Análise de estratégias para os tomaticultores da região de Caçador-SC Carlos Leomar Kreuz Alceu Souza Sieglinde Kindl da Cunha Luiz Carlos de Carvalho Junior Resumo: O agronegócio do tomate é uma importante atividade econômica no município de Caçador-SC. O presente estudo discute o uso de estratégias típicas para agronegócios (Produção ecologicamente correta, Produto com denominação de origem e Identificação de produto oriundo de pequeno produtor) como forma de se solucionar os principais estrangulamentos existentes. Conclui-se que, tanto para pequenos como grandes produtores, determinadas estratégias podem trazer impactos positivos, com destaque para o uso da Denominação de origem e o Sistema de produção Integrada para os produtores de maior escala e o Programa de desenvolvimento da agricultura familiar para os tomaticultores de menor escala. 1. Introdução Especula-se que o tomate teve seu uso como alimento iniciado nos EUA por volta de 1850, sendo a cultivar denominada de “ponderosa” a primeira a que se teve notícia. No Brasil o tomateiro foi introduzido provavelmente pelos imigrantes italianos e portugueses, tendo o seu cultivo iniciado na década de 40 (Epagri, 1997). Atualmente o estado de Goiás se destaca como o maior produtor nacional, ,produzindo, em 2003, em torno de 950 mil toneladas com a maior produtividade média nacional (75 t/ha). Em Santa Catarina, um dos principais estados produtores desta hortaliça, são produzidos anualmente, com base no ano de 2003, 127 mil toneladas. A produtividade média estadual é de 50 t/ha. Enquanto o tomate produzido em Santa Catarina é destinado para o consumo de mesa, nos demais estados brasileiros boa parte do mesmo é destinado para a industrialização (ICEPA, 2003). O município de Caçador, situado no meio oeste catarinense e fazendo parte do Planalto Sul Brasileiro, se destaca por ser o município do estado a produzir o maior volume de tomate de mesa. De acordo com Kreuz (2003), esta hortaliça envolveu 550 produtores em uma área de 700ha plantados. O início dos cultivos no município se deu no ano de 1985, sendo a colônia japonesa de Caçador a responsável pela introdução do tomate no município. De uma produção que se caracterizava como sendo de tomates de mesa do grupo Santa Cruz (diâmetro longitudinal superior ao transversal com destaque para a cultivar Santa Clara) e do grupo redondo chato tipo Salada (diâmetro transversal igual ou superior ao diâmetro longitudinal), hoje a mesma é voltada aos tomates ‘longa vida’, assim denominados os tomates que levam um bom período de tempo (até três semanas) do momento da colheita até a sua deterioração. Os tomates ‘longa vida’ podem pertencer tanto ao grupo Santa Cruz (por ex. a cultivar Débora Plus), ao grupo Salada (por ex. cultivar Carmem) ou ao grupo Italiano (também conhecido por Saladete, tendo diâmetro longitudinal bem superior ao transversal). As cultivares do grupo Salada representam em torno de 80% da área plantada no município. Na Figura 1 apresentam-se os três grupos de tomate. Figura 1. Tomates dos grupos Santa Cruz (superior), Italiano ou Saladete (centro) e Salada (inferior) A principal variável a explicar o desenvolvimento da cultura do tomate em Caçador se deve a condição climática vigente. Em função da altitude média (em torno de 1000 m), o verão se caracteriza como sendo ameno. Assim, é possível colher-se tomate em Caçador nos meses de janeiro, fevereiro e março, meses em que as tradicionais regiões produtoras desta hortaliça enfrentam problemas advindos do calor excessivo do verão. O tomate colhido possui alta qualidade comercial, com alto teor de licopeno e sólidos solúveis. Em função disto, os principais mercados brasileiros desta hortaliça são abastecidos, no verão, pelo produto oriundo de Caçador. Contudo, esta atividade agrícola enfrenta, no momento, uma série de obstáculos para o seu desenvolvimento pleno. Kreuz (2003), comentado sobre a competitividade da cultura do tomate em Caçador, destaca uma série de pontos de estrangulamento, entre eles: Uso intensivo de agroquímicos (defensivos e adubos); Inexistência de normas para a produção de mudas de tomate; Comercialização feita por intermédio de atravessadores; Inexistência de estrutura e tecnologia de armazenagem da produção; Excessiva mobilização do solo na implantação da cultura; Pouca organização dos produtores; Dados os problemas existentes, o presente artigo se propõem a uma discussão da cultura com vistas ao encaminhamento da solução dos mesmos, através da implementação de estratégias adequadas a agronegócios. 