Arnaldo CORTINA (UNESP/SJ. do Rio Preto) ABSTRACI': This paper intends to discuss some discoursive mechanisms that justify the presence a/the"/" in the process 0/ constitution a/the discourse sense without denying the existense a/the presence a/the "other". KEY WORDS: subjectivity, heterogeneity, intertext, discourse. , Minha inten~iio neste texto consiste em discutir alguns aspectos da questiio da subjetividade em textos escritos. Na verdade, as considera~oes que pretendo levantar tomam 0 artigo de Possenti (1995), 0 Eu no discurso do Outro au a subjetividade mostrada, como interlocutor, na medida em que tambem acredito que, sem querer negar os pressupostos importantes da concep~iio de assujeitamento desenvolvida pela linha te6rica da Analise do Discurso francesa, e possivel en<:ontrarno texto tr~os do Eu sem que isso signifique negar a presen~a do Dutro. Em seu artigo, Possenti (1995) estabelece como ponto de partida de sua investig~ao textos "construidos a partir de modelos muito estereotipados ou de textos muito conhecidos" (p. 48). Esses textos a que 0 autor se refere sao os proverbios ou certas "frases de efeito" conhecidas pelo senso comum. A caracterlstica principal desses textos est! no fato de que nao pertencem a urn sujeito individual, mas a urn sujeito coletivo, pois dilui-se numa continua repeti~iiosem atribui~iioa urn determinado autor. A presen~a de urn sujeito marcado, portanto, s6 visivel quando, durante 0 processo de retomada, ocorre uma altera~ao da forina em raziio da atribui~iiode um novo sentido. Para concretizar 0 que mostrei da proposta de Possenti (1995) reproduzo um dos exemplos apresentado pelo autor em seu texto. 0 jogo de vozes nele presente e conseqirencia da introd~ao de urn fonema em determinado vocabulo que implica a alter~ao de seu sentido e, em decorrencia dessa estrategia, a apresenta~ao de urn novo ponto de vista sobre 0 objeto de significa~ao global do texto. a exemplo e de um trocadilho do colunista Jose Simao: e "E diz que os americanos jogam rapido porque time is money. au como traduziu 0 bispo Edir Macedo: Templo e dinheiro" (Apud Possenti, 1995, p.51). o que se pode perceber com 0 exemplo acima e que, devido a uma altera~ao na forma de manifesta~ao da linguagem. embora na~e esteja negando a indissociabilidade desta em rel~ao ao conteudo, ocorre urn processo de duplica~ao da subjetividade. Ou, como diz Possenti (1995), parece que "a estrategia do eu e apresentar-se como se fosse um outro, mas, sutilmente, imiscuir-se no discurso conhecido, no diseurso do outro, alterando-o e deixando a marca de sua presen~a" (p.51). Foi, portanto, a partir dessas considera~oes do autor e de sua referencia a proposta de Barthes (1978) para quem, na literatura, 0 que se deve fazer com a linguagem e instituir 0 jogo, pensando que essa proposta seja, talvez, a llnica safda para fugir ao poder dos diseursos, que retomei ao texto de 0 Pr(ncipe de Nicolau Maquiavel, com 0 qual ja havia desenvolvido um trabalho anterior. o texto maquiavelico em questao consiste num discurso em que urn sujeito procura convencer outro (0 prIncipe) de que seus argumentos sobre a melbor maneira de conquistar e manter urn Estado sao verdOOeiros. Por esse motivo, levantei em minha tese de doutorado, Cortina (1994), 0 esquema argumentativo do texto do autor florentino a partir da proposta de Perelman e Olbrechts- Tyteca (1976). Para tentar mostrar aqui como 0 trabalho com a linguagem indicia a presen~a do eu lado a 1000 com a do outro, tratarei apenas da argumenta~lio pela fundamenta~lio anal6gica e sua extenslio com referencia a algumas figuras de ret6rica. A argumenta~ao pela fundamenta~ao anal6gica obedece a um processo de raciocfnio 16gico em que se relacionam elementos colocados em quatro posi~Oes: A esta para B assim como C esta para D. Os dois primeiros estlio colocOOos no plano horizontal superior e os dois ultimos, no inferior. Perelman e Olbrechts-Tyteca (1976 : 501) propoem chamar