FINISTERRA
ÍNDICE
Nota Editorial / Editorial Note...................................................................... 3-4
Revista Portuguesa de Geografia
Margarida Queirós
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?… ……… 7-32
Àngel Cebollada, Carme Miralles-Guasch
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona:
Entre los nuevos retos y las viejas prácticas…………………………… 33-47
Fàbia Díaz-Cortés, Maria Dolors Garcia-Ramon
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana
de Barcelona. El caso de Ca n’Anglada de Terrassa… ……………… 49-69
Isabel André, Muriel Rousselle
Estratégias sociais criativas em Barcelona. O caso do Walden-7… … 71-90
Enric Mendizàbal
Una posible geografía de las identidades de Barcelona.
El caso del barrio de la Vila de Gràcia… …………………………… 91-109
Helena Cruz i Gallach, Marc Martí-Costa
Conflitos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas:
Reflexiones desde Barcelona… ………………………………………… 111-132
Montserrat Pareja-Eastaway
Construyendo la Barcelona creativa:
Nuevos actores, nuevas estrategias… ………………………………… 133-152
Antònia Casellas, Esteve Dot Jutgla, Montserrat Pallares-Barbera
Creación de imagen, visibilidad y turismo como estrategias
de crescimiento económico de la ciudad… …………………………… 153-172
Horacio Capel
Epílogo: ¿En qué ha fallado Barcelona?… …………………………… 173-204
RecenSões/ACTUALIZAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Maria José Aurindo
Projecto BCN: Estratégias urbanas – Geografias colectivas… ……… 207-210
Patrícia Abrantes
Modelo Barcelona: Um exame crítico… ……………………………… 211-213
FINISTERRA • XLV • 90 • 2010
ARTIGOS
ISSN: 0430-5027
Depósito Legal n.º 1956/83
Centro
de Estudos
Geográficos
Volume XLV
Número 90
Lisboa 2010
FINISTERRA
FINISTERRA
REVISTA PORTUGUESA DE GEOGRAFIA
REVISTA PORTUGUESA DE GEOGRAFIA
DIRECTOR / EDITOR
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FINISTERRA
Revista Portuguesa de Geografia
BARCELONA(S)
VOLUME XLV
Número 90
Editor convidado
Invited editor
Margarida Queirós
Lisboa
2010
APOIOS
Apoio do Programa Operacional Ciência, Inovação do Quadro Comunitário de Apoio III
Finisterra, XLV, 90, 2010, p. 3-4
Nota editorial
Em 1994, o Volume XXIX, Número 57, da Finisterra debruçava-se sobre a investigação produzida por um conjunto de geógrafos portugueses e espanhóis acerca do sector
terciário, na sua relação com a evolução do urbanismo de Barcelona e de Lisboa.
No quadro do planeamento estratégico, no qual Barcelona foi pioneira no conjunto
de cidades europeias, parece relevante uma reflexão sobre as trajectórias desta cidade
no decurso de 16 anos, nesta revista portuguesa de Geografia.
A pertinência e actualidade do tema conduziram à organização de um número
temático da Finisterra, dedicado ao tema BARCELONA(S) influenciada pela crónica
sentimental intitulada Barcelonas, da autoria de Manuel Vázquez Montalbán, publicado
em 1990. Para ele, como toda a obra de criação, Barcelona no es Barcelona, sino Barcelonas, por encerrar todas as cidades possíveis, por ser uma cidade pluridimensional.
Em sintonia com esta visão, este foi o mote para a tarefa que nos propusemos: organizar
um número da Finisterra que, sem a pretensão de esgotar o tema, abordasse algumas das
facetas das transformações que o “modelo Barcelona” induziu no desenvolvimento urbano,
durante e depois das intervenções ligadas ao projecto olímpico de 1992.
Desta vez, os artigos apresentados na revista são um reflexo da investigação desenvolvida quase exclusivamente por colegas espanhóis. Os sub‑temas estruturantes do volume
constituem reflexões críticas em torno das políticas e estratégias económicas e sociais, de
urbanismo, transportes, patrimoniais e territoriais, despoletadas pelo planeamento estratégico de Barcelona, com implicações para a cidade e a sua área metropolitana.
O planeamento estratégico a que nos referimos caracteriza-se por procurar um
maior desenvolvimento económico, social e territorial da cidade (através de um plano
integrador, assente em projectos estruturantes, facilitador da coerência das intervenções),
e dispor de uma liderança representativa dos interesses dos actores económicos e dos
cidadãos. Esta modalidade de plano estratégico, muito centrada nos compromissos e
na colaboração entre parceiros, surge em Barcelona em 1988 e é um referencial de
antecipação de um novo modelo de gestão urbana, constituindo uma fonte inspiradora
para muitas cidades em todo o mundo.
A pesquisa teórica e empírica a que Barcelona tem dado origem é muito extensa.
Entendemos, por isso, que apesar das variadas e riquíssimas abordagens incluídas neste
número, não poderíamos abarcar todas as perspectivas; a colecção de textos que agora
apresentamos representa porém um tributo aos estudos urbanos e territoriais. Os temas
abordados reflectem criticamente sobre intervenções ocorridas nas esferas económica,
social e urbanística, em Barcelona e na área metropolitana desde os anos 1980. Por
isso, os artigos e recensões contidos neste número são um incentivo valioso para
qualquer estudante, profissional ou académico que se interesse pelo tema das cidades.
Aos autores (e revisores científicos), a Finisterra agradece este contributo, porque cada
um deles aborda de ângulos muito pertinentes a forma como se pode analisar o desenvolvimento de uma cidade do Sul da Europa, constituindo um estímulo para o aprofundamento dos estudos urbanos.
Margarida Queirós e Maria João Alcoforado
EDITORIAL NOTE
Volume XXIX, issue 57, 1994, of Finisterra published the results of the research
carried out by a group of Spanish and Portuguese geographers on the tertiary sector
and its outlook on the evolution of urban planning in Barcelona and Lisbon.
Sixteen years later, Finisterra publishes, under the scope of strategic planning
that Barcelona pioneered in Europe, a relevant analysis on the progression of the
city.
The continued relevance of this topic has led, once again, to the publication of
an issue of Finisterra dedicated to the theme BARCELONA(S). The sentimental
chronicle Barcelonas by Manuel Vázquez Montalbán, published in 1990, influenced
the choice of the theme. Throughout his creative work the author considers that “Barcelona no es Barcelona, sino Barcelonas” because of its multidimensional character,
a mixture of many cities. Concurring with this view, we used it as the theme for the
task we set ourselves: to organize an issue of Finisterra dedicated to explore, with no
pretence of exhausting the topic, some aspects of the changes that the “Barcelona
model” brought to urban planning during and after the successful developments for
the 1992 Olympics.
The articles published in the journal’s current issue reflect the research carried
out mostly by Spanish colleagues. The issue’s sub themes represent critical reflections
on economical and social policies and strategies, on urban planning, transportation,
property and land, triggered by the strategic planning of Barcelona with implications
for the city and metropolitan area.
The strategic planning to which we refer is characterised by a search for a greater
economical, social and territory development of the city through a comprehensive plan,
based on structural projects, which will facilitate the consistency of operations and
provide a leadership representing the interests of citizens and of economical players.
This type of strategic plan, focused on commitments and collaboration between partners, emerged in Barcelona in 1988 and became a benchmark for anticipating a new
model of urban management, providing a source of inspiration for many cities around
the world.
Barcelona has prompted a great deal of theoretical and empirical research. Therefore we feel that, in spite of the numerous and valuable approaches published in this
issue, we could not possibly include all perspectives; the selection of texts represents
a tribute to urban and territory studies. The topics reflect critically on interventions
occurred in the economic, social and urban planning in Barcelona and the metropolitan area since the1980s. Therefore, the articles and reviews in this issue are a valuable
incentive for students, professionals or academics interested in cities. Finisterra is
indebted to the authors and referees for their contribution, as each author provides a
pertinent perspective on the analysis of a southern European city; it is an incentive for
further urban studies.
Margarida Queirós e Maria João Alcoforado
ARTIGOS
Finisterra, XLV, 90, 2010, pp. 7-32
Barcelona(s)
Cidade dos projectos ou projectos Da cidade?
Margarida Queirós1
Resumo – A imagem internacional de Barcelona associou-se à existência de
um modelo urbano inovador, conhecido por “modelo Barcelona”, iniciado nos anos
1980. O modelo a que nos referimos não retrata apenas assuntos essenciais ao planeamento urbano, como as políticas públicas ou as novas estratégias económicas, mas
também se refere à cultura urbana, inclusão social e participação cidadã. Ao longo
do tempo este modelo “evoluiu” e tem sido alvo de longos debates e de activa controvérsia. Barcelona(s) retoma o modelo e discute alguns dos aspectos em que este é
recorrentemente elogiado e colocado em causa. O propósito é estimular a reflexão
sobre um desafio: como encontrar a proporção certa entre as estratégias públicas e
privadas de planeamento urbano de longo prazo e os projectos imediatos, a liderança
dos poderes públicos e os consensos sociais? Os autores dos artigos incluídos neste
número – que este texto apresenta –, têm dedicado uma parte importante da sua
investigação aos processos políticos, económicos e sociais que fazem evoluir esta
cidade e a sua área metropolitana. Remetem para situações complexas (a diversas
escalas) despoletadas pelo modelo e debatem as suas consequências.
Palavras-chave: Barcelona, modelo Barcelona, planeamento estratégico, governança.
Abstract – Barcelona(s). A city of many Projects, or projects for the
The international image of Barcelona has come to be associated with an innovative urban model known as the “Barcelona model”, which dates back to the 1980s.
This model is not limited to such central aspects of urban planning as public policies
and new economic strategies. Instead, some of its key features are concerned with
social inclusion, urban culture and citizen participation. However, the model itself has
evolved over time and has been the object of heated debates and controversy. The aim
of the article is to discuss this model and some of the main praises and criticisms it
raised. This is done with a view to contributing to the debate around the following
challenge: how are we to achieve an adequate balance between short-term projects
and long-term public and private urban planning strategies, as well as between public
city?
Recebido: 16/04/2010. Aceite: 19/10/2010.
1 Professora Auxiliar do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e Investigadora
do Centro de Estudos Geográficos, da Universidade de Lisboa. E-mail: [email protected]
Margarida Queirós
leadership and social consensus? The authors of the articles included in this issue of
Finisterra – for which this article also serves as an introduction – have undertaken
substantial research on the political, economic and social processes that drive this city
and its metropolitan area. They highlight some of the complex situations that arise at
various scales within the context of this model and they discuss their various consequences.
Keywords: Barcelona, Barcelona model, strategic planning, governance.
Résumé – Barcelone(s). Ville de projets ou projets de la ville? L’image
internationale de Barcelone est aujourd’hui liée à l’existence d’un modèle urbain
innovant, le «modèle Barcelone», élaboré lors des années 80. Celui-ci ne traite pas
seulement des sujets essentiels de la planification urbaine, comme les politiques
publiques ou les nouvelles stratégies économiques, mais il se réfère aussi à la culture
urbaine, à l’inclusion sociale et à la participation citoyenne. Ce modèle a évolué et a
été l’objet de longs débats et d’une active controverse. Barcelone (s) reprend ce modèle
et discute certains des aspects qui ont été loués ou mis en cause de façon répétée.
Ceci, afin de stimuler la réflexion sur ce défi: comment trouver un bon équilibre entre
stratégies publiques et privées, entre planification urbaine durable et projets immédiats,
entre l’action des pouvoirs publics et le consensus social? Les auteurs des articles
inclus dans le présent numéro de la revue ont consacré une part importante de leurs
recherches aux processus politiques, économiques et sociaux qui ont fait évoluer la
ville et son aire métropolitaine. Ils décrivent les situations complexes et d’échelles
diverses que ce modèle a engendrées et discutent leurs conséquences.
Mots-clés: Barcelone, modèle Barcelone, planification stratégique, gouvernance.
I.reflexão a partir das recentes Dinâmicas urbanas DE
Barcelona
Em 1994 a Finisterra dedicava um número ao sector terciário em resultado
das transformações económicas e sociais nas aglomerações urbanas a partir das
suas cidades-base: Lisboa e Barcelona (Barata Salgueiro e Carreras, 1994: 1).
A internacionalização das economias, a terciarização e a competição entre cidades e a produção do espaço urbano, resultantes da apropriação do território pelas
pessoas e organizações, eram então um tema inevitável. Atenta ao processo de
terciarização da economia, ao aparecimento de novas formas de comércio, promoção imobiliária, turismo e consumo, a pesquisa geográfica deixava clara a
urgência em compreender a dinâmica da capital da Catalunha no processo de
internacionalização da sua base produtiva, para equacionar as perspectivas que
se colocavam a Lisboa. Dada a abrangência das transformações em curso, as
alterações nos modos de vida e hábitos de consumo estiveram então no centro
das atenções, procurando-se compreender as lógicas do planeamento e das instituições, elementos-chave dos processos de mudança em Barcelona e críticos
para a sua visibilidade no exterior. O notável reconhecimento internacional
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
daquela cidade, marcadamente sentido nas décadas de 1980 e 1990, bem como
as suas características urbanísticas e geográficas tornaram-se um referencial para
muitas, entre elas, Lisboa.
Esta orientação da investigação geográfica resulta dos processos de
transformação da economia mundial que se observam nos finais do século
passado e se acentuam no século XXI, despoletando fenómenos de metropolização e, com eles, um reforço económico e financeiro dos centros de
“comando mundial” (Sassen, 1991). Neste novo milénio, as cidades europeias
saem de uma longa e intensa fase de crescimento ligado à industrialização do
pós-guerra e procuram responder aos desafios resultantes das modificações profundas do contexto económico, social e ambiental. Por isso as políticas das
cidades tornam-se mais ambiciosas e definem-se estratégias para aumentar a sua
atractividade (Queirós, 2009).
Assim se explica porque, dezasseis anos volvidos, este assunto permanece
central na pesquisa geográfica. Barcelona, como Lisboa, «teve o privilégio de
nascer com miradouros naturais e de ter os pontos cardeais desenhados pela
geografia» (Vásquez Montalbán, 1990: 12). Diz-nos, pois, este autor que a sul,
o Mediterrâneo e os rios Bèsos e Llobregat, e a norte, a barreira de Collserola,
onde se destaca Tibidabo, sinalizam referenciais que Hércules visionou quando
ali chegou, segundo conta a lenda. Os primeiros habitantes destas terras cobertas por pequenas colinas (como Monterols ou a Muntanya Pelada) dominavam
todos os caminhos, por mar ou por terra. Assim como Barcelona reclamou um
olhar de Hércules para nascer, Lisboa buscou Ulisses na lenda das suas fundações.
Cerzindo o horizonte da cidade, as sete colinas a norte (como a de S. Jorge ou
de S. Vicente), e o estuário do Tejo que se funde com o oceano Atlântico, a sul,
revelam uma povoação com uma localização estratégica privilegiada, que culminou num importante porto comercial. Suficientemente bem situadas para se
desenvolverem e beneficiando de condições climáticas suaves, o crescimento
urbano revela a sua evolução que, em ambos os casos, viria a compactar-se pelas
colinas, cobrindo um território onde a natureza e a paisagem seriam fortes aliadas das suas populações.
Busquets (2004) considera Barcelona o protótipo de uma cidade europeia
mediterrânea, em termos de densidade, compacidade e crescimento, características formais e processos de transformação histórica. Em Barcelona percepciona­
‑se um tempo solidificado (Busquets, 2004: 18); os seus mais de 2000 anos de
história estão incrustados no tecido urbano, revelando-se certos períodos mais
criativos e inovadores do que outros, com projectos capazes de sobreviver a
várias gerações, como o Eixample de Ildefonso de Cerdà (Busquets, 2004; Capel,
2005; Degen e García, 2008). No plano imaterial, Muñoz (2008b: 165) e Degen
e García (2008: 22) acrescentam o estilo de vida mediterrâneo associado ao
imaginário de mediterraneidade.
Em cada cidade, em cada projecto urbano, encontramos expressões do poder,
riqueza, conflitos e debilidades dos seus mentores e construtores. Descobrimos
também processos específicos da sua evolução e história cívica e outros projec-
10
Margarida Queirós
tos que são seguidos ou participados por muitas outras cidades. Centrando a
atenção nos períodos mais recentes da história de Barcelona, as estratégias ligadas a grandes projectos mundiais associaram-se a eventos culturais, redefinindo
formas urbanas, impulsionando a economia da cidade e a reflexão sobre um
urbanismo crítico. São exemplos dessa transformação as intervenções na cidade
a propósito das Exposições Universal de 1888 e Mundial de 1929 e, já no
período posterior à restauração da democracia, os Jogos Olímpicos de 1992 e,
em 2004, o Fórum Universal das Culturas. Do conjunto dos grandes eventos, as
olimpíadas possibilitaram prestigiosas realizações, que atestam a capacidade de
renovação da cidade através da recriação de uma imagem atractiva, dinâmica e
competitiva (Capel, 2005; Borja, 2009; Queirós, 2009).
Perante o horizonte dos Jogos Olímpicos de 1992 – de acordo com Capel
(2005), propostos em 1981 –, as transformações ocorridas nos finais dos anos
80 em Barcelona, sob um forte protagonismo da obra pública, reformaram a
cidade e abriram‑na ao mar, completaram a urbanização de Montjuïc, renovaram
estruturas dos serviços subterrâneos e fecharam o anel de “rondas” (Dalt, Litoral), permitindo uma redistribuição do intenso tráfego metropolitano. Esta remodelação uniu o poder público com visão de futuro, capacidade de captação e de
gestão de recursos, com a concepção cultural e arquitectónica adequada, nutrindo
as ideias e projectando o desenho urbano, produzindo uma transformação memorável. Depois dos Jocs Olímpics, o Fórum das Culturas, inaugurado em 2004,
iria ampliar a recuperação da frente litoral, associada ao restabelecimento ambiental de uma zona decadente junto da foz do rio Bèsos, possibilitando a implantação de uma nova marina e edifícios de exposições e congressos (Capel, 2005)
e, mais recentemente, a iniciativa 22@.
Políticos e arquitectos de Barcelona foram os protagonistas das referidas
mudanças (Moix, 2002; Muñoz, 2008b). Com eles, e com o apoio dos poderes
económicos instituídos na Catalunha, deu-se início a uma nova etapa nas dinâmicas socioeconómicas da cidade e da área metropolitana. As actuações de
reordenamento urbanístico permitiram o desenvolvimento do sector dos serviços
e proporcionaram uma crescente internacionalização da base produtiva, postulando-se um modelo económico num novo contexto pós‑industrial. Um contexto
centrado no comércio e nos serviços avançados com elevada produtividade,
evidenciando uma alteração de rumo no trajecto da história da cidade, em direcção a uma economia do conhecimento (Busquets, 2004; Clua e Albet, 2008).
Porém, a estrutura profissional e política que consubstanciou a regeneração de
Barcelona nos anos 90 chegou ao seu termo, tendo a iniciativa pública começado
a diminuir, passando a fazê-lo com evidentes mais-valias para as empresas privadas.
Lisboa viveu um momento análogo e oportunidades e debilidades comparáveis. Na década de 1990, no limite oriental da cidade, junto ao Tejo, uma área
urbana em degradação crescente foi alvo de um conjunto de operações económicas e intervenções urbanísticas, sob o pretexto de alojar uma exposição internacional, a Expo’98. Este evento simboliza em Portugal um momento
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
11
memorável de regeneração urbana, recuperação ambiental e paisagística e um
motivo de orgulho nacional. Sob o pretexto de um evento internacional, Lisboa
mostrou vitalidade cultural e apresentou ao mundo a capacidade da arquitectura,
desenho, engenharia e construção nacionais, no edificado estruturado que ergueu
num terreno industrial decadente. Melhorando uma parte do estuário do Tejo,
um importante património para o futuro foi reciclado, recompondo a dinâmica
metropolitana da capital (Gaspar, 2008).
Depois deste evento, na década de 2000, inicia-se uma outra história, que
a renovada imagem, as novas infra-estruturas e acessibilidades e as sinergias
iniciadas, facilitaram. A cidade conheceria uma nova trajectória de operações de
renovação, através de inúmeros projectos – previstos e em curso – de intervenção urbanística, de valorização e requalificação de edifícios e de áreas emblemáticas da cidade, como a Frente Ribeirinha da Baixa Pombalina, a Matinha, a
Ribeira das Naus, o terminal de Cruzeiros, o desnivelamento do nó de Alcântara,
o Capitólio do Parque Mayer, o projecto de instalação do centro cultural dedicado
à arte africana contemporânea (Africa.Cont), o novo Museu dos Coches, a Fundação Champalimaud… Este conjunto de intervenções tem como objectivo
recuperar o papel histórico e simbólico de certos sectores da cidade, restituir
aos cidadãos espaços públicos de qualidade e criar uma “marca cosmopolita”
(www.frentetejo.pt/; www.cm-lisboa.pt/). Esta dinâmica comporta assumidamente
a valorização arquitectónica, ambiental e paisagística, a promoção da cultura e
a dinamização turística de Lisboa (www.frentetejo.pt/; www.cm-lisboa.pt/).
De forma similar à vivida em Barcelona nos anos 80-90, os projectos em
curso em Lisboa retratam o bom entendimento entre a política, a arquitectura e
a cultura. Também em Lisboa, após o impulso da última exposição mundial do
século XX, o colectivo – mormente representado por políticos e arquitectos – abre
de novo os limites fechados da capital para o rio, a área metropolitana, o país e
o mundo. Este novo relacionamento é uma consequência da deslocalização
industrial e da decadência das funções portuárias: finalmente, as grandes obras
públicas vão centrar‑se na recuperação do património, na eliminação das barreiras que separam os cidadãos do rio, devolvendo qualidade ao espaço público,
procurando desenvolver o turismo, abrindo a cidade aos visitantes e associando­‑a
a eventos culturais. Esta viragem é acompanhada pelo fortalecimento de Lisboa
na sua relação com a Europa e o mundo, sobretudo com o “Sul global”.
Assim como sugere o tema central da Expo’98, sobre os oceanos, a diversidade e função essencial de Lisboa no equilíbrio planetário, os projectos em
curso (e a iniciar), que se estendem do centro histórico à frente ribeirinha
oriental, sul e ocidental, traduzem-se em operações de regeneração urbanística,
no resgate do património e no relançamento da economia urbana, procurando
uma imagem equilibrada e diversificada da cidade, uma projecção internacional
e a sua devolução à população. Estas ideias estratégicas são acentuadas no novo
Plano Director Municipal de Lisboa, que aposta na valorização da frente ribeirinha como expoente da imagem da cidade, o seu ex-libris (Expresso, 17/07/2010).
O campeonato europeu de futebol em 2004, a entrada de Lisboa no destino das
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Margarida Queirós
companhias de aviação low cost e uma oferta hoteleira ampliada, converteram
a capital na principal atracção turística do país. Ao pacote de eventos internacionais de que Lisboa tem sido palco, junta-se a assinatura do Tratado de
Lisboa, a Cimeira UE-África em 2007, a cimeira Luso‑Brasileira em 2010 e a
cimeira da NATO, bem como a Volvo Ocean Race com a regeneração da doca
de Pedrouços.
A dinâmica económica do período “pós-Expo” perdeu, todavia, o seu fulgor
nos finais de 2000 o que obrigou, tal como aconteceu em Barcelona, a renovadas
e engenhosas parcerias público-privadas. É precisamente porque nos encontramos
num momento de crise económica, de endividamento e de níveis elevados de
desemprego que existe o risco do “fecho” das perspectivas de expansão e de
regeneração da cidade, ou do condicionamento dos poderes públicos perante os
interesses privados; por isso, importa olhar de novo para Barcelona e procurar
aprender com a sua experiência. Como diria Busquets (2004), aprender na perspectiva das oportunidades e das debilidades, alertando para as circunstâncias
históricas singulares da experiência de Barcelona correspondentes à recuperação
da democracia, ao importante papel das associações de “vizinhos”, à relação
frutuosa entre políticos, arquitectos e engenheiros e à dimensão operativa do
urbanismo; ou, como previne Capel (2005), aprender na perspectiva optimista e
realista. Quer com isto dizer o autor que é possível mudar uma situação de
grandes défices urbanísticos, ou seja, «há sempre solução para os problemas das
grandes cidades, mas isso exige tempo e determinadas condições sociais, económicas e políticas» (Capel, 2005: 21).
Busquets e Capel são unânimes em afirmar que não há modelos gerais e,
portanto, «o que se passou em Barcelona não serve para copiar para fora da
cidade» (Capel, 2005: 25). No entanto, a experiência de Barcelona deve ser
conhecida porque, e resumindo Busquets (2004: 352-354), neste caso as actuações se caracterizaram por uma alteração da escala de intervenção dos projectos
(assente em grandes projectos urbanos), que passaram a ser integrados (sectorial
e territorialmente), e pelo facto da liderança das intervenções, apesar de pública,
surgir em parceria com o sector privado. Esta mudança de regime de actuação
engloba aspectos tão diversos como: um desempenho que implica a participação
popular e a coesão social; a capacitação que a melhoria do espaço público traz
no processo de desenvolvimento social e económico; a descentralização municipal com a cooperação da administração pública, universidades e empresas
privadas; e a gestão integrada da mobilidade e o planeamento estratégico, entre
outras dimensões.
Ao interpretar Barcelona como um laboratório urbano e social, fruto de
um urbanismo entendido como projecto, estamos perante um referencial empírico, integrado, e centrípeto (Montaner, 2004), onde a renovação, iniciada nos
finais dos anos 1980 e durante os anos 90, produziu um salto qualitativo derivado do talento dos técnicos municipais, gestores e políticos que nela intervieram. Este argumento forte explica que o referido laboratório seja um objecto
de estudo apaixonante. Tendo‑se tornado um ícone dos processos complexos
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
13
de planeamento e de construção continuada de uma cidade, serve de lição para
outras cidades que, do ponto de vista do método e da gestão, muito podem
aprender – mesmo que o modelo não seja perfeito, já que o debate intelectual
e as críticas recorrentes apontam para um défice de discussão aberta com os
actores sociais, uma carência de componentes para um “urbanismo verde”, e
os limites da fórmula barcelonesa, muito centrada na cidade municipal esquecida da Barcelona metropolitana (Monclús, 2003; Trenc, Cebollada e MirallesGuasch, 2008).
Este laboratório (a cidade) coloca a descoberto um tema igualmente importante, já que ela surge como “actor político”, o que significa que estão a aparecer novas formas de fazer política de cidades. Com a globalização, essas
políticas sofreram uma transformação nos seus objectivos, descurando o bem‑estar e a política social, para se concentrarem em temas como a estratégia económica e a competitividade o que lhes permite manterem-se na cena global (Degen
e García, 2008).
II. A CULTURA “DO PROJECTO URBANO” eM Barcelona como
motor dE governança
Importa fazer uma reflexão sobre a importância da estratégia territorial nas
transformações recentes em Barcelona; com efeito, o planeamento estratégico
constituiu o dispositivo organizador das actuações, inicialmente da cidade e
depois da área metropolitana. Barcelona é hoje o centro nevrálgico de uma rede
de cidades. A sua economia de serviços está em processo de expansão, embora
ainda com forte representação da indústria, a base económica tradicional da
cidade e da sua envolvente metropolitana.
A constatação da realidade metropolitana induziu a necessidade de planear
um território que vai muito além das fronteiras administrativas da cidade (Neves,
1996; www.cideu.org). Assim, em 1988 constituiu-se a associação do plano
estratégico de Barcelona, em 1990 dava-se início ao primeiro Plano Estratégico
de Barcelona (PEB) seguido, em 1994, pelo segundo PEB e, em 1999, pelo
terceiro PEB, marcando uma fase de actuação abrangendo exclusivamente a
cidade de Barcelona. Numa segunda fase, o PEB alarga a sua área de acção,
incluindo nela o território metropolitano e, em 2003, era aprovado o primeiro
Plano Estratégico Metropolitano de Barcelona (PEMB); este foi revisto em 2007
e desde 2008 está em vigor um Novo Modelo de Desenvolvimento da AMB
(www.bcn2000.es).
Actualmente, o PEMB é feito por uma associação privada sem fins lucrativos promovida pelo Ajuntament de Barcelona (Câmara Municipal de Barcelona),
integrando os 36 municípios da área metropolitana. Congrega os interesses de
mais de 300 instituições públicas e privadas, que actuam na área metropolitana:
Câmara de Comércio, Círculo de Economia, União Geral dos Trabalhadores da
Catalunha, Universidade de Barcelona, Feira de Barcelona, Consórcio da Zona
14
Margarida Queirós
Franca de Barcelona, Porto de Barcelona, Governo Regional Autónomo da Catalunha, Conselhos Comarcais, Entidade Metropolitana de Transportes e de
Ambiente,… (www.cideu.org). O PEMB constitui um documento orientador dos
investimentos estratégicos de desenvolvimento (infra-estruturas; comunicação;
ambiente; urbanismo; investigação; etc.), da cidade e da região envolvente,
orientados por um modelo e uma visão para um horizonte alargado (2020), que
se prevê concretizar através de cinco eixos (governança e redes; referência global;
qualidade social; infra‑estruturas; sustentabilidade). Os consensos surgem em sede
de um fórum, onde se debatem ideias e políticas. Na actualidade, estão em curso
cerca de 80 projectos estratégicos metropolitanos classificados por “blocos” (em
sintonia com os eixos): conhecimento; mobilidade e acessibilidade; promoção de
sectores estratégicos, infra‑estruturas e equipamentos de impacto urbano; sustentabilidade e ambiente; urbanismo e coesão social (www.bcn2000.es). A metodologia de trabalho da associação (municípios e outras instituições públicas e
privadas) baseia-se em consensos, na liderança partilhada e na cooperação entre
os actores que participam no desenho das estratégias.
Igualmente interessante é verificar que desde o primeiro PEB «a atribuição
de recursos se orientou a partir dos projectos e não dos planos» (Muñoz, 2008b:
153). Monclús (2003) afirma que a cultura do projecto urbano se manifesta logo
nas primeiras publicações do Ajuntament, nos anos 1980. A actuação por projecto,
também apontada como característica da política urbana daquela época por
Muñoz (2008b), baseou‑se em coligações entre os sectores público e privado,
como um reconhecimento mútuo da importância da vontade política no estímulo
à esfera económica da cidade, desenvolvendo uma cultura de confiança e catalisando o envolvimento dos cidadãos. Estes consensos facilitaram, por sua vez,
o planeamento estratégico. Segundo Degen e García (2008), o modelo em que
todos se reconheceram ficou estabelecido no terceiro Plano Estratégico de Barcelona (PEB) sendo a cumplicidade entre actores essencial, como se verificou
nos acordos entre a câmara do comércio, os sindicatos e as entidades patronais,
para a implementação de diversos projectos de infra-estruturas de transportes.
Na qualidade de presidente da Fundación Ciudadania y Buen Gobierno e
director das Estratégies de Qualitat Urbana, Pascual i Esteve (2007: 93) define o
planeamento estratégico de Barcelona como uma operação específica centrada no
desenvolvimento socioeconómico que se inscreve num contexto de uma nova forma
de governar a cidade e o município, e que aprofunda a democracia, assente na
sustentabilidade ambiental, equidade social e crescimento económico. Na sua
perspectiva, uma das grandes inovações do planeamento de Barcelona é o carácter
integrador da actuação urbanística – transversal e territorial – resultante da cooperação institucional pública e privada e da participação cidadã (Pascual i Esteve,
2007). Esta concepção de plano estratégico constitui uma das formas de desencadear a governança territorial, através de um novo tipo de modelo de gestão do
território: a gestão relacional ou de redes. Para que esta fosse possível foi necessária a identificação dos projectos estruturantes da transformação urbana, na perspectiva de construção colectiva do território e com amplo reconhecimento social.
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
15
Mais notável ainda na experiência do planeamento estratégico de Barcelona,
é um trabalho de desenho e recuperação arquitectónica e urbanística, que se
desenvolveu num processo concomitante e consecutivo em diferentes escalas,
que Busquets (2004: 350-411) identifica e agrupa segundo três blocos de actua­
ção: reabilitação urbana, associada a actuações de menor escala e que reflectem,
quer uma intervenção em espaços urbanos, livres e espaços verdes, quer uma
actuação por partes; a reestruturação urbana, que implica estratégias de maior
alcance, relacionadas com a rede viária e a as áreas de novas centralidades; por
fim, as chaves estruturais da forma urbana de Barcelona.
De acordo com Busquets (2004), no primeiro bloco, são exemplos materiais,
o parque urbano el Clot, a praça Salvador Allende, ou a avenida de Gaudí. Merece
ainda uma especial referência a recuperação da Rambla de Poblenou e da Ciutat
Vella (El Raval, Santa Caterina e Barceloneta2). No segundo bloco incluem-se
as transformações relacionadas com projectos viários, conhecidos por nó da
Trinitat, Rambla de Prim, Moll de la Fusta, Via Júlia, Praça das Glories e as
Rondas, bem como, na posição de centros, a Rambla e a Via Llaietana, a praça
de Sant Jaume, e também o “quadrilátero” plurifuncional (Montaner, 2004)
formado nas extremidades pelas áreas olímpicas (o Anel Olímpico na parte alta
de Montjuïc, a Vila Olímpica junto da cidadela – Ciutadella) e que avança em
cunha para a frente de água da cidade, o Vall d’Hebrón no norte da cidade e a
Área Diagonal que sistematiza os espaços circundantes da área desportiva privada
da cidade; na área metropolitana foram feitas, entre outras, intervenções nas
cidades de Sabadell e Badalona. No terceiro bloco, cabem por exemplo, obras
de grande repercussão para a imagem da cidade, como a construção da Vila
Olímpica ou a abertura da Diagonal até ao mar, favorecendo a reorganização de
extensas áreas anteriormente industriais (Oliva, 2003).
Daqui redunda uma outra característica do planeamento estratégico que
Busquets (2004) assinala, ao considerar que todas as intervenções resultaram de
um processo de actuação em diversas escalas que, de certo modo, se sobrepuseram e se sucederam. Completar a forma da cidade resolvendo as suas defi­
ciências, configurar o quadrado urbano (área olímpica) segundo uma lógica
simultaneamente multifuncional e de especialização urbana (mas que no futuro
se converteria em áreas de serviços de toda a cidade), planear vias de conexão,
renovar elementos aglutinadores, bem como conceber as “áreas de nova centralidade” (segundo Montaner, 2004, ideia promovida por Joan Busquets em 1987)
foram as intervenções essenciais em Barcelona até às olimpíadas, seguindo uma
gestão multiescalar e multiactores.
Conforme Pascual i Esteve (2007) e Degen e García (2008), na base do
planeamento deste tipo de operações especiais, a cidade é equacionada, por um
lado, como “uma empresa” (a cidade empresarial de Asher, 1995), já que os
2 Sobre a intervenção neste sector da cidade, em particular no El Raval, Barri Gotic, Santa
Caterina e Barceloneta, uma reflexão mais alargada pode encontrar‑se em Queirós (2009).
16
Margarida Queirós
gastos públicos e particularmente os municipais são desacelerados, dando origem
ao new management como estratégia central da administração pública (criando
uma visão, partilhando o poder, construindo redes de relações, liderando as
acções,…). Por outro lado, surge dominante uma cultura de projecto centrada
nas infra-estruturas e serviços de comunicação e de informação (na economia
do conhecimento), tidos como os motores do desenvolvimento social e económico.
A cultura de projecto associa-se, como referido, a um modelo relacional de
gestão urbana.
Convém lembrar que o papel tradicional da administração pública enquanto
garante do bem-estar, provedora de recursos, equipamentos e serviços públicos
se alterou nos anos 1980, ao surgirem unidades de gestão municipal mais autónomas, dotadas de objectivos específicos e de pressupostos de descentralização
territorial dos processos de decisão. Na década seguinte, emergem mais alterações,
com a introdução de critérios de gestão empresarial dos assuntos públicos e, em
especial, de empresas privadas na gestão dos serviços públicos, criando-se mercados para alguns dos serviços municipais (Queirós, 2002; Pascual i Esteve,
2007). Em resultado, actualmente, na maioria dos municípios, quer em Espanha
quer em Portugal, são práticas comuns a contratação externa de serviços municipais, a cooperação das administrações públicas municipais com a iniciativa
privada, bem como a cultura da competitividade dos serviços públicos orientados
para a eficiência, a qualidade e a prestação de contas ao cidadão, numa lógica
de proximidade. A empresarialização dos serviços públicos associa-se a entidades de capital de risco ou capital de semente, com um modelo de financiamento
misto de grandes infra‑estruturas e equipamentos públicos (Pascual i Esteve,
2007). O planeamento estratégico, iniciado em Barcelona há mais de 20 anos,
é assim o fruto das alterações que se observam na “nova” gestão pública, no
exercício das suas funções – promotora e organizadora – de construção colectiva
do território.
Por tudo o que ficou exposto, a cultura de projecto e o processo de planificação estratégica iniciado com o primeiro PEB foram eleitas “boas práticas”
para aplicar nas cidades latinas, americanas e europeias (Moix, 2002; Busquets,
2004; Capel, 2005; Pascual i Esteve, 2007). Segundo Pascual i Esteve (2007:
101), a transformação liderada pelo Ajuntament conseguiu «converter uma cidade
pouco conhecida numa cidade de vanguarda ao nível mundial»; o modelo de
gestão das transformações desta cidade é motivo de estudo por parte de outras
que almejam o mesmo protagonismo. Tal como Capel e Busquets, também Pascul i Esteve adverte que o que deve ser copiado é a capacidade para adoptar
uma metodologia própria e adequada à situação económica e social de cada
cidade.
Merecem ainda reflexão alguns aspectos singulares que estimulam a cultura
de projecto, que se observa em Barcelona: crescimento económico e recursos
próprios, forte dinamismo populacional com acentuada imigração nacional e de
países terceiros, emergência da sociedade de informação, projecto de futuro e
de internacionalização e competências históricas da Câmara Municipal com
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
17
grande protagonismo e tradição reconhecida de planeamento urbano (existe desde
1974 um Plano Geral Metropolitano, PGM) e marketing. «A reinvenção de
Barcelona não tem nada de novo» já que no historial da cidade existe um vasto
acervo de acontecimentos culturais de desenvolvimento da paisagem urbana
(Degen e García, 2008: 11). A grande transformação ocorre porque a cidade
deixa de ser um centro de produção para se converter num pólo de consumo.
As autoras afirmam que a comercialização de Barcelona girou em torno do
desenho, arquitectura e forma de vida associada ao “estilo mediterrâneo”. Muñoz
(2008a e 2008b) chamou‑lhe processo de “brandificação”, um arquétipo do
modelo de cidade mediterrânea, “pós‑moderna”, eficiente, tecnológica, sustentável, social e culturalmente avançada. Uma outra das suas particularidades é a
capacidade dos seus actores encetarem projectos adaptados ao contexto na economia global (Queirós, 2009). Barcelona tem procurado que as estratégias de
transformação territorial, como se afirma no mais recente PEMB, assentem em
lógicas «desde los proyectos y la acción estratégica» (www.bcn2000.es).
O PGM de 1974 pressupunha uma ordem territorial a partir da regulação
dos espaços públicos, em particular, visando melhorar o sistema de transportes
e as zonas verdes; graças à sua qualidade, e apesar de modificações sucessivas,
a sua essência não foi alterada (Degen e García, 2008). Com ele financiaram-se
pequenos e grandes projectos, como a qualificação de bairros ou os jogos olímpicos. Um outro aspecto marcante do planeamento em Barcelona é que atendendo
aos recursos limitados, as reformas foram feitas com o auxílio dos Planos Especiais de Reforma Interna (PERI) que permitiram, na maioria dos casos, a participação de associações de moradores no desenho das áreas afectadas, estimulando
as identidades de bairro. Já no que se refere ao projecto olímpico, planeou-se
uma dupla estratégia de ampliação do papel da cidade na economia global, e na
afirmação da vocação de liderança metropolitana, ao mesmo tempo que se implementaram projectos transversais e integrados, como o que se verificou em toda
a frente marítima.
O êxito do projecto integrador da construção da vila olímpica, ou o da
regeneração da Ciutat Vella (e muitas outras intervenções já referidas), deve-se
ao facto de serem projectos que, segundo Cohen (1998), se fundaram numa
ruptura consciente com o planeamento funcionalista (fig. 1). Assim, os projectos
em Barcelona passaram a estar centrados em praças, ruas e bairros, em vez de
em espaços públicos, de circulação e zonas de habitação; em seu entender,
Barcelona tornou-se num “cemitério” para os conceitos simplificadores do urbanismo da Carta de Atenas. Cohen (1998) chama ainda a atenção para outro
detalhe: o “tempo” dos projectos de Barcelona é outra das suas características
singulares por escaparem aos ciclos políticos dos mandatos eleitorais, integrando
temporalidades bem maiores. Cohen, concretizando e antecipando Busquets,
Capel e Pascul i Esteve, conclui que as fórmulas utilizadas em Barcelona podem
ser repetidas e as estratégias urbanas reproduzidas; o que não é transportável é
esta integração entre a cultura arquitectónica e a identidade colectiva. Estamos,
por isso, perante uma experiência colectiva, um modelo não formal ancorado na
18
Margarida Queirós
Fig. 1 – Cidade Velha (CV)/Antiga área portuária (AP).
Fig. 1 – Old district/old harbor.
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
19
democracia urbana local, capaz de reajustamentos recíprocos e sem renúncia às
competências respectivas.
Retomando Pascual i Esteve (2007), o processo de planeamento estratégico em Barcelona é feito em colaboração, o que constitui uma sólida base
para o desenvolvimento da governança urbana. Assim, Barcelona – entre
diferentes entendimentos e perspectivas sobre a cidade, construindo e consolidando pontes (Seixas, 2008) – dispõe de prática em gestão de redes de
actores e de projectos complexos, bem como experiências de relacionamento
com a sociedade civil organizada. A par de um planeamento estratégico
integrado, ainda se desenvolveram planos estratégicos sectoriais, como o
plano da cultura, o projecto educativo para a cidade, o plano de desporto, o
plano de serviços sociais e o plano de turismo, revelando a capacidade para
multiplicar instrumentos de planeamento. E os planos estratégicos foram
postos em prática e associaram-se a entidades para elaborar e gerir as estratégias urbanas; estas instituições alargaram o leque de representantes nos
processos de decisão e, em contrapartida, impulsionaram a gestão estratégica
no governo da cidade. Porém, necessitaram de um forte reconhecimento das
administrações públicas e ganharam legitimidade, à medida que nas estratégias de desenvolvimento da cidade também participaram os cidadãos – se
bem que nem sempre com grande fluidez e encapsulando tensões sociais
(Cruz-Gallach, 2008).
III. DESAFIOS POSTERIORES AOS JOGOS OLÍMPICOS de barcelona
O projecto “especial” dos Jogos Olímpicos de Barcelona surgiu ainda nos
anos 1980, como uma oportunidade de renovação, um esforço de cooperação
entre sectores, tendo-se encetado novas formas de gestão urbanística (por exemplo, criação de órgãos específicos) com atributos de uma organização mais eficiente. Barcelona tornou-se um destino turístico e um enclave cultural de
referência (Garcia-Ramón e Albet, 2000). Todavia, no contexto pós‑olímpico,
em meados dos anos 1990, a posição de Barcelona, como centro da economia
financeira e de serviços no ranking de cidades era frágil (Degen e García, 2008).
Alguns autores são de opinião que o modelo seguido até ao culminar das olimpíadas veria terminados os seus dias na década de 2000, perdendo a sua homogeneidade, coerência e equilíbrio territorial, atributos baseados nos elementos
conceptuais de renovação do desenho, arquitectura e urbanismo da cidade; nas
palavras de Montaner (2004), perdeu‑se a anterior capacidade para interpretar e
gerir a cidade o que remete para a questão que se refere aos “limites” do modelo
(Casellas, 2006).
Nos anos 80, a actuação em cada área específica transformou a cidade,
cosendo os limites entre os fragmentos urbanos, obtendo-se uma «continuidade
urbana, sem que se tenha elaborado um plano urbanístico a priori» (Muñoz,
2008b: 153). Porém, aos poucos, os objectivos fixados pelas políticas urbanas
20
Margarida Queirós
na transição democrática foram sendo substituídos por processos de regeneração
de grandes sectores urbanos. Em lugar da intervenção assente na “sutura” entre
bairros, surgem os projectos temáticos de grande escala para criação de centralidades urbanas, dando lugar ao que Muñoz (2008b) identifica como mudança
de ciclo no que respeita ao pensar e intervir na cidade.
Desde então, as intervenções efectuadas em Barcelona são apontadas como
objectos sem relacionamento entre si, efeito de decisões e intervenções opacas,
porque não resultam do consenso e do debate público. Montaner (2004) associa
esta fase a um urbanismo difuso, fragmentado, inacabado e inexplicável. Vai
mais longe na crítica, ao esclarecer que a tendência que se observa nas intervenções do Ajuntament é a de privilegiar a grande escala de implicação, associada
a operações controladas por grandes empresas privadas, revelando a incapacidade
de se impor e escutar as reivindicações dos movimentos sociais. Na sua opinião,
a excepção a este urbanismo obscuro salpicado por objectos isolados é o plano
22@, em Poblenou (que à frente se apresentará), que se implementa de forma
flexível e se adapta à morfologia existente e ao passado industrial e social do
bairro (Montaner e Muxí, 2002; Montaner, 2004).
Mas o expoente máximo da alteração de direcção do “modelo Barcelona”
é – também apontado por Capel (2005) – conotado com o Fórum das Culturas,
em 2004. Montaner e Muxí (2002: 264) estabelecem uma analogia que por si
explica a crítica: de uma «cuidadosa acupunctura num tecido urbano para uma
metodologia de aplicação de prótese de proveniência estranha». A área de
intervenção que corresponde ao referido projecto encontra-se no limite oriental da cidade, numa frente marítima, de 180 ha perto da foz do rio Bèsos, onde
também se localizam uma estação de águas residuais, duas centrais termoeléctricas, uma incineradora de resíduos urbanos e um bairro crítico pelo seu
isolamento e marginalidade social, conhecido por la Mina. Nesta área do edifício do Fórum encontram-se actualmente o Centro de Convenções e de Congressos de Barcelona (com capacidade para 20 mil congressistas), o centro
comercial Diagonal Mar, e edifícios (arranha‑céus) de hotéis, escritórios e
habitação de luxo (fig. 2).
Com este projecto pretendia-se encerrar algo iniciado com as olimpíadas,
dando‑lhe uma vocação cultural e integrando ao mesmo tempo equipamentos
ambientais situados no limite da cidade. Esta intervenção não sutura partes
fragmentadas da cidade, pois altera profundamente a paisagem e os usos. Para
Muñoz (2008b) trata-se de uma operação de “terciarização intensiva”, destinada
a segmentos com poder de compra, recordando modelos de urbanização do tipo
resort (como Miami) e excluindo toda a ideia de cidade integradora, quer do
ponto de vista social, quer urbanístico.
A controvérsia gerada com o urbanismo, que aqui se implementou, demonstra que não corresponde ao “modelo Barcelona”, pois resulta ele próprio de uma
importação dos modelos norte‑americanos. Com efeito, o Ajuntament não tinha
mais soluções nem capacidade financeira – de acordo com Montaner (2004),
apresentava uma enorme dívida – para dar continuidade ao modelo que culminou
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
21
Fig. 2 – Área do «Forum de las Culturas».
Fig. 2 – «Forum de las Culturas» Area.
com os Jogos Olímpicos. A mudança de rumo será simbolicamente marcada pela
exposição Barcelona New Projects; a partir daqui o município sucumbe aos
grandes grupos imobiliários privados (como aconteceu com o grupo Hines). Uma
observação atenta revela que a Câmara Municipal deixa a descoberto a sua
enorme debilidade face ao projecto de desenvolvimento “Diagonal Mar”, que se
desenhou para a área do Fórum, onde hoje encontramos a Illa del Mare e a Illa
de la Llum, que correspondem a duas das cinco fases residenciais deste mega‑projecto, a Illa del Cel, que é um hotel e um complexo de apartamentos, e a Torre
Diagonal Mar, um complexo de escritórios junto da frente marítima. À parte da
remodelação da Rambla de la Mina, o bairro continua sem melhorias substanciais
nas condições de habitabilidade (carência de equipamentos, insegurança, imagem
negativa do bairro…).
A área tem como principal aspecto positivo o facto de ter mantido equipamentos problemáticos (incineradora de resíduos e estação de tratamento de águas
residuais), e de procurar albergar áreas de lazer – projectos de náutica, zoo
22
Margarida Queirós
marítimo e um campus universitário. Apesar da contrapartida materializada na
valorização de uma área com problemas ambientais, o efeito do investimento
estrangeiro aqui realizado foi perverso: o seu resultado na emoção e no comportamento é o oposto ao previsto. A paisagem resultante é asséptica, elitista,
deserta de vida local, uma porção de cidade descartável, “sem alma”, em tudo
se parecendo com qualquer espaço urbano norte-americano, revelando uma
verdade trágica que é a da banalização da cidade de Barcelona (Queirós, 2009).
Contrariando toda a lógica de regeneração de Barcelona, assente em morfologia
e volumetria próprias, bem como o conceito de espaço público usado até então,
esta intervenção não condiz com o imaginário de “mediterraneidade”, antes se
impõe com um skyline nada habitual nesta cidade, que poderia encontrar-se em
qualquer cidade nos EUA.
As grandes diferenças entre os projectos em torno das olimpíadas e outros
mais recentes – como o do Fórum – residem nos objectivos das políticas do
município que parecem ter‑se reduzido a facilitadoras do investimento das empresas privadas e na aceleração de certos processos de mercantilização crescente e
que correspondem, no entender de Montcús (2003), a um urbanismo “globalizado”
ou, no de Muñoz (2008b: 169), a um processo de «brandificación urbana». Agora
a justificação da transformação urbana passou a ser a iniciativa cultural: com o
objectivo de fomentar a interculturalidade, o Fórum das Culturas teve até o apoio
da Unesco. Mas a diversidade e inclusão parou por aqui, pois o desenho do
projecto e a sua programação não foram discutidos pela sociedade civil. Esta
“segunda abertura” para o mar foi planeada de forma muito diferente da dos
Jogos Olímpicos: promoveu‑se mais o consumo da cultura e esqueceu‑se a
construção activa de uma cultura urbana (Degen e García, 2008). Capel (2005:
82) refere que «no projecto Diagonal Mar se previa a presença de sectores de
residência popular». Este objectivo não foi cumprido, pois não se construiu
habitação social e «permitiu-se que empresas imobiliárias se apropriassem das
mais-valias geradas». Com a agravante de ter havido destruição das identidades
históricas, alteração do tecido social, banalização da paisagem – «no se trata
solo de modernidad; el problema puede verse desde otro prisma: la presión
inmobiliaria lo arrasa todo» (Capel, 2005: 83).
Os críticos mais ferozes deste urbanismo de Barcelona são unânimes em
afirmar que, por enquanto, este ambicioso projecto não facultou à cidade uma
“nova centralidade” porque o espaço gerado privilegiou certos segmentos populacionais e se esqueceu que o verdadeiro sucesso de uma cidade reside no facto
de criar praças, ruas e edifícios plurais e multifuncionais e com adequada escala
humana.
A excepção a esta fórmula de intervenção está no projecto de transformação urbana conhecido por “22@” para o bairro de Poblenou – outrora a alavanca
industrial da Catalunha. O seu longo passado industrial está patente na concentração espacial de antigas fábricas (têxtil, química…), hoje visível pela quantidade
de chaminés que se assinalam na paisagem urbana (Queirós, 2009). O bairro de
Poblenou situa-se no sector sul de Barcelona, “encravado” entre a Vila Olímpica
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
23
(agora conhecida por Nova Icária) e o Fórum 2004, e encontra-se, desde 2000,
em processo de transformação urbana (Anuari Territorial de Catalunya, 2007).
A ideia matriz do Ajuntament foi promover um think-thank (que juntou um
grupo de políticos, arquitectos, urbanistas, sociólogos, geógrafos, etc.), do qual
resultou o embrião do 22@ (um projecto de transformação do bairro de Poblenou orientado para a sociedade do conhecimento); um primeiro documento seria
elaborado pelo gabinete de estudos urbanísticos da Câmara Municipal de Barcelona, em meados dos anos 1990 (Oliva, 2003). Como Poblenou tinha sido uma
área dedicada à actividade produtiva, era necessário dar‑lhe um novo impulso,
criando instrumentos de revitalização económica; a sua localização, muito central na cidade, seria certamente motivadora de uma intervenção apelativa para o
mercado (Pareja‑Eastaway et al., 2008). Assim, surge a ideia de transformação
deste antigo sector industrial, já em decadência, num novo “distrito” digital,
capaz de dotar a cidade de actividades orientadas para a economia do conhecimento, consolidar as actividades criativas e culturais já existentes e atrair novas
indústrias criativas (fig. 3).
Nasce então o Plano 22@bcn, que tomaria forma no terceiro PEB, propondo
a transformação dos quase 200 ha de solos já degradados e desqualificados, que
albergavam o remanescente dos solos e das naves industriais (solos classificados
por “22a” pelo Plano Geral Metropolitano, PGM), num novo distrito altamente
qualificado e tecnológico (engenhosamente redenominado de 22@ já que usa a
classificação do PGM para os solos industriais), um espaço produtivo assente
no conhecimento, criatividade, talento e inovação, com a novidade de prometer
a coabitação com a função residencial e dotado de equipamentos sociais (Queirós, 2009).
A renovação das áreas industriais de Poblenou criaria novos espaços produtivos, procuraria aumentar o emprego, edificaria novas residências de protecção social, novos equipamentos e zonas verdes. A aposta no 22@ corresponde
a uma concepção da geografia económica da cidade, que se perfila como um
dos aspectos mais inovadores de Barcelona; 22@, uma concepção que, segundo
Borja (2009), facilita a passagem da velha indústria à nova economia, e se
tornou o ícone das operações urbanísticas de regeneração da cidade da década
de 2000, resultantes de parcerias público‑privadas para investimentos em infraestruturas físicas, e das apostas em novas actividades e emprego associados à
sociedade do conhecimento. Hoje em Poblenou aposta-se na atracção, por exemplo, dos new media, das TIC, das energias renováveis…
Enquanto plano de renovação urbana, o 22@ delimita no seu interior seis
âmbitos territoriais (Llull Pujades Llevant, Perú-Pere IV, Campus Audiovisual,
Parc Central, Eix Llacuna e Llul Pujades Ponennt) e com o exterior procura a
articulação com outras áreas da cidade: por isso, encontra-se associado a importantes realizações a norte do bairro, como é o caso de Sant Andreu‑Sagrera,
onde chegará o comboio de alta velocidade, e as intervenções de qualificação
urbana na praça das Glories, tudo isto formando uma “triangulação” com o
Fórum das Culturas 2004 (22@barcelona, 2005). Através do plano 22@, o bairro
24
Margarida Queirós
Fig. 3 – Bairro de Poblenou / 22@.
Fig. 3 – Poblenou / 22@ Neighbourhood.
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
25
ganha densidade com o aumento da edificabilidade, vê melhorada a qualidade
do espaço urbano, já que ganha novas zonas verdes, infra‑estruturas e equipamentos, e beneficia de um uso mais eficiente do solo urbano. Todo o processo
é delineado pelo Ajuntament de Barcelona, que cria uma empresa de capital
100% público, mas com gestão privada, a 22@bcn, encarregue de orientar todo
o processo de desenvolvimento.
A “filosofia” de desenvolvimento do 22@ pressupõe que na sua base se
combinem muito frequentemente acções da administração pública, universidades,
centros tecnológicos e de investigação, com as de empresas privadas, formando
assim uma “tripla hélice” (Etzkowitz, 2002). Actualmente, em Poblenou estão
instaladas áreas científicas e de investigação em crescimento, pertencentes a
universidades conceituadas que promovem cursos relacionados com a economia
do conhecimento (Jordi Adriá, entrevista Maio 2009).
Como é um sector da cidade ainda em transformação, a diversidade de
situações urbanísticas abunda: património industrial abandonado, habitação da
classe média, social e de luxo, espaços devolutos, etc. (Queirós, 2009). Mas nem
tudo nesta operação de desenvolvimento urbanístico e económico correu bem.
A eliminação de uma parte substancial da arquitectura industrial de Poblenou
(prevista e executada) é algo que o Ajuntament teve dificuldade em explicar aos
habitantes, tendo sido “obrigado” a fazer concessões. Com efeito, as longas e
duras negociações entre o Ajuntament e plataformas associativas locais (que
trabalharam em concertação com a população local e investigadores universitários), preocupadas com a preservação do património industrial (Salvador Clarós,
entrevistas Março e Maio, 20093), resultaram no acréscimo de 68 novos elementos do património industrial de Poblenou ao catálogo do património industrial
da cidade.
Hoje o distrito de inovação 22@ ainda convive com o que restou do património industrial do bairro, graças à aprovação do Plano de Protecção do Património Industrial. Este deve-se à referida acção reivindicativa, concertada e
persistente, a partir de um movimento social urbano (Associação dos Vizinhos
de Poblenou – AVPN; Grupo do Património Industrial do Forum Ribera Bèsos,
etc.), que germinou desde o início do projecto (Mercedes Tatjer, entrevista Março
20094) e cuja milestone decorre com a intervenção associada ao Eix Llacuna.
De acordo com o El Periodico (14/03/2009), o balanço dos resultados do
projecto 22@, em finais de 2008, era muito positivo: num universo de 1441
empresas instaladas, 986 (68,4% das empresas instaladas) relacionavam-se com
alguma actividade dos cinco sectores/eixos temáticos. O emprego criado ascendia a 42 mil trabalhadores e quase 50% desta nova economia não existia ali
3 Ex-Presidente da Associação de Vizinhos de Poblenou (AVPN), membro da Comissão Obrera
Nacional de Catalunya, entrevistado em 2009 e líder do “movimento de contestação 22@” – Património Industrial e Can Ricart. Entrevistado pela autora em 2009.
4 Professora Catedrática da Universidade de Barcelona, membro do Forum Ribera Besòs.
Entrevistada pela autora em 2009.
26
Margarida Queirós
anteriormente. Em 2010 as informações do site www.22.barcelona.com actualizam aquela informação para Dezembro de 2009: do conjunto de 1502 empresas
que então estavam em processo de instalação, ou já instaladas no 22@ desde
2001, mais de 69% pertencem a um dos cinco sectores estratégicos (media, TIC,
TecMed, energia e design) e dos 44.600 novos trabalhadores locais, metade
possui formação universitária.
Clua e Albet (2008) alertam para o carácter inovador, complexo e dinâmico
do projecto que, até à data, foi suficientemente flexível para a sua sobrevivência.
O 22@ foi possibilitado por profissionais e seus conselheiros, que defenderam
a necessidade de promover actividades produtivas associadas às TIC. O incentivo
trazido por mais uma grande intervenção urbanística em Barcelona abriu as
portas à participação de proprietários e promotores do plano. Os movimentos
sociais completam a lista dos actores envolvidos neste projecto. Para Clua e
Albet (2008) o processo demonstra simultaneamente a importância da iniciativa
pública e a falta de liderança política e de participação popular no processo de
planeamento, constituindo estes últimos sérios obstáculos a um adequado desenvolvimento do plano.
Em 2007, por todo o mundo, anunciava-se o fim da prosperidade económica
que possibilitou novas áreas de transformação da cidade de Barcelona desde os
últimos anos da década de 80 e o início da de 90 (Memòria Estratégica, 2008).
No contexto de crise financeira do novo milénio, como se poderá dar continuidade
ao movimento de transformação da cidade e, em algumas situações, continuar
a obra iniciada com as olimpíadas? O distrito da inovação 22@ dá esperança
para responder a esta difícil questão. Os investidores abrandaram, e o crescimento
empresarial do 22@ também baixou o seu ritmo mas não estagnou. Possivelmente
porque no seu conjunto corresponde a uma boa aposta, territorial e integrada
sectorialmente, apesar dos seus problemas de governança. Por isso, talvez seja
benéfico que aqui se aplique o que diz Montaner (2003): a cidade constrói-se
lentamente, discutindo e melhorando cada projecto e deixando que a cidade
evolua e que o debate não termine.
IV. O DEBATE CONTINUA
O que se vem apresentando com base na experiência de Barcelona diz
respeito a certas mudanças ocorridas nos 36 anos após a instalação da democracia, em 1974. Transformações da geografia, economia, cultura e sociedade que,
por sua vez, correspondem a processos de modernização desta cidade.
Há ainda a ponderar os limites da fórmula barcelonesa, sobretudo se atendermos, não à Barcelona-cidade, mas à Barcelona-metropolitana. Monclús (2003)
adverte para o facto de a dimensão metropolitana ser aquela que é comparável
com outras metrópoles europeias, com mais de 4 milhões de habitantes e um
território de mais de 3000 km2 (www.cideu.org/).
Na presunção de que o “modelo Barcelona” se formula como uma alterna-
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
27
tiva do Sul da Europa ao sprawl urbano, como se explica então a existência de
um intenso processo de suburbanização, acentuada segregação de usos do solo
e acrescida dependência do automóvel, fenómenos que ocorrem na área metropolitana nos últimos 20 anos? Apesar de todo o leque de intervenções, desde os
anos 1980, para uma “cidade compacta”, estaremos perante o paradoxo de uma
convergência progressiva com o urban sprawl?
Segundo Capel (2004), o modelo Barcelona foi promovido como o de uma
cidade compacta nos anos 1980-90. O autor afirma ainda que a densidade a que
o modelo se refere é a que respeita à cidade-município, já que estudos (e estatísticas) demonstram que a aglomeração barcelonesa avançou de forma considerável, correspondendo a uma urbanização dispersa, com tipologias de habitação
de baixa densidade, concluindo que a realidade ultrapassou os ideais dos técnicos e políticos responsáveis. Perfilhando esta crítica, Muñoz (2008b) afirma que
durante o período em que se exaltou o “modelo Barcelona”, o processo de
crescimento e expansão da região metropolitana de Barcelona foi tão intenso
que deu lugar a um território disperso, completamente distante da imagem de
cidade compacta mediterrânea, aquela que possibilitou a atribuição à cidade de
Barcelona, de um prémio do Royal Institute of British Architects, em 1999
(McNeill, 2003).
É precisamente sobre o espaço metropolitano que se tem vindo a expandir com base em baixas densidades e em padrões de especialização funcional
e de estandardização da paisagem urbana, que trata o artigo de Cebollada e
Miralles‑Guasch no presente número. Observando a desigual estrutura territorial derivada da utilização intensiva do transporte individual, os autores analisam as diferenças entre o espaço central de Barcelona e a periferia
metropolitana. Concluem que as áreas de subúrbio registam uma carência de
multifuncionalidade nos seus quotidianos, e que tal é fruto da inaptidão das
políticas públicas para inverter estes processos urbanísticos pouco sustentáveis.
A mobilidade sustentável é assim um problema por resolver na Barcelona
metropolitana, assim como a segregação social decorrente das desigualdades
associadas às mobilidades.
Uma crítica em sintonia com a anterior é a que se pode ler no artigo de
Díaz‑Cortés e Garcia‑Ramón (presente volume) na análise dos quotidianos nos
usos dos espaços públicos na região metropolitana de Barcelona. Os autores
procuram enquadrar o conceito de espaço público de acordo com diversas perspectivas científicas; de entre as diversas visões do que é (ou poderia ser) o espaço
público referem o seu importante papel na integração e coesão social, mas alertam para a discriminação e marginalidade que neles pode ocorrer.
É justamente nesta perspectiva que Díaz-Cortés e Garcia-Ramón estudam
um espaço público, a Praça de Ca n’Anglada, situada na cidade de Terrassa, na
área metropolitana de Barcelona. O ponto de partida reside no desenho e planificação da praça que corresponde a uma organização “sexista”, ligada ao masculino, mas, por oposição, mais utilizada por mulheres, uso derivado do papel
28
Margarida Queirós
que a sociedade patriarcal lhes reservou. A abordagem insere-se nos estudos da
geografia feminista e cultural que tem dado importantes contributos para a construção das geografias do quotidiano e da memória, e tem um forte cunho empirista e de trabalho de campo. Este estudo constitui um marco inovador da análise
dos espaços públicos já que contribui para relançar o tema e estimular uma
reflexão sobre a sua reformulação conceptual e a investigação das relações sociais
nos quotidianos e o papel que neles assume o espaço público.
Preocupações com as intervenções sociais, o dia-a-dia das famílias e uma
sensibilidade especial ao quotidiano das mulheres, revelam-se nos primeiros
passos do arquitecto catalão, Ricardo Bofill. É sobre uma polémica obra sua que
se desenvolve o artigo de André e Rousselle neste número, partindo do argumento
de que este projecto representa uma “estratégia social criativa” no contexto de
uma metrópole reconhecida como meio inovador. Conscientes das oportunidades
que Barcelona faculta à inovação social, bem como a sua forte imagem cultural,
artística e criativa, André e Rousselle confrontam‑nos com um caso de estudo
em Sant Just Desvern (não muito distante da Ronda de Dalt, na área metropolitana de Barcelona), que se estrutura em torno de um edifício residencial, o
Walden‑7, um projecto colectivo e idealista inspirado na natureza, simbolizando
uma “cidade-jardim no espaço”. As autoras associam-no a uma “utopia realizada”,
um ícone e um monumento ao subúrbio. Um desígnio tão belo que, todavia,
conhece contrariedades inimagináveis, sobretudo a partir de 1980. André e
Rousselle demonstram que a crise do Walden-7 representa algo mais profundo:
a crise de valores sociais. Mas o Walden e os seus residentes ultrapassaram as
diversas vicissitudes com muito sentido de solidariedade e forte intervenção
pública e hoje é considerado um edifício flagship de Barcelona.
A propósito do tema das identidades sócio-territoriais, Mendizàbal (neste
volume), oferece uma visão apaixonada da formação da identidade do bairro
de Gràcia, outrora uma vila nas proximidades de Barcelona. Mendizàbal insere
esta reflexão no âmbito dos estudos culturais em Geografia e remete para a
discussão de importantes e recorrentes conceitos, como identidade, lugar e
territorialidade. No contexto de Barcelona, o autor destaca a história e a especificidade da formação deste bairro, como um exemplo da manutenção de uma
identidade peculiar dentro de uma grande metrópole. Discorrendo sobre o
desenvolvimento da cidade de Barcelona, o seu processo de industrialização e
de densificação populacional, Mendizàbal oferece uma lição de geografia, cultural, social e histórica, e demonstra como a tradição operária e catalanista de
Gràcia é um exemplo da grande diversidade da composição actual dos habitantes da cidade de Barcelona.
Uma visão crítica ao urbanismo recente de Barcelona manifesta-se no artigo
de Gallach e Martì‑Costa (no presente número). Os autores apontam, por um
lado, para a falta de sensibilidade social da administração pública, e a pouca
atenção às necessidades e reivindicações dos residentes e, por outro, para a
tendência recorrente de adaptação do território às necessidades do capital, esquecendo o património industrial e identitário da cidade. O planeamento estratégico
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
29
conduzido pelos poderes públicos em Barcelona tem os seus défices, encontrando
por isso obstáculos que ecoam através das plataformas de mobilização cidadã.