1.1 Estratégia em agronegócios Estratégia é buscar uma vantagem competitiva sobre os concorrentes e, simultaneamente, diminuir a erosão das vantagens atuais. Poucas vantagens podem ser sustentadas indefinidamente, pois o tempo acaba tornando-as obsoletas. Quanto mais dinâmico o ambiente, mais acelerado será o processo de criação e erosão das vantagens competitivas. À medida que as vantagens se tornam cada vez mais temporárias, os gerentes mudam a ênfase da busca de uma vantagem estática incontestável para a criação de organizações que buscam continuamente novas fontes de vantagem (Day, 1999). Para Porter (1980, 1989) a existência de estratégia é condição fundamental para que a empresa obtenha o êxito. Particularmente, ele destaca duas estratégias básicas como sendo os caminhos para a empresa seguir: trabalhar com o menor preço do mercado ou diferenciar seu produto, tanto para o mercado global como para nichos de mercado. Porter (1999) apresenta o conceito de estratégia da seguinte forma: Estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa, envolvendo um diferente conjunto de atividades. Em essência, a estratégia leva a empresa a escolher atividades diferentes daquelas dos rivais. Se os mesmos conjuntos de atividades fossem os melhores para produzir todas as variedades de produtos, para satisfazer todas as necessidades e para ter acesso a totalidade de clientes, as empresas simplesmente se alternariam entre elas e a eficácia operacional determinaria o desempenho das mesmas. A eficácia operacional está associada a ferramentas e técnicas gerenciais como: gestão da qualidade total, benchmarking, terceirização, competição baseada no tempo, reengenharia, gestão da mudança, parceria etc. No meio rural, normalmente a geração de vantagens competitivas está associada aos avanços técnico-científicos que as unidades de pesquisa pública (quase sempre), ligadas a determinados produtos, desenvolvem. Assim, via de regra, quanto mais prioritária for considerada determinada cultura por parte dos órgãos de pesquisa, maior tende a ser o número de novas técnicas desenvolvidas, acelerando, assim, o processo de criação e erosão de vantagens competitivas por parte de produtores (Kreuz et al., 2003a). De uma forma mais específica, Neves et al. (2000) apresenta dois caminhos para o setor rural brasileiro: a) a busca de economias de escala advindas da concentração do setor produtivo, implicando em fazendas cada vez maiores; b) selecionar-se, para propriedades de menor porte, atividades mais compatíveis com a pequena escala, destacando-se o cultivo de frutas, hortaliças e o turismo rural. Especificamente, a pequena produção deve ser vista sob uma ótica sistêmica, buscando produtos adequados às exigências de consumidores finais, mais diferenciados e, principalmente, pouco susceptíveis a economias de escala. Estratégias diversas podem ser estabelecidas neste aspecto: produção ecologicamente correta, uso de denominações de origem, identificação dos produtos como advindos de pequenos produtores. Em síntese, o que Neves et al. (2000) propõem é um detalhamento aplicado a agronegócios da estratégia de diferenciação proposta por Porter (1980). 1.2 Objetivo O presente artigo analisa as estratégias típicas para agronegócios, notadamente às voltadas para o agronegócio do tomate em Caçador-SC, com o propósito de encaminhar soluções aos principais estrangulamentos enfrentados por este agronegócio. As estratégias selecionadas foram as seguintes: ‘produção ecologicamente correta’, ‘produtos com denominação de origem’, e ‘identificação dos produtos como advindos de pequenos produtores’. 