tema (theme) as unidades A e B, que correspondem a concluslio, isto e, ao verdadeiro sentido a que se pretende chegar quando se utiliza uma analogia, e suporte (phore) as unidOOes C eD, encarregadas de "apoiar 0 raciocfnio", isto e, de funcionar como elemento catalizador que, por um processo de semelban~as, leva 0 interlocutor a perceber 0 tema. Ainda segundo t?s autores, 0 tema e 0 suporte devem estar dispostos numa rela~lio assimetrica, ao mesmo tempo que devem pertencer a domfnios distintos. "Quando os dois elementos que se confrontam pertencem ao mesmo domfnio, e podem ser submetidos a uma estrutura comum, a analogia da lugar a um raciocfno pelo exemplo ou pela ilustrayao, tema e suporte fornecem dois casos particulares de uma mesma regra" (perelman e Olbrechts-Tyteca. 1976 : 502). Pelo fato de existir uma diferen~a tlio especifica entre 0 processo anal6gico de urn lado e a argumenta~ao pelo exemplo e pela i1ustra~ao de outro, os autores consideram que, muitas vezes, as pessoas se confundem ou deixam flutuar essa distin~lio. Para deixar claro, porem, como entendo 0 processo ana16gico exposto pelos autores e como ele implica um jogo com a linguagem que revela a presen~a do eu, citarei um trecho do discurso maquiavelico que emprega a analogia em sua contru~ao para determinar, 0 tema e 0 suporte. Observe-se a seguinte passagem que aparece na carta por meio da qual Maquiavel oferece 0 Principe para Medici: 0 principe Lorenzo de "Nem quero que se repute presunclio 0 fato de urn hornem de baixo e infimo estado discorrer e regular sobre 0 govemo dos prlncipes; pois os que desenham os contomos dos paises se colocam na planCcie para considerar a natureza dos montes, e para consid17ar a das planicies ascendem aos montes, assim tambem para conhec17 hem a natureza dos povos e necessario ser principe, e para conhecer ados principes e necessario ser do povo" (1987 : 3-4)1. Como se pode observar 0 processo anal6gico em Maquiavel e bastante complexo, pois, no trecho acima reproduzido, percebe-se urna analogia matriz completada por duas analogias secundanas. Com~arei a examiml-las, porem, de baixo para cima, isto e, das secundanas para a principal. Primeiramente diria que os dois termos correspondentes ao suporte da primeira analogia seriam "principe" e }Jovo" (termos C e D) que se relacionam simetricamente com seu tema, que pode ser expresso pela oposiCao entre "superioridade" e "inferioridade" (termos A e B). Obtem-se, assim, 0 seguinte esquema: 0 Principe esta para 0 Povo. assim como a Superioridade est! para a inferioridade. Obviamente essa analogia, como todas, expressa uma posiCao ideologica do sujeito que a constr6i. Ao lado dessa analogia, porem, pode-se p17ceber urna outra que se estrutura por meio do suporte "Cartografo" e "Mapa" (termos C e D) que reveste 0 tema "Maquiavel" e "0 Principe" (tl7ffiOS A e B). Nesse sentido obrem-se 0 seguinte esquema: 0 Cart6grafo esta para 0 Mapa assim como Maquiavel esta para 0 Principe. A relacao de dependencia que se estabelece entre esses dois esquemas me parece levar a tomar 0 primeiro como suporte e 0 segundo como tema de urna reiaclio anal6gica entre ambos, que designo como analogia matriz. Assim. 0 que estaria por baixo de todo esse jogo anal6gico seria um argumento pOl meio do qual 0 enunciador estaria mostrando-se para seu enunciatario como uma pessoa que conhece tanto 0 povo, por ser de origem simples (nao nobre), quanta as questoes do poder, em decorrencia de suas experiencias a frente do governo republicano de Soderini, deposto pelos Medicis. Esses precedentes, portanto, toma-Io-iam apto a produzir um "mapa" (0 Principe) que poderia orientar 0 principe nas dir~Oes que deveria tomar para alcancar seus prop6sitos. Essa argumentaclio e planejada como forma de levar seu destinatario a aceitar urn contrato. A analogia e, conforme pretendi mostrar acima, urn excelente expediente argurnentativo, na medida em que, alem de permitir a veiculaclio de urn pensamento. chama a atencao para a expresslio lingUistica por meio da qual ele eJ!lanifestado. 