira ainda é uma especialidade recente (TSUJI, 2007). Em 2003, foi instituída a Lei nº 10.742/2003, que exige que os medicamentos, insumos e correlatos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) apresentem informações financeiras relativas ao preço do produto, tais como o valor com que é comercializado em outros países, o preço que será praticado no Brasil, o custo do tratamento por usuário, o número de usuários potenciais, os gastos a serem destinados à publicidade e propaganda, a relação e o preço dos produtos substitutos no mercado (BRASIL, 2003), mas, na prática, o cumprimento dessa lei ainda é bastante incipiente (BRASIL, 2008). A integração e cooperação internacional entre as instituições de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) são feitas pela International Network of Agencies for Health Technology Assessment (INAHTA), da qual o Brasil é membro (VANNI et al., 2009). A busca pela padronização e redução das discrepâncias entre os estudos econômicos resultou na criação, em 1994, de um painel composto de especialistas da área de Economia da Saúde (Panel on Cost-Effectiveness in Health and 45 Medicine), para formular um guia com as recomendações para a realização de estudos de custo-efetividade em saúde (GOLD et al., 1996). A ATS é uma área multidisciplinar de estudos, baseada em critérios de efetividade, custo, risco ou impacto do seu uso, segurança e, inclusive, critérios éticos, que fornece subsídios para o processo de tomada de decisão no que se refere ao impacto da inclusão de uma nova tecnologia ou mudança na tecnologia já em uso e avaliação de sua necessidade (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009b). No âmbito da saúde, é comum nos depararmos com mais de uma alternativa possível para tratar uma doença ou condição, e a escolha da melhor alternativa nem sempre é óbvia. É nesse contexto que se destacam as avaliações econômicas de saúde como auxiliares no processo de tomada de decisão. 2.3.1 Avaliações Econômicas Genericamente, avaliação econômica pode ser designada como um conjunto de técnicas aplicadas para identificar, medir e valorar custos e resultados das intervenções de saúde (LOURENÇO; SILVA, 2008). Também é definida como a análise comparativa de alternativas segundo os custos e consequências (DRUMMOND et al., 2005). Portanto, os elementos considerados nessas análises são os custos e desfechos, impactos ou consequências das intervenções em saúde. As avaliações econômicas estão diretamente ligadas ao processo de planejamento, não podendo, portanto, ser uma atividade isolada. Neste sentido, são instrumentos que permitem verificar se as metas e objetivos pré-estabelecidos no planejamento foram atingidos (CASTRO, 2002). O emprego dos princípios da economia aos estudos de medicamentos recebe o nome de farmacoeconomia (GUIMARÃES, 2007), e constrói um elo entre as necessidades da população e os recursos disponíveis (HERRERA, BALBÍN, 2001). A farmacoeconomia surgiu nos países desenvolvidos no período pós-guerra, por volta da década de 1980, com o objetivo de melhorar a eficiência dos gastos dos 46 sistemas de saúde (DRUMMOND et al., 1997 apud SECOLI, et al., 2005). De acordo com Rascati (2010), as análises farmacoeconômicas descrevem e analisam os custos da terapia farmacológica para o sistema de saúde e para a sociedade. Graficamente podem ser demonstradas pela seguinte equação (Figura 5): Custos Rx Desfechos Figura 5: Equação farmacoeconômica básica Fonte: RASCATI, 2010 À esquerda estão representados os custos utilizados para se obter o produto ou serviço farmacêutico; no centro (Rx), o produto ou serviço que está sendo avaliado e, à direita, estão representados os desfechos associados ao seu uso. A análise somente do lado esquerdo da equação representa uma análise de custos, e, se apenas o lado direito da equação for avaliado, trata-se de um estudo clínico ou de desfecho, e não uma análise farmacoeconômica, pois para tal os dois lados da equação precisam ser avaliados e comparados (RASCATI, 2010). Desta forma, podem-se citar quatro tipos de análises econômicas (ou farmacoeconômicas) completas: minimização de custos, custo-benefício, custoefetividade e custo-utilidade, que diferem entre si em relação à forma de mensuração dos desfechos (CASTRO, 2002; RASCATI, 2010. Como análises incompletas, destacam-se as de custo do tipo “custo da doença” e “comparação de custos” (MORAES et al, 2006). 2.3.1.1 Análise de custo Quando a comparação entre duas alternativas não é realizada, mas os custos e as consequências são avaliados, estamos diante de uma descrição de custos e resultados. Por outro lado, quando é feita a comparação entre as alternativas, mas somente os custos são analisados, chamamos de análise de custo (CASTRO, 2002). 47 É uma etapa comum a todas as formas de avaliações econômicas (DRUMMOND et al., 2005). Na farmacoeconomia, esse tipo de análise envolve apenas a identificação dos custos diretos relacionados à aquisição de medicamentos ou terapia (AMBROSIONI, 2001), não sendo, portanto, considerada uma análise econômica completa (LOURENÇO; SILVA, 2008). Permite uma análise preliminar do problema, além de complementar as análises econômicas completas (INFARMED, 1998). Quando a análise de custo é do tipo “custo da doença”, todos os recursos utilizados na intervenção proposta para determinada doença são estimados e quantificados, em termos monetários, em um dado período de tempo, tornando possível o conhecimento do padrão de consumo destes recursos (MORAES et al., 2006). São importantes não só para fornecer informações necessárias à tomada de decisão em termos de priorização dos recursos, mas também para verificar o impacto da implantação de ações e programas de saúde (BALBINOTTO NETO; SILVA, 2008). 2.3.1.2 Análise de custo-minimização Trata-se da forma mais simples de avaliação econômica em saúde (SECOLI, 2005; GUIMARÃES, 2007), em que somente os custos são comparados, pois se pressupõe que os desfechos das alternativas comparáveis sejam iguais (GUIMARÃES, 2007; VANNI et al., 2009; RASCATI, 2010). Por este motivo, a aplicação desse tipo de análise também é limitada (RASCATI, 2010) e rara (VANNI et al., 2009), em que pese sua importância na comparação entre doses e vias de administração diferentes para medicamentos genéricos, pois, nesse caso, os efeitos são semelhantes, podendo-se optar pelo de menor custo (GUIMARÃES, 2007). Possibilita valorar e comparar os recursos utilizados em duas intervenções propostas para determinada doença ou condição (MORAES et al., 2006). 48 Para alguns autores esta também é uma análise parcial, conhecida como análise de custos, e não uma análise farmacoeconômica completa (RASCATI, 2010). 2.3.1.3 Análise de custo-efetividade Na análise de custo-efetividade (ACE) os custos são medidos em termos monetários, e os desfechos em unidades naturais, como curas, vidas salvas, redução da pressão sanguínea. Neste caso, o principal objetivo é avaliar o impacto de diferentes alternativas, buscando-se identificar a opção que traz melhores benefícios ao menor custo possível (SECOLI, 2010). É o tipo de análise farmacoeconômica mais encontrada na literatura farmacêutica (HAYCOX, 2009; VANNI et al., 2009; RASCATI, 2010), e a preferida pelos profissionais de saúde, por ser considerada a mais ética (GUIMARÃES et al., 2007) e por utilizar-se de medidas de desfechos que esses profissionais dominam melhor, por fazerem parte de sua prática profissional (SECOLI et al., 2010). Os resultados da análise de custo-efetividade são expressos por uma razão, onde o numerador é o custo e o denominador é a efetividade, ou seja, indicam o custo por unidade clínica de sucesso (SECOLI, 2010). A principal limitação deste tipo de análise é que os desfechos das alternativas comparadas são medidos pelas mesmas unidades clínicas, não sendo possível, portanto, comparar produtos farmacêuticos utilizados para diferentes doenças (RASCATI, 2010). Outra desvantagem, apontada por Guimarães e colaboradores (2007), é seu “aspecto pontual”, que considera apenas o desfecho final sem avaliar seu impacto sobre a qualidade de vida. 49 2.3.1.4 Análise de custo-utilidade A análise de custo-utilidade (ACU) é similar à ACE. Alguns autores a consideram como um subconjunto especial da análise de custo-efetividade (RASCATI, 2010; SECOLI et al., 2005). A diferença está na forma de se medirem os desfechos, que, nesse caso, são mensurados em termos de qualidade de vida, geralmente anos de vida ajustados pela qualidade (AVAQ, no inglês QALYs – quality-adjusted life years). AVAQ é uma unidade bidimensional do bem-estar, que ajusta os anos de vida de acordo com a utilidade considerada para determinada condição de saúde (BRASIL, 2009 b). As utilidades podem ser determinadas pelo uso de métodos como a escala de avaliação (EA), standard gamble (SG) e permuta com o tempo (time tradeoff). Baseiam-se em uma escala de 0 a 1, pela qual o usuário poderá se classificar diante de uma ou múltiplas condições de saúde ou estados da doença. De acordo com essa escala, 0 significa morte e 1 significa saúde perfeita. Após definidas as utilidades, elas são multiplicadas pela sobrevida permitida por cada opção de tratamento em comparação (RASCATI, 2010). É considerada o tipo de análise mais complexo, pois envolve o ponto de vista do usuário em relação à sua satisfação considerando-se a intervenção adotada, o que pode ser medido, conforme descrito acima, por meio da utilidade (índice combina mortalidade e qualidade de vida) (SECOLI et al., 2005). O resultado da ACU é apresentado pela razão entre custo e anos de vida ajustados pela qualidade (SECOLI et al., 2005). Embora a medida da qualidade de vida seja uma vantagem dessa análise, visto que favorece a comparação de diferentes tipos de desfechos de interesse, a utilidade não é considerada uma medida precisa, como é o caso das unidades naturais de saúde, como redução da PA ou dos níveis de colesterol, dentre outras (RASCATI, 2010). No entanto, possui grande importância no caso das doenças crônicas, cujo tratamento contínuo e prolongado interfere diretamente no cotidiano dos usuários. 50 2.3.1.5 Análise de custo-benefício A análise de custo-benefício (ACB) foi muito utilizada no setor público para avaliar a viabilidade de projetos sociais, comparando-os em termos monetários (UGÁ, 1995). Neste tipo de análise, um valor monetário é atribuído aos benefícios de saúde ganhos (AMBROSIONI, 2001), e, portanto, os custos e os desfechos são medidos em unidades monetárias (GUIMARÃES et al., 2007; HAYCOX, 2009, RASCATI, 2010). Seu objetivo é avaliar se uma opção é ou não vantajosa em termos econômicos, de forma a determinar qual programa ou intervenção possui maior benefício em termos sociais. Permite também estimar a relação entre os custos associados ao tratamento e o benefício financeiro gerado por ele (AREDA; BONIZIO; FREITAS, 2011). A vantagem da ACB é possibilitar a comparação entre os resultados das análises de uma série de programas, em diferentes áreas da assistência à saúde ou até mesmo em outras áreas (HAYCOX, 2009). No entanto, essa análise pode ignorar importantes benefícios, cujos valores em termos monetários são de difícil mensuração, como, por exemplo, sofrimento, morte e ansiedade (HAYCOX, 2009). Os resultados são expressos na forma de benefícios líquidos, que são os benefícios da intervenção menos o seu custo (BRASIL, 2008). 2.3.2 Representação de Comparação de Custo- Efetividade A representação da comparação de alternativas terapêuticas pode ser graficamente representada por um plano de custo-efetividade (VANNI et al., 2009; RASCATI, 2010) ou por uma matriz de custo-efetividade (RASCATI, 2010). 51 No plano de custo-efetividade, o ponto de cruzamento dos eixos x (efetividade) e y (custo) equivale ao ponto de origem dos custos e da efetividade para fator-padrão de comparação, conforme mostra a Figura 6: Figura 6: Plano de custo-efetividade Fonte: RASCATI, 2010 Se a alternativa for mais cara e mais efetiva que o fator padrão, esse ponto cairá no quadrante I, e a razão de custo-efetividade incremental (RCEI) deverá ser calculada para analisar o aumento dos custos em relação ao aumento dos benefícios. Esta é uma situação de escolha conflitante (trade-off), e deverá ser analisada. Se uma alternativa for mais barata e mais efetiva, o ponto cairá no quadrante II, e a alternativa será considerada dominante em comparação com o fator padrão. Se a alternativa for mais barata e menos efetiva, o ponto cairá no quadrante III, e novamente se deverá avaliar se a economia de custos justifica uma perda de efetividade (trade-off). Por último, se a alternativa for mais cara e menos efetiva, o ponto cairá no quadrante IV, e essa alternativa será considerada dominada pelo fator padrão (RASCATI, 2010). A escolha da nova intervenção está ligada ao valor que a sociedade se dispõe a pagar por um ganho adicional de saúde (threshold) (DRUMMOND et al., 2005). 52 Alguns países definiram limiares de custo-efetividade ou custo-utilidade que se baseiam no custo de um ano de vida extra, ou um ano de vida ajustado por qualidade de vida, a ser alcançado por uma intervenção de saúde. Os valores encontrados nas ACE e ACU seriam, então, comparados com esses limiares, de modo que, acima destes, a alternativa seria economicamente atrativa (GUIMARÃES et al., 2007). No Brasil, ainda não existe um valor limite recomendado. Outra forma de apresentação dos resultados é através do cálculo da RCEI (Figura 7), que equivale à razão entre a diferença dos custos e a diferença entre os desfechos, conforme equação 1 (RASCATI, 2010). A RCEI expressa o custo por uma unidade de efetividade utilizada, podendo ser utilizada em análises de custoefetividade e nas de custo-utilidade (VANNI et al., 2009). Figura 7: Equação da razão de custo-efetividade incremental Fonte: VANNI et al., 2009 2.3.3 Categorização dos custos Entende-se por “custos” o valor de todos os insumos ou recursos utilizados na produção e distribuição de bens ou serviços, que, após o uso, não mais estarão disponíveis para ser utilizados em outros bens ou serviços (oportunidades) (RASCATI, 2010). Nesse sentido, o custo “efetivo” de um recurso não é propriamente o dinheiro aplicado, mas sim seu “custo de oportunidade”, e equivale ao valor do benefício que poderia ter sido alcançado pela alternativa abdicada (DRUMMOND et al., 2005). Lourenço e Silva (2008) complementam dizendo que custos não se restringem à medida monetária dos bens consumidos, ou simplesmente à análise das despesas, mas sim aos sacrifícios financeiros que decorrem do consumo de um recurso por um determinado serviço ou procedimento. 