2. Material e métodos Trata-se, segundo Silva e Menezes (2001), de uma pesquisa aplicada quanto à natureza do fenômeno (gera conhecimentos para aplicação prática); qualitativa quanto à abordagem do problema; descritiva e explicativa quanto aos objetivos e de levantamento e bibliográfica do ponto de vista dos procedimentos técnicos de coleta de dados. As informações necessárias para suportar este estudo foram obtidas de consultas diretas feitas a pesquisadores da área, extensionistas rurais, lideranças do setor e a produtores de tomate. Essas informações foram complementadas com dados secundários levantados junto a trabalho anteriores realizados na região, tais como os de Rebelo et al. (2000) e Kreuz (2003). As variáveis de análise foram: custos de produção; qualidade de produto; inovação tecnológica, escala de produção e mercado. O estudo abrangeu o município de Caçador, mas os resultados não diferem para outros municípios da região dos Campos de Palmas (Figura 2). PARAGUAI PAR AG U AI PAR AN Á ARGENTINA A R G E N T IN A S A N TA R IO G R A N D E D O S U L Figura 2: A região dos Campos de Palmas. C A T A R IN A 3. Resultados Discute-se, na seqüência, a aplicabilidade de cada uma das estratégias selecionadas com vistas a desenvolver o agronegócio do tomate em Caçador-SC. 3.1 Produção ecologicamente correta O uso excessivo de agroquímicos e a grande mobilização do solo por ocasião da implantação anual da cultura são entraves existentes no agronegócio (Rebelo et al. 2000) cuja solução pode ser encaminhada pela estratégia de produção ecologicamente correta. Neste sentido, dois movimentos necessitam ser considerados: o ‘Programa de desenvolvimento da agricultura familiar’ e a ‘Produção Integrada’. 3.1.1 O Programa de desenvolvimento da agricultura familiar De acordo com Tagliari (2003), um projeto pioneiro no Brasil, iniciado por pesquisadores da Epagri (Estação Experimental de Caçador-SC) e de outras instituições que trabalham com agricultura familiar está desenvolvendo um novo sistema de cultivo de tomate, de menor impacto ambiental e custo mais reduzido. Este sistema de produção teve a sua denominação recentemente alterada para ‘Programa de desenvolvimento da agricultura familiar’. Trata-se de um sistema de produção que está sendo desenvolvido de forma conjunta entre os pequenos agricultores (agricultura familiar), coordenados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e os pesquisadores da Epagri. Este trabalho teve origem com a adaptação da técnica do plantio direto à cultura do tomate. Uma vez adaptada esta técnica à cultura, outras técnicas foram sendo adaptadas, como a redução do uso de adubos químicos e de defensivos agrícolas. Hoje, face às técnicas adaptadas à cultura, a produção de tomate dentro do sistema de produção proposto, tem como principais vantagens: Menor desembolso de recursos financeiros, viabilizando a manutenção de pequenos agricultores na atividade; Obtenção de um produto com menor carga de agroquímicos, possibilitando um produto mais adequado às exigências do consumidor, o qual exige cada vez mais um produto sem resíduos químicos. O benefício ambiental oriundo do menor revolvimento do solo (plantio direto), implicando em um menor assoreamento dos rios. Por outro lado, dada a forma como o mesmo está sendo concebido, há desvantagens neste sistema de produção, com destaque para: Há perdas de produtividade em conseqüência da redução do uso de agroquímicos; A apresentação do produto muitas vezes não se apresenta de forma exigida pelo consumidor final, implicando em dificuldades de comercialização. A comercialização da produção é feita individualmente. Dada a pequena escala, os preços recebidos por produtores familiares tendem a ser inferiores aos dos tomaticultores que operam em maior escala. Há necessidade do monitoramento constante dos técnicos envolvidos. Dado o nível principalmente financeiro e cultural dos agricultores familiares, uma eventual desistência por parte das entidades envolvidas inviabiliza o sistema. Desta forma, as principais medidas que devem ser tomadas para a efetivação deste programa de produção parecem ser: Desenvolvimento de um sistema de comercialização diferenciada do tomate oriundo deste sistema de produção. O apelo ambiental (plantio direto) e ecológico (menor uso de agroquímicos) deve ser expresso na embalagem de comercialização, bem como a venda deste produto deve ser centralizada, o que pode ser coordenado pelo sindicato envolvido; Preocupação constante por parte dos pesquisadores envolvidos no sentido do desenvolvimento de técnicas de monitoramento de pragas e doenças, possibilitando o menor uso de defensivos e o menor dano dos mesmos nas lavouras. Contudo, trata-se de uma estratégia que pode trazer bons benefícios aos produtores envolvidos. Além do que, a entrada de novos pequenos produtores ao sistema, face à pequena escala de produção dos mesmos, não tende a reduzir os benefícios obtidos com a estratégia. 