Estamos, assim, perante conflitos sócio‑territoriais que Gallach e Martì-Costa
muito bem ilustram, através de uma situação conhecida por “Salvem Can Ricart”
(uma acção cidadã de defesa do património industrial contra o plano 22@ – o
recinto Can Ricart, situado em Poblenou era um antigo espaço ocupado por naves
industriais). Os autores concluem que “Salvem Can Ricart” demonstra como o
futuro da cidade não foi suficientemente debatido e a administração actuou de
uma maneira individualizada, o que não é vantajoso para a governança e o futuro
da cidade. Atendendo ao conceito apresentado por André e Rousselle neste
número, as estratégias apresentadas por Gallach e Martì-Costa constituem igualmente “estratégias sociais criativas” que merecem uma maior atenção por parte
da investigação dos geógrafos.
Barcelona associa-se facilmente a noções como criatividade e cultura,
constituindo estes traços uma bagagem distintiva e peculiar, fazendo dela uma
cidade diferente. Pareja-Eastaway (neste volume), reconhece que muitos já a
apelidaram de cidade dos prodígios, cidade das mil faces, cidade dos arquitectos…
E que elementos–chave estão a converter Barcelona numa “cidade criativa”?
Referindo-se a conceitos relacionados com a cidade criativa, divulgados por
académicos conhecidos, como Landry e Florida, Pareja-Eastaway sugere que o
conhecimento e o capital humano são também factores essenciais para o desenvolvimento das cidades criativas. Isto significa que o trabalhador criativo, com
talento e elevadas qualificações, deve ser uma peça essencial na transformação
económica das cidades e, portando, da sua competitividade. Para além da procura
de talento associado aos sectores criativos, como forma de aceder à economia
do conhecimento, Barcelona apostou na cultura, no entender de Pareja-Eastaway,
outro eixo central do crescimento económico e competitividade da cidade. Aliás,
a cidade apresenta-se como uma “marca” e um produto cultural. Inúmeros indicadores a demonstrá-lo são identificados pela autora.
Num registo complementar ao de Pareja-Eastaway, Casellas, Jutgla e Pallares‑Barbera analisam, neste número, o crescimento económico de Barcelona
baseado na produção de uma economia de serviços avançados, na qual as estratégias de marketing de políticas de comunicação e de promoção do turismo jogaram um papel primordial. Os autores enfatizam o impacto económico do turismo
e do lazer para a cidade no período de 1990-2010 e concluem com uma reflexão
em torno das implicações desfavoráveis para os habitantes de Barcelona e o espaço
público. Casellas, Jutgla e Pallares‑Barbera, abordam as estratégias que, desde os
anos 1980, as cidades em competição usam para “vender um espaço”, criar visibilidade exterior e manter uma imagem atractiva. Apontam o turismo como motor
da economia local de Barcelona, pelo menos desde os Jogos Olímpicos. No entanto,
e em sintonia com a orientação do artigo de Gallach e Martì-Costa deste número,
os autores referem a existência de apreciações críticas ao crescimento da indústria
turística, apontando os efeitos “colaterais” relacionados com o aumento de valor
económico dos solos urbanos e o consequente menor acesso das populações,
30
Margarida Queirós
sobretudo nos finais de 2000, o que levou à elaboração de um novo plano estratégico de turismo que introduz a componente da cidadania.
Remetendo para a questão inicial que reproduz a preocupação de Casellas
et al., termina esta introdução ao volume XLV (número 90) sabendo que, longe
de dar resposta a esta interrogação, o seu objectivo é discutir os processos de
transformação de uma metrópole inovadora, cujo modelo de desenvolvimento
terá que forçosamente de se reinventar. Até aos nossos dias esta cidade tem
demonstrado ser capaz de derrubar todos os obstáculos. O desafio maior será o
de suturar e de integrar o território metropolitano: encontrar formas de suceder
ao sprawl mediterrâneo e «recombinar a densidade construtiva com a diversidade
social e a complexidade urbana» (Muñoz, 2008b: 171).
O último texto deste número, de Horácio Capel, alerta para a “prepotência”
das atitudes do Ayuntamiento na construção da cidade e apela para a necessidade
de encontrar um outro modelo de urbanismo, assente em novas formas de
desenvolvimento económico e de organização social. Do que Barcelona necessita,
em sua opinião, é de “novas atitudes políticas e renovados marcos teóricos de
actuação territorial”.
Barcelona encerra um mundo de histórias e paradoxos em cenários construídos – pelos seus políticos, profissionais e grupos de cidadãos organizados
– com muita criatividade. Juntou-se aqui um extenso conhecimento sobre os
processos de (re)construção da cidade e abordou-se a diversidade de escalas
sobre as quais podemos “ver” Barcelona. Por isso, é praticamente impossível
abarcar todas as mensagens destes artigos numa única leitura, tal a diversidade
de horizontes que estes constroem, difíceis de ser absorvidos de um só fôlego.
Não é difícil entender porquê. Barcelona é um leque de possibilidades, por isso
este número foi intitulado BARCELONA(S). Existe a Barcelona turística, a
Barcelona cultural, a Barcelona histórica, a Barcelona monumental, a Barcelona
industrial, a Barcelona dos espaços públicos, a Barcelona dos bairros, a Barcelona da cidadania, a Barcelona criativa, a Barcelona‑município e a Barcelona‑metropolitana, que são todas elas as minhas favoritas Barcelona(s). Esta é uma
cidade que se descobre pela primeira vez, depois novamente e de novo se redescobre, vezes sem conta.
Cidade dos projectos ou projectos de cidade? Ambas, porque por um lado,
a política de regeneração urbana se tem pautado pela multiplicidade de projectos,
pela cultura urbana e participação social. Por outro lado, como dizem Clua e
Albet (2008), não pode deixar de estar nos projectos desta cidade o acompanhamento do processo de globalização (Barcelona na economia e sociedade do
conhecimento e da informação). É no entanto, chegado o momento de equacionar a proporção exacta entre os benefícios imediatos dos projectos insuficientemente amadurecidos pela sociedade e os ganhos dos projectos de longo horizonte
delineados através de um planeamento estratégico urbano impulsionador do
consenso social.
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?
31
AGRADECIMENTOS
Agradeço profundamente aos autores dos artigos que muito nos prestigiaram com a sua participação na construção deste número: sem o seu compromisso a revista e os seus leitores perderiam
esta oportunidade de reflectir sobre Barcelona; também estou grata aos revisores de todos os textos
apresentados neste número: as suas críticas e sugestões permitiram aperfeiçoar a qualidade dos
conteúdos.
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LA MOVILIDAD EN LA REGIÓN METROPOLITANA
DE BARCELONA: ENTRE LOS NUEVOS RETOS Y LAS
VIEJAS PRÁCTICAS
Àngel Cebollada1
Carme Miralles-Guasch1
Resumen – La extensión territorial de la Región Metropolitana de Barcelona
(RMB) de los últimos decenios se ha producido a partir de los patrones de la especialización funcional y de baja densidad. Este modelo urbano se asocia al uso del
vehículo privado. Este hecho se contradice con el reto de las políticas públicas de
conseguir una pautas de movilidad sostenibles, priorizando aquellos modos de transporte menos costosos ambiental y socialmente. El presente artículo señala los impactos de las viejas prácticas de la movilidad basadas en el coche privado en los cada
vez más extensos espacios suburbanos de la RMB y las herramientas disponibles para
alcanzar los nuevos retos planteados de una movilidad sostenible.
Palabras clave: Movilidad cotidiana, Región Metropolitana de Barcelona,
exclusión social, sostenibilidad.
Resumo – A
Região Metropolitana de Barcelona: entre os
A expansão da Região Metropolitana de
Barcelona (RMB) nos últimos decénios seguiu padrões de especialização funcional de
baixa densidade. Este modelo urbano está associado ao uso da viatura particular. Este
facto contradiz o repto das políticas públicas que têm como objectivo a mobilidade
sustentável e visam dar prioridade aos transportes com menos custos ambientais e
sociais. O presente artigo mostra os impactos das velhas práticas de mobilidade apoiada
no uso de viaturas particulares nos espaços suburbanos da RMB e os instrumentos
disponíveis para alcançar os novos desafios para uma mobilidade sustentável.
mobilidade na
novos desafios e as velhas práticas.
Palavras-chave: Mobilidade quotidiana, Região Metropolitana de Barcelona,
exclusão social, sustentabilidade.
Abstract – Mobility
Barcelona’s Metropolitan Area: Between new
The urban sprawl of the Barcelona Metropolitan
Region (BMR) in recent decades has been linked to its pattern of functional spein
challenges and old practices.
Recebido: 10/05/2010. Aceite: 29/10/2010.
1 Profesor del Departamento de Geografia, UAB. E-mail: [email protected],
[email protected]
34
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
cialisation and its low density. This urban model has been closely associated with
the use of the private automobile, which contradicts public policy’s stated aim of
ensuring sustainable mobility patterns by focusing on modes of transport that are
more socially- and environmentally-friendly. This article analyses the impact of the
traditional mobility patterns, which are largely based on the use of private cars,
upon the increasingly suburban areas of the BMR, and highlights the various instruments that can be used to meet the new challenges posed by the need for sustainable mobility.
Key-words: Commuting, Barcelona Metropolitan Region, social exclusion, sustainability.
Résumés – La
Barcelone. Des
L’extension territoriale de la Région Métropolitaine de Barcelone (RMB), au cours des dernières décennies, est partie d’un
découpage fonctionnel de l’espace de faible densité, modèle urbain qui résultait de
l’usage des véhicules particuliers. Ce fait est en contradiction avec les politiques
publiques actuelles de contention de la mobilité, donnant priorité aux modes de transport de moindre coût social et environnemental. Cet article montre les marques laissées par les anciennes pratiques de mobilité dans les espaces suburbains, toujours
plus vastes, de la RMB, et les instruments qui sont disponibles pour permettre une
mobilité de type durable.
mobilité dans la région métropolitaine de
anciennes pratiques aux nouveaux défis.
Mots clés: Mobilité quotidienne, Région Métropolitaine de Barcelone, exclusion
sociale, durabilité.
I.
INTRODUCCIÓN
Desde el último decenio del s.XX, la introducción del paradigma de la
sostenibilidad ha supuesto el nuevo eje de la actuación de la acción pública. En
este contexto, se plantea un nuevo reto en la planificación y gestión de la movilidad cotidiana que ahora añade el adjetivo “sostenible” en su terminología. A
la luz del nuevo paradigma, las pautas de movilidad también deben modificarse
a favor de aquellos modos menos agresivos ambientalmente y justos socialmente.
Estos son los principios de la ley 9/2003 de movilidad de Cataluña aprobada por
el Parlamento autónomo y para ello prevé la creación de planes e instrumentos
para la planificación y gestión de la movilidad con criterios de sostenibilidad
ambiental y social (Parlament de Catalunya, 2004). Pero estos nuevos retos deben
llevarse a cabo en un territorio (especialmente en las zonas de crecimiento reciente) que favorece una movilidad basada en el uso del automóvil.
En este artículo en primer lugar se analizan las dinámicas territoriales de
la Región Metropolitana de Barcelona (RMB) en los últimos decenios. Posteriormente se describen las pautas de movilidad cotidiana presentes en el territorio
metropolitano. A continuación se focaliza en los impactos sociales de la movilidad basada en el uso masivo del vehículo privado en los nuevos espacios
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
35
urbanos asociados al desarrollo en baja densidad de los últimos decenios. Finalmente se hace especial hincapié de la situación en los polígonos de actividad
económica, de los instrumentos para la gestión y planificación de la movilidad
y de los resultados obtenidos hasta el momento.
II. LAS DINÁMICAS TERRITORIALES DE LA REGIÓN
METROPOLITANA DE BARCELONA
La Región Metropolitana de Barcelona constituye una realidad urbana de
4,9 millones de habitantes en el 2008 con una densidad de 1520,5 habitantes.
Este territorio de 3.241,54 km2 se puede definir con tres ámbitos demográficamente parecidos pero con características urbanas y socioeconómicas distintas,
elementos que influyen poderosamente en la movilidad cotidiana (figura 1 y
cuadro 1). El primero de los ámbitos lo constituye el municipio de Barcelona
(o ciudad central) con 1.615.908 habitantes y con una densidad próxima a los
16.000 hab/km2. Un segundo ámbito lo constituye la primera corona (o aglomeración central) que comprende los municipios alrededor del municipio de
Barcelona y presenta una estructura urbana compacta. Suma una población de
1.570.553 habitantes y una densidad de 2938 hab/km2. Finalmente, la segunda
corona se extiende por la parte externa del territorio metropolitano y se integra
por ciudades medianas, pequeñas y antiguas zonas rurales con una población de
1.742.391 habitantes con una densidad de 668 hab/km2.
Fig. 1 – Región Metropolitana de Barcelona.
Fig. 1 – Barcelona Metropolitan Region.
36
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
Cuadro 1 – Población de la Región Metropolitana de Barcelona.
Table 1 – Population of the Barcelona Metropolitan Region.
Ámbito
Barcelona
Primera corona
Segunda corona
Total región Metropolitana
de Barcelona
Población 2008
Habitantes
%
1.615.908
33%
1.570.553
32%
1.742.391
35%
4.928.852
100%
Superficie
(km2)
Densidad
(hab./km2)
101,4
534,6
2.605,54
15.943,80
2.937,81
668,73
3.241,54
1.520,53
Fuente: E
laboración propia a partir de IDESCAT (www.idescat.cat) y Área Metropolitana de Barcelona
(www.amb.cat).
El territorio urbano que se presenta, pues, muestra claramente una gradación
de densidad de población decreciente desde su centro (el municipio de Barcelona)
hacia la segunda corona. Igualmente, estas diferencias de densidad demográfica
reflejan distintas formas de urbanización y ocupación del territorio. Por un lado,
el área urbana central se presenta como una ciudad compacta y con una distribución de funciones bastante homogénea y mixta; es la Barcelona que suele
identificarse como el modelo de “ciudad mediterránea”. Pero por otro lado, la
parte externa de la primera corona y la mayor parte de la segunda corona (con
la excepción de las ciudades intermedias históricas), se caracteriza por las bajas
densidades, las discontinuidades de los tejidos urbanos y una acusada especialización funcional.
1. Tendencias territoriales de los últimos decenios
En los últimos decenios, las tendencias territoriales en la Región Metropolitana de Barcelona han sido hacia una mayor dispersión territorial de sus efectivos demográficos y de las actividades económicas.
La redistribución de la población ha seguido una tendencia hacia la dispersión en el territorio, desde las ciudades más pobladas y de mayor densidad
hacia núcleos pequeños y zonas de baja densidad (cuadro 2). Desde los años 80,
en Barcelona y en otras ciudades medias del entorno metropolitano se han producido pérdidas de población debidas a migraciones residenciales (Pujadas,
2009). El resultado ha sido la pérdida del peso demográfico de Barcelona en
relación al resto del territorio de la RMB, que ha pasado del 41% en 1991 al
33% en 2008. De todas formas la ciudad central gana población en el último
quinquenio, cambiando la dinámica poblacional que se observaba desde 1981,
aunque este incremento no significa que se haya detenido el flujo de salida de
la población hacia zonas de la RMB. Sólo en 2005 se produjo un saldo negativo
de 11.500 personas por movimientos migratorios con el resto de la RMB.
37
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
Las coronas metropolitanas y especialmente en la segunda de ellas, en la
parte más periférica, han experimentado un proceso inverso con el aumento de
población por saldos migratorios positivos. Entre 1981 y 2008 la población de
la segunda corona metropolitana pasó del poco más de un millón de personas a
más de 1.700.000, lo que significa un aumento del 52% en este periodo. El
crecimiento de la primera corona ha sido mucho más discreto, con un aumento
de la población de apenas 180.000 personas, lo que significa un incremento del
14%.
Cuadro II – Evolución de la población de la Región Metropolitana de Barcelona.
Table II – The population of the Barcelona Metropolitan Region over time.
Población 1981
Población 1996
Población 2001
Población 2005
Población 2008
Barcelona
Habitantes
1.752.627
%
41%
Habitantes
1.508.805
%
36%
Habitantes
1.503.884
%
34%
Habitantes
1.593.075
%
33%
Habitantes
1.615.908
%
33%
1.ª corona
1.392.386
33%
1.410.805
33%
1.432.697
33%
1.542.683
32%
1.570.553
32%
2.ª corona
1.093.863
26%
1.308.438
31%
1.453.827
33%
1.634.422
34%
1.742.391
35%
Total RMB
4.238.876
100%
4.228.048
100%
4.390.408
100% 4.770.180
100%
4.928.852
100%
Fuente: Área Metropolitana de Barcelona
Todo ello en paralelo a la importancia creciente de los tejidos residenciales
de baja densidad, los cuales no pueden ser tratados como un fenómeno minoritario en la RMB, ya que grandes zonas del territorio se caracterizan por esta
tipología de vivienda. En el año 2000 se contabilizaban 6089,2 ha de suelo
urbano residencial extensivo y de baja densidad, lo que representa un 40% del
total del suelo residencial (MMAM, 2003). Actualmente, la producción de vivienda esta generando unas tipologías de residencias que incrementarán la presencia en la RMB de estos tejidos. Así, entre 1987 y 2001 se construyeron en la
RMB 330.511 viviendas, de las que más de 205.000, es decir el 65%, correspondían a tipologías de baja densidad, como viviendas unifamiliares, ya sean
aisladas o adosadas (Muñoz, 2006). El mayor número absoluto de viviendas de
este tipo, en concreto 206.878, se construyeron en la segunda corona metropolitana.
2. Reubicación y difusión de las actividades económicas en el
territorio metropolitano
En relación a la distribución y evolución de las actividades económicas, en
los últimos años, se desprenden unas conclusiones similares a las de la población
ya que, aunque Barcelona y los municipios del núcleo central metropolitano no
dejan de ser un gran foco de actividad, existe un proceso de desplazamiento de
las actividades económicas hacia zonas externas de los municipios, buscando
38
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
mejores condiciones y accesibilidades. Esta tendencia empieza a desarrollarse
con las actividades productivas y más recientemente se le suman a ella el terciario, el comercio e incluso los centros educativos y sanitarios.
La distribución y evolución de los afiliados en la seguridad social da cuenta
de este proceso de descentralización de la actividad económica (véase cuadro
III). Entre 1996 y 2008 en el conjunto de la RMB, el número de afiliados se
incrementó el 31%, como se puede ver en la cuadro 3. Este crecimiento que ha
sido desigual según los ámbitos: mientras en Barcelona el aumento ha sido del
27 en la segunda corona metropolitana este incremento ha sido mayor, llegando
al 39%.
Cuadro III – Distribución de los puestos de trabajo en la Región Metropolitana de Barcelona.
Table III – Geographical distribution of jobs in the Barcelona Metropolitan Region.
Ámbito
1996
Puestos de Trabajo
2002
2008
1996-2002
Incremento
2002-2008
1996-2008
Barcelona
787.507
956.521 1.078.820
18%
11%
27%
Primera corona
387.441
503.486
563.264
23%
11%
31%
422.897
572.788
689.970
26%
17%
39%
1.599.841 2.034.797 2.332.054
21%
13%
31%
Segunda corona
Total RMB
Fuente: M
ancomunitat de Municipis del Área Metropolitana de Barcelona, 2006 i Ajuntament de Barcelona;
http://www.bcn.es/publicacions/b_economia/be68.pdf
El proceso de difusión de las actividades por el territorio se ha producido
en paralelo a la proliferación de polígonos industriales, ubicados en zonas externas de la ciudad y aislados de las partes urbanas consolidadas (Miralles-Guasch
y Donat, 2007).
III. LAS PAUTAS DE MOVILIDAD EN LA REGIÓN METROPOLITANA
DE BARCELONA
Según la Enquesta de Mobilitat Quotidiana del 2006, (EMQ06)2 en la
Región Metropolitana de Barcelona se concentran las dos terceras partes de los
desplazamientos semanales que se dan en Cataluña, una proporción similar a
los sus habitantes y a la concentración de actividades económicas. A lo largo de
una semana en la RMB se registran 106,9 millones de desplazamientos de la
población mayor de cuatro años, con una media diaria de 16,8 millones de
2 La Enquesta de Mobilitat Quotidiana es una encuesta quinquenal sobre los hábitos de
movilidad de la población de Cataluña.
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
39
desplazamientos en un día laborable y unos 11,2 millones en festivo. El 79% se
da en días laborables y el resto en festivos.
A nivel de las tres coronas metropolitanas que integran la RMB, en día
laborable, los desplazamientos situados en el interior de la corona son mayoritarios, con un 83,2%, que significa 13,3 millones de movimientos, los de
conexión entre las tres coronas son 13,8%, unos 2,2 millones. Y sólo se desplazan al exterior de la RMB un 3% que significa unos 484 miles de desplazamientos. El municipio de Barcelona se sitúa como segundo destino de todos
los movimientos de la Región. Estos movimientos se traducen en unas autocontenciones en cada una de las coronas muy elevadas. En Barcelona casi el
83% de los desplazamientos que se generan tienen como destino el propio
municipio. En la primera corona este porcentaje es del 78,5% y en la segunda
de casi el 90% (véase fig. 2).
Fuente: ATM y DPTiOP (2007): 20.
Fig. 2 – Flujos de movilidad en la Región Metropolitana de Barcelona (en miles).
Fig. 2 – Mobility flows in the Barcelona Metropolitan Region (in thousands).
En la segunda corona metropolitana, además de los viajes con origen y
destino en el propio territorio, el destino del resto de los desplazamientos es
hacia Barcelona (5,7%), a la primera corona (3,1) y a fuera de la RMB (2%).
En la RMB el 70% de los desplazamientos se dan en el interior del propio municipio. La autocontención municipal es mayor en el centro metropolitano y experimenta una gradación hacia la segunda corona. Así, en los
municipios de la primera corona metropolitana esta autocontención alcanza
valores del 80%.
40
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
Modos de transporte utilizados
En un día laborable, los medios de transporte utilizados difieren según sean
movimientos internos o externos en la RMB. Entre los primeros, casi el 50%
utiliza transporte no motorizado (a pie y en bicicleta), un 35% los modos privados y menos de un 20% los públicos. En los desplazamientos de conexión
con el resto del territorio catalán, casi el 80% utiliza medios privados, menos
del 20% los públicos y un 1,5% los no motorizados.
Más allá de la distancia de los desplazamientos que no permite el uso del
transporte no motorizado, la diferencia entre los públicos y los privados se explica
por una oferta desigual de transporte público entre los distintos territorios. Unas
desigualdades que dibujan modelos de movilidad dispares y desequilibrios territoriales en las redes de transporte público, especialmente entre el centro de la
metrópoli y el resto del territorio.
Estas diferencias se explicitan cuando se elabora el ratio de uso entre el
transporte público y privado en las distintas coronas metropolitanas. En Barcelona
este ratio es de 1,71, donde el transporte público es mayoritario, sin embargo en
la primera y segunda corona este baja a 0,33 y 0,11 respectivamente. También
en los desplazamientos de conexión entre ellas se sigue esta misma pauta, si
entre Barcelona y la primera corona el ratio es 1,17 favorable al transporte
público las otras conexiones son favorables al privado, con 0,81 entre Barcelona
y la segunda corona y 0,25 entre esta y la tercera.
Estas diferencias entre el espacio central y las periferias metropolitanas se
explican, como se ha visto en el apartado anterior, por la desigual estructura
territorial y urbana de cada ámbito, por los modelos de ubicación de las actividades residenciales y económicas, y por la localización de servicios y equipamientos. Factores que se relacionan con el nivel de integración municipal y
metropolitano.
Algunas cifras en ciertas comarcas3 de las tres coronas metropolitanas ayudan
a corroborar las desigualdades existentes entre la oferta de transporte público
(PTP, 2004). Así por ejemplo el número de expediciones por año y habitante
demuestran los desequilibrios existentes. Pues si en el Barcelonès (centro de la
RMB) existen 492 expediciones por habitante y año, en el Vallès Occidental
estas son de 224, en Maresme 220 y en el Vallès Oriental 160. Estos últimos
por debajo de la media catalana que esta en 315 expediciones. El número de
plazas en transporte público demuestra los mismos desequilibrios, pues en el
Barcelonès existen 160 plazas-km habitante y año y en el Vallès Oriental 93, en
el Maresme 86 y en el Vallès Occidental 80. Todas ellas por debajo de la media
catalana que se sitúa en las 100 plazas-km habitante y año.
3 Las comarcas son una de las divisiones administrativas de Cataluña. En el caso de la RMB,
la comarca del Barcelonès comprende el municipio de Barcelona y parte de la primera corona mientras que las comarcas del Maresme, Vallès Occidental y Vallès Oriental comprenden la mayor parte
de la segunda corona metropolitana.
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
41
IV. LA CREACIÓN DE ESPACIOS EXCLUYENTES EN LA REGIÓN
METROPOLITANA DE BARCELONA
Tal como se ha podido constatar, las distintas formas de urbanización del
territorio metropolitano se asocian a diferentes pautas de movilidad. Es en los
espacios con menores densidades constructivas y con una especialización funcional más marcada donde las pautas de la movilidad cotidiana se hallan más alejadas
de los objetivos de la movilidad sostenible ambiental y socialmente. Estos territorios, tal como se ha señalado en apartados anteriores, sólo se han incorporado
a las dinámicas metropolitanas en los últimos decenios mediante un doble proceso
de integración de poblaciones hasta entonces rurales y de nueva urbanización y
mediante la implantación de nuevos espacios construidos en baja densidad.
Este doble proceso ha comportado unos importantes cambios en los hábitos
de movilidad cotidiana. Por un lado, estos municipios se “abren” hacia un territorio más amplio: la autocontención disminuye (a sea, cada vez más los desplazamientos de la población son hacia otros municipios mientras que los que
se quedan en su interior disminuyen). Por otro lado, al aumentar el número de
residentes se incrementa todavía más el número de desplazamientos. Y conviene
señalar que estos nuevos residentes son los que, especialmente, introducen nuevos
estilos de vida en el municipio de recepción. Este incremento de población, como
ya se ha señalado, es fruto de la redistribución de los efectivos demográficos en
el territorio metropolitano y los recién llegados, a pesar del cambio de residencia, siguen manteniendo su puesto de trabajo y, en gran parte, sus círculos de
relaciones y vida cotidiana fuera del municipio de recepción. Ante estos cambios,
los municipios se encuentran ampliamente superados por las nuevas necesidades
en movilidad, aunque no exclusivamente, de la población residente. En este
sentido, la oferta de transporte público responde a la lógica anterior al proceso
de metropolitanización cuando estas poblaciones presentaban unos rasgos rurales y las necesidades de conexión con el resto de territorio eran mucho menores
(Espluga, Cebollada y Miralles-Guasch, 2005).
En este contexto, estos nuevos espacios urbanos se constituyen como espacios excluyentes (Cebollada, 2006) de la posibilidad de una movilidad alternativa
al transporte privado; son espacios monomodales donde el único modo de transporte competitivo (y habitualmente existente) es el vehículo privado. Son espacios urbanos incompletos donde no queda garantizado en su plenitud el derecho
a la ciudad puesto que el derecho a la movilidad queda limitado al uso del
vehículo privado. En este sentido Borja (2004: 28) apunta: “Estos derechos son
hoy indispensables para que las llamadas libertades urbanas o posibilidades
teóricas que ofrece la ciudad sean realmente utilizables. El derecho a moverse
con facilidad por la ciudad metropolitana debe universalizarse, no reservarse a
los que disponen de vehículo privado. La accesibilidad de cada zona es indispensable para existir para los otros”.
En este nuevo espacio urbano aparecen los primeros indicios de exclusión
para aquellas personas que no pueden usar cotidianamente el vehículo privado.
42
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
Diferentes trabajos en la región metropolitana de Barcelona están empezando a
alertar en este sentido. En un estudio sobre las características de movilidad en
municipios de la segunda corona metropolitana (Miralles-Guasch, 2002) se ha
puesto de manifiesto las dificultades de acceso a centros sanitarios (sobre todo
aquellos más especializados) para las personas sin posibilidad del vehículo privado, especialmente personas mayores y mujeres.
Asimismo, la carencia de la posibilidad de desplazarse en modos de transporte alternativos al vehículo privado también afecta a los adolescentes. En un
trabajo realizado en el municipio suburbano de Lliçà d’Amunt (Rivera del Álamo,
2009) se muestra la importancia del derecho a la movilidad para la adquisición
de la autonomía y el desarrollo personal de los jóvenes adolescentes. En este
sentido, la residencias en áreas suburbanas de baja densidad, separadas físicamente
de las tramas urbanas tradicionales dificulta este proceso de emancipación de
este colectivo y reduce su ámbito de vida cotidiano autónomo a un entorno muy
próximo y empobrecido por la carencia de multifuncionalidad del área a la vez
que dificulta el acceso a ciertas actividades formativas, especialmente no regladas
o de ocio de manera que todo ello incide negativamente en su proceso de socialización.
El acceso al mercado laboral ha sido uno de los temas investigados con
mayor profundidad en la Región Metropolitana de Barcelona. La consideración
central que juega la actividad laboral remunerada como elemento de inclusión
social (Espluga, Lamkow y Baltiérrez, 2004) hace que se considere la inaccesibilidad al mercado laboral como una etapa inicial de descalificación que conduce
a la exclusión social (Paugam, 1996) por lo que ha despertado un mayor interés
de estudio.
El análisis de los procesos de exclusión laboral en la Región Metropolitana
de Barcelona muestra un territorio claramente desigual en cuanto a posibilidades
laborales para aquellos colectivos con menos acceso al uso cotidiano del vehículo
privado. Si bien es cierto que hay diferencias notables en el reparto de posibilidades de uso cotidiano del coche entre colectivos, también lo es que esta
variable carece de sentido si no se cruza con la variable territorio y, en concreto,
con las distintas ofertas de transporte en cada espacio concreto. Es evidente que
no es lo mismo no tener coche en el área central de Barcelona, con una gran
dotación de posibilidades de acceso con los modos alternativos al vehículo
privado, que en cualquiera de las áreas urbanas de baja densidad de nueva construcción de la segunda corona metropolitana donde el uso cotidiano del coche
es condición sine qua non para acceder al mercado laboral.
Tres son los colectivos que se describen como los más vulnerables a la
exclusión laboral en la Región Metropolitana de Barcelona: las mujeres, los
jóvenes y los inmigrantes. Estos grupos coinciden, en gran parte, con los colectivos vulnerables en las ciudades británicas (SEU, 2003). Sin duda, estos colectivos no son homogéneos en su interior y la variable transversal de renta juega
un papel importante a la hora de acabar de definir los procesos de exclusión
laboral.
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
43
Cebollada (2009) muestra como los individuos desmotorizados residentes
en los espacios de baja densidad, especialmente de la segunda corona metropolitana, se encuentran en desventaja en el mercado laboral frente a los residentes
en espacios centrales del ámbito metropolitano en lo referente a la oferta de
modos alternativos al coche.
De forma resumida, dichas desventajas se pueden agrupar en oportunidades
laborales perdidas, un mercado territorialmente limitado y una mayor vulnerabilidad laboral. En referencia a las oportunidades laborales perdidas, la no disponibilidad de coche en un territorio urbano sin alternativas de movilidad a este
hace que no pueda optarse a muchas ofertas de trabajo por la inaccesibilidad al
puesto de trabajo, ya sea este potencial o activo. En esta misma línea, la imposibilidad de un uso cotidiano de coche ya comentado también implica que los
individuos afectados centran su búsqueda de trabajo en un territorio muy limitado,
en comparación con las personas en la misma situación residentes en las áreas
urbanas más densas donde las posibilidades de acceso son mucho más elevadas;
hay que añadir, además, que el fuerte carácter monofuncional de estos espacios
limita todavía más las opciones de acceso a lugares de trabajo. Asimismo, las
personas desmotorizadas de las zonas de baja densidad de la segunda corona,
asumen una mayor vulnerabilidad respeto al lugar de trabajo. Tal como se muestra en Cebollada (Cebollada, 2006), es frecuente recurrir a estrategias de movilidad “dependiente”, habitualmente ser acompañados en coche por alguien del
entorno familiar o círculo social. Esta situación puede no ser sustentable en un
periodo temporal largo si la persona conductora, por el motivo que sea, no puede
realizar más el desplazamiento. Igualmente es frágil la estrategia cuando se
comparte vehículo con algún compañero de trabajo; cualquier cambio horario,
baja, etc. provoca que la persona desmotorizada no pueda llegar al puesto de
trabajo.
Los polígonos de actividad económica
Los polígonos de actividad económica constituyen un buen ejemplo de los
espacios excluyentes generados en los últimos decenios de expansión urbana.
Tal como ya se ha señalado (Capel, 2005), el proceso de difusión de la actividad
económica (especialmente la industrial y la logística) en el territorio y la creación
de polígonos industriales aparece con fuerza a partir de la década de 1980. En
la Región Metropolitana de Barcelona, donde se ubican 712 polígonos que en
total ocupan más de 15.000 ha, pueden observarse dos modelos de localización
territorial (Miralles-Guasch y Donat, 2007). Por un lado, en el espacio constituido por el municipio de Barcelona y por la primera corona metropolitana, los
polígonos forman grandes áreas de actividad y se emplazan con contigüidad con
los núcleos de población tradicionales estando, por tanto, agregados a las tramas
urbanas o bien integradas en ellas. En cambio, en la segunda corona (con la
excepción de las municipios mayores con tradición industrial), la localización
44
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
de estos polígonos es de una forma más dispersa y fragmentada siendo habitual
la segregación de los núcleos urbanos. Si bien el modelo mismo de segregación
funcional del territorio casi impide el desplazamiento en modos no motorizados,
pueden encontrarse diferencias en el uso del transporte público en ambos casos
(PIRMB, 2003). Sin llegar a ser nunca como los desplazamientos en el interior
de la ciudad central de Barcelona, en los polígonos de los que se dispone datos
de la primera corona el uso de los transportes públicos colectivos es mucho más
alto que en los de la segunda corona; como ejemplo vemos como en Granvia
Sud 4 el uso del transporte colectivo llega hasta el 27,6% mientras los porcentajes de uso en los polígonos de la segunda corona oscilan entre el 0,2 y el
6,7%.
La localización y la falta de planificación de estos polígonos agravan todavía más los procesos de exclusión laboral relatados en el apartado anterior. Si
bien la desconexión con modos de transportes alternativos al coche particular
es casi total en estos espacios (Cebollada y Avellaneda, 2007), las líneas de
transporte público, cuando existen, conectan los polígonos con los núcleos urbanos centrales. Por tanto, las conexiones entre los espacios suburbanos de la
segunda corona metropolitana siempre quedan a merced del vehículo privado.
Con la voluntad de resolver estos déficits de accesibilidad en modos de
transporte alternativos al vehículo privado a los polígonos industriales, la ley de
movilidad de Cataluña establece una línea de trabajo específica para resolver esta
situación. En concreto se contempla la realización de planes de movilidad a los
polígonos industriales y la creación de la figura del gestor de la movilidad.
Los planes de movilidad a los polígonos industriales avalúan las necesidades de desplazamiento de todas las personas que requieren acceder a ellos y la
incidencia social, ambiental y económica que comporta la resolución de estos
desplazamientos con el sistema de transporte implantado en el momento de
realización del plan. En base a esta diagnosis, el plan se propone establecer las
medidas necesarias para minimizar los efectos nocivos que comporta el sistema
vigente de una forma coordinada entre los distintos agentes que actúan en el
territorio objeto de estudio.
Esta ley obligaba a que los polígonos industriales realizaran planes de
movilidad en un periodo de tres años desde la entrada en vigor de la citada ley
(julio de 2003). En este sentido, esta previsión no se ha cumplido puesto que a
finales de 2009 son todavía numerosos los polígonos industriales sin plan. Pero
además, la realización del plan no ha supuesto en la mayoría de los casos una
mejora de la situación ya que difícilmente se implantan las medidas propuestas.
Los planes se promueven desde diferentes administraciones y están sujetos en
muchas ocasiones a subvenciones sin implicación directa de la administración
que tiene las competencias en la gestión del transporte metropolitano. Además,
4 Granvia Sud es un polígono de actividad económica del continuo urbano del municipio de
Barcelona.
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona
45
esta profusión de administraciones y departamentos ha supuesto en ocasiones
descoordinaciones y solapamientos en la realización de planes de movilidad a
los polígonos industriales (Cebollada, 2007).
Todavía con menos implementación se encuentra la figura del gestor de la
movilidad. En principio esta figura debe ser la encargada de gestionar la movilidad del polígono a partir del plan elaborado y debe prestar especial atención
de trabajar con los agentes del polígono para avanzar consensuadamente hacia
la resolución de los problemas detectados. En la actualidad, la figura del gestor
está implantada testimonialmente puesto que sólo hay dos en la segunda corona
metropolitana (son los únicos de toda Cataluña). Un ejemplo de la dependencia
de las subvenciones antes mencionada es la falta de continuidad de seis gestores
existentes en otros tantos polígonos catalanes (dos de ellos en la segunda corona
metropolitana) cuando finalizó la financiación de dos años del proyecto europeo
del que dependían y ninguna de las administraciones competentes se hizo cargo
del coste que suponían.
Desde un punto normativo, también existe el decreto de calidad del aire de la
Región Metropolitana de Barcelona. Dicho decreto incluye 40 municipios de esta
región en las zonas de protección especial del ambiente atmosférico por superar los
niveles de contaminación permitidos por la UE y en los cuáles, entre otras medidas,
obliga a aprobar planes de movilidad a los centros de trabajo y centros generadores
de movilidad (a partir de los 200 trabajadores si son administraciones públicas, 500
trabajadores si son empresas privadas y 500 visitantes diarios para los centros
generadores de movilidad). Igual que en el caso de los planes de movilidad a los
polígonos industriales, esta normativa no ha sido en absoluto cumplida.
Pese a la creación de un cuerpo normativo con voluntad de resolver esta
situación no parece, transcurridos seis años desde la aprobación de la ley de
movilidad, que se haya conseguido una mejora de la accesibilidad en los modos
de transportes alternativos al coche y mucho menos un cambio en las pautas de
movilidad a estos espacios. La falta de carácter sancionador de dicha ley y,
especialmente, la falta de concreción sobre la financiación de las actuaciones
previstas impiden la consecución de los objetivos marcados. A pesar que la ley
de movilidad también establece que debe desarrollarse una ley de financiación
del transporte público, la elaboración de esta normativa básica está totalmente
paralizada. Por tanto, en estos momentos, por lo que hace a los polígonos industriales, está marcado que debe hacerse y cómo pero no se ha especificado quién
y como debe sufragarse.
V. CONCLUSIONES
La difusión territorial de la Región Metropolitana de Barcelona de los
últimos decenios ha sido, en gran parte, suburbana y en baja densidad. Este
hecho ha favorecido la aparición de unas pautas de movilidad dependientes del
vehículo privado, en clara contradicción con los postulados del paradigma sos-
46
Angel Cebollada e Carme Miralles-Guasch
tenibilista de principios del s.XXI. En cierta forma, estas pautas de movilidad
(ligadas al territorio monofuncional y en baja densidad) se contraponen a los
patrones de movilidad tradicionales de proximidad propias de la ciudad mediterránea donde los modos no motorizados y el transporte público son mayoría.
Este es el caso del municipio de Barcelona, donde gran parte de la vida cotidiana se desarrolla en el interior de los barrios, facilitando los desplazamientos a
pie y en bicicleta, y donde la red de transporte público es densa (PTP, 2004).
No existe, pues, un único modelo de movilidad en la Región Metropolitana
de Barcelona porque esta está íntimamente relacionada con las características
urbanas. En este artículo se ha enfatizado en las características y consecuencias
de la movilidad en el territorio metropolitano de nueva construcción desde un
punto de vista de sostenibilidad social. Se ha apuntado la aparición de nuevas
formas de exclusión derivadas de un modelo de movilidad discriminatorio hacia
los colectivos desmotorizados
A pesar de la existencia de una ley de movilidad en Cataluña pionera en
Europa que recoge los postulados sostenibilistas y prevé el desplegamiento de
instrumentos normativos para la consecución de sus objetivos, la falta del carácter sancionador y la falta de una ley de financiación del transporte público
dificultan enormemente la tarea de modificar las pautas de movilidad en unos
espacios concebidos para el uso (casi) exclusivo del coche.
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MUJERES, VIDA COTIDIANA Y ESPACIOS PÚBLICOS EN LA
REGIÓN METROPOLITANA DE BARCELONA.
EL CASO DE CA N’ANGLADA DE TERRASSA
Fàbia Díaz-Cortés1
Maria Dolors Garcia-Ramon2
Resumen – El objetivo del artículo es analizar la vida cotidiana a través del
uso de espacios públicos por parte de las mujeres residentes en un barrio obrero de
la Región Metropolitana de Barcelona – Ca n’Anglada, en la ciudad de Terrassa. La
primera parte reflexiona sobre la conceptualización del espacio público desde la
perspectiva de género y la segunda parte describe brevemente la metodología utilizada
e introduce también el contexto histórico y social del estudio de caso que presentamos.
La tercera parte se centra en el estudio empírico de la vida cotidiana de las mujeres
en los espacios públicos del barrio escogido. Finalmente elaboramos unas conclusiones y propuestas. La metodología utilizada es cualitativa, básicamente la observación
participante y no participante y las entrevistas en profundidad.
Palabras clave: Mujeres, espacios públicos urbanos, vida cotidiana, geografía
del género, Barcelona.
Resumo – Mulheres, quotidiano e espaços públicos na região metropolitana
Barcelona. O caso de Ca n’Anglada em Terrassa. O objectivo deste artigo é
analisar a vida quotidiana através da utilização de espaços públicos por mulheres
residentes num bairro operário da Região Metropolitana de Barcelona, Ca n’Anglada,
na cidade de Terrassa. A primeira parte incide sobre a conceptualização do espaço
público na perspectiva de género e a segunda descreve sumariamente a metodologia
utilizada e introduz o contexto histórico e social do caso em estudo. A terceira parte
centra-se na análise empírica da vida quotidiana das mulheres nos espaços públicos do
referido bairro. Finalmente, apresentam-se conclusões e algumas propostas. A metodologia qualitativa usada baseia-se na observação participante e não participante e em
entrevistas com alguma profundidade.
de
Palavras-chave: Mulheres, espaços públicos urbanos, quotidiano, geografia do
género, Barcelona.
Recebido: 16/12/2009. Aceite: 20/09/2010.
1 Grup d’Estudis de Geografia i Gènere, Departament de Geografia, Universitat Autònoma
de Barcelona. E-mail: [email protected]
2 Grup d’Estudis de Geografia i Gènere, Departament de Geografia, Universitat Autònoma
de Barcelona. E-mail: [email protected]
50
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
Abstract - Women, daily life and public spaces in Barcelona’s MetroArea: a case-study of the Ca N’Anglada district of Terrassa. The aim
of this article is to discuss the daily use of public space by women in a working class
neighbourhood, located within the Barcelona Metropolitan Area: Ca N’Anglada, in
the city of Terrassa. Firstly we analyse the concept of public space from a gender
perspective secondly we present the research methodology as well as the historical
and social context of the case-study. The third part focuses on the empirical analysis
of women’s daily life and of the use of public spaces in the neighbourhood. Finally,
we draw some conclusions and put forth a number of proposals. The research presented
in the article made use of qualitative methods, namely participant and non-participant
observation, and in-depth interviews.
politan
Keywords: Women, public urban space, daily life, geography of gender, Barcelona.
Résumé – Les
femmes, la vie quotidienne et les espaces publics dans la
Barcelone. Le cas de Ca n’Anglada à Terrassa. On
analyse ici la vie quotidienne des femmes d’un quartier ouvrier, à partir de leur utilisation des espaces publics. On réfléchit d’abord sur la notion d’espace public du
point de vue du «genre» et on présente brièvement la méthodologie utilisée et le
contexte historique et social du cas étudié. Puis la vie quotidienne des femmes dans
les espaces publics du quartier est présentée, avant de conclure par des propositions.
L’étude, de type qualitatif, est basée sur l’observation participative et non, ainsi que
sur des entrevues approfondies.
région métropolitaine de
Mots-clés: Femmes, espaces publics urbains, vie quotidienne, géographie du
«genre», Barcelone.
I.
INTRODUCCIÓN
El propósito de este artículo es analizar la vida cotidiana a través del uso
de espacios públicos por parte de las mujeres residentes en un barrio obrero de
la Región Metropolitana de Barcelona – Ca n’Anglada, en la ciudad de Terrassa –
y contribuir de este modo al análisis de situaciones discriminatorias, tanto desde
el punto de vista social como espacial, que se dan en muchas ciudades. Las
discriminaciones por razones de género son, desgraciadamente, una “normalidad”
en nuestra propia cotidianidad y este trabajo las analiza a partir de la cotidianidad en un barrio concreto. El trabajo se ha desarrollado a partir del enfoque de
género pero no de forma aislada, ya que la complejidad social y espacial reclama,
que se interrelacionen temáticas y aspectos (etnia, clase social, etc.) que van
más allá de este enfoque (Hayden, 1995; Ruddick, 1996).
La primera parte reflexiona sobre la conceptualización del espacio público
desde diferentes enfoques y disciplinas, incluido el de la geografía del género.
La segunda parte describe brevemente la metodología utilizada e introduce
también el contexto histórico y social del estudio de caso que presentamos. La
tercera parte – la más extensa – se centra en el estudio empírico de la vida
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
51
cotidiana de las mujeres en los espacios públicos del barrio escogido. Finalmente
elaboramos unas conclusiones y propuestas.
II. LOS ESPACIOS PÚBLICOS EN LA CIUDAD Y LA CONTRIBUCIÓN
DE LOS ESTUDIOS FEMINISTAS
El uso y la apropiación de los espacios públicos es un aspecto fundamental en los estudios sobre la vida cotidiana de los hombres y mujeres que viven
en la ciudad. Esta experiencia no es la misma para todo el mundo, ya que
factores como el sexo, la edad, la clase social y la identidad étnica afectan a la
percepción y a la vivencia de la vida urbana (Tello y Quiroz, 2009). Desde una
perspectiva sociocultural, los espacios públicos se definen como lugares de
interrelación, de encuentro social y de intercambio, donde convergen grupos
con intereses diversos (Borja y Muxí, 2001; Borja, 2003). Los espacios públicos pueden definirse como espacios mentalmente abiertos porque suelen diseñarse
para una gran variedad de usos, incluso algunos usos que podrían considerarse
no deseables (Walzer, 1986; Valentine, 1989; Pain, 1997). Además, cuando son
utilizados por una gran variedad de personas y para una gran variedad de actividades, pueden contribuir a la identidad colectiva de la comunidad (Valle del,
1997; Franck y Paxson, 1989).
Desde una perspectiva política, la definición incluiría una visión de los
espacios públicos como lugares donde la gente puede participar en la vida pública
y donde pueden expresarse los derechos civiles (López de Lucio, 2000). La
perspectiva de la arquitectura define los espacios públicos como espacios abiertos
y accesibles a todo el mundo, espacios a donde todos pueden ir, en contraste
con los espacios privados de acceso restringido (Chelkooff y Thibaud, 1992-1993).
Los espacios públicos pueden convertirse en “paisajes participativos”, es decir,
en elementos centrales de la vida urbana, que reflejan la cultura, las creencias
y valores (Francis, 1989). El diseño arquitectónico de un espacio, el mobiliario
urbano y la iluminación pueden estimular o desanimar el uso de un determinado
espacio por parte de ciertos individuos o grupos. También se ha señalado el
papel de los espacios públicos en la integración y la cohesión social y se ha
argumentado que la calidad de vida en las calles y en los espacios abiertos es
una condición necesaria para que la sociedad alcance un grado satisfactorio de
convivencia (Rogers, 1998).
Académicas feministas han señalado el sesgo machista de muchos estudios
sobre el medio urbano y el espacio público (Hayden 1981; Greed, 1996; McDowell,
2000). Históricamente, la arquitectura y la planificación urbana, así como su
enseñanza y profesionalización, han sido áreas dominadas por hombres. Como
resultado de ello ha surgido una visión del espacio urbano homogénea y “desgenerizada” (que no tiene en cuenta la estructura de género de la sociedad),
como si los intereses y las necesidades de los hombres fuesen universales (Wilson, 1995). Sin embargo muchas mujeres han reivindicado el derecho a partici-
52
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
par en la planificación y el diseño urbanos a fin de promover una organización
no sexista del espacio público (Wekerle, 1984; Bondi, 1998; Sandercock y Forsyth, 2000), recordándose que el diseño de los espacios públicos tiene mayor
impacto en las vidas cotidianas de las mujeres que en la de los hombres (Borja,
2003). Esto es debido a que las mujeres tienen una relación con su entorno
urbano mucho más estrecha, ya que pasan más tiempo fuera, desarrollando tareas
relacionadas con asuntos domésticos o familiares: recogiendo a hijos e hijas del
colegio o de actividades extraescolares, haciendo acompañamiento a centros
sanitarios o haciendo gestiones relacionadas con la economía doméstica (Prats,
1998; Díaz-Cortés 2006).
Al mismo tiempo, en las sociedades capitalistas el espacio público es
también escenario de discriminación y marginación de classe. Y desde las
diferentes disciplinas se considera que esta realidad se encuadra en un proceso
de mercantilización y privatización del espacio público y, por tanto, de control
de las presencias y actividades que se desarrollan en él, haciendo que la vida
cotidiana en espacios públicos concretos se base en la capacidad de consumo,
en el cierre de clase y/o intracomunitario y la proliferación de espacios de
encuentro y consumo custodiados y altamente vigilados (Sennet, 1978; Fernández Durán, 1996; Davis 2001). En este sentido, los procesos sociales de
dominación y de resistencia en el espacio público han sido descritos tradicionalmente por la geografía cultural a través del concepto de hegemonía, reforzando interpretaciones de diversas formas de dominación que permiten una
mejor comprensión de cómo el poder económico se expresa a través del espacio (Corbridge et al., 1994) y, también, el poder patriarcal, ya que las mujeres
continúan padeciendo una situación de discriminación respecto a los hombres.
Se destaca que los avances en la ocupación en trabajos remunerados o su
presencia en cargos públicos y privados de relieve no ha supuesto un cuestionamiento del patriarcado y, al mismo tiempo ha reforzado las desigualdades
de clase (Gleson, 1995; Bondi y Domosh, 1998; Bondi, 1998; Pain y Townshend,
2002; Kern, 2005). Por ello al analizar los usos y la apropiación de los espacios públicos hay que distinguir entre presencias relacionadas con el trabajo
doméstico (actividades relacionadas con el hogar y la familia) y otras de carácter más autónomo (Flahault, 2001).
Por ello, la concepción de espacio público como lugar de interacciones
sociales y de encuentro aparece cada vez más idílica. Sin embargo, las situaciones en el espacio público son dinámicas, y otros planteamientos subrayan su
importancia real y simbólica en la vida cotidiana a través de la espontaneidad
(Benach y Tello, 2004; Albet et al., 2006) o la resistencia de colectivos discriminados (Jackson 1989; Greed, 1994; Mitchell, 2003). Es en esta realidad de
exclusión y discriminación, pero también de espontaneidad y resistencia, donde
el análisis geográfico en barrios y ciudades pone de manifiesto la importancia
del papel de las mujeres, tanto desde el punto de vista de colectivo discriminado
como de colectivo que no se resigna a las obligaciones o roles que la sociedad
patriarcal impone (Vaiou, 2010).
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
53
III. METODOLOGÍA Y PRESENTACIÓN DEL ÁREA DE ESTUDIO
Este artículo se basa en el trabajo de campo realizado entre 2002 y 2007 en
el barrio estudiado. En la metodología se han combinado métodos cualitativos
como la observación no participante y participante y la entrevista cualitativa en
profundidad con el trabajo sobre fuentes documentales, estadísticas, gráficas y
cartográficas. Las técnicas cualitativas utilizadas se relacionan con una tradición
en geografía comprometida con la necesidad de generar un conocimiento que no
esté desligado de la experiencia cotidiana de las personas (Taylor y Bogdan, 1996;
Ekinsmyth, 2002; Driver, 2003). En este sentido, no se puede pasar por alto que
han sido determinados posicionamientos y enfoques en geografía, como las geografías feminista y cultural, que han dado un impulso importante a la geografía
de los lugares y de la vida cotidiana (García Ballesteros, 1982 y 1998; Prats, 1997;
Crang, 2002 y 2005; Davies y Dwyer, 2007; Garcia Ramon, 2008) y es aquí donde
tenemos que situar también este trabajo. La fuente oral la podríamos considerar
un importante recurso para poder construir geografías de la cotidianidad y de la
memoria (Riley y Harvey, 2007), un aspecto que es reclamado, sobre todo, desde
la geografía feminista (McDowell, 1992; Katz, 1994; Hayden, 1995).
En la técnica de observación se ha de distinguir entre una observación no
participante, que se ha desarrollado sistemáticamente en un espacio público
emblemático del barrio, la Plaza de Ca n’Anglada, y que nos ha permitido
elaborar los mapas de uso del espacio de la plaza central del barrio, y la observación participante, que ha supuesto una participación más activa y relacional
con las personas. Estos dos tipos de observación han facilitado poder tener en
cuenta la diversidad de espacios públicos y de encuentro existentes en el barrio
(otras plazas más pequeñas y no céntricas, calles, centro cívico, escuelas, bares,
locutorios, tiendas, centros deportivos, etc.), más allá del espacio concreto de la
plaza central de Ca n’Anglada. Todas las vivencias que se recogían durante estas
observaciones – a través de un bloc de notas y de fotografías – ayudaban a
ampliar informaciones y a generar más matices y confianza mutua entre investigadores y vecindario y, también, ejercitar un sentido inherente a la práctica
geográfica como es la observación (Driver, 2003).
Si bien la observación ha sido una importante fuente de información, las
entrevistas cualitativas en profundidad han supuesto la fuente más densa de
información. Se han realizado 49 entrevistas de las que 39 fueron a vecinos y
vecinas3 y 10 a personal técnico y agentes sociales no residentes en el área de
estudio. En todo momento se ha evitado la técnica de “bola de nieve” para
conseguir los contactos, y se ha intentado diversificar al máximo las características sociales de las personas entrevistadas. Se grabaron todas las entrevistas y
después se codificaron por temáticas que posteriormente se analizaron con la
3 Fueron realizadas individualmente 15 entrevistas a mujeres y 19 a hombres. Se realizaron
4 entrevistas grupalmente, 2 para el caso de mujeres y 2 más para el caso de hombres. Y, finalmente,
una entrevista fue mixta, con un hombre y una mujer.
54
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
ayuda del programa informático Atlas-ti, siguiendo las pautas del análisis del
discurso (Baylina, 2004; Crang, 2005)4.
En cuanto al barrio de estudio seleccionado quisiéramos señalar que Ca
n’Anglada saltó a las primeras páginas de la prensa española y catalana en el
verano de 1999 cuando se produjeron lo que podríamos considerar los primeros
incidentes violentos organizados y colectivos de carácter racista en España, atacándose a personas de origen marroquí así como a sus bienes y propiedades. El
barrio es un ejemplo paradigmático de la evolución de los barrios obreros de la
Región Metropolitana de Barcelona en los últimos sesenta años, a los que han
ido llegando sucesivos procesos migratorios de referencia desde principios del
siglo pasado, en un primer momento originarios de diferentes regiones españolas
y a partir de mediados de los años 90 procedentes de fuera de la Unión Europea.
Esta superposición de diferentes procesos migratorios no ha estado en absoluto
ajena a la creación de conflictos de convivencia que han originado incidentes, a
veces violentos, como los de Ca n’Anglada en 1999. En todo caso, no hemos de
olvidar que el pasado reciente de barrios como el de Ca n’Anglada son un ejemplo claro de lugares donde las necesidades colectivas contribuyeron a la autoorganización y solidaridad entre vecinos y vecinas dando lugar a la lucha vecinal
que supuso una mejora de las condiciones de vida colectivas con la reinstauración
de los ayuntamientos democráticos a partir de los años ochenta.
Ca n’Anglada es un barrio que tiene su origen en la periferia de Terrassa
(200 000 hab.), una ciudad de fuerte tradición industrial en el contexto de la Región
Metropolitana de Barcelona. El barrio tiene sus orígenes en un periodo de fuerte
crecimiento migratorio que tiene lugar a partir de la década de 1950. En efecto,
entre 1950 y 1970, Barcelona y su área metropolitana crecieron rápida y caóticamente, atrayendo a centenares de miles de inmigrantes de otros lugares de Península Ibérica. La especulación inmobiliaria desenfrenada durante las
administraciones municipales franquistas condujo al crecimiento de barrios marginados y de autoconstrucción (como el de Ca n’Anglada) y desencadenó procesos próximos a la fractura social y cultural de estas áreas empobrecidas, que se
superó gracias a la autoorganización asociativa del vecindario en interacción con
la actividad política y sindical clandestinas desde el antifranquismo. Con la reinstauración de los ayuntamientos democráticos en 1979 se inició un giro en la
atención e inversión en este tipo de barrios, suponiendo una clara dignificación,
interviniendo en materia de espacios públicos, equipamientos y en servicios públicos y comunitarios (Roca, 1994; Borja, 1995; Busquets, 2004; Montaner, 2004).
Y estos cambios fueron posibles gracias a la presión de los movimientos sociales
y vecinales que ya se habían originado en los últimos años del franquismo, siendo
el caso de Ca n’Anglada paradigmático en este sentido (Lacueva, Márquez y Plans,
2007). No obstante, la existencia de partida de un parque de viviendas precario y
que está por debajo de la media general y las características del sector productivo
4
Para un análisis detallado de la metodología véase Díaz-Cortés (2009).
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
55
local y del mercado laboral precarizado en general ha supuesto que este tipo de
barrios continúen siendo el foco de asentamiento y concentración de personas y
familias con pocos recursos, como veremos a continuación en el caso de Ca
n’Anglada.
El fuerte crecimiento económico español desde 1996 hasta la reciente crisis motivó una segunda y masiva oleada de inmigrantes extracomunitarios en
todo el país y, por lo tanto, también en la Región Metropolitana de Barcelona.
Estos inmigrantes se fueron asentando en barrios tradicionalmente periféricos y
relativamente marginados. Así pues la realidad actual de Ca n’Anglada no está
absenta de problemáticas derivadas de un pasado de discriminación e injusticia
que todavía hoy son actualidad, pues al igual que ha sucedido en otros barrios
de estas mismas características, Ca n’Anglada vuelve a ser refugio de inmigrantes de clase trabajadora que, de nuevo, presentan diferencias culturales.
Entre 1995 y 2006 el barrio pasó de 11 924 a 13 764 habitantes censados
(Ajuntament de Terrassa, 2007), debido, sobre todo, al empadronamiento de personas de origen extracomunitario y al reagrupamiento familiar. Analizando los orígenes principales de la población censada en 2006, se observa que el lugar de
nacimiento mayoritario es Cataluña, que representa un 38% (5 232 personas), y en
segundo lugar Marruecos, con un 22% (3 054 personas). Después se sitúa Andalucía, con un 19% (2 646 personas) y Ecuador con un 4% del total (558 personas).
Últimamente se observa un proceso de masculinización que se explica por
las características socio-laborales del mercado de trabajo local. En 2007 la tasa de
actividad era del 42% para las mujeres, que trabajan sobre todo en el sector servicios de baja cualificación, y del 66% para los hombres, que se emplean en le
sector industrial, muy en particular en la construcción (Ajuntament de Terrassa,
2007), donde trabajan la gran mayoría de hombres de origen marroquí, sector que
ha sufrido en gran manera la crisis actual, que aún no aparece en estos datos.
IV. MUJERES, VIDA COTIDIANA Y ESPACIOS PÚBLICOS EN CA
N’ANGLADA DE TERRASSA
1. La mujeres de la “antigua” y la “nueva” inmigración en la
construcción social del barrio5
El proceso de construcción material del barrio es uno de los principales
elementos que ha contribuido a la creación de sentimientos de identidad, de
arraigo y pertenencia a Ca n’Anglada de Terrassa. Efectivamente, muchas de las
personas que residen en el barrio fueron protagonistas de episodios tan significativos y referenciales como la autoconstrucción de sus casas, la urbanización
5 Denominamos “antigua” inmigración a la que llegó a Ca n’Anglada mayoritariamente entre
1950 y 1970 y “nueva” inmigración a la que ha llegado al barrio a partir de la década de 1990.
56
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
de las calles y la reivindicación de equipamientos e infraestructuras, todo ello
combinado con la lucha política contra la dictadura del general Franco. No se
trata sólo, pues, de memorias intangibles sino que son elementos identitarios
comunitarios que también impregnan muchos lugares y espacios de encuentro
del barrio, en especial su plaza central, la Plaza de Ca n’Anglada, donde se
desarrolló la observación sistemática no participante. En este sentido, cabe
recordar el papel destacado que jugaron las mujeres en la mayoría de estas luchas
vecinales, propiciando la formación de esta identidad y arraigo al lugar, que se
ha transmitido, en algunos casos, de madres a hijas:
«Yo me considero nacionalista de barrio totalmente, sí, sí, eso sí que lo tengo
clarísimo, […]. Si a mi me preguntan de dónde soy, yo soy de Ca n’Anglada,
Terrassa de Ca n’Anglada, sí eso sí. El barrio a mi me ha aportado muchísimo,
muchísimo6» [28:26] Núria, vecina de Ca n’Anglada, 24 años, nacida en Terrassa.
Vive en el barrio desde su nacimiento.
«Por ejemplo el colegio este de aquí fue unas luchas fuertes, hasta con los
famosos grises y todo eso. Eran reivindicaciones de barrio, chocolatadas, fiestas,
festivales, y eran unas reivindicaciones muy duras y muy llevadas por las mujeres,
porqué claro la parte técnica y de control la llevaban las mujeres y no mujeres
particularmente de partidos ni nada de eso, no, no, mujeres de asociación de vecinos,
del barrio. Porqué había una necesidad imperial». [36:1] Pilar, vecina de Ca n’Anglada, 50 años. Nacida en Terrassa. Vive en el barrio desde los 11 años.
Esto ha sido así hasta el punto que tanto mujeres jóvenes como mayores,
establecidas desde hace años en Ca n’Anglada, consciente o inconscientemente,
expresan una marcada identidad de barrio que también se extiende sobre espacios
públicos concretos que son emblemáticos y referenciales en la historia del barrio, como el caso de la citada plaza central. Los espacios públicos se convierten
en lugares sentidos como propios, referencia material en el imaginario colectivo
de la población autóctona. Las mujeres recién llegadas a partir de los años 90,
básicamente de origen marroquí y ecuatoriano, no muestran (todavía) un sentimiento similar de identidad, aunque admiten que sus hijos e hijas pueden y deben
identificarse con el barrio y la ciudad:
«[…] yo soy de Marruecos y ya está […], mi marido lleva veinticuatro [años]
y que va, igual, aquí se viene a trabajar y ya está. […] [Mis hijos han] nacido aquí,
están contentos, mis hijos están más abiertos porque van al colegio con españoles…
[para ellos] bastante fácil, para mi no, ellos han nacido aquí y saben hablar y todo.
Cuando me voy a Marruecos quince días y solo quieren que venir aquí… […]. Yo
no me siento de aquí, pero mis hijos sí, ahora uno tiene siete, vamos a Marruecos
y no quiere quedarse quiere venir aquí… ellos sí, nosotros no. Porque aquí hay
6 Algunas citas que se exponen en el texto, como la correspondiente a esta nota, fueron
expresadas en lengua catalana y se ha optado por traducirlas al castellano para este artículo.
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
57
tanta libertad, todo, el colegio,… ahora se levanta “mama, al cole” corriendo,
corriendo, porque cuando entra en el cole hay de todo, en Marruecos no, otra
cosa». [19:39 y 19:43] Munira, vecina de Ca n’Anglada, 36 años. Inmigrada
recientemente desde Rabat (Marruecos).
De hecho, no sienten suyo el barrio no sólo por no haber vivido directamente
este pasado y por la inexistencia de nexos entre el pasado del barrio y las nuevas
realidades sociales y culturales, sino porque – sobre todo en el caso de las
mujeres de origen marroquí, mayoritarias entre el vecindario recién llegado – se
trata mujeres que han perdido gran parte del papel de referencia y predominante
que tenían en la vida cotidiana de sus lugares de origen: si allí la mujer era
protagonista a la hora de organizar el hogar y la vida familiar, trabajando en el
campo y desarrollando múltiples actividades, la vida en Ca n’Anglada de Terrassa
pasa a concentrarse (casi exclusivamente) en la vivienda familiar. El marido sale
a trabajar o a comprar y los niños, desde muy pequeños, van a la escuela, por
lo que trabajo y escuela se convierten en lugares privilegiados para la socialización y la integración de maridos e hijos e hijas, pero no de ellas:
«[…] las madres se quedan en casa, las únicas desfavorecidas aquí son las
madres […]. Y veo que la mujer allí en Marruecos era la protagonista, más o
menos, no tanto pero era ella quien gobernaba su casa, trabajaba fuera en el campo,
hacía de todo. Aquí pues está en casa, se encierra entre cuatro paredes, y los niños
aprenden, el marido se relaciona con la gente y ella no. Y ves que ellas mismas
cuando hablo con ellas se sienten un poco angustiadas, y dicen “mi hijo de 5 o 6
años me dice ‘mamá cállate, tú no sabes’ ” por el idioma se siente ella que está
perdiendo su papel como madre». [6:5] Amal, personal técnico municipal no
residente en el barrio. Inmigrada recientemente desde Ksar-el-Kbir (Marruecos).
La mayoría de los ámbitos controlados por estas mujeres en sus lugares de
origen pasan aquí a depender de sus maridos o de terceros (la escuela o la
administración municipal) de manera que prácticamente sólo mantienen una
influencia clara en los niños y niñas mientras son bebés. Esta situación se agrava
por el desconocimiento del catalán o del español (desconocimiento que maridos
y, por supuesto, los hijos e hijas superan más rápidamente) y por la falta de
socialización (incluso con otras mujeres del mismo origen) que el aislamiento
en el hogar conlleva.
2. Presencias y ausencias en la Plaça de Ca n’Anglada
2.1. Las personas usuarias de la plaza
Las observaciones sistemáticas no participantes, y teniendo en cuenta también
las no sistemáticas y participantes, realizadas en diferentes días de la semana y a
diferentes horas en la Plaza de Ca n’Anglada, muestran unos usos bien diferenciados según se trate de días laborables o fines de semana (es más utilizada de
58
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
lunes a viernes que en sábado o domingo). Si nos fijamos en franjas horarias por
las tardes es cuando hay más afluencia en la plaza, momento en que predomina
la presencia de mujeres (madres) y población infantil, mientras que al mediodía
el grupo mayoritario con diferencia son los abuelos (ver ejemplo de la fig. 1).
Fuente: Elaboración propia
Fig. 1 – Ejemplo de uso de la Plaça de Ca n’Anglada
(martes, 1 de octubre de 2002, 17h:40m‑18h:05m).