0 _ .._-\ UNe voglio sia reputata presunzione se uno uomo di basso ed infimo stato ardisce discorrere e regolare e govemi de' principii pet"che,con come coloro che disegnano e paesi si pongono bassi Delpiano a considerare la natura de' monti e de' luoghi alti e, per consiiJerare '1uella de' bassi, si pongono alto sopra e montii simalmente, a conosc~e bene 1anatura de' populi, bisogna esser principe. e a conoscere bene quella de' principi, bisogna esser populare" (Machiavelli. sid : 48). ., 1 Principe de Maquiavel 6 urn texto conceitual que, a16m de discutir urn tema determinado, ocupa-se tambem das eslrategias discursivas, que sao lingillsticas por excelencia, para estabelecer sua base proposicional: a for~a do argumento pela palavra. E 6 exatamente nesse contexto da manifesta~ao lingillstica que acredito estar presente 0 en que particulariza e lransforma 0 diseurso do outro. Conforme afirmam, ainda, Perelman e Olbrechts-Tyteca, a analogia 6 a base sobre a qual se cria a metafora. Para os autores, ela consiste numa analogia condensada, resuitante da fusiio de urn elemento do suporte com urn elemento do tema (1976: 535). E nesse sentido tamMm que entendo que 0 resultado do esquema argumentativo no ~ho da carta que precede 0 Principe, acima reproduzido, seria a constru~ao de uma meirfora: a fusao dar-se-ia entre os termos BeD, 0 Principe 6 igual a Mapa. E possivel destacar ainda muitos outros trechos do diseurso de 0 Principe que fazem uso do recurso argumentativo da analogia. Alguns sao simples analogias, outros rem a metafora como fmalidade. Chamo a aten~iiopara os seguintes trechos do texto do autor florentino: (1) "[urn homem prudente] procede como os seteiros prudentes que, querendo atingir urn ponto muito distante, e conhecendo a capacidade do arco, fazem a mira em altura superior a do ponto visado. Nao 0 fazem, evidentemente, para que a flecha atinja tal altura: valem-se da mira elevada apenas para ferir com seguran~a 0 lugar designado muito mais abaixo" (Maquiavel. 1987 : 23)2. (2) "Deveis saber, portanto, que existem duas formas de se com-bater: uma pelas leis, outra, pela for~a. A primeira e pr6pria do homem; a segunda, dos animais. Como, porem, muitas vezes a primeira nlio seja suficiente, e preciso recorrer a segunda (...) Sendo, portanto, urn principe obrigado a bem servir-se da natureza da besta, deve dela tirar as qualidades da nposa e do lelio, pois este niio tern defesa alguma contra os l~os, e a raposa, contra os lobos. Precisa, pois, ser raposa para conhecer os la~os e lelio para aterrorizar os lobos" (Maquiavel. 1987: 73)3. 2 "Dovete, adunque, sapere como sono dua generazione di combattere: l'uno con Ie leggi; l'altro con la forza; quel primo e proprio dello uomo, quel secondo e delle bestie: ma perche il primo molte volte non basta, conviene ricorrere al secondo (...) Sendo, dunque, uno principe necessittato sapere bene usare la bestia, debbe di queUe pigliare 1a golpe e illione; percbe illione non si defende da' 1acci, la golpe non si defende da' lupi. Bisogna, adunque, essere golpe a conoscere e 1acci, e lione a sbigottire e lupi" (Machiavelli. sId: 136-7). • "E assomiglio quella [1afortuna] a uno di questi fiumi rovinosi, che, quando s'adirano, allagano e piani, ruinano Ii alberi e Ii edifizii, lievano da questa parte terreno, pongono da quell' allra; ciaseuno fuglle loro dinanzi, ognuno cede allo impeto 10ro, sanza potervi in aleuna parte obstare. E benche sieno cost Catti, no resta pero che Ii uomini, quando sono tempi quieti, non vi potessino fare provvediementi e con ripari e argini, in modo che, crescendo poi, 0 egli andrebbano per uno canale, 0 l'impeto 10ro non sarebbe ne sl Iicenzioso DC SI dannoso. Similmente interviene deDa fortuna; 1&quale dimonstr&la sua patenzia dove non e ordinata virtU a resisterle; e quivi volta e sua impeti dove la sa che non sono fatti Ii argini e Ii ripari a tenerla" (Machiavelli. sId: 172-3). 