3.1.2 Produção integrada de tomate No Brasil, o pioneirismo no uso do sistema de produção integrada (PI) se deu com a cultura da macieira. De acordo com Sanhueza et al. 1998, na cultura da macieira, a principal medida adotada para atender aos anseios do mercado, o qual demanda frutas isentas de resíduos de agroquímicos, foi o desenvolvimento de um programa de “Produção Integrada de Maçã”, que preconiza a produção através de métodos ecologicamente seguros e a racionalização do uso de agroquímicos. A produção integrada (PI) é um sistema de produção que gera alimentos e demais produtos de alta qualidade e caracteriza-se por (Kreuz et al., 2003): a) aplicação de recursos naturais alternativamente aos produtos químicos quando possível; b) regulação de mecanismos para a substituição de insumos poluentes; c) garantia de sustentabilidade da produção agrícola; d) ênfase no enfoque holístico do sistema; e) conservação e melhora da fertilidade do solo e da diversidade do meio ambiente como componentes essenciais deste sistema de produção; f) métodos biológicos e químicos adequadamente empregados, considerando a proteção do meio ambiente, a viabilidade técnica e econômica e as demandas sociais. Em se comparando o sistema de produção convencional com a PI, destacam-se os seguintes aspectos: Adesão a uma certificadora Na PI é obrigatória a existência de uma empresa que irá emitir um selo certificando que se trata de produção integrada. Já no sistema de produção convencional a certificação não é necessária. Habilitação No caso da PI, é obrigatória a qualificação dos técnicos das técnica empresas que estarão atuando no sistema, através de cursos e treinamentos. Já no sistema convencional a qualificação é opcional. Manejo da lavoura Na PI toda a tecnologia aplicada na lavoura deve estar adequada com as normas técnicas da produção integrada. Este aspecto auxiliaria a minimizar o gargalo que existe na tomaticultura quanto a “não existência de normas para a produção de mudas”. O sistema convencional de produção tende a seguir o sistema de produção conhecido. Controle Na PI existe um acompanhamento durante todo o ciclo, sendo registradas todas as intervenções na lavoura através do caderno de campo. No sistema convencional o controle é opcional. Garantias A PI possui dupla garantia: a garantia oriunda da certificadora (que garante se tratar de produção dentro de determinadas normas pré-estabelecidas) e a rastreabilidade (código existente que possibilita retroceder-se até a lavoura e recuperar-se os registros existentes nos cadernos de campo). Na cultura do tomate, o sistema de PI ainda não foi desenvolvido. Contudo se percebe nas lideranças locais e nos pesquisadores envolvidos uma intensificação nas conversas no sentido do desenvolvimento do sistema. Isto é conseqüência principalmente dos reclames do mercado, o qual está a exigir um produto final com garantias de isenção agroquímicos. O valor a ser criado por este sistema de produção estará na melhoria percebida de qualidade pela oferta de um produto ecologicamente melhorado. Desta forma, para os tomaticultores, a produção de acordo com o sistema de produção integrada é tida como uma possibilidade de diferenciação da produção, gerando uma vantagem competitiva. Ou seja, como recomendam Craig e Grant (1999), as empresas buscam alguma singularidade que também crie valor e seja perceptível pelo comprador de seu produto. Neste contexto, os tomates oriundos do sistema de produção integrada irão propiciar, dentre outras, as seguintes vantagens a quem produzi-los: a) Obtenção de um preço mais alto pelo tomate oriundo da PI; b) Maior facilidade de comercialização, dada a preferência do mercado pelos produtos isentos de agroquímicos; c) Conscientização de estar contribuindo para, no longo prazo, a existência de uma sociedade e um planeta mais saudável. A adoção da PI irá requer, por parte dos tomaticultores, a adoção de um conjunto de técnicas sofisticadas de produção, as quais serão definidas pelo sistema, pressupondo um bom nível de conhecimento ou de escolaridade por parte dos mesmos. É possível de ser suposto, também, que os custos de produção serão alterados (possivelmente para a maior) dado o maior nível de exigência de adoção de tecnologias no sistema PI. Assim, o sistema PI deverá estar restrito aos produtores maiores, os quais possuem certa escala de produção, suportando maiores custos de produção. Contudo, torna-se previsível que a vantagem competitiva oriunda com o sistema de produção integrada não irá se sustentar, uma vez que a barreira à entrada de novas empresas a este sistema é de ordem tecnológica e poderá ser superada com relativa facilidade. 