Fig. 1 – An example of the use of Plaza de Ca n’Anglada
(Tuesday, October 1st. 2002, 5h40pm‑6h05pm).
Del análisis de la información obtenida en las observaciones (sistemáticas
o no) realizadas en la Plaza de Ca n’Anglada destaca, en primer lugar, que el
grupo de edad que tiene más presencia es el de los abuelos u hombres mayores
jubilados, al mediodía y, el de la población infantil por las tardes. La población
juvenil y los hombres adultos tienen una presencia muy marginal. El caso de la
mujer adulta destaca por ser un colectivo con mucha más presencia por las
tardes, acompañando a niños y niñas a la salida de la escuela. Las observaciones
muestran el predominio del sexo masculino en las dos franjas horarias, aunque
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
59
si a la población infantil la consideramos como personas dependientes, o que
tiene que ir acompañada, el grupo predominante por las tardes es el femenino.
Teniendo en cuenta la población de origen extranjero, su presencia es, en general, minoritaria, pero en todo caso el grupo predominante en esta población es
el masculino, con una mayor variabilidad presencial entre hombres y mujeres
que en el caso de la población autóctona.
Se observa que la vida en la plaza guarda una clara relación con la división
sexual del trabajo, y es un reflejo de una sociedad que hace de las mujeres una
fuerza de trabajo doméstico, dedicadas a la atención doméstica y a la vida social
del barrio:
«Me encuentro con otras abuelas, pero siempre voy con una chica que es más
joven que yo, tiene unos cincuenta o cincuenta y un año, y tiene mellizos y van a
la escuela con nuestros niños. Está claro, vamos allí, nos sentamos allí, mirando
y charlando y los niños juegan. Vienen algunas abuelas, también se sientan allá y
hablamos». [29:19] Rosa, vecina de Ca n’Anglada, 70 años. Nacida en Terrassa.
Reside en el barrio desde los 32 años.
Pero a la división sexual del trabajo en los barrios también se añade la edad,
ya que hay todo un sector de población, el de las personas adultas, que por
motivos laborales tiene una presencia más limitada en las plazas, al contrario
que le pasa a la población infantil o las personas mayores. En todo caso, una
posible anomalía sería el caso de la juventud, sobre todo la que ya es más
independiente, que a pesar de disponer de tiempo, tiene presencias muy limitadas
en la plaza, y prefieren espacios más reservados donde haya menos vigilancia
adulta y puedan hacer más cómodamente actividades que entrarían en conflicto
con otros usuarios en lugares como la Plaza de Ca n’Anglada.
Al mismo tiempo, la presencia de inmigrantes en la plaza responde a un
claro modelo de uso compartido del espacio pero no en el tiempo. Es decir, la
presencia de población recién llegada, sobre todo de hombres adultos y jóvenes,
crece en importancia en momentos en que la presencia de personas autóctonas
no es predominante, como bien entrada la tarde, por las noches o los fines de
semana, como se pudo observar en algunas visitas que se hizo a la plaza. La
interacción, por tanto, tiene dificultades en las plazas, y hay que saber distinguir
entre el derecho a no relacionarse del conjunto de personas que visitan una plaza
y la discriminación y marginación que se puede ejercer contra un colectivo
concreto, como sería el caso comentado de la población de origen extracomunitario que son también vecinos y vecinas del barrio.
2.2. Las ausencias en la plaza
Las observaciones realizadas han puesto de manifiesto que algunos colectivos de residentes están prácticamente ausentes de un espacio tan destacado y
emblemático para el barrio como es su plaza central. Así, en las tardes de los
60
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
días laborales casi no hay población infantil de origen marroquí, aunque es el
momento en que, al salir de la escuela, la plaza es utilizada mayoritariamente
por la población infantil y más joven. Es, pues, significativo destacar que mientras
que en las escuelas primarias (públicas) la mezcla entre niños y niñas autóctonas
y recién llegadas no es nada problemática, al salir de la escuela la separación
es visible: la plaza es ocupada por población infantil autóctona con sus madres
y abuelas, mientras que la misma población de origen marroquí está ausente.
Mientras tanto, jóvenes de origen marroquí se encuentran en espacios segregados
cercanos, como el polideportivo, donde la única actividad posible es el fútbol
(Díaz-Cortés, 2009). Son espacios impulsados desde el gobierno municipal y
que comportan un claro control y la invisibilización de estos chicos en los espacios más emblemáticos del barrio. Por otra parte no encontramos allí a chicas
de origen marroquí, las que localizamos en espacios cerrados o no tan concurridos, como la biblioteca del barrio, plazas del interior del barrio o en la casa
de alguna de ellas.
De hecho, las mujeres y la población infantil y juvenil de origen marroquí
está casi siempre ausente de la plaza y sólo en ocasiones en que no hay allí
grupos de personas autóctonas – especialmente cuando no hay madres y abuelas autóctonas –, sobre todo en ciertos momentos del fin de semana, podemos
ver a esta población recién llegada utilizando la plaza. También, otras plazas
y parques fuera del barrio son aprovechados por estos grupos para distraerse.
Aún es más raro ver a chicas de origen marroquí. Aunque hay que decir también que éstas ya tienen en algunos casos una clara actitud de reivindicación
de autonomía personal en los espacios públicos, cuestionando la autoridad
paterna:
«Sí, como mi padre, me dice de ponerme [el velo] y yo “no me da la gana”,
no me va a decir “póntelo” a la fuerza, no. Y yo le digo cuando me dé la gana me
lo voy a poner, no ahora. Pasa de mí, como paso yo de él. […] no tienes que
obligar a tu hija, “pon, pon, pon”». [38:33] Suad, vecina de Ca n’Anglada, 15
años. Inmigrada recientemente desde Tánger (Marruecos). Vive en el barrio desde
los 9 años.
2.3. Los espacios públicos del barrio: espacios feminizados y etnicizados
Los espacios públicos del barrio de Ca n’Anglada y, en concreto, su plaza
central, responden a un modelo de uso y de presencias y ausencias donde el
género y la etnia juegan un papel fundamental: es ante esta constatación que
podemos hablar de la feminización y etnicización de estos espacios públicos. En
efecto, se observa que hombres y mujeres llevan a cabo diversas tareas en el
espacio público según el rol asignado tradicionalmente: el trabajo doméstico no
remunerado hace que la mujer de mediana edad y mujeres mayores sean muy
presentes en el barrio y sea el grupo predominante en los espacios públicos
cuando, aparte de ser mujer, es madre o abuela de población en edad infantil y
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
61
dependiente. El trabajo no doméstico y remunerado hace que el hombre en edad
de trabajar quede fuera de la cotidianidad de los barrios aunque los que son
padres suelen aprovechar sus ratos libres, sobre todo durante el fin de semana,
para acompañar a los niños en los espacios públicos:
«Sí, cuando salen los críos del cole en verano, pues, no los vas a encerrar en
casa, los bajas al parque y allí ellos ya están jugando. [Te encuentras] normalmente
madres, es muy raro que encontremos algún padre, lo normal son madres que
sacamos a los críos al parque». [3:37] Silvia, vecina de Ca n’Anglada, 34 años.
Nacida en Córdoba (Andalucía). Reside en el barrio desde los 30 años y desde los
18 en Terrassa.
La importancia de la dimensión étnica también se pone de manifiesto al
analizar, sobre todo, las ausencias en los espacios públicos. Se trata de situaciones en que la identidad y los imaginarios colectivos son utilizados por parte
de población autóctona para hacer apropiaciones que no son inclusivas, sino
exclusivas, de los espacios públicos más emblemáticos y referenciales. En este
sentido, las mujeres inmigrantes recién llegadas además de hacer frente a su
marginación en el ámbito familiar que antes se ha mencionado, también deben
adaptarse a situaciones que implican evitar ciertos espacios y ciertas presencias,
algo que se agravó más a raíz de los incidentes de 1999:
«Antes bien, pero ahora no, mi marido coge el coche y vamos fuera…Antes
iba sólo con los niños, ahora cuando está lleno de gente y viene gente de aquí…
[…], aquí en el barrio hay un parque muy, muy majo, pero damos una vuelta y
venimos, pero la mayoría de veces yo, mi marido y los niños vamos a fuera».
[19:10] Munira, vecina de Ca n’Anglada, 36 años. Inmigrada recientemente desde
Rabat (Marruecos).
2.4. R
ecelos ante los nuevos usos y las nuevas presencias en los espacios
públicos
Los incidentes de 1999 son la expresión más clara y extrema de las posturas más intransigentes con el asentamiento de población de origen extranjero en
el barrio. Son diversas las versiones que intentan explicar el inicio de los incidentes, pero el hecho que cabe reseñar es la participación de vecinos y vecinas
del barrio en las agresiones a población de origen marroquí residente también
en Ca n’Anglada:
«Yo estaba en el balcón de mi casa y vi toda la manifestación, no sé muy
bien que fue, no sé si es que hicieron algo a una niña, o algo y ya se lió. Pues
pensaba “ostras¡ Qué pasa aquí, qué está pasando?” claro, yo no sabía nada y vi
todo el meollo de la gente que subía, y no me metí en la manifestación porque no
tengo nada que manifestarme a este respecto, si lo quieren así a mi mientras no
me molesten, a mi si me pasara alguna cosa o miembros de mi familia se vie-
62
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
ran…no, porque claro, hay mucha gente que dice “es que a mi me pasó”, pero
claro no lo puedes meter a todos en el mismo saco porque te pase algo. Hay moros
malos como hay españoles malos, eso de porque sean moros, vale que huelen mal,
eso es verdad pero mira su olor natural es así, pero nada más”. [13:50] Helena,
vecina de Ca n’Anglada, 27 años. Nacida en Terrassa. Vive en el barrio desde los
15 años.
En este contexto, espacios públicos como la Plaza de Ca n’Anglada se han
transformado en un recurso simbólico e identitario excluyente para algunas
personas. En los mismos días que se produjeron los incidentes racistas, los
periódicos, locales y estatales, reproducían comentarios muy parciales de vecinos
y vecinas autóctonas que ponían de manifiesto el sentimiento de apropiación e
identificación hacia la plaza y como percibían negativamente la presencia de los
y las recién llegadas:
«Ya lo veis, se quieren follar a nuestras mujeres y la policía los defiende a
ellos. Compañeros, acordaos que esa plaza es la Roja y que es nuestra, que allí
hemos luchado por todo este barrio. Y al moro que se mee en esta plaza le vamos
a cortar la punta del…» (La Vanguardia, 18 de julio de 1999).
«Aquí, ya mismo nosotros seremos los extranjeros y ellos los españoles. De
momento, ya se han hecho los amos de la plaza» (Diari de Terrassa, 14 de julio
de 1999).
Los estereotipos y el prejuicio que sobre Ca n’Anglada y sobre comunidades de origen marroquí – la más mayoritaria en el barrio – se expresan tanto
desde el exterior como desde el interior del barrio, son el caldo de cultivo de
brotes violentos como los sucedidos en Terrassa en 1999:
«Pues, inseguridad más bien por la noche, porqué lo único que ves por la
calle son inmigrantes. Yo tengo una amiga que vive por allí abajo, más por el
centro del barrio, y enfrente hay un bar también de ellos y siempre está por allí
lleno y entonces a mi también me da miedo ir allí. No sé, si te ven sola pués, no
sé, un poco de miedo sí que tienes». [24:21] Julia, vecina de Ca n’Anglada, 22
años. Vive en el barrio desde su nacimiento.
«A Ca n’Anglada le dicen Marruecos. La gente ya le ha puesto a Ca n’Anglada
Marruecos, “ah! vas a Marruecos” “ah! Vives en Marruecos”». [8:54] Ángeles,
vecina de Ca n’Anglada, 35 años. Inmigrada proveniente de Guayaquil (Ecuador).
Vive en el barrio desde los 32 años.
En este contexto, las presencias de mujeres autóctonas en espacios públicos
emblemáticos, como las situaciones descritas anteriormente, suponen la “normalidad” de la vida cotidiana en plazas y calles de Ca n’Anglada para los
sectores vecinales más reacios y opuestos a la nueva realidad social y cultural
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
63
que se vive en el barrio. Se trata de la aplicación de un cierto control de las
presencias en los espacios públicos, lo que supone que plazas como la de Ca
n’Anglada no sean espacios de inclusión y que se haga necesaria la búsqueda
de espacios y lugares alternativos para que se pueda dar la inclusión y las relaciones sociales y comunitarias no basadas en la discriminación.
Cabe advertir, que las posturas más cerradas con respecto a la nueva inmigración se pueden encontrar en entidades asociativas muy significativas y relevantes para el barrio, como es el caso de la asociación de vecinos o colectivos
de personas mayores:
«El tema de la asociación de vecinos, se quejan de la limpieza por decirte
algo [y] a veces se toma el papel de la inmigración como un papel para obligar al
ayuntamiento […]. En Ca n’Anglada hay una concentración de servicios porqué
todos tienen miedo de Ca n’Anglada, los proyectos y todos están en Ca n’Anglada,
la mayoría, aunque ahora los quieren hacer en otros barrios, pero es verdad que
aquí hay más trabajo que en otros barrios». [6:18] Amal, personal técnico municipal no residente en el barrio. Inmigrada recientemente desde Ksar-el-Kbir (Marruecos).
Estas entidades, además, concentran la interlocución barrio-ayuntamiento,
aspecto que supone una clara monopolización de “la voz” del barrio y, sobre
todo, una clara influencia y condicionamiento sobre las políticas municipales en
el barrio. El asentamiento de la inmigración de origen extracomunitario también
se utiliza por estas entidades para problematizar la situación del barrio y reclamar la necesidad de inversiones públicas, un enfoque del todo negativo y contraproducente para la cohesión social y comunitaria (Díaz-Cortés, 2009).
V. ESPACIOS FEMENINOS DE ENCUENTRO
1. Espacios públicos emblemáticos aparentemente intocables
El caso de Ca n’Anglada pone de manifiesto las dificultades de interacción
social que se pueden dar en los espacios públicos cuando coexisten diferentes
realidades étnicas y culturales. La existencia de una comunidad más o menos
homogénea – que se articula a través de una marcada identidad de barrio y
arraigo a sus espacios públicos concretos – puede suponer dificultades en la
incorporación a los espacios públicos y a la vida pública del barrio de personas
recién llegadas de otros contextos culturales, y esto resulta dramáticamente cierto
cuando se problematiza la presencia de estas personas en espacios que la comunidad originaria considera emblemáticos del barrio, como por ejemplo la Plaza
de Ca n’Anglada. En este contexto relacional, la tradicional preponderancia de
la presencia femenina «autóctona» en los espacios públicos emblemáticos del
barrio se convierte, de una manera consciente o no, en un mecanismo de control
y dominio directo sobre las pautas de uso y apropiación de los espacios públicos
64
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
en la compartimentación horaria y por origen étnico de algunos espacios de
encuentro emblemáticos. El paisaje social de los espacios públicos, en particular
de la Plaza de Ca n’Anglada, es tan interiorizado y tan cargado de simbolismo
que parece que cualquier alteración se convierta en un grave descalabro para
determinados sectores de residentes en el barrio.
Para los sectores más reticentes al asentamiento de población de origen
extranjero, visualizar un cambio en el paisaje social de los espacios públicos
implica casi automáticamente la necesidad de la movilización social de la propia
comunidad para detener la transformación social implícita en esta nueva imagen
y que, supuestamente, representan una pérdida de valores, de seguridades, de
estatus. De esta manera, las mujeres autóctonas, identificadas como las usuarias
tradicionales, necesarias y lógicas de los espacios públicos, se convierten en el
recurso visual y simbólico de los sectores más reticentes para medir el nivel de
cumplimiento de los usos y apropiaciones tradicionales:
«Yo ahí conozco a una persona en el bloque que la abuela sale a custodiarlo
para que no se junte… no es porque le pase algo, para que no se junte con el
marroquí. Eso lo he visto yo, lo he comprobado, porque yo lo he escuchado lo que
le ha dicho al chiquito, y yo digo “que lástima”, que lástima, porque lo arruinan,
porque le arruinan la mente. […] ella se para ahí en la esquina y lo vigila, y así
el niño no disfruta de la niñez, lo pienso yo. Es un niño y tiene que jugar, yo no
puede ir a elegirle a él […]». [10:41] Raquel, vecina de Ca n’Anglada, 60 años.
Inmigrada proveniente de Buenos Aires (Argentina). Vive en el barrio desde los
58 años.
Así, el paisaje social y visual de la Plaza de Ca n’Anglada se convierte en
una especie de barómetro excluyente: mientras la imagen visible preponderante
en la plaza siga siendo la de mujeres y abuelas autóctonas con sus niños y niñas,
la situación es considerada como normal, de acuerdo con el paisaje tradicional.
Cuando en este paisaje tradicional se hacen presentes personas y usos inusuales
entonces es cuando se movilizan las quejas o las actitudes de rechazo que pueden derivar en violencia.
2. (Micro)espacios públicos de esperanza
Los espacios de encuentro con menos contenido identitario o simbólico son
los que ofrecen, hoy por hoy, los ámbitos más idóneos para que mujeres de uno
y otro origen se encuentren e intercambien experiencias. La iniciativa individual
de un número significativo de mujeres vinculadas a servicios sociales y comunitarios del municipio o de vecinas del barrio a través del encuentro cotidiano
en espacios vinculados a la actividad diaria que desarrollan estas mujeres en Ca
n’Anglada, como las Asociaciones de Madres y Padres de Alumnado (AMPA)a,
con incidencia directa en las escuelas o actividades destinadas a las mujeres o
espacios asociativos de mujeres que se ubican en el centro cívico u otros equipamientos municipales, son ámbitos donde se expresa con mayor normalidad la
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
65
relación e interacción entre personas de diferentes orígenes culturales, es decir,
la función original del espacio público:
« […] es una iniciativa muy personal de cada uno. Es iniciativa del educador
que está en Distrito Joven, es iniciativa de la educadora de Servicios Sociales pero
lo que es desde la política no…». [28:33] Núria, vecina de Ca n’Anglada, 24 años,
nacida en Terrassa. Vive en el barrio desde su nacimiento.
«Y nosotras estamos hartas de estar en el colegio con ellos y ellos con nosotros, y aquí [en la Escuela de Madres] nosotras no tenemos ningún problema de
convivencia». [3:63] Gloria, vecina de Ca n’Anglada, 37 años. Inmigrada proveniente de Puertollano (Castilla-La Mancha). Vive en el barrio desde los 25 años.
«Tenemos un proyecto que es la Escuela de Madres, l’Escola Pont [de
Mares Magribines]. Hemos intentado, ha ido muy bien el proyecto, hacíamos
clases de lengua y charlas informativas, cosas de formación e información sobre
la cultura, sobre los recursos, y así hemos hecho salidas a fomento, bueno a
los recursos que tenemos en la ciudad. Fue muy bien, y hay algunas que ya
trabajan, hemos hecho cursos de cocina, muchas que han espabilado. Quiero
decir que estas mujeres como todas tienen ganas de avanzar, de participar.
Trabajan algunas en restaurantes, en Fomento con planes de ayuda, hay otras
que hacen trabajo de confección en casa, bueno van haciendo poco a poco.
Para ellas es mejor que nada…El proyecto de la Escola Pont es otro […]. La
concejala sí que tiene mucho interés en trabajar el tema de la mujer y fomentar el papel de la mujer inmigrada…». [6:10] Amal, personal técnico municipal no residente en el barrio. Inmigrada recientemente desde Ksar-el-Kbir
(Marruecos).
Estos espacios de encuentro que no son lo que tradicionalmente se ha
entendido como espacios públicos son los que, hoy por hoy, resultan más
idóneos para que mujeres de uno y otro origen se encuentren, interactúen,
intercambien experiencias y, sobre todo, hagan del encuentro cotidiano el mejor
mecanismo para combatir los recelos y abrir puentes de comprensión de realidades diferentes a la propia. Las personas usuarias son, sobre todo, mujeres
que se localizan en ámbitos menos públicos y con menos influencia política y
claramente feminizados. Están relacionados con el ocio (talleres de manualidades, confección, culinarios o de relajación) o con la formación (escuelas
públicas, escuela de adultos o asociaciones de madres y padres de alumnado),
sin olvidar la existencia de un tejido asociativo que, con menos influencia en
la interlocución barrio-ayuntamiento, ejerce una función encomiable desde el
punto de vista de la cohesión comunitaria y la creación de dinámicas y espacios inclusivos. Se trata de lugares que rompen con la visión tradicional de
espacio público, más vinculados a la propia dinámica social y territorial de la
cotidianidad, y que suponen nuevos planteamientos en relación a la idea de
espacio público que se están exponiendo desde experiencias y trayectorias
diversas (Díaz-Cortés, 2009; Muxí, 2009; Vaiou y Kalandides, 2009; Bühler,
66
Fabia Diaz-Cortés e M. Dolors Garcia-Ramon
2009).
Se trata de “microespacios” y dinámicas cotidianas que se contraponen a
los espacios más emblemáticos e influyentes que encarnan el posicionamiento
más cerrado al cambio social y donde el papel de mujeres es protagonista y
destacado, sobre todo debido a que están vinculados a la proximidad y a la
cotidianidad del barrio, un ámbito donde las mujeres tienen una presencia
mayoritaria.
«[Silvia] Yo creo que pasará como en todos los grandes movimientos migratorios, al principio llegan y parecen que te invadan, que estás en contra de su
cultura, con los años pues nos acostumbraremos a su cultura igual que ellos se
habrán acostumbrado a la nuestra. [Adela] Exactamente. [Gloria] En el momento
que los niños que vienen al colegio empiezan a subir pues ya son iguales. [Silvia]
Pasó igual cuando llegaron en plan masivo, yo te cuento porque soy de Córdoba,
cuando llegaron los andaluces aquí pasó igual, pues como que traíamos nuestras
costumbres, traíamos una forma de ver la vida distinta a como se vivía aquí, y
todo el mundo pensaba “ostia, los andaluces, apartaros de ellos” ahora prácticamente
estamos mezclados, y llegará un punto que pasará igual». [3:71] Adela, vecina de
Ca n’Anglada, 33 años. Nacida en Terrassa. Vive en el barrio desde su nacimiento;
Gloria, vecina de Ca n’Anglada, 37 años. Inmigrada proveniente de Puertollano
(Castilla-La Mancha). Vive en el barrio desde los 25 años; Silvia, vecina de Ca
n’Anglada, 34 años. Nacida en Córdoba (Andalucía). Reside en el barrio desde
los 30 años y desde los 18 en Terrassa.
Son microespacios y microdinámicas que intentan romper con el sobrecontrol y la sobreapropiación que sectores del barrio hacen de espacios y ámbitos
de la vida cotidiana. Hoy por hoy, estos son los espacios de encuentro de esperanza del barrio, la esperanza de que las mujeres del barrio vuelvan a tener un
papel clave en el avance comunitario, con autonomía y autoorganización, la
esperanza de que el conjunto del barrio supere los recelos y el rechazo al cambio social y cultural.
VI. CONCLUSIONES Y PROPUESTAS: REDEFINIR EL ESPACIO
PÚBLICO PARA FORTALECER EL PAPEL DE LA MUJER
EN LOS BARRIOS.
El estudio de Ca n’Anglada pone de manifiesto las dificultades de interacción social que se pueden dar en espacios públicos tradicionales y emblemáticos,
por razones de género y por razones culturales. Pero si la cotidianidad muestra
esta realidad, también despuntan realidades más esperanzadoras que hemos
querido identificar con la existencia de microespacios relacionales, la mayoría
de ellos en ámbitos cerrados pero donde se desarrolla una intensa sociabilidad.
Así pues, hay que reformular la idea de espacio público, pues si no se supera la
tradicional división entre espacio público y espacio privado – una división que
es constantemente desbordada en la cotidianidad de los barrios – se seguirá
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana de Barcelona
67
errando en los análisis y en las propuestas para la superación de las discriminaciones por razones de género. Cuando decimos repensar la idea de espacio
público hacemos referencia a la necesidad de vincularla a lo que la realidad
social muestra cotidianamente: que las personas se relacionan e interaccionan
en el transcurso de su jornada diaria en diferentes tipos de espacios y situaciones, siendo la idea de espacios de vida cotidiana, el marco de análisis más
apropiado para comprender mejor la situacionalidad que la propia vida urbana
implica y, también, para desarrollar políticas públicas en el barrio. Finalmente,
hay que reivindicar el papel de la mujer como motor de cambio en los ámbitos
urbanos y sociales donde su presencia es habitual. Ello implica, por un lado,
reconocer que la desigualdad y la discriminación continúan siendo una realidad
que condiciona la presencia de las mujeres en los barrios, (un aspecto que parece
haberse “normalizado” e incluso invisibilizado, sobre todo a nivel institucional).
Este primer reconocimiento previo y necesario tiene que ir acompañado de un
valiente proceso en que las mujeres que tengan una vinculación directa y cotidiana en los barrios sean agentes activos y decisivos en las intervenciones
sociales y urbanísticas que se desarrollen, fortaleciendo, en definitiva, el papel
político de las mujeres en el ámbito más próximo y cotidiano.
AGRADECIMiENTOS
Este artículo se sitúa en una línea de investigación más amplia del Grup de Recerca de Geografia i Gènere del Departament de Geografia de la Universitat Autònoma de Barcelona y que ha estado
financiada por el Ministerio de Educación en los últimos años (SEJ2006-09837, CSO2009-10913)
y la generalitat de Catalunya (SGR-2009-1321).
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ESTRATÉGIAS SOCIAIS CRIATIVAS EM BARCELONA.
O CASO DO WALDEN-7
Isabel André1
Muriel Rousselle2
Resumo – Sendo Barcelona uma metrópole reconhecida como meio inovador,
reflectimos neste artigo sobre as condições e as oportunidades que oferece para a
inovação social, ou seja, para o desenvolvimento de estratégias criativas que apontem
novas soluções para problemas sociais sem resposta adequada. Centramos esta reflexão na produção do espaço urbano residencial e focamos, em particular, o caso do
Walden‑7 em Sant Just Desvern, Área Metropolitana de Barcelona, uma experiência
com 4 décadas, frequentemente referida como uma “utopia urbana realizada”. Tratase de uma intervenção muito precoce de regeneração urbana, onde o desenho dos
espaços colectivos, a concepção de novas relações de vizinhança e organização interna
dos apartamentos deixaram traços marcantes de inovação social. Neste artigo, pretende-se, sobretudo, equacionar o papel da adversidade como impulso socialmente
criativo, bem como a temporalidade e o percurso das inovações sociais.
Palavras-chave: Inovação social, meio socialmente criativo, utopia urbana,
Walden-7, Barcelona.
Abstract – Creative social strategies in Barcelona. The Walden-7 case.
The metropolis of Barcelona is widely recognised as an innovating milieu. This article focuses on the conditions and opportunities the city offers for social innovation,
that is to say the development of creative strategies pointing at new solutions for
social problems left without adequate answers. We focus our study upon the development of residential urban space and we take a special interest in the Walden-7 case,
located at Sant Just Desvern, Metropolitan Area of Barcelona - four decades of experience frequently referred to as an “accomplished urban utopia”. The Walden-7 is a
very early intervention of urban regeneration where the design of collective space,
the conception of new neighbourhood relationships and the inside organisation of the
apartments have left striking marks of social innovation. This article highlights the
role played by adversity as a socially creative impulse alongside the temporality and
the course of social innovations.
Recebido: 21/07/2010. Aceite: 26/11/2010.
1 Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território,
­Universidade de Lisboa E-mail: [email protected]
2 Rede de Bibliotecas Públicas de Barcelona. E-mail: [email protected]
72
Isabel André e Muriel Rousselle
Key words: Social innovation, socially creative milieu, urban utopias, Walden7, Barcelona.
Résumé – Stratégies sociales créatives à Barcelone. Le cas du Walden‑7.
Barcelone étant une métropole reconnue comme milieu innovateur, nous tâchons ici
de réfléchir sur les conditions et les opportunités qu’elle offre quant à l’innovation
sociale, c’est-à-dire quant au développement de stratégies créatives tendant vers de
nouvelles solutions face à des problèmes sociaux demeurés sans réponse adéquate.
Nous centrons cette réflexion autour de la production de l’espace urbain résidentiel
et nous nous intéressons en particulier au cas du Walden-7 à Sant Just Desvern, Zone
Métropolitaine de Barcelone, une expérience sur bientôt 4 décennies fréquemment
citée comme exemple d’utopie urbaine réalisée. Il s’agit d’une intervention très précoce de régénération urbaine, où la conception des espaces collectifs, celle de nouveaux
rapports entre voisins et l’organisation interne des appartements ont laissé des traces
marquantes d’innovation sociale. Dans cet article, nous visons principalement à souligner le rôle de l’adversité comme élan socialement créatif au même titre que la
temporalité et le cours des innovations sociales.
Mots-clés: Innovation sociale, milieu socialement créatif, utopie urbaine, Walden-7, Barcelone.
I.
INTRODUÇÃO
Associada a grandes artistas e a empresas e empresários dinâmicos, Barcelona ocupa lugar de relevo no mapa da criatividade e da inovação. O desenvolvimento económico precoce como porto do Mediterrâneo, a industrialização
fortemente ligada ao comércio exterior e os ideais nacionalistas contribuíram
muito para essa imagem que o Mundo tem de Barcelona. As artes, a cultura e
a economia são efectivamente actividades ricas e dinâmicas nesta metrópole.
E no campo social? Será também Barcelona um meio socialmente criativo e
inovador, que incentiva e provoca a mudança social no sentido de se tornar uma
comunidade urbana mais justa, mais inclusiva e mais coesa?
É esta questão que desenvolvemos no artigo, focando a atenção num caso
particular, mas ilustrativo. Com mais de 4 décadas de existência, o Walden-7,
em Sant Just Desvern (Área Metropolitana de Barcelona), é o resultado de um
projecto visionário, desenvolvido por um colectivo interdisciplinar (Taller
d’Arquitectura), liderado por Ricardo Bofill. Trata-se de uma interessante experiência, em que as configurações espaciais parecem ter tido um impacto importante nas dinâmicas sociais de uma comunidade urbana, constituída actualmente
por cerca de 1000 pessoas.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
73
Fig. 1 – Walden-7, Sant Just Desvern, em 2010.
Fig. 1 – Walden-7, Sant Just Desvern, in 2010.
O Walden-7 traduz uma visão de cidade particularmente avançada para
a sua época, associando experiências arquitectónicas e sociais, ambas equacionadas de modo muito inovador, em ruptura evidente com as perspectivas
dominantes no final dos anos 60. Nos pontos seguintes, apresentamos as linhas
mestras do projecto e discutimos o seu significado, evolução e impactos
sociais.
II. ESTRATÉGIAS SOCIAIS CRIATIVAS
As estratégias sociais criativas (ESC) são novas respostas da sociedade, ou
de comunidades específicas, para problemas que o Estado ou o mercado não
resolvem adequada ou satisfatoriamente. Assim entendidas, são estratégias capazes de gerar inovação social, na medida em que apontam para novas soluções,
visam a coesão social e reconfiguram as relações sociais (relações de trabalho,
de género, inter-étnicas, inter-geracionais, etc.).
Na realidade, as ESC transformam-se em inovação social se forem suficientemente reconhecidas e adoptadas.
Na sua essência, as ESC expressam sempre uma vontade de mudança que
pode assumir contornos instrumentais e pragmáticos, ou estar ancorada em visões
ideologicamente definidas. No entanto, mesmo nos casos em que estas estratégias
visam objectivos muito concretos e particulares, não deixa de haver uma inspi-
74
Isabel André e Muriel Rousselle
ração, uma utopia que funciona como pilar e como alavanca da mudança e da
inovação social (Defourny e Develtere, 1999; Martinelli et al., 2003; Moulaert
e Ailenei, 2005; Klein e Harrisson, 2007). Na Europa, as ideias corporativas
pré-modernas, a filantropia burguesa do séc. XIX, a teoria social católica, o
anarquismo, o socialismo, a social-democracia ou os movimentos mais recentes,
plurais e alternativos, configuraram, de modo mais ou menos directo e mais ou
menos explícito, os rumos de mudança da sociedade e os caminhos a trilhar
pelas comunidades nacionais, regionais ou locais. As visões da cidade que se
foram traduzindo nas políticas e nos planos urbanos, transmitem muito claramente
essas visões ou a sua combinação.
Por outro lado, os vários Welfare Regimes (Esping-Anderson, 1990) que
coexistem no espaço europeu modelam a interpretação e a aplicação das utopias
sociais, fazendo-as adaptar a contextos específicos.
1. Quem são os agentes que definem e desenvolvem as ESC?
São diversos. Revelam, contudo, uma intenção comum de desafiar a ordem
estabelecida. Na maioria dos casos, os principais protagonistas são os agentes
mais vulneráveis, aqueles que precisam de uma resposta adequada e urgente para
escapar ao risco de exclusão social. A História revela, no entanto, que muitas
personagens das elites desempenham também esse papel de estrategas da mudança
social. Não se tratará apenas, como os marxistas defendem, de uma opção de
classe, mas também de uma ‘incomodidade’ ideológica, de um inconformismo
que se revela, por exemplo, com bastante frequência, através das artes ou da
arquitectura.
2. Em que condições e contextos se configuram as ESC?
Numa primeira leitura, as ESC parecem desencadear-se sobretudo por via
da ameaça de exclusão social. As tensões inerentes à privação, à desigualdade
e à consequente fragmentação das sociedades ou das comunidades surgem como
fontes privilegiadas de criatividade social. Esta ideia leva alguns actores a defenderem que a criatividade e a inovação social estão intimamente ligadas ao conflito (Carnelave, 2008).
Todavia, outros desafios podem estar na génese de ESC. Para além das
ameaças, que obrigam a respostas adequadas e eficazes, as oportunidades e os
recursos são também geradores de criatividade social. A título de exemplo,
uma escola que promova a intervenção, o debate e a criação e que encare o
erro como forma de aprendizagem ‘produz’ certamente pessoas inquietas e
exigentes relativamente à sociedade em que vivem, ou seja, pessoas socialmente
criativas.
“Creativity drives innovation and evolution, providing original ideas and
options, but it is also a reaction to the challenges of life. It sometimes helps when
Estratégias sociais criativas em Barcelona
75
solving problems, but also sometimes allows problems to be avoided. It is both
reactive and proactive” (Runco, 2004: 679).
3. Quais os meios favoráveis às ESC?
Diversos autores que exploraram esta questão (Gertler 2004; Tremblay et
al., 2005; André e Abreu 2006 e 2009; Moulaert et al., 2009) sugerem que os
meios socialmente criativos são aqueles que permitem a mudança, sem se fragmentarem e mantendo, ou reconstruindo, a sua identidade. Os meios socialmente
criativos apresentam-se, assim, como territórios dinâmicos que combinam quatro condições: diversidade sócio-cultural, tolerância, participação cívica e capital relacional.
A diversidade potencia a interacção e o contacto com o novo no sentido
da alteridade – novos-outros produtos, novos-outros saberes, novos-outros
valores. A tolerância é uma condição necessária ao risco, sempre associado
à criação e à inovação (como no trapézio, o risco implica uma rede). Um
meio não pode ser criativo se penalizar os eventuais insucessos de uma iniciativa arriscada, ou seja, se for demasiado hierarquizado, normativo ou
rígido. A participação cívica comporta a possibilidade e a capacidade de
julgar e decidir, através do acesso à informação e ao conhecimento necessários à identificação de respostas novas e adequadas. O capital relacional diz
respeito à interacção que advém quer dos laços de proximidade que accionam
redes locais (de vizinhança, familiares, de amigos, etc.), quer do estabelecimento de pontes com o exterior. Não se trata apenas do capital social das
elites, mas sobretudo da possibilidade e da capacidade, colectivamente apropriadas, de tornar os territórios mais coesos no seu interior e mais ligados
ao resto do mundo.
4. Existe uma escala apropriada para as ESC?
Em geral, as ESC são normalmente associadas à escala local. É a este nível
que as fragilidades e os défices sociais se revelam de uma forma mais evidente
e que emerge mais claramente a necessidade de respostas de proximidade. Por
outro lado, a relativa autonomia dos agentes locais e a sua ‘amarração’ à realidade quotidiana e concreta permite-lhes encarar a mudança social com mais
facilidade, porque com menores implicações nas esferas de decisão económicas
ou políticas.
Para além das razões invocadas, é também à escala local que a “consciência
territorial” (Klein, 2005) – o sentido de pertença a uma comunidade – se configura,
facilitando a participação, a tolerância e as relações de proximidade.
É, contudo, ilusório pensar que o nível local, nomeadamente as cidades ou
mesmo comunidades mais pequenas, detêm o monopólio da criatividade e da
inovação social. As políticas sociais, regionais ou nacionais, os planos e projectos de desenvolvimento territorial ou o dinamismo da economia nacional e
76
Isabel André e Muriel Rousselle
internacional são fortes condicionalismos para as ESC. São as relações entre as
diferentes escalas territoriais de regulação que promovem ou travam estas estratégias, embora elas se concretizem normalmente na micro-escala local.
5. Finalmente: qual a temporalidade das ESC?
Contrariamente ao que habitualmente se pensa, ou se faz pensar, a temporalidade das dinâmicas sociais é a das comunidades e não a dos indivíduos
ou a dos ciclos políticos ou económicos. As utopias sociais que se concretizaram assumiram normalmente a necessidade do tempo longo, das diferentes
fases necessárias à maturação de um projecto, desde a etapa inicial, rápida
e intensa, em que se revelam, estruturam e ajustam ideias e perspectivas, até
às etapas de experimentação e consolidação, necessariamente muito mais
lentas.
III. WALDEN-7: UMA UTOPIA REALIZADA?
Como referimos na introdução, o Walden-7 é um caso especialmente interessante, com um percurso suficientemente longo e marcado por diferentes
etapas, o que permite debater os vários aspectos das estratégias sociais criativas
anteriormente enunciados. Com este objectivo, desenvolvemos uma ampla pesquisa documental, realizámos 9 entrevistas3 e efectuámos um inquérito a residentes no Walden-7.
1. Fundamentos da utopia
Ricardo Bofill (Barcelona, 1939-) acabou os estudos de arquitectura em
Genebra no ano de 1960. Da Suíça, trouxe ideias contestatárias que ecoavam
as primeiras críticas ao urbanismo funcionalista personificado em Le Corbusier.
O pensamento sobre a cidade desenvolvido por Henry Lefevre e muitos outros
marxistas influenciaram fortemente Bofill. Era necessária e urgente uma cidade
mais humanizada e menos determinada pelas leis do mercado imobiliário. Mas,
as ideias de Ricardo Bofill sobre a construção do espaço urbano não vinham
só dessa vanguarda europeia que começava a fazer-se ouvir. Vinham também
do seu pai e da sua terra natal, a Catalunha. Emílio Bofill, também arquitecto,
pertencia à burguesia catalã e partilhava com ela os ideais nacionalistas, mas
ia mais além, criticando duramente o regime franquista, o que o aproximou da
Esquerda Republicana e o impediu – por decisão dos poderes políticos fran3 Foram entrevistadas, em Fevereiro de 2010, as seguintes pessoas: Ana Bofill Levi (arquitecta,
música, co-autora do projecto Walden-7 e aí residente desde a sua fundação), Cármen Mañá (responsável pelos serviços administrativos do Walden-7), Suzana Pera (responsável pela animação cultural
do Walden-7) e 6 residentes no Walden-7 com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
77
quistas – de assinar os seus projectos de arquitectura (Bofill, 1989; Bofill Levi,
2009; Anna Bofill Levi na entrevista realizada pelas autoras em Fevereiro de
2010).
Em 1960, Ricardo Bofill, acabado de chegar da Europa democrática, funda,
em parceria com o seu pai e com um grupo alargado de colegas e amigos, o
“Taller de Arquitectura”. Era um grupo eclético e pluridisciplinar, constituído
por arquitectos, engenheiros, urbanistas, sociólogos, escritores, músicos, cineastas e filósofos. Em conjunto, propunham-se repensar o espaço urbano e contestar a especulação imobiliária que já se fazia sentir em Barcelona, em especial
no litoral, onde a pressão turística era cada vez mais intensa desde os anos 50
(Banyuls i Pérez, 2002).
“Le ‘Taller de Arquitectura’ s’est preparé à inventer des villes qui soient
possibles, pleines de rêves réalisables et imparfaites” (Miralles 1975, cit. por
Bourret, 1999: 25).
“Rétrospectivement, je ne sais comment nous parvenions à boucler nos fins
de mois. Nous passions parfois beaucoup de temps, avec une vingtaine de personnes, à réfléchir sur un seul projet qui nous paraissait changer le monde. Nous
dessinions beaucoup; nous échafaudions des théories, nous élaborions des méthodes de compositions géométriques qui me sont aujourd’hui très précieuses. Au bout
du compte, nous construisions assez peu.” (Bofill, 1989:38).
Anna Bofill Levi, arquitecta e música, irmã de Ricardo, integra também o
Taller em 1962 e transporta para o debate, de modo intuitivo nos primeiros
tempos, as preocupações com o quotidiano das famílias e, em especial, com o
das relações de género, nomeadamente a situação de subordinação e de sobretrabalho das mulheres nos agregados domésticos.
No plano da arquitectura, os Bofill e os seus companheiros partilharam
precocemente as visões urbanas marxistas (muito influenciados por Henri
Lefebvre), acrescentando-lhes alguns traços da pós-modernidade, como, por
exemplo, a regeneração de espaços urbanos obsoletos. Materializaram os seus
primeiros projectos, durante os anos 60, no litoral de Alicante, em La Manzanera, onde deixaram edifícios emblemáticos como Plexus e Xanadu. Na Catalunha, foram também construídos dois edifícios simbólicos (até no nome) nos
anos 60: El Castell de Kafka, em Sitges, e o Barrio Gaudi, em Réus (Bofill
Levi, 2009).
Inspirados nas correntes de pensamento mega-estrutural dos anos 60
(que tem como um dos seus mais ilustrativos exemplos o bairro residencial
Habitat, projectado por Moshe Safdie para a Expo67 de Montreal), defendiam
uma edificação modular num espaço tridimensional (Bofill, 1989; Banyuls
i Pérez, 2002; Bofill Levi, 2009). A esta perspectiva, muito geométrica,
associavam-se várias reinterpretações das utopias urbanas do século XIX,
em especial, a Cidade Jardim. “La Manzanera, planteada como una urbanización turista, creemos que hemos de concebirla como jardín urbanizado (…)
78
Isabel André e Muriel Rousselle
conservando su carácter en un nuevo paisaje construido, que esté profundamente integrada en los alrededores e idiosincràsia del país. Por todos estos
motivos, nosotros intentaremos conservar sus muros de piedra, sus bancales,
su vegetación, su naturaleza.” (Emilio Bofill, 1968, cit. por Antoni Banyuls
i Pérez, 2002: 140).
Ainda no campo meramente arquitectónico, as primeiras intervenções dos
Bofill revelam algumas preocupações sociais e políticas bastante nítidas, tais
como ‘aliviar’ a densidade de ocupação através da utilização do espaço tridimensional4, possibilitar a circulação horizontal e vertical, centralizar a infraestrutura e os serviços nos espaços residenciais, construir, com elementos
pré-fabricados, ‘células’ (unidades residenciais) que pudessem vir a agrupar-se
para constituírem unidades maiores. Nestas preocupações, está subjacente a
intenção de reduzir o preço da construção, usando pouco terreno e recorrendo
à produção industrial (módulos pré-fabricados), bem como promover a interacção dos habitantes. Está também presente um objectivo mais inovador e audaz
que Antoni Banyuls i Pérez (2002:153) refere como “estruturas tridimensionais,
tecnológicas e futuristas com capacidade para absorver procuras e transformações
sociais imprevisíveis”.
Esta ideia, expressa através da arquitectura, inscreve-se no Regionalismo
Crítico, ou seja, na necessidade de contextualizar a arquitectura adequando-a aos
lugares e às culturas. Este termo parece adaptar-se especialmente bem ao ambiente
político e social da Catalunha no final dos anos 60, onde a oposição ao Franquismo
e o nacionalismo catalão se conjugavam numa associação particular, por vezes
bastante complexa.
“Ces ouvriers, dont j’admirais l’agilité quand je les voyais progresser, les
épaules chargées de briques, sur les échafaudages suspendus dans le vide, me
parlaient aussi de la guerre perdue. Dans les cafés, après le travail, ils me
racontaient les défaites de l’armée républicaine. Une autre initiation.” (Bofill
1989: 17).
A perspectiva do Regionalismo Crítico é muito clara nas concepções que
os Bofill e o Taller tinham sobre o papel da arquitectura na sociedade. «Savoir
regarder, décrypter les comportements et les mouvements spontanés d’une population, et, au-delà, percevoir les besoins de changement qu’elle peut laisser,
inconsciemment, transparaitre. Il faut savoir repérer ces manques pour apporter,
soi-même sa propre contribution.» (Bofill, 1989: 15).
4 A maioria dos projectos arquitectónicos repetem um plano em altura. Não são, na realidade,
tridimensionais.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
79
2. Concretização da utopia
Em 1970, o ‘Taller de Arquitectura’ começa a desenvolver dois projectos
muito ambiciosos, não só pela sua dimensão mas, sobretudo, pela sua localização Trata-se da Ciudad en el Espacio, em Madrid – Moratalaz e o Walden-7, em
Barcelona – Sant Just Desvern. O primeiro projecto é interrompido no início da
construção, por imposição da administração local franquista que entende este
projecto como uma obra com intenções subversivas (Bofill Levi, 2009: 32). O
segundo realizou-se e constitui actualmente um caso particularmente interessante
de uma utopia que se concretizou.
O Walden-7 homenageia duas obras literárias. Em 1854, Henry David
Thoreau publicou Walden; or, Life in the Woods, obra que enaltece a autonomia
individual, a descoberta, a relação entre o ambiente e as pessoas, a experimentação social, tecendo uma crítica intensa à sociedade industrial. Inspirado na
obra de Thoreau, em 1948, B. F. Skinner publica Walden 2, uma obra de psicologia baseada numa comunidade experimental onde se promove a felicidade e a
criatividade, incentivando o espírito crítico e a experiência no sentido de melhorar sempre as práticas culturais do colectivo. Através desta utopia, Skinner
formulou uma crítica forte à América do pós-guerra, onde os atributos do Walden 2 estavam bastante desvalorizados.
Os escritores e filósofos do ‘Taller de Arquitectura’ encontraram nestas
obras a inspiração e os fundamentos para o novo conceito de espaço urbano que
queriam desenvolver. Um espaço comunitário e solidário, crítico, criativo e
experimental.
José Agustín Goytisolo, poeta, co-fundador do Taller, produziu alguns dos
textos fundadores do Walden-7. Fundadores porque são fundamentos conceptuais do projecto e fundadores também porque se encontram inscritos nas caves
do edifício em painéis que envolvem os pilares principais. O seguinte poema é
um exemplo desses textos:
“Al escoger camino en una encrucijada
Y al avanzar por él,
Quedan atrás los otros mil proyectos
Posibles desde el punto de partida.
Determinista o no,
El único sentido de la historia
Es como el largo viaje en un ferrocarril
A medio construir entre la selva
Que cubre su trazado, impidiendo el retorno”
(J. A. Goytisolo)
Depois da experiência falhada da ‘Ciudad en el Espacio’ ensaiada em
Madrid, o Taller sabe aproveitar uma oportunidade única em Barcelona.
O terreno e os edifícios abandonados da fábrica de cimento SANSON, recentemente desactivada, estavam à venda em Sant-Just-Desvern, um município
80
Isabel André e Muriel Rousselle
contíguo ao de Barcelona, para Oeste. O espaço era atractivo, um universo
fantástico, nas palavras de Ricardo Bofill (entrevista em Solé et al., 1995), e
menos vigiado que o do centro da metrópole catalã. As regras de construção
eram pouco rigorosas e vagas num município suburbano como Sant Just e a
censura política era mais leve na Catalunha, onde não convinha ao regime
franquista provocar demasiados atritos, especialmente num período de contestação como o que sucedeu a 1968.
Os Bofill conseguem, por via das suas relações familiares, o apoio financeiro
do Banco Industrial da Catalunha (BIC, administrado, na altura, por Jordi Pujol,
posteriormente presidente da Generalidad entre 1980 e 2003) para comprar o
terreno (108 milhões de pesetas, em 1968) e financiar a construção, aceitando
que, contrariamente aos seus projectos anteriores, os apartamentos fossem vendidos em propriedade horizontal e não através da constituição de uma sociedade
accionista. Para gerir este investimento e a comercialização dos apartamentos,
o BIC cria uma empresa específica, a Ceex.3. (Anna Bofill Levi, em entrevista
realizada pelas autoras em Fevereiro de 2010, e Ricardo Bofill, em entrevista
publicada em Solé et al., 1995).
O envolvimento da equipa do Taller neste projecto é total. Finalmente, vão
concretizar uma ideia que incorpora novos conceitos do espaço urbano, explicitados por associações complexas entre sistemas geométricos e relações sociais,
novas visões arquitectónicas e novos modos de contestação política.
O Walden-7 é um agregado de 1084 células ou unidades volumétricas
cúbicas (fig. 2). Cada unidade tem uma área de 30m2 e cada apartamento pode
ocupar uma única célula (estúdio), 2, 3 ou 4. O espaço habitacional é aberto e
pode ser organizado à medida de cada agregado doméstico e consoante a sua
evolução ao longo do ciclo de vida dos seus membros. A construção foi especialmente barata, usando abundantemente pré-fabricados e materiais pouco
dispendiosos (Xavier Camprecios «‘Walden-7’ Innovaciones y funcionalidade en
la arquitectura», La Vanguardia Española, 16 Novembro 1975).
No mesmo artigo, Xavier Campreciós comenta que no Walden-7 “se han
unido funciones que en la concepción clásica de la vivienda permanecían distanciadas por piezas individuales. Tal es el caso de cocina-comedor, de bañohabitación. Aplicando por el contrario la función «estar», de recogimiento
personal, en todas ellas”. […] “Los interiores de las viviendas son, pues, de una
absoluta adaptación a las necesidades de la gente, hoy y ahora. En el fondo se
trata de romper el fenómeno de la mimetización de clases, mediante el cual una
clase social imita la construcción y distribución de las viviendas de una clase
– generalmente superior – diferente, sin tener en consideración que los usos y
necesidades de ambas pueden alcanzar la mayor disparidad».
Embora os detalhes do projecto e da construção sejam bastante interessantes e comportem dimensões muito inovadoras, interessa-nos salientar aqui,
sobretudo, as estratégias socialmente criativas que envolvem o Walden-7 desde
a sua origem até à actualidade. Destacamos a seguir um conjunto de ideias que
configuram o carácter socialmente inovador deste projecto.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
81
Fig. 2 – Geometria do Walden-7.
Fig. 2 – Geometry of Walden-7.
3. A inspiração mediterrânea do Walden-7
“J’ai traversé alors la Méditerranée. J’ai découvert, dans la vallée du Dra, au
Maroc, des villages faits de cubes empilés, construits au jour le jour, au rythme
de l’expansion des familles et pourtant mystérieusement ordonnés. Tout autour du
désert.” (Bofill, 1989:13)
A cidade orgânica – que permaneceu no Sul do Mediterrâneo e não resistiu
às pressões do mercado no Norte – é o modelo que os Bofill transportam para
os seus primeiros projectos e especialmente para o Walden-7. O espaço urbano
vai crescendo harmoniosa e equilibradamente à medida que os habitantes vão
tendo diferentes necessidades e modos de vida. As kasbahs do Magreb estão
claramente representadas no Walden-7 com a sua sobreposição de planos diversos, cores e labirintos. Outro aspecto interessante transposto da cidade orgânica
para o Walden-7 é o ‘vis-a-vis’, ou seja, as janelas viradas umas para as outras,
o que propicia o diálogo e a interacção dos vizinhos.
Apesar desta inspiração ancorada na história dos povos mediterrânicos, o
projecto Walden-7 aliou a tradição a novas técnicas de construção que permitiram ampliar as vantagens da kasbah evitando algumas das suas desvantagens.
4. A monumentalidade do Walden-7
O universo mágico da fábrica de cimento SANSON reflectiu-se muito no
Walden-7. É, na verdade, um projecto muito precoce de regeneração de um
espaço industrial abandonado. Os Bofill tinham visitado, nos anos 60, os primeiros projectos do ‘urban renewal’ moderno nos EUA, em especial na Califórnia. A ideia não se tinha ainda difundido na Europa, onde só a partir dos anos
82
Isabel André e Muriel Rousselle
80 é que a reestruturação económica e a desindustrialização se declaram como
um desafio à urbanização, não só pela necessidade de regenerar (social e ambientalmente) os espaços abandonados pela indústria, mas também pela forte dimensão simbólica dessas áreas e pela inspiração que transmitem aos projectistas da
cidade (Roberts e Sykes, 2000). No contexto da regeneração urbana, os flagships
assumem um papel crucial, atribuindo grandiosidade, visibilidade e mesmo
monumentalidade aos espaços, o que facilita muito a sua apropriação e identidade.
Na maioria das situações, a importância dos flagships é vista sobretudo em
termos de mercado, atracção de investimentos e de empresas, mas nalguns casos
associa-se também à integração e identidade das comunidades urbanas (Smyth,
1993).
Talvez não tenha sido intencionalmente que o Taller desenvolveu um projecto
de regeneração urbana. A aquisição dos terrenos em Sant Just parece ter sido
mais ditada pelo acaso e pela possibilidade de concretizar ideias alternativas e
subversivas (na óptica dos poderes dominantes) do que pela intenção de regenerar um espaço desindustrializado. De qualquer modo, o Walden foi concebido
como um flagship, como um ‘monumento ao subúrbio’ (Bofill, 1989 ). A fábrica
era um ícone do qual se manteve a chaminé5 (a primeira construída em betão
na Europa, 1900). Produziu-se, contudo, um outro ícone semelhante a um castelo
visível de longe, uma ilha com o seu farol, onde chegamos, ou um navio com
um mastro, onde partimos, consoante as interpretações, mas cuja dimensão o
torna visível em grande parte da metrópole catalã.
5. A comunidade Walden-7
O projecto Walden-7 foi concebido como habitação social, no modelo ‘casas
de renda limitada’6. Os ideais que veiculava associavam-se a esse tipo de população-alvo. Contudo, o carácter alternativo do projecto e o envolvimento dos
membros do Taller na sua execução, fizeram com que a maioria dos primeiros
residentes pertencesse à rede social dos Bofill (Anna Bofill Levi, entrevista 5
Fevereiro 2010). Eram sobretudo intelectuais e artistas, pessoas que por convicções políticas e ideológicas escolheram viver num contexto urbano pouco convencional.
«En 1975 empezaron a llegar los primeros inquilinos al Walden 7. “Aquí
vinieron a vivir los esnobs modernos de la época, porque parecía una edificio hecho
a su medida en la época de las comunas”, recuerda Antoni Ardèvol, presidente de
5
Segundo informação de Anna Bofill Levi (entrevista, 5 Fevereiro 2010), a primeira chaminé
construída em betão na Europa, em 1900, e, por isso, a mais alta nessa época.
6 As ‘casas de renda limitada’ foram um instrumento da política de habitação franquista,
introduzido em 1954, quando o estado espanhol reconheceu a existência de um enorme défice de
oferta de habitação condigna. Permitia apoios directos e indirectos, nomeadamente isenções e bonificações fiscais, bem como facilidades no acesso ao crédito hipotecário (Fernández Carbajal,
2003).
Estratégias sociais criativas em Barcelona
83
la comunidad de propietarios. […] Este edificio sale en todas las enciclopedias
arquitectónicas del mundo porque es una concepción nueva de vida. (Carles Mestres «El “monumento al suburbio” de Bofill necesita reformas urgentes», La
Vanguardia 6 Abril 1993).
Anna e Ricardo Bofill admitem que o projecto do Walden-7 pretendeu
acolher vidas alternativas, anti-convencionais. “Une existence qui exalterait
l’individu libéré du couple traditionnel, mais qui lui laisserait, aussi, la possibilité de vivre à trois, à quatre, en communauté.” (Bofill, 1989: 37). Esta
intenção traduziu-se não só na concepção de um espaço que promove a interacção social, como já referimos, mas também, por exemplo, na existência de
vários serviços colectivos que, no projecto inicial, incluíam mesmo uma cozinha e uma lavandaria (que nunca chegaram a funcionar por falta de iniciativa
suficiente dos primeiros residentes). Ainda assim, ficou bem expresso no Walden-7 o intuito de favorecer a colectivização do trabalho doméstico e de
transformar, por essa via, as relações de género convencionais. Anna Bofill
(2005) veio a produzir uma reflexão muito interessante sobre este aspecto
específico.
“Deberíamos entender los lugares de la ciudad, desde los domésticos hasta
los de relación, de trabajo, etc., como lugares sin jerarquizaciones, ni separaciones,
ni segregaciones en donde se desarrolla la vida de cada día en el conjunto de todas
las actividades que realizamos. Prescindir de la clásica separación entre los espacios para lo doméstico y los espacios para lo social, que se dan incluso en la
vivienda, e intentar domesticar todos los espacios, o hacer domésticos todos los
espacios que usamos y vivimos.” (Bofill, 2005: 4-5)
A integração da comunidade Walden-7 em Sant Just Desvern não foi difícil. Primeiro, porque se deu num momento de viragem importante, correspondente
ao fim do franquismo e início do regime democrático. Em segundo lugar, porque
o edifício de localizou na área industrial, relativamente afastada do núcleo residencial mais antigo e, por isso, não provocou grandes alterações no tecido urbano
já consolidado, nem mudanças significativas em termos de relações de vizinhança
Só a partir dos anos 90 é que a expansão urbana acaba por ligar o ‘pueblo’ ao
Walden-7.
6. Os ciclos do Walden-7: militância, crise e superação
Pelas razões indicadas no ponto anterior, os primeiros habitantes do Walden7 pertenciam, na sua maioria, a uma mesma rede social, partilhavam ideais e
modos de vida, encontrando no Walden-7 o lugar ideal para a concretização das
utopias num momento particular da história de Espanha, que foi a transição para
a democracia na segunda metade dos anos 70 do séc. XX.
Como todos os períodos de entusiasmo e militância, esta primeira fase da
comunidade Walden-7 não durou muito.
84
Isabel André e Muriel Rousselle
Mas é preciso ir um pouco atrás para compreender as debilidades com
que o Walden-7 se deparou a partir de 1980. Com a crise industrial da Catalunha, agravada pela crise mundial dos anos 70, o Banco Industrial da Catalunha (integrado entretanto no grupo Banca Catalã) entrou em crise, arrastando
a Ceex-3. Os pagamentos à empresa Dragados y Construcciones, SA começaram a falhar e a construtora retirou-se antes de finalizado o edifício, sendo
substituída por empresas de menor dimensão e com menos qualificações
(Enric Canals “Un edificio diseñado por Bofill en 1975, com problemas de
desprendimientos”, El Pais 21/08/1980). Esta mudança fez com que o revestimento exterior do edifício e outros trabalhos tenham sido realizados deficientemente. Mas, a crise da Ceex-3 levou também a que a maioria dos residentes
tenham pago apenas a entrada e não tenham efectuado mais pagamentos, justificando, em parte, esse procedimento com as deficiências que as suas casas
começavam a revelar.
De facto, ao fim de poucos anos, os residentes começaram a ver fendas nas
paredes, infiltrações nos últimos pisos e a queda sucessiva dos ladrilhos cerâmicos do revestimento exterior. Entretanto, a Ceex-3, em situação financeira cada
vez mais débil, pediu a declaração do estado de ruína para o Walden-7, o que
levaria à sua demolição sem direito a indemnizações aos residentes, dado que
tinham já passado os 10 anos de garantia do edifício. Segundo a lei vigente na
Catalunha nesse período, para um edifício ser declarado em ruína era necessário
que o valor das obras de reabilitação fosse superior a 50% do valor do edifício.
Contudo, segundo as autoridades urbanas, o Walden-7 valia, em 1985, 1200
milhões de pesetas e as obras estavam estimadas em 389 milhões, o que justificou que a solicitação da Ceex-3 não fosse aceite (“El Ayuntamiento de Sant
Just Desvern exige a la constructora que repare el edificio Walden”, La Vanguardia, 30 Outubro 1986). Em 1989, a situação legal fica resolvida com a venda
simbólica do Walden-7 ao Ayuntamiento de Sant Just Desvern (Carles Mestres
e Xavier Arjalaguer “Una Inmobiliaria regala el edificio Walden7 a Sant Just
Desvern para frenar su deterioro”, La Vanguardia, 15 Junho 1989).
A crise do Walden-7 não foi apenas a da construção. Num novo contexto
de tolerância e mudança rápida dos valores e comportamentos sociais associados
ao regime democrático, muitos dos ideais associados à comunidade Walden-7
tornaram-se uma realidade por todo o lado. “La Gauche divine s’est dissoute
dans la Barcelone de la transition démocratique puis dans celle du socialisme
pragmatique” (Bourret, 1999: 31).
Durante a crise do Walden-7 muitos dos seus primeiros habitantes venderam
ou alugaram, de facto, os seus apartamentos e o edifício passou a acolher uma
população socialmente diferente da inicial, mas aparentemente também anticonvencional, agora já não tanto por motivos político-ideológicos mas sobretudo
pelos modos de vida que seguia.
Apesar das contrariedades e de alguma mudança no perfil sócio-cultural
dos residentes, a comunidade Walden-7 conseguiu resistir à crise e superá-la.
Pela resistência que demonstrou ao longo dos anos mais difíceis mas também
Estratégias sociais criativas em Barcelona
85
porque, a partir de 1989, passou a ter o apoio das autoridades públicas urbanas – Ayuntamiento e Generalidad – que entenderam finalmente o Walden-7
como um marco e uma referência da história urbana recente de Barcelona a
valorizar.
Em 1989, juntamente com o Walden-7, o Ayuntamiento compra um terreno
de 20 700 m2 no mesmo quarteirão, para o qual elabora um Plano Especial que
permite a recuperação do Walden-7 e a construção de mais de 200 apartamentos,
assim como uma zona de serviços e equipamentos. A reabilitação será feita com
recurso às hipotecas pendentes dos residentes devedores à Ceex-3, aos apoios
financeiros concedidos pela Generalitat e pela venda dos espaços não ocupados,
isto é 80 apartamentos e 20 lugares de estacionamento. (Carles Mestres e Xavier
Arjalaguer “Una Inmobiliaria regala el edificio Walden7 a Sant Just Desvern
para frenar su deterioro”, La Vanguardia 15 Junho 1989 e Carles Mestres “La
reforma del Walden-7 de Sant Just costará 900 millones de pesetas” La Vanguardia 18 Setembro 1990). O Plano Especial – dos arquitectos Xavier Montsalvatge
y Xavier Llistosella – é aprovado em 1992, destinando 67% do quarteirão a
espaços verdes, arruamentos, equipamentos e estacionamento e 33% a usos
privados, incluindo habitação, escritórios e comércio (Carles Mestres “Viviendas,
oficinas y. zonas de recreo rodearán al polémico edificio Walden-7”, La Vanguardia 7 Abril 1992).
A recuperação – que acabou por custar 705 milhões de pesetas – ficou
concluída em 1995 e foi festejada com um grande espectáculo de ‘Els Comediants (uma das companhias mais prestigiadas do mundo pela espectacularidade das suas montagens) e com a presença de membros do Governo catalão. Ou
seja, o Walden-7 tinha acabado de ser incluído nos flagships de Barcelona. O
próprio Ricardo Bofill, que tinha abandonado a sua utopia, aproximou-se de
novo. “Los vecinos están tramando un acuerdo con Bofill: ellos se olvidan
de pedirle cuentas por la degradación que ha sufrido el edificio y a cambio
el arquitecto les aportará cierta cantidad de dinero y hará “campaña a favor”
del Walden 7. De hecho, Bofill ya ha firmado varios artículos de prensa (uno
de ellos en “La Vanguardia”) en los que se reconcilia con el edificio del que
años atrás había renegado” (David Miquel, «El polémico Walden 7 limpia su
cara y deja atrás su imagen de frágil castillo de naipes», La Vanguardia, 11
Março 1995).
Com esta intervenção, os apartamentos do Walden-7 aumentaram significativamente de preço. As casas que estavam vagas, ou que por qualquer razão
iam sendo desocupadas, passaram a ter uma procura significativa, o que, a médio
prazo, pode provocar mudanças no perfil social dos residentes Contudo, o fenómeno de gentrificação, tão frequente nestas situações, não parece ter, por
enquanto, grande expressão. Assim, convivem ainda actualmente no Walden-7
alguns dos que fundaram a comunidade militante de vizinhos e todos aqueles
que foram chegando durante a crise e nos anos mais recentes. Em comum,
parecem partilhar, no essencial, os valores que guiaram o Walden-7 desde a sua
concepção.
86
Isabel André e Muriel Rousselle
IV. O PRESENTE NO WALDEN-7
Actualmente, o Walden-7 alberga uma comunidade de cerca de 1000 residentes, distribuídos por 442 apartamentos. A Junta da Comunidade de Proprietários do Walden-7 gere um orçamento anual de cerca de 500 000€ dos quais
0,7% se destinam a acções de solidariedade com países do 3º Mundo.
Para além de alguns serviços que se mantêm no edifício – farmácia, cafetaria, cabeleireiro – a Junta, através da Comissão de Cultura, organiza 5 grandes
eventos culturais em parceria com o Ayuntamiento: visita dels Reis Mags (noite
de 5 de Janeiro) às crianças do Walden-7; festa de les Lletres, Sant Jordi (sexta-feira
à noite antes de 23 de Abril) – versão “waldenita” da Festa do Livro e da Rosa,
incluindo leituras em diferentes idiomas e uma taça de champanhe para todos;
cinema catalão ao ar livre (uma noite de Julho); La Xocolatada (uma tarde de
Outubro) – troca de brinquedos entre crianças vizinhas, desincentivando o consumismo, com uma chávena de chocolate quente para todos, grandes e pequenos,
no pátio interior do Walden-7; noite de artes cénicas, em que se dão a conhecer
os artistas (música, pintura, fotografia, etc.) que vivem no Walden-7, ou em Sant
Just Desvern, incluindo representações e exposições num mesmo espaço.
Um inquérito realizado aos residentes do Walden-7 permite-nos conhecer
mais em pormenor esta comunidade. O questionário, enviado e respondido por
via electrónica, foi dirigido a 65 residentes (com a solicitação de ser reenviado
a outros vizinhos) e obteve 41 respostas. Embora este inquérito assuma apenas
um carácter exploratório, os dados obtidos merecem atenção e abrem pistas de
discussão interessantes.
• 52% têm entre 35 e 54 anos, 13% são mais jovens e 35% são mais
velhos.
• 74% nasceram na Catalunha, 16% noutra Comunidade espanhola e 10%
fora de Espanha.
• 67% têm ensino superior.
• 15% vivem sozinhos e 10% em famílias monoparentais; 13% vivem com
um(a) parceiro(a) do mesmo sexo.
• Como actividades de lazer, privilegiam as viagens (68%) e a leitura
(65%).