53 Resumindo, os custos poderiam ser estimados a partir do que poderia ser ganho no seu melhor uso alternativo. Os custos são usualmente classificados em quatro categorias: custos diretos médicos, custos diretos não médicos, custos indiretos e custo intangíveis (Figura 8) (LOURENÇO; SILVA, 2008; RASCATI, 2010). Figura 8: Tipos de custos em uma avaliação econômica Fonte: LOURENÇO; SILVA, 2008 Os custos diretos médicos estão relacionados aos recursos médicos utilizados diretamente para o cuidado em saúde. São, portanto, custos relacionados a medicamentos, exames diagnósticos, atendimentos clínicos, atendimentos por farmacêuticos, serviços de enfermagem, serviço de emergência e hospitalizações (RASCATI, 2010). São custos relativamente fáceis de ser mensurados. Os custos diretos ainda podem ser subdivididos em fixos e variáveis. São considerados fixos aqueles custos que ocorrem independentemente de o usuário ser ou não tratado, como, por exemplo, custo de capital, eletricidade e limpeza, dentre outros. E custos variáveis são aqueles que ocorrem somente quando o serviço é 54 prestado, como, por exemplo, medicamentos, exames, materiais descartáveis, etc. (LOURENÇO; SILVA, 2008). Custos com usuários e familiares decorrentes do processo de adoecimento e tratamento, mas que não envolvem serviços médicos, como alimentação, transporte e residência temporária (SECOLI et al., 2005), e serviços de cuidados infantis para filhos dos usuários, são considerados custos diretos não médicos (RASCATI, 2010). Custos indiretos são oriundos da perda de capacidade produtiva do indivíduo frente ao processo de adoecimento ou mortalidade precoce (SECOLI et al., 2005, RASCATI, 2010). Por último, os custos intangíveis são custos relacionados à dor, sofrimento, ansiedade, fadiga, provocados pela doença ou pelo seu tratamento. São custos de difícil mensuração (RASCATI, 2010). Apesar de importantes para o usuário, ainda são vazios de significado econômico (SECOLI et al., 2005). No entanto, Drummond e colaboradores (2005) não concordam com o termo custos intangíveis, pois consideram que não são custos e nem tampouco intangíveis, uma vez que, em alguns momentos, são possíveis de ser medidos por meio da utilidade ou da “disposição a pagar”. 2.3.4 Desfechos ou consequências da intervenção Os desfechos, ou consequências, de uma intervenção podem ser expressos em unidades clínicas, monetárias ou humanísticas. No tratamento farmacológico, podem ser utilizados como desfechos: mortalidade, razão de cura, adesão do usuário e qualidade de vida, como, por exemplo, anos de vida ajustados pela qualidade (AVAQ) (SECOLI et al., 2005). Como unidades clínicas podemos citar redução da pressão sanguínea em mmHg, níveis de colesterol, dias livres de sintomas (DLSs), dentre outros (RASCATI, 2010). Para avaliações econômicas, os resultados em medidas finalísticas, como expectativa de vida, vidas salvas, condição funcional e eventos clínicos evitados, 55 dentre outros, são preferíveis às medidas intermediárias, como, por exemplo, o nível de PA em mmHg, pois, por avaliarem de forma mais abrangente a efetividade da intervenção, possuem maior consistência para as tomadas de decisão. No entanto, resultados finalísticos podem levar anos para se tornar evidentes, necessitando de um estudo com um longo horizonte temporal. Nesses casos, os resultados intermediários são frequentemente usados, e sua relação com os resultados finalísticos deve ser posteriormente estimada (BRASIL, 2009). É importante ressaltar que os significados dos termos eficácia e efetividade apresentam diferenças significativas, embora algumas vezes sejam utilizados como sinônimos. Entende-se por eficácia a medida do efeito de uma tecnologia ou estratégia em condições ideais, como acontece nos ensaios clínicos, enquanto que a efetividade é a medida desse efeito em um ambiente real, como, por exemplo, na prática clínica ou em estudos observacionais (BRASIL, 2008; RASCATI, 2010). Desta forma, em análises econômicas, é mais interessante medir-se a efetividade, a fim de que os resultados reflitam a realidade da prática clínica. Na ausência de dados de efetividade obtidos por ensaios clínicos controlados e randomizados, que retratem a realidade nacional, podem ser utilizados dados de eficácia obtidos a partir de ensaios clínicos adequados, corrigidos por modelagem, ou podem-se extrair dados de efetividade de estudos epidemiológicos observacionais ou até de um painel de especialistas, que é a opção menos robusta (PORTUGAL, 1998). 2.3.5 Análise de sensibilidade Considerando-se que toda avaliação econômica de saúde apresenta incertezas quanto à estimativa da efetividade das intervenções, quanto à progressão da doença, aos recursos de saúde utilizados e também aos seus custos, a realização da análise de sensibilidade é uma etapa fundamental (BRASIL, 2009) e amplamente recomendada especialmente no contexto brasileiro, onde os 56 pesquisadores se deparam com a escassez de bancos de dados que permitam realizar pesquisas na área da avaliação econômica de saúde, o que os estimula a assumir pressupostos que aumentam a incerteza dos modelos (BALBINOTTO NETO; SILVA, 2008). A análise de sensibilidade realizada com resultados das ACE e ACU é utilizada para avaliar se mudanças nas variáveis relevantes são capazes de alterar as conclusões do estudo (SECOLI et al., 2005). Através dessa análise, as razões de custo-efetividade são recalculadas com base na modificação de uma ou mais variáveis do estudo, como, por exemplo, o curso natural da doença e custos relacionados ao tratamento (AREDA; BONÍZIO; FREITAS, 2011). Esse recurso possibilita avaliar a robustez do estudo frente à alteração de diversos parâmetros do modelo. É considerado sensível aquele modelo que é instável à mudança dos valores de alguns parâmetros, alterando, inclusive, as conclusões do estudo (BRASIL, 2009). Os três principais tipos de análise de sensibilidade são: univariada, multivariada e análise de Monte Carlo. Como os próprios nomes sugerem, na primeira, somente um parâmetro é alterado por vez, e, na segunda, vários parâmetros são alterados simultaneamente. Quanto à análise de Monte Carlo, todos os parâmetros são variados ao mesmo tempo, tornando-se um bom indicador para demonstrar a robustez global do modelo (VANNI et al., 2009). 2.3.6 Perspectiva O termo econômico “perspectiva” é utilizado para descrever quais custos são relevantes para um determinado estudo econômico (RASCATI, 2010) e quais desfechos deveriam ser avaliados (SECOLI et al., 2010). Equivale ao ponto de vista de quem tem interesse no estudo (SECOLI et al., 2010). Sendo assim, a perspectiva do SUS pode ser adotada sob duas óticas. Uma, referindo-se ao SUS como órgão comprador de serviços de saúde, e a outra como órgão público prestador de 57 serviços de saúde. No primeiro caso, são considerados todos os custos diretos cobertos pelo sistema público, sendo, portanto, computados os custos relacionados ao repasse de recursos para a compra de serviços prestados por hospitais e outros serviços de saúde. Com base nos valores de reembolso pagos pelo SUS são mensurados os itens e procedimentos descritos nas tabelas de autorização de internação hospitalar (AIH/SUS), no sistema de informação ambulatorial (SIA/SUS) e nos procedimentos de alta complexidade (APAC). Por outro lado, quando a perspectiva adotada é a do SUS como prestador de serviços de saúde, os custos advêm dos insumos efetivamente utilizados na produção dos serviços ou procedimentos (BRASIL, 2009). A perspectiva da sociedade é mais abrangente, pois leva em consideração os custos para as empresas de plano de saúde, custos para o usuário, custos de outros setores e custos indiretos relacionados à perda de produtividade. Esta perspectiva apresenta, assim, o ponto de vista da sociedade como um todo (BRASIL, 2009). Representa o interesse coletivo, e não o interesse específico de um grupo, sendo a mais adequada para uma análise econômica. Todavia, a maioria das análises não a utilizam, devido à dificuldade em se medirem todos os custos mencionados (RASCATI, 2010). Nos casos em que o principal interesse é estabelecer os custos gerais entre duas alternativas terapêuticas onde existam diferenças apenas entre os custos diretos médicos, seria desnecessário avaliar os demais custos. Nesses casos, o uso de outras perspectivas poderia ser mais conveniente, como, por exemplo, a perspectiva do pagador, onde os custos diretos médicos e os desfechos associados à recuperação do usuário são medidos (SECOLI et al., 2010). Para que estudos de custo-efetividade sejam comparáveis, a mesma perspectiva deverá ser adotada (BRASIL, 2009). 58 2.3.7 Padronização de custos A padronização dos custos é necessária sempre que eles sejam estimados com base em informações fornecidas há mais de um ano antes do estudo (RASCATI, 2010). Os dados coletados retrospectivamente deverão ser ajustados em determinado ponto do tempo. Isso pode ser feito, por exemplo, pela multiplicação de todos os custos do ano pela taxa de inflação média do mesmo ano, que geralmente fica em torno de 4% a 5% (RASCATI, 2010). Por outro lado, se os custos são estimados em anos futuros, a correção deverá ser feita pela taxa de desconto. Desta forma é possível calcular o valor presente de economias futuras (RASCATI, 2010). O valor da taxa de desconto a ser adotado na análise é bastante controverso na literatura, assim como sua aplicação, tanto nos custos quanto nos desfechos e benefícios (SANCHO, 2008). Recomenda-se a adoção de uma taxa de desconto de 5% para a atualização dos custos e resultados em saúde, que é o valor mais comumente adotado por países que possuem orientações metodológicas para estudos econômicos (SILVA, 1998). No Brasil, o Ministério da Saúde também adota a taxa de 5% ao ano, além de sugerir que sejam realizadas análises de sensibilidade para diferentes taxas de desconto (0% e 10%), a fim de avaliar se a seleção arbitrária da taxa reflete nos resultados obtidos (BRASIL, 2009). 2.3.8 Fonte de dados A estimativa dos custos dos medicamentos distribuídos pelo SUS pode ser feita através do Banco de Preços da Câmara de Medicamentos/CMED, do Banco de Preços em Saúde do Ministério da Saúde, do Banco de Preços dos Núcleos Estaduais do Ministério da Saúde e de outros sistemas de informações relativos a compras das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Na ausência dessas informações, pode-se utilizar o BRASÍNDICE como alternativa para se consultar o preço de medicamentos de venda liberada ao comércio (BRASIL, 2009). 59 3 JUSTIFICATIVA Como exposto, a hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em todo o mundo, e está associada a altas taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares, o que demanda um alto custo econômico e social, representando um grave problema de saúde pública. Em países em desenvolvimento, incluindo-se o Brasil, avaliações das tecnologias e, especialmente, avaliações econômicas em saúde ainda são muito escassas (VIANNA, CAETANO; CAETANO, 2005; SANCHO; VARGENS, 2009). Igualmente, avaliações econômicas completas de programas de tratamento da hipertensão são escassas e apresentam limitações metodológicas, como curto tempo de análise, falta de desfechos “duros”, uso exclusivo de banco de dados secundários e análise de sensibilidade deficiente (PERMAN et al., 2011). Estimar os custos médicos diretos do tratamento do hipertenso na Atenção Secundária e conhecer em qual componente desses custos se gastam mais recursos contribui para a definição de prioridades, reestruturação da atenção e uma alocação de recursos mais racional, que permita a continuidade da assistência ao usuário hipertenso. Isso é especialmente pertinente para Minas Gerais, que adotou como uma das estratégias de reorientação da atenção ao hipertenso e diabético a instituição dos Centros Hiperdia, hoje referência nacional, mas que, por ser ainda recente, não possui estudos sobre o custo e efetividade. Foi nesse contexto que o presente estudo calculou os custos diretos médicos e avaliou a efetividade do programa para o tratamento da hipertensão prestado a usuários de alto e muito alto risco cardiovascular, atendidos pela Atenção Secundária do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, Minas Gerais. 60 4 OBJETIVOS 4.1 OBJETIVO GERAL Estimar os custos médicos diretos e a efetividade do tratamento do usuário hipertenso de alto e muito alto risco cardiovascular atendido pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora, Minas Gerais. 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Descrever os medicamentos mais frequentemente escolhidos como primeira terapêutica e as associações medicamentosas mais prevalentes. - Avaliar a distribuição dos custos e identificar qual o principal componente dos custos diretos médicos. - Avaliar a efetividade do tratamento através da redução da pressão arterial após um ano de acompanhamento no Centro Hiperdia. 61 5 MATERIAL E MÉTODOS 5.1 DESENHO DO ESTUDO Foi realizado um estudo observacional retrospectivo de análise dos custos e efetividade do tratamento da hipertensão arterial. A perspectiva adotada foi a do Sistema Único de Saúde como órgão comprador de serviços. 