Leia nesta edição Expediente Instituto Integrar Um olhar sobre os desafios e perspectivas apontadas para o Integrar................pág. 04 Desafios das Políticas Públicas da Educação de Jovens e Adultos em Esteio......pág. 05 Uma Política para a Educação de Jovens e Adultos...............................................pág. 06 Formação: o espaço da docência........................................................................... pág. 07 A natureza da escola..................................................................................................pág. 08 A escola e a educação necessárias à juventude da classe trabalhadora..............pág 09 A organização do currículo do Proeja - Perspectivas e Possibilidades................pág. 12 Educação profissional para quê? Construindo a formação dos trabalhadores para além do falso consenso.....................................................................................................pág. 14 Políticas públicas de educação e trabalho na perspectiva dos direitos sociais.....pág. 18 Escola Técnica José César de Mesquita: aprendendo e ensinando com as juventudes.................................................................................................................pág. 22 Educação de Jovens e Adultos em Canoas............................................................................................................................pág. 24 Inclusão Digital e Meio Ambiente na Escola de Jovens e Adultos João Paulo I..................................................................................................................................pág. 26 Educação de Jovens e Adultos em Esteio...............................................................pág. 27 Saiba como é a repercussão da Educação de Jovens e Adultos na comunidade de Esteio........................................................................................................................ pág. 28 O tempo........................................................................................................................pág. 30 Fone/fax: (51) 3225-7799 e/ou 3228-0972 R: Voluntários da Pátria, 595 Conj. 1601 Centro - Porto alegre - CEP: 90030 - 003 Site: www.integrar.org.br E-mail: [email protected] Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT - CNM/CUT Paulo Cayres - Presidente Instituto Integrar Nacional Edson Carlos Rocha da Silva - Presidente Instituto Integrar/RS - Porto Alegre: 2011 - Conselho de Gestão Paulo Chitolina (Coordenador Estadual), Claudir Antonio Nespolo e Lirio Segalla Martins Rosa Equipe Técnica/Pedagógica do Instituto Integrar/RS Solange B. Marmitt (Coordenadora Técnica), Docimar Querubin (Coordenador Pedagógico), Soloá Citolin (Assessora Pedagógica), Romilda Nunes de Oliveira (Assessora Administrativo-Financeira), Rosaura Vicente Ferraz (Secretária Pedagógica) e Jaime Fogaça (Assessor Pedagógico) Diagramação: Daiani Cerezer (Jornalista - MTb 12.106) Impressão: VT Propaganda Esse material pode ser reproduzido em todo ou em parte desde que citada a fonte. Distribuição Gratuita Apresentação O s anos 90 caracterizaram-se pela expansãoAUMENTO do desemprego e pela perspectiva neoliberal de enfraquecimento do Estado Brasileiro por meio de constantes privatizações e retirada de seu papel nas políticas públicas. Foi nessa conjuntura que os trabalhadores metalúrgicos, em São Paulo e depois em vários estados do Brasil, ousaram e propuseram um grande desafio: investir no desenvolvimento de uma proposta de educação para os trabalhadores que respeitasse o conhecimento construído ao longo da trajetória de trabalho e de vida. Em 2011, essa experiência completa 15 anos. Durante esse período, várias mudanças aconteceram. A conjuntura brasileira alterou significativamente, um metalúrgico assumiu a presidência da república e, apesar do preconceito, conseguiu reverter a lógica construída nos anos 90. Assim, o Brasil, a partir de 2002, avança rumo a novas perspectivas. Essas mudanças culminaram com a eleição da primeira mulher Presidente do Brasil. No campo da educação, estamos vendo um crescimento significativo dos Institutos Federais de Educação, o que tem gerado um aumento de vagas para os jovens, principalmente os de baixa renda, que agora tem mais chance de acessar as escolas técnicas e os espaços das uni- versidades, antes restritos a grupos com maior poder aquisitivo. O Instituto Integrar chega aos seus 15 anos com uma nova cara, novos