A maioria destas pessoas vive no Walden-7 há mais de 16 anos (68%).
Antes viviam em Barcelona-cidade (47%) ou já em Sant Just Desvern (17%).
Só 3% viviam em Espanha fora da Catalunha e 14% viviam noutro país.
Na maioria dos casos vieram viver para o Walden-7 porque a família veio,
ou porque têm um(a) parceiro(a) que já vivia aí. Contudo, são bastante referidas
as características do lugar como razões para a escolha, nomeadamente a beleza,
a proposta arquitectónica e social, a privacidade, o conceito do edifício, a sensação de amplitude, a localização geográfica, a filosofia de vida que proporciona,
a ‘diferença’ ou os serviços que disponibiliza.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
87
Numa escala de 1 a 6, classificam com 5.4 ‘o gosto de viver no Walden-7’.
Valorizam sobretudo as características do apartamento (59%), a proximidade dos
amigos (47%) e as relações com os vizinhos (40%). Como pontos negativos,
apontam a falta de luminosidade dos apartamentos que estão virados para o
interior do edifício, o funcionamento de alguns serviços e equipamentos e algum
conflito entre vizinhos.
Não é muito elevado o nível de participação nos eventos colectivos, obtendo
uma pontuação de 3.7 em 6. Os eventos em que mais participam são a Festa das
Letras (Sant Jordi) e a Noite de Artes Cénicas. Para além dos eventos colectivos,
que já se realizam, sugerem a organização de concertos.
A gestão do Walden-7 merece uma classificação média de 4.0 em 6. Alguns
apontam falta de profissionalismo, mas na maioria dos casos, as críticas focam
aspectos muito concretos como a recolha de lixo, o controle do ruído ou as
reparações eléctricas.
De um conjunto de definições associadas ao Walden-7, as que reuniram
maior acordo foram: um espaço único (5.2 em 6); uma comunidade (4.4); um
‘pueblo-ciudad’ (4,2); um monumento (4.2); um espaço de tolerância (4.0). Os
adjectivos mais associados ao Walden-7 são: original/único, diferente; especial;
amigável/solidário; surpreendente; grande/monumental; atrevido, labiríntico.
A possibilidade de estabelecer laços fortes com os vizinhos e preservar, ao
mesmo tempo, a privacidade e intimidade é um dos aspectos que mais se salienta
no modo como os residentes pensam o Walden-7.
“El Walden no es perfecto, però comparado con los otros edificios que conozco me parece un gran acierto. Me cuesta explicar a la gente que significa para mi
el edificio, però sé que me gustaría que más gente pudiera disfrutar de un lugar
así: bonito, misterioso para los niños, que permite la relación entre los vecinos
però que permite también la intimidad.” (Lucia7)
Segundo alguns residentes, o sentido de comunidade vai-se perdendo. Pelo
menos, o sentido original. As pessoas continuam a conviver bastante, mas com objectivos muito mais pragmáticos do que aqueles que conduziram os primeiros habitantes. Ainda que admitam que esta mudança reflecte uma transformação social muito
mais ampla, indicam um caminho interessante para o refortalecimento dos laços:
“Todavía no hemos entrado en la era de la comunicación digital y actualmente
este sería un factor de unión de la comunidad que facilitaría la comunicación y
participación favoreciendo la recuperación del espíritu Waldenita. Recae sobre muy
pocos avanzar (la participación de los vecinos se limita siempre al mismo grupo
de gente en un tanto por ciento demasiado alto) y hay cosas que hay que dejar a
profesionales, invertir y profesionalizar la gestión para favorecer la fluidez en la
información y la confianza y participación” (Xavier).
7
Os nomes dos residentes são fictícios, dado que a resposta ao inquérito era anónima.
88
Isabel André e Muriel Rousselle
Mas, a grande maioria dos depoimentos indica claramente a permanência
de um espírito de comunidade. Existe uma identidade e um forte sentimento de
pertença.
“El Walden , lo quieres incondicionalmente o lo detestas, no hay término
medio. Nosotros que nos identificamos con el Walden no aceptamos las críticas
negativas desde fuera (como cuando antes, durante y mucho después de las obras
de rehabilitación, los taxistas nos decían: “Ah, al Walden? El edificio con los
ladrillos que se caen!” y siempre salía en defensa del Walden con argumentos
positivos). Entre nosotros, sí que lo criticamos si hace falta.” (Maria)
Este sentimento de pertença, bem expresso nas emoções associadas ao
Walden-7 (amor, ódio, surpresa, atrevimento, confiança, etc.) funciona como
uma protecção. As pessoas que, por uma razão ou por outra, estão em risco
(doença, desemprego ou opções de vida pouco convencionais), encontram frequentemente no Walden-7 um lugar de acolhimento e protecção que decorre de
uma intensa rede de relações de vizinhança. As redes informais, mais ou menos
efémeras e com geometrias variáveis, são actualmente, com efeito, um dos traços mais fortes das relações de vizinhança no Walden-7.
V. CONCLUSÃO
Podemos afirmar que uma comunidade urbana como o Walden-7 é uma
inovação social decorrente de várias estratégias sociais criativas ancoradas num
determinado contexto social, económico e político.
Em primeiro lugar, a estratégia subjacente ao projecto que deu origem ao
Walden-7 baseia-se numa visão de cidade que visa transformar as relações sociais
e mesmo “mudar o mundo” (Ricardo Bofill, 1989: 38) através da configuração
e organização do espaço urbano e, em particular, das áreas residenciais. O projecto do Walden-7 incluiu soluções que faziam inflectir a ordem estabelecida,
por exemplo, no campo das relações familiares e de género. Por outro lado, o
Walden-7 foi assumidamente um instrumento de contestação, tanto à Espanha
franquista como à cidade funcionalista.
Em segundo lugar, a concretização do projecto dos Bofill é, também ela,
uma estratégia de oportunidade. A obra só foi possível por se localizar numa
área suburbana, na época menos sujeita à vigilância dos poderes públicos, e por
ter o apoio de uma instituição e de uma pessoa – o Banco Industrial da Catalunha e Jordi Pujol – que, como se verificou posteriormente, representavam o poder
económico da Catalunha e a sua capacidade política para se confrontar com o
governo do estado espanhol.
De formas diversas, o projecto e a obra configuraram o ‘espírito do lugar’,
marcado pela emergência de novas sociabilidades e pela constituição de redes
informais de vizinhança que garantem apoio e solidariedade, sobretudo às pessoas
que se encontram em situações mais vulneráveis ou em risco de exclusão.
Estratégias sociais criativas em Barcelona
89
Nos primeiros tempos, a comunidade de residentes foi um grupo que se
constituiu sem dificuldade, um conjunto de pessoas que partilhavam ideais e que
tinham uma origem social semelhante. Potencialmente inovadores porque contestavam o regime político em que viviam e porque faziam parte de uma geração
que questionava a hierarquia, a autoridade e a dominação. Não foi o Walden-7
que os tornou inovadores, mas proporcionou-lhes as condições para concretizarem algumas das mudanças sociais que preconizavam.
A capacidade de encontrar novas soluções – de gerar outras inovações sociais
– foi posta à prova mais tarde, no período em que a deterioração do edifício era
cada dia maior e o fim do Walden-7 parecia estar à vista. A superação dessa
crise foi, ou não, o resultado de novas estratégias sociais criativas? No essencial,
julgamos que não. As respostas cruciais vieram do exterior, das autoridades
públicas – Ayuntamiento de Sant Just Desvern e Generalitat da Catalunha – que
reconheceram o valor simbólico do Walden-7 e promoveram a sua reabilitação.
Isto não significa que a comunidade de residentes não tenha tido qualquer contributo, mas apenas que essa participação não foi decisiva, nem especialmente
inovadora. Contudo, o facto de a crise ter sido ultrapassada fortaleceu a comunidade e valorizou o lugar.
Esta leitura do Walden-7 e do seu percurso ao longo de 4 décadas suscita
duas questões relevantes no âmbito do debate sobre inovação social.
A primeira liga-se ao papel da adversidade enquanto motor de inovação.
O projecto e a construção do Walden-7 parecem ter sido, em grande medida,
fruto de várias adversidades transformadas em oportunidades. Pelo contrário, a
crise por que passou o edifício, durante uma década a partir de meados dos anos
80, foi uma adversidade que não gerou inovação, mas apenas respostas institucionais. Será interessante desenvolver este debate e reflectir sobre as circunstâncias e contextos em que a adversidade impulsiona a inovação social.
A segunda questão liga-se à temporalidade da inovação social. Durante
quanto tempo uma inovação é realmente inovação? Seria expectável que a comunidade actualmente residente no Walden-7 mantivesse a capacidade de inovação
social do início dos anos 70, associada ao próprio projecto? Cremos que a resposta é negativa, mas continua em aberto o debate sobre os ‘trajectos’ da inovação social.
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UNA POSIBLE GEOGRAFÍA DE LAS IDENTIDADES
DE BARCELONA.
EL CASO DEL BARRIO DE LA VILA DE GRÀCIA
Enric Mendizàbal1
Resumen – En este texto se hará una reflexión sobre las identidades socio
territoriales de Barcelona. En la introducción se discutirá brevemente el concepto de
identidad desde la geografía. En la segunda se tratará de las distintas identidades de
Barcelona a partir de una geografía de los barrios. En la tercera se tratará el caso del
barrio de la Vila de Gràcia, un ejemplo de las identidades peculiares dentro de una
metrópoli.
Palabras clave: Geografía histórica, geografía cultural, identidad, Barcelona,
Vila de Gràcia.
Resumo – Uma possível geografia das identidades em Barcelona. O caso
Vila de Gràcia. Neste texto faz-se uma reflexão sobre as identidades
socioterritoriais de Barcelona. Na introdução discute-se brevemente o conceito de
identidade na prespectiva da geografia. Na segunda trata-se das diferentes identidades
em Barcelona, a partir da geografia dos seus bairros. A terceira parte centra-se no
bairro da Vila de Gràcia, um exemplo de identidade peculiar numa metrópole.
do bairro da
Palavras-chave: Geografia histórica, geografia cultural, identidade, Barcelona,
Vila de Gràcia.
Abstract – A geography of the identities of Barcelona. The case of GràThis article reflects upon Barcelona’s social and territorial identities.
The concept of “identity” is presented in the introduction and discussed from a geographical perspective. The second part focuses on the various identities of the city of
Barcelona and of its districts. Finally, the third part of the article discusses the case
of the Gràcia district – a particularly interesting example of a district with a strong
specific identity in the context of a metropolis.
cia district.
Key words: Historical geography, cultural geography, identity, Barcelona, Gràcia.
Recebido: 18/06/2010. Aceite: 04/11/2010.
1 Departament de Geografia. Universitat Autònoma de Barcelona. E-mail: enric.mendizabal@
uab.cat
92
Enric Mendizàbal
Résumé – Pour une Géographie des identités à Barcelone. Le cas du
Vila de Gràcia. On présente d’abord une réflexion sur les identités
socio-territoriales présentes à Barcelone. On discute ensuite ce qu’est une identité,
du point de vue de la Géographie. Puis on distingue les diverses identités présentes
à Barcelone selon la géographie des quartiers. Finalement est présenté un exemple
particulier, celui du quartier de Vila de Gràcia.
quartier de
Mots clés: Géographie historique, Géographie culturelle, identité, Barcelona,
Gràcia.
I.
INTRODUCCIÓN
De las distintas corrientes y enfoques que han aparecido – o reaparecido
– dentro de la Geografía en los últimos 35 años, uno de los importantes es el
de la geografía cultural. Esta (re)aparición no es solamente geográfica, ya que
también sucede en otras ciencias sociales, como en Historia y Antropología. El
enfoque cultural ha tenido tanto éxito que actualmente es fácil encontrar en los
estantes de las principales librerías del mundo occidental una sección de estudios
culturales. Es lo que se conoce en el mundo anglosajón como el cultural turn
(Garcia Ramon, 1999; Clua, 2005; Mendizàbal, 1999).
La interrelación de las distintas ciencias sociales nos será útil para lo que
se pretende explicar, especialmente la relación con la Historia. Uno de los orígenes de la historia cultural es la historia de las mentalidades. Simplificando mucho,
la historia de las mentalidades es la historia de las visiones y de las cosmovisiones del mundo, según el grupo social al que pertenecen los individuos que se
analizan (Vovelle, 1985). Por esta razón, la identidad de cada una de las personas
que viven en el mundo depende de estas “mentalidades” las cuales hacen que se
tenga una “cosmovisión” del mundo y de la propia identidad diferente de las otras
personas y grupos sociales.
Cualquier identidad tiene un hecho fundador: hecho que, en tanto que inicial, no tiene pasado pero si que tiene mucho futuro, ya que es a partir de este
hecho inicial que estudiaremos todo el proceso que ha sucedido después y que
ha llegado hasta la identidad actual. A partir del hecho fundador justificaremos
las actuaciones del presente.
Entre los libros relativamente recientes que tratan de la creación de las
identidades a partir de la memoria y las tradiciones, el coordinado por Cardim
(1998) sugiere que la construcción, fijación y preservación de la memoria es un
proceso de construcción de las imágenes del pasado mediante la palabra escrita
(los textos) y las artes visuales (especialmente el dibujo y la pintura). En el libro
de Cardim se dice que la memoria es el conjunto de representaciones – explícitas y explicadas – conscientes sobre el pasado, y producidas por el saber histórico. Así mismo, la memoria es social porque opera con lenguajes, conceptos,
valores y nociones que no son específicos solamente de quien recuerda, sino
también de los conjuntos de personas en las que se insiere la persona que recuerda.
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
93
Reflexiones sobre las identidades se pueden encontrar en centenares de libros
actuales y antiguos de antropología (Harris, 1981; Pujadas, 1993; Laburthe-Tolra
y Warnier, 1998), de filosofía (Alcoff y Mendieta, 2003), de historia (Hobsbawm
y Granger, 1983; Hastings, 1997; Mattoso, 2008), de sociología (Smith, 2000;
Woodward, 2004), de política (Anderson, 2003; Guibernau, 2007; Martins, 2007),
de psicología (Vinsonneau, 2002)…
¿Por qué esta introducción y selección – arbitraria, sin duda alguna – bibliográfica sobre un tema tan conocido? Por una simple razón: porque los paisajes
forman una parte importante de las identidades nacionales y territoriales. Hagamos un pequeño ejercicio: cada una de las personas que lean este texto tiene
que pensar cinco conceptos que la definan. ¿De qué tipo serán los conceptos?
Habrá conceptos relacionados con la biología: sexo, edad, características físicas.
Se dirán conceptos relacionados con la cultura: nivel educativo alcanzado; bandas/tribus/grupos sociales de los que se forma parte; preferencias de cualquier
tipo (comida, música…); religión e idioma… Habrá conceptos políticos: derechaizquierda, contra/anti qué-pro/a favor de qué… Se pensarán conceptos socioeconómicos: rico-pobre, incluido-excluido. Pero también aparecerán conceptos
territoriales: lugar de nacimiento o de residencia, territorio con el que nos identificamos, aspectos más paisajísticos como sentirse urbanita o rural.
La geografía cultural también estudia la identidad, y lo hace, simplificando,
de dos maneras (Mitchell, 2000; Blunt, 2003; Panelli, 2004, Patrício, 2005): la
identidad individual, que pregunta quien soy y la colectiva, que pregunta quien
somos. Esta última tiene una fuerte relación con el estudio de los nacionalismos
desde una perspectiva de geografia histórica (Nadal, 1990; Hooson, 1994; Nogué,
1998; Graham, 2000; Smith, 2000; Anderson, 2003).
Para definir la propia identidad tenemos muchas características, y para quien
nos dedicamos a la geografía, muchas características geográficas. Joan Nogué y
Abel Albet (2004) muestran el cambio fundamental entre la geografía cultural
tradicional y la actual para analizar las identidades territoriales:
“Y es que, a diferencia de lo que pretendía la geografía cultural y regional
tradicional, hoy ya no es posible trazar correlaciones unívocas y determinísticas
entre espacio y sociedad: ya no es posible entender un país o una región como una
pieza de territorio perfectamente delimitada, identificada exclusivamente por una
única lengua, una misma historia, unas tradiciones comunes, un estado rígido. En
aquel contexto sí quedaba perfectamente dibujado quién pertenecía y quién estaba
excluido, quién era autóctono y quién extranjero; en el nuevo, ya no es así.”
El texto de Nogué y Albet sugiere que las entidades administrativas – estados, provincias, municipios… – no pueden continuar siendo el único y exclusivo
marco de estudio geográfico, ya que están superadas, por un lado, por los procesos de globalización y de desregularización y, por el otro lado, por la explosión
de las singularidades interdependientes, de las localidades/lugares que son específicos/únicos pero que son resultantes de estructuras más amplias y de procesos
más generales/globales.
94
Enric Mendizàbal
Así, el lugar tiene un papel central en los análisis postmodernos, que son
sensibles a las cuestiones identitarias y comunitarias. Las identidades tienen que
ver con los lugares: por una parte, pertenecer a un lugar participa en la definición
de uno mismo; por otra parte, el espacio fragmentado – por la distancia – de
los lugares interviene en la fabricación de las identidades.
La identidad puede ser analizada desde una óptica individual – los cinco
conceptos que he pedido antes a las personas que me lean –, pero también es
necesario tener presente que el proceso de formación de las identidades contemporáneas resulta ser más un proceso colectivo que no individual, ya que todos
nacemos en un ámbito cultural determinado y en un lugar específico. A los hijos
e hijas de quien ha emigrado, de quien se ha exiliado, ha huido y se ha refugiado,
se les recuerda su lugar de origen mediante la lengua, la comida, las costumbres,
las fotografías de los parientes, las historias, cuentos, fábulas y leyendas, los
lugares y paisajes. Pero todas estas cosas también las realiza quien no ha migrado
o se ha exiliado.
Graham (2000) explica que la identidad colectiva es un fenómeno complejo
que incluye diversos atributos, entre los cuales la lengua, la cultura, el género,
la religión, la etnicidad, el nacionalismo, las interpretaciones del pasado… y que
todas estas cosas se convierten en discursos de inclusión y de exclusión. La
identidad tiene una variedad de escalas geográficas que va desde la más local a
la más supranacional, pero que siempre supone la existencia de la otredad.
Todo lo que hace que un lugar no sea un otro lugar – lengua, comida,
costumbres, fotografías de parientes, mitos y leyendas, paisaje, relaciones sociales, relaciones económicas, relaciones políticas… – inculca identidad al individuo
y al grupo. Pero cualquier individuo se desplaza por el tiempo – envejecemos
– y por el espacio – migración, éxodo, movilidad cotidiana, turismo… –, lo que
supone que el lugar de origen o de residencia se vaya transformando en otro
concepto: el espacio de vida. Así, la identidad no puede ser concebida como
monolítica e invariable, sino como un fenómeno múltiple, heterogéneo e imprevisible. La identidad se construye continuamente.
Por esta razón, Maalouf (2002) escribe que la identidad no está hecha de
compartimentos o zonas cerradas, y que no tenemos diversas identidades territoriales, si no que solamente tenemos una, producto de todos los elementos que
la han configurado mediante una dosificación singular que nunca es la misma
en dos personas. Cuando alguien pregunta de donde somos, la respuesta dependerá de quien la hace, dónde la hace y dónde la pregunta: si me encuentro a un
catalán en un a un congreso de geografía en Londres, no le diré que soy español,
si no que soy del barrio de Gràcia de Barcelona; pero si en el mismo congreso
me lo pregunta un español de Madrid, le diré que soy catalán y de Barcelona;
y si me lo pregunta un tailandés, le diré que soy español (porque su conocimiento
de las diversas partes del Reino de España posiblemente serán tan desconocidas
para él como para mi el nombre de sus regiones administrativas, culturales o
nacionales). ¿He (ha) cambiado mi identidad? Según Maalouf – y yo coincido
con su opinión –, no he (ha) cambiado.
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
95
El sentido de territorialidad – y a partir de este, el localismo, el regionalismo
y el nacionalismo – se ha basado en una íntima correlación entre pertinencia
cultural y territorial, según la cual toda identidad cultural es un ente estático y
delimitado en el territorio que tiene una perdurabilidad transmitida generacionalmente. Y la siguiente tautología, a saber, el derecho a un territorio se corresponde con una identificación cultural que es utilizada para identificar tal
territorio, ha sido utilizada habitualmente por gran cantidad de guerras y conflictos. El nacionalismo está íntimamente relacionado con la cultura, entendiendo
como tal la interpretación de una manera de pensar, sentir y creer. Y está tan
íntimamente relacionado, que a menudo el nacionalismo define cual es la cultura,
y la inventa (Hobsbabwm y Ranger, 1983).
En resumen, el nacionalismo impone por voluntad al pueblo, a la nación,
la identificación con una cultura común y/o compartida; y esta cultura compartida se construye sobre una estructura de artefactos y productos culturales como
la historia, la literatura, el arte y la geografía.
A menudo, la identificación territorial se ha basado en la identificación
cultural: lo que constituye la esencia propia de la identidad ha sido seleccionado
y magnificado porque es lo que hace diferente un grupo respecto de otros grupos.
Y de aquí la comunidad imaginada (Anderson, 2003): si las tradiciones inventadas tienen una adecuada manipulación a través de los medios de comunicación
y de la parafernalia del Estado – ejército, banderas, himno, además de los representantes institucionales como puede ser una familia real – cualquier individuo
cree que el resto de la ciudadanía actúa de manera similar.
Las comunidades imaginadas pueden ser grupos que comparten gustos,
tendencias e intenciones aunque no estén en el mismo lugar/territorio: un ejemplo bien fácil lo forman las personas simpatizantes de un club de fútbol (el
Barcelona, por poner un ejemplo), que se identifican como tales miembros se
encuentren en Barcelona o en la China.2
Para finalizar, una última reflexión: se pueden estudiar identidades
individuales o de grupos. Para las identidades individuales, actualmente se
presta atención a la hibridación (Whatmore, 2002), al intercambio, a la mezcla, que permite la aparición de cosas nuevas que subvierten el orden establecido. Para las identidades grupales se presta atención a los procesos de
asimilación (quien llega a un lugar debe de adoptar la cultura del lugar) y
de los procesos de multiculturalidad, que hacen que haya muchas culturas
en un mismo lugar pero sin intercambio, lo que fragmenta el espacio y crea
guetos de base identitaria.
2
Uno de los anuncios que ha emitido durante la temporada 2008-2009 la empresa cervecera
Damm, patrocinadora del FC Barcelona, habla de una pareja de seguidores que ha ido a trabajar a
la China, y que para mantener el sentimiento de formar parte de la comunidad del Futbol Club
Barcelona recibirán una caja de cervezas cada mes para poder disfrutar de la información que reciban sobre el equipo de fútbol como si estuvieran en casa: bebiendo cerveza Damm.
96
Enric Mendizàbal
II.
LAS IDENTIDADES DE BARCELONA
Es imposible leer todo lo que se ha publicado sobre Barcelona. Una consulta
rápida en el catálogo del Consorci de Biblioteques Universitàries de Catalunya
(http://www.cbuc.cat) da una primera idea sobre la magnitud. Aparecen más de
33.000 libros que tengan la palabra “Barcelona” en el título. Si a estos libros le
añadimos algunos conceptos en la temática, los de historia de Barcelona son más
de 5.350, de urbanismo más de 900, de arquitectura más de 900, de geografía más
de 200, de sociología más de 150, y con Barcelona e identidad hay cerca de 40.
Los temas que tratan estos 40 libros son sobre cultura catalana, nacionalismo,
diseño, inmigración, diferencias y desigualdades de género. Si se consulta el Fons
d’Història Local, una base de datos bibliográficos sobre la historia local de Cataluña (http://www.diba.es/fonshl), de las más de 121.000 referencias del catálogo
hay más de 23.000 que tienen como materia “Barcelona”.
A pesar de la ingente cantidad de textos escritos sobre Barcelona, es conveniente mostrar mis fuentes básicas, que se presentarán por orden cronológico.
La más antigua es el libro del historiador del arte Alexandre Cirici (1971) titulado Barcelona pam a pam.3 Pensado como una guía turística para turistas
ilustrados, se han hecho diversas ediciones revisadas por el mismo autor hasta
su muerte en 1983, así como versiones al castellano e inglés. Cirici muestra la
historia de Barcelona a partir de rutas por la ciudad, y que tratan tanto la Barcelona de los museos y edificios históricos (góticos, renacentistas, neoclásicos,
modernistas, arquitectura actual) como de la descripción muy crítica de la realidad de los barrios de los inmigrantes llegados a lo largo del siglo XX.
Los geógrafos Pau Vila y Lluís Casassas (1974) escriben una geografía
urbana de Barcelona realizada bajo el influjo de la geografía regional francesa.
El primer capítulo es la descripción ambiental del espacio donde está emplazada
la ciudad, y los siguientes 17 capítulos son un repaso a la geohistoria de Barcelona y alrededores, a partir del trabajo de campo, en archivos, utilizando muchas
fotografías y cartografía histórica. Solamente el último capítulo, el 18, trata de
la Barcelona del siglo XX.
Los periodistas Jaume Fabre y Josep Maria Huertas (1976-1977) escribieron
una colección de siete libros sobre los distintos barrios de Barcelona. Escritos
justo en el inicio de la democracia poco después de la dictadura de Francisco
Franco (entre 1939 y 1975), estos libros repasan de manera muy crítica la historia de la construcción de Barcelona y analizan los principales conflictos sociales, urbanísticos y territoriales, esencialmente relacionados con la escasez de
servicios públicos (transporte, escuelas, espacios públicos, agua potable, electricidad, centros sanitarios…).
Robert Ferras es un geógrafo francés que ha trabajado en la Université de
Montpellier y que ha sido uno de los fundadores del GIP RECLUS juntamente
3
En castellano, Barcelona palmo a palmo.
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
97
con Roger Brunet, y está especializado en geografía urbana y cartografía. Su
thèse doctoral d’État se publicó en 1977, y trata sobre Barcelona. Es una reflexión
desde la geografía radical, donde están muy presentes los temas de la inmigración: el saldo migratorio de la provincia de Barcelona entre 1950 y 1975 fue de
cerca de 1,7 millones de personas, provenientes en su mayoría de fuera de Cataluña, de clase social y económica baja, con un elevado porcentaje de población
analfabeta y que su lengua no era el catalán sino el español. Esta población se
fue asentando en numerosos barrios de autoconstrucción y luego en polígonos
de viviendas con todos los problemas enumerados anteriormente en el trabajo
de Fabre y Huertas.
Manuel Vázquez Montalbán ha sido uno de los intelectuales españoles más
importantes desde mediada la década de 1960 hasta su muerte en 2003. Escribió
poesía, novela y ensayo, especialmente sobre temas relacionados con la información y con la política más actual. Sus trabajos sobre Barcelona son diversos,
pero cabe destacar el libro Barcelonas (1987), donde describe desde una perspectiva crítica lo que estaba sucediendo en Barcelona a raíz de la transformación
la ciudad para realizar los Juegos Olímpicos de 1992. En una visión dura de lo
que será luego conocido como el modelo Barcelona (Capel, 2005), Vázquez
Montalbán presenta una crónica documentada y muy personal de la transformación de la identidad de Barcelona.
El arquitecto Joan Busquets fue coordinador de urbanismo del Ayuntamiento
de Barcelona en la década de 1980 y tiene numerosas obras sobre Barcelona,
entre las que cabe destacar una de las síntesis más interesantes sobre historia
urbana de la ciudad (Busquets, 1992, 2004). En este libro se hace un repaso de
la construcción de la ciudad de Barcelona desde sus inicios hasta la actualidad,
y donde la información de primera mano, conocida en tanto que cargo político
de confianza del entonces alcalde Pasqual Maragall, es muy importante.
La última obra sobre Barcelona que quiero comentar es la del geógrafo
Carles Carreras, cuya amplia investigación sobre la geografía urbana de Barcelona es fundamental para el conocimiento de la ciudad. El libro que publicó en
1993, Geografia urbana de Barcelona, es una interesante reflexión desde la
entonces nueva geografía cultural.
La morfología social urbana, a saber, el análisis de la forma urbana y de
los procesos y personas que la modelan, está en la base de los siete textos sobre
Barcelona citados. La construcción física y social forma la identidad/las identidades de Barcelona.
Desde el final de la Guerra de Sucesión española (1701-1715) hasta la
demolición de las murallas en 1859, Barcelona fue aumentando de población y
densificando el espacio interno de una manera muy intensa y rápida: en una
superficie de unos 3 km2, en 1717 había cerca de 35.000 habitantes, en 1830
cerca de 97.000, más de 150.000 en 1857. Con la demolición de las murallas, se
construyó un ensanche ortogonal bajo la propuesta de Ildefons Cerdà, que unió
el núcleo histórico de Barcelona con los otros núcleos urbanos del llano de Barcelona, que fueron municipios independientes hasta 1897-1920: Sants, Les Corts,
98
Enric Mendizàbal
Sarrià, Sant Gervasi, Gràcia, Horta, Sant Andreu de Palomar y Sant Martí de
Provençals. A lo largo de los siglos XVIII y XIX, Barcelona se convirtió en una
ciudad industrial que tenía extremas dificultades para instalar las fábricas en el
núcleo central, y se prohibió la localización de nuevas fábricas dentro de la
ciudad amurallada en la década de 1830. Las fábricas se fueron instalando en los
pueblos vecinos, y en 1900 la población del conjunto del llano de Barcelona (unos
55 km2) superaba los 500.000 habitantes. La figura 1 muestra el plano topográfico
actual de Barcelona y alrededores, dónde se ve el límite del barrio de Gràcia y
dónde es visible la trama ortogonal del ensanche de Ildefons Cerdà, y de las
tramas de los otros núcleos urbanos del llano de Barcelona.
Fuente: Institut Cartogràfic de Catalunya, http://www.icc.cat [consulta de diciembre de 2009]
Fig. 1 – Mapa topográfico de Barcelona y alrededores.
Fig. 1 – Topographic map of Barcelona and its surrounding area.
Este crecimiento de la población formó una ciudad múltiple y diversa, donde
el movimiento obrero y catalanista por un lado y el catalanismo conservador por
otro, dejaron en minoría – y a menudo con muy escasa representación – a los
partidos políticos españoles/españolistas en todas las elecciones democráticas
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
99
del siglo XX y XXI (Salvador, 1989). La creación de una ciudad cosmopolita
desde finales de 1888, con la Exposición Universal, y hasta el inicio de la última
guerra civil en julio de 1936, con una importante industria editorial (Infantes et
al., 2003), y un importante centro cultural relacionado con la música (Aviñoa,
1985), el teatro (Fàbregas, 1975) o la pintura (Cirici, 1973), fue evidente. Como
también era evidente la existencia de distintos niveles y ámbitos culturales: de
la música popular a la sinfónica y la ópera, del teatro de aficionados a los teatros
de gran renombre, de la pintura de paisajes y bodegones clásicos a las pinturas
modernistas y de todos los ismos posibles, de la literatura de los escritores
consagrados por la alta cultura a las ediciones baratas de literatura popular – y
políticamente progresista, libertaria, revolucionaria…
La dictadura de Francisco Franco duró de 1939 hasta 1975. La persecución
del movimiento obrero y del catalanismo político de cualquier tipo destruyó
completamente la vida cotidiana del período democrático de la Segunda República
(1931-1939). Desapareció durante largo tiempo de la vida pública el ambiente
cultural republicano, y se intentó crear una nueva identidad homogénea para
todos los españoles, una identidad españolista, católica integrista, de corte fascista.
La resistencia de los que perdieron la guerra (obreros, laicos, catalanistas) fue
dura, y mantuvieron escondidas sus actividades en reuniones privadas y en las
viviendas particulares.
La llegada de población inmigrante atraída por el trabajo en las industrias
y la construcción de la ciudad, supuso un aumento en poco tiempo de una
población numerosa de origen no catalán. La primera oleada importante fue entre
1910 y 1930; la segunda, entre 1950 y 1975. Para el conjunto de Cataluña y
para los dos períodos, las tasas brutas de saldo migratorio anuales fueron superiores al 10‰, unas cifras realmente muy intensas. Este alud de hombres y
mujeres modificó el espacio urbano de Barcelona y alrededores: la aparición de
casas de autoconstrucción de muy baja calidad fue habitual en los dos períodos
citados. Las últimas barracas y chabolas del municipio de Barcelona fueron
demolidas poco tiempo antes de iniciarse los Juegos Olímpicos de 1992.4
Esta historia urbana de Barcelona sirve para explicar las diferencias y las
desigualdades sociales y económicas, así como las distintas identidades de Barcelona. En el cuadro I se pueden ver algunos datos sociales de la población de
los distritos del municipio de Barcelona. No hay sorpresas: los indicadores
tienen una asociación espacial bien clara. Los distritos del Eixample, Les Corts
y Sarrià-Sant Gervasi tienen un nivel económico alto, un porcentaje elevado de
hablantes de catalán, un porcentaje alto de población con estudios universitarios
y un porcentaje bajo de población con instrucción insuficiente, un porcentaje
bajo de población extranjera, y votan a los nacionalistas catalanes conservadores
y a la derecha española. En el otro lado se encuentran los distritos de población
4 El Museu d’Història de Barcelona hizo una exposición temporal sobre el tema del barraquismo en Barcelona. Se puede consultar http://www.barraques.cat [último acceso: 15 de diciembre
de 2009].
100
Enric Mendizàbal
de clase media y baja (Ciutat Vella, Sants-Montjuïc, Horta-Guinardó, Nou Barris,
Sant Andreu y Sant Martí), con un elevado porcentaje de población española
llegada en las migraciones de 1910-30 y 1950-75 y de sus descendientes y, por
esta razón, con un porcentaje menor de población que sabe hablar catalán, con
unos porcentajes de población con estudios insuficientes relativamente elevada
y de estudios superiores baja, y con la mayoría de votos a los partidos más
españoles (PSC y PP) y con escasos votos a los nacionalistas catalanes (CiU y
ERC). El caso del distrito de Gràcia se comentará ampliamente en el apartado
III de este artículo por sus caracteres específicos: distrito de clase media catalana
(elevado porcentaje de catalano hablantes) y catalanista y progresista (los porcentajes de votos más elevados de Barcelona para los nacionalistas catalanes y
a la izquierda ecologista).
Cuadro I – Datos sociales de la población de los distritos del municipio de Barcelona, 2008.
Table I – Social characterization of the population of the districts of the Barcelona
municipality, 2008.
Fuente: Anuario Estadístico de la Ciutat de Barcelona 2009, http://www.bcn.es/estadistica [consulta: diciembre
de 2009]
(1) Porcentaje de la población mayor de 16 años analfabeta y sin estudios.
(2) Índice sintético de desigualdad social estandarizado que se construye a partir de la esperanza
de vida, la tasa de paro, los porcentajes de titulados superiores y de instrucción insuficiente, y se
compara con una situación ideal que tiene el índice 1.000.
(3) Porcentaje de votantes del Partit Socialista de Catalunya en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(4) Porcentaje de votantes de Convergència i Unió (nacionalistas catalanes de centro derecha)
en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(5) Porcentaje de votantes del Partido Popular en las últimas elecciones municipales (27/
mayo/2007).
(6) Porcentaje de votantes de Iniciativa per Catalunya-els Verds (similar al Bloco de Esquerda
portugués) en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(7) Porcentaje de votantes de Esquerra Republicana de Catalunya en las últimas elecciones
municipales (27/mayo/2007).
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
101
III. EL BARRIO DE GRÀCIA5
1. Geohistoria urbana de Gràcia
Hasta mediados del siglo XIX, el territorio que actualmente ocupa el barrio
de Gràcia era un territorio agrario: había unas cuantas casas de campo que
aprovechaban un terreno relativamente fértil por el que circulaban unas pequeñas
ramblas, rieras y torrentes que ofrecían el agua necesaria para una producción
agrícola suficiente para que hubiera unos importantes propietarios que explotaban directa e indirectamente el suelo agrícola. Hacia 1820, la población era de
unos 2.500 habitantes (Casassas y Riba, 1992; Castellà, 2006; Lafarga, 2000,
2001; Segura, 1993).
Entre 1830 y 1840 se empezaron a instalar las primeras fábricas textiles en
Gracia. Fue necesario construir viviendas para la población obrera que empezó
a llegar a este núcleo, y se empezó a urbanizar el espacio rural de manera
arbitraria (Serra, 1995; Solà y Solà, 1984): entre 1820 y 1885 hubo 83 promociones de urbanización alrededor de 11 plazas. Estas 85 promociones se realizaron según las posibilidades económicas de los propietarios del suelo, y lo que
acabó siendo una misma calle podía ser el resultado de la unión a lo largo del
tiempo de diversas promociones urbanísticas. Así, a pesar de que las calles
tienen una cierta ortogonalidad, no tienen la estructura ortogonal formalmente
impecable de la del Eixample de Ildefons Cerdà (fig. 2).
5
La información de este apartado es el trabajo de campo clásico y tradicional en geografía:
pasear, caminar, observar, preguntar. Llevo recogiendo material cualitativo (de manera arbitraria y
aleatoria) sobre este espacio de hace ya más de 20 años, y una parte ha sido presentado en el Fifth
European Urban & Regional Studies celebrado en septiembre de 2004 en Pultusk (Polonia), con el
título de “Cultural strategies and urban regeneration in the Metropolitan Region of Barcelona. Terrassa
and Gràcia as a case studies” en colaboración con Ester Nasarre. Puede consultarse otro material en
Mendizàbal 1986 y 1989. La bibliografía existente sobre la historia y geohistoria del barrio de Gràcia
es extensa, pero la mayoría es de anécdotas puntuales, temas muy locales, y, en el mejor de los casos,
de lo que se puede calificar como historiografía romántica (por ejemplo, Brasó et al. [1950] o Castillo
[1945]). Los trabajos que se escapan de esta manera de hacer historia se encuentran en algunos de
los trabajos del Taller d’Història de Gràcia (su página web, http://www.tallerhistoriadegracia.cat,
funciona con dificultades), como los de Castellà (2006), Contel (2008), Lafarga (2001) o Segura, Farré
y Camps (2001), así como en otros que se citan a lo largo del apartado III del presente artículo (como
los de Serra [1995] o Solà y Solà [1984]). En ninguno de los trabajos que he consultado desde hace
años hay series estadísticas homogéneas que permitan justificar objetivamente lo que se comenta en
esos trabajos o en el presente artículo. Por ejemplo, no hay ninguna publicación que yo conozca que
tenga una serie estadística desde 1857 hasta la actualidad del número absoluto de población del barrio de Gràcia; y a pesar de mis intentos puntuales en el Arxiu Històric de Gràcia (http://www.bcn.
cat/arxiu/gracia) o en el Centre d’Estudis Demogràfics (http://www.ced.uab.cat), todavía no lo he
conseguido. Por esta razón, la observación participante es la técnica cualitativa que he realizado a lo
largo de estos más de 20 años y que deberían servir para justificar mis afirmaciones.
102
Enric Mendizàbal
Fuente: Lafarga, 2000: 266
Fig. 2 – Evolución de la morfología urbana de Gràcia, 1855-1978.
Fig. 2 – Evolution of the urban morphology of the Gràcia district, 1855-1978.
La instalación de estas fábricas supuso la aparición de un ambiente obrerista
de la población de Gràcia. Se crearon diversas cooperativas obreras y asociaciones culturales de signo progresista y nacionalista catalán, como también las
relacionadas con el obrerismo católico (véase el cuadro II). Así mismo, durante
la segunda mitad del siglo XIX hubo diversas revueltas contra los gobiernos
conservadores y a favor de los progresistas (Roca, 1870).
Lamentablemente, las asociaciones obreras y progresistas desaparecieron
con el inicio de la dictadura del General Francisco Franco cuando terminó la
última guerra civil española (1936-1939), y las relacionadas con el obrerismo
católico fueron depuradas de todo lo que estaba relacionado con el nacionalismo
catalán (Marín, 2006; Vilanova, 2005 y 2010). A pesar de la durísima represión
cultural contra las identidades obreras y catalanistas de gran parte de la población
catalana, se mantuvieron las asociaciones de origen católico y en éstas se empezó
a desarrollar una estimable cultura de resistencia cultural y política a la España
Nacional franquista. En el barrio de Gràcia deben señalarse tres asociaciones de
este tipo: el Cercle Catòlic (http://www.elcercle.cat), el Centre Moral i Instructiu de Gràcia (http://www.elcentregracia.cat) o los Lluïsos de Gràcia (http://www.
lluisosdegracia.cat).
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
103
Cuadro II – Año de fundación de asociaciones y cooperativas del barrio de Gràcia.
Table II – Foundation of associations and cooperatives in Gràcia neighbourhood.
1854
1855
1869
1876
1888
1892
1894
1897
1902
1904
1905
1906
1907
1911
1913
1917
L'Artesà
Lluïsos de Gràcia
Centre Moral i Instructiu de Gràcia
Cooperativa de Teixidors a mà
La Constancia Graciense
Cooperativa La Lleialtat
Ateneu Obrer de Gràcia
Institut Obrer Gracienc
Cercle Catòlic de Gràcia
La Previsora
El Amparo Obrero
La Obrera Graciense
L'Espigoladora
Patronat d'obreres
La Igualdad Graciense
Agrupació Socialista
Fuente: Chifoni (1997); Fabre y Huertas (1997).
Gràcia fue un municipio independiente entre 1850 y 1897. Con más de
61.000 habitantes, Gràcia fue anexionada a Barcelona, junto con la mayoría de
los otros municipios del llano de Barcelona en 1897 (Nadal, 1985 y 1987). Este
período de gobierno municipal independiente permitió la creación de un sentimiento identitario de la población de Gràcia, que se expresa en catalán con la
palabra menestral, que quiere decir “persona que tiene un oficio mecánico”. Pero
no es el concepto de “obrero fordista”, sino el del artesano, el de quien tiene un
pequeño negocio para los clientes que son los vecinos de la calle y del barrio,
de las personas que quieren orden, bienestar, progreso, solidaridad, colaboración,
que en las asociaciones de todo tipo se encuentran con sus similares para disfrutar de la vida, con un sentimiento catalanista y progresista. Este sentimiento
identitario se mantuvo durante la dictadura franquista en la vida cotidiana.
2. La permanencia de la identidad a pesar del paso del tiempo
El ambiente identitario señalado en el apartado III.1 continúa presente en la
actualidad. Hubo una época a finales del franquismo y en los inicios de la nueva
etapa democrática (1970-1980), que el barrio de Gràcia tenía una población madura
y envejecida,6 y que tenía un ambiente amodorrado, cerrado en sí mismo. La figura
6 Los escasos datos demográficos que se encuentran por distritos o por barrios en el Boletín
Estadístico de Barcelona entre 1960 y 1985 no permiten más que este apunte cualitativo y subjetivo.
104
Enric Mendizàbal
Fuente: Institut Cartogràfic de Catalunya, http://www.icc.cat [consulta de diciembre de 2009]
Fig. 3 – Ortofotografía del barrio de Gràcia y de Barcelona.
Fig. 3 – Ortophotographs of the Gràcia district and of the city of Barcelona.
3 deja bien claro el aspecto físico de la morfología urbana: las calles amplias
ortogonales del ensanche de Barcelona se encuentran con una muralla de pequeñas
calles que impiden la penetración de la circulación de los vehículos – pero también
de las novedades sociales y culturales de la nueva Barcelona democrática.
El quinquenio 1975-1980 fue un momento de cambio muy importante
para el conjunto de la sociedad española, catalana, barcelonesa y de Gràcia. 7
7
No es posible explicar aquí las transformaciones geográficas que a estas distintas escalas
territoriales supuso dejar atrás los casi 40 años de dictadura y empezar un nuevo período democrático. Remito a la bibliografía citada en la sección II.
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
105
Fue en ese período cuando la población del barrio comenzó a cambiar de características demográficas pero continuó manteniendo la misma identidad. En el
período citado, la población envejecida empezó a fallecer, y las viviendas que
ocupaban quedaron vacías, ya que sus herederos (adultos con descendencia de
poca edad) vivían en otros lugares y en viviendas de mejor calidad. Así empezó
la llegada de jóvenes que empezaban su ciclo de vida fuera de la casa paterna:
había numerosas viviendas viejas que necesitaban importantes reformas, y por
lo tanto tenían un alquiler barato. La población joven que llegó se instaló en
estas viviendas y las rehabilitó. Como una gran parte tenían estudios universitarios o los estaban realizando, empezaron a aparecer nuevas propuestas culturales y de ocio. Entre estas, cabe destacar los cines Verdi y Casablanca, que
durante mucho tiempo eran de las pocas salas cinematográficas de Barcelona
que ofrecían películas en versión original y de carácter poco comercial;8 los
teatros que cambiaron la manera clásica de ofrecer los espectáculos e innovaron
con nuevos textos, nuevos actores y directores, nuevas escenografías, como el
Teatre Lliure, el Teatreneu o la Sala Beckett que todavía existen, o Artenbrut,
desaparecido hace un par de años;9 los nuevos bares, especialmente los musicales, entre los que se debe mostrar el emblemático KGB o Heliogàbal.10 Todo
este movimiento cultural fue acompañado de la aparición de librerías progresistas (de las que solamente sobrevive desde 1975 Cap-i-cua),11 de ateneos populares (la mayoría de existencia relativamente fugaz), de comercios de nuevas
tendencias de moda o de música y de bares y restaurantes populares.
El período 1975-1980 marcó un cambio en Gràcia, pero también una
permanencia. Las nuevas modas culturales (libros, música, teatro, cine, restaurantes, tiendas de ropa…) coincidían con la vida asociativa tradicional de los
centros católicos, que se renovaron y recuperaron la tradición democrática y
liberal de los años de la segunda república (1931-39), con el comercio local
cotidiano de alimentación. Se mantuvieron gran parte de los pequeños negocios
de artesanos, algunos de los cuales atrajeron nuevos operarios. Uno de los casos
más interesantes sucede en la calle del Planeta, donde se concentraban los ebanistas de calidad; a principios de la década de 2000 se han instalado en la misma
calle un artesano que se dedica a construir y reparar órganos musicales para
Cataluña, España y Europa, así como un gabinete de arquitectos especializados
en realizar maquetas.
En el cuadro III hay algunos datos sociales sobre las características de la
población de Gràcia. Si en el cuadro I se pudo comprobar que en Barcelona hay
una situación dispar, con una parte de nivel socioeconómico alto y muy alto y
8
Para los cines Verdi, consultad http://www.cines-verdi.com [consulta: diciembre 2009].
Para el Teatre Lliure, consultad http://www.teatrelliure.com; para Teatreneu, http://www.
teatreneu.com; para la Sala Beckett, http://www.salabeckett.cat [consultas: diciembre 2009].
10 Para la sala musical KGB, consultad http://www.salakgb.net, y para Heliogàbal, http://www.
heliogabal.com [consultas: diciembre 2009].
11 La Llibreria de la Llibertat tuvo que cerrar después de padecer un atentado de los grupos
de extrema derecha a finales de los años 1970.
9
106
Enric Mendizàbal
otra de nivel bajo y medio-bajo, la media estadística de Barcelona aparece en
el distrito y en el barrio de Gràcia.
Cuadro III – Datos sociales de la población del barrio de Gràcia
y del municipio de Barcelona, 2008.
Table III – Social characterization of the population of the Gràcia district and of the
municipality of Barcelona, 2008.
superficie (ha)
población
% 0-14 años
% 15-24 años
% 25-64 años
% >65 años
% nacidos en Barcelona
% nacidos en el resto de Cataluña
% nacidos en el resto de España
% nacidos en el extranjero
% locales catastrales: vivienda
% locales catastrales: comercio
% locales catastrales: espectáculos
renta familiar
PSC (1)
CiU (2)
PP (3)
IC-V (4)
ERC (5)
Gràcia
132,6
52.801
10,1
7,7
62,2
19,9
51,8
8,8
14,2
25,2
67,10
7,97
0,18
100,7
22,9
30,2
10,5
12,7
12,0
Barcelona
10.216,02
1.638.103
11,9
9,3
58,5
20,3
51,0
7,3
20,0
21,8
59,96
6,32
0,06
100,0
29,8
25,3
15,5
9,3
8,7
Fuente: http://www.bcn.es/estadistica [consulta: diciembre de 2009]
(1) Porcentaje de votantes del Partit Socialista de Catalunya en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(2) Porcentaje de votantes de Convergència i Unió (nacionalistas catalanes de centro derecha)
en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(3) Porcentaje de votantes del Partido Popular en las últimas elecciones municipales
(27/mayo/2007).
(4) Porcentaje de votantes de Iniciativa per Catalunya-els Verds (similar al Bloco de Esquerda
portugués) en las últimas elecciones municipales (27/mayo/2007).
(5) Porcentaje de votantes de Esquerra Republicana de Catalunya en las últimas elecciones
municipales (27/mayo/2007).
Las características identitarias de Gràcia han permanecido a lo largo del
tiempo. Si se lee la novela de Mercè Rodoreda (1962) La plaça del Diamant,
se puede aprehender la identidad de la Gràcia obrera y catalanista de principios
de siglo XX, así como lo que supuso la dictadura de Franco, obligando a escon-
Una posible geografia de las identidades de Barcelona
107
der esta manera de sentirse y de ser. A partir de 1975 se recuperó la visibilidad
de esta identidad, y se refleja en las elecciones. El barrio de Gràcia acostumbra
a ser donde la izquierda catalanista y ecologista (ERC, IC-V) tiene los porcentajes de votos más elevados del municipio de Barcelona.
Para finalizar, el cambio/la permanencia identitaria cultural se ha realizado
desde la sociedad civil, sin que las administraciones públicas hayan intervenido
dirigiendo el proceso aquí descrito.
IV. APUNTES FINALES
El presenta artículo ha intentado mostrar cual es la identidad del barrio de
Gràcia (Barcelona) a partir de la lectura de textos de geografía (y otras ciencias
sociales) social y cultural (apartado I). Esta reflexión tiene todavía mucha información geohistórica que encontrar y depurar para el período anterior a 1970: se
debe hacer una intensa búsqueda sistemática en los diversos archivos del ayuntamiento de Barcelona para los datos sociodemográficos más simples del barrio
de Gràcia (o de los otros barrios de Barcelona), que no se encuentran sistematizadas ni en las obras de divulgación pensadas para un público interesado (por
ejemplo, Alberch, 1997-2000). Pero también se debería trabajar en los cambios
sociodemográficos recientes: sin duda alguna, el proceso de gentrificación (ya
apuntado en Mendizábal, 1989) del barrio de Gràcia merecería un análisis en
profundidad, que en el presente artículo no se ha desarrollado y que se deja para
futuras publicaciones, como serían también los temas de la festivalización del
barrio de Gràcia para atraer a la población de Barcelona y de su área metropolitana, como también a los turistas. Las últimas versiones de guías turísticas de
Barcelona de las colecciones de Trotamundos (Routard) o Lonely Planet (por
citar posiblemente los dos ejemplos más conocidos) incluyen de manera explícita
el barrio de Gràcia como un lugar de Barcelona que todo turista debería conocer.
Estas guías resaltan la Festa Major, que se celebra entre el 14 y el 21 de agosto
y que la base de su funcionamiento son las asociaciones de vecinos de las calles
que se engalanan y que tienen música en directo cada noche, y que suponen que
por el barrio se paseen durante la tercera semana de agosto unas 200.000 personas diariamente ((http://www.festamajordegracia.cat); o el ciclo de conciertos de
música contemporánea Gràcia-Territori Sonor (http://www.gracia-territori.com);
o el ciclo de conciertos de música folclórica catalana Tradicionàrius (http://www.
tradicionarius.com), que utiliza el antiguo edificio de la cooperativa de L’Artesà,
citada en el cuadro II. Y estos espectáculos culturales son acompañados por la
recomendación de pasear por las calles pequeñas, tomar un descanso y una bebida
por las terrazas de los bares que se encuentran en las plazas, observar la vida
cotidiana de los habitantes del barrio, quienes se quejan del ruido generado por
estos turistas, especialmente por la noche, que es cuando la población autóctona
quiere descansar para poder trabajar la mañana siguiente (Pla estratègic de Gràcia, 2003). De nuevo otro tema geográfico para desarrollar
108
Enric Mendizàbal
AGRADECIMIENTOS
Este texto se ha elaborado en el marco del Grup de Geografia Aplicada (2009SGR106), financiado por la Generalitat de Catalunya. El investigador principal es el Dr. Antoni F. Tulla Pujol.
Agradezco la ayuda y los comentarios del Dr. Albert Pèlachs y de las personas que han evaluado
anónimamente el texto.
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CONFLICTOS URBANÍSTICOS Y MOVILIZACIONES
CIUDADANAS: REFLEXIONES DESDE BARCELONA
Helena Cruz i Gallach1
Marc Martí-Costa2
Resumen – El artículo propone, de un lado, analizar cómo la evolución del
planeamiento urbanístico en un contexto de globalización ha facilitado el surgimiento
de nuevos conflictos urbanísticos y, de otro, identificar cómo se articulan las variadas
formas de movilización ciudadana en relación a estos conflictos. Finalmente, a través
del caso de la defensa del complejo industrial de Can Ricart de Barcelona se ejemplifica cómo las plataformas ciudadanas consiguen poner en entredicho el modelo de
desarrollo urbano de la ciudad.
Palabras clave: Conflicto urbanístico, plan urbanístico, plataformas ciudadanas,
movilizaciones sociales, Barcelona.
Resumo – Conflitos urbanos e mobilização de cidadãos: reflexões a parBarcelona. Este artigo analisa, por um lado, a evolução do planeamento
urbano num contexto de globalização, o qual facilitou o surgimento de conflitos
urbanos. Por outro, identifica as várias formas de mobilização dos cidadãos em relação a estes conflitos. Finalmente, através do caso originado pela defesa do património
industrial de Can Ricart, em Barcelona, exemplifica-se como as plataformas cidadãs
questionam o modelo de desenvolvimento urbano.
tir de
Palavras-chave: Conflito urbano, plano urbanístico, plataformas cidadãs, mobilizações sociais, Barcelona.
Abstract – Conflicts over urban planning and citizens’ mobilisation:
Barcelona. The aim of this article is two-fold: to analyse how the
evolution of urban planning in a context of globalisation has facilitated the emergence
of conflicts over urban planning and to identify how the various forms of social
mobilisation are interconnected. Specifically, the case of Can Ricart in Barcelona is
reflections on
Recebido: 10/02/2010. Aceite: 06/09/2010.
1 Departament de Geografia. Universitat Autònoma de Barcelona. E-mail: Helena.Cruz@
uab.cat
2 Institut de Govern i Polítiques Públiques. Universitat Autònoma de Barcelona. Escola de
Polítiques Socials i Urbanes. E-mail: [email protected]
112
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
discussed in order to exemplify how citizens’ committees are able to question the
city’s urban development model.
Keywords: Urban planning conflict, urban plan, citizens’ committees, social
mobilisation, Barcelona.
Résumé – Conflits urbains et mobilisations citoyennes. Quelques réflexions
Barcelone. On montre comment l’évolution de la planification urbaine,
dans un contexte de mondialisation, a fait surgir de nouveaux conflits urbains et
comment les diverses formes de mobilisation citoyenne s’articulent par rapport à ces
conflits. En s’appuyant sur le cas de la défense du complexe industriel de Can Ricart,
à Barcelone, on montre finalement comment les plateformes citoyennes peuvent parvenir à mettre en cause le modèle de développement urbain de la ville.
à partir de
Mots clés: Conflit d’aménagement, plan urbanistique, plateforme citoyenne,
mobilisations sociales, Barcelone.
I.
INTRODUCCIÓN
El proceso de desvirtuación que ha sufrido el plan urbanístico durante las
últimas décadas, fomentado por la predilección por otras formas de planificación
del territorio como el planeamiento estratégico o la actuación mediante proyectos urbanos, ha sido influenciado por un contexto de globalización que ha llevado
a las ciudades a un espiral de competencia ascendente. En consecuencia, se han
limitado los espacios de participación ciudadana durante el proceso de planificación urbana y éste se ha tecnificado y restringido sólo a determinadas elites.
El artículo analiza cómo este contexto ha propiciado el estallido de conflictos
urbanísticos y, de otro lado, evidencia las nuevas formas que están tomando las
movilizaciones ciudadanas, todo ello ejemplificándolo con las transformaciones
urbanísticas del barrio de Poblenou de Barcelona. Si bien la ciudad de Barcelona
ya gozó, durante los años sesenta y setenta, de una amplia movilización ciudadana que radicó en la creación de las asociaciones de vecinos, en la última
década han surgido nuevos conflictos urbanísticos y se han diversificado las
formas de organización de las protestas ciudadanas.
Entendemos los conflictos como estados de tensión en la relación entre las
administraciones y los ciudadanos que estallan cuando los objetivos y propósitos
de ambos actores no convergen, creándose una condición de revuelta que se materializa con la organización de plataformas cívicas o asociaciones. De esta manera,
los ciudadanos reivindican la necesidad de afrontar y resolver problemáticas urbanas o bien se oponen a proyectos que incomodan o amenazan al propio territorio.
Ya sea con un rol de propuesta o de contraposición, reclaman poder incidir en la
toma de decisiones que les incumben. Además, cuando consiguen una movilización
creciente, se convierten en un instrumento de presión hacia la opinión pública
creando cierto malestar a los entornos políticos (Lagomarsino, 2002).
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
113
En primer lugar, el artículo ejemplifica cómo la evolución que ha sufrido
el planeamiento urbanístico y el gobierno del territorio en general durante las
últimas décadas, al ponerse al servicio de los intereses globales, ha comportado
una limitación de los canales de participación ciudadana como espacios de debate
y presentación de alternativas y ha facilitado la proliferación de los conflictos
urbanísticos. Seguidamente se presentan algunas de las dinámicas que han facilitado la aparición de nuevas movilizaciones sociales. En el tercer apartado,
focalizamos en las estrategias que desarrollan los actores que toman parte en el
conflicto: ¿qué diferencias y similitudes podemos establecer entre los distintos
colectivos (plataformas ciudadanas, asociaciones de vecinos, entidades coordinadoras, etcétera)? Finalmente ejemplificamos el análisis presentado con el caso
de Can Ricart, en el barrio del Poblenou de Barcelona.
II. PLANEAMIENTO URBANÍSTICO Y PARTICIPACIÓN CIUDADANA
1. G
lobalización, metropolización y nuevas formas de planeamiento
urbano
La ciudad se caracteriza tanto por su complejidad como por estar en continua transformación. En este proceso de modificación constante, además, intervienen y participan diferentes agentes (propietarios del suelo, promotores
inmobiliarios, medios de comunicación, políticos, técnicos, ciudadanos, asociaciones, grupos de presión, etc.) que presentan objetivos, deseos, intereses y
opiniones diferentes, los cuales pueden llegar a ser antagónicos. Para hacer frente
a esa complejidad, la acción de gobierno se dotó de instrumentos tales como el
planeamiento, que escenifica en el plan el proyecto de futuro de una determinada
ciudad, que “traduce bajo el aspecto físico y funcional la intencionalidad que la
colectividad (a través de instrumentos democráticos) ha elaborado para su futuro”
(Indovina, 2005: 52).
Frente a la diversidad de intereses existentes en el territorio, el plan urbanístico ha sido considerado como un documento de consenso, durante el cual
los contrates e intereses divergentes se llevaban a situaciones de acuerdo. Para
llegar a tal fin, la legislación española y catalana han previsto algunos procedimientos de debate entorno a los criterios y objetivos de los planes con la exposición pública de las propuestas y, a veces, los ayuntamientos han organizado
acciones complementarias tales como exposiciones, mesas redondas, publicaciones o talleres de participación (Esteban, 1999; Font, 2009). Al planeamiento
urbanístico no le han faltado críticas por su tecnicismo y formalismo, por estar
esencialmente atado a la lógica del desarrollo capitalista (Castells, 1976) o bien
al servicio de un número muy limitado de actores (Logan y Molotoch, 1987).
Así, la falta de participación de la ciudadanía en las decisiones urbanísticas y
de ordenación del territorio ha sido una constante en su historia, a pesar de
algunas corrientes surgidas en los países anglosajones y orientadas a mejorar las
114
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
capacidades de incidencia de los habitantes (Davidoff, 1965; Alexander, 1976;
Friedman, 1992; Healey, 1997), pero que no han tenido especial influencia en
la disciplina urbanística en el Estado español.
Así pues, en el contexto español, aunque legislativamente se reservan espacios de participación para los diferentes agentes que toman parte del proceso de
elaboración del planeamiento, en la práctica, demasiado a menudo la ciudadanía
no puede establecer un diálogo con el equipo redactor. El proceso de participación se limita al período de exposición pública y a la redacción de alegaciones.
Como consecuencia, no representa un espacio suficientemente abierto y deliberativo para que la ciudadanía pueda expresar sus opiniones, deseos, dudas o
temores y, menos aún, para presentar alternativas. Esto ha propiciado el desbordamiento de los cauces establecidos por el planeamiento, la proliferación de los
conflictos urbanísticos y la irrupción de movimientos sociales urbanos, ya que
los ciudadanos ven en la protesta una vía para hacer sentir sus desazones y
deseos e intentar incidir en el proceso de planificación.
Las transformaciones sociales y urbanas vinculadas al proceso de globalización y metropolización incorporan una mayor complejidad en el análisis de
los conflictos urbanísticos, la participación ciudadana y los movimientos urbanos
en el contexto español. Entre estas transformaciones, uno de los elementos más
característicos es el renacimiento de lo local (Harvey, 1990; Castells, 1997;
Bobbio, 1999; Nel·lo, 2003) el cual ha sido analizado a menudo por los estudios
sobre la globalización y sobre la polarización global-local. Como resultado del
proceso de globalización y del desarrollo de las nuevas tecnologías, la progresiva
desaparición de las fronteras físicas, administrativas o de comunicación ha configurado unos territorios cada vez más integrados donde las características
específicas de cada lugar devienen más importantes. Así pues, las singularidades
locales renacen como incentivo para atraer a los flujos de inversión y potenciar
sus especificidades competitivas (Harvey, 1990; Bobbio, 1999). Las oposiciones
locales y el estallido de muchos conflictos territoriales estarían, en consecuencia,
estrechamente relacionados con la irrupción de las identidades locales que nacen
en contraposición a la tendencia de dominio de los flujos globales (Castells,
1997). Así, la proliferación de los conflictos relacionados con el territorio obedecen a la creciente preocupación de la población por la calidad, los recursos,
y la seguridad del lugar donde viven (Nel·lo, 2003). Sin embargo, tesis como la
de la reterritorialización (Brenner, 1999) o de la glocalización (Swyngedow,
1997) introducen perspectivas mucho más dialécticas y dinámicas en la relación
unidireccional global-local. Así en la medida que las ciudades pasan a ser espacios “glocales” dónde confluyen múltiples escalas geográficas de forma potencialmente conflictiva, los movimientos urbanos se incorporarían también en esta
dialéctica (Köhler y Wissen, 2003).
Este contexto ha influenciado también las formas tradicionales de gestión
de las ciudades y la ejecución del planeamiento urbanístico en el Estado español,
al ponerlos al servicio de los intereses globales. A raíz de la espiral competitiva
en que han entrado las ciudades desde finales del siglo XX, persiguiendo la
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
115
atracción de actividades económicas, habitantes y visitantes, los gobiernos han
recorrido a técnicas e instrumentos de gestión originarios del mundo empresarial,
como el marketing urbano o el planeamiento estratégico. Planteado en contraposición al planeamiento urbanístico tradicional, se presenta como un método
de planificación horizontal que pretende concebir, con el consenso de los representantes de la administración pública y los principales agentes socioeconómicos,
un futuro deseable para la ciudad (Forn y Pascual, 1995; Curti y Gibelli, 1996;
Camagni, 2003; Cruz, 2006). Aunque se presenta como una alternativa más
eficaz a la planificación urbanística, el planeamiento estratégico no contempla
el territorio como referente principal. El diseño de la estructura urbana o la
delimitación de las áreas de crecimiento y regeneración no son cuestiones clave
para el planeamiento estratégico, que se centra en consensuar estrategias que
buscan relanzar económicamente el municipio. Por otro lado, dedica sus esfuerzos a diagnosticar las amenazas, debilidades, fortalezas y oportunidades que
presenta el municipio en cuestión y a la búsqueda de acuerdo sobre unos objetivos generales para afrontarlas (Ferrer y Sabaté, 1999). Además, el énfasis en
su carácter participativo, y con una escenificación más rotunda del pacto, ha
conllevado un alejamiento de los espacios de participación de los procesos de
planificación urbanística.
Pero no sólo el planeamiento estratégico apareció como un instrumento
atractivo para las administraciones públicas sino que el proyecto urbano también
surgió desde finales de los años ochenta de forma relevante como método a
través del cual actuar en las ciudades españolas. Este proceso se evidencia de
una forma más relevante en las grandes ciudades y poco a poco se difunde como
una nueva forma de gestión del territorio. A menudo se argumenta la necesidad
de dotar el planeamiento urbanístico de una mejor capacidad de respuesta frente
a los escenarios cambiantes. En este sentido, se busca una actuación urbanística
rápida, flexible, puntual y eficaz, que pretende huir y evitar la rigidez y burocratización a la cual ha sido sometido el plan urbanístico. Con el tiempo, los
proyectos urbanos han ganado envergadura hacia lo que se ha denominado megaproyectos, que tienen como características: a) son proyectos de escala metropolitana y regional, muy vinculados a la mejora de la competitividad de la
región/metrópolis; b) habitualmente están relacionados con grandes infraestructuras con un alto potencial simbólico que implican procesos de renovación urbana
en la área cercana; c) para su ejecución implican la colaboración de múltiples
administraciones y empresas privadas que acaba cristalizando en la constitución
de partenariados o consorcios.
En general, en nuestro país, el interés por el planeamiento como instrumento
útil para la previsión y el control de las transformaciones territoriales se ha
puesto en duda (Font, 2003). El desarrollo de nuevos proyectos puntuales y la
elaboración de planes estratégicos paralelos conllevan una progresiva substitución
del plan general, ya que tiene que absorber un continuo proceso de progresivos
ajustes y modificaciones puntuales para ir incorporando los proyectos puntuales
que surgen, hecho que para algunos ha llevado a “perder de vista la globalidad
116
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
de la ciudad” (Navarro, 1999: 77). Estas tendencias han provocado que se haya
desvirtuado el rol del plan como documento-intención de la colectividad urbana
y ha comportado la elaboración de planes estratégicos difícilmente ejecutables
debido a la inexistencia de un marco legislativo que los apoye. Como consecuencia, han proliferado las disputas para la localización de equipamientos o
servicios, o para la ejecución de proyectos de regeneración urbana, hecho que
nos ejemplifica como el planeamiento urbanístico no ha sido capaz de llevar a
cabo su misión de establecer democráticamente un acuerdo general entorno a
un proyecto de ciudad futura.
La ciudad de Barcelona inició ya a finales de los años ochenta – con la
nominación a los Juegos Olímpicos – un proceso de renovación urbana profundo,
ejecutado a través de distintas intervenciones parciales y en el marco de distintos planes estratégicos que perseguían el objetivo de internacionalizar la ciudad.