5.2 FONTE DE DADOS Foi utilizado o banco de dados do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, localizado na Fundação Instituto Mineiro de Estudos e Pesquisas em Nefrologia (IMEPEN), em Juiz de Fora Minas Gerais. O banco de dados em questão era composto por todos os usuários atendidos no Centro: hipertensos, diabéticos e portadores de doença renal, totalizando 3.686 usuários. Porém, neste estudo, foram considerados apenas os usuários hipertensos que fizeram acompanhamento no Centro por pelo menos um ano, ou seja, 130 usuários, dos quais 19 foram excluídos por falta de registros fundamentais para este estudo, como: número de consultas, medicamentos, posologia e exames realizados. Assim, foram considerados todos os usuários hipertensos que estavam no Centro por um ano ou mais, totalizando 111 usuários. Na Figura 9 estão descritas as variáveis consideradas neste estudo: 62 Variáveis utilizadas Nome Valores da PA na primeira consulta Prontuário Valores da PA após 1 ano de acompanhamento Sexo Número de consultas médicas Cor Número de consultas de enfermagem Idade Número de consultas com psicólogos Cidade de Origem Número de consultas com nutricionistas IMC Número de atendimentos com farmacêutico Comorbidades Número de atendimentos com assistente social Data de admissão Medicamentos prescritos Data da última consulta Quantidade de comprimidos utilizados Data de cada consulta Exames realizados Tempo de acompanhamento Escolaridade Quantidade de exames realizados Figura 9: Quadro das variáveis utilizadas no estudo Para valorar as consultas médicas e não médicas e os exames realizados, foi utilizada a tabela do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP). O SIGTAP é uma ferramenta de gestão para a consulta de todos os procedimentos que podem ser realizados no âmbito ambulatorial e hospitalar e que compõem a Tabela de Procedimentos do Sistema Único de Saúde, permitindo o acompanhamento sistemático de cada procedimento (BRASIL, [20—c]). Já para os medicamentos, os preços unitários foram consultados no Banco de Preços de materiais adquiridos pelos diversos órgãos da Administração Pública Estadual (MINAS GERAIS, [20--]), disponível no Portal de Compras de Minas Gerais, através do qual é possível encontrar informações sobre todos os itens adquiridos pelo estado, e no Banco de Preços em Saúde (BPS). 63 O BPS é um sistema informatizado, disponível na Internet, que fornece informações sobre os preços de medicamentos e produtos para a saúde que são adquiridos por instituições públicas e privadas cadastradas no sistema. 5.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO O presente estudo foi realizado com usuários hipertensos de alto e muito alto risco cardiovascular, acima de 18 anos de idade, atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora no período de junho de 2010 até dezembro de 2011. Foram considerados apenas os custos médicos diretos ambulatoriais, e, por isso, as hospitalizações ocorridas e seus custos não foram descritos neste estudo. Não foi utilizado nesta pesquisa nenhum tipo de score de comorbidade. E não foi possível relatar os eventos cardiovasculares e óbitos ocorridos, por falta de registros no banco de dados utilizado. 5.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Foram incluídos no estudo todos os usuários acima de 18 anos de idade, portadores de hipertensão, com alto ou muito alto risco cardiovascular, que estavam sob acompanhamento no Centro por pelo menos 1 ano. 5.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Usuários menores de 18 anos, gestantes e aqueles com tempo de acompanhamento inferior a um ano foram excluídos do estudo, assim como aqueles 64 indivíduos que não possuíam registros completos dos itens pesquisados, como medicamentos e sua posologia, exames e consultas realizadas. 5.6 ANÁLISE DOS CUSTOS O presente estudo considerou apenas os custos médicos diretos, de acordo com o conceito utilizado por Rascati (2010), que os considera como valores de bens e serviços, e de outros recursos consumidos para a provisão de uma intervenção em saúde. A perspectiva adotada foi a do SUS como comprador de serviços. O cálculo dos custos de cada indivíduo foram mensurados com base nos registros de consultas médicas e não médicas, exames laboratoriais, exames complementares e medicamentos anti-hipertensivos utilizados pelos usuários ao longo de um ano de acompanhamento no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. 5.6.1 Medicamentos Para mensurar os custos dos medicamentos foram considerados apenas aqueles classificados como anti-hipertensivos. Para cada usuário foram calculadas as quantidades diária e anual de cada medicamento, de acordo com a posologia prescrita pelos médicos do Centro Hiperdia. No Portal de Compras de Minas Gerais não foi encontrado o preço do comprimido de cloridrato de diltiazem 120mg, que foi calculado através da multiplicação do preço do comprimido de cloridrato de diltiazem de 60mg por 2. Também não estava disponível o preço do nifedipino 20mg retard e do nitrendipino 10mg. Neste caso, consideramos o valor unitário disponível no Banco de Preços em Saúde (BPS), do Ministério da Saúde. O medicamento associado hidroclorotiazida 25mg + cloridrato de amilorida 2,5mg foi excluído do estudo por não ter sido encontrado no Portal de Compras e 65 nem no BPS. Vale ressaltar que apenas um usuário utilizou esse medicamento durante um período do tratamento e que, por não ter custo alto, a exclusão desse medicamento não prejudicou significativamente a mensuração dos custos dos medicamentos. O custo unitário de cada comprimido foi multiplicado pelo total de comprimidos utilizados pelo usuário em 1 ano, calculando-se assim o custo anual por usuário. 5.6.2 Consultas médicas e não médicas Para consulta médica no SIGTAP utilizou-se o código 03.01.01.007-2, que equivale à consulta médica na atenção especializada, cujo valor pago pelo SUS é de R$10,00. Para as consultas não médicas, utilizou-se o código 03.01.01.004-8, referente à consulta com profissionais de nível superior na atenção especializada, exceto médico, pela qual o SUS paga R$6,30. Foram consideradas consultas não médicas as consultas com psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos e assistentes sociais, e como consultas médicas aquelas realizadas com cardiologistas, endocrinologistas e nefrologistas. Além desses profissionais, o Centro Hiperdia conta com dentistas e educadores físicos para o tratamento multi e interdisciplinar da hipertensão. Todavia, não foi possível valorar os custos com os atendimentos realizados por esses profissionais, por falta de registros. Não foi possível estimar os custos relativos às atividades educativas realizadas no Centro Hiperdia, pois não há registros das mesmas no banco de dados utilizado. Além disso, são realizadas por profissionais diferenciados, de acordo com uma escala feita pela coordenadora da equipe não médica, e o número de usuários que participam dessas atividades é bastante variável, prejudicado a mensuração dos gastos com as mesmas. 66 5.6.3 Exames Neste estudo foram considerados os exames laboratoriais recomendados pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, pela Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes da Secretaria Estadual de Minas Gerais e aqueles realizados no Centro Hiperdia para avaliar e acompanhar o usuário hipertenso. Foram contabilizados e valorados os seguintes exames laboratoriais: dosagem de potássio e creatinina plasmáticos, glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicérides, dosagem de ácido úrico, urina de rotina, clearence de creatinina, microalbuminúria e hemoglobina glicada (VI DBH,2010). A Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes de Minas Gerais recomenda, além desses exames, a dosagem da hemoglobina ou hematócrito, mas como, na prática clínica, os médicos solicitam o hemograma completo para avaliar esses parâmetros, contabilizamos este exame ao invés daqueles. Os exames complementares mensurados também foram os preconizados pelas VI DBH (2010): eletrocardiograma, ecocardiograma, radiografia de tórax, teste de esforço, ultrassom de carótida e MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial), além dos oferecidos no Centro Hiperdia para avaliação do usuário hipertenso, como Holter e ultrassonografia com Dopller. Além desses exames, a Coordenação Estadual de Hipertensão e Diabetes recomenda a realização de retinografia para avaliar possíveis lesões na retina dos usuários, que, todavia, ainda não é realizada pelo Centro Hiperdia de Juiz de Fora, sendo a triagem dessas lesões feita apenas pelo exame de fundoscopia. Sendo assim, contabilizamos a fundoscopia, e não a retinografia, embora seja esta última o exame indicado. Foram contabilizados todos os exames realizados pelo usuário em um ano de acompanhamento no Centro Hiperdia, obtendo-se, assim, o custo médio anual total com exames. Também foi calculado o custo médio anual por usuário, dividindo-se o custo total anual pelo número total de usuários. 67 5.7 MEDIDA DA EFETIVIDADE A efetividade foi definida como sendo o percentual de usuários que atingiram a meta do tratamento preconizada pelas VI DBH, isto é, aqueles que atingiram uma pressão arterial menor ou igual a 130/80 mmHg ao final de um ano. Para tanto, foi considerada a pressão arterial no momento da admissão ao Centro Hiperdia, que, posteriormente, foi comparada com a pressão atual, para avaliar a redução da PA obtida com o tratamento proposto. A medida da PA foi feita de acordo com as VI DBH, ou seja: na primeira avaliação as medidas foram realizadas em ambos os braços e, caso houvesse diferença entre as medidas, o braço que apresentou o maior valor foi utilizado como referência nas demais medidas. Nas demais consultas foram realizadas pelo menos três medidas, com intervalo de um minuto entre elas. A PA real foi obtida por meio da média das duas últimas medidas. A aferição da PA foi feita com o usuário na posição sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado, braço apoiado e na altura do coração, sem roupa, com a palma da mão voltada para cima e cotovelo levemente fletido (VI DBH, 2010). 5.8 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Para as variáveis cujos registros estavam completos (sexo, idade, presença de comorbidade, cor da pele, escolaridade), foi realizada análise descritiva, incluindo-se distribuições de frequência, média e medida de variabilidade. A associação entre a taxa de controle pressórico e essas variáveis foi analisada pelo teste do Quiquadrado de Pearson. As diferenças entre as médias de custo por características dos usuários foram avaliadas pelo Teste t de Student. Para as variáveis não dicotômicas utilizou-se análise de variância simples (Anova). O nível de significância adotado foi de 5%. As análises estatísticas foram realizadas com auxílio do software SPSS, versão 14. 68 5.9 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS Este projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, tendo sido aprovado com parecer nº 151.239 (Anexo A). 69 6 RESULTADOS 6.1 PERFIL DA POPULAÇÃO No presente estudo foram avaliados 111 usuários hipertensos adultos (≥18 anos) de alto e muito alto risco cardiovascular, atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. A maioria dos usuários é residente no município de Juiz de Fora (n=97; 87%). Os demais são oriundos de outras cidades, como: Andrelândia (n=1; 0,9%), Lima Duarte (n=1; 0,9%), Mar de Espanha (n=3; 2,7%), Matias Barbosa (n=2; 1,8%), Rio Novo (n=1; 0,9%), Santos Dumont (n=4; 3,6%) e São João Nepomuceno (n=2; 1,8%). Destes, 30 (27,1%) são brancos, 34 (30,6%) negros e 47 (42,3%) pardos. E 60% do sexo feminino (n=67) e 40% do sexo masculino (n=44). A idade média dos usuários foi de 59 anos (DP=11,7; 27-84 anos), sendo a faixa etária de 50 a 59 anos a mais prevalente (32,4%) em ambos os sexos, conforme observado no gráfico abaixo (Figura 10). Observa-se também o predomínio do sexo feminino em todas as faixas etárias. Na faixa etária de 60-69 anos, a diferença entre homens e mulheres foi mais acentuada, com maior prevalência de hipertensão entre as mulheres. 70 Figura 10: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por faixa etária e sexo A média de IMC nos usuários foi 30,7 Kg/m2 (DP= 6,4; 18,6-51,9), sendo que grande parcela (31,2%) apresenta sobrepeso e 51,4% são obesos (Tabela 1). Tabela 1 - Classificação e distribuição dos usuários de acordo com IMC, segundo a OMS (2000) IMC Classificação Nº usuários % de usuários < 18.5 Abaixo do Peso 0 0,0 18.5 – 24.9 Peso normal 19 17,4 25.0 – 29.9 Sobrepeso 34 31,2 30.0 – 34.9 Obesidade grau I 29 26,6 35.0 – 39.9 Obesidade grau II 17 15,6 ≥ 40.0 Obesidade grau III 10 9,2 109 100,0 Total Segundo a distribuição por escolaridade (Figura 11), e considerando-se três estratos, observou-se que os usuários sem instrução até ensino fundamental incompleto (0 a < 8 anos de estudo) foram a maioria (65%), seguidos daqueles com ensino médio completo ou superior (≥ 11 anos de estudo) (21%) e, por último, os usuários com ensino fundamental completo até nível médio incompleto (8 a < 11 71 anos de estudo) (12%). Figura 11: Gráfico da distribuição dos usuários hipertensos por escolaridade Foram encontrados 97 registros sobre comorbidades. Destes, 15,5% são de usuários hipertensos e diabéticos, 18,5% de hipertensos e doentes renais e 66% de usuários apenas hipertensos. A média de PA sistólica foi de 154 (DP= 30,02) e a de PA diastólica foi de 93 (DP=15,96). 6.2 PERFIL FARMACOTERAPÊUTICO Os medicamentos anti-hipertensivos mais prescritos foram losartana (18,9%), captopril (17,51%), besilato de anlodipino (10,4%) como pode ser visto na Figura 12. Destes, somente o nifedipino não consta na lista de anti-hipertensivos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (BRASIL, 2010). E losartana e captopril são distribuídos gratuitamente para população por meio do programa do Ministério da 72 Saúde, denominado “Saúde não tem preço”. Figura 12: Gráfico da quantidade de anti-hipertensivos prescritos Em média, os usuários utilizam 4,5 medicamentos anti-hipertensivos para o tratamento da HAS (DP=1,74). Em relação ao esquema terapêutico adotado, foi observado que cerca de 86% dos usuários utilizam três ou mais medicamentos para o controle da pressão arterial, como apresentado na Figura 13. 