3.2 Tomates com identificação do local de origem A maior parte do tomate comercializado no Brasil nos meses de janeiro, fevereiro e março é oriundo de Caçador-SC. Este fato é conhecido para os intermediários (compradores do tomate em Caçador). Mas esta informação ainda não chegou aos consumidores. Na verdade o que se observa é que diferentes mercados possuem diferentes exigências no que tange a determinadas características do tomate. Para atender a estas exigências, têm sido desenvolvido parcerias entre os produtores e os intermediários (compradores). Assim, o comprador, que conhece as exigências do mercado que atende, forma parceria com um ou mais tomaticultores onde o ele: Determina qual a cultivar (e por conseguinte, grupo) que será cultivada; Garante, informalmente, a aquisição do tomate produzido. As variáveis que são usadas para a determinação do tomate que o produtor deve cultivar dentro do sistema de parceria informal existente são: Mercados que preferem tomates longos, ricos em sabor, implicam no cultivo de variedades oriundas do grupo Italiano, como é o caso da cultivar Netuno. O estado de Minas Gerais se caracteriza como exemplo deste mercado; Mercados que preferem tomates com destaque na cor (vermelho intenso) e no sabor, implicam no cultivo de variedades oriundas do grupo Santa Cruz, como é o caso da cultivar Débora Plus. O estado de São Paulo se caracteriza como exemplo deste mercado; Mercados mais distantes de Caçador, dada as dificuldades de transporte, requerem tomates que tolerem grandes viagens. Para estes mercados as parcerias se dão em torno de tomates do grupo Salada, muitas vezes para serem colhidos ainda verdes, com ênfase, entre outras, em cultivares como Carmem, Alambra e Netta. Para a eficácia de uma estratégia do tipo ‘Tomate de Caçador-SC’, alguns pontos deveria ser considerados, onde, via de regra, há necessidade de uma ação de coordenação por parte da Associação Caçadorense dos Produtores de Tomate (Acato): A comercialização do tomate tem sido feita ou em caixas de madeira tipo K que comportam de 22 a 25 kg do produto, ou em caixas plásticas abertas. Naquelas caixas a única identificação que é vinculada se trata da “boca da caixa”. Ou seja, no fundo da caixa, através do número de frutos necessários para preencher uma “fila” de tomates, fica identificado o tamanho dos tomates presentes na caixa. Quanto maiores os tomates, menor o número necessário para se fazer a “boca da caixa”. Neste particular, seria fundamental que os produtores adotassem um selo a ser afixado na caixa, onde, entre outras informações, seria vinculado a frase “Tomate de Caçador-SC”; Dada a presença de tomates oriundos de diferentes grupos em diferentes mercados, a estratégia poderia evoluir para: “Tomate Grupo de Caçador-SC”, onde palavra “grupo” seria substituída por Santa Cruz, Italiano ou Salada, de acordo com o que o produtor estiver comercializando; Há necessidade que sejam feitos acordos com os varejistas no sentido que estes divulguem o conteúdo expresso no selo a ser afixado na caixa. Assim, por exemplo, determinado supermercado que esteja comercializando tomates oriundos do grupo Italiano, comprometer-se-ia a expor cartaz no local de exposição do produto contendo a mensagem “Tomate Italiano de Caçador-SC”; Campanhas de divulgação do tomate caçadorense poderiam ser vinculadas das mais variadas formas, tais como revistas, jornais, rádios etc. Estas campanhas, além de levarem a mensagem quanto a origem do produto, poderiam fazer menção ao aspecto da importância do tomate para a saúde, tendo por base o fato da importância do licopeno no combate ao câncer (Póvoa, 2000). O uso desta estratégia (Identificação de origem) levaria a um fortalecimento da atividade. Apesar da inexistência de competição com outras regiões como a que ocorre com a maçã (Kreuz et al. 2003a) e com o alho (Kreuz et al. 2003b), esta estratégia levaria a uma melhor organização dos produtores, uma vez que sem a organização dos mesmos não há como implementar a estratégia. Assim, esta estratégia auxiliaria a minimizar um dos estrangulamentos existentes na atividade, a pouca organização dos produtores. Além disto, a melhor organização dos produtores acabaria reduzindo o impacto de outros dois gargalos da tomaticultura caçadorence, ou seja: a) o fato da comercialização feita por intermédio de atravessadores e; b) a inexistência de estrutura e tecnologia de armazenagem da produção. Sim pois os produtores organizados teriam maior poder de barganha frente aos intermediários e poderiam investir coletivamente em estrutura de armazenagem e classificação. 