La creación de la ciudad olímpica y los cinturones metropolitanos, pero especialmente la reforma del frente marítimo y del puerto marcaron el inicio de una
política urbana no tan orientada al urbanismo de los barrios que había caracterizado el inicio de los años ochenta, sino hacia nuevas operaciones de mayor
escala orientadas a modernizar la ciudad y relanzarla como una ciudad turística
y de servicios. Una vez superada la resaca olímpica y la consolidación de las
“nuevas áreas de centralidad” en el interior de la ciudad, se fortalece el desarrollo de la metrópolis a través de grandes proyectos metropolitanos, entre los que
destaca el plan Delta (con la ampliación del puerto y del aeropuerto) y la planificación de la nueva estación del Tren de Alta Velocidad en la Sagrera. Además
de las infraestructuras para afianzar Barcelona como centro logístico, se pone
cada vez más el acento en la cultura y el conocimiento como nuevos motores
de desarrollo de la ciudad. De todas formas, esto se materializa con grandes
operaciones urbanísticas, como es la remodelación de la desembocadura del río
Besòs con la celebración del Forum Universal de las Culturas 2004 y el “distrito
de la innovación 22@bcn” que comentaremos más adelante. Son operaciones
que, acompañadas de una política de marketing urbano y promoción económica
significante, se han ido incorporando en el Plan General Metropolitano a través
de modificaciones puntuales y se han dirigido a potenciar el rol internacional
de la ciudad.
2. La crisis de legitimidad, la protesta y la participación
Aunque es evidente que la ubicación de una determinada instalación considerada desagradable o molesta tendrá más probabilidades de desarrollar un
conflicto (Dear, 1992; Bobbio, 1999; Faggi y Turco, 2001; Nel·lo, 2003), a veces
estallan porque sus promotores no establecen un diálogo previo a la aprobación
del proyecto y no concuerdan su propuesta con los agentes urbanos. Así, en el
Estado español, a menudo los conflictos aparecen a causa de la forma que toma
el proceso de elaboración del planeamiento: la toma de decisión se lleva a cabo
de forma cerrada en el ámbito meramente administrativo y, de esta forma, cuando
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
117
se hace pública la decisión, no hace más que suscitar una reacción contraria por
parte de aquellos que deben acoger el proyecto. El carácter jurídico-técnico del
urbanismo no facilita la intervención de aquellos actores no expertos. Además,
el proceso de elaboración y aprobación de los planes y proyectos urbanísticos a
menudo no cuenta con mecanismos de participación ciudadana en las primeras
fases de decisión. Así, el primer período de información pública se abre cuando
el plan ya tiene establecidos sus objetivos y principales características, por lo
que sólo aquellos actores con más recursos (por ejemplo para obtener información privilegiada) son capaces de ejercer presión.
En líneas generales, una de las causas del nacimiento de las movilizaciones
ciudadanas entorno a cuestiones territoriales se debe a la desconfianza en las
formas institucionales de representación ciudadana por parte de la población y
en una cierta crisis de legitimidad del sistema representativo (Bobbio, 1999;
Blanco y Gomà, 2002; Nel·lo, 2003; della Porta y Diani, 2004; Alfama et al.,
2007). Subirats (2006) dibuja algunas de las problemáticas existentes:
«Resulta evidente la poca capacidad de resolución de los problemas que
muestran los mecanismos democráticos de toma de decisiones. Formalismo, distanciamiento entre representantes y representados, opacidad, asimetría en los
recursos de los teóricamente iguales… son algunas de las críticas que se esgrimen
en el debate político dirigidas al funcionamiento actual de nuestros sistemas democráticos» (Subirats, 2006: 393).
Así, existe una conexión entre el auge de las nuevas formas de acción
colectiva y las formas de representación política (Bobbio, 1999; della Porta y
Diani, 2004). En este sentido, la proliferación de las movilizaciones ciudadanas
es un signo de crisis de los instrumentos de articulación y agregación de intereses. Concretamente, su difusión responde al declive de la capacidad de los
partidos de ser la conexión entre la sociedad civil y las instituciones, a la
disminución del arraigo social de los partidos y la debilitación de su influencia
en los procesos de decisión. En consecuencia, los ciudadanos se movilizan en
base a las propias necesidades inmediatas y se dirigen directamente a la esfera
pública con acciones de protesta para sensibilizar a los administradores y a la
población en general (della Porta y Diani, 2004). La misma proliferación de
este tipo de organización ciudadana acaba por “fragmentar ulteriormente la
representación de los intereses y para hacer aún más difícil la tarea de los
partidos en la mediación del impulso local” (Bobbio, 1999: 198). Una de las
causas de este cambio surge del alejamiento de los centros de decisión respecto
a la ciudadanía y de la burocratización y tecnificación de los procesos, que han
tendido a hacer creer que las decisiones son imparciales y objetivas (Subirats,
2006).
En este contexto, los entornos políticos propician el nacimiento de nuevas
formas de acción colectiva, de manera que los ciudadanos movilizados piden
“contar más en las decisiones que los implican directa o indirectamente” (San-
118
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
cassiani, 2005: 206). Pero en la planificación urbana, no es hasta en tiempos
muy recientes que se popularizan algunos procesos y técnicas de participación
que pretenden facilitar la implicación de la ciudadanía en las decisiones urbanísticas (Font, 2009), y se empiezan a regular por ley. Así van tomando fuerza
procesos más plurales que ponen el acento en la colaboración y comunicación
entre los diferentes actores implicados (Healey, 1997).
En el caso de Barcelona, en la última década el Ayuntamiento ha iniciado
una serie de políticas de participación, aunque la ciudad ya contaba con algunos
órganos, procesos y mecanismos (Ajuntament de Barcelona, 2009). En 2002 se
aprobaron las Normas Reguladoras de Participación Ciudadana y progresivamente
se implementaron nuevos órganos de participación territorial (consejos de distrito
y consejos de barrio) pero también consejos sectoriales y audiencias públicas.
La diagnosis sobre la participación ciudadana realizada para la elaboración del
Plan Director Municipal de Participación Ciudadana 2010-2015 detectaba la
existencia de un mapa complejo y poco sistematizado y coordinado de órganos,
procesos y mecanismos de participación. Como consecuencia, revelaba que estos
procesos conseguían un bajo impacto en las políticas, aunque también ponía de
manifiesto que los ciudadanos a menudo desconocían la existencia de los procesos y mecanismos de participación (Ajuntament de Barcelona, 2009). Así pues,
estas iniciativas municipales, con la elaboración de un Plan Director Municipal,
muestran como durante los últimos años los esfuerzos se han dirigido a establecer nuevos espacios de participación, aunque al mismo tiempo no gocen de gran
influencia.
La última propuesta sobre participación ciudadana y planificación urbana
por parte del Ayuntamiento es el proceso participativo sobre la reforma de la
parte central del eje viario de la Diagonal. Este proyecto, que plantea la reducción del espacio para vehículos y la posible introducción del tranvía en uno de
los principales ejes viarios de la ciudad, ha sido escogido para acompañarlo con
un proceso de participación ciudadana y se ha convertido en el estandarte de la
política de participación municipal. Iniciado en febrero de 2009, el proceso prevé
distintas sesiones formativas para dar a conocer el marco del proyecto y hacer
comprensible el lenguaje urbanístico; la instauración de mesas sectoriales con
las entidades para realizar aportaciones; la elaboración de dos alternativas por
parte de la Oficina Técnica de la Diagonal; un posterior debate sobre éstas con
jornadas informativas y exposiciones públicas; y, finalmente, una consulta ciudadana. En mayo de 2010 se realizó dicha consulta, que planteaba tres opciones:
a) la creación de un boulevard; b) la creación de una rambla; c) ninguna de las
anteriores. Con una participación del 12% la opción ganadora fue la tercera con
casi el 80% de los votos. Parece que esta opción acaparó distintas críticas: el
desagrado hacia los proyectos planteados, el desacuerdo con la conveniencia de
reformar la vía, la crítica hacia la administración que plateaba un proyecto con
un importante gasto público y que era percibido como innecesario en un contexto
de crisis económica, etcétera. La consulta ciudadana, que fue planteada como
el gran proceso participativo de la ciudad, fue instrumentalizada por los distin-
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
119
tos partidos políticos y se caracterizó por numerosos tropiezos técnicos, de
manera que acabó por ser percibida como un fracaso lo que motivó el cese del
primer teniente alcalde de la ciudad3.
La continuidad de los conflictos urbanísticos pone de manifiesto como
diferentes valores e intereses están en juego y como existen diferentes proyectos
de ciudad que han sido diseñados desde posicionamientos ideológicos contrapuestos. El modelo de crecimiento urbanístico promulgado por las elites económicas y políticas y el ayuntamiento las últimas décadas se ha basado en la
especulación del suelo4 y en la orientación competitiva de la ciudad, mientras
que otros actores – asociaciones de vecinos y entidades cívicas – han tendido a
oponerse a este modelo reivindicando “el derecho a la ciudad”, a través de la
reclamación de servicios, equipamientos colectivos, vivienda asequible, espacios
comunitarios de sociabilidad, etc. con el objetivo de mejorar la calidad de vida
en los barrios. Sin embargo, este escenario se ha ido acomplejando con la aparición, por un lado, de algunas protestas desconectadas del interés general y, por
el otro, por la existencia de actores en un mismo conflicto con diferentes intereses (tanto dentro del aparato político-administrativo como dentro el tejido
social) que desdibujan la imagen simple de dos bloques contrapuestos.
III. NUEVAS CONFIGURACIONES SOCIALES ENTORNO A LOS
CONFLICTOS URBANÍSTICOS
Seguidamente analizaremos algunos de los agentes que toman parte en los
conflictos urbanísticos, cómo se organizan, qué rol adoptan y qué estrategias
establecen para intentar modificar los proyectos urbanísticos. Partimos de la
permisa que dados los cambios sociales y urbanos, existe una mayor fragmentación y multiplicidad de colectivos presentes, a la vez que se da una mayor
interrelación entre temáticas urbanísticas, sociales, medioambientales y culturales en los conflictos. Tal y como afirman Martí-Costa y Bonet (2008a), constatamos que:
«No existe un único tipo de movimiento urbano. Simplificando mucho, ya no
sólo abarcan cuestiones relacionadas con el consumo colectivo ni su principal actor
son las asociaciones vecinales. Muchos de ellos expresan el legado de los nuevos
movimientos sociales y de las luchas antiglobalizadoras; así como los cambios que
han experimentado las propias ciudades. Hoy en día encontramos una gran heterogeneidad de colectivos, temáticas y formas de acción de grupos que actúan y
politizan la ciudad». (Martí-Costa y Bonet, 2008a)
3
Para más información: http://www.bcn.cat/diagonal
Por ejemplo, la administración planificó que la construcción de la nueva estación del tren
de alta velocidad en Barcelona, la Sagrera, y la consiguiente remodelación del área se financiara a
través de las plusvalías generadas por la recalificación del suelo y la venta de los terrenos.
4
120
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
Así, en los conflictos urbanísticos a menudo “la oposición” no está promovida en primera persona por organizaciones preexistentes (administraciones
públicas locales, partidos políticos, asociaciones cívicas o hasta ambientalistas)
sino que está patrocinada por ciudadanos movilizados (Bobbio, 1999). Éstos se
constituyen en actores colectivos organizándose en plataformas con el objetivo
de ser un interlocutor para la administración. Precisamente, ciudadanos y determinadas asociaciones se unen en una plataforma para intentar modificar el plan
en cuestión (introduciendo sus propuestas) o abolirlo. Por lo tanto, están destinados a disolverse una vez ha acabado la contienda, ya sea porque han conseguido
influir en el contenido del plan o porque éste se ha redactado sin escuchar sus
protestas. Las plataformas ejercen un rol de líder dentro de los grupos opositores y son aquellas que promueven la protesta ya que arraigan fácilmente en el
tejido social. También es habitual que sean asociaciones preexistentes las que
impulsen la constitución de coordinadoras o plataformas para facilitar el trabajo
en red, aumentar su base social y su capacidad de presión.
En esta situación, las plataformas de ciudadanos han sido a menudo estigmatizadas como NIMBY (Not In My Back Yard, no en mi patio). Acrónimo
inventado y difundido por autores norteamericanos, hace referencia a los movimientos que surgen como forma de resistencia delante la ubicación en su vecindad de infraestructuras, equipamientos o servicios que son considerados como
incómodos, peligrosos o desagradables (della Porta, 2004). El síndrome NIMBY
está asociado a un comportamiento conservador, a motivaciones egoístas, en el
sentido de oposición al interés general (si el proyecto en cuestión se realizara
en otra ubicación se aceptaría) y a acciones fragmentadas (Dear, 1992). Pero no
en todos los conflictos se ejerce por parte de las plataformas una protesta basada
en estos argumentos y, en muchos casos, más que la oposición a un determinado
plan urbanístico con el objetivo de abolirlo, se pretende modificarlo con argumentos no estrictamente localistas.
Las plataformas de ciudadanos adoptan formas de coordinación flexibles y
diversas entre ellas, pero la mayoría suelen tomar las decisiones en asamblea y
actuar como grupos de presión. Si bien en muchos casos adoptan un carácter
reactivo, ya que el objeto de su movilización es evitar el daño que creen que se
derivaría de las decisiones que la administración pretende tomar, podemos decir
que ese tipo de actitud es más bien característica de una fase inicial del conflicto
donde el objetivo es la oposición. En algunos casos hemos detectado como, en
fases más avanzadas del conflicto, las plataformas intentan revestir su discurso
de valores más universales para legitimar su posición y acceden a avanzar en el
terreno de la negociación. Así, a veces consiguen elaborar sus propios estudios,
investigar y seguir las actividades urbanísticas de las administraciones, intercambian información y experiencias (ya sea con otras plataformas o asociaciones)
e incorporan expertos a sus filas para que les asesoren y así fortalecer sus discursos y posición. Los ciudadanos que forman parte de estas plataformas a
menudo están capacitados para contestar con argumentos de base técnica y
científica, así como debatir con el lenguaje pertinente con los políticos y los
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
121
técnicos municipales un determinado proyecto. Además, buscan en los medios
de comunicación locales un aliado para expandir su ámbito de influencia y
reforzarse como un actor más en el conflicto.
Las plataformas tienden a subrayar su distancia respecto al mundo de la
política y remarcan su independencia aunque no dudan en utilizar las instituciones y partidos (simpatizantes) para conseguir influir en el proceso de toma de
decisiones y modificar el proyecto. En este sentido, podemos decir que tienden
a sustituir a las fuerzas políticas como única forma verdadera y legítima de
representación de los intereses que se consideran perjudicados por las decisiones
del gobierno local.
Barcelona cuenta con una larga tradición de asociacionismo. Durante los
años setenta, las asociaciones de vecinos (de un bloque de viviendas, de una
calle, de un barrio) fueron protagonistas en las relaciones con las administraciones locales como representantes de la ciudadanía. La dejadez que caracterizó la
actuación urbanística y la falta de políticas sociales de las administraciones
franquistas fue fuente de reivindicación por parte de la ciudadanía. Gracias a la
Ley de Asociaciones de 1964 se constituyeron para reivindicar mejoras urbanas,
el cumplimiento de la legislación urbanística, evitar la especulación y conseguir
equipamientos y servicios. Representaron un espacio de confluencia de organizaciones sindicales, políticas, vecinales, etc., no sólo para mejorar la vida en los
barrios sino como plataforma para reivindicar la democracia. A lo largo de estos
años, han seguido liderando otras protestas y aunque no han tenido el mismo
protagonismo, se han constituido como actores legitimados por las administraciones locales.
Durante los años ochenta, la elaboración de nuevos planes urbanísticos fue
clave para la recuperación urbana de las ciudades heredadas de la Dictadura. La
redacción de éstos fue planteada como una de las primeras acciones de los ayuntamientos democráticos a causa de la presión que ejercían los ciudadanos con sus
reivindicaciones y las asociaciones de vecinos (AAVV) tuvieron un rol eminente
en la fase de discusión pública, que no fue considerada por los ayuntamientos
como una simple cuestión de trámite. En este sentido, se hicieron esfuerzos para
difundir información y fomentar la participación de entidades y la ciudadania en
general en conferencias, mesas redondas y sesiones informativas (Ferrer y Sabaté,
1999). Fue un urbanismo dialogado con la misma sociedad donde muchas veces
las AAVV transmitían la voz de los ciudadanos. El movimiento vecinal, con su
labor de oposición y sus reivindicaciones, ha configurado un legado que se estructura en tres aspectos: a) la revalorización del espacio público, de la calidad de
vida y del barrio como espacio identitario; b) la exigencia de la democracia y de
la participación en la elaboración de los planes, con un gobierno de proximidad;
c) la toma de conciencia del derecho a la ciudadanía, el hecho de ser ciudadano
y la necesidad de implicarse en el proceso de construcción de la ciudad (Alabart,
1998; Borja, 2003; Recio y Naya, 2004).
Con la proliferación de las plataformas de ciudadanos, a finales de los años
noventa, la fragmentación de la representación de la ciudadanía es más signi-
122
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
ficativa y a veces unos se presentan (o son reconocidos) como interlocutores
válidos en tanto que asociación constituida frente a otros. La aparición de
nuevas formas de organización al margen de las AAVV preexistentes se puede
leer desde diferentes perspectivas: una falta de confianza de los ciudadanos
movilizados respecto a las asociaciones de vecinos; una escasez de renovación
interna de los activistas vecinales (con la consecuente falta de renovación de
intereses, estructuras, perspectivas y temas); una moderación en las demandas
por el proceso de institucionalización de las AAVV o simplemente debido a la
mayor fragmentación y heterogeneidad en la actualidad de las organizaciones
relacionadas con los movimientos urbanos, con objetivos y maneras de actuar
diferentes.
En referencia a los conflictos, ambos grupos de actores, plataformas y
asociaciones de vecinos, no siempre adoptan las mismas posiciones: a veces
comparten ideas y se presentan como colaboradores y cómplices, otras discrepan
y mantienen posiciones separadas, y en otras las AAVV se mantienen al margen
del conflicto mientras la plataforma lidera la oposición. El distinto carácter
temporal que asumen ambos grupos es otra de las principales diferencias: unos
altamente efímeros, otros perviven desde hace treinta años. Las AAVV gozan,
pues, de una posición de privilegio en la interlocución con la administración
local ya que han logrado consolidarse en el escenario urbano y las relaciones
que mantienen con los políticos son, en muchos casos, estrechas.
Un papel relevante en los conflictos lo tiene el de los “expertos críticos”, a
menudo académicos que, con el tiempo y gracias a su ayuda continua a los
colectivos opositores, se convierten en un referente y se les otorga la etiqueta de
expertos independientes. Así, las plataformas tienden a buscar a expertos críticos
o contraexpertos, en tanto que se contraponen a los técnicos municipales (Lewanski,
1997), para contrastar con ellos de modo consultivo el proyecto elaborado por
los técnicos municipales. Las plataformas se rodean de abogados, arquitectos,
urbanistas, geógrafos, de los que recibir opiniones distintas, adquirir conocimientos técnicos nuevos y encontrar argumentos para rebatir el plan promovido por
la administración ya que el carácter técnico-jurídico de las cuestiones urbanísticas
da preferencia a aquellos actores que están capacitados para debatir. Muchas veces
consiguen con argumentos bien fundados poner en duda las posiciones políticas
o hasta incomodar a los mismos políticos (Bobbio, 1999).
Los medios de comunicación ejercen, por un lado, de canales a través de
los cuales se dan a conocer los discursos de los actores que intervienen en el
conflicto y, por otro, se establecen como actores propiamente dichos ya que
pueden influenciar el desarrollo del conflicto y las estrategias de otros actores,
tanto de las formaciones políticas como de los ciudadanos. En relación a los
grupos opositores, los medios de comunicación ejercen una función de divulgación de sus reclamaciones y de las propuestas alternativas con un lenguaje menos
técnico y más digerible hacia aquellos que desconocen la problemática. De esta
manera ayudan a las movilizaciones a expandir su ámbito de influencia, y en
ocasiones hasta a alargar el número de personas que les dan apoyo. De todas
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
123
maneras, la misma actuación por parte de los medios puede tener consecuencias
en el sentido opuesto. Tienden a simplificar el mensaje de los opositores (reduciéndolos al simple “no”) y a concentrarse en aquellas acciones de protesta más
espectaculares, prestando poca atención a los argumentos más de fondo y a los
espacios de negociación. Medios de comunicación alternativos (periódicos, radios,
portales web), así como la creación de blogs y la presencia en redes sociales de
Internet se configuran como fuentes de información y comunicación más directas entre los opositores y los afectados, otros grupos activistas, los periodistas
y la sociedad en general.
De todas formas, una vez estallado el conflicto los medios de comunicación
ejercen un rol de trampolín. En el momento que sale a la luz pública que un
determinado grupo de ciudadanos están descontentos con la actitud y decisiones
de la administración, los políticos tienden a reaccionar rápidamente para evitar
el boom que la continua presencia de las protestas en los medios de comunicación puede significar en términos de pérdida de confianza por parte de la ciudadanía, expansión del conflicto o pérdida de legitimidad política.
A menudo las administraciones públicas reconocen la falta de iniciativas
para prevenir reacciones negativas por parte de la comunidad ante un proyecto
urbanístico y reconocen que – por su parte – era difícil preverlas. Según Bobbio
(1999) la infravaloración de la protesta es una de las características más persistentes de las administraciones ya que “tienden a preocuparse demasiado poco por
los conflictos que pueden desencadenar sus iniciativas y se fían excesivamente
de la bondad de las propias decisiones, de los estudios técnicos y de la fuerza de
la ley” (Bobbio, 1999: 202-203). El alejamiento de los políticos respecto a los
ciudadanos se traduce en los casos de conflicto en una actitud de infravalorar
argumentos o propuestas que aportan los propios ciudadanos manifestando poca
consistencia técnica para evitar que la alternativa tome fuerza (Bobbio, 1999) y
en no considerar suficiente la representatividad de los ciudadanos organizados.
De todos modos, estos comportamientos, en vez de desanimar a los ciudadanos,
a menudo causan el efecto contrario: hacen radicalizar las posiciones y provocan
que los grupos opositores tiendan a querer movilizar más población para mostrarse
como un interlocutor más representativo. Así se inicia la protesta abierta, que es
utilizada por parte de los ciudadanos como arma para sacudir y hacer reaccionar
a los gobernantes locales y, en cierta manera, también a los técnicos municipales,
los cuales suelen trabajar inmersos en la máquina de la administración. Otra
estrategia habitual por parte de los oponentes es acudir a instancias de gobierno
de nivel superior al local, ya sea regional, estatal o europeo.
En algunas ocasiones también se ha dado una utilización política de la
protesta por parte de los partidos, a menudo aquellos que no gobiernan, o que
están en coalición y quieren sacar un beneficio político de la protesta. Así,
algunos de ellos optan por apoyar la protesta o fomentarla persiguiendo fines
propios que no tienen porqué coincidir con los objetivos de la protesta. En estas
ocasiones, los ciudadanos organizados también suelen utilizar a aquellos partidos
políticos que les ofrecen apoyo como puerta de acceso al escenario político
124
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
aprovechándose de las divisiones entre las elites. Como resultado, se produce
una utilización recíproca donde ambos actores reciben compensaciones.
IV. EL CONFLICTO DE CAN RICART
En tiempos recientes se han sucedido importantes conflictos urbanísticos
en Barcelona. Entre ellos cabe destacar el conflicto del “Forat de la Vergonya”
(Verger y Mas, 2004; Xalabarder 2007, 2006, 2005a) en pleno corazón de la
ciudad, la controvertida remodelación de la Plaza Lesseps, (Herrero, 2004, 2005;
González, 2006; Sau, 2009) la recalificación del Mini-estadio del Futbol Club
Barcelona (Carreras, 2006a; Carbó, 2008, 2007), la transformación de los antiguos cuarteles en Sant Andreu (Xalabarder, 2005b; Carreras, 2006b), la discusión
entorno a la conservación de Can Ricart en el Poblenou, el derribo de las casas
baratas en Bon Pastor (Xalabarder, 2005c, 2008), la construcción del Hotel Vela
en la Barceloneta, etc. En todos estos conflictos, que surgen de la aprobación
de proyectos puntuales – ya sean de renovación del espacio público o de regeneración de un barrio – que han conllevado alguna modificación en el Plan
General Metropolitano de Barcelona (aprobado en 1976), se reflejan las características anteriormente mencionadas, si bien cada uno tiene obviamente sus
propias particularidades. A continuación, para ejemplificar con más detalle los
aspectos abordados en los anteriores apartados, nos adentraremos en el conflicto
entorno a la preservación y los usos del recinto industrial de Can Ricart en el
barrio del Poblenou. Aunque son muchos los conflictos urbanísticos en los últimos años, abordaremos este en profundidad por estar enmarcado en uno de los
principales proyectos estratégicos de la ciudad (el plan 22@bcn), por su complejidad de estrategias, discursos y de actores, así como por los resultados
conseguidos.
El recinto industrial, proyectado entre 1852 y 1853, fue una de las primeras
industrias de estampación mecánica de Cataluña así como una de las manufacturas más importantes del Barcelona. En sus inicios albergó una fábrica de
estampaciones de algodón y a partir de los años 20 se convirtió en un parque
industrial acognó multiplicidad de industrias y talleres. A partir de los años 90,
se alojaron además talleres de artistas, como por ejemplo Hangar, equipamiento
de producción audiovisual gestionado inicialmente por la asociación de artistas
audiovisuales y cofinanciado por el municipio. A pesar de las reparcelaciones,
era de los pocos recintos industriales de su época que con el tiempo se había
mantenido íntegro.
Este recinto fue incluido en el plan de renovación de las áreas industriales
del Poblenou, el Plan 22@bcn, que afectaba a 198,26 hectáreas. Aprobado en el
año 2000, este plan tiene como objetivo desarrollar y atraer nuevas actividades
y empresas ligadas a la “economía del conocimiento” (formación, investigación,
producción audiovisual, servicios a empresas, actividades relacionadas con las
TIC y la cultura, etc.). Con ese objetivo se prevé aumentar la densidad y la
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
125
diversidad de usos de las antiguas zonas industriales. Un año después se aprobó
el tercer de los planes especiales de iniciativa pública incluidos en el plan 22@
bcn, el del Parc Central, que abarca principalmente al recinto de Can Ricart.
Este plan, que posteriormente fue modificado, mantenía solamente algunos elementos aislados del recinto: la chimenea, la torre del reloj (torre principal de la
fábrica) y dos naves. Esto suponía el derribo de buena parte del recinto y su
partición con la apertura de una nueva calle para seguir con la trama característica del Ensanche de Cerdà. La mayor parte del recinto se calificó como suelo
22@ lo que posibilitaba un amplio abanico de usos (residencial, equipamientos,
actividades económicas, etc), aunque mayormente significaba la construcción de
oficinas.
En el momento de su aprobación, en Can Ricart había en funcionamiento
un bar, 34 empresas que ocupaban a unos 250 trabajadores y dos espacios
dedicados a la creación artística (Hangar y Nau-21), todos en régimen de alquiler. Cuando las empresas allí ubicadas vieron finalizar sus contratos, crearon
en 2005 la “Asociación de trabajadores y empresarios de Can Ricart” para
reclamar indemnizaciones justas para todos los negocios, independientemente
del tipo de contrato de alquiler, que les permitieran afrontar los costes de relocalización. La implicación de más de una cuarentena de entidades y colectivos
culturales, educativos, vecinales y juveniles de la ciudad provocó un cambio de
escala, de un conflicto entre particulares pasó a ser un problema de la ciudad.
Así se creó la plataforma “Salvem Can Ricart” que unió las reivindicaciones
de conservación del recinto por razones históricas, identitarias y arquitectónicas
con las reivindicaciones de les empresarios y trabajadores para mantener sus
actividades.
Entre los colectivos que formaron la plataforma, podemos destacar la asociación de vecinos del Poblenou, el Fórum Ribera Besos y especialmente el
grupo de patrimonio industrial del Fórum, formado por líderes vecinales y académicos. Este grupo tuvo un papel fundamental a lo largo del proceso, tanto por
el activismo de sus miembros como por la capacidad de investigación-acción
que posibilitó la elaboración de informes y proyectos alternativos dando solidez
a las reivindicaciones de la Plataforma (Grup de Patrimoni Industrial del Fòrum
Ribera Besòs, 2005, 2006a, 2006b, 2006c; Clarós et al., 2006). Otro colectivo
muy activo e innovador fue el de los artistas, con Hangar y el grupo alrededor
del taller de Can Font – Nau21. Este último elaboró sus propias propuestas para
convertir Can Ricart en un espacio de innovación urbana de dominio público
que combinara espacios creativos, industriales y de promoción del patrimonio
(Nau 21, 2006). La asociación de empresarios y trabajadores de can Ricart
trabajó activamente dentro de la plataforma así como diferentes entidades culturales y juveniles del Poblenou.
Las primeras acciones de la Plataforma fueron dar apoyo a las empresas
amenazadas e intentar evitar su desalojo. Paralelamente se realizaron visitas
guiadas, asambleas de vecinos, festivales culturales, manifestaciones, etc., para
dar a conocer Can Ricart y su problemática al barrio y a la ciudad. En ese
126
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
momento Can Ricart se convirtió en un símbolo de resistencia vecinal creativa
frente a las presiones especulativas y a la planificación urbana sin participación.
La dimensión que tomó el conflicto propició que el Ayuntamiento mediara entre
el propietario del recinto y los negocios afectados y finalmente, con un aumento
de las indemnizaciones, las empresas abandonaron progresivamente el recinto.
Así, a finales de junio del 2006, cerró la última empresa que quedaba en el
recinto. Entre las que no cerraron y se pudieron relocalizar, solamente una continuó en el mismo Poblenou (Grup d’Etnologia dels Espais Públics de l’Institut
Català d’Antropologia, 2006). A partir de ese momento únicamente mantuvo su
actividad Hangar, debido a que los espacios donde se ubicaba pertenecen al
Ayuntamiento.
Como resultado de las posturas inmovilistas del Departamento de Urbanismo
del Ayuntamiento, la Plataforma abrió nuevos frentes de incidencia hacia niveles
superiores de gobierno que finalmente tuvieron importantes impactos en el planeamiento urbano. El primer frente fue la interlocución con los partidos políticos con representación en el Parlamento catalán para presentar una iniciativa
legislativa para preservar el patrimonio y la memoria histórica en todo Poblenou
(Clarós et al., 2005). La segunda fue el inicio de los trámites en el Departamento
de Cultura de la Generalitat de Cataluña para declarar el recinto de Can Ricart
Bien Cultural de Interés Nacional (BCIN) y asegurar su protección completa.
Además, en este periodo se realizaron estudios en profundidad y se elaboró un
planeamiento alternativo al municipal que, manteniendo las plusvalías y los
derechos adquiridos por el propietario, permitía conservar la fábrica íntegra
(Grup de Patrimoni Industrial del Fòrum Ribera Besòs, 2005). Una vez asumida
la pérdida de las antiguas actividades empresariales, se propusieron también
nuevos usos para el recinto, como la ubicación de equipamientos del barrio
(guarderías, centros de barrio), equipamientos de ciudad (museo del trabajo),
viviendas de protección social y espacios dedicados a talleres de artistas y centros de investigación. Se proponía así una combinación de usos productivos,
culturales y ciudadanos de relevancia tanto local como global, con la idea de
convertir el espacio en un nuevo polo de centralidad urbana ciudadana ­­­­(Grup de
Patrimoni Industrial del Fòrum Ribera Besòs, 2006c).
Como reacción a las presiones de la plataforma, el Ayuntamiento anunció
a principios de abril del 2007 un nuevo plan urbanístico para Can Ricart más
respetuoso con el patrimonio industrial. Pocas horas más tarde, un incendio
destruyó una nave y afectó la parte más significativa de la fábrica: la torre del
reloj, incendiando dos piezas de reciente adquisición municipal. Este episodio
contribuyó a la aceleración del deterioro del recinto, un proceso que se precipitó
después de la expulsión de las empresas. La Plataforma “Salvem Can Ricart”,
conjuntamente con otros colectivos del barrio, además de pedir responsabilidades en relación al incendio, rechazaron el nuevo plan y presentaron alegaciones.
En ese momento, también entró en escena un nuevo actor en el conflicto: la
Makabra. Este colectivo alternativo, especializado en las artes circenses y desalojado pocos días antes de una fabrica cercana, okupó Can Ricart a finales del
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
127
2006. Después de resistir un cerco policial de 34 horas, consiguieron evitar el
desalojo urgente y la plataforma reaccionó dando apoyo a la okupación. Los
talleres de artistas que progresivamente se habían instalado en el Poblenou durante
los años 90 estaban siendo expulsados con el desarrollo del plan 22@bcn (MartíCosta y Pradel, en prensa). Finalmente, las presiones políticas y del propietario
forzaron su desalojo 11 días más tarde, antes de que se realizaran las primeras
actividades abiertas al público. Tanto el incendio como la ocupación recibieron
una gran atención por parte de los medios de comunicación, lo que aumentó la
sensación de conflicto entorno al recinto, si bien también difuminó las propuestas y acciones realizadas por la plataforma.
Poco a poco el perseverante trabajo del movimiento urbano empezó a dar
sus frutos. Como resultado de la iniciativa parlamentaria, en diciembre del 2006
se aprobó un plan de patrimonio para el Poblenou donde se incluyeron 68 nuevos elementos y se amplió la protección de diferentes conjuntos partimoniales
(Ajuntament de Barcelona, 2006). A pesar del avance, en ese momento ya habían
sido destruidas por las excavadoras fábricas importantes (como por ejemplo
Extractos Tánicos), el grado de protección de muchos elementos continuaba
siendo bajo (solamente protección documental), tenía poco en cuenta el paisaje
en su conjunto y no significaba modificaciones importantes en relación a Can
Ricart, a pesar de que pasaba a ser declarado Bien Cultural de Interés Local
(Tatjer, 2008). Pero el éxito más significativo del movimiento vendrá de la declaración de Bien Cultural de Interés Nacional en categoría de conjunto histórico
por parte del Departamento de Cultura de la Generalitat de Cataluña. Eso implicó
la suspensión de las licencias de obras vigentes y que las nuevas tuvieran que
ser aprobadas por la comisión de patrimonio cultural de la Generalitat.
Como resultado, mientras que en el terreno de la protección del patrimonio
se obtuvieron avances significativos, en relación a los usos del espacio el resultado fue menos fructífero. A excepción de Hangar, todas las actividades precedentes fueron expulsadas y el recinto entró en proceso de degradación: “Con el
tiempo se ha producido una terrible paradoja: cuando el 2005 se iba a derribar
según el plan especial, la fábrica estaba de pie y se trabajaba en ella, ahora, que
parece que se salva la mayor parte, está en ruina, destrozada por dos incendios,
y todo es una trinchera llena de muros, zanjas y garitas” (Montaner, 2007).
Tampoco los usos aprobados en el nuevo plan municipal (lofts, museo de los
idiomas, oficinas, etc.) coinciden con los propuestos por el movimiento.
V. REFLEXIONES FINALES
La transformación urbana de la ciudad de Barcelona durante las últimas
dos décadas se ha llevado a cabo a través de proyectos urbanos que han implicado
la introducción de modificaciones puntuales en el Plan General Metropolitano,
vigente desde 1976. Así, se ha evitado iniciar un proceso de revisión del planeamiento urbanístico de la ciudad (y del área metropolitana) y se ha optado
128
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
por mecanismos administrativos e instrumentos de bon planificación más ágiles
y flexibles. Como el caso de Can Ricart i el Plan 22@ ejemplifican (pero al
igual que muchos otros proyectos), el futuro de la ciudad no ha sido reflexionado
y debatido de forma global sino que se ha actuado de forma fragmentaria, repensando distintas áreas de la ciudad de forma individual.
En este sentido, el plan especial ha resultado un instrumento útil para actuar
de forma concreta y aislada en la trama urbana. Además, a diferencia del proceso
de tramitación de los planes generales, el de los planes especiales cuenta con
un sólo período obligatorio de información pública, de manera que la tramitación
de los proyectos urbanos no ha facilitado el debate y la participación de la
ciudadanía en su elaboración sino más bien ha resultado apetecible por agentes
privados y el Ayuntamiento, interesados en una actuación urbanística rápida. Por
lo tanto, la ausencia de procesos de planificación que se interesaran para debatir con todos los agentes urbanos (responsables políticos, propietarios del suelo,
promotores inmobiliarios, constructores, técnicos, entidades cívicas, asociaciones
de vecinos, etc.) sus prioridades e intereses ha tendido a desencadenar el estallido
de conflictos urbanísticos ya que la ciudadanía ha percibido que estos proyectos
urbanos eran diseñados y aprobados sin que ellos (los usuarios finales de la
ciudad) hubieran tenido la oportunidad de expresar su opinión.
Así pues, la espiral competitiva en la cual está inmersa la ciudad ha conllevado una actuación urbanística flexible y rápida que bien poco se ha preocupado para reflexionar sobre la conveniencia de los proyectos propuestos sino
más bien para ejecutarlos cuanto antes. En consecuencia, la poca atención prestada para conocer (a través de amplios procesos de participación) los deseos y
necesidades de aquellos que debían acoger los proyectos ha representado la
semilla para que en el proceso de aprobación o ejecución de los planes la ciudadanía se rebelara ante una actuación urbanística que consideraba foránea e
impuesta.
En relación a la organización del movimiento urbano, el caso expuesto
muestra la heterogeneidad de colectivos incluidos en el conflicto, a veces actuando
de forma conjunta bajo el paraguas de una plataforma, a veces actuando de
forma autónoma. La creación de la plataforma permitió sumar esfuerzos agrupando un amplio espectro de organizaciones en su seno con un grado de implicación diversa, que de otra forma sería difícil aglutinar. Aunque la asociación
de vecinos del Poblenou fue uno de los actores centrales en la constitución y
dinamización de la plataforma, su trabajo se realizó en continua interlocución y
cooperación con otros grupos. Entre estos otros, en el caso expuesto toman
nuevos protagonismos los squatters, grupos de artistas o activistas relacionados
con el ciberactivismo. Si bien el trabajo en red permitió la generación de alianzas variables que fortalecieron y legitimaron el movimiento, a veces también fue
fruto de tensiones y separaciones por la confluencia de intereses y de backgrounds
diferentes, tanto dentro como fuera de la plataforma.
En el caso de Can Ricart, numerosos profesionales de diferentes ámbitos
han dedicado tiempo e ideas, conjuntamente con miembros y simpatizantes de
Conflictos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas
129
la plataforma, a fundamentar las críticas al plan. Se han llegado a realizar hasta
nueve estudios diferentes sobre la fábrica y sus alternativas que incluyen una
amplia documentación de planos, mapas, dibujos y maquetas; generándose una
amplia documentación (Grup de Patrimoni Industrial del Fòrum Ribera Besòs,
2006c), sin tener en cuenta las decenas de artículos de opinión favorables al
movimiento que han aparecido en los medios de comunicación. La construcción
colectiva de conocimiento ha sido sin duda uno de los puntos fuertes de la
movilización. A partir de un enfoque interdisciplinario se ha combinado la incorporación de saberes provenientes del urbanismo, la historia, la arquitectura, la
ingeniería y la sociología entre otros para dar forma a las ideas de la plataforma
y orientar las nuevas acciones. Especialmente relevante ha sido el proceso de
socialización y difusión de conocimiento que se ha producido entorno a aspectos históricos y arquitectónicos entre los vecinos del Poblenou, lo que ha permitido la autoformación de activistas y simpatizantes, estimulando el debate de
ideas, habilidades y recursos tanto dentro de como fuera del movimiento. Al
mismo tiempo, la combinación de la reflexión con la acción ha permitido ir más
allá de la defensa conservadora de un espacio concreto. Se han aportado nuevas
ideas sobre la construcción de la ciudad, tanto en los aspectos procedimentales
(una profundización democrática de los procesos de planificación), como en
aquellos más substantivos: nuevas formas de centralidad urbana que no sean sólo
a partir de centros comerciales o de oficinas, una vinculación más estrecha entre
el habitar y la planificación o el reto de gobernar incorporando ideas innovadoras sin banalizarlas.
Por lo que se refiere a la relación con la administración, se ha ilustrado que
el actual contexto institucional ofrece grietas y posibilidades si se saben utilizar
las discrepancias entre elites y los diferentes organismos públicos, tanto a nivel
horizontal (entre coaliciones de actores, como por ejemplo partidos que forman
un mismo gobierno) como a nivel vertical, entre diferentes niveles de gobierno
(local, autonómico, estatal supraestatal). En el caso de Can Ricart para tratar de
modificar una decisión urbanística local, a parte de la presión e interlocución
directa con el Ayuntamiento, se utilizó el bypass del Parlamento catalán por un
lado y el de la política cultural de la Generalitat por el otro. Esto evidentemente
se combinó con un repertorio de acciones colectivas variadas encaminadas a la
protesta (manifestaciones) y a la sensibilización y difusión (charlas, web, publicaciones, performance, actuaciones, etc.). Cabe destacar la innovación en nuevas
formas de involucrar a los ciudadanos y la autofinanciación del movimiento,
como por ejemplo en la campaña de adquisición de acciones de la ficticia “Compañía Ciudadana de Can Ricart”.
También hemos mostrado la diversidad de viejas y nuevas temáticas puestas sobre la mesa a partir del conflicto urbanístico. Las movilizaciones entorno
a Can Ricart no sólo han luchado para modificar el proyecto urbano ideado para
su barrio desde el Ayuntamiento, sino que han elaborado un amplio repertorio
argumental que reivindicaba tanto la necesidad de nuevos equipamientos colectivos y de creación como la urgencia para establecer políticas de preservación
130
Helena Cruz i Gallach e Marc Martí-Costa
del patrimonio, pero también advertía de los impactos en términos de gentrificación que se podían derivar del proyecto y denunciaba los intereses de especulación de determinados agentes urbanos; en definitiva reclamaba mejoras en
la calidad democrática de la toma de decisiones en las cuestiones urbanísticas.
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Finisterra, XLV, 90, 2010, pp. 133-152
CONSTRUYENDO LA BARCELONA CREATIVA:
NUEVOS ACTORES, NUEVAS ESTRATEGIAS
Montserrat Pareja-Eastaway1
Resumen – Barcelona está en el punto de mira internacional. La ciudad que
triunfó con la organización de los Juegos Olímpicos en el año 1992 quiere ser hoy
una ciudad creativa del siglo XXI. Para ello hace falta propiciar las condiciones que
contribuyan a generar un discurso compartido sobre la capacidad de Barcelona para
convertirse en una ciudad atractiva para el talento creador y también para las empresas. Tanto el reconocimiento del sustrato histórico-económico inicial como punto de
partida hacia la ciudad creativa, junto con el papel motor de la cultura en la generación de un peculiar y distintivo bagaje hacen de Barcelona una ciudad diferente. Sin
embargo, esto no es suficiente. La participación de todos los actores alrededor de una
estrategia compartida se convierte en Barcelona en el mayor reto de futuro así como
la minimización de los efectos negativos que inevitablemente acompañan al éxito.
Empresas, instituciones y ciudadanía constituyen el mejor activo de la ciudad: es
necesario aunar esfuerzos y aprovechar los efectos que se generan entre ellos. El
consenso y la participación van más allá de meras utopías, siendo imprescindibles
para la ciudad del mañana. La iniciativa pública ejerce el liderazgo en Barcelona: el
surgimiento de puentes conectores entre necesidades de los sectores creativos con los
mecanismos de intervención pública es, sin lugar a dudas, la mejor garantía de
éxito.
Palabras clave: Barcelona, ciudad creativa, trayectorias urbanas, liderazgo
público, factores “hard” y “soft”, “network” de localización.
Resumo – Construindo a Barcelona criativa: novos actores, novas estraBarcelona está na mira internacional. A cidade que triunfou com a organização
dos Jogos Olímpicos em 1992 procura no século XXI afirmar-se como uma cidade
criativa. Mas é necessário criar as condições para que Barcelona se converta numa
cidade atractiva para o talento criativo e as empresas. O reconhecimento do substrato
histórico-económico, como ponto de partida para a cidade criativa, juntamente com o
papel motor da cultura na geração de uma bagagem distintiva e peculiar, fazem de
Barcelona uma cidade diferente. No entanto, isto não é suficiente. A participação de
tégias.
Recebido: 15/06/2010. Aceite: 29/10/2010.
1 Professora da Universidad de Barcelona GRC Creatividad, Innovación y Transformación
Urbana, Facultad de Economía y Empresa. E-mail: [email protected]
134
Montserrat Pareja-Eastaway
todos os actores em torno de uma estratégia partilhada coloca a Barcelona o maior
desafio do futuro, assim como a minimização dos efeitos negativos que inevitavelmente
acompanham o êxito desta estratégia. Empresas, instituições, cidadania constituem os
melhores activos da cidade: é necessário unir esforços e aproveitar os efeitos que se
geram entre eles. O consenso e a participação vão além de meras utopias convertendo-se em factores imprescindíveis na cidade de amanhã. A iniciativa pública exerce
liderança em Barcelona: as conexões entre as necessidades dos sectores criativos e os
mecanismos de intervenção pública são, sem dúvida, a maior garantia de sucesso.
Palavras-chave: Barcelona, cidade criativa, trajectórias urbanas, liderança
pública, factores “hard”e “soft”, “network” de localização.
Abstract – Building A creative Barcelona: new actors, new strategies.
Barcelona is under the international spotlight. The city that triumphed with the
organisation of the Olympic Games in 1992 now wants to become a 21st Century
creative city. In order to achieve this goal, the city must establish conditions that
facilitate the emergence of a shared discourse around its ability to become an attractive city for creative talent and for businesses. The recognition of the historical-economic heritage, as a starting point for the creative city, along with the driving role
played by culture in the generation of a exclusive and distinctive experience, turn
Barcelona into a unique city. However, this is not sufficient. The participation and
involvement of all the actors in a shared strategy pose significant challenges to
Barcelona, as does the need to minimise the negative effects that inevitably accompany success. Companies, institutions and citizens constitute the city’s best assets:
they must work in partnership and take advantage of the synergies generated amongst
them. Consensus and participation are more than mere utopias in Barcelona: they
have become requirements for the city of tomorrow. Moreover, leadership in Barcelona is largely left to public initiative: the emergence of linkages across the needs
of the various creative sectors, based on public intervention mechanisms is the best
way to ensure success.
Keywords: Barcelona; creative city; urban pathways; public leadership; “hard”,
“soft” and “network” localisation factors.
Résumé – La
construction d’une
Barcelone créative: nouveaux acteurs
Barcelone a atteint une position internationale. La ville qui
a organisé triomphalement les Jeux Olympiques en 1992 veut désormais être une des
villes créatrices du XXIe siècle. Mais manquent pour cela les conditions permettant
de créer un discours généralement accepté sur la capacité qu’aurait Barcelone à devenir une ville attractive pour les talents créateurs et les entreprises. Son originalité
vient tant de son substrat historique et économique initial que du rôle moteur qu’y
joue une culture très originale. Mais ce n’est pas suffisant. Il faut que les divers acteurs
s’unissent dans une stratégie commune et que les aspects négatifs qui accompagnent
forcément les succès soient minimisés. Les entreprises, les institutions et la citoyenneté sont les meilleurs atouts de la ville : ils doivent joindre leurs efforts pour mieux
réussir. A Barcelone, l’entente et la participation ne sont pas des utopies, mais des
nécessités, indispensables pour créer la ville de demain. L’initiative publique y étant
dominante, une bonne liaison entre les besoins des secteurs créatifs et les mécanismes
d’intervention publique sera la meilleure garantie du succès.
et nouvelles stratégies.
Construyendo la Barcelona creativa
135
Mots clés: Barcelone, ville créative, trajectoires urbaines, leadership publique,
facteurs «hard» et «soft», «network» de localisation.
I.
INTRODUCCIÓN
La ciudad de los prodigios, la ciudad de las mil caras, la ciudad de los
arquitectos… estos son, entre otros, apelativos que la literatura ha otorgado a
Barcelona. Esta ciudad, con una permanente preocupación por encontrarse a sí
misma y definir epítetos que la resuman, es hoy considerada como una de las
ciudades europeas más atractivas para vivir, especialmente por parte de los
colectivos que trabajan en actividades vinculadas a la creatividad y el conocimiento (Pareja-Eastaway et al., 2009). No es casualidad que tanto desde las
instancias municipales como desde otros organismos que surgen de la sociedad
civil (i.e. Plan Estratégico Metropolitano de Barcelona) se quiera convertir a
Barcelona en una ciudad con una elevada especialización económica basada en
la creatividad y el conocimiento.
Barcelona ha sido capaz de formular recetas convincentes de éxito y seguir
paso a paso el camino diseñado para ello. Un buen ejemplo fue la celebración
de los Juegos Olímpicos en el año 1992. Desde entonces, la búsqueda de nuevas
fórmulas ha sido recurrente, conllevando mayores o menores éxitos en su puesta
en escena. Actualmente, Barcelona persigue sumarse al privilegiado grupo de
ciudades en la esfera internacional que dicen llamarse ´creativas´.
Este artículo se plantea identificar cuáles son los condicionantes que han
provocado la consideración de Barcelona como una ciudad creativa. Para ello,
la primera sección resume brevemente las principales aportaciones teóricas
entorno a esta temática para, a continuación, a la luz de los argumentos claves
definidos, contrastar estas hipótesis con la realidad de Barcelona. En particular,
se hará hincapié en los elementos clave que permiten, tanto a través del legado
de la historia como de acuerdo a las estratégicas programáticas de la gobernanza
de la ciudad, convertir hoy a Barcelona en una ciudad creativa.
II. LA CIUDAD CREATIVA, UNA TENDENCIA DEL SIGLO XXI
Los cambios en los modos de producción económica han determinado la
emergencia de diferentes tipologías de ciudades. Desde la aglomeración cercana
a las fuentes energéticas hasta la urbe tecnológica, las ciudades son el reflejo de
los cambios acontecidos en la esfera económica que, a su vez, han influido tanto
en las relaciones sociales como en las formas institucionales.
La literatura académica en sus diferentes disciplinas es un terreno fértil
para el debate en el que la sistematización y la síntesis muestra aquello que se
entiende por ciudad en cada momento: la ciudad post-fordista (Amin, 1994), la
ciudad global o globalizada (Sassen, 1991; Marcuse y van Kempen, 2000) y la
136
Montserrat Pareja-Eastaway
ciudad digital (Aurigi, 2005) son conocidos ejemplos que vindican los principales atributos de estas manifestaciones territoriales de las dinámicas en los
modos de producción. La Nueva Economía va ligada a nuevos modelos de ciudad: actualmente, la búsqueda del éxito en la creación de riqueza y la mejora
de la competitividad urbana, representan los principales objetivos que persiguen
las ciudades, especialmente en el mundo desarrollado. De este modo, la denominada ‘tercera revolución industrial’ plantea nuevas apuestas competitivas en
las que el talento surge como eje vertebrador. Estos elementos adquieren un
peculiar significado ante la madurez de las tendencias globalizadoras iniciadas
hace décadas. El crecimiento de las interdependencias entre países, la mejora en
los flujos de conectividad y la extensión de las infraestructuras de transporte ha
cambiado los parámetros relacionales de las ciudades. El siglo XXI muestra un
nuevo panorama de ciudades creativas, en dónde el conocimiento y el capital
humano juegan un factor esencial para el futuro de la ciudad.
Sin embargo, la ciudad creativa en términos conceptuales surge a finales
de los años 80 más como aspiración que como respuesta a los problemas emergentes (Landry, 2000). La creatividad no permite su apropiación por ningún
colectivo o sector sino que está en manos de todos aquellos que se enfrentan
ante dilemas y oportunidades. La creatividad consiste en realidad, en adoptar un
nuevo enfoque resolutivo ante los problemas, desde los más cotidianos a los más
puntuales, tanto en esferas privadas como públicas. De este modo, la ciudad
creativa aúna la búsqueda de nuevas soluciones por diferentes actores en escenarios diversos. En este contexto, libros como el de Florida (2002) se popularizan a escala mundial debido, entre otros, a su particular análisis del concepto
de ‘clase’ en este nuevo marco de referencia. Incluso en el supuesto de contradecir la línea argumental presentada por este autor, existe coincidencia en el
debate académico acerca del cambio estructural sufrido por los protagonistas del
crecimiento económico; hoy, el trabajador creativo, con talento y alta cualificación, emerge como pieza clave en la transformación económica.
Si el talento y la creatividad son elementos fundamentales en los nuevos
retos del mundo globalizado, la pregunta inmediata es: ¿qué papel resta a las
ciudades? Tal y como señala Inneraritty (2007), los individuos ya no pertenecen
a una única comunidad, su vida se reparte entre diferentes redes sin garantía de
exclusividad. De ahí que el territorio no desaparece pero sí se transforma la
relación del individuo con él: “Todo el espacio se ha vuelto simbólico, lo que
permite configuraciones más flexibles que en la época en que los espacios estaban bajo la pretensión de monopolio exclusivo. Un espacio relacional y múltiple
posibilita unos compromisos más abiertos que cuando el territorio era una dimensión fija, objetiva y rígida en la vida de los hombres y las sociedades.” (Inneraritty, 2007: 5)
Ciertamente, los ejes de la comunicación social y profesional en red determinan el papel reservado para la ciudad, ahora convertida en polo de atracción
de actividad creativa y de alto valor añadido. Aunque las industrias culturales o
creativas surgen como hard core de la nueva ciudad, la transformación del enfo-
137
Construyendo la Barcelona creativa
que se expande a toda la dimensión del sistema productivo, existiendo algunas
condiciones que facilitan la nueva configuración de las ciudades. Tal y como
Landry (2000) señala, curiosidad, imaginación, creatividad, innovación e invención son los cinco elementos básicos que favorecen la capacidad de la ciudad y
de su tejido social y productivo para proveer de nuevas soluciones, tanto a problemas tradicionales como emergentes.
Ciertos elementos parecen favorecer el desarrollo de las industrias culturales o creativas y, simultáneamente, el posicionamiento de la ciudad como ‘creativa’ en el contexto internacional. A pesar de las aparentes diferencias entre
autores, no existe un debate de fondo acerca de las condiciones o pre-requisitos
que favorecen la aparición de ciudades creativas (fig. 1).
Törnqvist(1983)
Aspectosclave
Informacióntransmitida
entrepersonas
Conocimientobasadoenla
acumulacióndeinformación
Competenciaenciertas
actividades
Creatividad(algonuevoen
basealoanterior)
Andersson(1985)
PreͲrequisitos
Malecki(1987)
Síntesis
Conocimientooriginalyaltos
nivelesdecompetencias
Lapresenciadeempleo
profesionalcualificado
Desequilibrioentrela
necesidaddeexperienciay
oportunidadesactuales
Laaglomeraciónurbanaen
dóndetienepresenciala
actividadculturalyla
comunicación
Unmilieudiverso
Buenasposibilidadespara
transporteycomunicación
Condicionesparapromoverla
sinergiaolainestabilidad
Unainestabilidadestructural
quefaciliteeldesarrollo
sinérgico
Fig. 1 – Tres aproximaciones a los condicionantes para ser una ciudad creativa.
Fig. 1 – Three approaches to the requirements for becoming a creative city.
A modo de síntesis, y siguiendo a Landry (2000), dos grandes conjuntos
de factores, personales y colectivos, favorecen las condiciones previas para que
una ciudad sea ‘creativa’. De entre ellos distingue los siguientes: Cualidades
personales, voluntad y liderazgo, diversidad humana y acceso al talento variado,
cultura organizativa, identidad local, espacios urbanos y equipamientos y, finalmente, dinámicas de red. Siguiendo esta argumentación, los factores clásicos de
localización de las industrias en las ciudades – hard factors – (i.e. buenas infraestructuras, precio del suelo asequible, etc.) no funcionarían exactamente igual
para las industrias creativas siendo más relevante la existencia de otro tipo de
factores – soft factors – (i.e calidad residencial, atmósfera, tolerancia, etc.).
Nuevas aportaciones (Musterd and Murie, 2010) al debate acerca de qué contribuye a la ubicación de la economía creativa en una ciudad señalan como elementos de peso los factores relacionales – network factors – (i.e. haber nacido
en la ciudad, contactos sociales y profesionales, etc.).
138
Montserrat Pareja-Eastaway
Además, otros autores (Kóvacs, et al., 2007) señalan la importancia de la
contextualización de una determinada ciudad en su propia trayectoria histórica
– pathways – contemplando globalmente aspectos económicos, culturales y
políticos. Ello contribuye decisivamente a la unicidad de cada una de las ciudades que hoy dicen llamarse ‘creativas’. En síntesis, dos dimensiones son excepcionalmente importantes para la ciudad competitiva en la economía moderna, la
económica y la social. De hecho, un buen aprovechamiento de la tradición y la
experiencia junto con el dinamismo propio de la aplicación de la innovación y
la creatividad favorece la implantación de nuevos procesos productivos competitivos en la esfera internacional. Así, las ciudades que saben aprovechar su
trayectoria histórica maximizan la probabilidad de situarse en los mejores puestos de la jerarquía urbana. De hecho, Scott (2006) señala la corriente que llega
a finales de los años 80 y sensibiliza la conciencia de muchos estrategas políticos acerca de las posibilidades de ‘vender’ aquellos recursos existentes (más o
menos latentes) en cuanto a bagaje histórico-artístico y patrimonio cultural. La
explotación de estos activos pasa a ser un elemento clave en la estrategia competitiva de muchas de las ciudades, no tanto por su aportación a la cadena de
valor como por su contribución al marketing de una determinada imagen de
ciudad a escala internacional.
III. BARCELONA HOY: UNA CIUDAD ATRACTIVA A ESCALA
INTERNACIONAL
Barcelona, al igual que Ámsterdam u otras ciudades europeas, es un ejemplo
de ciudad que, en la actualidad, se incluye generalmente en la posición sub-top
del ranking urbano internacional. Barcelona emerge en este contexto debido a
múltiples razones, algunas de ellas intrínsecamente asociadas a la capacidad de
la ciudad como organizadora de eventos a escala internacional, otras vinculadas
a su deseo explícito de convertirse en la sede de numerosas sedes de empresas
multinacionales. Otras argumentaciones que se aducen para explicar este relativo
repentino estrellato en el panorama de ciudades responden a los esfuerzos en
publicitar la ciudad en todos y cada uno de los aspectos en los que resulta competitiva, la creación de la ‘marca’ Barcelona y su exportación exitosa al ámbito
internacional no es pues ajeno a este proceso. Además, la ciudad ofrece, a diferencia de otras ciudades españolas e incluso europeas, ciertos aspectos vinculados
a la calidad de vida, a la multiculturalidad y a la tolerancia.
Desde los años 80 hasta la actualidad, Barcelona se ha caracterizado por
su voluntad de internacionalización a través de la organización de numerosos
eventos con repercusión global, la organización de ferias y congresos de alcance
mundial2 y el establecimiento de años temáticos estrechamente ligados al
2
Festival Sònar, Bread and Butter, The Brandery y Salón del Automóvil, entre otros.
139
Construyendo la Barcelona creativa
conocimiento, la cultura y la creatividad3. Este empeño no es independiente
de un modelo particular de desarrollo urbano que aprovecha las oportunidades
para reformular urbanísticamente algunas zonas de la ciudad (Clusa, 1999).
La mejora de la imagen de competitividad económica de Barcelona es
incuestionable. Ciertos indicadores lo constatan: así, el European Cities Monitor
(2009) señala la ciudad entre las cinco primeras que ofrecen oportunidades de
negocios en Europa (solamente ultrapasada por Londres, París, Frankfurt y
Bruselas) y la primera en términos de calidad de vida (siendo este el quinto año
consecutivo liderando esta posición). La ciudad se encuentra también entre las
diez más visitadas de Europa. Éste último indicador favorece las cotas de popularidad de la ciudad, visible tanto en la atracción de turismo (Barcelona ha
consolidado su posición como uno de los principales destinos de turismo urbano
en Europa, siendo el puerto mediterráneo líder en cruceros) como en su favorable posición para la ubicación de talento creativo.
30
25
20
15
10
5
0
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Trabajadorescreativosydelconocimiento
Trabajadorescreativos
Trabajadoresconocimiento
Fuente: INE(+): Los sectores han sido seleccionados de acuerdo a la metodología utilizada en el proyecto ACRE.
(*) Sectores creativos: Publicidad, arquitectura, arte, antigüedades, artesanías, diseño, diseño de moda, video,
cine, música, fotografía, artes visuales, edición, juegos de ordenador, publicaciones electrónicas, software, radio
y televisión (**) Sectores del conocimiento: Servicios a las empresas (auditoria, contabilidad, etc.), sector
financiero, R+D, TICs, educación superior.
Fig. 2 – Trabajadores en sectores creativos y en sectores del conocimiento sobre total empleo (+).
Barcelona provincia (%).
Fig. 2 – Share of creative and knowledge workers in total employment.
Barcelona province (%).
3 Año Gaudí (2005), Año Internacional del Libro (2006), Año Internacional de la Ciencia
(2007), Año Cerdà (2009).
140
Montserrat Pareja-Eastaway
El papel de las actividades creativas y, en particular, de las industrias culturales, resulta de gran relevancia para la ciudad tanto en términos de su contribución al empleo (fig. 2) como por su capacidad multiplicadora de atracción
de otras actividades relacionadas. De este modo, de acuerdo a la metodología
usada por el proyecto ACRE (Accommodating Creative Knowledge – Competitiveness of European Metropolitan Regions in an Enlarged Union), Barcelona
se sitúa en tercer lugar en cuanto a la aportación al empleo de los sectores
creativos (12% sobre el total), después de Milán (14%) y Budapest (13%).
La ciudad de Barcelona ha aprovechado a oportunidad presentada por la
crisis económica para afianzar el nuevo contenido de los principales motores del
crecimiento económico de la ciudad4. Ello no es ajeno a una voluntad política
decidida que ha apostado durante años por un cambio de modelo económico:
“la ciudad ha seguido desarrollando una estrategia económica subyacente con
una estructura ya en marcha desde hace años, promocionando un modelo de
crecimiento económico basado en el conocimiento, la creatividad y la innovación,
que conlleva un posicionamiento de liderazgo ante la Unión Europea como uno
de los ‘centros del conocimiento’ del continente” (Observatori Barcelona,
2008: 1).
IV. EL SUSTRATO CREATIVO DE BARCELONA: LA IMPORTANCIA
DEL CONTEXTO
Tal y como se ha mencionado anteriormente, Barcelona aparece en el panorama internacional de forma reciente, nutriéndose de los frutos sembrados durante
la celebración olímpica y aprovechando la generación de efectos externos consecuencia del cambio de valores provocado por las nuevas formas de producción
basadas en el conocimiento y la creatividad. Barcelona ofrece el ambiente ideal
para aquellos trabajadores en sectores creativos, sabe ‘vender’ una imagen de
ciudad estrechamente vinculada al acerbo cultural (Benach, 1993) y potencia
desde las instancias públicas una determinada forma de hacer la ‘ciudad creativa’.
1. La especialización en la diversidad
Desde una perspectiva meramente económica, Barcelona y su región
metropolitana (RMB) siguen siendo una de las mayores regiones industriales de España. Sin embargo, no existe ningún sector que aporte de forma
diferencial un alto porcentaje al PIB. Una de las características más rele4 En el distrito 22@, ejemplo claro de cambio de modelo económico por el que apuesta la
ciudad, se han incorporado 1.502 empresas desde el año 2000 hasta 2009, suponiendo un aumento
de 44.600 lugares de trabajo (“22@Barcelona: 10 anys de creixement econòmic” disponible en
http://www.22barcelona.com/documentacio/22bcn_cens_2010.pdf).
Construyendo la Barcelona creativa
141
vantes del tejido industrial de Cataluña y, en particular de la RMB, es su
falta de especialización y su composición basada en pequeñas y medianas
empresas. Las consecuencias que ello supone tienen una doble vertiente:
por un lado, la RMB se compone de un conglomerado policéntrico de
ciudades con un liderazgo clave que es el de la ciudad de Barcelona (Trullén y Boix, 2003). Sinergias de complementariedad pueden identificarse,
dedicándose principalmente la capital a la producción de servicios mientras
que el resto de la región aún sigue especializado en la industria. Por otro
lado, la tradición industrial proporciona elementos favorables para la producción flexible y, sobretodo, para la posible transformación de sectores
tradicionales como el textil o la edición de libros en nuevas industrias creativas como el diseño de moda o de juegos de ordenador (Pareja-Eastaway
et al., 2007). Además, este entramado empresarial favorece soluciones de
cooperación entre empresas más que de competencia, especialmente aquellas que basan su producción en la creatividad. La unicidad del talento y la
especialización ayuda a generar lazos de cooperación y vínculos de integración entre empresas que, a la larga, favorecen el reparto del mercado de
forma cooperativa y dialogada, facilitando así su adaptación a un entorno
económico cambiante. Este es el caso, por ejemplo, del sector de producción
de juegos de ordenador, software y publicaciones electrónicas, un sector
con gran crecimiento en la región metropolitana de Barcelona, caracterizado
por un sistema de producción “en red” en dónde la cooperación sustituye
la competencia (Pareja-Eastaway et al., 2010).
Por otro lado, las empresas creativas en Barcelona se benefician indirectamente de la imagen que históricamente se ha labrado la ciudad como
ciudad del diseño. Este hecho atrae a Barcelona a numerosos profesionales
del sector que, de un modo u otro, además de partícipes directos del conglomerado creativo empresarial de la ciudad, encuentra en ella una fuente
de inspiración.
2. La histórica importancia de la cultura como motor de creatividad
Ya en el siglo XIX, Barcelona se representa en círculos culturales como
una de las vanguardias artísticas más relevantes en Europa (Cirlot, 1988). Este
proceso no es ajeno al despegue económico de España desde principios del siglo
XIX con Barcelona como uno de los motores industriales más importantes del
país. La acumulación de riqueza propia del capitalismo propicia la aparición de
una nueva burguesía con inquietudes culturales y artísticas sin la cual no hubiera
sido posible el crecimiento y expansión de la ciudad a través de dos eventos
culturales de escala internacional, las dos Exposiciones Universales de 1898 y
1929. En el primer caso, la ciudad regeneró el área portuaria y la antigua ciudadela mientras que en el segundo caso la ciudad recuperó la parte Sureste,
sobretodo la montaña de Montjuic. La recuperación de la cultura catalana (iniciada
ya con la ‘Renaixença’ en el siglo anterior, movimiento artístico que llega a las
142
Montserrat Pareja-Eastaway
artes visuales como a la literatura) se convierte en leitmotiv de buena parte de
las actividades de mecenazgo. Así pues, literatura, artes plásticas y arquitectura5
florecen paralelamente al crecimiento industrial de la ciudad.