73 Figura 13: Gráfico do número de medicamentos por usuário Figura 14: Gráfico das classes de anti-hipertensivos prescritas por quantidade de comprimidos As classes de anti-hipertensivos prescritas foram: diuréticos, inibidores adrenérgicos (IA) de ação central e betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e bloqueadores dos receptores de AT1 da angiotensina. Na Figura 14, observa-se que as classes mais utilizadas foram bloqueadores dos canais de cálcio (24,1%) e inibidores da enzima 74 conversora de angiotensina (IECA-23,7%). O gráfico da Figura 15 demonstra o número de classes de anti-hipertensivos que são utilizados pelos usuários. De acordo com este gráfico, a maioria dos usuários (39,64%) utilizam três classes de anti-hipertensivos para controlar a pressão arterial. Figura 15: Gráfico do número de classes de anti-hipertensivos por usuário Foram encontradas as mais variadas associações entre essas classes. Quando associadas duas classes de anti-hipertensivos, a combinação mais utilizada foi a de bloqueadores dos canais de cálcio e diuréticos (7 usuários - 6,3%); na associação de três classes, bloqueadores dos canais de cálcio, IECA e diuréticos foi a combinação mais prevalente (10 usuários - 9,0%); na associação de quatro classes de anti-hipertensivos predominaram os betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, IECA e diuréticos (13 usuários - 11,7%) e, por último, quando cinco classes de medicamentos foram associados, prevaleceu a combinação de betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores adrenérgicos de ação central, IECA e diuréticos (9 usuários - 8,1%). Diante do exposto, observamos que a associação de bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos e IECA foi a mais prescrita. 75 6.3 CUSTOS 6.3.1 Custos dos Medicamentos O custo total anual com medicamentos para os 111 usuários foi de R$ 59.885,26, e o custo médio anual por usuário foi de R$ 539,51. Na Tabela 2 estão descritos todos os medicamentos e suas respectivas dosagens, quantidades de comprimidos utilizados em um ano, valor unitário e custo por medicamento. Tabela 2: Medicamentos Anti-hipertensivos por classe utilizados pelos usuários do Centro Hiperdia no período de 2010 a 2011 (continua) Anti-hipertensivos por classe beta bloqueadores Atenolol 25mg Atenolol 50mg Carvedilol 3,125 Carvedilol 6,25 Carvedilol 12,5 Carvedilol 25 mg Succinato de metoprolol 100mg Succinato de metoprolol 50mg Cloridrato de propranolol 40mg Subtotal: Inibidores adrenérgicos de ação central Cloridrato de clonidina 0,100mg Cloridrato de clonidina 0,150mg Metildopa 250mg Metildopa 500mg Subtotal: bloqueadores dos canais de cálcio Besilato de anlodipino 5mg Besilato de anlodipino 10mg Nifedipino R 20mg Cloridrato de diltiazem 120mg Cloridrato de diltiazem 60mg Cloridrato de verapamil 80mg Valor unitário Quantidade utilizada Custo por medicamento 0,0191 0,0147 0,08 0,095 0,1002 0,169 9375 15762,5 992 2480 5006 1382 179,06 231,71 79,36 235,60 501,60 233,56 0,9348 0,8541 365 1367 341,20 1167,55 0,0103 22959 59.688,5 236,48 3.206,12 0,1169 12102 1414,72 0,148 0,0577 0,1179 2197 1423 12613 28.335 325,16 82,11 1487,07 3.309,06 0,0181 0,0841 0,01 0,4992 0,2496 1,2375 31341 3576 31728 2197 9072 4510 567,27 300,74 317,28 1096,74 2264,37 5581,13 76 (Conclusão) Anti-hipertensivos por classe Nitrendipino 10mg Subtotal: Inibidores da ECA Captopril 25mg Captopril 50mg Maleato de enalapril 10mg Maleato de enalapril 5mg Maleato de enalapril 20mg Subtotal: Diuréticos tiazídicos Clortalidona 25mg Hidroclorotiazida 25 mg Subtotal: Diuréticos de alça Furosemida 40mg Subtotal: Bloqueador do receptor de AT1 Losartana potassica 50mg Subtotal: Total: Valor unitário 0,129 Quantidade Custo por utilizada medicamento 1344 173,38 83.768 10.300,91 0,01 0,02 0,0258 1,6736 0,4176 58468 2445 10084 630 10779,5 82.406,5 584,68 48,90 260,17 1054,37 4501,52 6.449,63 0,23 0,0149 694 20869,5 21.563,5 159,62 310,96 470,58 0,0138 18302 18.302 252,57 252,57 0,5703 62.943 62.943 35.896,39 35.896,39 59.885,26 Em relação aos custos, o medicamento losartana potássica foi o que mais contribuiu para o custo anual total (R$ 35.896,39), representando cerca de 59,94% do custo total anual dos medicamentos. 77 Figura 16: Gráfico da quantidade de comprimidos e custo por medicamento em um ano. 6.3.2 Exames O custo total anual dos exames complementares e laboratoriais foi de R$ 21.596,16. E o custo médio anual por usuário foi de R$ 194,56. As Tabelas 3 e 4 apresentam os exames realizados e o custo médio anual por usuário de cada exame. 78 Tabela 3: Média e custo médio dos exames complementares realizados pelos usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011 Exames Complementares nº Exames Média custo do procedimento Média Custo do exame SUS Exames/usuário/ano exame (R$) /usuário/ano (R$) MAPA 02.11.02.005-2 1,14 10,07 11,48 Ecocardiografia transtorácica 02.05.01.003-2 0,52 39,94 20,77 Eletrocardiograma 02.11.02.003-6 0,16 5,15 0,82 Fundoscopia 02.11.06-010-0 0,46 3,37 1,55 Holter 02.11.02.004-4 0,28 30,00 8,40 Radiografia de Tórax (PA e Perfil) 02.04.03.015-3 0,02 9,30 0,19 Radiografia de Tórax (PA) 02.04.03.017-0 0,02 6,88 0,14 Teste de esforço 02.11.02.006-0 0,89 30,00 26,70 Ultrasonografia Doppler 02.05.01.004-0 0,05 39,60 1,98 Ultrasonografia Doppler Carótidas 02.04.03.017-0 0,05 39,60 1,98 Total estimado: 74,01 Tabela 4: Média e custo médio dos exames laboratoriais realizados pelos usuários do Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010-2011 Exames Laboratoriais nº Exames Média custo do procedimento Média exame Custo do exame exame/usuário/ano SUS usuário /ano (R$) (R$) Clearence de creatinina 02.02.05.002-5 0,22 3,51 0,76 Dosagem de ácido úrico 02.02.01.012-0 3,46 1,85 6,40 Dosagem de Colesterol HDL 02.02.01.027-9 4,13 3,51 14,48 Dosagem de Colesterol LDL 02.02.01.028-7 0,63 3,51 2,21 Dosagem de Colesterol Total 02.02.01.029-5 4,19 1,85 7,75 Dosagem de creatinina 02.02.01.031-7 4,77 1,85 8,82 Dosagem de glicose 02.02.01.047-3 7,35 1,85 13,60 Dosagem de hemoglobina glicosilada 02.02.01.050-3 2,77 7,86 21,74 Dosagem de microalbumina na urina 02.02.05.009-2 0,54 8,12 4,39 Dosagem de potássio 02.02.01.060-0 3,71 1,85 6,87 Dosagem de triglicerídeos 02.02.01.067-8 4,14 3,51 14,55 Hemograma Completo 02.02.02.038-0 3,14 3,7 11,63 Urianálise 02.02.05.001-7 1,31 4,11 5,37 Urina de 24 horas 02.02.05.011-4 0,97 2,04 1,98 Total estimado: 120,55 79 6.3.3 Consultas 6.3.3.1 Consultas médicas No centro Hiperdia o usuário hipertenso é atendido pelo cardiologista e encaminhado para outras especialidades conforme suas necessidades. As especialidades médicas encontradas foram clínica, cardiologia, nefrologia e endocrinologia. Foi observado um número médio de 4,49 consultas médicas/usuário/ano, sendo o valor da consulta R$10,00. O custo médio por usuário/ano foi, portanto, de R$ 44,90 (Tabela 5). Tabela 5: Média e custo médio da consulta médica realizada por usuário/ano (2010-2011) Consulta médica nº procedimento Média Custo da Média custo da Especialidade SUS consulta/ano consulta (R$) consulta/usuário/ano (R$) Médico 03.01.01.007-2 4,49 10 44,90 6.3.3.2 Consultas não-médicas O custo médio anual total por usuário com consultas com profissionais de nível superior, exceto médico, foi de R$ 45,86. Em média, em um ano os usuários realizaram 4,46 consultas de enfermagem, 0,85 consultas com psicólogos, 1,11 consultas com nutricionista, 0,29 atendimentos com farmacêutico e 0,57 80 atendimentos com assistente social, como descrito na Tabela 6. Não foi possível contabilizar os atendimentos com dentistas e educadores físicos por falta de registros no banco de dados. Tabela 6: Média e custo médio da consulta não médica realizada por usuário/ano Consultas não médicas Média custo da nº procedimento Média Custo da consulta/usuário/ano Especialidade SUS consulta/ano consulta (R$) (R$) Enfermagem 03.01.01.004-8 4,46 6,3 28,10 Farmácia 03.01.01.004-8 0,29 6,3 1,83 Nutrição 03.01.01.004-8 1,11 6,3 6,99 Psicologia 03.01.01.004-8 0,85 6,3 5,35 Serviço Social 03.01.01.004-8 0,57 6,3 3,59 Total estimado: 45,86 O custo total anual das consultas médicas e não médicas foi de R$ 10.064,10 , e o custo médio por usuário por ano com consultas foi de R$ 90,67. 6.3.4 Custo Total por Usuário De acordo com os resultados apresentados na Tabela 7, o custo médio total anual para tratar um usuário hipertenso de alto e muito alto risco cardiovascular no Centro Hiperdia foi de R$ 824,21, e o custo médico direto total anual para tratar os 111 usuários foi de R$ 91.487,53. Deste total, os medicamentos representaram a maior parcela dos custos (64,98 %), seguindo-se os exames (24,02%) e, por último, as consultas (11,00%). 81 Tabela 7: Custo direto anual total e custo direto anual médio do tratamento da hipertensão dos usuários atendidos no Centro Hiperdia de Juiz de Fora, no período de 2010 à 2011. Item Custo médio anual 90,67 % dos gastos Custo Total Consultas 10.064,10 11,00 59.885,26 64,98 21.596,16 24,02 539,51 Medicamentos 194,56 Exames Total: 824,74 91.487,53 6.3.5 Custo com base no perfil dos usuários A seguir apresentamos os custos segundo o perfil do paciente, com base nas seguintes variáveis: sexo, cor, presença de comorbidades, idade e IMC. Na Tabela 8 estão disponíveis os custos por sexo e o valor de p obtido pelo Teste t. Observa-se que não houve diferença de custo médio entre os sexos. Tabela 8: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com o sexo dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. Custo medicamento Sexo M F Custo consulta M F Custo exames M F Custo total M F Custo médio Desvio padrão 44 489,3368 582,7852 67 565,9298 421,8502 44 86,8182 35,172 67 93,1955 41,29464 44 205,7389 104,7472 67 192,8778 102,6955 44 781,8938 623,4537 67 852,0031 466,6457 N Valor de p 0,424 0,401 0,523 0,500 Na Tabela 9 os custos são dispostos de acordo com a presença de comorbidades. Nessa tabela observamos que o custo dos exames foi ligeiramente 82 mais elevado no grupo de usuários com comorbidades, embora essa diferença não tenha apresentado significado estatístico. Tabela 9: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a presença de comorbidades nos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. Custo medicamento Presença de comorbidades Não Sim Não Custo consulta Sim Não Custo exames Sim Não Custo total Custo médio Desvio padrão 72 574,2443 513,3412 39 464,1673 443,9381 72 94,3542 36,70471 39 83,8615 42,4207 72 184,6128 100,0247 39 222,6462 105,7931 72 853,2113 556,8598 39 770,675 487,4079 N Sim Valor de p 0,261 0,177 0,064 0,438 Tabela 10: Custo total e custo por item distribuídos de acordo com a cor da pele dos usuários atendidos no Centro Hiperdia, entre 2010-2011. Cor da pele Br Custo medicamento Par Neg Br Custo consulta Par Neg Br Custo exames Par Neg Br Custo total Par Neg Custo médio N Desvio padrão 30 492,7089 419,03 47 586,481 610,315 34 503,0071 351,0246 30 81,4067 37,04351 47 95,6234 42,17832 34 91,9882 35,42169 30 232,362 120,569 47 196,9996 102,3971 34 168,9847 78,67594 30 806,4776 481,1773 47 879,1039 664,095 34 763,9801 345,5614 Cor: Br= branca ; Neg= negra ; Par= parda Valor de p 0,647 0,289 0,048 0,621 83 Com relação aos custos por cor do paciente (Tabela 10), não houve diferença de custo do tratamento entre os brancos, negros e pardos, exceto quanto ao custo dos exames, que foi ligeiramente mais elevado entre os brancos (p=0,048). Em relação ao custo por controle pressórico, observou-se, por meio de análise de variância (Tabela 11), diferença significativa no custo da consulta, ligeiramente mais elevado no grupo dos usuários que iniciaram e permaneceram com a pressão arterial descontrolada durante o acompanhamento (p =0,048). Quanto ao custo dos exames, foi maior entre os usuários que iniciaram o acompanhamento como normotensos e permaneceram nessa situação (p=0,042). O custo total também foi mais elevado entre os usuários do grupo H-H (p=0,038). 6.4 EFETIVIDADE Para avaliar a efetividade do tratamento, classificamos os usuários em quatro grupos de controle de pressão arterial. Primeiro grupo, denominado NormotensosNormotensos (N-N): usuários que iniciaram o acompanhamento com PA controlada e que ao final de um ano de acompanhamento permaneceram controlados. Segundo grupo, denominado Hipertensos-Hipertensos (H-H): usuários que iniciaram o acompanhamento no Centro Hiperdia com a pressão descontrolada e que permaneceram descontrolados. Terceiro grupo, denominado Hipertensos- Normotensos (H-N): hipertensos que alcançaram o controle. Quarto grupo, denominado Normotensos-Hipertensos (N-H): normotensos que se tornaram hipertensos após um ano de acompanhamento. A distribuição dos usuários nesses grupos foi descrita no quadro a seguir: Grupos* N-N H-H H-N N-H 28 46 30 7 Figura 17: Quadro com a distribuição dos usuários em grupos de controle da pressão arterial (*N = normotensos; H = hipertensos) 84 De acordo com a Figura 17, no início do acompanhamento a pressão arterial estava acima de 140/90 mmHg (hipertensos) em 76 usuários (68,5%). Destes, 23 (30,3%) atingiram pressão arterial ≤ 130x80 mmHg após um ano de acompanhamento, isto é, alcançaram a meta preconizada pelas VI DBH para usuários de alto e muito alto risco cardiovascular. Mas, se considerarmos “controle” uma pressão arterial < 140x90 mmHg, a taxa de usuários que alcançaram o controle da PA aumenta para 39,4% (n=30) na população em estudo. Vale destacar que, além dos 30 usuários que se tornaram normotensos, outros 28 que iniciaram o acompanhamento como normotensos permaneceram nessa condição. Sendo assim, observamos que, ao final de um ano, 58 usuários (52,2%) apresentaram a pressão arterial sob controle (PA<140/90mmHg). 6.4.1 Efetividade com base no perfil dos usuários Após estratificação, avaliamos a influência das variáveis qualitativas (sexo, cor da pele, escolaridade e presença de comorbidades) no controle da hipertensão, por meio do teste do Qui-quadrado. Os resultados demonstraram não haver associação com relação ao sexo, cor da pele e escolaridade. Observamos maior taxa de controle entre os que não apresentavam comorbidades, porém sem significância estatística (p=0,443). A relação entre o controle da pressão arterial e as variáveis quantitativas (IMC, idade e custos) foi avaliada através de análise de variância, que mostrou não haver diferença na média de idade entre os grupos estudados (p=0,68). Todavia, quanto ao IMC, os resultados mostraram um índice maior entre os usuários com PA descontrolada, com significância estatística (p=0,003). 