3.3 Identificação do tomate como advindo de pequeno produtor. A conscientização do consumidor final de que se trata de um produto oriundo de agricultura familiar (pequeno produtor rural) faz com que o mesmo esteja disposto a pagar um preço mais alto pelo produto. O consumidor tende a sensibilizar-se com a condição de ‘necessidade de permanência no campo destas pessoas’, motivando-se a pagar um adicional de preço para tal. Para se verificar a potencialidade do uso desta estratégia no agronegócio do tomate em Caçador, deve-se, em um primeiro momento, conhecer a estrutura fundiária envolvida. Nestes sentido, a área média de plantio de tomate em Caçador é inferior a 2 ha. Kreuz (2003), cita que em Caçador existiam no ano de 2001 550 produtores cultivando 700 ha, o que implica em uma área média de 1,27 ha. Além disto, segundo estimativas de técnicos do setor, acima de 90% dos tomaticultores possuem áreas inferiores a 1 ha. Desta forma, o tomate em Caçador é um produto que se vincula predominantemente a pequenos produtores. Assim, a estratégia merece ser considerada. Porém, dado o desenvolvimento do “O Programa de desenvolvimento da agricultura familiar”, discutido na sessão 3.1.1, tudo leva a crer que a estratégia “produto oriundo de pequeno produtor” deva ficar inserida no programa maior já discutido. 4. Conclusão Dados os estrangulamentos existentes na cultura do tomate em Caçador, o uso de estratégias adequadas poderá ser de grande valia no desenvolvimento deste agronegócio. Especificamente: A estratégia “produção ecologicamente correta” deverá auxiliar os pequenos produtores através do “O Programa de desenvolvimento da agricultura familiar”, possibilitando aos mesmos a obtenção de um produto com menor uso de agroquímicos no processo produtivo e o menor revolvimento do solo, minimizando, assim, dois sérios gargalos: a) Uso intensivo de agroquímicos (defensivos e adubos); b) Excessiva mobilização do solo na implantação da cultura. Além disto, o desenvolvimento do sistema de produção integrada possibilitará aos produtores de maior escala também fazerem frente a dois estrangulamentos: a)Uso intensivo de agroquímicos (defensivos e adubos); b) Inexistência de normas para a produção de mudas de tomate; O uso da estratégia “produto com denominação de origem”, dada à preferência de determinados mercados por certos grupos de tomate, deve acarretar na intensificação da organização dos produtores, predominantemente os maiores, implicando na minimização dos seguintes estrangulamentos: a) Pouca organização dos produtores; b) Comercialização feita por intermédio de atravessadores; c) Inexistência de estrutura e tecnologia de armazenagem da produção; Por fim, o uso da estratégia “produto de pequeno agricultor”, dada a concentração de pequenos produtores em Caçador, pode vir a ser eficaz para os tomaticultores deste segmento. Contudo esta estratégia deve fazer parte do “Programa de desenvolvimento da agricultura familiar”, incluído na estratégia “produção ecologicamente correta”. 5. Bibliografia CRAIG, J.; GRANT, R. Gerenciamento estratégico. São Paulo: Littera. 1999. 138p DAY, G. Manutenção da vantagem competitiva: criação e sustentação das vantagens em ambientes competitivos dinâmicos. In: DAY, G. S. e REIBSTEIN, D. J. A dinâmica da estratégia competitiva. Rio de Janeiro: Campus. 1999.. EPAGRI. Normas técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe. Florianópolis: Epagri, 1997. (Série Sistemas de Produção). ICEPA. INSTITUTO DE PLANEJAMENTO E ECONOMIA AGRÍCOLA DE SANTA CATARINA. Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina – 2002-2003. Florianópolis: Icepa, 2003. KREUZ, C. L. Análise da competitividade de atividades agrícolas na região de caçador, Santa Catarina. Florianópolis: Epagri, 2003. (Série Documentos). KREUZ, C. L.; SOUZA, A.; CUNHA, S. K. 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