La dictadura supone una ruptura completa con la tendencia iniciada en los
años anteriores. Los movimientos vanguardistas dejan paso a tendencias más
conservadoras y Madrid ejerce el papel de capital del país de modo centralizado,
prescindiendo de otros centros urbanos como motores culturales. La cultura pues
sostiene y refuerza el régimen sin ningún activo relevante reservado para Barcelona. Esta situación provoca el surgimiento de contracorrientes, mezcla de
oposición política y reivindicación cultural, que supondrá para el futuro democrático una fuente de intelectualidad y nuevas aportaciones para la clase dirigente
(Pareja-Eastaway et al., 2009).
Con la llegada de la democracia a final de los años setenta, Barcelona
emerge como contraparte cultural y económica de Madrid. La recuperación del
pasado cultural, la lucha por la cotidianeidad de la lengua catalana y el descubrimiento de nuevos retos para la ciudad configuran la hoja de ruta de los años
posteriores. En particular, el uso de la cultura para dinamizar la ciudad no solamente en la esfera del ciudadano de “a pie” sino como polo de atracción en la
escala internacional, se convierte en rasgo diferencial de la estrategia de largo
plazo de Barcelona. En este contexto, la celebración de los Juegos Olímpicos
en el año 1992 además de la consecución de un reto planteado en los años 80,
afianza y vertebra los ejes de futuro de la ciudad.
La relevancia de la cultura y las industrias como pilar fundamental en la
estrategia de futuro de la ciudad se constata a través de los sucesivos debates
que se inician a partir de la implantación de los ayuntamientos democráticos en
el país (Montaner, 2003). Aún siendo la Generalitat de Catalunya – gobierno
autonómico – el último responsable de la política cultural, los gobiernos locales
ejercen un papel decisivo en la promoción y estímulo de la cultura. En Barcelona,
el uso y divulgación del acerbo cultural acumulado junto con la promoción de
nuevas y creativas iniciativas vinculadas a la cultura desde los años noventa,
supone uno de los mayores estímulos para visitar la ciudad, tanto de forma
temporal, básicamente como turistas, como de forma más estable.
3. Los factores soft de atracción de talento creativo y los factores
network en Barcelona
Barcelona ha mejorado, de forma objetiva, su posicionamiento internacional como ciudad de negocios. Este fenómeno no solamente se debe a la inversión
real realizada en infraestructuras de transporte y nuevas tecnologías, factores
5 En este periodo, renombrados arquitectos catalanes – Gaudí, Domènech i Montaner i Puig
i Cadafalch – desarrollan el llamado “Modernismo”; uno de los movimientos artísticos que hoy ejerce
uno de los mayores atractivos para turistas y, de algún modo, inicia la tradición arquitectónica en la
ciudad.
Construyendo la Barcelona creativa
143
tradicionales – factores hard – de atracción, sino también a la existencia de otros
factores vinculados a la calidad de vida y al entorno en general – factores soft
– que han permitido principalmente usar la imagen de una ciudad acogedora y
tolerante como reclamo para atraer el talento creativo, especialmente el extranjero. La clásica distinción entre factores hard y soft en Barcelona se encuentra
algo desdibujada ya que unos y otros se encuentran íntimamente conectados
(Pareja-Eastaway et al., 2007).
Los factores soft son un elemento esencial en la atracción y retención de
talento en Barcelona. Dos aspectos de los mismos deben tenerse en cuenta,
por un lado, aquellos factores que son propios de la localización geográfica
de la ciudad (clima, proximidad al mar, etc.), sin capacidad alguna para que
sean modificados y, por otro, aquellos que son el resultado del histórico estímulo
que han recibido las actividades culturales en un sentido amplio (Pareja-Eastaway et al., 2010).
Fuente: Encuesta ACRE 2007
Fig. 3 – Factores que contribuyen a la satisfacción proporcionada por la RMB
a trabajadores creativos y del conocimiento.
Fig. 3 – Determinants of the level of satisfaction with the Barcelona Metropolitan
Area among creative and knowledge workers.
En Barcelona, el grado de satisfacción que manifiestan los trabajadores
creativos y del conocimiento con la ciudad no dependen tanto de los aspectos
que apuntan las hipótesis basadas en unos jóvenes creativos móviles a nivel
global atendiendo al reclamo de las ciudades, buscando aquellos elementos
que estimulan su talento y creatividad, como de los factores network o rela-
144
Montserrat Pareja-Eastaway
cionales que para ellos representan los activos más valorados en relación a la
satisfacción que proporciona trabajar y vivir en la ciudad, más allá del binomio
hard-soft planteado habitualmente por la teoría (Florida, 2000). Entre estos se
encuentran elementos conectados con sus trayectorias personales y su arraigo
en el entorno (fig. 3).
Tal y como se puede apreciar en el gráfico, no existen grandes diferencias
según la edad de los entrevistados. Son precisamente los factores que se revelan como determinantes los vinculados al haber nacido en la ciudad, tener
familia o amigos viviendo ahí o el poder disfrutar de las redes sociales y
profesionales que ofrece la ciudad de Barcelona. En cambio, los llamados
factores soft – atmósfera, tolerancia, diversidad cultural etc. –, son, en términos relativos, los menos valorados.
Sin embargo, aquellos que proceden de otros países y se instalan en la
ciudad de Barcelona para vivir y trabajar reconocen en ella un lugar ideal para
vivir; la belleza de la ciudad, su dimensión humana, la amplia oferta de actividades de ocio y cultura, la herencia cultural del pasado – con la arquitectura
como puntal – y la proximidad a zonas cercanas al mar y a la montaña son,
entre otros, algunos de los aspectos más valorados (Pareja-Eastaway et al.,
2010).
V. LA CAPACIDAD DE BARCELONA PARA REINVENTARSE
Uno de los componentes centrales en la competitividad urbana es la
capacidad de transformación de las ciudades ante los nuevos retos económicos. En este sentido, en las postrimerías del siglo XX, las ciudades han tenido
que hacer frente a una terciarización económica drástica que ha supuesto su
transformación radical desde una especialización en producción industrial
hasta ciudades de consumo. Sin embargo, la suerte que han corrido las ciudades en este proceso de transformación no ha sido el mismo: existen en cada
ciudad elementos propios que favorecen una transformación, más o menos
favorable, que a su vez les permite retener (y mejorar) su capacidad competitiva. En principio, parece razonable afirmar que aquellas ciudades con
recursos inherentes vinculados a la creación de conocimiento se encontrarían
en mejor punto de partida que aquellas con lagunas apreciables en estos
aspectos y dificultades visibles en su proceso de adaptación al nuevo entorno
(Crossa et al., 2010).
En cualquier caso, la reinvención de una ciudad se atribuye usualmente a
la capacidad que la ciudad tiene para combatir problemas desarrollando nuevas
trayectorias económicas, reorientando su especialización urbana, identificando
objetivos de futuro, re-escribiendo el discurso oficial y consiguiendo renovar la
confianza del ciudadano en la acción pública (Braithwaite y Levi, eds, 1998).
Esta capacidad se encuentra íntimamente vinculada a las acciones asumidas por
determinados actores y, en especial, por las intervenciones públicas al respecto.
Construyendo la Barcelona creativa
145
La reinvención urbana en definitiva muestra mayoritariamente una aproximación
top-down al futuro.
Barcelona y su región metropolitana son un ejemplo evidente de transición
hacia la Nueva Economía: de una especialización altamente industrial se ha
transformado en un territorio en el que la creatividad y el conocimiento son
clave para el desarrollo económico. Existen ciertos aspectos que han favorecido
esta transformación, en particular, la existencia de un tejido industrial previo
diversificado que ha servido de base para la emergencia de una economía creativa y del conocimiento (Trullén, 2001). Sin embargo, el papel director y de
liderazgo de las instancias públicas, principalmente el Ayuntamiento de Barcelona
y privadas, sobretodo del Plan Estratégico de la Región Metropolitana de Barcelona, ha resultado esencial en el buen desarrollo del proceso.
1. La promoción y el desarrollo urbano vinculado al evento
Barcelona presenta una cierta tradición en la utilización de la celebración
de eventos a escala internacional para beneficiarse de las sinergias positivas
generadas al respecto y haciendo de ello una oportunidad para resolver ‘temas
pendientes’ de la ciudad. Mientras que la Exposición Universal de 1888 consiguió
rehabilitar y recuperar la zona próxima a puerto y a la vieja ciudadela, la Exposición de 1929 se propuso reconvertir los usos de la montaña de Montjuic. Del
mismo modo, los Juegos Olímpicos de 1992 suponen el catalizador necesario
para la mejora del transporte urbano a través de la construcción de las Rondes
– vías de circunvalación alrededor de la ciudad – junto con la construcción de
dos barrios de nueva creación, la Vila Olímpica de Horta y de Poblenou. La
celebración del Fórum de las Culturas en el año 2004 permitió que la ciudad se
dotara de nuevos equipamientos en una de las pocas áreas aún por urbanizar,
fronteriza con Sant Andreu.
Aunque la celebración de eventos aporta una parte ciertamente visible en
la renovación urbana de ciertas áreas, también se acompaña de un ideario que,
tal y como se ha mencionado anteriormente, señala los elementos fundamentales en la definición de la ´receta´. Antes de la celebración de los Juegos
Olímpicos, Barcelona necesitaba darse a conocer en el mundo: su acervo cultural, sus posibilidades de transformación institucional en un nuevo contexto
democrático y su capacidad productiva eran, entre otros, los ejes de ésta estrategia. Para ello era necesario invertir grandes cantidades de dinero público
para mejorar y desarrollar unas débiles y obsoletas infraestructuras que permitieran mejorar la conectividad. Los Juegos Olímpicos legitiman estas inversiones y en poco tiempo, Barcelona salta a la arena internacional de la
competitividad urbana con un fuerte respaldo institucional que apoya a la
ciudad a través de un perfecto ejercicio de venta de su imagen (Benach, 1993).
Este fenómeno junto con la proliferación de vuelos low cost contribuye al
asalto turístico masivo de la ciudad, generando tanto efectos negativos como
positivos en Barcelona.
146
Montserrat Pareja-Eastaway
Buena parte de los logros conseguidos durante las Olimpiadas (i.e. mejores
infraestructuras, popularidad, dinamismo cultural) fueron utilizados más tarde
como ejes en la estrategia de “vender” la ciudad al mundo. Otros acontecimientos que hicieran avanzar a la ciudad como la celebración del Fórum de las
Culturas en el año 2004 quebrantó la simbiosis perfecta entre lo público, lo
privado y lo colectivo que había caracterizado los Juegos Olímpicos Sin embargo,
buena parte de la transformación del final de la Diagonal se debe a dicho
evento.6
2. La emergencia de una nueva gobernanza: más allá del modelo
Barcelona
La organización de los Juegos Olímpicos se basó en un liderazgo público
fuerte y en un consenso colectivo alrededor del proyecto. El modelo Barcelona,
basado en una eficiente gestión pública y en la utilización de la regeneración
urbana como instrumento con un doble fin, tanto en su resolución de problemas
urbanos pendientes como en la mejora del atractivo de la ciudad, se convirtió
en ejemplo a seguir para otras ciudades (fig. 4).
El sistema de gobernanza resultante a raíz de la organización de los Juegos
estaba basado en un liderazgo fuerte por parte municipal y en un consenso
político puntual alrededor del proyecto. Es importante subrayar las circunstancias
específicas que rodean el proceso y que atañen de forma única a la ciudad de
Barcelona en ese momento; la democracia reciente, el entusiasmo de los primeros ayuntamientos democráticos, la participación ciudadana activa del momento
y el papel crítico jugado por ciertos arquitectos son, entre otros, unicidades no
transferibles del modelo. De ahí que la transferibilidad del modelo no siempre
ha resultado posible o igualmente exitosa (Calvita y Ferrer, 2002).
La vigencia del Modelo en la actualidad ha sido y aún es, ampliamente
discutida con defensores y detractores por igual (Montaner, 2003; Capel, 2005;
Balibrea, 2006). Aspectos que en su día no fueron tenidos en cuenta como la
proliferación del turismo de masas, la llegada repentina y masiva de la inmigración o retos de la sostenibilidad fuerzan a un replanteamiento del Modelo.
De los elementos que quedan como legado para la ciudad de ese Modelo,
tres aspectos resultan particularmente interesantes para la Barcelona creativa del
siglo XXI: el planeamiento estratégico, el fuerte liderazgo y la implicación de
actores de la sociedad civil – asociaciones empresariales, sindicatos o agrupaciones de ciudadanos, son algunos ejemplos.
El planeamiento estratégico para la ciudad de Barcelona y su entorno metropolitano resulta uno de los puntos fuertes para su desarrollo a largo plazo. La
definición de estrategias alrededor de objetivos consensuados a través del debate
6 Barcelona no cesa en el intento: en Enero de 2010 se ha anunciado su candidatura para la
celebración de los Juegos Olímpicos de invierno en el año 2022.
147
Construyendo la Barcelona creativa
y la discusión implicando tanto a agentes públicos como privados ha permitido
el establecimiento de prioridades previamente negociadas. Así, la orientación de
la ciudad hacia la economía del conocimiento o la creatividad no es producto
de la casualidad sino de apuestas escogidas a priori.
GESTIÓN
Eficiente organización y calidad
Profesionalidad en la gestión
CONSENSO
CONFIANZA
Gobernanza
GOBIERNO
ARRAIGO EN LA CIUDADANÍA
Pluralismo y transparencia
Proximidad, participación,
concentración: liderazgo como
catalizador
Visión estratégica
LEGITIMIDAD
Fuente: Basado en Monclús, 2003.
Fig. 4 – Síntesis del Modelo Barcelona.
Fig. 4 – Summary of the Barcelona Model.
La inclusión de otros actores más allá del sector público en todas sus instancias ha sido también una de las herencias diferenciales del Modelo Barcelona7.
Los modelos de parteneriado público-privado han sido referente para nuevos
proyectos como por ejemplo, la renovación del frente marítimo Norte y, en
particular, la creación del nuevo distrito digital del 22@ (Pallarès-Barbera y
Casellas, 2009). En ellos es indiscutible el fuerte papel de liderazgo ejercido por
el Ayuntamiento de Barcelona. Uno de los puntos fuertes a añadir resulta la
capacidad de adaptar el papel de líder a las circunstancias cambiantes tanto del
entorno como del marco económico global. La flexibilidad en la ejecución y en
la integración de nuevos elementos a lo largo de los proyectos se convierte en
un factor diferencial de otros papeles de liderazgo (Barber y Pareja-Eastaway,
2010).
7 Del total de inversión que supusieron los Juegos Olímpicos, alrededor de 8.000 millones
de euros, un 32,7 % fue financiado por empresas privadas y el resto (67,3%) por el sector público
(Estado, 33,9%; Generalitat de Catalunya, 15%; Ayuntamiento, 10,5%).
148
Montserrat Pareja-Eastaway
VI. LA ESTRATEGIA DE APOYO A LA CREATIVIDAD Y LA CULTURA
La Agenda de Lisboa (2000) claramente identifica el desarrollo de la economía del conocimiento y la creatividad como máximo objetivo para el año
2010: “convirtiéndose la UE en la economía mundial más competitiva y dinámica
basada en el conocimiento, capaz de generar un crecimiento sostenible, con más
y mejores lugares de trabajo y una mayor cohesión social” (Agenda de Lisboa,
2000: 3).
El sector cultural es uno de los ejes centrales de la agenda local de la
ciudad de Barcelona vinculado a la planificación estratégica (Manito, 2008).
Desde las instancias municipales de la ciudad de Barcelona existe el convencimiento de que las políticas creativas benefician no únicamente a las industrias
creativas sino al total de la estrategia competitiva de la ciudad, Barcelona se
considera como producto cultural en sí mismo siendo cultura y creatividad uno
de los ejes fundamentales de influencia en el panorama urbano, económico y
social (Informe COMPETE, 2008).
Barcelona apuesta por la cultura y los sectores creativos como vía de acceso
a la economía del conocimiento, sin menospreciar su capacidad de generación
de valor añadido y dinámica económica, reconociendo asimismo su papel de
motor de desarrollo, por encima de otros sectores económicos. En este sentido,
son muchos los esfuerzos para conseguir remediar uno de los puntos débiles del
sector, esto es, identificar su dimensión precisa y contribución real al crecimiento
económico de Barcelona en particular y de Catalunya en general. En el año
1999, ve la luz el Llibre Blanc de la Cultura a Catalunya elaborado por la
Generalitat de Catalunya, antecesor del Llibre Blanc de les Indústries Culturals
a Catalunya publicado el año 2003, bajo la dirección de Lluis Bonet y como
consecuencia inmediata de la creación del Institut de les Indústries Culturals de
Catalunya el año 2002. Posteriormente, la Cámara de Comercio, Industria y
Navegación de Barcelona presenta en el 2005 un estudio completo sobre el
sector El sector cultural a Catalunya. Múltiples indicadores se elaboran en el
año 2006 con el objeto de conocer en profundidad las principales magnitudes y
estadísticas de la economía de la cultura en Catalunya, Indicadors i estadístiques
culturals a Catalunya, culminando en la primera revisión del Plan Estratégico
de la Cultura para la ciudad de Barcelona en ese mismo año.
Todas las reflexiones que surgen de estos documentos constatan la importancia del sector cultural como base para el desarrollo de diversas actividades
creativas así como la necesidad de mejorar y reforzar los ejes de su competitividad. Además, uno de los elementos a subrayar es la importancia del contexto
empresarial y de calidad de vida en el qué se desarrollan las industrias culturales en Barcelona, y ello especialmente por su capacidad de atracción de inversión
extranjera hacia la ciudad.
La necesidad de reforzar el tejido industrial creativo “a través del diálogo,
nuevos fondos, y ayuda renovada a la exportación de productos culturales y
asegurar la presencia en el mercado nacional” (Bonet, 2002) se manifiesta tanto
Construyendo la Barcelona creativa
149
a instancias de Comunidad Autónoma8 como de Ayuntamiento. En particular, la
estrategia de apoyo a las industrias creativas llevada a cabo por el Ayuntamiento
de Barcelona se basa en cinco pilares (Informe COMPETE, 2008):
Incrementar el valor añadido creativo a aquellas industrias tradicionales que
reflejan un elevado componente cultural y económico pero que ocupan un segundo
lugar en cuanto a peso específico en la ciudad.
Cooperar con el sector privado a través de iniciativas en las que los esfuerzos
conjuntos representen un mutuo beneficio.
Facilitar la conexión entre las diferentes realidades culturales, iniciativas y
empresas creativas de la ciudad.
Compartir el riesgo con el sector privado a través de apoyo directo o ideando
nuevos instrumentos financieros (i.e. fondos de capital riesgo).
Internacionalizar la ciudad a través de la atracción de profesionales creativos.
Otros estudios (Pareja-Eastaway et al., 2009) señalan la relevancia de la
educación como motor de cambio, que atrae y crea talento, generando el capital
humano necesario para el desarrollo económico próspero de la ciudad.
Tal y como señala Mascarell (2006), las políticas públicas en Barcelona
“otorgan un papel central a personas, entidades, empresas proyectos públicos y
centros educativos que generen contenidos, ideas, servicios y productos innovadores y de alto valor añadido” (Mascarell, 2006: 5). La ciudad debería reforzar
el potencial de las industrias creativas y culturales como contribuidoras al crecimiento económico, intensificando la relación entre los sectores públicos y
privados, fomentando las iniciativas que favorezcan el surgimiento de la creatividad (fig. 5). Todo ello sin menoscabo de la importancia de integrar a la ciudadanía (incluyendo a la población inmigrada) en este proyecto de ciudad,
dibujando una cultura cívica compartida.
Desde el año 2008, el Ayuntamiento de Barcelona ayuda a la reconversión
de espacios públicos de tradición fabril en laboratorios de creación artística. Esta
estrategia aúna el esfuerzo de recuperar el pasado histórico industrial con la
voluntad de estimular la capacidad creadora de los artistas en Barcelona.
La gestión de estos espacios es diversa, existen “fábricas” con una autogestión
por parte de aquellos que utilizan el espacio (i.e Hangar – http://www.hangar.
org/drupal/) así como ejemplos en que la gestión se mantiene en manos del Ayuntamiento (i.e. Fabra i Coats).
Esta experiencia innovadora ha sido también puesta en marcha por otras
ciudades como Ámsterdam, Berlín o Marsella. Este tipo de espacio altamente
flexible facilita todo tipo de transformaciones adecuándose sin excesivo esfuerzo
a múltiples usos.
8 En el Año 2000 se crea el Institut de les Indústries Culturals en el seno del Departament
de Cultura de la Generalitat de Catalunya.
150
Montserrat Pareja-Eastaway
El apoyo institucional a esta iniciativa permite crear las condiciones oportunas para superar las dificultades que entraña el alto crecimiento del precio del
suelo, tanto para aquellos que quieren acceder a su uso como para aquellos que
se plantean su conversión en otro tipo de uso mucho más rentable como el
residencial.
Fig. 5 – Fábricas para la creación (Fàbriques per a la creació).
Fig. 5 – Creative factories.
VII.CONCLUSIONES
Barcelona es una ciudad creativa. No solo lo dicen aquellos que viven y
trabajan en ella sino también los que forman parte del entramado público y
privado que conforma su sociedad civil.
Este artículo se plantea la identificación de los condicionantes o pre-requisitos para considerar a Barcelona como ciudad ‘creativa’. Tanto el sustrato
económico, social y cultural de la ciudad como la iniciativa liderada por las
instancias públicas suponen uno de los factores diferenciales propios de la ciudad. La especialización flexible en la diversidad de las empresas de la RMB
favorece la transformación de los sistemas de producción tradicionales en aquellos que incorporan la creatividad como factor esencial en la cadena de valor.
Las formas de creación cultural y las industrias culturales tienen un arraigo
histórico en la ciudad y proporcionan parte de los elementos que contribuyen al
atractivo de la ciudad. De ese modo, Barcelona muestra una presencia elevada
de los factores de localización soft que representan una de las razones por las
que muchos trabajadores creativos desean vivir y trabajar en la ciudad. Sin
Construyendo la Barcelona creativa
151
embargo, son los factores network vinculados a las trayectorias personales y
profesionales de los trabajadores creativos el elemento más importante que explica
la presencia de los mismos en la ciudad.
Una de las características particulares de la ciudad es su capacidad para
reinventarse ante la necesidad de adecuarse al contexto económico cambiante y
la presencia de nuevas realidades como la inmigración o la exigencia de un
desarrollo sostenible. La iniciativa local no es ajena a este proceso; las instancias
públicas en Barcelona han utilizado parte del acerbo cultural para la creación
de una determinada imagen de ciudad que ha favorecido sin duda a buena parte
de las actividades económicas instaladas en la ciudad. Además, el planteamiento
estratégico de largo plazo ha posibilitado la definición de objetivos y especializaciones estables de crecimiento. El liderazgo del municipio ha sido determinante
así como su capacidad para adaptarse a las necesidades de los nuevos actores
creativos presentes en la ciudad.
Sin embargo, algunos de los retos conseguidos – poner a la ciudad en el
ranking de las ciudades europeas – han generado efectos externos no deseados
(i.e. la presencia de turismo masivo) que no ayudan a la identificación del imaginario colectivo de aquellos que viven en Barcelona con la voluntad municipal.
La apuesta por la atracción de un determinado tipo de conocimiento, creativo y
altamente cualificado debe complementarse con elementos de intervención pública
que reafirmen el objetivo de la cohesión social.
agradecimientos
Este artículo has sido posible gracias a mi participación en el proyecto ACRE (Accommodating
Creative Knowledge – Competitiveness of European Metropolitan Regions within the Enlarged Union)
financiado por el 6º Programa Marco de la UE y al trabajo del resto de miembros del equipo ACRE
en Barcelona.
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CREACIÓN DE IMAGEN, VISIBILIDAD Y TURISMO
COMO ESTRATEGIAS DE CRECIMIENTO ECONÓMICO
DE LA CIUDAD
Antònia Casellas1
Esteve Dot Jutgla1
Montserrat Pallares-Barbera1
Resumen – El objetivo de este artículo es analizar como el crecimiento económico de Barcelona desde mediados de los años noventa se ha basado en la producción
de una economía de servicios avanzados, en el que las estrategias de creación de
imagen y el turismo han jugado un papel primordial. En este proceso destaca el papel
promotor de macro-eventos como los Juegos Olímpicos de 1992, los cuales han sido
herramientas de cambio del modelo económico de Barcelona; y se identifica la importancia de la colaboración público-privada y la planificación estratégica. Se analiza el
impacto económico del turismo para la ciudad en el periodo 1990-2010, y se concluye
con una reflexión en torno a las implicaciones sobre el espacio público que esta
estrategia de crecimiento conlleva.
Palabras clave: Barcelona, turismo, desarrollo económico, espacio público,
marketing.
Resumo – Criação
de imagem , visibilidade e turismo .
Estratégias de
O objectivo deste artigo é analisar o crescimento económico de Barcelona, desde meados dos anos 90, baseado numa economia de serviços avançados, onde as estratégias de criação da imagem e a
dinamização do turismo tiveram papel primordial. Neste processo destaca-se o papel
promotor de macro-eventos, como os Jogos Olímpicos de 1992, ferramentas para a
mudança do modelo económico de Barcelona, salienta-se a importância da colaboração público-privada e da planificação estratégica e analisa-se o impacto económico
do turismo para a cidade no período de 1990-2010. Conclui-se com uma reflexão
em torno das implicações sobre o espaço público que esta estratégia de crescimento
encerra.
crescimento económico com futuro?
Palavras-chave: Barcelona, turismo, desenvolvimento económico, espaço público,
marketing.
Recebido: 12/01/2010. Aceite: 13/07/2010.
1 Departamento de Geografía. Facultad de Filosofía y Letras, Universitat Autònoma de Barcelona. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]
154
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
Abstract – Image creation, visibility and tourism. Growth strategies for
The aim of this paper is to analyse how Barcelona’s economic growth
since the 1990s has been based on the production of advanced services, in which
image creation and tourism have played a key role. In this context, we emphasise the
role played by macro-events, such as the 1992 Olympic Games, which have brought
about important changes to Barcelona’s economic model, and we highlight the importance of public-private partnerships and strategic planning. Additionally, we analyse
the economic impact of tourism upon the city in the period 1990-2010, and we conclude with some reflections on the implications upon public space entailed by this
growth strategy.
the future?
Key words: Barcelona, tourism, economic development, public space, marketing.
Résumé – Création d’image,
visibilité et tourisme comme stratégies de
croissance économique de la ville.
L’objectif de cet article est d’analyser comment
la croissance économique de Barcelone à partir de la moitié des années 1990 s’est
basée sur la production d’une économie de services avancés, au sein de laquelle les
stratégies de création d’image et le tourisme ont joué un rôle primordial. Dans ce
processus émerge l’importance de la promotion de macro-événements comme les Jeux
Olympiques de 1992, lesquels sont considérés comme outils de changement du modèle
économique de Barcelone. S’identifient également ici la collaboration public-privée
et la planification stratégique. L’article analyse l’impact économique du tourisme dans
la ville durant la période 1990-2010, et propose une réflexion sur les implications de
l’espace public entraînées par cette stratégie de croissance.
Mots clés: Barcelone, tourisme, développement économique, espace public,
marketing.
I.
INTRODUCCIÓN
Desde la década de los noventa, la industria turística se ha convertido en
uno de los fenómenos de transformación de la ciudad de Barcelona que mayor
impacto ha tenido tanto a nivel económico como urbanístico y social. El objetivo
de este artículo es analizar como el crecimiento económico de Barcelona se ha
basado en la producción de una economía de servicios avanzados, en el que la
visibilidad y la promoción del turismo han jugado un papel primordial. En este
proceso destacan el papel promotor de macro-eventos como los Juegos Olímpicos de 1992, los cuales han sido herramientas de cambio del modelo económico
de la ciudad.
La terciarización de la economía de Barcelona se hace evidente al observar
la creciente importancia del sector servicios dentro de la economía local. En el
año 2008, el sector servicios, que incluye el turismo, pasó a englobar el 79,2 %
de los ocupados en Barcelona. Al mismo tiempo la industria ha reducido su
aportación al empleo, al ocupar el 13,8% de los asalariados (CESB, 2009). La
aportación del turismo al PIB municipal fue en el año 2008 aproximadamente
del 10% del total. Se considera que el turismo generó 65.000 puestos de trabajo
Creación de imagen, visibilidad y turismo
155
directos en Barcelona. Los turistas representaron el 65% de las visitas a los
principales museos de la ciudad, exposiciones temporales y permanentes (Turisme
de Barcelona, 2010).
Este proceso de sustitución de la industria por los servicios/turismo es un
rasgo común en muchas economías occidentales (Sassen, 2006). Sin embargo
el caso de Barcelona merece especial atención por un grupo de factores. En
primer lugar, el proceso de transformación urbanística y de imagen de la ciudad
ha despertado interés en numerosas ciudades, especialmente en Europa y Latinoamérica, siendo ampliamente promovido desde la institución local y analizada
por el sector público y el ámbito académico internacional. En segundo lugar, la
visibilidad alcanzada por la ciudad desde los Juegos Olímpicos sitúa la experiencia de Barcelona como caso emblemático de proyección internacional a
través de un macro-evento. De hecho, este es un caso excepcional, ya que a
pesar de que los macro-eventos son utilizados ampliamente como mecanismos
de creación de imagen y promoción económica, numerosas experiencias en otras
ciudades cuestionan el nivel de éxito de la estrategia. En tercer lugar, el modelo
turístico de Barcelona plantea, al mismo tiempo, un reto importante sobre el uso
del espacio urbano y las características de los servicios de la ciudad, ya que
incrementa el porcentaje e intensidad de los usos del suelo dedicados al consumo
turístico. Ello implica la necesidad de reequilibrar tensiones que se puedan
producir entre las necesidades turísticas y las de la población local. Por último,
la importancia ganada por el sector turismo en Barcelona también implica un
reto a la hora de buscarle alternativas o complementos en un periodo de nuevo
ciclo económico.
Para dar respuesta a estas cuestiones, el presente artículo contextualiza, en
primer lugar, la experiencia de Barcelona a través de una breve revisión de la
literatura entorno a la importancia de la creación de imagen y visibilidad como
estrategia de desarrollo urbano. A continuación se analiza cómo la celebración
de los Juegos Olímpicos en 1992, la cooperación público-privada y la planificación estratégica han contribuido al desarrollo de la industria turística de la
ciudad. El tercer apartado se centra en presentar el impacto económico de esta
actividad y su vinculación, en cuanto a la importancia en proyección internacional, a otros sectores de nueva economía. A continuación se discute cómo la
presencia turística ha influido en el uso del espacio público y los retos sociales
que implica. Finalmente se concluye con una reflexión sobre el futuro de la
industria en un periodo de nuevo ciclo económico.
II. IMAGEN, VISIBILIDAD Y TURISMO COMO ESTRATEGIA DE
DESARROLLO LOCAL
El esfuerzo por crear una imagen de ciudad atractiva como estrategia de
desarrollo local no es un fenómeno nuevo. Ward (1998) analiza con detalle como
en el siglo XIX la estrategia de “vender un espacio” jugaba ya un papel central
156
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
en la promoción de los nuevos enclaves de la frontera Norteamericana. Así
mismo, las ciudades han gozado históricamente de atributos que las hacen atractivas como destinos turísticos. Como señala Law (1993), dada su amplia población e infraestructura, las ciudades atraen visitantes por numerosos motivos,
incluyendo visitas a amigos, familiares, por razones de negocio, servicios y ocio.
La fácil accesibilidad a través de las infraestructuras de transporte también les
aporta una ventaja comparativa respecto a otros posibles destinos más remotos.
Sin embargo, a pesar de estas ventajas estructurales, hasta los años ochenta del
siglo XX pocas ciudades dedican políticas concretas a la promoción turística.
Esta falta de interés en políticas específicas para el desarrollo de la industria
turística se reflejaba también en el escaso interés académico, ya que hasta esta
fecha los estudios académicos eran pocos y fragmentados (Edwards, Griffin y
Hayllar, 2008).
Es a partir de los años ochenta cuando la creciente competencia entre ciudades para atraer inversores y actividad económica impulsa una fuerte rivalidad
en la que la percepción sobre las ciudades, y más en concreto, la imagen mental que se genera sobre ellas se convierte en un componente importante del futuro
éxito o fracaso económico de una urbe (Ashworth y Voogd, 1990; PallaresBarbera, 2010). Este enfoque, en el que los componentes culturales y de imagen
empiezan a considerarse relevantes, aporta nuevas perspectivas sobre desarrollo
local, ya que hasta esta fecha, fruto de las teorías de los polos de crecimiento
de Perroux (1961), las estrategias de crecimiento económico habían girado en
torno a la idea de potenciar el conjunto industrial local imbricado alrededor de
una industria central y exportadora.
Inicialmente, ciudades europeas centran su nueva estrategia de promoción
en el aspecto cultural. La motivación de los agentes públicos para la utilización de la cultura como estrategia de desarrollo se centra en la posibilidad
de generar desarrollo económico local a la vez que se ayuda a la promoción
de la ciudad. Con un cambio de imagen que produce un impacto positivo
tanto en la atracción de nuevos residentes y empresas como turistas. Como
ilustra el libro de Bianchini y Parkinson (1993), la regeneración económica
en Europa en los años ochenta en ciudades altamente deterioradas por la
desindustrialización se basa en gran medida en la utilización de la cultura
como estrategia de renovación económica y urbanística. El estudio de caso
de 8 ciudades medias europeas ejemplifica la interrelación entre desarrollo
cultural y regeneración urbana en casos dispares, desde los antiguos centros
industriales de Glasgow, Hamburgo y Bilbao, a centros académicos y regionales de Bolonia y Montpellier.
La creciente importancia de los servicios avanzados en las economías locales a partir de los años noventa incrementa la importancia de la cultura local y
la imagen como herramienta de promoción, en la medida en que se considera
que los trabajadores altamente cualificados prestan especial atención a cuestiones
de calidad de vida en sus decisiones de localización (Krueger y Gibbs, 2007).
Así, influidas por la investigación de Richard Florida (2002 y 2005), numerosas
Creación de imagen, visibilidad y turismo
157
políticas de promoción económica de ciudades occidentales acogen la idea de
clase creativa como herramienta de desarrollo.
En su esfuerzo por posicionarse internacionalmente en un contexto de
globalización económica, las ciudades dedican especial atención a las políticas
de promoción económica local. Como apuntan Ross y Levine (2005) este es un
fenómeno que se hace muy evidente en ciudades norteamericanas. Sin embargo,
esta estrategia se extiende también a Europa, donde paulatinamente las políticas
urbanas acaban siendo sinónimo de política de desarrollo y crecimiento económico, trasladándose el énfasis desde las tradicionales políticas de empleo y
planificación a las políticas de innovación y competitividad, tanto a nivel global
(Jessop, 2002), como en el caso de Barcelona (Casellas, 2007). En esta dinámica,
la industria turística se afianza como motor de la economía local.
Uno de los retos en la promoción turística de una ciudad es la consolidación
de una imagen atractiva como destino turístico en un ámbito muy competitivo.
Estudios sobre marketing de ciudades enfatizan que a menudo las campañas
publicitarias para atraer visitantes e inversores reflejan las preferencias y gustos
dominantes de los grupos de turistas, inversores o negocios que se pretende
atraer, más que las características de la ciudad en concreto (Holcomb 1993,
1994). En líneas generales, temas comunes de promoción urbana se centran en
las ventajas de la localización geográfica de la ciudad, su conectividad a otros
centros urbanos, su dinamismo económico y cultural, su calidad de vida y medioambiente. En este contexto, la creación de imagen se hace difícil porque ciudades diversas compitiendo por el mismo tipo de clientes se promocionan con
características similares (Balibrea, 2001, 2006). Un aspecto crucial para conseguir especificidad internacional es obtener singularidad propia gracias a la
visibilidad de un macro-evento que “sitúe la ciudad en el mapa”. En el caso de
Barcelona, este punto de inflexión lo ofreció el éxito organizativo y promocional
que supuso la organización de los Juegos Olímpicos de 1992.
III. LOS JUEGOS OLÍMPICOS, LA COOPERACIÓN PÚBLICO-PRIVADA
Y LA PLANIFICACIÓN ESTRATÉGICA: EJES ESTRUCTURALES DE
CAMBIO
Un breve repaso a la historia reciente de los juegos olímpicos muestra como
en numerosas instancias la celebración de este macro-evento no implica el reconocimiento global de una ciudad, sino la crítica, a veces, internacional. Numerosos factores pueden enturbiar la imagen positiva que se intenta difundir. Una
breve lista de ellos incluye, un diseño inadecuado de las instalaciones, una
deficiente organización del evento, la retirada de patrocinadores, los costes
sociales de la gentrificación producida por la demolición de viviendas y el desplazamiento de residentes, un elevado déficit público, los boicots políticos, el
déficit democrático del país organizador, los ataques terroristas y los problemas
de seguridad, y el posterior deterioro e inutilización de la infraestructura depor-
158
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
tiva, entre otros (Tomlinson, 1999; Lenskyj, 2002; Preuss, 2004; Payne, 2005).
La amplia difusión de los medios de comunicación de la represión política en
China, de las dificultades de Atenas para finalizar su infraestructura olímpica, o
de la mala organización del evento en Atlanta2 ejemplifican los retos de promoción que suponen los juegos.
Sin embargo, y a pesar de las incertidumbres que el evento genera, los
juegos se perciben como una oportunidad única de impulso de la ciudad. El caso
de Barcelona puede interpretarse como un ejemplo paradigmático de éxito en
marketing de ciudad. Al mismo tiempo la celebración del evento muestra la
posibilidad de regeneración urbanística que los Juegos implican, en la medida
en que más del 80% del total de inversión se dedicó, en el caso de Barcelona,
a proyectos urbanos e infraestructura no ligada a espacios deportivos (Varley,
1992; Brunet, 1995; Gold y Gold, 2008).
A nivel de gobernanza local, los Juegos en Barcelona ofrecen la primera
clara necesidad de colaboración público-privada en la ciudad (Raventós, 2000).
La organización del evento permite al sector público diseñar unos objetivos de
transformación urbanística a gran escala, pero para ello la administración necesita la inversión del sector privado. A su vez, el sector privado reconoce la
posibilidad de asegurarse las inversiones a través de su participación activa en
los proyectos. El reconocimiento de la mutua necesidad entre agentes del sector
público y privado en Barcelona abre la posibilidad de cooperación y reciprocidad
mutua en la ciudad. Esta cooperación se afianzará en los años siguientes como
consecuencia del éxito de los Juegos y la planificación estratégica (Casellas,
2006).
La planificación estratégica ha sido una de las medidas en política local
más difundidas, y que mayor interés ha generado, bajo el concepto del “Modelo
Barcelona”. El primer Plan Económico y Social se inicia a mediados de los años
ochenta, en el contexto de la reforma urbanística entorno a la organización de
los Juegos Olímpicos. Como ya se ha apuntado, los Juegos suponen el pretexto
para ejecutar en un corto plazo de tiempo una gran reforma urbana a escala de
ciudad (Maragall, 1999). Para ello era importante planificar de forma coordinada.
El primer plan estratégico se aprobó en 1990. A éste le siguieron el segundo
plan, aprobado en 1994, y el tercero, aprobado en 1999. Es importante destacar
que, a pesar de que la planificación estratégica en Barcelona se ha planteado
como ejemplo participativo dada la presencia de amplias capas de la sociedad,
de hecho las comisiones, aunque amplias en el número de participantes y sec-
2
En 1992, al finalizar los juegos en Barcelona, el comité organizador de los juegos en Atlanta,
ACOG en su acrónimo en inglés, publicitaba que se comprometía a organizar los mejores juegos
olímpicos de la historia. Para ello Atlanta mejoraba sus sistemas de infraestructuras de transporte y
hotelero, mientras garantizaba la total seguridad durante la celebración. Sin embargo, poco después
de la inauguración del evento, los medios de comunicación internacionales y nacionales ironizaron
ampliamente sobre el fracaso de la organización, y el acrónimo ACOG pasó a ser identificado como:
“Atlanta cannot organize the games”.
Creación de imagen, visibilidad y turismo
159
tores implicados, han estado compuestas por técnicos y especialistas. Los planes
se hicieron públicos a la ciudadanía a través de conferencias y seminarios, en
los que los asistentes pudieron hacer contribuciones con críticas y sugerencias
(Marshall, 1990; Casellas, 2003).
El éxito de la planificación, en la medida en que ha permitido generar un
proceso de diálogo entre intereses de la administración y los agentes económicos,
y la necesidad de considerar un espacio económico y social funcional más amplio
que el estrictamente delimitado por el municipio, conducen a la aprobación en
el 2003 del Primer Plan Estratégico Metropolitano de Barcelona (PEMB), el
cual integra 36 municipios que conforman el área metropolitana. Tanto en los
tres anteriores planes locales, como en el plan metropolitano, se hace especial
énfasis en la importancia de la cooperación público-privada.
Fruto de la importancia de la cooperación entre el sector público y privado
se generan en Barcelona a partir de principios de los noventa numerosos instrumentos de promoción internacional de la ciudad. Estos instrumentos son de
carácter sectorial, ya que se basan en el fomento específico de determinados
sectores económicos – digital, universitario, logístico, biomédico, y turístico,
como los más significativos. Todos ellos son mixtos, porque aúnan los esfuerzos
y recursos del sector público y privado.
Para capitalizar la promoción de la imagen generada por los Juegos, en
1992 el Ayuntamiento, la Cámara de Comercio Industria y Navegación de Barcelona, y la agencia privada de promoción Barcelona Promoción comisionan un
plan estratégico de turismo para la ciudad. El Primer Plan Estratégico de Turismo
de Barcelona es aprobado en 1993. La comisión de asesores del plan implicó a
treinta expertos representantes de diecinueve sectores, incluyendo congresosferias, deportes, diseño, cultura y universidades. La comisión concluyó que la
ciudad tenía un alto potencial para convertirse en un destino turístico atractivo
si los recursos presentes eran maximizados y si nuevos productos eran desarrollados en un futuro inmediato (Pla Estratègic de Turisme, 1994). Los objetivos
del primer plan estratégico de turismo incluirán la propuesta de los rasgos de
organización y financiación de una agencia para ejecutar las estrategias de promoción. Siguiendo estas recomendaciones, la nueva agencia público-privada,
Consorci de Turisme de Barcelona (CTB), entra en vigor en enero de 1994.
El CTB está organizado en un consejo general presidido por el alcalde de
la ciudad; un comité ejecutivo que integra vocales del Ayuntamiento, Cámara
de Comercio de la ciudad y la fundación privada de promoción turística; y un
director general. El director administrativo de CTB a finales de los años noventa,
Ignasi de Delàs (1999), indicaba que los objetivos iniciales del consorcio incluían
la consolidación del turismo existente, sobre todo el turismo que se vinculaba a
congresos y ferias, y la atracción de nuevo turismo, con especial énfasis en la
promoción de Barcelona como un destino vacacional. Con el fin de promover
Barcelona a nivel nacional e internacional como destino turístico, el CTB desarrolló en los años noventa seis programas, los cuales incluían los sectores de
comercio, convenciones, cultura y ocio, compras, atención al turismo y desarro-
160
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
llo del producto turístico. Alfonso Escolà (1999), miembro del departamento de
comercio del Ayuntamiento, aseguraba que para el período 1994-1998, en el cual
ya se podía valorar los resultados del CTB en la promoción de Barcelona, la
agencia había producido unos resultados excelentes.
Como empresa mixta, CTB combina la financiación de recursos públicos
con los privados generados desde el propio consorcio a través de la promoción
de productos turísticos (bus turístico, walking tours que ofrecen rutas guiadas a
pie, Barcelona card como tarjeta de descuentos para visitantes, entre otros). La
financiación pública se ha mantenido en aproximadamente 2 millones de euros
aportados por partes iguales entre el Ayuntamiento y la Cámara de Comercio,
desde la creación de la entidad. En el año 2008, con un presupuesto de 34,6
millones de Euros, la financiación generada desde la propia entidad representaba
más del 90% del total. El elevado porcentaje de recursos propios permite al
Consorcio presentarse como una entidad independiente que “se rige prioritariamente por criterios técnicos” (Consorci Turisme de Barcelona, 2009b: 7).
IV. EL IMPACTO ECONÓMICO DEL TURISMO Y EL NUEVO MODELO
DE CRECIMIENTO URBANO: BARCELONA “ON THE MAP”
A pesar de la importancia creciente del sector turismo para la ciudad, y
siguiendo una endémica falta de datos económicos desagregados a escala local
en comparación a países anglosajones, en España no existe un sistema estadístico
sistemático de recopilación de datos fiables sobre el impacto económico del
turismo a escala local, en términos de contribución al PNB, salarios y puestos
de trabajo. Estimaciones realizadas por CTB apuntan que, en el año 2008, el
turismo ocupó entre 80.000 y 100.000 personas y generó entre 7.000 y 8.000
millones de euros. Con un gasto de 20 millones de euros, la contribución de la
industria turística a la ciudad se había doblado respecto al 2001. El número total
de visitantes, tomando en cuenta los 6,6 millones que se alojaban en hoteles y
otros establecimientos turísticos, y aquellos que lo hacían en casa de familiares
o amigos, o no pernoctaban en la ciudad, situaban el número total de visitantes
en 18 millones.
Estos datos, aun con las limitaciones que implica para su análisis la falta
de series temporales y los problemas metodológicos en su recopilación, permiten identificar la importancia del turismo como sector económico de la ciudad.
De hecho, en el año 2005 la consolidación de Barcelona como destino turístico
se consideraba alcanzada y el turismo se afianzaba como un sector estratégico.
Joan Clos, alcalde de Barcelona en este periodo, afirmaba que los rasgos que
caracterizan Barcelona como ciudad atractiva eran: el carácter emprendedor, el
impulso decidido por la innovación, y la larga tradición comercial y de servicios
(Ajuntament de Barcelona, 2005). Ello le llevaba a afirmar que Barcelona se
situaba entre las ciudades más avanzadas de Europa. Los objetivos de futuro en
cuanto a promoción turística incluían atraer visitantes en calidad de turistas o
161
Creación de imagen, visibilidad y turismo
consumidores de ocio o cultura. Entre las propuestas con más futuro para la
industria turística se reconocían la proliferación y éxito de las compañías aéreas
de bajo coste, el aumento del parque hotelero de la ciudad, la fortaleza creciente
del turismo de reuniones, y el éxito de las tematizaciones como fórmula de
promoción – Año Internacional Gaudí 2002; Año del Deporte 2003; Fórum
Barcelona 2004; Año de la Alimentación, Cocina y Gastronomía 2005-2006;
Picasso Barcelona, 2006.
A finales de la década de los años 2000, el creciente número de visitantes
y pernoctaciones desde el periodo preolímpico reafirmaba el éxito de Barcelona
como destino turístico. El año record para el periodo 1990-2008 se situaba en
el 2007, según datos de CTB (2009a). Ello comportaba un nivel de crecimiento
turístico y proyección internacional que situaba Barcelona en el ranking de
ciudades más visitadas de Europa (cuadro I).
Cuadro I – Ranking de las principales ciudades turísticas europeas (Número de turistas).
Table I – Ranking of principal European tourist destinations (Number of tourists).
Ciudad
2006
2007
1
Londres (Gran)
26 600 000
25 450 000
3
Roma
11 158 447
11 607 000
2
4
5
6
7
8
9
10
11
París
Madrid
Barcelona
Berlín
Dublín
Ámsterdam
Munich
Viena
Praga
16 379 938
8 645 572
7 236 428
7 070 239
5 676 000
4 659 600
4 371 322
4 377 449
4 142 538
15 399 817
9 307 723
7 689 394
7 585 283
5 765 000
4 863 600
4 701 717
4 636 302
4 485 372
Variación %
2007 / 2006
-4,32
-5,98
4,68
7,66
6,26
7,28
1,57
4,38
7,56
5,91
8,28
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
Tomado como indicador el número de turistas en hoteles según nacionalidad (cuadro II), observamos la creciente internacionalización del sector para
el periodo 1990-2008, con una presencia muy significativa del turismo de
origen europeo. La estrategia promocional futura pasa, por tanto, por incrementar la atracción de la ciudad como destino turístico de viajeros procedentes de América del Norte, y abrirse tanto a países emergentes como China,
India, Brasil y Rusia con una creciente población con poder adquisitivo; como
a nuevos grupos demográficos, de los que destacan la tercera edad y los prejubilados.
162
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
Cuadro II – Número de turistas en hoteles según nacionalidad (%).
Table II – Number of tourists in hotels by nationality (%).
España
1990
1992
1994
1996
1998
2006
2008
--
39,0
44,1
41,4
45,8
51,0
50,9
6,1
9,6
7,0
5,4
9,0
9,0
8,2
51,2
Europa
Francia
43,7
7,3
Italia
Reino Unido e Irlanda
Alemania
8,8
4,1
6,8
38,5
11,0
7,0
10,2
17,0
19,2
8,9
9,0
8,1
7,0*
7,0*
2,1
2,2
1,6
2,0
13,0
EEUU/Canadá
5,9
5,0
Japón
2,6
4,5
3,9
Resto del mundo
5,8
--
2,0
--
100
6,8
13,4
6,8
Resto de América
7,0
29,2
11,5
7,0
4,6
1,8
100
8,8
11,1
30,0
13,0
7,0
--
8,7
37,8
8,8
3,4
Resto de Europa
36,9
5,1
3,8
6,7
100
6,7
3,2
3,5
100
5,0
4,0
6,0
100
5,2
4,7
2,0
6,2
100
*Sólo incluye EEUU.
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
Respecto a los objetivos propuestos a mediados de los noventa, centrados
en la consolidación del turismo existente vinculado a congresos y ferias, y a la
atracción de nuevo turismo vacacional, los datos estadísticos muestran la consecución de estas metas diez años después. El turismo por razones profesionales
aumentó a lo largo de este periodo en términos absolutos, pero respecto al total,
el porcentaje disminuyó significativamente, pasando de cerca del 70% en 1990,
a cerca del 51% en el año 2006 (cuadro III).
Cuadro III – Turistas según motivo del viaje, 1990-2008 (%).
Table III – Purpose of the visits, 1990-2008 (%).
Profesional
Vacacional
Personal y otros
Total turistas
1990
1994
1996
1998
2000
2006
2008
22,7
31,3
36,4
51,8
51,5
46,4
48,1
69,1
8,2
100
1 732 902
57,9
10,8
100
2 663 887
54,9
8,7
100
3 061 994
47,3
0,9
100
2 969 490
45,7
2,8
100
3 141 162
50,4
3,2
100
6 709 175
48,4
3,5
100
6 659 075
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
Este cambio de tendencia ha sido consecuencia del aumento espectacular
del turismo vacacional, que ha ganado importancia a partir de finales de los
noventa. Con respecto a la variable género, el porcentaje de hombres visitantes
163
Creación de imagen, visibilidad y turismo
respecto al de las mujeres también ha decrecido para este periodo, y si bien el
número de visitantes masculinos es todavía muy superior al de mujeres, la diferencia porcentual entre ambos sexos ha disminuido (cuadro IV). Estas variables
permiten argumentar que el turismo vacacional y familiar se ha ido afianzando
y ha ido ganando importancia, en el cómputo total de visitantes.
Cuadro IV– Turistas según género, 1990-2008 (%).
Table IV– Tourists by gender, 1990-2008 (%).
1990
Hombre 79,8
20,2
Mujer
100
1992
66,4
33,6
100
1994
65,9
34,1
100
1996
65,8
34,2
100
2000
59,5
40,5
100
2006
63,1
36,9
100
2008
60,2
39,8
100
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
A nivel de promoción turística, a finales de la década del 2000, el éxito de
la industria turística en Barcelona se identifica como resultado de la acción del
consorcio público-privado CTB, y la combinación de recursos turísticos diversos,
incluyendo la segmentación de la oferta turística en los sectores culturales, de
ocio y entretenimiento, compras, cruceros, congresos, convenciones y viajes de
incentivos. Entre los segmentos de mayor éxito se sitúa el de congresos (fig. 1).
Desde CTB se enfatizaba que el creciente número de visitantes ligados a congresos y ferias es el resultado del atractivo de la ciudad, la creciente oferta de
espacio y calidad de los centros de convenciones, las características del parque
hotelero y las estrategias de promoción del sector. Una de las estrategias clave
de la ciudad en cuanto a congresos ha sido el optar por el mercado internacional,
desmarcándose de la competencia generada a nivel nacional. Otro segmento con
un gran crecimiento es el ligado a cruceros, en el que Barcelona se consolida
como el mayor puerto en el Mediterráneo.
El escenario de crecimiento de la industria turística, con repercusiones
económicas positivas para la ciudad, ha tenido sin embargo implicaciones cuestionables a nivel de uso del espacio público. Los conflictos empezaron a manifestarse de forma acuciante a finales de la década de 2000. Respondiendo a las
críticas de ciertos sectores sociales, especialmente la prensa y representantes de
colectivos residentes en el centro urbano, en el año 2008 y bajo el liderazgo del
Ayuntamiento, el CTB inicia un nuevo proceso de reflexión para la elaboración
de un nuevo plan estratégico de turismo. De forma significativa, bajo el nombre
“Plan Estratégico de Turismo 2015 de la ciudad de Barcelona” el nuevo plan
introduce el componente ciudad, y por extensión, ciudadanía en su ámbito de
análisis.
Las implicaciones de un mayor uso del espacio urbano, tanto a nivel cualitativo como cuantitativo y las respuestas del nuevo plan son analizados en el
siguiente apartado.
164
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a)
Fig. 1 –Turistas y pernoctaciones en hoteles (1990-2008).
Fig. 1 – Number of hotel guests and overnight stays (1990-2008).
V. EL TURISMO Y EL ESPACIO URBANO Y SOCIAL:
CONSIDERACIONES, OPORTUNIDADES Y RETOS
El creciente énfasis en la promoción de la industria turística en ciudades
influye en el uso del espacio urbano en la medida en que se acrecienta significativamente el porcentaje de espacio público y productivo destinado al consumo
y la producción ligada al turístico. Centros históricos, marinas, parques, monumentos, edificios singulares e infinidad de museos se convierten en espacios
preferentemente turísticos (Gospodini, 2001). En el caso de Barcelona, la ciudad
revaloriza una amplia gama de su patrimonio urbano como producto turístico, a
través de una relectura del patrimonio monumental y urbanístico generado por
procesos políticos, sociales y económicos contradictorios a lo largo de su historia (Casellas, 2009). En este proceso, el centro histórico, o Barrio Gótico de
Barcelona, con su conjunto de arquitectura religiosa y civil “reinventada” a
mediados del siglo diecinueve (Ganau, 2008), se convierte a principios del siglo
veintiuno en una de las áreas más visitadas de la ciudad.
Como sucede en otras ciudades occidentales, a partir de la década de los
años noventa desde las políticas urbanas se genera en Barcelona una mayor
atención hacia lo cultural y simbólico como herramienta de crecimiento econó-
Creación de imagen, visibilidad y turismo
165
mico. Esta dinámica, definida como economía simbólica por Zukin (1992) implica
el reconocimiento de la capacidad del capital no-material o simbólico de influir
directamente en el desarrollo local a través de los incentivos que aporta al mercado laboral, inmobiliario, financiero o turístico, entre otros. Ello comporta una
nueva concepción del espacio urbano en la que el valor de cambio del espacio,
su valor monetario, se incrementa y, eventualmente, impera sobre su valor de
uso. Como consecuencia de esta nueva tendencia, el sector público en sus decisiones de inversión prioriza determinadas infraestructuras o proyectos que añaden visibilidad e imagen a la ciudad. En el caso de Barcelona, la cultura se
convierte en uno de los sectores más competitivos (Balibrea, 2006). En la medida
en que los recursos públicos son limitados, ello resulta en un detrimento de otras
posibles políticas de carácter más social, lo cual ha generado las críticas de
diversos colectivos a partir de finales de los años noventa.
Al interés del sector público en promover políticas de desarrollo económico
por encima de las tradicionales políticas sociales y laborales, se añade la presión
ejercida por el turismo sobre el espacio urbano del centro histórico de la ciudad.
La presencia masiva de turismo urbano concentrado en centros históricos es
común en ciudades que cuentan con un reconocido patrimonio artístico, cultural
y urbano como Venecia, Roma o París. Sin embargo, en el caso de Barcelona,
el polo de atracción turística que genera el centro antiguo es relativamente reciente
y es el resultado de la combinación de una serie de factores urbanísticos y
promocionales.
El distrito de Ciutat Vella es un área urbana central que, similar a otros
centros urbanos en España, sufrió un grave deterioro durante el periodo de la
Dictadura Franquista (1939-1975). En Barcelona, a la desinversión general a
nivel español en infraestructuras, servicios urbanos y mantenimiento del parque
de viviendas de este periodo, se debe añadir el deterioro causado por la alta
densidad poblacional del centro, la elevada concentración de población inmigrante
sin recursos económicos, el envejecimiento de la población y la grave problemática social y económica causada por la crisis de los años setenta (Ràfols,
1997; Fabre y Huertas, 2000). Dado el patrimonio urbanístico y simbólico de
este centro, tanto para Barcelona como para Cataluña y la amplia presencia
institucional y política en la zona, desde principios de los años ochenta y siguiendo
una estrategia de regeneración de espacios públicos por parte del Ayuntamiento
(Bohigas, 1985; Capel, 2007) se inició una intervención a gran escala dirigida
por el sector público, quién aplicó mecanismos especiales de gestión para la
rehabilitación integral de la zona.
Los mecanismos de gestión auspiciados desde el Ayuntamiento, y basados
en legislación urbanística aprobada por el gobierno central, incluyeron la cooperación interinstitucional entre administraciones a través de la creación de Áreas
de Rehabilitación Integrada (ARIs) en 1986; la creación de una Comisión Gestora del ARI con participación de las asociaciones vecinales en 1987; el diseño
de proyectos de reforma urbanística a través de Planes Especiales de Reforma
Interior (PERIs) para diferentes sectores; y la creación en el año 1988 de una
166
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
agencia público-privada encargada de todo el proceso de regeneración urbanística,
Promoció Ciutat Vella S.A., sustituida el año 2000 por la agencia Foment de
Ciutat Vella S.A.
Una de las actuaciones más importantes de esta regeneración urbana se realizó en el barrio de El Raval, colindante al Barrio Gótico, en el centro urbano de
la ciudad. Este barrio era el espacio más degradado urbanística y socialmente en
la ciudad a principios de los años ochenta. Su renovación se diseñó capitalizando
en el escaso patrimonio urbanístico y cultural de la zona norte del barrio. Siguiendo
esta estrategia, el primer plan diseñado por el Ayuntamiento a principios de los
ochenta se materializa con la creación de un cluster cultural, que incluye un centro cultural y de investigación sobre temas urbanos – Centre de Cultura Contemporánea de Barcelona (CCCB) inaugurado en 1994, y el Museo de Arte
Contemporáneo de Barcelona (MACBA) diseñado por Richard Meier y finalizado
en 1995. A este grupo cultural se le añaden centros universitarios y de investigación a finales de la década. Finalmente, la transformación morfológica más radical,
bajo el denominado Plan Central del Raval, tiene lugar en los noventa con la
demolición de 125 bloques de viviendas que afectaron a 1.384 apartamentos y 293
negocios en la zona más cercana al puerto. La reforma permitió la creación de
una nueva avenida y nuevos bloques de viviendas y negocios, incluyendo la construcción de un hotel ampliamente protestado por grupos de residentes que se
oponían al impacto visual del edificio y sus implicaciones sobre el tejido social y
económico del barrio (PROCIVESA, 2002; Casellas, 2003).
Como el caso del Pla Central del Raval ejemplifica, los procesos de transformación urbana en el centro histórico han ido acompañados de una revalorización del suelo, el cual ha supuesto un paulatino proceso de gentrificación, o
desplazamiento de antiguos residentes con pocos recursos económicos por nuevas capas sociales, especialmente parejas jóvenes sin hijos que valoran la posición central del barrio y su creciente oferta cultural y de ocio. El fenómeno de
la gentrificación afectó inicialmente a calles y espacios centrales del distrito de
Ciutat Vella a finales de los años noventa, y se extendió hacia gran parte del
tejido urbano de la zona durante la década del 2000. En la medida en que la
ejecución de numerosos planes de restructuración urbana dirigidos desde el
sector público esponjó el territorio, demolió manzanas de viejos edificios y creó
nuevos espacios orientados al ocio y el turismo la gentrificación del barrio creció. Sin embargo, el fenómeno iniciado en la década de los noventa y que se
auguraba muy intenso (Martínez, 2001), se vio mitigado como consecuencia de
la creciente presencia de población inmigrante a partir de finales de los noventa,
fruto del modelo de crecimiento económico español basado en creación de
puestos de trabajo no cualificados en construcción y servicios. Esta población
inmigrante se concentró en gran medida en el centro urbano (Pareja y Tapada,
2000) en un periodo en el que, a su vez, se acrecentó la presencia del turismo
y los servicios orientados a éste.
Los datos de visitantes a principales centros de interés revelan que la ciudad
en general, y especialmente ciertos edificios y museos emblemáticos del centro
167
Creación de imagen, visibilidad y turismo
se convirtieron en productos turísticos de gran atractivo (cuadro V). Otro polo
de atracción turística del centro lo forma el frente litoral, que empezó a recuperarse a mediados de los años ochenta, y que sufrió una transformación radical
en el contexto de los Juegos Olímpicos de 1992, con la creación de nuevas
marinas, playas y barrios residenciales colindantes al tradicional barrio obrero
de La Barceloneta (Bohigas, Buchanan, Magnano Lampugnani, 1991; Martorell,
Bohigas, Mackay, Puigdomenech, 1992; Mackay, 2000).
Cuadro V – Número de visitantes a los lugares de interés (1994-2008).
Table V – Visitor numbers of places of interest (1994-2008).
1994
1996
1998
2000
2006
2008
Variación %
2008 / 1994
Sagrada Familia
700 000
874 865
1 094 015
1 420 087
2 542 070
2 731 690
390
Fundación Joan Miró
236 196
330 232
439 981
497 295
1 016 299
1 070 692
453
Museos y Centros Culturales
Museo Picasso
CCCB
CosmoCaixa Barcelona
Museo de Historia de la Ciudad
MACBA
Equipamientos de Ocio
Aquarium
Montjuic Poble Espanyol
Imax
Parque del Laberinto
711 103
250 394
419 709
168 876
--
822 674
373 208
408 706
229 921
240 059
1 000 368
323 523
255 628
143 490
289 035
1 026 549
378 145
1 234 454
351 426
1 330 171
377 567
187
150
262 561
2 008 312
2 608 985
173 098
474 315
660 200
275*
172 421
389 028
554 501
621
328
--
1 678 000
1 557 185
1 563 493
1 443 847
1 611 259
-4*
--
929 052
1 124 208
818 707
448 948
440 540
-53*
1 421 396
--
1 361 349
640 142
1 355 296
142 000
1 478 546
127 129
1 337 596
146 940
1 321 020
156 265
-8*
-76*
*La variación porcentual se calcula respecto el año 1996
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
La gran concentración de turismo en el centro de la ciudad ha generado
críticas entre grupos de población local que sufren alguna de las externalidades negativas que la actividad genera (polución acústica, masificación de
infraestructuras de transporte y espacios públicos, etc.). La fase de diagnóstico
del nuevo plan estratégico de turismo identificaba como problemas más acuciantes en el 2010, la congestión de espacios públicos, los problemas de
movilidad, la falta de control y regulación de numerosos apartamentos turísticos que proliferaron en el centro histórico, y la falta de profesionalización de
la industria que ofrecía bajos salarios y contratos precarios a muchos de los
trabajadores del sector (Pla Estratègic de Turisme de la Ciutat de Barcelona,
2008).
Junto a la necesidad percibida por los agentes promotores de la actividad
turística de mitigar la tensión surgida entre los ciudadanos y los turistas en la
primera década del 2000 – bautizada en algunos medios de comunicación como
“turismofobia” –, se unía la obligación de mantener y mejorar, en lo posible, la
opinión que los turistas tenían de Barcelona. En líneas generales, la ciudad
168
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
gozaba de buena reputación entre sus visitantes (cuadro VI). Entre los aspectos
más valorados se encontraba precisamente la ciudad en sí misma, es decir, las
características urbanísticas y arquitectónicas, junto a la oferta cultural y de ocio.
Entre los puntos más débiles se haya elementos de polución vinculados a la
estructura de ciudad compacta y el modo de vida mediterráneo, destacando la
contaminación atmosférica y los ruidos.
Cuadro VI – Opinión sobre diferentes aspectos de Barcelona, 1990-2008 (escala del 1 al 10).
Table VI – Survey on different aspects of Barcelona, 1990-2008 (on a scale of 1 to 10).
Oferta arquitectónica
Oferta Cultural
Ocio y entretenimiento
Carácter de los ciudadanos
Transporte Público
Infraestructuras
Señalización e información
Seguridad
Relación calidad/precio:
Restaurantes
Comercio
Hoteles
Contaminación:
Atmosférica
Ruidos
Limpieza general
Valoración global
1990
8,0
7,8
7,3
7,7
7,4
6,8
6,7
6,3
1992
8,3
7,7
7,4
7,4
7,1
6,3
6,5
6,2
1996
8,1
7,7
8,0
7,2
7,7
7,9
6,7
5,8
2006
8,5
8,2
8,0
8,0
8,1
-7,8
7,2
2008
8,6
8,3
8,0
7,6
7,8
7,9
7,9
7,1
6,7
6,8
6,2
6,7
5,7
6,4
7,3
7,3
7,3
7,6
7,8
7,3
7,7
7,7
7,6
-----
4,9
4,8
5,4
--
5,0
5,0
5,0
7,8
6,5
6,3
7,4
8,2
6,8
6,4
7,2
7,9
Fuente: Consorci Turisme de Barcelona (2009a).
VI. REFLEXIONES FINALES ENTORNO A LA “MARCA BARCELONA”
Aunque a diferencia de numerosas ciudades occidentales, Barcelona no ha
realizado nunca campañas promocionales importantes en soportes publicitarios
internacionales publicitándose como ciudad, de hecho, a través de su estrategia de
promoción sectorial, Barcelona ha conseguido crear, tal y como identifican los
agentes económicos y políticos locales, la Marca Barcelona (Homs, 2010). Esta
marca viene asociada a una imagen internacional de ciudad innovadora, atractiva,
con calidad de vida y con amplio interés para diversos segmentos económicos y
turísticos (Ajuntament de Barcelona, 2005). La internacionalización de su turismo
a finales de la década del 2000 permite afianzar la importancia económica del
sector, tanto para Barcelona como para España, ya que con el 70% de turismo de
origen extranjero, la industria actúa como sector exportador.