272 (3) "Comparo-a [a fortuna] a urn desses rios impetuosos que, quando se encolerizam, alagam as planicies, destroem as arvorn, os edificios, arrastam montes de terra de um lugar para outro: tudo foge diante dele, tudo cede ao seu impeto, sem poder obstar-Ihe e, se bem que as coisas se passem assim, nao e menos verdade que os homens, quando volta a calma, podem fazer reparos e barragens, de modo que, em outra cheia, aqueles rios correrao por um canal e 0 seu impeto nao sera tao livre nem tao danoso. Do mesmo modo aconteee com a fortuna; 0 seu poder e manifesto onde nao existe resistencia organizada, dirigindo ela a sua violencia s6 para onde nao se fizeram diques e reparos para conte-Ia" (Maquiavel. 1987: 103t. Em (1) 0 enunciador estabelece uma analogia entre 0 fazer do arqueiro e 0 do principe. Este Ultimo deve ser prudente como aquele para alcancar seus objetivos. Da mesma maneira que 0 arqueiro faz sua mira um pouco acima do alvo a ser atingido, Maquiavel aconselha 0 principe a que procure fazer alem do que havia planejado para. conseguir, mais seguramente, atingir seu objetivo. . Em (2) ocorrem duas analogias que, interligadas, dao origem a uma terceira. A primeira relaciona 0 homem e os animais; 0 primeiro deve combater seguindo leis por ele mesmo estabelecidas, enquanto 0 segundo s6 sabe combater usando da forca. Poderiamos reduzir a primeira relacao anal6gica a seguinte expressao: 0 Homem esta para a Lei.como 0 Animal esta para a Forea. A segunda analogia relaciona 0 leaD e a raposa; 0 primeiro simboliza a forca, a segunda, a esperteza. Essa analogia pode ser entao reduzida seguinte expressao: 0 Leao esta para a Forca como a Raposa esta para a Esperteza. o resultado desse dois processo anal6gicos conduz a conclusao de que 0 homem, para melhor combater, precisa tanto das caracteristicas pr6prias da natureza humana quanto da animal. Por outro lade, ao se asseme1barcom os animais adquire tanto a esperteza quanto a forca, qualidades essas metaforizadas na figura da raposa e do leaD, respectivamente. Nesse sentido, 0 conse1bode Maquiavel consiste em fazer 0 principe perceber que, para poder derrotar 0 inimigo, necessita ser esperto no uso das leis e destemido no usa da forca. Nesse processo argumentativo a metafora e 0 suporte do processo anal6gico fundamental. E possivel observar que essas analogias utilizadas por Maquiavel nao sac originais. Esopo e Fedro, em suas fabulas, ja baviam relacionado 0 leaD forca e a raposa a astlicia. Isso configura, portanto, a presenca do discurso do outro no discurso do eu e nao simplesmente a reprodueao do discurso do outro e 0 apagamento do discurso do 00. A propria selecao e organizaeao proposta pelo discurso maquiavelico representa uma transformaCaodaquilo que foi dito por um outro discurso. Em (3) 0 processo argumentativo e 0 contrmo do que ocorre em (2). Agora desenvolve-se uma condensaCao da analogia dando origem, segundo Perelman.•e Olbrechts-Tyteca, a metafora; um item do suporte e identico a outro do tema. Assim, a a • "E interviene di questa come dicono e fisici dello etico, me, nel principio del suo male, e facile a curare e difficile a conoscere. ma, nel progresso del tempo, non ravendo in principio conosciuta ne medicata, diventa facile a conoscere e difficile a curare" (Machiavelli. sid: 65). '. essa analogia pode see descrita da seguinte maneira: a Fortuna e lio Violenta quanto um Rio que extravasa em fun~ao de uma cheia (A est! para B como C est! para B). A met!fora expressa em (3) e ampliada, mais adianle. por uma outra que consiste em relacionar a ltalia fortuna. Nesse sentido 0 enunciador estaria construindo seus argumentos, que se formam por meio da utiliza~ao ret6rica da linguagem, para dizer que a ltalia esta como um rio que extravasou na cheia, correndo sem rumo, sem dire~ao. E preciso que um principe se proponha a construir diques para canalizar suas !guas, reorganizando, assim, 0 Estado italiano. Outro recurso retorico que vem ampliar a eficacia argumentativa do discurso de 0 Principe 0 quiasmo. Em determinadas passagens certas analogias ou met!foras SaD refor~adas pOl mais esse expediente. Isso pode ser c1aramente observado no seguinte trecho de seu texto: a e (4) "Da tfsica dizem os medicos que, a principio, e fkit de curar e dificil de conhecer, mas com 0 carrer dos tempos, se nao foi reconhecida e medicada, toma-se facit de conhecee e diffcit de curar" (Maquiavel. 