85 Tabela 11: Associação entre as variáveis quantitativas (Idade , IMC, custos) e controle da pressão arterial de acordo com a análise de variância Variáveis Grupos* N-N Idade 59,25 13,983 46 57,59 10,186 H-N 30 60,83 12,321 N-H 7 57,71 8,655 28 27,9326 6,01607 H-H 46 33,2144 6,37608 H-N 30 29,8926 5,92318 N-H 6 28,3998 5,37181 28 481,6775 46 659,4462 611,2774 8 479,44409 30 470,5801 368,56044 7 215,6026 289,48375 N-N 28 88,8357 38,82315 H-H 46 98,8783 42,16476 H-N N-H 30 87,8533 32,44453 7 56,1000 25,15684 N-N 28 228,5000 114,59356 H-H 46 196,7752 95,09042 H-N 30 192,7283 104,36934 N-H N-N 7 106,2586 38,80042 28 799,0132 624,54005 H-H 46 955,0997 525,42162 H-N 30 751,1617 429,38091 N-H 7 377,9612 304,26592 N-N Custo medicamento H-H H-N N-H Custo total *N=normotensos;H:Hipertensos Desvio padrão 28 N-N Custo exames Média H-H IMC Custo consulta N 86 7 DISCUSSÃO A hipertensão arterial provoca importante impacto financeiro sobre os sistemas de saúde em virtude de sua alta prevalência e desfechos clínicos (AVC, DAC e IC) (VIANNA, CAETANO, CAETANO, 2005), sendo, por isso, um grave problema mundial de saúde pública. Em virtude da sua importância, encontramos muitos estudos nacionais e internacionais sobre prevalência, conhecimento e controle desta doença (MOREIRA et al., 2009; NOGUEIRA et al., 2010; PRINCE et al., 2011; PEREZ-FERNANDEZ et al., 2007; JOFRES et al.,1992; GUS et al., 2004). No entanto, poucos descrevem os custos relacionados ao seu tratamento e, aqueles que o fazem, em sua maioria, consideram apenas o custo dos medicamentos, como é o caso dos estudos realizados por Tsuji (2007), Gruezo (2007) e Moreira (2009). Em Minas Gerais, este é o primeiro estudo realizado com o objetivo de calcular os custos diretos médicos do tratamento na Atenção Secundária da hipertensão. Além disso, e diferentemente dos tratamentos propostos nos estudos acima mencionados, neste estudo o tratamento considerado é de caráter multidisciplinar. Os usuários estudados apresentaram idade média de 59 anos (DP=11,7; 2784 anos), resultado semelhante ao encontrado em um estudo realizado nas zonas urbana (57,1 anos) e rural (59,1 anos) de Juiz de Fora, Minas Gerais (MONTEIRO; FARIAS; ALVES, 2009) e no estudo realizado por Costa e colaboradores (2002), no qual a idade média observada foi de 52,5 ± 10,5 anos entre os hipertensos. Este achado demonstra que a população adulta também está susceptível ao acometimento por doenças crônicas não transmissíveis, seja pelos hábitos alimentares inadequados, que propiciam o desenvolvimento de fatores de risco para doenças crônicas, como a obesidade, por exemplo (BRASIL,2013), ou pela vulnerabilidade ao consumismo contemporâneo a que a população de adultos está sujeita, influenciando de forma negativa nos comportamentos em saúde (MOREIRA, GOMES; SANTOS, 2010). Vale ainda destacar que as doenças cardiovasculares 87 são culturalmente consideradas, inclusive por alguns profissionais de saúde, como doenças de idosos, contribuindo para uma atenção superficial à saúde da população adulta jovem (MOREIRA, GOMES; SANTOS, 2010). Houve prevalência do sexo feminino (60%) sobre o masculino (40%), resultado semelhante ao dos estudos realizados por Gruezo (2007), em que 63% dos hipertensos eram do sexo feminino e 37% do sexo masculino. Moreira, Gomes e Santos (2010) também encontraram predominância do sexo feminino entre os hipertensos (78%) e correlacionaram esse achado à maior procura das mulheres por serviços de saúde, ao fato de os horários de atendimentos dos mesmos serem mais adequados a elas e também à sobrecarga de atividades e rotina estressante, que tornam as mulheres mais propensas a desenvolver hipertensão. Porém, alguns estudos destacam que a hipertensão se torna mais prevalente em mulheres após a quinta década de vida (HAEYS et al.,2006; AMY; YEN, 2011; CESARINO et al., 2008). Amy e Yen (2011) avaliaram a cinética de transição entre os estágios da hipertensão e encontraram, em mulheres jovens, uma taxa de regressão do estágio de pré-hipertensão ao estágio de normotensão maior do que em homens da mesma faixa etária. Isso sustenta a explicação biológica para a diferença de prevalência da hipertensão entre homens e mulheres, baseada no papel protetor dos hormônios sexuais femininos, em que a redução dos níveis de estrogênio torna as mulheres com idades mais avançadas mais susceptíveis a desenvolver hipertensão. Esse achado contrasta com o encontrado na presente pesquisa, onde a prevalência de mulheres foi maior em todas as faixas etárias. Em relação à cor da pele, a maior prevalência foi observada entre os usuários pardos (42,3%), seguida por usuários negros (30,6%) e, por último, por usuários brancos (27,1%). Se considerarmos essa prevalência em apenas brancos e não brancos, esses valores se tornam 30,6% e 72,9%, respectivamente, resultado condizente com as VI DBH (2010), que descrevem a hipertensão arterial como sendo duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor não branca, e com o estudo transversal realizado em Araraquara, São Paulo, por Lolio e colaboradores (1993), no qual também foi encontrada uma maior prevalência entre os não brancos. 88 A explicação da maior prevalência de hipertensão entre os negros é contrastante na literatura, ora descrita como biológica, ora como fruto das condições socioeconômicas menos favoráveis dessa população. Barreto e colaboradores (2003) destacam um possível defeito hereditário na captação celular e no transporte renal de sódio e cálcio, o que favorece o influxo celular de sódio e o efluxo celular de cálcio, facilitando o desenvolvimento da hipertensão arterial. Para Krieger (2003), as desigualdades raciais em saúde estão relacionadas a desvantagens socioeconômicas, que levam à maior exposição a substâncias tóxicas em ambientes insalubres, assistência inadequada à saúde e discriminação racial. Comstock e colaboradores (2004) destacam como causas prováveis das disparidades raciais em saúde as condições socioeconômicas, educação, visões culturais de saúde e doença, aculturação, posições de poder e racismo. Para Cruz e Lima (1999), a história pregressa de escravidão, que marca a etnia negra brasileira, está diretamente ligada ao processo de exclusão social. De acordo com Josué (2005), raça é um conceito teórico não observável e que não explica as diferenças raciais em saúde pública, visto que essas diferenças não estão relacionadas ao nosso genoma, e sim à interação complexa entre fatores biológicos e ambientais ligados ao contexto histórico e social, gerando agravos à saúde dos indivíduos discriminados. No presente estudo encontramos IMC médio de 30,7 Kg/m² (DP= 6,4; 18,6 51,9), sendo que 51,4% dos usuários eram obesos e 31,2% apresentaram sobrepeso. Moreira, Gomes e Santos (2010) observaram uma taxa de sobrepeso de 55% entre os usuários cadastrados no programa Hiperdia de algumas unidades de saúde de Fortaleza, Ceará. Monteiro, Farias e Alves (2009) encontraram uma taxa de 54,2% de obesidade entre os hipertensos de uma zona urbana do município de Juiz de Fora, Minas Gerais, mas, na população rural, esse índice foi menor (18,1%). Em São José do Rio Preto (SP), as taxas de sobrepeso e obesidade foram de 38,5% e 32,9%, respectivamente (MOREIRA et al., 2009). A relação entre obesidade e hipertensão é frequentemente relatada na literatura (BROWN; HAYDOCK, 2000; VI DBH, 2010). Sabe-se também que a 89 redução do excesso de peso em pelo menos 5%, a restrição de sódio na alimentação e a prática de atividade física regular são fundamentais para o adequado controle dos níveis pressóricos (BRASIL, 2006b). Nesse contexto, o relatório sobre as Estatísticas da Saúde Mundial, lançado pela OMS em 2012, destaca que o aumento da obesidade traz um grande risco para a saúde, uma vez que a obesidade eleva o risco para doenças cardiovasculares e alguns cânceres. Segundo o diretor do Departamento de Estatística de Saúde e Informática da OMS, Ties Boerma, a obesidade no mundo duplicou entre 1980 e 2008, e, atualmente, 12% da população mundial é considerada obesa. Em termos de escolaridade, 65% dos usuários participantes desta pesquisa têm de 0 a < 8 anos de estudo, 12% têm de 8 a <11 anos de estudo e 21% têm ≥ 11 anos de estudo. Estes resultados são comparáveis aos dados encontrados na literatura, os quais descrevem maior prevalência de hipertensão em indivíduos com menor escolaridade (de 0 a 8 anos de escolaridade) (LÓLIO et al., 1993; MOREIRA, 2009; CESARINO et al., 2008). A hipertensão é, pelo menos, duas vezes mais prevalente em diabéticos (BRASIL, 2006b). No presente estudo, cerca de 15% dos hipertensos eram portadores de diabetes, resultado este comparável aos 12% e 18% encontrados por Monteiro, Farias e Alves (2009) nas zonas rural e urbana do município de Juiz de Fora, respectivamente. O monitoramento e tratamento inadequados da hipertensão e diabetes mellitus provocam, a longo prazo, lesões lentas e progressivas nos órgãos, dentre eles os rins, podendo levar à insuficiência renal crônica (KUSUMOTA, RODRIGUES, MARQUES, 2004). Neste estudo, observou-se que 18,6% dos hipertensos também possuíam doença renal crônica. Sabe-se que hipertensão arterial é considerada uma das principais causas de doença renal crônica, e o risco cardiovascular aumenta consideravelmente quando essas duas patologias estão associadas (LESSA, 1998; BORTOLOTTO, 2008). Segundo as VI DBH (2010), qualquer medicamento anti-hipertensivo pode ser utilizado para o tratamento da hipertensão, desde que siga as devidas indicações e 90 contraindicações. Todavia, diante de uma vasta gama de agentes anti-hipertensivos e de ensaios clínicos que trazem evidências complexas e conflitantes de sua eficácia clínica, a escolha da medicação se torna uma difícil tarefa para os médicos. A análise do perfil farmacoterapêutico da população estudada demonstrou que os medicamentos mais frequentemente prescritos foram losartana (18,9%), captopril (17,51%), besilato de anlodipino (10,4%). Os dois primeiros são distribuídos gratuitamente para população através do programa “Saúde não tem preço” do Ministério da Saúde. Em termos de classes de anti-hipertensivos, foram observados diferentes tipos de associações entre os medicamentos, com maior prevalência da associação de bloqueadores dos canais de cálcio, diuréticos e IECA. O perfil farmacoterapêutico encontrado é respaldado na literatura, onde essas associações são descritas como sendo, geralmente, bem toleradas e efetivas para usuários de alto risco (MARTINS et al., 2008; TSAI, 2011). Além disso, artigos apontam que diuréticos tiazídicos deveriam ser prescritos para a maioria dos usuários, seja sozinho ou em combinação com outras classes de anti-hipertensivos, pois, além de ser reconhecidamente eficazes, possuem baixo custo (EUA, 2004). O tratamento com betabloqueadores e diuréticos, especialmente os de longa ação, como a clortalidona, também são recomendados para usuários com HAS de difícil controle, uma vez que são capazes de atuar nas causas deste tipo de HAS, quais sejam: retenção persistente do volume intracelular e ação aumentada das catecolaminas, o que pode manter os níveis pressóricos elevados (MARTINS et al., 2008). Além disso, um estudo farmacoeconômico demonstrou que a associação de betabloqueadores e diuréticos foi custo-efetiva em relação à terapia baseada em antagonistas dos canais de cálcio e inibidores dos receptores de angiotensina II, especialmente para usuários hipertensos sem comorbidades e com PAS entre 140 e 180 mmHg e PAD entre 90 e 110 mmHg (TSUJI, 2007). No presente estudo, cerca de 86% dos usuários faziam uso de três ou mais medicamentos (média de 4,5; DP=1,74) para o controle dos níveis pressóricos. Este achado é semelhante ao encontrado na literatura, que aponta a necessidade da maioria dos usuários hipertensos utilizar dois ou mais medicamentos para alcançar 91 níveis ótimos de PA (EUA,2004; VIANNA, CAETANO, CAETANO 2005). No estudo ALLHAT, 60% dos usuários que conseguiram alcançar a meta de PA <140/90mmHg receberam dois ou mais medicamentos, e apenas 30% obtiveram controle com esquema monoterapêutico (CUSHMAN et al., 2002). Ensaio clínico controlado aponta que a monoterapia é insuficiente para alcançar a rápida redução da pressão arterial, e que as associações medicamentosas devem ser consideradas como primeira linha de tratamento para usuários de alto e muito alto risco cardiovascular (JULIUS, 2004). A associação de vários medicamentos traz benefícios como a redução de AVC, de doença arterial coronariana e de insuficiência cardíaca, mas, por outro lado, provoca aumento do custo do tratamento e piora na adesão à terapia (MARTINS et al., 2008; VIANNA, CAETANO, CAETANO, 2005). Associações e combinações fixas de fármacos, geralmente com dosagens mais baixas, trazem importantes benefícios, como menor dificuldade posológica e redução dos efeitos colaterais com mesma eficácia terapêutica, contribuindo para melhor adesão ao tratamento antihipertensivo (MARTINS et al., 2008). No entanto, na maioria das vezes, essas associações não estão disponíveis gratuitamente para os usuários, que acabam utilizando as medicações oferecidas pelo SUS e não aquelas que são consideradas melhores. É importante destacar que o tratamento de uma doença multifatorial, como a hipertensão, não deve ser baseado apenas em terapia farmacológica. É fundamental a associação do tratamento não medicamentoso com o incentivo à mudança de estilo de vida para todos os usuários (MARTINS et al., 2008). Uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e treinadores físicos é capaz de melhorar os resultados do tratamento (GOESSENS, et al., 2005). Por outro lado, existe uma relação direta entre mortalidade por doenças cardiovasculares e desigualdades sociais (BASSANESI, AZAMBUJA, ACHUTTI, 2008; NOGUEIRA, RIBEIRO, CRUZ, 2009). Assim, a prevenção ou o controle de doenças, especialmente as cardiovasculares, não são apenas uma responsabilidade individual, mas compete também ao Estado fornecer condições aos cidadãos para 92 que o conceito ampliado de saúde prevaleça na prática. De acordo com a Lei nº 12.864, de 24/09/13, alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, atividade física, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços são determinantes e condicionantes de saúde, e a ausência de algum desses fatores torna o indivíduo mais vulnerável às doenças. Foram encontrados poucos estudos sobre o custo do tratamento da hipertensão. Em termos de custos médicos diretos da assistência à hipertensão e diabetes, o estudo mais completo foi realizado em uma unidade de saúde pública de média complexidade de Recife em 2007. Porém, a contabilização dos custos foi realizada pela técnica de custeio por absorção (que consiste na apropriação integral de todos os custos, diretos e indiretos, fixos e variáveis) e de rateio. Além disso, foram considerados como custos