Creación de imagen, visibilidad y turismo
169
El éxito de las estrategias de la industria turística a corto-medio plazo en
Barcelona a principios de la década del 2010 depende tanto de factores exógenos
como endógenos a la propia ciudad. Como factores exógenos se perfilan como
importantes la evolución de la crisis económica iniciada en el 2007 en países
desarrollados y emergentes de los cuales provienen los turistas; y las limitaciones que implican los posibles futuros retos energéticos, especialmente la posibilidad de un incremento del precio del petróleo con su efecto negativo en
empresas de transporte tanto aéreo como marítimo. De entre los factores endógenos cabe destacar las tensiones que se generan entre las necesidades turísticas
y las de la población local. Por un lado, un modelo de ciudad orientado al
crecimiento del sector turismo puede comportar, entre otros, la necesidad de
ampliación del aeropuerto y la creación de hubs aéreos; al igual que una mayor
presencia de infraestructuras y servicios turísticos. A estas necesidades se debe
contraponer la capacidad de decisión de la clase política catalana y de la ciudad,
con un poder limitado sobre decisiones de inversión y gestión de infraestructuras como el aeropuerto; pero, también y de forma muy especial, de la voluntad
de la población local de aceptar una creciente presencia de turistas y de infraestructuras, y servicios asociados a ellos.
Sobre este último punto, y con el objetivo de mitigar las externalidades
negativas sobre áreas turísticas muy congestionadas como son el centro urbano
y algunos monumentos específicos vinculados al modernismo y Gaudí, el nuevo
Plan Estratégico de Turismo 2015, se plantea la necesidad de establecer mayores
límites territoriales a la Marca Barcelona y una redistribución de destinos dentro
de la ciudad (Ajuntament de Barcelona, 2005; Homs, 2010). Para ello se trabaja
con el objetivo de identificar amenidades ubicadas en barrios periféricos, y en
poblaciones y espacios de la región metropolitana, e incluso a escala catalana.
Así mismo, se apunta a la necesidad de mejorar la situación laboral del sector,
actuando para fomentar un marco normativo que ampare la calidad en la contratación y las relaciones laborales. Finalmente, se hace especial énfasis en la
necesidad de crear una conciencia positiva en el ciudadano sobre la aportación
del sector turístico a la ciudad. El éxito de estas medidas dependerá de la capacidad de la ciudad de reestructurar el sector turístico, pero también, de la dinámica de la económica internacional.
Otro aspecto que preocupa, con respecto a la seguridad de los turistas, y
que no ha sido tratado abiertamente, dado los efectos negativos que producen a
la imagen positiva, es lo que eufemísticamente se tipifica de “pequeños hurtos”.
Un breve repaso a la red permite encontrar numerosas páginas de visitantes y
entidades públicas y privadas aportando recomendaciones sobre como protegerse
de los numerosos hurtos que los turistas sufren especialmente en el casco antiguo, las estaciones de trenes y autobuses, las playas y el metro. Este es un
problema que no se ha afrontado abiertamente y que genera un gran malestar
entre las victimas, cuyo número es muy difícil de cuantificar, porque en el caso
de que no se pierdan documentos importantes, muy a menudo, se opta por no
denunciar el hurto.
170
Antònia Casellas, Montserrat Pallares-Barbera e Esteve Dot Jutgla
A principios de la década del 2010, la ciudad de Barcelona afronta el reto
de mantener su nivel de éxito promocional ante los dilemas generados por la
posible saturación del sector turístico, y la incertidumbre entorno a la capacidad
de la economía española e internacional de superar la crisis económica a corto
plazo. El futuro de la economía en Barcelona, y de su sector turístico en particular, no puede disociarse de estos factores.
AGRADECIMIENTOS
El presente artículo se integra dentro del Subprograma Ramón y Cajal del Ministerio de Ciencia e Innovación con la referencia RYC-2008-02456 y del Programa General de Investigación y
Desarrollo del Ministerio de Ciencia e Innovación. Referencia SEJ2006-04023.
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EPÍLOGO
¿EN QUÉ HA FALLADO BARCELONA?
Horacio Capel1
Las profundas transformaciones que ha experimentado Barcelona durante
las últimas tres décadas la han convertido en objeto repetido de estudio. En los
últimos años la experiencia urbana barcelonesa ha sido también atentamente
observada en Lisboa, tal como señala Margarida Queirós en la introducción del
presente número de Finisterra. En ella se alude asimismo al prestigio de la
experiencia de Barcelona y al eco de algunas de las políticas que se han aplicado:
la construcción de espacios de calidad, la apertura al mar, el papel asignado a
la cultura, la inversión pública en la ciudad, la proyección de la imagen internacional y su función para atraer inversiones internacionales, el papel de la nueva
arquitectura, y otros. Por eso mismo, se miran también hoy atentamente las
limitaciones de dicha experiencia barcelonesa.
La pregunta “¿En qué ha fallado Barcelona?”, podría hacerse mejor de una
forma impersonal: “¿Qué se ha hecho mal en Barcelona?”. Pero seguramente
debería dirigirse, asimismo, hacia las responsabilidades: “¿Que han hecho mal
en Barcelona los políticos, los técnicos, los agentes urbanos o los ciudadanos
en general?”. Porque, después del éxito inicial, las críticas que se hacen hoy al
llamado “modelo Barcelona” muestran que algo ha debido de hacerse mal y, por
esa razón, se debe dirigir la atención hacia los protagonistas y hacia las consecuencias de las políticas aplicadas.
La invitación que me han hecho las editoras de este número de Finisterra
para que redacte un artículo de conclusión o epílogo, me lleva a reflexionar sobre
estas cuestiones, aprovechando para ello trabajos recientes, algunos publicados
en la revista Scripta Nova y Biblio 3W de la Universidad de Barcelona.
La atención que presta Finisterra a Barcelona no es la primera vez que se
le dedica, y está justificada también por el hecho de que esta ciudad y Lisboa
tienen rasgos geográficos similares y, sin duda, procesos de modernización que
son semejantes en muchos aspectos, como tuvimos ocasión de discutir con
Recebido: 20/10/2010. Aceite: 10/11/2010.
1 Professor Catedrático de Geografia Humana da Universidade de Barcelona.
E-mail: [email protected]
174
Horacio Capel
ocasión del Coloquio Barcelona-Lisboa durante el XXVII Encontro da Associação
Portuguesa de História Económica e Social celebrado en Lisboa en 20072.
Aprovecharé la oportunidad que ahora se me brinda para tratar de avanzar en la
búsqueda de una nueva forma de realizar el urbanismo y la ordenación territorial,
a partir del diálogo y la participación, continuando una reflexión ya iniciada, y
que ha sido objeto de debate en el XI Coloquio Internacional de Geocrítica, que
se celebró en Buenos Aires en mayo de este año3.
I.
NUMEROSOS ACIERTOS
Desde las primeras elecciones municipales democráticas realizadas después
de la Dictadura, en 1979, Barcelona ha estado gobernada por ayuntamientos de
izquierdas, en una alianza de socialistas (Partit dels Socialistes de Catalunya, PSC),
antiguos comunistas (Iniciativa per Catalunya, IC) y, eventualmente, republicanos
nacionalistas de izquierdas (Esquerra Republicana de Catalunya, ERC). El balance
que se realice ha de tener en cuenta, sobre todo a estos políticos y a los técnicos
que han colaborado con ellos, como responsables de la política municipal. Aunque
también deberíamos incluir en el análisis a otros agentes urbanos, como a los
empresarios (grandes y pequeños, tradicionales y modernos…); asimismo al movimiento vecinal y a la misma ciudadanía, es decir, con ellos, a todos los actores
urbanos: los que como habitantes de Barcelona nos movemos en el teatro de la
ciudad, construido por otros. En este artículo de conclusión me limitaré a hacer
algunas consideraciones sobre los aspectos positivos y sobre las insuficiencias del
que fue llamado “modelo Barcelona”, centrando la atención en la política municipal y, por tanto, en la actuación de políticos y técnicos.
Durante varios años la valoración de la experiencia de Barcelona fue muy
positiva, y causaba admiración, al igual que el conjunto de la experiencia de
transformación de España tras la recuperación de la democracia. Las medidas
de reestructuración adoptadas por el gobierno socialista presidido por Felipe
Gonzalez permitieron mejorar las condiciones económicas y laborales. Téngase
en cuenta que la población ocupada en todo el país había pasado de 13,2 millones de personas en 1974 a 11 millones en 1984, y que la tasa de paro, que era
del 4 por ciento en 1975, ascendió a 14,3 por ciento en 1981 y al 21 por ciento
en 1984. Las medidas económicas gubernamentales, y las ayudas recibidas tras
la entrada de España en la Unión Europea en 1986, permitieron mejorar la
situación, aumentando la población ocupada, que llegó a ser de 16,1 millones
en 2001. En el campo del urbanismo, el gobierno del Estado adoptó igualmente
2 Véase el número extraordinario de Scripta Nova dedicado a “Globalización y modernización
urbana: Lisboa y Barcelona” (1 de agosto de 2009, nº 296 <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-296/sn296.htm>).
3 Número extraordinario de Scripta Nova, vol. XIV, nº 331, 1 de agosto 2010, <http://www.
ub.es/geocrit/sn/sn-331/sn-331.htm>; introducción al Coloquio en Capel 2010 a y b.
¿En qué ha fallado Barcelona?
175
medidas que impulsaron las actuaciones para la renovación de los centros históricos y la recualificación de las periferias urbanas.
En Barcelona, como en Madrid y otras ciudades españolas, los años 1980
fueron igualmente de gran dinamismo y de soluciones imaginativas, impulsadas
muchas veces por el movimiento vecinal, bien activo y organizado en aquellos
años, y por los ayuntamientos democráticos, a los que se incorporaron técnicos
bien preparados y con sensibilidad ante las reivindicaciones populares. En el
caso de Madrid, se ha recordado la importante presencia de las asociaciones
vecinales en la iniciativa de Remodelación de Barrios y en la elaboración de los
Programas de Acción Inmediata, así como su influencia en la orientación del
planeamiento, de la gestión municipal y, en definitiva en la transformación de
la ciudad: “una orientación fundamentalmente ética y sensible a los aspectos
sociales de las carencias”4.
En el caso de Barcelona, las actuaciones de mejora urbana fueron en la
misma dirección y dieron un gran prestigio a esta ciudad, hasta el punto de que
se pudo hablar de un “modelo Barcelona” que contribuyeron activamente a
difundir los mismos técnicos y políticos barceloneses5. De manera general, la
actuación de los sucesivos gobiernos municipales desde 1979 ha hecho a Barcelona más habitable y más atractiva, ha conseguido una buena imagen internacional de la ciudad, ha aumentado la dotación cultural así como los espacios
públicos. Deben ponerse igualmente en el haber del Ayuntamiento el esfuerzo
por mejorar la periferia, la erradicación final del barraquismo, la recuperación
de los interiores de manzanas del Ensanche para mejorar la dotación de áreas
verdes en ese sector, la creación de jardines, las áreas reservadas para que los
vecinos puedan estacionar en el barrio, o la limitación del uso de automóviles
privados ensanchando las aceras y disminuyendo el área de circulación para,
como ahora se dice, “pacificar el tráfico”.
Algunas de las actuaciones fueron especialmente destacadas. Entre ellas, la
intervención en el centro histórico de Barcelona y las estrategias de rehabilitación
urbana, las operaciones para la mejora de los barrios periféricos populares, la
realización de planes sectoriales integrados en un proyecto de transformación
amplia, o la creación de nuevas centralidades6. Numerosos estudios han valorado
positivamente las actuaciones en transporte público realizadas en Barcelona y
en el Area Metropolitana, señalando la eficiencia del servicio, su coste relativamente bajo para los usuarios, y la integración de tarifas, aunque se hayan señalado, asimismo, déficits en la planificación conjunta del territorio y del transporte
metropolitano (Cebollada y Avellaneda, 2008, Cebollada y Miralles 2010 (en
este número).
4 Sobre las transformaciones en Madrid debe consultarse la obra dirigida por Ramón López
de Lucio 1999; la frase citada, en el prólogo de Fernando de Terán p. 12.
5 Borja 1995; sobre el eco de este modelo en diferentes países, Marshall 2000 y 2004.
6 Los rasgos esenciales de las transformaciones urbanísticas han sido bien presentadas por
Joan Busquets, que fue uno de sus protagonistas (Busquets, 2004, cap. IX).
176
Horacio Capel
Durante este periodo, además, el ayuntamiento de Barcelona expresó su
voluntad de realizar una política de izquierdas. Lo cual se reflejó en algunas de
las medidas tomadas; por ejemplo en una decidida política de inversión en los
barrios populares periféricos; o en la intención de realojar en el mismo barrio
a los afectados por las intervenciones de remodelación en Ciutat Vella, voluntad
que fue explícitamente formulada y aplicada a aquellos que eran propietarios de
sus viviendas o tenían contratos de arrendamiento (lo que pudo dejar fuera a
quienes carecían de algún tipo de documento legal, razón por la que dichas
intervenciones fueron también criticadas).
No son pocos los autores que recorriendo Barcelona ven en la ciudad el
éxito de las políticas urbanas, y perciben que se supo “hacer ciudad” (Queirós,
2009). Sin duda tienen razón en su apreciación, ya que han sido numerosos los
aciertos de la política municipal de Barcelona, en las últimas tres décadas.
II. LAS VOCES CRÍTICAS
Sin embargo, desde fines de los años 1980 empezaron a oirse voces críticas
sobre las políticas municipales, en relación con diversos frentes de actuación. Uno
de ellos, las mismas intervenciones en el centro histórico de Barcelona (López
Sánchez, 1986; Heeren, 2002), o las políticas para facilitar la construcción de
vivienda social, consideradas insuficientes. Las críticas aumentaron durante la
década de 1990 y, especialmente, en relación con la celebración del Forum de las
Culturas en 2004. En algunos de los actos que el mismo Forum organizó los
participantes hablaron ya abiertamente del fin del consenso urbano sobre Barcelona,
que se había construido en la lucha para la recuperacion de la democracia7.
Los excesos en la propaganda del llamado “modelo Barcelona” empezaron
a provocar reacciones contrarias en algunos lugares, y llegaron incluso a ser
motivo de irrisión. En 2002, en plena crisis económica en Argentina, un grupo
de periodistas de Buenos Aires fundaron un periódico quincenal cuyo título
resulta bien expresivo: “Barcelona una solución europea para los problemas de
los argentinos”. Su éxito fue espectacular, ya que realiza una feroz parodia de
las noticias de la prensa, y todavía tiene miles de fieles lectores porteños que lo
esperan en los quioscos cada quince días8.
En los años siguientes se hicieron explícitas gran número de críticas a dicho
‘modelo’, por parte de geógrafos, arquitectos, antropólogos, sociólogos, histo7 Ejemplos en Andreu Acebal (2008), con testimonios de intervenciones de Josep Ramoneda
y de Jordi Borja, que advertían del riesgo de ruptura del modelo Barcelona por la fuerza de la iniciativa y los intereses privados, del urbanismo de promotores y negocios, frente a la debilidad de la
administrción municipal y de la alternativa del urbanismo ciudadano y redistributivo.
8 El periódico puede consultarse en <http://www.revistabarcelona.com.ar/>. He dedicado un
comentario a dicho periódico en La Veu del Carrer, número correspondiente a noviembre 2010, en
publicación.
¿En qué ha fallado Barcelona?
177
riadores y periodistas9. En los países iberoamericanos, donde la influencia de
los consultores catalanes había sido muy grande, se levantaron también voces
críticas que señalaron que ese proyecto de ciudad implica – como escribió Carlos B. Vainer, de una forma tal vez excesiva “la directa e inmediata apropiación
de la ciudad por intereses empresariales globalizados y depende, en gran medida,
de la expulsión de la política y de la eliminación del conflicto y de las condiciones del ejercicio de la ciudadanía”10.
Especialmente activo fue el movimiento vecinal barcelonés, que desde
fines de los años 1980 había tenido un proceso de distanciamiento respecto al
ayuntamiento, que, por su parte, se consideraba único exponente de la legalidad democrática y desconfiaba de dicho movimiento. El cual, a su vez, empezó
a recelar del ayuntamiento por sus alianzas con el capital internacional 11. Como
resultado de ello se produjeron diferentes movilizaciones sociales en relación
con problemas diversos, y se rompió el consenso ciudadano que había existido
en la década de 1980. La Federación de Asociaciones de Vecinos de Barcelona
(FAVB) y su órgano la revista La Veu del Carrer – ejemplamente dirigida por
Andrés Naya y, más tarde, también por Marc Andreu – adoptaron una actitud
crítica respecto al Ayuntamiento, que era un reflejo de dicho distanciamiento12.
Esto suponía un cambio de gran trascendencia, ya que las reivindicaciones
de los movimientos populares habían sido esenciales para la acción municipal.
Una exposición sobre “Cuarenta años de movimiento vecinales y de acción
vecinal en Madrid y Barcelona”, celebrada en mayo de 2010, ha mostrado de
forma clara la importancia de las movilizaciones que se realizaron13. En ella
aparecen unas doscientas reividicaciones y acciones ciudadanas planteadas en
ambas ciudades (100 en Barcelona y 80 en Madrid), sobre libertad y democracia, cultura e identidad de barrio, derecho de las mujeres y lucha por su reco9
Entre los geógrafos P. López Sánchez, 1993, Mª Dolors García Ramón y Abel Albet, 2000,
Horacio Capel (2005, 2006 – en respuesta a Bohigas 2005 –, 2007 y 2009), o Antònia Casellas,
2006; arquitectos como Javier Monclús, 2003, y Montaner, 2003, y 2004 a y b, y Montaner y Fava,
2008; el antropólogo Manuel Delgado (2007); sociólogos como Mónica Degen y Marisol García,
2008; historiadores del arte como A. Cócola, 2009, o de la literatura, Joan Ramon Resina, 2008;
periodistas como Marc Andreu Acebal, 2008. Recientemente se han publicado balances muy ponderados, entre los que destaca el libro de Jordi Borja, Luces y sombras del urbanismo de Barcelona,
2009.
10 Vainer, 2000 (la cita en p. 78; puede calificarse de excesiva por su falta de matiz respecto
a las intervenciones decididamente neoliberales de gobiernos municipales de derechas en otras ciudades), y Arantes, 2000, en especial p. 51-58.
11 Como ejemplo del tipo de críticas tempranas que se hicieron puede verse López Sánchez,
1992 y 1993.
12 La colección completa de La Veu del Carrer puede consultarse en línea en <http://favb.
cat/taxonomy_menu/2/4>
13 Se celebró en mayo de 2010 con el título Barcelona 40 Anys d’Acció Veïnal-Madrid, 40
años de Acción Vecinal, Puede verse en <www.memoriaveinal.org> y puede complementarse con la
consulta del nº 114 de La Veu del Carrer <http://favb.cat/pdfs/carrer_114/carrer114.pdf>, y el volumen de Quaderns de Carrer, nº 5 (Andreu, Fernández Naya y Prieto, 2010).
178
Horacio Capel
nocimiento, gente mayor, barraquismo, vivienda, planeamiento urbano, enseñanza,
deportes, sanidad, servicios públicos, movilidad, medio ambiente y sostenibilidad.
En la exposición se ve que en los años 1980 los movimientos populares pusieron
en marcha movimientos solidarios y fueron agentes de la construcción del tejido
social, a la vez que plantearon reivindicaciones ciudadanas que serían recogidas
por los gobiernos municipales democráticos de izquierdas instalados en Madrid,
en Barcelona y en otras ciudades españolas. Gracias a ellas se construyeron
equipamientos, se conservaron edificios significativos para la historia y la identidad de las ciudades, que han podido acoger centros cívicos o culturales, y se
propuso otro modelo de desarrollo más sensible a las necesidades de los ciudadanos14. Se trata de una historia que, como se dice en la sección madrileña de
la exposición antes citada, está llena
“de asambleas, de pegadas de carteles, de caminar calles y despachos; de
esfuerzos y sacrificios, pero también de conquistas y superación colectiva. Una
historia que da fe de la capacidad de las personas para transformar la realidad y
que se ha plasmado en nuestras calles con la creación de bibliotecas, parques,
centros de salud, paradas de metro… Mejoras materiales que el movimiento vecinal
ha arrancado a los poderes, a la par que contribuía a la conquista y desarrollo de
los derechos y reivindicaciones democráticas”.
El distanciamiento entre el movimiento popular y el ayuntamiento de Barcelona, creciente en los años 1990, se reflejaría en los resultados de las elecciones municipales. El número de concejales del PSC, que había sido de 20 en
1999, bajó a 15 en 2003, y descendió todavía a 14 en 2007. El nivel de abstención fue elevado, lo que puso de manifiesto el descontento con las medidas que
se había ido adoptando y la desconfianza ante los representantes políticos y los
gestores municipales. Representaba una puesta en cuestión del modelo de política urbana y económica seguido por el Ayuntamiento, y dio paso a propuestas
de carácter más general sobre la forma de gobernar la ciudad, con énfasis en la
participación15.
Al igual que sucede cuando una formación política experimenta una disminución drástica de votos, también en el caso de Barcelona los responsables
afectados asegurararon que habían entendido el mensaje de sus electores, y que
iban a cambiar de política; pero, en muchos casos, frecuentemente olvidan sus
buenos propósitos de forma muy rápida. Los concejos municipales que surgieron
en Barcelona de las elecciones de 2003, y luego de las de 2007, trataron de
14 Sobre las acciones de la Federación Regional de las Asociaciones de Vecinos de Madrid,
véase Andreu, Fernández, Naya y Prieto, 2010, p.373 y ss., y <http://aavvmadrid.org/>, y especialmente <http://aavvmadrid.org/index.php/aavv/quienes_somos>
15 Marc Andreu, 2008 ha recordado oportunamente la importancia del movimiento vecinal en
la aparición de la crítica al modelo Barcelona y recuerda que “el qüestionament del model de ciutat
per part dels moviments socials i, en concret, el veïnal és a principis del segle XXI gairebé tant
profund com al 1975”.
¿En qué ha fallado Barcelona?
179
enderezar la situación poniendo énfasis en recuperar el contacto con los ciudadanos, y prometiendo un cambio de política, que pondría más énfasis en el
bienestar social y la convivencia que en el urbanismo y los negocios; pero no
es seguro que hayan sabido convencer a los ciudadanos de la decisión inequívoca
para ello.
III. CRECIMIENTO ECONÓMICO Y NECESIDADES CIUDADANAS
La idea de que solo el crecimiento económico puede asegurar el bienestar
social afectó seguramente a las prioridades establecidas. En Barcelona se pensó
sobre todo en el marquéting urbano, en el mercado internacional, en hacer atractiva la ciudad para la inversión de capitales. Pero el Ayuntamiento no siempre
supo aunar la preocupación por las políticas de desarrollo económico y de promoción económica, de difusión de la imagen, o la puesta en marcha de megaeventos deportivos y culturales (como los Juegos Olímpicos y el Forum), por un
lado, y la provisión de servicios para los habitantes de la ciudad, por otro.
A ello se unió otro aspecto importante de la política urbana desde los años
1980, el énfasis en la colaboración público-privada, que se ha valorado como
decisiva en las transformaciones de Barcelona16. Sin duda dicha política generó
éxitos, en relación con los objetivos planteados. Pero la colaboración con distintos agentes urbanos privados, y especialmente con los agentes inmobiliarios,
no siempre ha sido bien controlada o gestionada, y ha podido tener también
consecuencias negativas17.
El modelo de desarrollo urbanístico apoyado en la colaboración entre el
sector público y privado no es históricamente desconocido en España, pero se
intensificó en los años 1980 y 90 por la influencia de las ideas neoliberales
difundidas desde el mundo anglonorteamericano, que acentuaron también las
consecuencias negativas para la igualdad social y para el medioambiente18. Se ha
señalado que es un modelo impropio de un gobierno de izquierdas, en el que a
veces el ayuntamiento prepara suelo e infraestructuras y los empresarios privados
construyen los edificios y obtienen los beneficios. En todo caso, esas políticas de
concertación se han de basar en una visión clara por parte del poder municipal,
en un liderazgo decidido, con la más absoluta honradez, en una posición de fuerza
frente a los agentes privados, lo que no es seguro que haya existido siempre en
Barcelona. Frente a la valoración del liderazgo municipal en los años 1980, hoy
16
Por ejemplo, por Casellas et al., 2010.
Denunciadas repetidamente por La Veu del Carrer, órgano de la Federación de Asociaciones
de Vecinos de Barcelona <http://favb.cat/taxonomy_menu/2/4> y por diversos autores (como los
citados en nota 12).
18 Véase, por ejemplo, Casellas, 2007, que alude en ese sentido a las críticas que se han hecho
a esas políticas en Estados Unidos, por ejemplo, por parte de autores como el historiador urbano
Marc Levine en sus análisis sobre Baltimore.
17
180
Horacio Capel
se repite que ha faltado tanto éste como la capacidad técnica para gobernar la
ciudad, especialmente a partir de los años 1990 (Clarós i Ferret, 2007).
El énfasis en la cooperación público-privada, alimentada por el ambiente
neoliberal que afectaba incluso al pensamiento de izquierdas, podía llevar a
valorar la externalización, la flexibilización, el llamado empresarialismo municipal. La descalificación de la gestión pública, tenía que ver también con dicho
ambiente neoliberal, agravado a veces en Cataluña por el sentimiento nacionalista
que llevaba a descalificar la administración pública y la legislación estatal; lo
que, en los años 1980, se debía, en ocasiones, al hecho de que se salía de un
Estado autoritario y, en otras, era pura y simplemente rechazo del Estado y
desconfianza en la gestión pública y en los funcionarios públicos, totalmente
injustificada en la mayor parte de los casos. A lo cual se unía el énfasis en la
eficiencia y, junto a ello, la tendencia a tratar a los habitantes del municipio
como clientes, en lugar de como ciudadanos.
El clima intelectual barcelonés facilitaba la apertura a las ideas exteriores,
y llevaba a mirar atentamente lo que sucedía en otras ciudades. Políticas urbanas
que se habían generado fuera se aplicaron tempranamente en Barcelona. Como,
por ejemplo, la realización de planes estratégicos (Ganau y Mallarach, 2003).
Las declaraciones sobre los objetivos y los propósitos de estos planes son atractivas, ya que muestran deseo de mejorar la ciudad y señalan los objetivos a
alcanzar, aunque a veces no pasen de ser simple retórica, por la dificultad para
gestionar y aplicar los consensos.
Esa misma apertura al exterior llevó a poner énfasis también en la importancia de los procesos de cambio hacia la ciudad postindustrial, en el nuevo
papel de la terciarización y en la cruda realidad de la competencia entre ciudades. No podemos criticar la carrera de las ciudades que compiten para situarse
en la escena mundial y para atraer el capital internacional, que es siempre es
útil, y a veces indispensable, para el crecimiento económico. Lo que se critica
es la forma como se ha hecho, y, concretamente en el caso de Barcelona, como
ha sido realizado por ayuntamientos de izquierdas.
El éxito de los Juegos Olímpicos de Barcelona en 1992, y las actuaciones
urbanas que se realizaron en la ciudad con ocasión de ellos, han sido mirados
atentamente por otras ciudades que los organizaron más tarde; y lo son ahora
por Rio de Janeiro, que prepara sus Olimpiadas para 2016. Sin duda, los Juegos
constituyeron una oportunidad para la realización de fuertes inversiones públicas
estatales y para transformaciones urbanas de gran importancia. Pero, frente a las
valoraciones entusiastas que, generalmente, se hicieron en su momento19, existen
también hoy nuevos balances críticos de la experiencia, que pueden ser útiles
con vistas a facilitar criterios para otras ciudades20.
19
Hubo también disensos, como muestra el trabajo de López Sánchez, 1991.
Como se ha hecho en el número 895 de la revista Biblio 3W dedicado a “Barcelona 1992Rio de Janeiro 2016: Juegos Olímpicos y movimientos populares”, que incluye un total de 25 artículos (Oliveira, Capel, Barbosa y Zaar, coords. y eds., 2010).
20
¿En qué ha fallado Barcelona?
181
Ha sido también muy valorada la construcción de infraestructuras que
tratan de facilitar la realización de congresos o grandes actividades culturales.
La posición internacional se refleja en la elección de Barcelona para reuniones
internacionales y su conversión en sede de agencias internacionales, como la de
la Unión por el Mediterráneo, la oficina de la Organización Mundial de la Salud
y otras.
La mejora de la imagen internacional de Barcelona, el incremento de su
atractivo cultural y el aumento del equipamiento hotelero han tenido consecuencias en la ciudad. Barcelona se ha convertido en un destino destacado, y un lugar
emblemático del ocio a escala mundializada, especialmente a partir de los Juegos Olímpicos de 1992. La cifra de turistas que visita la ciudad se ha incrementado de manera espectacular.
El efecto positivo del turismo sobre la economía de la ciudad es indudable.
Pero no deja tener asimismo consecuencias negativas: la oferta de vuelos baratos multiplica los viajes de corta duración para el consumo de alcohol o la fiesta
nocturna, y provoca congestión en las áreas centrales e irritación de los residentes. Al mismo tiempo, se va haciendo borrosa la distinción entre residentes y no
residentes, dado que hay nuevas figuras humanas presentes en la ciudad y que
son a la vez lo uno y lo otro; son visitantes, pero residen en la ciudad un tiempo
más largo que el turista tradicional y mantienen otro tipo de relaciones con ella
(Quaglieri & Russo, 2010; véase tamién Casellas, Pallarés y Dot Jutglá, 2010
(en este número)).
Sin duda muchas de las iniciativas tomadas en Barcelona son dignas de
examen, ya que van en una dirección que hace frente a las nuevas situaciones
que se plantean en las ciudades y en la economía mundial. Pero también deben
serlo las críticas que crecientemente se han ido haciendo.
Porque no todo se ha hecho bien. Que la carrera para situarse en la escena
internacional no tuviera en cuenta necesidades más urgentes de los ciudadanos,
que los recursos, siempre escasos, se aplicaran a inversiones que se consideraron
prioritarias por su repercusión internacional (Forum…) en lugar de a otras más
sociales y necesarias para los ciudadanos, debe ser motivo de reflexión. Necesidades vivamente sentidas, como la provisión de vivienda, la educación, la
convivencia o la cohesión social, no han sido suficientemente atendidas, según
han manifestado numerosos observadores21.
A pesar de los esfuerzos que se realizaron en los años 1980 para recualificar la periferia sigue habiendo diversas Barcelonas, que hoy todavía parecen
distanciarse más aún como consecuencia de la crisis económica. Algunos visitantes han percibido esa disociación, la existencia de varias Barcelonas y de
varios “modelos Barcelona”, varios procesos de fragmentación y degradación,
como resultado de la intensa evolución reciente y de la actuación de los procesos de globalización, y de enfrentamientos populares a las tendencias de mer21
Por ejemplo, Clarós i Ferret, 2007, Borja, 2009.
182
Horacio Capel
cantilización de la ciudad (Limonad. 2005, 2006 y 2007). La actual crisis
económica ha contribuido a agravar la situación, ya que la población de los
barrios populares se está viendo muy afectada por la caída de los ingresos,
mientras que los de mayores rentas no se ven afectados o incluso las aumentan;
la diferencia entre barrios ricos y pobres ha crecido, por ello, de forma acusada22.
IV. UNA ARQUITECTURA DISCUTIBLE Y UNA ESCASA
SENSIBILIDAD HISTÓRICA DE TÉCNICOS Y POLÍTICOS
Tal vez uno de los problemas que ha habido en Barcelona sea el excesivo
protagonismo de los arquitectos. A pesar de que muchos autores han ponderado
la arquitectura que se ha hecho en esta ciudad, y que se ha aludido también a
lo que se califica como “la integración entre la cultura arquitectónica y la identidad colectiva”, es discutible el protagonismo de esa arquitectura y su calidad.
Desde el punto de vista urbanístico parece que Barcelona no saber hacer
plazas. Ejemplos de actuaciones equivocadas pueden ser la plaza de las Glorias
o el parque central del Poblenou23. Entre los errores urbanísticos, la urbanización
progresiva de la montaña de Collserola – que solo en las últimas semanas parece
que se quiere corregir –, la artificialización del litoral, la ocupación creciente de
la montaña de Montjuic, y la falta de sensibilidad ante conjuntos de valor indudable, como el de barrio popular de casitas bajas de La Satalía, situado en la
falda de Monjuic, alegando que eso es conveniente para la ampliación del espacio libre en dicha montaña (que, al mismo tiempo, está siendo urbanizada en
otros sectores).
Se ha primado en ocasiones la arquitectura espectacular, desconectada del
contexto. Se construyen edificios poco o nada integrados en un entorno que
tiene, a veces, varios siglos de antigüedad. Hay muchos ejemplos de lo que no
debe hacerse: la arquitectura es con frecuencia banal (el calificativo es de los
mismos arquitectos) e incluso, irresponsable (por sus alardes técnicos costosos
e innecesarios), muchas veces está en escaso diálogo con el entorno en que se
construye (por decirlo suavemente utilizando una expresión muy cara a los
arquitectos): los ejemplos de arquitectura brutalista en el centro histórico de la
ciudad, o los edificios recientes de la plaza de España (el mismo hotel Plaza y
la nueva comisaría “ecológica”), pueden servir para confirmarlo.
22 “La desigualdad fractura a Barcelona (C. Delgado y E. Bedmar), El País, 25 de octubre
2010, Cataluña p. 1 y 3 (con un mapa de la renta familiar media por barrios); el artículo informa
de que “la renta cae un 18 por ciento en Can Peguera y sube un 3 % en Tres Torres”, y que “la
diferencia de renta entre barrios crece el 416 %”. De todas formas, hasta hace pocos años algunos
estudios parecían mostrar una disminución de la segregación residencial (Martori y Hoberg, 2004).
23 Sobre éste Clarós i Ferret, 2008.
¿En qué ha fallado Barcelona?
183
La impresión que se tiene – y que se puede corroborar en conversaciones
con los arquitectos o en sus escritos –, es que cada arquitecto piensa en su
edificio de forma autónoma, en términos de normas, de materiales y de funcionamiento, sin tener en cuenta, o sin considerar suficientemente, el espacio urbano
en que se levanta. La ciudad se va convirtiendo en una yuxtaposición de artefactos arquitectónicos, sin sentido del paisaje urbano en el que deben integrarse.
Es lo que ocurre con el hotel Barceló Raval, de doce plantas y 38 metros de
altura (que en el proyecto inicial se elevaba a 48)24, construido en la Rambla
Nova del Raval; o con actuaciones próximas como la nueva Filmoteca que se
inagurará en marzo de 2011. En este último edificio, que es una especie de
bunker de cemento, se intenta conseguir que todo se vea “tectónico y ligeramente
primitivo”25, una declaración que, unida a la visión de otros edificios que se han
construido o se construyen en el Raval y en el sector del Gótic, suscita dudas
sobre si ese es el tipo de construcción apropiado para un centro histórico
urbano.
Muchas veces se ha tratado de forma poco cuidadosa Ciutat Vella, un área
que, en su parte más antigua, tiene dos mil años de antigüedad. Ha habido
ausencia de un planteamiento global, y a veces se ha puesto énfasis en una
intervención puramente arquitectónica descontextualizada del ambiente en que
se levanta. Lo mismo sucede en otras partes de la ciudad, como en el Ensanche,
donde, a pesar de un plan de protección, encuentra unos edificios que parecen
buscar más el lucimiento del autor que la creación de un paisaje bello y agradable. Destruir el patrimonio histórico, borrar las huellas del pasado es un gran
error. Las ciudades sin memoria pierden su identidad. Esas destrucciones han
provocado un malestar urbano que es perceptible y que se expresa públicamente.
Y han dado lugar a movimientos vecinales que constituyen un factor de movilización y de integración.
La existencia de un Catálogo del Patrimonio Arquitectónico con 4.000
edificios protegidos, no ha bastado para la proteccción. Ha habido un insuficiente
cuidado de dicho patrimonio y carencias en lo que se refiere al patrimonio
industrial o a la vivienda popular, desigualdades en los niveles de protección
(que a veces solo exige una conservación parcial o autoriza intervenciones muy
agresivas y que desvirtúan el elemento catalogado), e insuficiencias en lo que
se refiere a los entornos de los edificios catalogados; e incluso la descatalogación,
por razones discutibles, de elementos protegidos26. No se ha tenido suficiente24
Forma parte de la reforma de la Illa Robadors, diseñada por el estudio Martorell-BohigasMackay <http://www.urbanity.es/foro/edificios-en-general-cat/1570-barcelona-hotel-barcelo-raval.
html>
25 Según se explica en el sitio web del taller de arquitectura al realizar el proyecto ejecutivo
en 2005 <http://www.plataformaarquitectura.cl/2010/05/08/en-construccion-filmoteca-de-catalunamateo-arquitectura/>
26 Entre los trabajos críticos que existen pueden citarse el Cataleg de la Destrucció del Patrimoni Arquitectónic del Centre Históric de Barcelona (1999) o los trabajos de Checa-Artasu, 2008
y de Tatjer, 2008.
184
Horacio Capel
mente en cuenta que, en relación con el estudio del patrimonio, se han desarrollado en la misma ciudad metodologías específicas para elaborar criterios
objetivos que permitan conocer, comprender y finalmente valorar este tipo de
patrimonio arquitectónico (Caballé, 2003).
A veces, una atención casi exclusiva al patrimonio más destacado ha hecho
olvidar o menospreciar el valor histórico y patrimonial de las viviendas y construcciones domésticas, que pueden tener gran interés. Por ejemplo, el que se
conserva de los siglos de la edad media y moderna. En los últimos años el
descubrimiento de restos arqueológicos del barrio de Ribera bajo el mercado del
Borne ha llevado a que algunos insistan en su conservación y musealización, lo
que ha paralizado las actuaciones para construir equipamientos en ese antiguo
mercado central de la ciudad, un valioso ejemplo de construcción con estructura
de hierro. Pero mientras esa batalla se libra, no se atiende suficientemente el
paisaje que se conserva todavía y los restos de la ciudad de la Edad Moderna,
que en algunos casos se van destruyendo sin misericordia. Y lo mismo sucede
con los edificios del siglo XIX que no siempre se aprecian debidamente.
Especialmente grave ha sido la desatención al patrimonio histórico industrial, con graves destrucciones en el Raval, la Villa Olímpica, el Poblenou y
en otras áreas27. No se trata solamente de una cuestión histórica y estética,
sino también de identidad y memoria, de continuidad de tradiciones industriales, de enraizamiento, y de posibilidades de utilizar dicho patrimonio para las
necesidades actuales28. Su destrucción, además de la pérdida de espacios de
gran interés formal, dificulta la comprensión del pasado de la ciudad. Como
han escrito los miembros del Grupo del Patrimonio Industrial del Forum de la
Ribera del Besós, su desaparición “convierte en dificilmente inteligible la
conformación de Barcelona como un gran polo urbano dinámico en la Europa
contemporánea”, lo que – añaden – “dificulta la construcción de una cultura
ciudadana y la percepción de las oportunidades colectivas de la metrópolis y
del país de cara al siglo XXI” (Clarós, Estrada, Tatjer, Roca, i Vilanova, 2005
– Presentació).
A veces, recintos fabriles aparentemente ‘obsoletos’ contenían talleres e
industrias competitivas, que quedaron afectadas por la calificación urbanística.
También podían servir para albergar a artistas que encontraban en las amplias
naves industriales espacios adecuados para sus actividades. Que haya creadores
que emigran a otras ciudades europeas por causa de la destrucción de esos
espacios industriales es lamentable, y podría haberse evitado con una adecuada
política urbanística. Un reciente artículo de la revista Barcelona Metrópolis,
editada por el Ayuntamiento, reconoce que varios artistas catalanes se han mudado
27
Sobre las destrucciones en el casco antiguo, véase Veïns en defensa de Ciutat Vella <http://
vdbv-defensemelpatrimoni.blogspot.com/>; sobre el sector donde ahora se levanta la Villa Olímpica,
Caballé, 2010; sobre Poblenou, las referencias que se dan en las notas siguientes.
28 Véase los estudios del Grupo de Patrimonio del Forum de la Ribera del Besós, y en especial los artículos publicados en Biblio 3W (sobre todo los nº 580, 581 y 598).
¿En qué ha fallado Barcelona?
185
a Berlín por ese motivo, y afirma que “quizás el fallo mayor fue permitir que
los grandes logros fueran mermando la capacidad de autocrítica y dejaran prevalecer un cierto autoritarismo”. Vale la pena reproducir la idea general de este
trabajo, que parece expresar el desencanto de muchos autores sobre lo que
suceden en Barcelona:
“Acaso ha llegado el momento de abandonar las tendencias globalizadas y la
política de los grandes nombres, y de apostar por la especificidad y la peculiaridad.
Barcelona debería desempolvar aquella capacidad de reinventarse que la caracterizó
en la época preolímpica” Bosco, 2010.
Los trabajos sobre legado industrial e innovación realizados en 2003 y 2004
por el movimiento ciudadano, apoyado por un cierto número de profesionales y
académicos, condujeron a una reflexión sobre las políticas que debían ponerse
en marcha para “conciliar la preservación del patrimonio histórico y de la memoria, el desarrollo económico y la cohesión social”. Lo cual dio lugar a la propuesta
de un Plan Integral del Patrimonio Industrial de Barcelona con objetivos muy
precisos:
“conseguir la recuperación, conservación y estudio del legado documental;
mantener y hacer accesible el patrimonio físico de la ciudad fabril de los dos
últimos siglos; conservar la diversidad de usos productivos en la ciudad; conectar
la tradición industrial – considerada en si misma un patrimonio – con la educación
y transmissión del conocimiento; y, finalmente, mostrar y difundir los impactos de
la metamorfosis del mundo productivo en todos los aspectos de la vida ciudadana”
Clarós, Estrada, Tatjer, Roca, Vilanova, 200529.
Un ejemplo especialmente significativo es la actuación municipal en el
conjunto fabril de Can Ricart en Poblenou, una de les piezas más destacadas del
patrimonio industrial que quedan en Barcelona, proyectado en 1853 por el arquitecto y académico Josep Oriol Bernadet y en el que intervino también Josep
Fontseré i Mestre (Tatjer, 2005)30.
Frente a las destrucciones que se han realizado en Poblenou, la defensa de
la antigua fábrica textil de Can Ricart se convirtió en emblemática. El proyecto
aprobado por el Ayuntamiento suponía la destrucción de la mayor parte del recinto,
conservando solo algunos fragmentos disperso. Frente a ello, el estudio patrimonial realizado por Mercedes Tatjer y Marta Urbiola (2005) demostró la importancia de la conservación completa, porque ese espacio ofrecía una oportunidad
29 El plan alternativo – y que trata de complementar el oficial que existía – fue elaborado con
la activa participación de estos autores (agrupados en el Grupo de Patrimonio Industrial del Foro de
la Ribera del Besós) de forma totalmente generosa y desinteresada.
30 Sobre el valor de la rehabilitación y uso del patrimonio histórico industrial, Capel, 1996.
El caso de Barcelona muestra que la defensa del patrimonio industrial es una de las formas de oposición política y de desarrollo del civismo democrático (Checa Artasu, 2007).
186
Horacio Capel
excepcional para “crear un nuevo estilo de hacer ciudad”, ya que era “una pieza
clave de un área de nueva centralidad culturalmente arraigada, económicamente
dinámica y socialmente creativa, de atractivo indudable para los habitantes locales y para los visitantes”. Consideraron, además, que el mantenimiento de dicho
conjunto patrimonial era “condición previa pera conseguir una amalgama entre
nuevas actividades y las ya existentes, y entre actividades productivas, servicios
y usos culturales capaz de generar una polaridad urbana en el corazón del distrito
de nuevas actividades industriales consideradas en el 22@”. Mostraron que Can
Ricart era un documento histórico de gran valor para la historia industrial barcelonesa y catalana, pieza importante para articular el conjunto del patrimonio
industrial del Poblenou, y para consevar la memoria y la escala de un sector que
fue calificado como el Manchester catalán; también hicieron patente que dicho
edificio, al igual que otros que ya habían sido derribados o estaban amenazados,
poseía un gran potencial como espacio de mezcla de usos productivos culturales,
educativos, de innovación y de difusión, a partir de empresas ya existentes y de
otras nuevas industriales y terciarias, tal como había sucedido con algún otro
(como es el caso del llamado conjunto de Palo Alto)31.
La importancia del caso de Can Ricart, y la atención que se le presta hoy
en España e internacionalmente se debe a que ha demostrado que es posible
complementar y mejorar las decisiones adoptadas por la administración pública,
y que el movimiento ciudadano, en colaboración con académicos y profesionales, es capaz de presentar alternativas coherentes y válidas para el urbanismo de
la ciudad. El caso de Can Ricart ha sido objeto de diferentes análisis como
ejemplo de los conflictos urbanísticos surgidos como resultado de decisiones
adoptadas en el planeamiento urbano, y por las formas de movilización ciudadana
que se han puesto en marcha32.
V. CENTRO HISTÓRICO, GENTRIFICACIÓN E INMIGRACIÓN
Las reformas en el centro histórico de Barcelona entre 1986 y 2000 pusieron énfasis en las aperturas de vías y de plazas, en la creación de equipamientos
y espacios culturales (Museo de Arte Contemporáneo, Centro de Cultura Contemporánea de Barcelona, Convento de los Ángeles…) y buscaban una mejora
general de Ciutat Vella. Pero, al mismo tiempo, la antigüedad del parque construido facilitaba que siguiera siendo un área popular y puerta de entrada de los
31 Véanse en ese sentido los estudios ya citados y otros de M. Tatjer; esos estudios han influido
en que algunos autores (como Saskia Sassen) modifiquen anteriores puntos de vista; el recinto ha
sido protegido legalmente como Bien Cultural de Interés Nacional, pero se está dejando degradar de
forma grave y, tal vez, irreversible.
32 Por esta razón, Can Ricart es una referencia obligada en numerosos estudios recientes sobre
la evolución de Barcelona, entre los que pueden señalarse el de Casellas, 2007; también en este
mismo número el de Cruz Gallach y Martí-Costa, 2010.
¿En qué ha fallado Barcelona?
187
inmigrantes. Ante la inevitabilidad de ese proceso, pudo elaborarse luego –
haciendo de la necesidad virtud – otro discurso: el de la inmigración como
valoración de la mezcla urbana y del multiculturalismo, especialmente reflejado
en los espacios públicos.
En la década de 1980 y 90 las políticas de rehabilitación del centro, con la
construcción de infraestructuras y de equipamientos culturales – con un ámbito
de influencia que rebasa a veces el ámbito del barrio y de la misma ciudad –,
pretendía, sin duda, detener un proceso de degradación física del espacio, y pudo
contribuir a hacer atractiva Ciutat Vella para habitantes de rentas medias, es decir
lo que se califica como un proceso de gentrificación o elitización. Han existido
políticas urbanas que introducen procesos de reforma y mejora para adaptarlos
a las necesidades de clases sociales de rentas altas, que descubren aspectos
interesantes en dichas áreas, desde la centralidad a los valores históricos y simbólicos.
Son muchos los análisis críticos que se han efectuado sobre la política de
intervención en el centro histórico de Barcelona. Algunos no han dudado en
declarar que, en su objetivo de hacer atractivo el espacio barcelonés para el
capital financiero internacional, las intervenciones urbanísticas han tratado de
homogeneizar el espacio urbano, y que en el centro histórico eso ha significado
el propósito de realizar, a través de intervenciones urbanísticas, “una limpieza
social sin ningún tipo de consideración, yendo directamente contra los vecinos
todos, auténticos dueños y protagonistas de aquel espacio” (Tabakman, 2001).
Esa política habría tendido esencialmente a conseguir la gentrificación del Raval.
En ese sentido, se han denunciado desalojos, expropiaciones y relocalizaciones
forzosas en Ciutat Vella, que se añaden a las dificultades que aparecen en otras
áreas de la ciudad, con actitudes discriminatorias e incluso xenófobas.
Otros estudios han destacado que las transformaciones en el centro histórico
de Barcelona como resultado de las reformas urbanas en el periodo 1986-2000,
han dado lugar a nuevos discursos sobre dicho espacio. Pero si el proceso de
gentrificación estuvo en el ánimo del Ayuntamiento, solo ha tenido lugar en
algunos escasos lugares33. Seguramente, debido al hecho de que “el discurso del
proyecto urbano aplicado a la reforma urbana se ha limitado al esponjamiento
y a la decoración de los huecos”. En todo caso, Ciutat Vella se ha mantenido en
buena parte como un área popular34.
Las actuaciones de realojamiento de la población afectada por las reformas
emprendidas en Ciutat Vella no siempre se gestionaron bien, y en ocasiones no
fueron acompañadas de un equipamiento adecuado. No hubo un adecuado pro33
Vease los diferentes trabajos de Sargatal, 2001, 2002, 2003 y 2009; en el último ha realizado
un examen de las opiniones favorables a las intervenciones realizadas en el centro histórico, y de
las críticas, situándose en el grupo de las últimas, con algunos matices; también Ter-Minsassian,
2009 a y b. Sobre el atractivo del sector para los estudiantes universitarios, Russo y Capel-Tatjer,
2007. La creación del MACBA y sus consecuencias sobre el Raval en Cócola Gant, 2009.
34 Como muestra el análisis estadístico realizado por Fiori, 2010.
188
Horacio Capel
ceso de diálogo, participación ni concertación; tampoco se estudiaron suficientemente los criterios para el realojamiento, o las consecuencias para aquellos
que no podrían beneficiarse del reacomodo en el mismo barrio; ni se tuvieron
en cuenta las consecuencias que podrían tener los desalojos y realojamientos en
las redes sociales existentes, que se vieron seriamente afectadas. Es cierto que
se han realizado operaciones de vivienda social y de vivienda libre, pero han
sido insuficientes y, además, su arquitectura en algunos casos totalmente equivocada (como en el de las operaciones del críticamente calificado “Forat de la
Vergonya”, o Agujero de la Vergüenza por la amplitud de los derribos y la
discutible calidad de la arquitectura construida).
Investigaciones cuidadosas han mostrado las contradicciones en las actuaciones. El análisis de los discursos intitucionales, por ejemplo los difundidos
por el Ayuntamiento desde la revista Barcelona Metrópolis Mediterránea, muestran la voluntad de autolegitimación de las autoridades municipales, el abandono
progresivo de la política de rehabilitación y la incapacidad para realizar una
reflexión de conjunto sobre el casco antiguo (Ter-Minassian, 2009 y 2010). La
coexistencia entre estrategias de gentrificación y la degradación de extensas áreas
del centro muestra una incapacidad para actuar de forma coherente.
Barcelona, al igual que algunos municipios próximos, creció espectacularmente hasta fines de los años 1960, pero luego perdió población durante varios
decenios35. Aunque personas jóvenes, solteras, profesionales de elevado nivel
educativo, han podido tener tendencia a valorar los espacios centrales, las familias de clase media formadas o en proceso de formación tendieron a abandonar
el área central y dirigirse a otros barrios y, cada vez más, a municipios con
viviendas más amplias y baratas (López Gay y Recaño Valverde, 2008).
La antigüedad del parque construido conservado, influiría decisivamente
para que el centro histórico de Barcelona se convirtiera, otra vez, en la puerta
de entrada de la nueva inmigración a la ciudad, en este caso inmigración de
origen extranjero y procedente de áreas culturales muy variadas. La llegada de
inmigrantes extranjeros, ha dado lugar a un fuerte proceso de crecimiento y
renovación demográfica y social en el municipio de Barcelona, que ha detenido
la pérdida poblacional anterior (Bayona Carrasco & Gil Alonso, 2008).
Con la nueva llegada de inmigrantes, en este caso extranjeros, éstos han
ocupado el centro antiguo, como sucedió durante el siglo XX. Muchos edificios
se habían degradado por la no realización de obras durante la época de congelación de alquileres (entre los años 1920 y 1985), y se han convertido en viviendas de baja calidad. Son las que primeramente han ocupado los inmigrantes en
Ciutat Vella, con gran beneficio para sus propietarios.
Algunos sectores se han convertido en claramente etnicos: paquistaníes,
marroquíes, dominicanos o filipinos. La cuestión de si la concentración de inmi35 Entre 1981-200l el municipio perdió 250.000 habitantes, la mayor pérdida de todos los
municipios españoles, por encima de Madrid, y su área más próxima, que perdió 110.000 habitantes
(Pujadas, 2009).
¿En qué ha fallado Barcelona?
189
grantes genera el éxodo de la población autóctona residente ha sido debatida en
varias ocasiones. Algunos lo consideran un mito urbano, que se apoya en la
concepción del inmigrante como una categoría social inferior y “degradante”36.
Desde fines de la década de 1990 el problema de la inmigración dio lugar a
debates en el centro histórico de Barcelona sobre la “degradación” y la “delincuencia” en el barrio. En 1997 se realizaron diversas asambleas de vecinos (de
la Asociación de Vecinos del Casc Antic, o de la Coordinadora de Vecinos del
Casc Antic), sobre los planes urbanísticos, y sobre el retraso en la ejecución del
PERI, y consideraron que las mejoras urbanísticas eran más urgentes que las
cuestiones de la inmigración para frenar el deterioro que vivía el barrio. Según
algún estudio, la menor resistencia a los inmigrantes en Ciutat Vella tiene que
ver con el dominio de la vivienda en alquiler: en otros barrios donde la propiedad domina, la llegada de inmigrantes se teme porque desvaloriza la propiedad.
Asi, como ha escrito Mikel Aramburu (2001),
“La identificación del “inmigrante” como figura degradante obedece a las
propiedades de su categorización social y cumple la función de chivo expiatorio
de diversos “males” (la despoblación, la degradación, etc.) a los cuales les falta
una explicación o una estructura narrativa que dé cuenta de su complejidad…. Sin
embargo, la función de chivo expiatorio de la degradación urbana y de la huida
autóctona que cumple el “inmigrante” puede convertirse con el tiempo en una
profecía que se autocumple”.
En general, los inmigrantes tienen facilidades para el empadronamiento, la
tarjeta sanitaria y la escolarización de los hijos. Pero se plantean también tensiones en relación con la convivencia en las áreas populares y con el trabajo, lo
que da lugar a conflictos, que a veces están latentes. Las cuestiones planteadas
son dos. Una, los conflictos en los lugares de la vivienda; y, otra, la capacidad
de la economía para absorber a todos los que quieren llegar. Sobre todo en
relación con la pregunta de hasta dónde se puede llegar en la recepción de esta
nueva población.
Las cuestiones de la integración de inmigrantes han sido siempre delicadas,
y las siguen siendo en la Europa actual. El Grupo de Reflexión sobre el Futuro
de la Unión Europea, que preside Felipe González, ha insistido en que la llegada
de inmigrantes extranjeros no es un problema sino “una parte sustancial de la
solución” para resolver las cuestiones del envejecimiento de la población europea, y que la demagogia anti-inmigrantes “se volverá contra los valores y los
intereses de Europa”. Pero también ha señalado que “hay que regular los flujos,
ajustándolos a las necesidades y capacidad de integración como políticas de
conjunto y aplicaciones nacionales (González, 2010). Sin duda ahí está el quid
de la cuestión: cómo conseguirlo, qué cantidad de inmigración es posible para
36 El antropólogo Mikel Aramburu (2001) ha discutido ese mito de la huida de los autóctonos
ante la inmigración extranjera.
190
Horacio Capel
que se ajuste a las necesidades y a la capacidad de integración (Capel, 2001 y
2002). En todo caso, los problemas se plantean, y se plantearán, en los barrios
populares, que es donde mayoritariamente se instalan los inmigrantes: la proporción de ellos en Sarría o en Sant Gervasi es verdaderamente reducida.
Los debates se han hecho más agudos hoy porque los inmigrantes actuales
forman parte de redes transnacionales, pueden mantener contactos diarios con
sus lugares de origen, o con otros, e invierten sus ganancias en su país37. Las
tensiones pueden agravarse en la actual situación de crisis, con un elevado índice
de paro y con una fuerte competencia por la obtención de empleos.
En el centro histórico el uso de los espacios públicos existentes no garantizan la convivencia38. El único lugar que lo garantizaría, la escuela pública para
todos, está siendo abandonada por los gobiernos de izquierda, tanto el del Ayuntamiento de Barcelona como, sobre todo, el de la Generalitat. La política de
conciertos con la enseñanza privada, con la canalización de recursos públicos
hacia ella, contribuye a fracturar la educación básica y secundaria, y constituye
un grave riesgo para la convivencia en el futuro.
VI. ¿HASTA DONDE LLEGA BARCELONA?
Es evidente que en los últimos decenios el proceso de internacionalización
de la economía de Barcelona se ha ido produciendo de forma inseparable de la
constitución del área metropolitana. Los trabajos de Joan-Eugeni Sánchez han
puesto de manifiesto el cambio de escala en la localización de las actividades:
la industria y los servicios existentes en Barcelona se han desplazado hacia los
municipios próximos, y es el espacio metropolitano el que adquiere significado
económico a escala internacional (Sánchez, 1992 a 2007)39. Esa evolución puede
ir unida al mantenimiento e incluso refuerzo de las localizaciones centrales de
servicios de dirección, que también han adquirido mayor complejidad con la
aparición de centros direccionales y de nuevas centralidades40.
La gestión de toda esa estructura espacial, económica y demográfica plantea
problemas, ya que necesita órganos de coordinación. Existen diversas estructuras
administrativas: municipios, consejos comarcales y un área metropolitana, que,
como entidad administrativa, aparece y desaparece. Y también mancomunidades
de municipios para problemas concretos como energía, agua o transporte.
37 Algún trabajo sobre los inmigrantes extranjeros en Barcelona ha aludido a esas cuestiones,
como Almeida, 2008, con referencia a los brasileños.
38 Véase sobre ello Magrinyà Torner y Maza Gutiérrez, 2001.
39 Sobre la organización de los nuevos espacios de la producción y consumo en el rea Metropolitana de Barcelona en relación al sistema de ciudades y las infraestructuras existentes, véase Font
Arellano y Vecslir Peri, 2008; la morfogénesis del territorio metropolitano de Barcelona en Font,
Llop y Vilanova, 1999; y Font et al., 2005.
40 Véase también Boixader, 2007, y Marmolejo y Stallbohm, 2008.
¿En qué ha fallado Barcelona?
191
Cómo gestionar todo eso, cómo hacer compatible la gestión integrada, la
coordinación, la autonomía municipal y la imbricación con los niveles políticos
superiores (la Comunidad Autónoma y el Estado) es un problema importante.
No se sabe si Barcelona y los otros municipios tienen la voluntad política y la
capacidad para lograr todo.
En los años en que Jordi Pujol era Presidente de la Generalitat defendió
con gran fuerza la ‘Europa de las Regiones’, frente a la de los Estados que
constituyeron y se integraron en la Unión Europea. Por su parte Pascual Maragall, alcalde de Barcelona, prefería hablar de la ‘Europa de las Ciudades’, en
una estrategia política urbana enfrentada a una Generalitat de Cataluña gobernada
por Convergencia i Unió. Ambos eran artificios políticos utilizados para la ocasión, porque se pudo comprobar que Maragall olvidó la Europa de las Ciudades
en cuanto llegó a la presidencia de la Generalitat, mientras que la Europa de las
Regiones era una estrategia para tener peso político e, incluso, un eufemismo
para la construcción de una Europa diferente, con Estados más pequeños.
En todo caso, cuando se proponía la Europa de las Ciudades, Maragall pensaba, sin duda, no solo en el municipio del que era alcalde (de un centenar de
kilómetros cuadrados) sino, más allá, en una entidad más amplia que se extendía
a otros municipios circundantes. Un continuo conurbado con los más próximos,
al que podemos denominar la aglomeración de Barcelona, que se extiende a una
docena de municipios, desde Montgat y Badalona, por el norte, hasta Sant Joan
Despí y Martorell, por el sur. Más allá de ellos, otros municipios poseen núcleos
urbanos que, aunque discontinuos, forman parte del Área Metropolitana de Barcelona, una unidad que ha sido delimitada de formas diversas desde el punto de
vista administrativo o estadístico. En la delimitación actual, engloba 36 municipios,
con una superficie total de 628 km2 y unos tres millones de habitantes. Al exterior
todavía se identifica una Región Metropolitana, que se extendería a 163 municipios,
una superficie total de 3.234 km2 y más de 4,6 millones de habitantes41.
Los problemas de la delimitación del Área Metropolitana de Barcelona
interfieren con los de la división territorial de Cataluña, y la consiguiente definición de niveles supramunicipales (comarcas y veguerías) que sustituyan a las
divisiones territoriales del Estado, aprobadas en 1833. Diferentes intentos realizados desde 1936 han dado lugar a una maraña de divisiones territoriales en las
que se inserta de forma diversa lo que podría calificarse de área metropolitana
de Barcelona42; cuestión complicada, todavía más, con los diseños de otros mapas
de competencias supramunicipales, como los relacionados con la administración
41 Casi cinco millones en la actualidad: pueden verse sobre ello los estudios socioeconómicos
hechos para el Plan Territorial de la Región Metropolitana de Barcelona en la página web del Departament de Politica Teritorial i Obres Públiques de la Generalitat de Catalunya <http://www20.gencat.
cat/portal/site/ptop>, y Nel·lo 2011 (en publicación).
42 Los debates y resultados de esas propuestas pueden verse en Bargueño, 2009, Mendizábal
Riera, 2009, Nel·lo, 2009, Oliveras Samitier 2009, Sanclimens Solervicens, 2009. Un geógrafo y
político que conoce bien el problema, no ha dudado en hablar del “barroquismo de la estructura
administrativa”, del ámbito metropolitano (Nel·lo, 2011, en publicación).
192
Horacio Capel
sanitaria de Cataluña, que difieren de los mapas comarcales vigentes (Casadevall,
2010), y con las áreas reales de movilidad laboral y su evolución en los últimos
dos decenios43.
La institucionalización del Área Metropolitana de Barcelona y la creación
de órganos administrativos para gestionar los servicios comunes ha generado
problemas políticos. Los esfuerzos que desde 1953 (con el Plan de la Comarca
de Barcelona) se fueron haciendo para la creación de una estructura administrativa supramunicipal que diera cuenta de la nueva realidad urbana y, finalmente,
la toma de conciencia de la formación del Área Metropolitana como un espacio
complejo, ha dado lugar a conflictos, y soluciones diversas44. Tras la restauración
de la democracia, en general las fuerzas políticas de izquierda que eran mayoritarias en Barcelona y municipios circundantes, defendieron la existencia de la
Corporación Metropolitana para el gobierno del Área Metropolitana, mientras
que el gobierno de la Generalitat en manos de CiU era contrario y finalmente
la disolvió, en marzo de 198745. La paradoja es que una vez que la izquierda
alcanzó el poder en la Generalitat no adoptó medidas para restaurar dicha Área
y comenzó a hablar de “órganos de cooperación municipal” y de un territorio y
unas instituciones “de geometría variable”.
En 2003 se aprobó el Primer Plan Estratégico Metropolitano de Barcelona,
con la participación de todos los ayuntamientos y más de 300 entidades, para
promover procesos de transformación de dicha área en un marco de cooperación
público-privada, para la gestión del terriotorio con vistas al desarrollo económico.
Finalmente la Ley 31/2010 de 3 de agosto de 2010 ha acordado la creación
del Área Metropolitana de Barcelona con “la voluntad de mejorar la eficiencia
y eficacia de las administraciones que actúan en el territorio metropolitano,
garantizando la prestación de unos servicios públicos de calidad, mediante la
configuración de una administración próxima y capaz de incrementar la implicación y participación ciudadana en una realidad de continuidad urbana, densidad demográfica y características económicas y sociales que lo hagan necesario”.
El AMB asume las competencias que ejercen las actuales entidades metropolitanas del transporte, de servicios hidráulicos y tratamiento de residuos y la
Mancomunidad de Municipios y, en materia de urbanismo, las competencias
establecidas por la legislación urbanística vigente.
Sea cual sea la configuración administrativa de esa área o región metropolitana integrada, posee un conjunto de ciudades medias y pequeñas que le
43
Sobre ello véase Castañar, Gutiérrez y Vicente, 2009.
Monclús, 1998, Oliveira, 2010; este autor ha estudiado a partir de las noticias de la prensa,
el largo proceso de institucionalización del Área Metropolitana de Barcelona y la creación de las
instituciones administrativas para la gestión de ese territorio y los servicios comunes.
45 Sobre la constitución de la Corporación Metropolitana de Barcelona, y su desaparición
en la década de 1980, ha sido tratada por Sastre Fulcará, 2009; también Orio Nel.lo, 2010, en publicación.
44
¿En qué ha fallado Barcelona?
193
dan un carácter policéntrico46. La ciudad de Barcelona es sin duda el núcleo
central y esencial de la región metropolitana de Barcelona, pero está íntimamente unida a la docena de municipios conurbados que forman la densa aglomeración barcelonesa; un área que experimentó un fuerte crecimiento hasta
finales de la década de 1960, con la construcción en núcleos compactos y el
predominio de la vivienda en bloques. Posteriormente, la salida de los habitantes de Barcelona y de otras ciudades menores buscando nuevas residencias
en los municipios periféricos ha sido una característica de los últimos decenios
y dio lugar a un decrecimiento, paliado luego, ya lo hemos visto, por una
reciente recuperación, debido a la inmigración. Como resultado de esa evolución, el peso demográfico del municipio de Barcelona se ha reducido, del 65
por ciento de la Región Metropolitana de Barcelona en 1950 al 33 por ciento
en 2006 (Pujadas, 2009).
Con todo ello se ha ido configurando una nueva realidad urbana. Las personas que habitan el territorio viven en un lugar, trabajan en uno distinto, se
divierten o se relacionan en otros diferentes. Las prácticas de movilidad basadas
en el automóvil privado se han mantenido, a pesar de las declaraciones sobre la
necesidad de una movilidad sostenible basada en el transporte publico y de las
declaraciones sobre la conveniencia de una ciudad compacta, que sin embargo
extiende cada vez más la urbanización de baja densidad (Miralles-Guasch, Cebollada y Requena, 2010; y Casellas, Pallarés y Dot Jutgla, 2010 (en este número)).
El porcentaje de construcción de ciudad compacta ha significado solamente una
reducida parte del total urbanizado.
Ha aumentado la producción inmobiliaria y el consumo de suelo, por la
construcción de viviendas en tejidos discontinuos, y por la de polígonos industriales. En la última década del siglo XX se produjo un crecimiento espectacular, con 375 mil nuevos puestos de trabajo, se construyeron 345 mil nuevas
viviendas y, sobre todo, se consumieron miles de hectáreas de suelo (Marmolejo
Duarte y Stallbohm, 2008). Durante el periodo 1985-2001 ha habido un cambio
del modelo en la producción de viviendas en la provincia de Barcelona, con un
desarrollo intensivo de tipologías de baja densidad, ampliamente difundido por
todo el territorio de la provincia, en una suburbanización residencial con tipologías diferentes47.
La vivienda aislada y de mayor superficie sería accesible solo a grupos
reducidos de la población, mientras que la vivienda en bloques y la vivienda
adosada se construiría para una población más diversificada. Los grupos de
46 Además de Barcelona, incluye seis ciudades grandes de tamaño superior a los cien mil
habitantes (Badalona, Hospitalet de Llobregat, Sabadell, Terrassa, Mataró y Santa Coloma de Gramanet), nueve ciudades de tamaño intermedio, entre 50.000 y 100.000 habitantes, 44 ciudades
pequeñas muy dinámicas, de 10.000 a 50.000 habitantes, “que crecen con gran celeridad”, y 61
municipios de 2.000 a 10.000 habitantes. El medio rural o, más bien, rururbanizado no es ajeno a
la metrópoli barcelonesa, con 43 municipios menores de 2.000 habitantes según Pujadas, 2009. Sobre
el policentrismo terciario, Marmolejo y Roca, 2008 y Pérez Prieto y Marmolejo, 2008.