ares e influenciado pela atualidade da conjuntura brasileira. Para celebrar esses 15 anos, estamos publicando a revista “Trabalho, Educação e Políticas Públicas”. A revista é fruto do acúmulo construído nesses últimos anos. Através do debate, o Programa Integrar tem contribuído para a construção de uma nova política de Educação de Adultos. As experiências na formação de Educação de Jovens e Adultos, na formação de professores da EJA e no acompanhamento as Secretarias de Educação de Canoas e Esteio estão sintetizadas nos textos e artigos que veremos na revista. Também há artigos algumas reportagens de grupos, escolas e depoimentos do que representam essa experiência. Além disso, o trabalho com as juventudes é destaque no artigo da Escola Mesquita. Esperamos que os textos fomentem o debate para que juntos, educandos(as), professores(as), educadores(as), organizações da sociedade, movimento sindical e popular, trabalhadores(as) e governos, construam e implementem uma outra política para a Educação de Jovens e Adultos, inclusiva e que assuma a cidadania como um direito de todos(as). Um olhar sobre os desafios e perspectivas apontadas para o Integrar Solange Marmitt Coordenadora Técnica do Instituto Integrar/RS A proposta deste texto é apon tar alguns desafios do Inte grar, frente a sua história e às políticas públicas de jovens e adultos, a partir da experiência desenvolvida no ultimo período. Pensar perspectivas nos obriga a retomar os objetivos que delinearam os primeiros passos no sentido de contribuir na elaboração e experimento de uma metodologia de formação e qualificação profissional que respeitasse e valorizasse a história de vida de trabalhadores e trabalhadoras. Para que assim se desse o processo de aprendizagem através da articulação dos conhecimentos construídos e sistematizados com escolarização e o diálogo com o mundo do trabalho. Consideramos que boa parte destes objetivos foram alcançados, nos projetos desenvolvidos pelo Integrar, nestes quinze anos. Mas também julgamos que um largo caminho ainda poderia ser vivenciado, contribuindo para o processo de implementação de uma política de educação que primasse pelo compromisso com a cidadania e com o desenvolvimento humano, sustentável e justo da sociedade. Neste período, várias modificações foram implementadas e fortaleceram a proposta inicial. Dentre elas, o critério do público para o qual o Integrar estava voltado. No início, exclusivamente para adultos maiores de 25 anos, pois a metodologia articula os conteúdos das áreas do conhecimento com a busca de construção de alternativas de trabalho e renda, a partir das experiências de trabalho dos educandos/adultos que se encontrem em situação de desemprego. Atualmente, o critério de idade passou a ser 18 anos, dialogando com a legislação atual e a metodologia. Articulando as áreas do conhecimento com o tema trabalhado, numa perspectiva de contribuir para o ingresso dos educandos no mundo do trabalho. Neste segundo caso, a certificação acontece através das Redes Municipais de ensino nas parcerias com as Prefeituras. Somados a estas novas características, outros elementos podem ser apontados, a partir da experiência do Integrar na parceria com as prefeituras, como fundamentais no processo metodológico: • A Formação sistemática e contínua dos educadores, a fim de aprofundar os vários temas e linguagens para sala de aula, entre outros; • A troca de experiências sobre o cotidiano da sala de aula entre os educadores e as várias propostas de ação; • A garantia de horário, para que os educadores realizem coletivamente o planejamento de trabalho; • A elaboração de material didático específico, a partir das trocas realizadas e das necessidades que o processo vai apontando; • A construção de um processo de sistematização das experiências; • O aprofundamento sobre os temas específicos que envolvem o trabalho como um todo; • O desenho e o planejamento específicos de atividades, como laboratórios e oficinas pedagógicas, como espaços de complementação na interrelação da aprendizagem com a realidade dos educandos, entre outros. Importante reforçar que muitos destes elementos já são, insistentemente, apontados e reconhecidos como essenciais na construção de uma política de educação que busca a inclusão cidadã dos educandos. A assessoria do Integrar favoreceu a consolidação destes elementos. E, para além destes pontos, pensar as perspectivas para o Integrar significa encarar a