diretos o pagamento de funcionários, suprimentos, material de consumo, serviços de terceiros, instalações físicas, medicamentos, exames e serviços ambulatoriais (MARINHO et al., 2011), diferentemente da técnica empregada neste trabalho, dificultando as comparações. Em Pelotas (RS), Costa e colaboradores (2002) calcularam os custos diretos com base em medicamentos, exames, consultas, plano de saúde e gastos com transporte, além de ter contabilizado os custos indiretos com o tratamento da hipertensão, comparando-os com o custo para se tratar a diabetes e a bronquite crônica. Neste estudo, os custos com plano de saúde e exames laboratoriais considerados foram aqueles relatados pelos usuários, o que pode ser fonte de viés, uma vez que depende da lembrança por parte dos mesmos. Dib e colaboradores (2010) também realizaram um importante estudo que estimou o custo direto anual da hipertensão no Brasil, por meio de um modelo econômico de árvore de decisão. Todavia, o estudo apresenta a limitação de estar vinculado a várias suposições. Diferentemente, no presente estudo os custos diretos do tratamento da hipertensão foram calculados com base no tratamento “real” dos usuários hipertensos. O custo médico direto total anual para o tratamento da hipertensão arterial dos 111 usuários deste estudo foi de R$ 91.487,53, e o custo médio anual por usuário foi de R$ 824,21. A comparação desses valores com os encontrados em outros estudos fica 93 prejudicada devido à variabilidade metodológica entre os mesmos. Por exemplo, o custo direto médio mensal encontrado por Costa e colaboradores (2002) foi de R$ 85,25. Transformado em custo médio anual, esse valor seria de R$1.023,00, resultado maior do que o que encontramos. Isso porque, além dos custos com medicação, consulta e exames, os autores consideraram os custos relacionados aos meios de transporte e planos de saúde, não abordados no presente estudo. No entanto, grosso modo, em termos de eventos cardiovasculares, é possível comparar o custo médico direto para tratar a hipertensão com o impacto do não tratamento sobre o sistema público de saúde, uma vez que, reconhecidamente, o tratamento da hipertensão reduz significativamente a ocorrência desses eventos (NEAL; MACMAHON e CHAPMAN, 2000). De acordo Azambuja e colaboradores (2008), os custos diretos em saúde para tratar a doença cardiovascular grave é de R$ 3.514,00 por usuário/ano. Esse valor é quatro vezes maior do que o custo direto total encontrado no presente estudo para tratar um usuário de alto e muito alto risco cardiovascular, o que sugere a viabilidade econômica do tratamento proposto pelo Centro Hiperdia e seu potencial em reduzir custos com internações por eventos cardiovasculares, uma vez que o objetivo do tratamento oferecido é, justamente, reduzir a ocorrência desses eventos em usuários hipertensos e diabéticos. Os medicamentos representaram a maior parcela do custo médico direto total, 65%, dado que é frequentemente relatado na literatura. Em Ravena, Itália, os medicamentos representaram 46% do custo total para tratar a hipertensão (ESPOSTI et al.,2001) No Brasil, uma estimativa do custo anual da hipertensão no Brasil descreve que os medicamentos foram responsáveis por 52,3% do custo direto total anual do tratamento da hipertensão pelo SUS (DIB, RIERA e FERRAZ, 2010). Outros estudos brasileiros também apontam os medicamentos como responsáveis pela maior parcela dos custos diretos da hipertensão (MARINHO et al., 2011; COSTA et al., 2002). Os exames representaram o segundo maior componente dos gastos, com aproximadamente 24% do custo médico direto total. Por último, as consultas foram 94 responsáveis por cerca de 11% do custo médico total. Este resultado é contrastante com o de Costa e colaboradores (2002), no qual as consultas médicas, seguidas dos testes laboratoriais, foram os custos mais caros depois dos medicamentos. No presente estudo, além dos exames laboratoriais, consideramos os exames complementares, que são mais caros, e representando, por isso, a segunda maior parcela dos custos. O custo com exames foi ligeiramente mais elevado nos usuários brancos (p= 0,048) e também naqueles com comorbidades, porém sem significância estatística. É importante ressaltar que o custo do tratamento foi calculado com base na tabela de procedimentos SUS, cujos valores são bastante defasados em relação aos custos reais dos serviços (MARINHO et al., 2011). Apesar do reconhecido benefício do tratamento da hipertensão e dos riscos associados a essa doença, a taxa de usuários sob tratamento, que têm sua condição controlada, ainda é pequena em todo o mundo (CHOBANIAN, 2003). Uma das principais causas das baixas taxas de controle da hipertensão é a não adesão ao tratamento (PRADO, KUPEK e MION, 2007). Neste estudo, a taxa de usuários que alcançaram a meta preconizada para usuários de alto e muito alto risco cardiovascular (PA ≤130/80 mmHg), ou seja, a taxa de controlados, foi de 30,3%. No entanto, se considerarmos como controlados os usuários que atingiram níveis pressóricos inferiores a 140/90 mmHg, para efeito de comparação com outros estudos, essa taxa aumenta para 39,4% na população em estudo. E 52,2% de todos os pacientes do estudo permaneceram ou alcançaram uma PA menor ou igual a 140/90 mmHg. Variáveis como sexo, raça, escolaridade e idade não influenciaram na taxa de controle da pressão arterial. Estudo transversal randomizado que avaliou o nível de conhecimento e controle da HAS em relação à idade, gênero, nível socioeconômico, escolaridade e IMC, também não observou diferença significante na taxa de controle pressórico entre os gêneros e nas diferentes faixas de IMC, porém encontrou maior prevalência de controle na classe social AB e em pacientes com maior escolaridade (MOREIRA, 2008). Observou-se, no presente estudo, que variáveis como presença de 95 comorbidades e IMC interferiram na taxa de controle. Houve menor taxa de controle entre aqueles com comorbidades (p=0,443) e também entre os usuários com IMC elevado (p= 0,003). É sabido que, para usuários que apresentam outras condições clínicas associadas, como diabetes e insuficiência renal, o alcance das metas pressóricas preconizadas é mais difícil de ser atingido, especialmente porque, nesses grupos, os valores de PA desejáveis são mais baixos, visando reduzir as lesões em órgão-alvo (LAZARUS, 1997; HOLMAN, 2008; BORTOLOTTO, 2008b). Estudo longitudinal realizado pela Universidade de Insubria, Itália, que objetivou avaliar a taxa de controle da hipertensão na Atenção Primária com base nas diretrizes da OMS e da Sociedade Internacional de Hipertensão (ISH) de 1999, observou que apenas 33,4% dos usuários obtiveram controle da PA (GRANDI, et al., 2006). No Brasil, as taxas de controle descritas nos estudos são bastante diferentes. No Rio Grande do Sul, Gus e colaboradores (2004) encontrou 10,4% de controle entre os hipertensos; em São José do Rio Preto (SP), essa taxa foi de 52,9% (MOREIRA et al., 2009); em Cianorte (PR), pesquisadores observaram uma taxa de controle de 20,9% entre hipertensos de 20-69 anos (OLIVEIRA e NOGUEIRA, 2003), e no Rio de Janeiro (RJ), funcionários de uma universidade apresentaram uma taxa de controle de aproximadamente 60%, resultado bastante elevado em relação aos estudos encontrados, mas justificado por se tratar de uma população que também apresentava maiores taxas de reconhecimento e tratamento da doença – 80% e 68%, respectivamente (NOGUEIRA D et al., 2010). Outro estudo, realizado em âmbito nacional, que avaliou 2.810 hipertensos sob tratamento, encontrou a seguinte distribuição de taxas de controle, de acordo com os grupos específicos: grupo A (HAS estágios 1 e 2, risco adicional baixo e médio) = 37,51%; grupo B (HAS e PA limítrofe, risco adicional alto) = 24,52%; grupo C (HAS e PA limítrofe, risco adicional muito alto, incluindo diabéticos) = 26,98% e grupo D (HAS com nefropatia e proteinúria > 1 g/l) = 11%. No total, a taxa de controle observada nesse estudo foi de 53,3%. Os autores ainda destacaram que, embora sejam taxas aparentemente elevadas, ainda estão muito aquém do desejado (NOBRE, RIBEIRO e MION, 2010). 96 Diante desses dados, observamos que a taxa de controle encontrada no presente estudo é ligeiramente mais elevada do que as encontradas para usuários de alto e muito alto risco cardiovascular. No entanto, esforços são necessários para se alcançarem taxas mais elevadas de controle, haja vista os benefícios do controle adequado da PA, especialmente para o grupo de usuários em questão. É importante ressaltar que um achado deste estudo foi que, dos 35 usuários (20%) que iniciaram o tratamento como normotensos, sete tornaram-se hipertensos após um ano de acompanhamento (PA>140/90mmHg). Um estudo em Ravena, Itália, denominado Projeto Pandora, também observou que cerca de 36% dos normotensos tornaram-se hipertensos após um ano de tratamento (BERTO et al., 2002). Essa é uma questão que necessita de investigação mais completa, a fim de se avaliarem as possíveis falhas no tratamento, adesão à terapia, comportamento e estilo de vida dos usuários, uso concomitante de outros medicamentos com efeito hipertensor ou presença de hipertensão resistente. Além disso, sabe-se que o controle adequado da HAS vai além das terapias, necessitando da participação ativa do hipertenso e coparticipação da família, dos profissionais da saúde e do adequado desempenho dos programas de saúde (LESSA, 2006). Quanto às limitações deste estudo, é importante destacar que não contabilizamos os custos com pessoal, com a aquisição, manutenção e depreciação dos equipamentos e o custo dos insumos utilizados na realização dos exames, o que gerou uma subestimação do verdadeiro custo para se tratar, sob a ótica multidisciplinar, um usuário hipertenso. A implementação de um centro de custos na unidade de saúde sob estudo seria essencial para novos estudos econômicos. Outra limitação foi a utilização da taxa de usuários controlados para avaliar a efetividade do tratamento, que seria mais bem medida se fosse considerada a redução de eventos cardiovasculares (WORLD HYPERTENSION LEAGUE, 1995). Mas, diante da ausência de dados para avaliar a ocorrência desses eventos na população sob estudo, a taxa de usuários controlados encontra respaldo em outros estudos (COSTA et al., 2002; MOREIRA et al., 2009). Além disso, a relação entre 97 PA e o risco de eventos cardiovasculares é contínua, consistente e independente de outros fatores de risco (JNC 7, 2004). Este estudo foi inicialmente desenhado para se realizar uma análise econômica completa de custo-efetividade, onde dois programas de tratamento secundários da hipertensão seriam comparados. Deparamo-nos, porém, com a falta de padronização dos dados (ausência de prontuários bem estruturados) e com a inexistência de registros fundamentais para uma análise econômica no outro Centro de Atenção ao Hipertenso que seria estudado. Sendo assim, só foi possível a realização de uma análise incompleta de custos e resultados. 98 8 CONCLUSÃO Os princípios constitucionais do SUS – universalidade, integralidade e equidade – são bastante abrangentes para um sistema de saúde que conta com recursos limitados. Nesse contexto, as avaliações econômicas em saúde são ferramentas importantes na gestão do SUS, e seus resultados podem embasar o processo de tomada de decisão, apontando qual tecnologia, programa ou ação se mostra mais custo-efetiva, permitindo uma alocação mais efetiva dos recursos públicos. A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente e diretamente relacionada a eventos cardiovasculares e cerebrovasculares, e provoca forte impacto financeiro sobre os sistemas de saúde e previdenciário. No entanto, avaliações econômicas sobre o tratamento dessa patologia ainda são escassas, embora haja muitos estudos que avaliam apenas os custos e a efetividade das terapias medicamentosas e que comparam dois ou mais esquemas terapêuticos. Os estudos que consideram os custos médicos diretos do tratamento da hipertensão ainda apresentam muitas diferenças metodológicas entre si, especialmente os custos diretos considerados e suas fontes de consulta, dificultando as comparações entre os mesmos. Há, todavia, reconhecidos esforços da área de Economia da Saúde do Ministério da Saúde para padronizar as avaliações econômicas em saúde, por meio da criação de diretrizes e manuais para as análises econômicas. Este foi o primeiro estudo que avaliou o custo médico direto e a efetividade de um programa multidisciplinar de atenção ao hipertenso de alto risco em Minas Gerais, observando a peculiaridade de considerar os custos reais do tratamento dos hipertensos. Acima de tudo, o presente estudo visa contribuir para a discussão da importância das análises de custo dos serviços de saúde, pois, através delas, tornase possível identificar quais serviços ou procedimentos consomem mais recursos financeiros e se seu custo compensa os benefícios que trazem. 99 O custo médio direto total por usuário encontrado neste estudo foi de R$ 824,21 e custo total foi de R$ 91.487,53. Não houve diferença de custo em relação ao sexo, idade e escolaridade. Porém, observou-se custo dos exames maior entre os usuários brancos e naqueles com comorbidades. O custo das consultas foi mais elevado em usuários que não alcançaram o controle pressórico, e o custo com exames foi maior no grupo de usuários que permaneceram normotensos durante o acompanhamento no Centro Hiperdia. Os medicamentos representaram a maior parcela dos custos médicos diretos do tratamento da hipertensão, o que é frequentemente relatado na literatura nacional e internacional, seguidos dos exames e das consultas médicas e não médicas. A redução dos custos com os medicamentos pode ser uma tarefa bastante difícil, pois, para os usuários de alto e muito alto risco cardiovascular, são necessários vários medicamentos para adequado controle da hipertensão, o que aumenta consideravelmente o custo do tratamento medicamentoso. É importante lembrar que os custos foram valorados com base na tabela de procedimentos do SUS (SIGTAP), que apresenta valores bastante defasados, não representando, portanto, o custo real das consultas e exames, aqui subestimados. Se houvesse um centro de custo na unidade de saúde pesquisada, a pesquisa poderia ter sido enriquecida com a comparação entre os custos verdadeiros e aqueles reembolsados pelo SUS. Além disso, o centro de custo poderia fornecer dados importantes para futuras pesquisas econômicas em saúde. A taxa de controle encontrada (30,3% considerando PA < 130/80 mmHg; e 39,4%, considerando PA< 140/90mmHg), embora não seja a ideal, foi maior do que as taxas usualmente encontradas para usuários de alto e muito alto risco cardiovascular, o que pode estar associado ao tratamento de caráter multidisciplinar oferecido no Centro Hiperdia de Juiz de Fora. O tratamento multidisciplinar da hipertensão é o mais indicado, uma vez que se trata de uma condição clínica multifatorial e que exige múltiplas abordagens. No entanto, esforços por parte dos profissionais de saúde, usuários e gestores são necessários para se alcançarem taxas de controle mais elevadas. 