47 Estudiadas por Font, Llop y Vilanova, 1999, y Font et al., 2005.
194
Horacio Capel
rentas medias y bajas cambiaron sus opciones iniciales de comprar vivienda en
bloques, para adquirir vivienda adosada en municipios periféricos, debido a los
precios más bajos de estas viviendas y a la oferta existente. La oferta. es el
factor esencial; los habitantes, en palabras de Francesc Muñoz, “acaban vinculándose a los mercados de viviendas suburbanas, donde la presencia importante
de vivienda de baja densidad hace cambiar las opciones iniciales de compra de
vivienda en bloque a vivienda adosada” (Muñoz, 2004).
Existen diferencias de valoración sobre los procesos de expansión, densificación y organización de la urbanización en la región metropolitana de
Barcelona. Para algunos el balance es favorable, como resultado de los esfuerzos que han hecho los ayuntamientos para ordenar la planificación y la gestión
de las ciudades48. Otros estudios muestran que la Región Metropolitana ha
ganado densidad, y ha mejorado la conexión entre sectores antes urbanizados
de forma fragmentaria, sobre todo debido a las decisiones de urbanización
tomadas desde los diferentes municipios (Marmolejo Duarte y Stallbohm,
2008).
Frente a esas interpretaciones, algún autor ha insistido en que la urbanización dispersa que se produjo en las décadas de 1980 y 90 se hizo con escasa
atención al espacio público y a los equipamientos, una expansión totalmente
insostenible (problemas de redes, abastecimientos de agua..), realizada esencialmente al margen del planeamiento ordenado y sin recualificación del territorio, por iniciativa de propietarios, promotores y municipios, una forma de
crecimiento que se aproxima a las que habían dominado en los años 1950, 1960
y 1970 (Muñoz, 2004). Ese crecimiento desordenado se ha atribuido a la carencia de órganos de gestión coordinados para el conjunto de los muncipios de la
provincia de Barcelona, e incluso para el Área Metropolitana de Barcelona, y
habría dado lugar a una especialización territorial y una segregación morfológica
y social: algunos municipios se especializan en la producción de viviendas
aisladas de gran superficie, mientras que otros lo hacen en viviendas adosadas
de superficie menor, y progresivamente menor conforme avanza el tiempo; la
vivienda en bloques se combina más frecuentemente con el adosado que con
las viviendas nifamiliares aisladas.
En conjunto, la impresión que produce el Área Metropolitana de Barcelona
es la de un acusado desorden y falta de planificación, con decisiones tomadas
de forma totalmente autónoma por cada uno de los municipios en relación con
sus propios intereses y estrategias, y sin voluntad de coordinación. No sabemos
48 Esta visión optimista aparece, para el periodo 1977-2000, en el libro coordinado por Font
et al., 2005, donde concluyen que “el terrritorio metropolitano disfruta de mejor salud de lo que se
rumoreaba”; una parte (38 %) de las 20.000 hectáreas consumidas en el periodo estaban ya con
indicios de urbanización en 1977, y por otra parte la política urbanistica ha tratado de “reducir las
manchas de suelo urbanizable y localizar los nuevos crecimientos en continuidad respecto a los
núcleos urbanos existentes”; a pesar de ello, no se ha resuelto “la dispersión consolidada” que se
había generado antes de 1980.
¿En qué ha fallado Barcelona?
195
si el Plan Territorial Metropolitano de Barcelona, que acaba de ser aprobado
por el gobierno de la Generalitat en abril de 2010, logrará resolver los problemas que existen49.
VII.¿QUE HA FALLADO?
Debe reconocerse que no es fácil la tarea a que se enfrentan los gobiernos
municipales, que han de hacer frente a retos numerosos, sin tener en muchos
casos competencias ni recursos, que deben obtener apoyos de los gobiernos
autonómicos y estatal (lo que no siempre es posible cuando los colores políticos
son diferentes), negociar con grupos económicos muy poderosos, establecer
alianzas en una sociedad muy compleja, y dirimir en conflictos de intereses muy
variados y a veces irreconciliables. Todo ello viene agravado por el rápido ritmo
del cambio social, económico y tecnológico, difícilmente comprensible a veces
incluso para políticos, profesionales y científicos, que tienen dudas sobre las
respuestas más adecuadas para enfrentarse a él.
Pero debe esperarse de los partidos políticos claridad en sus planteamientos
y consecuencia con sus ideales. Es en este sentido que deben analizarse los
errores que han podido cometer los ayuntamientos de izquierdas de Barcelona,
gobernados (a veces, da la impresión) por una izquierda muy confusa, como en
la mayor parte de Europa, y de poco coraje para exponer y defender claramente
sus ideales. Tal vez afectada, además, en España por carencias y vicios provocados por los cuarenta años de interrupción de la democracia durante el régimen
político franquista. Y por la confusión que introduce en la vida política española
el desarrollo de los nacionalismos, y el hecho de que hay políticos en los que
parece primar más el sentimiento nacionalista que la ideología política de
izquierda.
No siempre es fácil el acuerdo sobre el alcance y las consecuencias de las
operaciones realizadas. No es raro que la misma iniciativa pueda tener simultáneamente una valoración positiva y negativa. Así la de ordenación del litoral
norte de Barcelona para la construcción del Forum de las Culturas puede ser
valorada como un esfuerzo para dignificar aquel sector del municipio, degradado
por depuradoras e industrias contaminantes, o como un proceso de artificialización del litoral, de terciarización y de construcción de viviendas de lujo. De
49 El Gobierno de la Generalitat aprobó en 2010 el Plan Territorial Parcial de la Región
Metropolitana de Barcelona, que ha de ordenar el desarrollo terrotiral de la region hasta 2026;
este plan se ha elaborado en base a 15 criterios que establecen, entre otras, la necesidad de asegurar el crecimiento compacto de las ciudades de la RMB y evitar la dispersión. Los contenidos
del PTMB se pueden consultar a través de la página web del IET (<http://www.ietcat.org/index.
php/ca/plans-territorials-parcials/pla-territorial-metropolita-de-barcelona-ptmb>). Uno de los impulsores de dicho Plan, el geógrafo Oriol Nel.lo, como Secretario de Planificación Territorial del
gobierno de la Generalitat, ha presentado su génesis, desarrollo y objetivos (Nel.lo, 2011, en
publicación).
196
Horacio Capel
manera similar, puede existir valoraciones muy opuestas sobre la iniciativa del
22@ y sobre el conjunto de las transformaciones impulsadas en el Poblenou50.
Esas visiones contrapuestas tienen que ver, sin duda, con formas diferentes
de concebir la ciudad. Pero pueden ser motivadas también por la manera como
se han realizado dichas intervenciones, la incapacidad para dialogar sobre decisiones que afectan a pequeñas empresas y a pequeños propietarios, los cambios
de calificación y expectativas o la inadecuada valoración del tejido productivo
existente. Algunas estructuras industriales existentes en Barcelona, y concretamente en Poblenou, podían no ser de nuevas tecnologías, pero eran rentables y
a veces innovadoras y con futuro. Parece haber existido una incapacidad para
gestionar todo el proceso de forma compleja y fina.
Ha habido mucha autocomplacencia, un exceso de autosatisfacción, y a
veces un despilfarro, propio de los nuevos ricos. Se atribuyó un poder desmedido
a los técnicos, especialmente arquitectos. Se ensalzó y mitificó la importancia
de la experiencia técnica y profesional en Barcelona, y las realizaciones de los
años 1980. No se dijo que muchas iniciativas que se tomaron se adoptaban
igualmente en otras ciudades españolas, y que en algunos casos eran impulsadas
por las medidas legales estatales. El Estado ha ayudado con decisiones que no
siempre se aprecian y valoran, y que incluyen inversiones para la construcción
subterránea de la línea del AVE hasta la nueva estación de Sagrera, a instancias
del Ayuntamiento, o, en 2004, el traslado a Barcelona de la sede de la Comision
Nacional del Mercado de Telecomunicaciones.
Tal vez lo más grave de todo es que los políticos municipales se han negado
al diálogo, han tenido miedo a la participación, han menospreciado a los movimientos populares; que, sin embargo, se opusieron a medidas equivocadas, como
el plan de ascensores en la Barceloneta, reclamaron equipamientos sociales,
como escuelas, guarderías o bibliotecas. Políticos del Ayuntamiento o de la
Generalitat no escucharon las voces de profesionales y personas independientes
que hacen críticas, y tampoco las de los vecinos.
La ausencia de diálogo ha llevado a desvalorar los movimientos ciudadanos
que pretendían preservar el patrimonio histórico. Arquitectos y políticos descalificaron sus críticas y propuestas, las tildaron de conservacionismo romántico,
trasnochado y desfasado, opuesto al progreso de la ciudad, a la modernidad y
al desarrollo económico. No se daban cuenta de que eran esos movimientos
populares los que defendían la diversidad económica, la innovación basada en
lo que existe, arraigada en la tradición y en el tejido productivo. Eran los políticos y técnicos los que no eran conscientes de la riqueza del tejido productivo
y social existente en el Poblenou, en las posibilidades que los espacios fabriles
y los ambientes arquitectónicos existentes ofrecian para actividades innovadoras
50 La creación del distrito 22@, fue seguramente una buena iniciativa que trataba de modificar la geografía del sistema productivo local, pero ha podido ser mal gestionada (Boixader, 2007).
Los problemas del cluster de nuevas tecnologías en Bosch y Capel-Tatjer, 2004. Análisis crítico del
posicionamiento del 22@ como cluster respecto otros ejemplos: Bosch & Capel, et al., 2008.
¿En qué ha fallado Barcelona?
197
desde el punto de vista económico, artístico y cultural. En ocasiones se pusieron
en manos de las multinacionales, les ofrecieron terrenos e infraestructuras, y
destruyeron espacios que podían haber atraido artistas y gentes diversas, y que
se han ido a otras ciudades. No atendieron a las demandas sociales de los residentes, menospreciaron el ambiente de la Rambla del Poblenou y de otros sectores vecinos. Negociaron con los grandes propietarios y los promotores y no
supieron hacerlo con los pequeños y con los vecinos.
Los grupos políticos que detentan el poder en el Ayuntamiento de Barcelona
han reiterado en varias ocasiones la voluntad de facilitar la participación y conseguir un consenso social. En este sentido cabe señalar que en noviembre de
2002 se aprobaron las Normas de Participación Ciudadana para regular esta
participación. Pero no han sabido convertirlas en un mecanismo eficaz de participación51.
El debate sobre la reforma de la Diagonal y la celebración de un referéndum
sobre ello se planteó y desarrolló de manera incomprensible. Desde afuera se
tiene la impresión de que con el referendun querían mostrar la existencia de una
participación popular en las decisiones urbanísticas. El fracaso fue total y se
hizo dimitir al primer teniente de alcalde, Carles Martí.
Ha sido grande la incapacidad de aceptar las críticas que se han hecho a la
gestión municipal, especialmente por parte del movimiento ciudadano, que eran
sus propios votantes. Ante las críticas, los responsables políticos se acostumbraron a repetir el llamado “argumentario” del partido correspondiente, sin capacidad de pensar por su cuenta, como si vieran las reivindicaciones más como
amenazas que como aportaciones. Todo ello contribuyó a que las relaciones entre
el Ayuntamiento y la FAVB se hicieran difíciles52.
No fueron capaces de conectar con los vecinos, y tal vez por eso hicieron
concesiones excesivas de edificabilidad. No ha habido transparencia en las negociaciones con los promotores inmobiliarios, por ejemplo en la definición de las
unidades de actuación. Se necesita mayor transparencia en las decisiones urbanísticas, y la publicidad en las negociaciones, la comunicación con los habitantes.
La participación y el diálogo se ha de hacer con garantías, y no como un
proceso dirigido por expertos politólogos y técnicos de la comunicación. Sin
duda el trámite de información pública para la realización de alegaciones a los
planes está ya recogido en la normativa, y se cumple, aunque no siempre con
la publicidad adecuada y los asesoramientos oportunos a los afectados. Pero se
ha de buscar algo más. Se han de escuchar las voces, conocer su grado de
representatividad, han de existir actas de las reuniones, se ha de dar asesoramiento
jurídico a los vecinos. Las reuniones de participación no deben servir para
legitimar los proyectos ya decididos.
51 Entre los trabajos que han examinado la retórica de la participación y la forma como se
realiza realmente se encuentran los de Casellas, 2007, Clarós i Ferret, 2007.
52 Clarós i Ferret, 2007. Sobre los disensos que se manifestaron después de los Juegos Olímpicos, Pareja Eastway, 2010 (en este número).
198
Horacio Capel
Los escandalos de corrupción que se conocían en España parecían no afectar
a Cataluña, y en algún caso incluso se llegó a hablar, en este sentido, del “oasis
catalán”. Una alusión explícita de Pascual Maragall como Presidente de la Generalitat a las comisiones del 3 por ciento y más pagadas por constructoras e inmobiliarias al gobierno de Convergencia i Unió para la adjudicación de obras, levantó
una gran reacción nacionalista e hizo echar marcha atrás a este político y a su
gobierno. Fue una buena ocasión perdida, no se sabe bien porqué. El movimiento
vecinal, sin embargo, no se calló y el ministerio fiscal tampoco. Con ello la corrupción pasó a estar también presente en la escena política catalana.
En julio de 2009 provocó un gran terremoto político el descubrimiento de
que un conocido miembro de la burguesía nacionalista catalana, que acababa
incluso de ser honrado por el Ayuntamiento con la Medalla de Oro de Barcelona,
había desviado unos 30 millones de euros desde la presidencia de la Fundación
del Palau de la Música Catalana y del Orfeón Catalán, y de que, además de su
enriquecimiento personal, una parte de esos fondos parecía haber servido para
financiar irregulamente a Convergencia i Unió.
El caso Palau tuvo una derivación inesperada cuando se planteó también el
tema de la construcción de un hotel vinculado al mismo, una operación especulativa denunciada por los vecinos y por la revista La Veu del Carrer órgano de
la Federación de Asociaciones de Vecinos de Barcelona53. Se trata de un tema
que ha acabado afectando asimismo al teniente de alcalde y al gerente de urbanismo del Ayuntamiento de Barcelona acusados de prevaricación, por si habían
tenido noticias sobre la titularidad del hotel antes de cambiar la calificación del
suelo para facilitar su construcción.
No se tienen suficientes datos sobre la imbricación entre los agentes económicos que actúan en Barcelona, las relaciones y conflictos entre los agentes
locales y los internacionales, los tradicionales y los nuevos, los modos de interacción con las instituciones empresariales existentes (Cámara de Comercio,
Fomento del Trabajo, Círculo Ecuestre…) y con los partidos políticos, la forma
de actuar en relación con iniciativas como la puesta en marcha del 22@54. Necesitamos más estudios del mundo de las grandes empresas, más trabajo de investigación y conocimiento de la realidad, con nuevos análisis empíricos, y nuevos
marcos teóricos explicativos de la evolución y de los procesos. Se ha destruido
a veces el tejido productivo, económico, con poca atención. No se ha tenido en
cuenta la importancia de la diversificación, la necesidad de otras actividades, la
complejidad de los espacios en los que se actúa.
Durante estos años ha habido, indudablemente, una mejora importante de
las infraestructuras, en la calidad de vida. Pero también un exceso de prepotencia en las actitudes y en la morfología construida. Muchas veces el Ayuntamiento
no ha sabido explicar sus objetivos, y sus realizaciones, ni solicitar y obtener
53 La Veu del Carrer, números 111, 113, 116 y 117, en línea, http://favb.cat/taxonomy_
menu/2/4
54 Entre los trabajos que se van realizando, Boixader, 2007.
¿En qué ha fallado Barcelona?
199
ayudas, o defender las políticas y las decisiones adoptadas, con coraje y convicción. Pero más allá de ello, es todo el modelo urbano, de construcción de la
ciudad, lo que está en cuestión.
Frente al que se ha seguido, se necesita otro modelo de realización del
urbanismo55. No podemos seguir creciendo indefinidamente. Los grandes agentes económicos privados actúan hoy a diferentes escalas y tienen los territorios
urbanos como frentes de actuación. Tratan por ello de intervenir en la definición
de las políticas urbanas y de los modelos de intevención territorial. La izquierda
necesita reflexionar sobre nuevos modelos de desarrollo económico, de desarrollo urbano y de organización social.
El resultado de las elecciones al Parlamento Catalán, que se han celebrado
el día 28 de noviembre, ha supuesto el fin del gobierno de izquierdas en la
Comunidad Autónoma de Cataluña. El índice de abstención ha sido del 40 por
ciento, y el triunfo de Convergencia i Unió indudable. En mayo de 2011 se
celebrarán elecciones municipales. Tal vez sea el momento de iniciar un profundo
proceso de reflexión que muestre la capacidad de la izquierda para presentar de
forma coherente su modelo de ciudad, y para dirigir los cambios que es preciso
introducir en la economía y en la estructura social ante los graves retos que están
hoy planteados. Para lo que se necesitan nuevos comportamientos políticos, y
nuevos marcos teóricos y de actuación territorial.
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PROJECTO BCN: ESTRATÉGIAS URBANAS
– GEOGRAFIAS COLECTIVAS1
Maria José Aurindo2
A primeira impressão ao folhear o Proyecto Bcn: estratégias urbanas – Geografias Colectívas é a de termos à nossa frente um verdadeiro guia para o conhecimento
dos processos de transformação urbana por que tem passado a cidade e a metrópole
de Barcelona. Mas quando o conhecemos melhor, rapidamente percebemos que é muito
mais do que um guia. Como menciona o próprio autor na apresentação deste livro,
ele visa quer estudiosos das diversas áreas do conhecimento (arquitectos, sociólogos,
etc.), quer o visitante que, de modo interessado ou curioso pela história e formação
da cidade, queiram conhecê-la e explorá-la. E encanta-nos a cada folha que passa,
pela forma e estrutura por que o seu autor optou, em que, desde logo, se destaca uma
primeira parte relativa às ‘Estratégias Urbanas’ e outra segunda parte referente às
‘Geografias Colectivas’, que se complementam e dependem uma da outra para uma
compreensão integrada.
A aposta na ilustração do texto com imagens expressivas, e a apresentação de um
conjunto importante de fichas ilustradas referentes a espaços materializados e seleccionados, de modo a mostrar projectos que se entendem quando contextualizados historicamente e enquadrados num sistema de instrumentos teóricos de referência, são de
destacar. Estas e outras componentes são desenvolvidas de forma sugestiva, com uma
mestria que vai além da atitude expositiva mais tradicional, procurando antes gerar
incertezas ou, como o autor indica, reconhecer curiosidades enquanto valor, conduzindo
a que mais do que experiências estéticas se possam sugestionar confrontos, desassossegos, sugestões. E consegue-o.
A organização da obra em duas partes dá lugar a uma subdivisão de cada uma
delas, também, de certa forma, original. O livro é introduzido por Jordi Hereu, então
Alcalde de Barcelona, que nos desvenda, como ele próprio refere, a construção da cidade
enquanto um dos processos mais fascinantes gerados pela actividade humana. Cruza a
sua visão de Barcelona enquanto cidade que tem vindo a sofrer uma evolução significativa, passando brevemente por pontos como a cidade da ditadura e da democracia, ou
a cidade construída e a cidade vivida. Como complemento a este preâmbulo, o autor
1 Delbere Guidoni G (2007) – Proyecto Bcn: estratégias urbanas – Geografias Colectívas.
Ajuntament de Barcelona, Barcelona.
2 Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da
Universidade de Lisboa. E-mail: [email protected]
208
M. José Aurindo
introduz-nos a obra, deixando antever o seu interesse pela cidade de Barcelona, valorizando o ponto de vista arquitectónico e urbanístico, em que destaca a dinâmica da forma
urbana e os profissionais e instrumentos que com ela lidam, partilhando ainda a estrutura
escolhida para o livro, a que, em seguida, se fará referência.
Após a apresentação, o autor passa ao enquadramento cronológico, mostrando o
que considera serem os antecedentes dos processos de transformação urbana por que
Barcelona passou desde a primeira menção da colónia de Barcino, associada à origem
romana da futura cidade de Barcelona, passando pela cidade medieval, o Plano Cerda,
as Exposições Universais de 1888 e de 1929, para mencionar apenas algumas das etapas
de formação, crescimento e desenvolvimento da cidade.
A partir de 1979 e até à actualidade, Delbere Guidoni opta por organizar a continuidade dos processos de transformação ocorridos por fases. São elas: O despertar
democrático (1979-1987), a Barcelona Olímpica e a grande reforma urbanística (19811992), De Rio a Rio (1992-2004), e uma última fase que denomina Novas Escolas,
Novas Estratégias.
Não podendo expor toda a evolução urbana e transformações associadas, entendese rapidamente que as fases definidas mostram, desde o título escolhido aos conteúdos
seleccionados para cada uma delas, que se trata de uma tentativa de oferecer um estudo
cronológico das dinâmicas urbanas que configuraram a cidade contemporânea.
Segue-se a comunicação do que Delbere Guidoni intitula de Kit para construir a
cidade, Kit este formado pelas componentes Compacidade, Sustentabilidade, Hibridação
e Multiescalaridade. Tendo em consideração a singularidade da selecção destes componentes tentemos, de forma sucinta, compreender o interesse que cada um tem. O autor
opta por começar cada explicação realizando uma enunciação da origem etimológica
dos termos escolhidos. Depois, além de uma breve explanação que resulta de diálogos
específicos com diferentes autores (Oriol Clos, Carme Fiol, Marta Cervelló, Joaquim
Español) que contribuem para a leitura destas características na cidade de Barcelona,
procura ilustrar com casos de estudo concretos.
No que diz respeito à compacidade, o autor procura sobretudo mostrar as implicações que esta tem no modelo de desenvolvimento urbano, aos mais diversos níveis,
do construído ao funcional, passando pelas redes logísticas e de transporte, e fá-lo em
contraponto ao modelo de cidade dispersa.
A propósito da sustentabilidade urbana, tão presente nas discussões contemporâneas,
volta a sua atenção para o espaço construído, que procura contrabalançar equilíbrios e
conflitos numa intenção clara de acréscimo da qualidade de vida urbana, e que parece
ser uma vitória da cidade de Barcelona enquanto civitas, com melhorias nítidas ao nível
das infra-estruturas, serviços e urbanidade, de que há muito carecia. Contudo, os diálogos alertam para que a questão da sustentabilidade continuará a ser actual, com novas
perspectivas, novos problemas, novas soluções.
Já no que se refere à hibridação, quando associada ao ajuste de necessidades variadas, confere à estrutura urbana, de forma coerente, um carácter não apenas misto, mas
sobretudo flexível, permitindo fazer frente à procura de novas formas, funções e populações. A continuidade desta dinâmica implica, como é mencionado no texto, pela arquitecta entrevistada Marta Cervelló, ‘um esforço colectivo, uma tensão, uma energia, uma
diversidade e uma criatividade que devem ser alimentadas de forma constante’ (p.165).
Por último, mas não menos importante, a multiescalaridade é vista de forma diversa
consoante os problemas e contextos abordados., Quando aplicada ao caso de Barcelona,
e aos últimos 25 anos, esta é vista como um processo de ‘cascata escalar’, em que
Projecto BCN: estratégias urbanas – geografias colectivas
209
diferentes fases de percepção dos problemas resultaram em distintas aplicações de modelos para a sua resolução, gerando-se novas espacialidades associadas muitas das vezes
à dimensão das intervenções.
Na segunda parte do livro, com as ‘Geografias Colectivas’, começa por nos mostrar uma visão macro, à escala da Região Metropolitana de Barcelona em que se podem
ver os seus municípios, e em que nos é apresentado um conjunto de indicadores urbanos
(densidade populacional, saldos migratórios, indicadores de mobilidade, entre outros),
através de mapas temáticos, de fluxos, etc., bastante esclarecedores, sempre comentados
de forma sucinta, mas elucidativa. Esta breve exposição permite ter uma visão de Barcelona enquanto cidade-metrópole que facilita, porque contextualiza geográfica, económica e socialmente, a análise mais detalhada que o autor apresenta, em seguida.
Posteriormente, mas mudando de escala, apresentam-se os sistemas (infra-estruturas logísticas e de manutenção), por sua vez mostrados numa divisão em quatro aspectos fundamentais: manutenção e logística da cidade, mobilidade e inter-modalidade,
espaço público, lugares colectivos. São estes que o autor considera serem os aspectos
que melhor revelam o valor comunitário e de agregação da cidade.
Relativamente ao primeiro destes aspectos, a manutenção e logística da cidade, o
reconhecimento da sua importância e complexidade, bem como da necessidade do seu
funcionamento e interacção articulada, é facilmente compreendido na apresentação das
redes e dos elementos pontuais em que o autor divide este ponto. Nesta explanação, os
elementos considerados tratam as redes básicas de água, gás, electricidade e telecomunicações, demonstrando a necessidade de lhes reconhecer uma centralidade no desenvolvimento da cidade, nunca esquecendo o seu protagonismo espacial.
No que respeita à mobilidade e inter-modalidade, o texto centra-se nos traçados e
nas infra-estruturas inter-modais, e visa compreender como decorreu o processo de
crescimento e desenvolvimento urbanos, com as suas evidentes ligações à sua formação
histórica, não esquecendo as diferentes vias e meios de transporte, e suas mudanças no
espaço e no tempo.
Os espaços públicos, que o autor considera fundamentais no seio da cidade compacta, mas escassos, dada a falta de espaços urbanos de grandes dimensões, nomeadamente na cidade centro, são apresentados de acordo com uma organização que mostra
o seu carácter intersticial. São eles: avenidas, ramblas e passeios; praças e miradouros
e zonas verdes, parques e jardins.
Os lugares colectivos foram agrupados tematicamente, de modo a ilustrar o que
Delbere Guidoni considera, de forma original, como o somatório das várias cidades que
formam uma aglomeração urbana. No caso concreto da cidade de Barcelona, estas várias
cidades sintetizam-se assim em torno da cidade da cultura, do conhecimento, do desporto,
do comércio, dos serviços, do entretenimento, corporativa e da hospitalidade.
Por fim, o autor opta por mudar novamente de escala e guiar-nos por um conjunto
de itinerários (espaços, lugares, paisagens), que vão desde a Ciutat Vella, ao Eixample,
passando por Sants Montjuic, Gràcia, Nou Barris até à Área Metropolitana de Barcelona.
Nestes itinerários, são dados a conhecer exemplos de obras arquitectónicas, em
forma de ficha técnica ilustrada e brevemente comentada. Se alguns dos itinerários e
lugares escolhidos são conhecidos de muitos dos que potencialmente consultarão esta
obra, outros, são-no menos sendo até mesmo um pouco desenquadrados do que são as
áreas privilegiadas por este tipo de trabalhos; mas resultaram de uma escolha intencional do autor em desviar-se dos trajectos e estereótipos, para mostrar edifícios e espaços,
210
M. José Aurindo
não apenas do centro da cidade, mas também situados na periferia e na área metropolitana, enriquecendo a perspectiva conjunta que o orienta.
Deste modo, além de apresentar e analisar as transformações por que tem passado
a cidade, o autor acrescenta reflexões críticas e testemunhos pessoais, em que a análise
urbana se faz não só de forma temática, mas a diversas escalas, de modo cuidado. Tal
é conseguido, pela complementaridade das duas partes fundamentais em que a obra se
divide e que permite, através dos procedimentos metodológicos e do tratamento teóricoconceptual, obter uma visão não só sistemática, mas também de conjunto do que pretende
ser uma análise compreensiva das transformações urbanas que conduziram a cidade de
Barcelona ao que é actualmente.
Finisterra, XLV, 90, 2010, pp. 211-213
O MODELO BARCELONA: UM EXAME CRÍTICO1
Patrícia Abrantes2
O Modelo Barcelona constituiu um marco fundamental no urbanismo de finais do
século XX, seduzindo técnicos e políticos um pouco por todo o Mundo. Tal foi o seu
sucesso que foi replicado em algumas cidades, com destaque para as latino-americanas.
Entende-se por Modelo Barcelona o conjunto de intervenções de reestruturação urbana
realizadas a partir dos anos 80 na cidade de Barcelona, com recurso ao planeamento
estratégico e operacional e à gestão público-privada, numa perspectiva de desenvolvimento social e económico da cidade.
O livro El modelo Barcelona: un examen crítico do conceituado geógrafo espanhol
Horacio Capel é o resultado aprofundado da investigação apresentada pelo autor em
2004 no Décimo Colóquio Internacional sobre Arquitectura y Patrimonio. Tendo como
pano de fundo um colóquio sobre arquitectura e património, o autor não perdeu uma
oportunidade, volvidos cerca de 25 anos do início do Modelo Barcelona, de reflectir
sobre os seus aspectos positivos e, sobretudo, sobre as suas fragilidades, evidenciadas
progressivamente a partir da aprovação da candidatura aos Jogos Olímpicos, em 1986.
Através de um “olhar” experiente sobre o urbanismo produzido na cidade, com especial
destaque para as obras mais recentes de regeneração e reabilitação da Ciutat Vella e de
reconversão industrial do Poblenou, o autor questiona o modelo na sua componente
urbanística, focando questões de estruturação espacial, social e institucional, oferecendo
ao leitor os elementos necessários para reflexão. A análise do autor é enriquecida com
a selecção de um conjunto de fotografias reveladoras das subtilezas espaciais, sociais e
políticas do urbanismo praticado.
Os primeiros cinco capítulos enquadram as condições que conduziram ao desenvolvimento do modelo. A cidade do início de 80 revelava profundas carências de habitação e de equipamento social decorrentes da crise económico-industrial, que se vinha
prolongando desde 1973, e de uma população numerosa, resultante dos fluxos migratórios das décadas anteriores. Findo o período franquista, numa época de forte reivindicação social, a cidade inicia uma política de resolução das suas carências mas, sem os
meios financeiros necessários para produzir nova habitação, aposta na conservação e
reutilização do espaço construído com projectos urbanos de pequena escala ao nível dos
1
Capel H (2005) El modelo de Barcelona. Ediciones del Serbal, Barcelona.
Investigadora Auxiliar do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. E-mail:
[email protected]
2
212
Patrícia Abrantes
edifícios e do espaço público, tentando tocar todos os bairros da cidade, centrais e
periféricos (capítulo 2). Solucionadas estas carências e com a progressiva estabilização
económico-financeira, a que não é alheia a adesão à Comunidade Europeia em 1986,
com a globalização da economia e a consequente necessidade de inserção das cidades
no sistemas urbanos mundiais, Barcelona aposta num conjunto de estratégias para promover a sua atractividade internacional. A aprovação da candidatura aos Jogos Olímpicos em 1986 estimula projectos urbanos complexos e de grande alcance, com a
indispensável participação da iniciativa privada (capítulo 3). O designado Modelo Barcelona tornou-se possível devido a um conjunto de particularidades políticas, sociais
económicas e intelectuais. Na óptica do autor, torna-se excessivo intitular um processo
com condições tão específicas de “modelo” e replicá-lo a outras cidades (capítulo 4 e
5). Cada cidade tem especificidades próprias, merecendo ser planeada localmente, pelo
que no hay modelos, pero si enseñanzas útiles (Capel, 2005: 25).
Nos restantes capítulos o autor discute os vários conteúdos do modelo. A promoção de equipamentos urbanos e culturais de escala internacional, alguns com recurso à
assinatura de arquitectos de renome (e.g. Macba, Fórum das Culturas) e a aposta na
construção de uma cidade virada para a tecnologia e inovação e para a diversidade
sócio-económica (e.g. 22@Barcelona, Villa Olímpica, Diagonal-Mar), trouxe grandes
benefícios – mais turismo, mais empresas, mais habitantes –– mas também revelou
fortes debilidades (capítulo 6).
No plano da estruturação espacial, o Modelo Barcelona é promovido como um
modelo de cidade compacta (capítulo 7), apoiando-se em conceitos como reabilitação,
requalificação, regeneração, novas centralidades, densidade. Contudo, a atracção de
pessoas e actividades desenvolve-se de forma dispersa, impulsionada por proprietários
rurais, promotores imobiliários e autoridades municipais. Neste sentido, o modelo de
cidade compacta, concorre com o de cidade dispersa à escala metropolitana. À escala
urbana, é questionado o paradigma de cidade compacta perpetuado pelo Modelo Barcelona. De facto, por força da especulação imobiliária, o modelo de cidade compacta
faz-se em prejuízo dos espaços verdes, alguns semi-privatizados e outros condicionados
a espaços exíguos (capítulo 8) bem como à custa do congestionamento de tráfego (capítulo 9) e da verticalização de edifícios (capitulo 13), mesmo, em áreas onde o que se
propunha uma abertura para o Mar (e.g. Diagonal-Mar).
Na esfera social o modelo também tem sido posto à prova. Os grandes projectos
de reabilitação urbana da Ciutat Vella e de reconversão industrial do Poblenou fazem-se
em prejuízo das classes mais populares que, pelo preço elevado da habitação, deixam
de conseguir aceder às áreas que outrora habitavam (Capitulo 10). A Villa Olímpica e
a Diagonal-Mar no bairro do Poblenou são exemplos reveladores de situações sócioespaciais conflituosas, defraudando os objectivos preconizados de diversidade socioeconómica.
No domínio técnico-institucional, são também apontadas sérias críticas. O desenvolvimento de parcerias público-privadas na realização e gestão de projectos urbanos
contribuiu para o incremento de uma perspectiva economicista, voltada para a especulação imobiliária (capítulo 11) onde no siempre la negociación puede ser bien realizada,
lo que con frecuencia repercute en beneficio de los interesses privados, que han obtenido
tradicionalmente importantes rentas de la ciudad (p. 57). Às parcerias público-privadas
junta-se o papel de técnicos e políticos (capítulo 14) e a ruptura com o planeamento
urbano (capítulo 16). Assim, por um lado, o recurso sistemático a arquitectos e engenheiros, em detrimento de equipas pluridisciplinares, tem vindo a contribuir, em certos
O modelo Barcelona: um exame crítico
213
casos, para uma insensibilidade social e falta de visão do conjunto urbano. De la impresión de que la obsesión de los arquitectos por hacer obra nueva y por dejar su sello
personal, unido a una falta de sensibilidad histórica o a la simple incultura, les lleva
mucha veces a una total desvaloralización del patrimonio existente (p. 68). Por outro
lado, não tem havido vontade de rever e utilizar os instrumentos normativos de actuação
urbana e metropolitana de forma mais exaustiva e articulada, procurando integrar uma
visão de conjunto. Em todo este processo perdeu-se a capacidade de diálogo entre técnicos, políticos e população, pelo que o autor conclui dizendo que é importante que
Barcelona volte a poner a los políticos y a los técnicos verdaderamente al servicio de
los ciudadanos, de sus aspiraciones y de sus necesidades (p. 106).
O Modelo Barcelona construiu parte importante do que é hoje Barcelona cidade
e metrópole. Contudo, de um modelo com manifesta componente social, passou-se para
um modelo que sobreleva a visão económica. O ponto de ruptura parece ser a aprovação
da candidatura aos Jogos Olímpicos em 1986, construindo-se progressivamente uma
cidade voltada para o exterior, em detrimento dos seus habitantes. Se não há modelos,
há ensinamentos úteis, e de facto a análise crítica do autor conduz a uma reflexão sobre
o ordenamento que se pretende para outras metrópoles. Duas questões sobressaem no
desenvolvimento de um urbanismo voltado para o projecto urbano. Por um lado, a
questão da participação pública. Impõe-se uma reflexão sobre como deverá ser considerada a participação do cidadão num processo que, cada vez mais, promove a gestão
público-privada e a perspectiva económica. Por outro lado, a questão da escala. O urbanismo operacional faz-se sem uma visão de conjunto à escala alargada, impondo-se uma
importante reflexão sobre as incidências de tais intervenções, da escala urbana à metropolitana.
215
Normas de Publicação / Publishing Rules
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A Finisterra-Revista Portuguesa de Geografia
está aberta à colaboração científica que dê a
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216
Normas de publicação / Publishing Rules
cartográfica e que, sempre que possível, sejam
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publicar figuras a cores, mas estas serão custeadas pelos autores. Os quadros e figuras deverão
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7.1. Na bibliografia devem constar todas as referências citadas no texto e somente estas. As referências bibliográficas deverão ser elaboradas em
função dos modelos seguintes:
Livros
Sills A, Taylor G, Golding P (1988) The politics
of urban crisis. Hut­chinson, London.
Capítulos de livros
Gripp K (1994) End Moraines. In Evans D (ed.)
Cold Climate Land­forms. John Wiley and Sons,
Chi­chester: 255-267.
Artigos
Carrara A, Carrateli P, Merenda L (1977)
­Computer-based data bank and statistical analysis of slope instability phenomena. Zeitschrift
für Geomor­phologie, 21(2): 187-222.
Teses
Esteves A (2004) Migração e cidades: geogra­
fias de metrópoles multi-étnicas: Lisboa e
Washington D.C. Dissertação de doutoramento,
Uni­versidade de Lisboa, Lisboa.
Artigos na Internet
Azevedo M, Valle Aguado B, Nolan J, Martins
M, Medina J (2005) Origin and emplacement of
syn-orogenic Variscan granitoids in Iberia the
Bei­ras massif. Journal of the Virtual Explorer,
Electronic Edition, 19. http://www.virtualexplorer.com.au/journal/2005/19/azevedo. [Acedido
em 26 de Junho de 2006].
Documentos estatísticos
INE (2001) Recenseamento Geral da População
e da Habitação. Lisboa.
Documento da Internet
Batty M (2003) Network geography: relations,
interactions, scaling and spatial processes in GIS.
resolution should be equal to or greater than 300
dpi. The figures should be easily legible, considering the printed area of the Finisterra journal
(19‑x‑12cm). The authors are urged to comply with
the basic rules of cartographical representation and,
whenever possible, graphic conventions should be
used instead of grey scales. Colour figures can be
included in the text, but the costs of their publication should be borne by the authors. All the tables
and figures should be referred to in the text. Their
titles should be short, expressive and accompanied
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6.5. The authors’ mailing addresses and e-mail
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7. Rules for bibliographic references.
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Books
Sills A, Taylor G, Golding P (1988) The politics
of urban crisis. Hut­chinson, London.
Chapters or parts of books
Gripp K (1994) End Moraines. In Evans D (ed.)
Cold Climate Land­forms. John Wiley and Sons,
Chi­chester: 255-267.
Articles
Carrara A, Carrateli P, Merenda L (1977)
Computer-based data bank and statistical analysis of slope instability phenomena. Zeitschrift
für Geo-morphologie, 21(2): 187-222.
Theses and dissertations
Esteves A (2004) Migração e cidades: geografias
de metrópoles multi-étnicas: Lisboa e Washington
D.C. Disser­tação de doutoramento, Universidade
de Lisboa, Lisboa.
Internet articles
Azevedo M, Valle Aguado B, Nolan J, Martins
M, Medina J (2005) Origin and emplacement of
syn-orogenic Variscan granitoids in Iberia the
Bei­ras massif. Journal of the Virtual Explorer,
Electronic Edition, 19. http://www.virtualexplorer.com.au/journal/ 2005/19/azevedo. [acce
June 26, 2006].
Statistical documents
INE (2001) Recenseamento Geral da População
e da Habitação. Lisboa.
217
Normas de Publicação / Publishing Rules
Centre for Advanced Spatial Analysis. University
College of London http://www.casa.ucl.ac.uk/
working_ papers/paper63.pdf [Acedido em 30
de Maio de 2006].
7.2. Os autores são citados no texto apenas pelo apelido, seguido da data de edição (ex.: Gripp, 1994).
Em casos de dois autores, os apelidos deverão
ser separados por “e” (ex.: Benn e Evans, 1998).
Quando há mais de dois autores, cita-se só o
primeiro seguido de et al.
7.3. As referências bibliográficas não deverão ser
incluídas em notas de rodapé.
8. O primeiro autor dos artigos e das notas receberá
um exemplar da revista.
9. Direitos de edição: todos os direitos de edição
pertencem ao Centro de Estudos Geográficos, na
sua qualidade de Editor da revista.
Internet documents
Batty M (2003) Network geography: relations,
interactions, scaling and spatial processes in GIS.
Centre for Advanced Spatial Analysis. University
College of London [Retriered May 30, 2006].
http://www.casa. ucl.ac.uk/working_papers/
paper63.pdf
7.2. The bibliographic references throughout the text
should consist of the author’s surname followed
by the year of publishing (e.g. Gripp, 1994).
Should there be two different authors, their surnames should be separated by “and” (e.g. Benn
and Evans, 1998). Should there be more than two
authors, only the first author’s surname should
be indicated, followed by et al.
7.3. The footnotes should not include any bibliographic references.
8. All the first authors of the published articles and
notes shall be sent a copy of the issue of Finisterra
in which their text is published.
9. Copyright: all copyrights rest with the Centro de
Estudos Geográficos as Editor of Finisterra.
218
Publicações Recentes do Centro de Estudos Geográficos
PUBLICAÇÕES RECENTES
DO CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS
MEMÓRIAS
€
Alcoforado M J (1992) O Clima da Região de Lisboa. 15: 347 p.…………………………………… 20,00
Alegria M F (1990) A Organização dos Transportes em Portugal (1850-1910).
As Vias e o Tráfego. 12, 560 p.… ……………………………………………………………… 12,50
Dias M H (1991) Leitura e Comparação de Mapas Temáticos em Geografia. 13, 433 p.…………… 12,50
Fonseca M L (1990) População e Território. Do País à Área Metropolitana. 14, 416 p.… ………… 15,00
PUBLICAÇÕES AVULSAS
Amaral A (1996) Bibliografia Científica de Ilídio Amaral. 106 p.… ………………………………… 6,50
Cavaco C (coord.) (2008) Turismo. Inovação e Desenvolvimento (Actas do I Seminário “Turismo
e Planeamento do Território”). 393 p. … ………………………………………………………… 20.00
Daveau S (1998) Bibliografia Científica de Orlando Ribeiro (2.ª Parte, 1981-95)…………………… 1,00
Daveau S (2010) Um antigo mapa de Portugal (c. 1525). Reconstituição partir do Códice
de Hamburgo. 359 p. + CD-ROM … …………………………………………………………… 20,00
Dias M H, Botelho T, Coronel Henrique F (Coord.) (1999) Quatro Séculos de Imagens
da Cartografia Portuguesa, (2.ª Ed.), LIV p. + 71 p.… ………………………………………… 25,00
Fonseca M L (coord.) (2006) Desenvolvimento e Território: Espaços Rurais Pós-Agrícolas
e Novos Lugares de Turismo e Lazer. 361 p.… ………………………………………………… 20,00
Fonseca M L (Ed.) (2008) Cities in Movement. Migrants and Urban Change. 281 p.… …………… 20,00
Gaspar J, Vale M (1998) Desenvolvimento Industrial e Território
(Actas do Seminário Internacional), 326 p.… …………………………………………………… 12,50
Oliveira F R, Mendoza Vargas H (coord.) (2010) Mapas de metade do mundo. A cartografia
e a construção territorial dos espaços americanos: séculos XVI a XIX / Mapas de la mitad
del mundo. La cartografía y la construcción territorial de los espacios americanos:
siglos XVI al XIX. 643 p. … …………………………………………………………………… 20,00
Medeiros E J R (2009) O Processo de Cooperação Transfronteiriça na UE. Os casos de estudo
do INTERREG-A nas regiões de fronteira: Portugal-Espanha e Suécia-Noruega. 144 p.……… 14,00
Pires I M (Ed.) (2008) A Integração dos Mercados Ibéricos: um Processo Dependente
e Territorialmente Diferenciado? 201 p.… ……………………………………………………… 18,00
Simões J M (concepção), Costa E M da, Henriques E B, Queirós M, Lousada M A,
Neves M (colaboração) (2007) Portugal: Olhares da Geografia. 211 p.………………………… 50,00
Simões J M, Ferreira C (Eds.) (2009) Turismos de Nicho: Motivações, Produtos, Territórios. 411 p. 20,00
Vários (2007) Geophilia: o sentir e os sentidos da Geografia Homenagem a Jorge Gaspar. 717 p. 25,00
Publicações Recentes do Centro de Estudos Geográficos
219
RELATÓRIOS DOS NÚCLEOS DE INVESTIGAÇÃO
Abreu D de (1993) Programa de Análise Regional e Urbana. E.P.R.U.1, 40: 111 p.………………… Esgotado
Abreu D de (2006) Análise de Dados II. Programa. E.P.R.U., 69: 150 p.… ………………………… Esgotado
Alberto A (2001) O contributo da educação geográfica na educação ambiental.
A Geografia no Ensino Secundário. E.G.H.R.2, 43: 177 p. + anexos…………………………… 18,50
Alcoforado M J (1993) Programa de Climatologia. A.I.G-E.3, 16: 99 p.… ………………………… Esgotado
Alcoforado M J, Alegria M F, Ramos-Pereira A, Sirgado C (2009) Domínios Bioclimáticos
de Portugal Definidos por Comparação dos Índices de Gaussen e de Emberger.
CliMA 1, CEG, Lisboa. 59 p. e mapas (3.ª edição)……………………………………………… 8,00
Alcoforado M J, Dias M H (2002) Imagens Climáticas da Região de Lisboa.
A.I.G-E. (CD-ROM)… …………………………………………………………………………… 5,00
Alcoforado M J et al. (eds) (2004) Urban climate studies in Lisbon. A.I.G-E., 1: 72 p.… ………… 10,00
Alcoforado M J, Andrade H, Lopes A, Oliveira S, (eds) Fragoso M, Lombardo M,
Matzarakis A (2008) Estudos sobre cidades e alterações climáticas. A.I.G-E., 8: 108p.… …… 12,00
Alcoforado M J, Lopes A, Andrade H, Vasconcelos J (2005) Orientações Climáticas
para o Ordenamento em Lisboa. A.I.G.E., 4: 81 p.……………………………………………… Esgotado
Alegria J M (2004) As migrações pendulares de trabalho geradas por Évora.
E.P.R.U., 58: 213 p.… …………………………………………………………………………… 18,00
Alves T (2005) Serviços e Desenvolvimento que Oportunidades para as Áreas Rurais.
E.P.R.U., 62: 118 p.… …………………………………………………………………………… 15,00
Alves T (2005) Geografia dos Serviços. E.P.R.U., 65: 176 p.………………………………………… 15,00
Andrade H, Vieira R (2005) O estudo climático de um Espaço Verde de Lisboa: o Jardim
da Gulbenkian. A.I.G-E., 5: 45 p.………………………………………………………………… 12,00
André I (2005) Metodologias de Investigação em Geografia Humana.
E.G.H.R.: 90 p.… ………………………………………………………………………………… 12,50
Arrabaça P (2003) Formas urbanas na cidade construída. Agualva-Cacém, 1953-2001.
E.P.R.U., 57: 286 p.… …………………………………………………………………………… 20,00
Aurindo M J (2006) Portugal em Cartaz – Representações do destino turístico.
E.G.H.R., 48: 208 p.… …………………………………………………………………………… 15,00
Avelino J L (1998) O Protagonismo Territorial das Cidades Intermédias.
O Sistema Urbano Local de Santarém/Almeirim/Cartaxo. E.P.R.U., 48: 315 p.… …………… 20,00
Barata H D (1996) O Porto de Lisboa. O porto, a economia regional e o território.
E.P.R.U., 44: 188 p.… …………………………………………………………………………… 10,00
Barata Salgueiro T (1993) Programa de Geografia Urbana. E.G.H.R., D6: 126 p.… ……………… Esgotado
Barata Salgueiro T (1998) Globalização e Reestruturação Urbana. E.G.H.R., D7: 118 p.… ……… Esgotado
Barata Salgueiro T (2002) Lisboa e o Desafios da Nova Economia. E.G.H.R., 44: 132 p.… ……… 18,00
Cavaco C (coord.) (1995) As Regiões de Fronteira. Inovação e Desenvolvimento na Perspectiva
do Mercado Único Europeu. E.P.R.U., 43: 408 p.… …………………………………………… Esgotado
1
3
2
E.P.R.U – Estudos para o Planeamento Regional e Urbano.
E.G.H.R. – Estudos de Geografia Humana e Regional.
A.I.G-E – Área de Investigação de Geo-Ecologia.
220
Publicações Recentes do Centro de Estudos Geográficos
Cavaco C (1999) Desenvolvimento Rural Desafio e Utopia. E.P.R.U., 50, 455 p.…………………… 22,50
Cavaco C (coord.) (2002) Repensar Portugal na Europa, perspectivas de um país periférico.
E.P.R.U., 55: 393 p.… …………………………………………………………………………… 25,00
Cavaco C (2004) Repensar Portugal na Europa. Perspectivas de um país periférico.
E.P.R.U., 59: 135 p.… …………………………………………………………………………… 13,00
Cavaco C, Ramos A, Gomes H (1999) O Tapete no Desenvolvimento Local de Arraiolos.
E.P.R.U., 47: 56 p.………………………………………………………………………………… 4,00
Cavaco C, Fonseca M. L. (2001) Território e Turismo no Brasil. E.P.R.U., 53: 225 p.……………… 18,00
Claudino S (1995) Ensino Superior Português, Diplomados e Desenvolvimento Regional.
E.G.H.R., B9: 220 p.……………………………………………………………………………… 11,00
Dias M H (1993) Expressão Gráfica. (2.ª Edição), 11: 71 p.… ……………………………………… Esgotado
Dias M H (coord.) (2003) Contributos para a História da Cartografia Militar Portuguesa.
CEG-IgeoE (CD-ROM)…………………………………………………………………………… 20,00
Dias M H (2007) Cartografia Temática: Programa. A.I.G-E, 6: 146 p.… …………………………… Esgotado
Ferreira A B, Ramón J, Romaní V, Zêzere J L, Rodrigues M L (1999) A Glaciação Plistocénica
da Serra do Gerês. A.G.F.A.4, 37: 151 p.………………………………………………………… 17,50
Ferreira D de B (2005) Geografia Física dos Oceanos. A.G.F.A.: 240 p.… ………………………… 25,00
Ferreira D de B (1993) Agroclimatologia. A.G.F.A., 34: 119 p.……………………………………… 6,50
Fonseca M L (1993) Programa de Geografia Económica. E.P.R.U., 39: 106 p.……………………… 6,00
Fonseca M L (coord.) (1995) Lisboa: Abordagens Geográficas. E.P.R.U., 42: 136 p.… …………… 9,00
Fonseca M L (2005) Migrações e Território, Programa. E.P.R.U.: 202 p.… ………………………… Esgotado
Fonseca M L, Malheiros J, Esteves A, Caldeira M J (2002) Immigrants in Lisbon
– routes of integration. E.P.R.U., 56: 111 p.……………………………………………………… Esgotado
Fonseca M L, Malheiros J (2005) Social Integration & Mobility: Education, Housing & Health.
E.P.R.U., 67: 154 p.… …………………………………………………………………………… 15,00
Fragoso M (2004) O contexto atmosférico dos episódios de precipitação intensa no Sul
de Portugal. A.G.F.A., 39, 148 p.… ……………………………………………………………… 20,00
Gaspar J, Kulhe E, Schätzl L (1998) Effects of the European Integration Process on the Spatial
Economic. Development in Portugal. E.P.R.U., 46: 159 p.… …………………………………… 7,50
Gaspar J, Pires I, Henriques E B (2000) Towards a rural-urban partnership in Europe.
Some findings from SPESP study. E.P.R.U., 51: 165 p.… ……………………………………… 12,50
Lopes A (2005) Modificações no clima de Lisboa como consequência do crescimento urbano.
Vento, ilha de calor de superfície e balanço energético. A.I.G-E, 3: (CD)……………………… 5,00
Malheiros J M (2009) Ambiente Social Urbano – Programa da Unidade Curricular.
NETURB: 103 p.… ……………………………………………………………………………… 14,00
Marques R J (2000) Desenvolvimento local em espaço rural e novas competências.
E.G.H.R., 42, 193 p.… …………………………………………………………………………… 15,00
Medeiros C A (1999) A Ilha de S. Jorge (Açores). E.G.H.R., C17: 67 p.…………………………… 5,00
Mora C (2006) Climas Locais da Serra da Estrela. Características regionais e particularidades
locais dos planaltos e do alto vale do Zêzere. A.I.G-E, 7: (CD-ROM)… ……………………… 5,00
4
A.G.F.A – Área de Geografia Física e Ambiente.
Publicações Recentes do Centro de Estudos Geográficos
221
Moreira F J (1994) O Turismo em Espaço Rural. E.G.H.R., B8: 225 p.… ………………………… Esgotado
Morgado P, Rocha J (2008) Modelação Geográfica de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável.
Uma Aplicação à Área Metropolitana de Lisboa. E.P.R.U., 71, 137 p.… ………………………… 17,00
Neto C S (1993) A Flora e a Vegetação dos Meios Palustres do Superdistrito Sadense.
A.I.G-E., 96 p.… ………………………………………………………………………………… 7,50
Neto C S (2009) Fitogeografia de Portugal: Programa. CliMA 2: 246 p.… ………………………… 20,00
Neves M (2006) Os Sistemas Litorais da Estremadura Norte: Classificação e Caracterização
Geomorfológica. DILIF, 4: 118 p.………………………………………………………………… 12,50
Oliveira P (2003) Inundações na cidade de Lisboa. Guia de Hidrogeografia Urbana.
DILIF5, 181 p.… ………………………………………………………………………………… 15,00
Pereira A R, Regnauld H, Dias J A, Laranjeira M M (1994) Contribuições para a Geomorfologia
e Dinâmicas Litorais em Portugal. L.A.G.F6, 35: 91 p.… ……………………………………… Esgotado
Pereira A R, Ramos C e colaboradores (2000) Contrastes espaciais concelhios de algumas
componentes ambientais em Portugal Continental. DILIF, 1: 40 p.… ………………………… Esgotado
Pereira A R (2008) Sistemas Litorais: Dinâmicas e Ordenamento, D.I.L.I.F., 5: 113 p.… ………… 15.00
Ramos C (2005) Programa de Hidrogeografia. DILIF: 122 p.… …………………………………… Esgotado
Ramos C (2009) Dinâmica Fluvial e Ordenamento do Território (Programa de Unidade
Curricular do 2º Ciclo). SLIF, 8: 96 p.…………………………………………………………… 15.00
Reis J, Torres A, Mendes L, Lopes P (2004) Boas práticas na educação geográfica.
E.G.H.R., 46: 177 p.… …………………………………………………………………………… 18,00
Rocha J, Sousa P M (2007) Integração de Dados Estatísticos na Classificação de Imagens
de Satélite. E.P.R.U., 70: 158 p.… ……………………………………………………………… 17,50
Simões J (2009) Geografia do Lazer e do Turismo, Programa. E.P.R.U., 66: 171 p. (reedição)… … 12,00
Taborda J P, Alcoforado M J, Garcia J C (2004) O Clima do Sul de Portugal no século XVIII.
A.I.G-E., 2: 211 p.………………………………………………………………………………… 12,00
Vale M (coord.) (2001) Divest-Desinvestimento e Impactos Económicos, Sociais e Territoriais.
E.P.R.U., 54: 289 p.… …………………………………………………………………………… 20,00
Vale M (2005) Teorias e Políticas de Desenvolvimento Regional. E.P.R.U., 63: 96 p.… …………… 12,00
Vários (1994) Regional Conference of the International Geographical Union. E.P.R.U., 41: 109 p. 6,00
Vários (2000) 28th International Congress of the International Geographical Union.
E.P.R.U., 52: 116 p.… …………………………………………………………………………… 7,50
Vários (2002) Olhares sobre o Território e a Espacialidade. E.G.H.R.: 152 p.… …………………… 18,00
Vários (2005) Cartografia Militar Portuguesa dos séculos XVIII e XIX. 176 p.… ………………… Esgotado
Ventura J E (1996) Aspectos da Distribuição Espacial das Chuvas no Sul de Portugal.
A.G.F.A., 36: 92 p.………………………………………………………………………………… Esgotado
Zêzere J L (2001) Distribuição do Ritmo dos Movimentos de Vertente na Região a Norte
de Lisboa. A.G.F.A., 38: 167 p.…………………………………………………………………… Esgotado
Zêzere J L (2005) Dinâmica de Vertentes e Riscos Geomorfológicos, Programa.
A.G.F.A., 41: 128 p.… …………………………………………………………………………… 15,00
5
6
DILIF – Linha de Investigação em Dinâmica Litoral e Fluvial.
L.A.G.F – Linha de Acção de Geografia Física
222
Publicações Recentes do Centro de Estudos Geográficos
APONTAMENTOS DE GEOGRAFIA
Série Investigação
Barata Salgueiro T, Cachinho H (2002) Comércio, consumo e (re)produção do espaço urbano.…… €
3,00
Barata Salgueiro T, Cachinho H (2006) As Relações Cidade-Comércio. Dinâmicas de evolução
e modelos interpretativos.… ……………………………………………………………………… 2,50
Benko G (2000) Mundialização da economia e metropolização do Mundo.… ……………………… 2,00
Borges B, Duarte A, Paixão R, Pedro P, Ramos C (2007) Cheias Rápidas em Áreas Urbanas
e sua Percepção: o caso da Bacia da R.ª de Odivelas.…………………………………………… 4,00
Esteves A, Caldeira M J (2000) Reiventando culturas: contribuições da comunidade
cabo-verdiana para a dinâmica cultural de Lisboa.… …………………………………………… 3,00
Fernandes A, Santos C, Neto L, Ricardo S, Pereira A R (2004) Turismo de Natureza no concelho
de Marvão. Uma proposta condicionada em Agosto/Setembro de 2003.… …………………… 2,50
Gaspar J (2000) Perspectivas da Geografia para o século XXI.… …………………………………… 1,50
Gaspar J (2001) Developing cohesive cities: a perspective from the ground….… ………………… 2,00
Gaspar J (2001) The structuring role of urban systems in Peripheral European Regions.…………… 3,00
Henriques E B (2000) As indústrias culturais e o sector económico da cultura.
Questões conceptuais e metodológicas.… ……………………………………………………… 1,50
Lopes A, Vieira H (2001) Heat fluxes from Landsat images.………………………………………… 3,50
Lousada M A (2003) The police and the issues of urban spaces, 1780-1830..… …………………… 1,50
Medeiros C A (2000) Ponta Delgada no contexto das cidades insulares portuguesas.… …………… 1,50
Pereira A R (2000) Risco em ambiente litoral.……………………………………………………… 1,50
Pereira A R, Neves M (2000) The interaction between marine and sub-aerial processes in the
evolution of rocky coasts. The example of Castelejo – SW, Portugal.… ……………………… 1,50
Pereira A R, Laranjeira M M, Neves M (2000) A resilience checklist to evaluate coastal
dune vulnerability.… ……………………………………………………………………………… 2,25
Pereira A R, Zêzere J L, Morgado P (2006) Recursos Naturais em Portugal: da Inventariação
à Avaliação das Potencialidades do Território.…………………………………………………… 3,50
Rodrigues M L (2008) A Cartografia Geomorfológica: Evolução, Conceitos e Metodologias
(O Mapa Geomorfológico de Pormenor e alguns aspectos de aplicação).……………………… 2,50
Vale M (2000) How successful is Lisbon and Tagus valley. Former peripheral european region? 1,50
Vieira G T (2000) Cálculo do efeito de sombra com o Sistema de Informação Geográfica ILWIS 2.1.…… 2,50
Zêzere J L (2000) A classificação dos movimentos de vertente: tipologia, actividade e morfologia. 2,00
Zêzere J L, Pereira A R, Morgado P (2006) Perigos Naturais e Tecnológicos no Território
de Portugal Continental.…………………………………………………………………………… 3,00
Série Ensino
Gaspar J, Henriques E B, Vale M (2000) Lisboa: porta para o Sudoeste Europeu.… ……………… 3,00
FINISTERRA
FINISTERRA
REVISTA PORTUGUESA DE GEOGRAFIA
REVISTA PORTUGUESA DE GEOGRAFIA
DIRECTOR / EDITOR
MARIA JOÃO ALCOFORADO
FUNDADORES E ANTIGOS DIRECTORES / FOUNDERS AND FORMER EDITORS
ORLANDO RIBEIRO, SUZANNE DAVEAU, ÍLIDIO DO AMARAL, JORGE GASPAR, CARLOS
ALBERTO MEDEIROS
COMISSÃO EXECUTIVA / ASSOCIATE EDITORS
Maria Fernanda ALEGRIA, Margarida QUEIRÓS, Maria Luísa RODRIGUES
EDITORES DE SECÇÃO / THEMATIC EDITORS (CEG / UNIVERSIDADE DE LISBOA)
Maria João ALCOFORADO (CliMA), Maria Lucinda FONSECA (MIGRARE), João GARCIA (HEGEC),
Jorge MALHEIROS (NETURB), Eduarda MARQUES DA COSTA (MOPT), Ana RAMOS PEREIRA
(SLIF), José Manuel SIMÕES (TERRITUR), Mário VALE (NEST), Gonçalo VIEIRA (AntECC), José
Luís ZÊZERE (RISKam)
EDITOR CARTOGRÁFICO / CARTOGRAPHY EDITOR
Paulo MORGADO
COMISSÃO EDITORIAL EXTERNA / EXTERNAL EDITORIAL COMMISSION
Abel ALBET i MAS (U. Autónoma, Barcelona), Antoine BAILLY (U. Genebra), Michael BARBOUR
(U. Califórnia), Horacio CAPEL (U. Barcelona), Carminda CAVACO (U. Lisboa), João CORTE-REAL
(U. Évora), Fernanda CRAVIDÃO (U. Coimbra), Michael CROZIER (Victoria U. Wellington), Lúcio CUNHA
(U. Coimbra), Michael DEAR (U. Berkeley, Califórnia), Wilfried ENDLICHER (U. Humboldt, Berlim),
João FERRÃO (U. Lisboa), Jacobo GARCÍA ÁLVAREZ (U. Carlos III, Madrid), Maria Dolors GARCIARAMON (U. Autónoma, Barcelona), Thomas GLADE (U. Viena), Claude GRASLAND (U. Paris 7),
Ricardo Mendez GUTIERREZ DEL VALLE (Conselho Sup. Inv. Científica, Madrid), Rogério HAESBAERT
(U. Federal Fluminense), Peter HALL (U. Simon Fraser, Vancouver), Petri HOTTOLA (U. Oulu), Ronald
van KEMPEN (U. Utrecht), Russell KING (U. Sussex), Juan-Luís KLEIN (U. Québec­‑Montréal), Denis
LINEHAN (U. Cork), Diana MacCALLUM (U. Griffith), Javier MARTIN VIDE (U. Barcelona),
Andreas MATZARAKIS (U. Freiburg), Héctor MENDOZA VARGAS (U. Nacional Autónoma de México),
Bernadette MÉRENNE-SCHOUMAKER (U. Liège), Piotr MIGON (U. Wroclaw), Janice MONK (U. Arizona),
Armando MONTANARI (U. La Sapienza, Roma), Laco MUCINA (U. Curtin Technology), Frederick
NELSON (U. Delaware), Jorge OLCINA CANTOS (U. Alicante), Mary PEDLEY (U. Michigan), Andy
PIKE (U. Newcastle), Fernando REBELO (U. Coimbra), Emmanuel REYNARD (U. Lausanne), Joseli
Maria SILVA (U. Estadual Ponta Grossa), Mauro SOLDATI (U. Modena e Reggio Emilia), Robert STIMSON
(U. Queensland), José Carlos TEIXEIRA (U. British Columbia), Allan WILLIAMS (U. London Metropolitan),
Brenda YEOH (U. Singapura)
SECRETARIADO / SECRETARIAT
Rute VIEIRA
Celeste MENDES
TRADUÇÃO E REVISÃO / TRANSLATION AND REVIEW
Francês – Suzanne DAVEAU
Inglês – Alexandre ABREU / Teresa SUTCLIFFE
CAPA / COVER
Pedro CALAPEZ
CONTACTOS
Toda a correspondência deve ser dirigida a:
Toute correspondance doit être adressée à:
Letters should be addressed to:
FINISTERRA. REVISTA PORTUGUESA DE GEOGRAFIA
CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS
Ed. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Alameda da Universidade
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Serviços de Informação/Information Services: CEG/Secretaria Tel: +351 217 940 218
Finisterra Tel: +351 217 920 077
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Número duplo (numéro double, double issue): 173
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Abonnement annuel: (2 numéros + frais de port, n.º double + frais de port) :
Annual subscription: (2 volumes + postal charge, double issue + postal charges)
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INDEXADA EM / INDEXED IN
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SciELO.
Pré-impressão e impressão/ Pre-printing and printing: TEXTYPE (www.textype.pt)
PUBLICAÇÃO DO/PUBLISHED BY
CENTRO DE ESTUDOS GEOGRÁFICOS (Director – Diogo de ABREU) /
INSTITUTO DE GEOGRAFIA E ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA UNIVERSIDADE .
DE LISBOA (Directora – Teresa BARATA SALGUEIRO)
FINISTERRA
ÍNDICE
Nota Editorial / Editorial Note...................................................................... 3-4
Revista Portuguesa de Geografia
Margarida Queirós
Barcelona(s). Cidade dos projectos ou projectos da cidade?… ……… 7-32
Àngel Cebollada, Carme Miralles-Guasch
La movilidad en la región metropolitana de Barcelona:
Entre los nuevos retos y las viejas prácticas…………………………… 33-47
Fàbia Díaz-Cortés, Maria Dolors Garcia-Ramon
Mujeres, vida cotidiana y espacios públicos en la región metropolitana
de Barcelona. El caso de Ca n’Anglada de Terrassa… ……………… 49-69
Isabel André, Muriel Rousselle
Estratégias sociais criativas em Barcelona. O caso do Walden-7… … 71-90
Enric Mendizàbal
Una posible geografía de las identidades de Barcelona.
El caso del barrio de la Vila de Gràcia… …………………………… 91-109
Helena Cruz i Gallach, Marc Martí-Costa
Conflitos urbanísticos y movilizaciones ciudadanas:
Reflexiones desde Barcelona… ………………………………………… 111-132
Montserrat Pareja-Eastaway
Construyendo la Barcelona creativa:
Nuevos actores, nuevas estrategias… ………………………………… 133-152
Antònia Casellas, Esteve Dot Jutgla, Montserrat Pallares-Barbera
Creación de imagen, visibilidad y turismo como estrategias
de crescimiento económico de la ciudad… …………………………… 153-172
Horacio Capel
Epílogo: ¿En qué ha fallado Barcelona?… …………………………… 173-204
RecenSões/ACTUALIZAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
Maria José Aurindo
Projecto BCN: Estratégias urbanas – Geografias colectivas… ……… 207-210
Patrícia Abrantes
Modelo Barcelona: Um exame crítico… ……………………………… 211-213
FINISTERRA • XLV • 90 • 2010
ARTIGOS
ISSN: 0430-5027
Depósito Legal n.º 1956/83
Centro
de Estudos
Geográficos
Volume XLV
Número 90
Lisboa 2010
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