necessária atualização de sua estratégia e de seus objetivos junto ao movimento sindical. A longo prazo, a possibilidade de propor parcerias que possibilitem o desenvolvimento de cursos em que a escolarização esteja articulada com a qualificação social e profissional. Como foi inicialmente desenhado, após a Pesquisa Participativa com a Formação Técnica Geral/FTG, que deu luz ao Projovem Trabalhador e algumas tímidas experiências. A curto prazo, significa, sobretudo, repensar sua contribuição no campo da educação de jovens e adultos especificamente. Garantindo uma sistematização permanente das reflexões destes processos e uma participação mais ativa nos vários Fóruns e Conselhos sobre os temas afins. Tendo estes desafios como pano de fundo, visualizamos, como perspectiva imediata, a continuidade da contribuição do Integrar na construção de uma Política de Educação de Jovens e Adultos. Que se realiza através da formação continuada dos educadores, do planejamento coletivo e sistemático das atividades e na elaboração de cadernos pedagógicos com as práticas de sala de aula, construídos a partir das trocas coletivas, e tomados como suporte ao desenvolvimento da proposta políticopedagógica. Desafios das Políticas Públicas da Educação de Jovens e Adultos em Esteio Secretaria Municipal de Educação Esteio/RS A ntes de descrever os desafi os das políticas públicas re ferentes ao EJA no município de Esteio, cabe salientar que – conforme Amélia Hamze , a Educação de Jovens e Adultos nasceu no cenário da sociedade civil, das “lacunas” do Sistema Educacional Brasileiro, em que as principais características das ações governamentais em Educação de Jovens e Adultos eram de políticas assistencialistas, populistas e compensatórias. Importante destacar que em 1967, com a criação do MOBRAL (movimento brasileiro de alfabetização) objetivava-se o controle desta população e, somente nos anos 70, a Educação de Jovens e Adultos foi, então, caracterizada como suplência da educação formal, tendo por objetivo a oportunidade de acesso de jovens e de adultos ao sistema formal de educação, ou seja, os desafios são históricos e no todo do Brasil, mesmo que em respeito às particularidades dos Estados. Desta forma, com a LDBEN 9394/96, o EJA surgiu enquanto modalidade de ensino voltada para os alunos que não concluíram seus estudos oportunamente, ou seja, com a idade própria. Tal política voltou-se essencialmente para o acesso e a permanência dos alu- nos, e segue com tal objetivo na contemporaneidade. Sempre valorizando e respeitando as diferentes experiências, linguagens e conhecimentos frente às especificidades encontradas. Para Esteio, no entanto, o desafio está em superar uma realidade de desigualdade por total, ou seja, garantir e priorizar uma educação popular que valorize o diálogo e a interação com olhar crítico. Corroborando o Educador Paulo Freire, que em inúmeros de seus textos afirma - a todos os sujeitos participantes da modalidade EJA, no intuito de propiciar o protagonismo e, essencialmente, o enxergar-se enquanto ser atuante e importante na sociedade com base no que aprende, no que vive e no que ensina, também. Assim, a Secretaria Municipal de Educação e Esporte (SMEE), desde 2009, oportuniza formações que objetivam, principalmente, a reflexão com os educadores frente às práticas pedagógicas, buscando garantir a permanência e a continuidade dos estudos dos educandos, inserindo-os assim na realidade enquanto prática de vida, muito mais que teoria somente apresentada. Necessário salientar que além de garantir a escolarização, deve-se possibilitar aos sujeitos a apropriação das habilidades bási- cas e essenciais de leitura, escrita e conhecimentos gerais, para continuidade dos estudos, garantindo de fato o exercício da cidadania. Atualmente, o desafio no EJA é pensar uma prática educativa a partir de um contexto socioeconômico, político e cultural, considerando as especificidades e particularidades dos sujeitos – sejam eles trabalhadores ou não numa perspectiva de atender a demanda ainda existente de alunos e garantir o acesso e permanência destes. Também o de fomentar nos educadores a importância de uma formação continuada, instrumentalizando-os com referenciais teóricos metodológicos que deem conta das especificidades desta modalidade de ensino, pensando, desta forma, em todos envolvidos no que diz respeito a atuação na sociedade, mesmo frente as diferenças vividas, pensadas e disseminadas. Apesar