100 O adequado controle da hipertensão arterial é condição ímpar para se reduzirem os custos da doença tanto para o indivíduo, quanto para a família, a sociedade e, principalmente, para os sistemas de saúde e previdenciário, além de proporcionar a redução de eventos cardiovasculares e melhorar a qualidade de vida dos usuários. 101 REFERÊNCIAS ALVES JÚNIOR, A.C. Consolidando a Rede de Atenção às Condições Crônicas: Experiência da Rede Hiperdia de Minas Gerais. Inovação na gestão do SUS: Inovações locais. Organização Pan-Americana de Saúde, 2011 a. ALVES JÚNIOR, A.C. O desafio de consolidar a Rede de Hipertensão e Diabetes em Minas Gerais.In Seminário Estado e municípios mineiros construindo Redes de atenção à saúde. Out, 2011b. 37 slides. Disponível em:< http://www.slideshare.net/SESMG/apresentao-desafios-da-rede-hiperdia-dr-ailtoncezrio-alves-jnior-ses>. Acesso em: 15 fev. 2012. Apresentação em Power Point. AMBROSIONI, E. Pharmacoeconomics of hypertension Management The place of Combination Therapy. Pharmacoeconomics,v.19, n.4, p.337-347, 2001. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of Medical Care in Diabetes— 2010. Diabetes Care, v. 33, jan 2010. Supl. 1 AREDA, C.A; BONIZIO, R.C ; FREITAS, O de. Pharmacoeconomy: na indispensable tool for the rationalization of health costs. Brazilian Journal Pharmaceutical /sciences, v.47, n.2, p.231-239,apr./jun. 2011. AUTORIDADE NACIONAL DO MEDICAMENTO E PRODUTO DE SAÚDE (INFARMED) (Portugal). Orientações Metodológicas para Avaliação Económica de Medicamentos. Lisboa, 1998.44 p. AZAMBUJA, M. I. R et al. Impacto Econômico dos casos de Doenças cardiovasculares grave no Brasil: uma estimativa Baseada em Dados Secundários. Arq Bras Cardiol, v. 91, n.3, p.163-171, 2008. BALBINOTTO, N., G; SILVA, E. N da. Os custos da doença cardiovascular no Brasil: um breve comentário econômico. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 91, n. 4, Oct. 2008 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066782X2008001600002&l ng=en&nrm=iso> Accesso em: 13 Fev. 2012. BAHIA,L. Brasil gasta com saúde pública metade do que investem países como Alemanha e Canadá: País injeta 3,6% do PIB no setor, enquanto europeus e canadenses usam ao menos 6%: depoimento. [19/09/2011]. R7 notícias. Entrevista concedida à Camila Neumam e Marina Novaes. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/gasto-com-saude-publica-no-brasil-e-metadedo-usado-nos-paises-que-tem-esses-servicos-de-graca 20110921.html> 102 BASSANESI, S.L, AZAMBUJA, M.I, ACHUTTI,A. Mortalidade precoce por doenças cardiovasculares e Desigualdades Sociais em Porto Alegre: da evidência à ação. Arq Bras Cardiol, v.90, n.6, p.403-412, 2008. BARRETO, N.D.M. et al. Prevalência da hipertensão arterial nos indivíduos de raça negra. Arquivos Brasileiros de Medicina, v. 67, n. 6, p. 449-51, 1993. CRUZ, I. C.; LIMA, Roberta. Etnia negra: um estudo sobre a hipertensão arterial essencial (HAE) e os fatores de risco cardiovasculares. Revista de Enfermagem UERJ, p. 33-44, 1999. BERNARD, D.B; TOWNSEND R.R; SYLVESTRI, M.F. Health and disease management: what is it going? What is the role of health and disease management of hypertension? Am J Hypertens, v. 11, p. 103S-108S,1998. BERTO, P. et al.The Pandora Project: Cost of Hypertension from General Practitioner Database. Blood Pressure, v.11, p.151-156,2002. BORTOLLO, L. A. Hipertensão arterial e insuficiência renal crônica. Rev Bras Hipertens, v.15, n.3, p.152-155, 2008. BORTOLOTTO,LA. Hipertensão arterial de difícil controle em usuários com doença renal progressiva e diabetes mellitus. Rev Bras Hipertens,v.15, n.1, p:21-24, 2008b. BRASIL. Ministério da previdência.. Anuário Estatístico da Previdência Social 2011. Brasília v.20 p.1-888 350. Disponível em:<http://www.previdencia.gov.br/arquivos/office/1_121023-162858-947.pdf> BRASIL. Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Secção II, artigo 196. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 20 dez. 2011. BRASIL. Lei Nº 12.864, DE 24 DE SETEMBRO DE 2013. Altera o caput do art. 3º da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, incluindo a atividade física como fator determinante e condicionante da saúde. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12864.htm>. Acesso em: 16 nov. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de ações Programáticas Estratégicas. Plano de Reorganização da Atenção à hipertensão arterial e ao diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2001. 102 p.: Il.- (Série. Projetos, Programas e Relatórios; n.59). ______. ______. Secretaria de Políticas de Saúde. Plano de reorganização da atenção a hipertensão arterial e ao diabetes mellitus. Manual de hipertensão arterial e diabetes mellitus. Brasilia-DF, 2002. 103 ______. ______. DATASUS. SIGTAP - Sistema de gerenciamento da tabela de procedimentos, medicamentos e OPM do SUS. [20---c]. Disponível em: <http://sigtap.datasus.gov.br/tabelaunificada/app/sec/procedimento/publicados/consu ltar>. Acesso em: 20 dez. 2012. ______. ______. [Internet]. Secretaria Executiva. DATASUS. Informações epidemiológicas e morbidade. Informações de Saúde. Acesso em: 03 jun. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica - n.º 14. Prevenção clínica de doença cardiovascular, cerebrovascular e renal crônica. Brasília- DF 2006 a. ______. ______.. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Reorientação dos Serviços de Saúde. Doenças Relacionadas à alimentação e Nutrição. Disponível em:<http://nutricao.saude.gov.br/pas.php?conteudo=reorientacao_servicos>. Acesso em: 16 de set de 2013. ______. ______. Secretaria de Atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica. Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema único de Saúde- SAS/ Brasília: Ministério da Saúde, 2006b. 58p. (Cadernos de Atenção Básica nº15) (Série. Normas e Manuais Técnicos). ______. ______. Secretaria- Executiva. Área de Economia da Saúde e Desenvolvimento. Avaliação econômica em saúde. Desafios para a gestão do Sistema Único de Saúde. Brasília-DF 2008. ______. ______. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia. Diretrizes metodológicas. Estudos de Avaliação Econômica de Tecnologias em Saúde. Brasília-DF 2009. ______.______. Secretaria-Executiva. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Glossário Temático: Economia da Saúde.– Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2009 b. 2 ed ampliada. 60 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). ______. ______. DATASUS. Informações de Saúde: mortalidade – Brasil. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/niuf.def>. Acesso em: 16 dez. 2011. ______. ______. Departamento de Atenção básica. Hipertensão e diabetes. Escore de Framingham. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/cnhd/score_framingham.php> Acesso em; 20 fev. 2012. BROWN, M .J; HAYDOCK, S. Pathoaetiology, Epidemiology and Diagnosis of Hypertension. Drugs, v.59, Suppl 2, p.1-12, 2000. 104 CALHOUN, D.A., et al. Resistant hypertension: diagnosis, evaluation, and treatment a scientific statement from the American Heart Association Professional Education Committee of the Council for High Blood Pressure Research. Hypertension. v.51, n.6, p.1403-9, jun 2008. Disponível em: <http://hyper.ahajournals.org/content/51/6/1403.long>>. Acesso em: 13 de fev 2012. CARVALHO, G. Estimativas de gasto com saúde no Brasil em 2009. Disponível em: <http://www.idisa.org.br/site/documento_2141_0__2010---27---532---estimativade-gasto-com-saude-no-brasil-em-2009.html> Acesso em: 03 mar. 2011. CASTRO, J. D de. Instrumentos para a Avaliação Econômica dos Serviços de Saúde. In: Encontro Nacional de Economia da Saúde, 6. 200. Nova Friburgo. Anais. Brasília: IPEA/ Ministério da Saúde/ DIFID, 2002. CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC). Vital Signs: Prevalence, Treatment, and Control of Hypertension,- United States, 1999--2002 and 2005--2008. Morbidity and Mortality Weekly Report, 4, fev. 2011 . N.4, v.60, p.103-108. Disponível em: <http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm6004a4.htm?s_cid=mm6004a4_w . Acesso em: 26 dez. 2011. CESARINO, C.B et al. Prevalência e fatores sociodemográficos em Hipertensos de São José do Rio Preto. Arq. Bras Card;91(1):31-35.,2008. CHOR, D; LIMA, C. R.A. Aspectos epidemiológicos das desigualdades raciais em saúde no Brasil Epidemiologic aspects of racial inequalities in health in Brazil. Cad. Saúde Pública, v. 21, n. 5, p. 1586-1594, 2005. COMSTOCK, R. D. et al. 2004 Four-year review of the use of race and ethnicity in epidemiology and public health research. American Journal of Epidemiology, v. 159, n. 6, p. 611-9,2003. CORREA, T. D. et al. Hipertensão arterial sistêmica: atualidades sobre sua epidemiologia, diagnostico e tratamento. Arq Med ABC, v.31, n.2, p.91-101, 2005. COSTA, J.S. D da. et al. Cost-effectiveness of hypertension treatment: a populationbased study. São Paulo Med J/ Rev Paul Med, v.120, n.4, p.100-104, 2002. CUSHMAN, W.C. et al. Sucess and predictors of blood pressure control in diverse North American settings: the Antihypertensive and Lipid Lowering Treatmente to Prevent Heart Attack Trial (ALLHAT). J Clin Hypertens (Greenwich), v4, p:393-404, 2002. D’AGOSTINO, R. B et al. General Cardiovascular Risk Profile for Use in Primary Care. The Framingham Heart Study. Circulation, v.117, p.743-753, 2008. 105 DAHLO, B; SEVER, P.S; POULTER, N.R, et al for the ASCOT Investigators. Prevention of cardiovascular events with an antihypertensive regimen of amlodipine adding perindopril as required versus atenolol adding bendroflumethiazide as required, in the Anglo-Scandinavian Cardiac Outcomes Trial-Blood Pressure Lowering Arm (ASCOT-BPLA): a multicentre randomised controlled trial. Lancet, v.366, p:895–906, 2005. DAHLÖF, B et al. for the LIFE Study Group. Cardiovascular morbidity and mortality in the Losartan Intervention For Endpoint reduction in hypertension study (LIFE): a randomised trial against atenolol. Lancet, v.359, p .995–1003, 2002. DEL NERO, C.R. O que é economia da saúde. In: Piola SF, VIANNA, CAETANO SM (ed). Economia da Saúde. Conceito e Contribuição para a Gestão da Saúde, 1a edição. IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Brasília, 1995. DIB, M.W; RIERA, R; FERRAZ, M.B. Estimated annual cost of arterial hypertension treatment in Brazil. Rev Panam Salud Publica, v.27, n.2, p.125-31, 2010. DRUMMOND, M. F. et al. Methods for the economic evaluation of health care programs. 3 ed. New York: Oxford University Press, 2005. EKMAN; BEUZON-BIENFAIT, C, JACKSON, J. Cost-effectiveness of irbesartan/ hydrochlorothiazide in patients with hypertension:na economic evaluation for Sweden. Journal of Human Hypertension, v.22, n.7, p.845-855. Jul. 2008. ELLIOT, W.J. The economic impact of hypertension. J Clin Hypertens, v.5, n.3, p. 313, 2003. Suppl 2. EPOSTI, E. D et al. The PANDORA project: results of the cost of illness analysis. Journal of Human Hypertension,v.15, p.329-334, 2001. ESTADOS UNIDOS. Department of Health and Human Services. National Institutes of Health. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. NIH Publication nº. 04-5230, Aug 2004 . Disponível em <http://www.nhlbi.nih.gov/guidelines/hypertension/jnc7full.pdf> Acesso em: 29 nov. 2011 FILHO, MN; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad. de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19 (Sup.1):s181-S191, 2003. FOGARI, R et al. Combination Delapril/Manidipine as Antihypertensive Therapy in High-Risk Patients. Clin Drug investing,v.31, n.7, p:439-453, 2011. 106 FUCHS, F. D; ZEN, V.L; MELCHIOR, R. Tratamento anti-hipertensivo na prevenção de acidente vascular encefálico: qual a droga? Rev Bras Hipertens, v.4, p. 383-86, 2000. FUNDAÇÃO INSTITUTO MINEIRO DE ESTUDOS E PESQUISA EM NEFROLOGIA (IMEPEN). Centro Hiperdia. Disponível em:< http://www.imepen.com/hiperdia/> Acesso em: 12 fev. 2012. GOLD, M. R. et al. Cost-effectiveness in health and medicine. New York: Oxford Univerity Press, 1996. GRANDI, A.M, et al. Longitudinal study on hypertension control in primary care: Insubria study. AJH, v.19, n.2, p:140-145 GROESSENS, M., et al. Multidisclipinary vasular screening program modestly improves the medical treatment of vascular risk factors. Cardiovasc Drugs Ther ;v. 19, p.429-35, 2005 GROSSO, A.M et al. Comparative clinical- and cost-effetiveness of candesartan and losartan in the management of hypertension and heart failure: a systematic review, meta- and cost-utility analysis. Int J Clin Pract, v.65, n.3, p. 253-263, mar. 2011. GRUEZO, N.D. Cálculo do custo do tratamento farmacológico da hipertensão arterial: comparação entre dois protocolos.2007. Dissertação (Mestrado em Saúde da Família, área de concentração Farmacologia) Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2007) GUIMARÃES, H. P et al. Estudos de farmacoeconomia e análises econômicas: conceitos básicos. Rev Bras Hipertens, v.14, n.4, p.265-268, 2007 GUS , I et al. Prevalência, reconhecimento e controle da Hipertensão arterial sistêmica no estdo do Rio Grande do Sul. Arq. Bras Cardiol, v.83,n. 5, p.429-33, 2004 HANSSON, L. et al. Effects of intensive blood-pressure lowering and low-dose aspirin in patients with hypertension: principal results of the Hypertension Optimal Treatment (HOT) randomised trial. HOT Study Group. Lancet,v. 351, p. 1755–62, 1998. HAYCOX, A. What is Health economics. Health economic, What is…?series ,2ª ed. Disponível em: whatisseries.co.uk. Acesso em 02 ago. 2011 HAYES, D.K et al. Racial/Ethnic and Socioeconomic Differences in Multiple Risk Factors for Heart Disease and Stroke in Women: Behavioral Risk Factor Surveillance System. Journal of Womens’s Heath , v.15, n.9,2006. 