1987 : 12). Os recurs os ret6ricos, tais como a metafora e 0 quiasmo, fazem parte do esquema argumentativo do texto de Maquiavel, na medida em que SaD responsaveis pelo estabelecimento de determinados efeitos de sentido. A metafora, que consiste num processo de condensayao analogica, e responsavel pelo refor~o, expresso no enunciado, de urna determinada caracterlstica que esta na intees~ao do termo substituidor com 0 substitufdo. Assim, dizee que a fortuna urn rio que extravasou na cheia e desce destruindo tudo que encontra pela frente uma maneira de destaear, de enfatizar a ideia de que a fortuna algo que nao pode see controlado e que pode causar senos danos. Por meio da utiliza~o desse recurso retorico 0 enunciado ganha for~a argumentativa porque traveste de uma imagem 0 conceito que pretende transmitir para 0 enunciatmo. Isso e uma prova tao1bem de que os recurs os ret6ricos nunca tern a fun~io ingenua de "adamar" urn texto. quiasmo, como procurei demonstrar, urn procedimento argumentativo que, por sua caracterfstica de cruzamento de termos no enunciado, tern como efeito de sentido refor~ar urn contraste expresso no plano do conteUdo. Em (4), por exemplo, 0 enunciador parte de uma espeeie de ditado, isto de um pensamento que tern It forma de verdade consensual: "urn mal deve ser eliminado logo no seu inicio, porque, depois de propagado, tal empresa pode tomar-se impossivel". Ao inves de dizer com essas palavras, porem, seu discmso vai se valet de uma cons~iio lingUistica especifica (0 quiasmo) para enfatizar como importante que urn principe seja prudente nas suas ~oes. Primeiramente, por meio de um processo anal6gico, elege como modelo de mal a "tfsica", para, em seguida, jogar com os valores "facilidade" e "dificuldade" de curar e perceber, em diferentes momentos no tempo: "no inicio facH curar, mas diffcij perceber; com 0 tempo, facil perceber, mas diffcil corar". que pretendi mostrar por meio dos exemplos tirados de 0 principe de Nicolau Maquiavel foi a presen~a do trabalho do eo no discurso do outro. Alem disso e possivel e o e e e e, e e o perceber urn outro aspecto que diz respeito ao que Possenti (1995) chama questao da continuidade vs. ruptura. Segundo 0 autor, 0 discurso totalmente novo, completamente inedito, que deve passar a vigorar e ser repetido a partir do momento em que for aceito, e uma ilusao, mas isso nao significa que ao repetir 0 discurso do outro 0 eu nao tenha possibilidade de se mostrar. RESUMO: Este trabalho pretende discutir alguns mecanismos que justificam a presenc:ado lieu" no processo de constituic:iiodo sentido do discurso sem que isso signifique negar a existencia da presenc:ado outro ". PALA VRAS-CHA VB: subjetividade, heterogeneidade, intertextualidade, discurso. II CORTINA, Arnaldo. Leitwra COmb processo de compreensiio e de interpretap'io. '0 Principe' e sews leitores. Sio Paulo: FFLCHlUSp" 1994. Tese (Doutorado em Lellas) - Faculdade de Filosofia, Letras e CiSncias Humanas. Universidade de Sio Paulo, 1994. MAQUIAVEL, Nicolau. 0 Principe: escritos politicos. Tradu~ 1987. (Os Pensadores) de Uvio Xavier. Sio Paulo, Nova Cultural, PERELMAN, Ch., OLBRECHTS-TYTECA, TrailJ de I 'argumentation: Bruxelles: Editions de l'Universtite de Bruxelles, 1976. la nouvelle rhetorique. 3.ed., POSSENTI, Sino. 0 "eu" no discurso do "outro ou a subjetividade mostrada. In: Alfa. Revista de LingUistica.Sio Paulo: Editora UNESP, v. 39, p. 45-55, 1995. n