do clichê, todos fazem parte do convívio social e a contribuição de cada um é importantíssima para o crescimento de uma nação, independente de qual área seja, já que há o protagonismo de todos. Valorizar o outro, independente de seu histórico escolar, é fundamental para uma ação conjunta das diferentes experiências que se complementam para a melhora, sempre, de um todo para todos. *Responsável pela seção de Pedagogia no portal educacional Brasil Escola, formada em Pedagogia, com administração em habilitação escolar. Uma Política para a Educação de Jovens e Adultos Secretaria Municipal de Educação de Canoas/RS O município de Cano as, através da Se cretaria Municipal de Educação, vem trabalhando intensamente na consolidação de uma política pública de Educação de Jovens e Adultos. A proposta pedagógica esta sendo construída a partir da realidade dos educandos e da prática docente, de acordo com a legislação vigente. A EJA, como modalidade do Ensi-n o Fundamental, constitui-se direito subjetivo dos jovens e adultos, tendo atribuição de assegurar, gratuitamente, àqueles que não tiveram acesso e/ou não concluíram o Ensino Fundamental na idade própria, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características dos estudantes, seus interesses, suas condições de vida e de trabalho, mediante educação de qualidade. Faz-se necessário garantir o acesso a uma educação de qualidade, que dialogue com a realidade de uma grande cidade como Canoas. Todo o processo educativo tem por objetivos, metas e princípios, a qualificação, reconhecimento e valoração dos saberes humanos. Temos como objetivos, possibilitar o acesso à educação para os jovens e adultos de acordo com as características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, estimular condições de permanência, desenvolvimento intelectual e exercício da sua cidadania, além de mediar ações educativas, reunindo cidadãos em contínua transformação, em um ambiente de respeito e socialmente constituído, em prol da construção da cidadania. Nosso compromisso é assegurar o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver e o aprender a ser, ou seja, o saber e o agir consciente das responsabilidades pessoais e interpessoais e o respeito aos valores. O acesso ao mundo do trabalho, as novas e constantes transformações tecnológicas nos desafiam a construir políticas públicas de Jovens e Adultos, capazes de dialogar com a realidade vigente e que garantam as ferramentas para construção de um processo educativo, autônomo, crítico, criativo, emancipatório e com capacidade de buscar soluções para as diversas dimensões da vida humana. Para dar conta do conjunto de desafios que estão colocados para a EJA, o município vem investindo na formação permanente dos educadores da rede pública. Em parceria com instituições públicas e privadas, visa construir os princí- pios norteadores do trabalho a ser desenvolvido nesta modalidade de ensino, bem como as diretrizes gerais e a organização curricular. Buscando trazer a reflexão, o debate e a construção da política de EJA, junto aos educadores, educandos e comunidade escolar. Vem trabalhando na adequação curricular e nos re-arranjos necessários a vida escolar para que educação de jovens e adultos seja parte integrante da mesma. Essa é uma opção política de investir na modalidade, para atender a demanda das pessoas que não tiveram acesso ou abandonaram a vida escolar. No processo, a participação nos fóruns tem sido uma das marcas da nossa caminhada, a retomada do Fórum Metropolitano, a integração ao Fórum de EJA do Rio Grande do Sul e a participação de Gestores e educadores no Encontro Nacional de EJA em 2011, reafirmam a disposição e o investimento na afirmação da EJA, como uma alternativa viável e qualificada de educação pública. Em síntese, procura-se promover com os educandos um ambiente em que eles sejam sempre estimulados a pensar na vida e na realidade; a formular perguntas; a saber pesquisar; a ouvir; a falar; a debater; a produzir sempre; a ter iniciativa; a trabalhar em grupo, a escrever a partir de seus próprios pensamentos; a socializar o que aprendeu; a sentir-se responsável pelo seu presente e futuro. Formação: o espaço da docência Soloá Citolin Assessora Pedagógica Instituto Integrar/RS N este texto, faremos uma bre ve reflexão sobre a importân cia, para o desempenho da prática docente, da formação continuada de professores. Olhando para o espaço pedagógico como parte do nosso