107 HEIDENREICH, P.A et al. Cost-effectiveness of Chlorthalidone,Amlodipine, and Lisinopril as first-step Treatment for Patients with hypertension: An Analysis of the Antihypertensive and Lipid-Lowering Treatment to Prevent Heart Attack Trial(ALLHAT). J.Gen Internal Medicine, v. 2, n.5, p.509-16, jan. 2008. HERRERA, M. M. C; BALBÍN, N. C. La Farmacoeconomía em la industria farmacêutica y El sistema sanitário de Cuba. Rev. Panam Salud Publica, v.10, n.4,p.263-267, 2001. HOLMAN, R. R,et al.. Long-term follow-up after tight control of blood pressure in type 2 Diabetes. N Engl J Med.v. 359 ,n.15, p: 1565-76,2008. IBGE. Sinopse do Censo demográfico de 2010. Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=12&uf=00. Acesso em: 03 mar. 2012. IRMAK, Z , DUZOZ, G; BOZYER, I. The effectivenessof a follow-up program on blood pressure and cardiovascular risk factors for hypertensive pacients. Australian Journal of advanced nursing, v. 28, n.2, p. 60-66,2011. JOFFRES, M.R. et al. Prevalence, control and awareness of high blood pressure among Canadian Heart Health Surveys Research Group. CMAJ, v.146, n.11, p.1997-2005, 1992 JÖNSSON, B., HANSSON, L. STALHAMMAR,N-O. Health economics in the Hypertension Optimal Treatment (HOT) study:costs and cost-effectiveness of intensive blood pressure lowering and low-dose aspirin in patients with hypertension. Journal of Internal Medicine,v. 253, p:472-480, 2003. JOSUE, L.. Raça, genética & hipertensão: nova genética ou velha eugenia?.Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, Aug. 2005 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010459702005000200008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 Maio 2013. JULIUS , S et al. Outcomes in hypertensive patients at high cardiovascular risk treated with regimens based on valsartan or amlodipine: the VALUE randomised trial. Lancet v. 19(9426), p:2022-31, 2004. JULIUS , S et al. The Valsartan Antihypertensive Long-Term Use Evaluation (VALUE) trial: outcomes in patients receiving monotherapy. Hypertension,v. 48, p:385–91, 2006. KALACHE, A; VERAS, R. P; RAMOS, L.R. O envelhecimento da população mundial: um novo desafio. Rev. saúde pública, São Paulo, v.21, n.3, p.200-210, jun. 1987. 108 KEARNEY, P.M. et al. Global burden of hypertension: analysis of worldwide data. The Lancet, v. 365, n.9455, p. 217 - 223, jan. 2005. KRIEGER, N. Does racism harm health? Did child abuse exist before 1962? On explicit questions, critical science, and current controversies: na ecosocial perspective. Am J Public Health;93:194-9, 2003 KUSUMOTA,L., RODRIGUES R.A.P, MARQUES S. Idosos com insuficiência renal crônica: alterações do estado de saúde. Rev Latinoam Enfermagem 2004 maiojunho; 12(3):525-32. LAZARUS J.M, et al. Achievement and safety of a low blood pressure goal in chronic renal disease: the Modification of Diet in Renal Disease Study Group. Hypertension. V.29,n.2, p:641-50,1997. LAW, M.R et al. Value of low dose combination treatment with blood pressure lowering drugs: Analysis of 354 randomised trials. BMJ , v.326, p.1427-34, 28 jun 2003. LESSA I, organizador. O adulto brasileiro e as doenças da modernidade. São Paulo (SP): HUCITEC-ABRASCO; 1998. LESSA,I. Impacto social da não-adesão ao tratamento da hipertensão arterial. Rev Bras Hipertens, v.13, n.1: 39-46, 2006. LEWINGTON,S et al. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular mortality. Lancet, v.360, p.1903-13, 2002. LINJER, E. et al. Cost Analysis of different pharmacological treatment strategies in elderly hypertensives. Blood Pressure,v.14, p.107-113, 2005. LOLIO,C.A, de et al. Hipertensão arterial e possíveis fatores de risco.Rev. Saude Pública, 27:357-62,1993. LOURENÇO, O.; SILVA, V. Avaliação económica de programas de saúde. Essencial sobre conceitos, metodologia, dificuldades e oportunidades.Rev Port Clin Geral, v. 24, p. 729-752, 2008. MANCIA, G et al. 2007 Guidelines for Management of arterial Hypertension. The Tasf force the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension (ESH) and of the Europe Society of Cardiology (ESC). European Heart J, v.28, p. 1462-1536, 2007. MARINHO, M.G da S. Análise de custos da assistência à saúde aos portadores de diabetes melito e hipertensão arterial em uma unidade de saúde pública de 109 referência em Recife- Brasil. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 55, n.6, p.406-411, 2011. MARTINS. L.C. et al. Tratamento medicamentoso do usuário com hipertensão de difícil controle. Rev Bras Hipertens v. 15, n.1, p:28-33,2008. MINAS GERAIS. Secretaria Estadual de Saúde. Atenção à saúde do adulto: Hipertensão e diabetes. 2 ed.-Belo Horizonte: SAS/MG,2007. ______. ______. Institui o Programa Hiperdia Minas e dá outras providências. Resolução SES Nº 2.606, de 7 de dezembro de 2010.Disponível em:<http://www.saude.mg.gov.br/politicas_de_saude/rede-hiperdiaminas/Resolucao%202606_10.pdf> Acesso em: 12 fev. 2012. ______.______. Coordenação de Hipertensão e Diabetes. Informe Técnico sobre a Linha Guia de hipertensão e diabetes. Enviado por e-mail à Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora, em 05 out. 2011. ______. Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão. Portal de compras de Minas Gerais. Banco de Preços. [20--]. Disponível em : https://wwws.bancoprecos.mg.gov.br/banco_precos/ConsultaPalavra Acesso em: 26 out 2012. MONTEIRO,C.N; FARIAS,R.E; ALVES, M.J.M. Perfil de hipertensos em populações urbana e rural no estado de Minas Gerais. Rev. APS, v.12, n,1, p.48-53, jan/mar 2009. MORAES, E. et al. Conceitos introdutórios de economia da saúde e o impacto social do abuso de álcool. Rev Bras Psiquiatr, v.28, n.4, p.321-5, 2006. MOREIRA, G. C. et al. Evaluation of the awareness, control and cost-effectiveness of hypertension treatment in a Brazilian city: populational study. Journal of Hypertesion, v.27, p.1900-1907, 2009. MOREIRA, G. C. Prevalência do Conhecimento, Tratamento, Controle e Custoefetividade da Hipertensão Arterial Sistêmica em São José do Rio Preto Estudo Populacional. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, 2008. MOREIRA, T. M. M; GOMES, E.B; SANTOS, J. C. dos. Fatores de risco cardiovasculares em adultos jovens com hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus. Rev. Gaúcha Enferm. (Online), Porto Alegre , v. 31, n. 4, Dec. 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198314472010000400008&lng=en&nrm=iso>. http://dx.doi.org/10.1590/S198314472010000400008.) Acesso em: 11 Set. 2013. 110 MOURA, A. A. G de; CARVALHO, E. F de; SILVA, N. J. C. da. Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.6, p.1661-1672, 2007. MULLINS, D.C; BLAK, B.T.; AKHRAS, K.S. Comparing Cost-effectiveness Analyses of Anti-Hypertensive Drug Therapy for Decision Making: Mission Impossible? Value in Health, v.5, n.4, 359-371, 2002. NEAL, B; MACMAHON, S.; CHAPMAN, N. Effects of ACE inhibitors, calcium antagonists, and other blood-pressure-lowering drugs: Results of prospectively designed overviews of randomized trials. Blood Pressure Lowering Treatment Trialists' Collaboration. Lancet, v.356, n.9246, p.1941-2022, 09 dec 2000. NOGUEIRA, D. et al. Reconhecimento, tratamento e controle da hipertensão arterial: Estudo Pró-Saúde, Brasil. Rev Panam Salud Publica, v.27, n.2, p.103-9, 2010. NOGUEIRA, J. B. Hipertrofia ventricular esquerda na hipertensão arterial. Benefício da sua regressão.Arq Bras Cardiol, v.73, n.1, p.103-107,1999. NOGUEIRA, M,C; RIBEIRO, L.C ; CRUZ, O.G. Desigualdades sociais na mortalidade cardiovascular precoce em um município de médio porte no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 25, n. 11, Nov. 2009 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102311X2009001100003&lng=en&nrm=iso>.http://dx.doi.org/10.1590/S0102311X2009001100003. Acesso em: 16 Nov. 2013. NOBRE, F; RIBEIRO, A. B e MION,D.J. Controle da Pressão Arterial em Usuários sob Tratamento AntiHipertensivo no Brasil - Controlar Brasil. Arq Bras Cardiol, v. 94, n. 5, p. 663-670, 2010. OLIVEIRA, R. Z de, NOGUEIRA, J. L. Hipertensão arterial no município de Cianorte, estado do Paraná, Brasil. Acta Scientiarum. Health Sciences Maringá, v. 25, n. 1, p. 75-79, 2003. OLIVERA,C. M. X et al. Padrões de Prescrição de Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina para Usuários do Sistema Único de Saúde .Rev Bras Cardiol v.23, n.3, p.171-177, maio-jun 2010. PASSOS, V; ASSIS, T. D; BARRETO,S.M . Hipertensão arterial no Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacional Hypertension in Brazil: estimates from population-based prevalence studies. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 15, n. 1, mar. 2006. Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1679497420060001 00003&lng=pt&nrm=is> Acesso em: 13 dez. 2011. 111 PEREZ-FERNANDEZ , R et al. Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension in Galicia (Spain) and association with related diseases. J. Hum Hypertens, v. 21, n.5, p.366-73, 2007. PERMAN, G et al. Cost-effectiveness of hypertension managemet programme in na elderly population: a Markov model. Cost effectiveness and Resource Alocation, v. 9, nº4, 2011. Disponível em: <http://www.resource-allocation.com/content/9/1/4>. Acesso em: 20 dez. 2011. POLANCZYK, C.A. Decisão clínica em hipertensão arterial sistêmica baseada em analises econômicas. Rev Brasileira de Hipertensão, v.9, p.29-31, jan/mar 2002. PRADO JC, KUPEK E, MION D. Validity of four indirect methods to measure adherence in primary care hypertensives. J Hum Hypertens 2007; 21:579-84. PRINCE, A.M. J. et al. Hypertension prevalence, awareness, treatment and control among older people in Latin America, India and China: a 10/66 cross-sectional population-based survey. Journal of Hypertension, v. 30, n. 00, p.1-11, set. 2011. RASCATI, K. L. Introdução a farmacoeconomia. Tradução de Cristina Bazan, Rodrigo Lopes Sardenberg, Christiane de Brito Andrei. Porto Alegre: Artmed, 2010. 280 p. Título original: Essentials of Pharmacoeconomics. REGO R.A, et al . Fatores de risco para doenças crônicas não-transmissíveis: inquérito domiciliar no município de São Paulo, SP (Brasil). Metodologia e resultados preliminares. Rev Saúde Pública, São Paulo, v. 24, p. 277-85, 1990. Relação nacional de medicamentos essenciais: Rename / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – 7. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 250 p. : il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) SANCHO, L.G; DAIN, S. Análise de custo-efetividade em relação às terapias renais substitutivas: como pensar estudos em relação a essas intervenções no Brasil? Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n.6, p. 1279-1289, jun. 2008. SANCHO,L.G; VARGENS, J.M.C. Avaliação econômica em saúde na esfera de atenção local à saúde. Cienc Saude Coletiva, v. 14, n. Supl 1, p. 1513-21, 2009. SCHMIDT , M. I et al. Chronic non-communicable diseases in Brazil: burden and current challenges. The Lancet (on-line), série 4, v.6736, n.11, p.60135-9, May 2011. DOI:10.1016/S0140. Diponível em:< www.thelancet.com .> Acesso em:17 nov. 2011. SCHRAMM, J.M.A et al. Transição epidemiológica e o estudo de carga de doença no Brasil. Ciênc. saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.9, n.4, p.897-908, out.-dez. 2004. 112 SECOLI, R. S. et al. Farmacoeconomia: perspectiva emergente no processo de tomada de decisão. Ciência e Saúde Coletiva, v.10, p.287-296, 2005. Supl 0. SECOLI, R.S et al. Avaliação de Tecnologia em Saúde. II. Análise de custoefetividade.Arq.Gastroenterol, v.47, n.4, p.329-333, out-dez ,2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA/SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO/SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol, v.95, p. 1-51, 2010. Supl.1 SOUZA E SILVA, N.A de. et al. Importância clínica dos custos diretos hospitalares em usuários com hipertensão arterial em tratamento num hospital universitário, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Saúde públ.,São Paulo, v.20,n.4, p.293-302, 1986. TSAI, W.C. Treatment options for hypertension in high-risk patients. Vascular Heath and Risk Management, v.11, p.17, 2011. TSUJI, R.L.G. Análise de Custo-efetividade do tratamento medicamentoso em hipertensos. 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências, área de concentração Nefrologia)- Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. UGÁ, M. Instrumentos de avaliação econômica dos serviços de saúde: alcances e limitações. In: SF Piola & SM VIANNA, CAETANO (orgs). Economia da Saúde: conceitos e contribuição para a gestão da saúde. Brasília: Ipea,1995, p.209-225. VANNI, T. et al. Avaliação econômica em saúde: aplicações em doenças infecciosas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.25, n.12, p.2543-2552, dez. 2009. VIANNA, CAETANO,C.M de M; CAETANO,R. Avaliações econômicas como um instrumento no processo de incorporação tecnológica em saúde. Cadernos Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.13,n. 3:747-766, 2005. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Adherence to long-term therapies: evidence for action. Genebra:WHO,2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Noncommunicable Diseases. Country Profiles 2011. Disponível em <http://whqlibdoc.who.int/publications/2011/9789241502283_eng.pdf > Acesso em: 12 dez. 2011a. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Regional Office for South-East Asia. Hypertension. Fact sheet.2011.Disponível em:< http://www.searo.who.int/linkfiles/non_communicable_diseases_hypertension fs.pdf.> Acessado em: 21 nov. 2011b 113 WORLD HEALTH ORGANIZATION. World Health Statistics 2012. Part III. Global health indicators. Disponível em: http://www.who.int/healthinfo/EN_WHS2012_Part3.pdf WORLD HEALTH ORGANIZATION.Consultation on Obesity, "Obesity: preventing and managing the global epidemic." Geneva, Switzerland: World Health Organization, 2000.PDF. ISBN 92-4-120894-5. WORLD HYPERTENSION LEAGUE.Economics of hypertension control. Bulletin of the World Health Organization, v.73, p:417-424, 1995. 114 ANEXO A – TERMO DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA UFJF 115