cotidiano escolar; pois na sociedade de hoje, considerada letrada, a linguagem da leitura e escrita é tomada como metodologia. E é neste contexto que se insere a formação de professores. Durante longos anos, na história da educação, a formação tradicional não teve a preocupação de relacionar a teoria à prática concreta dos docentes. Os professores eram levados a executar tarefas, copiar modelos e técnicas, mas não a refletir sobre sua prática. Isso tornou o “que fazer pedagógico” como mero ato mecânico e repetitivo. No dizer de Girardi , “a formação do professor deve ser garantida para que ele possa ser um bom profissional. Porque treinar se treina animais, reciclar se reciclam máquinas, as pessoas se formam”. Aqui a palavra formação não tem a conotação de ser algo que formata a pessoa e a coloca em uma forma, mas é o ato do próprio sujeito ser capaz, em processo, de formar seus conceitos e garantir a construção de conhecimentos. Os discursos pedagógicos, balizados por diferentes teorias, elaboraram, a partir de políticas e programas de educação, diferentes visões de como organizar o currículo, bem como que tipo de formação se faz necessária para solidificar as mesmas. Muito se viu e ouviu sobre modelos prontos a serem seguidos, mas pouco, ou quase nada, se valiam das experiências “Estudar não é fácil, porque estudar é criar e recriar, é não repetir o que os outros dizem. Estudar é um ato revolucionário”. Paulo Freire práticas dos próprios professores. Tais práticas formativas demonstravam sua fragilidade quando se percebia um descontinuo processo, desprovido de um trabalho consistente e coletivo, que tornava os caminhos da educação cada vez mais distantes de construir conhecimentos e teorias que contribuíssem para o avanço do sucesso escolar. A sociedade não é inerte, ela se movimenta de forma permanente, a partir da história dos seus representantes, de forma dialética. Foi assim, a partir de teorias inovadoras, que muitos educadores passaram a observar as práticas pedagógicas. Aprendemos então que, para adotarmos um conceito de formação que consista em aprofundamento teórico metodológico, é necessário partir da prática docente e, também, olhar de forma reflexiva para a realidade em que está inserido o contexto escolar. Para construirmos uma escola que reflita sobre sua ação, quer seja na organização do trabalho pedagógico ou na do trabalho escolar, é primordial dedicarmos atenção à prática pedagógica da escola. O objetivo maior dos processos formativos é fazer com que cada professor se constitua em um pesquisador, porque este é o maior instrumento de aprendizagem do mesmo. No contato com as teorias e, principalmente, com a situação prática, é que o professor adquire novos conhecimentos. Assim terá a possibilidade de ter um novo olhar, imposto pela complexidade trazida através da interação sobre a prática. A partir dos ensinamentos do mestre Paulo Freire, assim como tan- tos outros que se empenharam em dedicar sua vida ao estudo da prática pedagógica, dentro de realidades concretas de crianças, jovens e adultos, é que compreendemos que a formação continuada de professores deve ser concebida como um processo continuo e permanente de reflexão e analise das práticas pedagógicas. Sempre tendo presente a importância de um suporte teórico que balize este olhar. Partindo deste pressuposto, precisamos buscar referenciais de educação/formação que evoluam, tanto no plano epistemológico como teórico e metodológico, para um processo que respeite a realidade dos sujeitos envolvidos no processo formativo, e que os mesmos possam partir da análise de suas práticas concretas. Numa prática que deve ser reconstruída constantemente, em consonância com a teoria, pois, no dizer de Freire a “reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”. Olhando a realidade dos sujeitos, suas histórias de vida; refletindo sobre a prática docente e buscando pressupostos teóricos que fortaleçam este caminho, devemos ir construindo, em um processo dialético e dialógico, a formação continuada. Formação esta que possibilite avanços no processo de construção de conhecimentos para todos os envolvidos. Nada está pronto, nada está dado, nada é o que parece ser. Então, como já dizia Saramago “tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas”. *GIRARDI, Corinta. Palestra proferida na Universidade de Passo Fundo em 1996. *FREIRE, Paulo. 1920. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa/ Paulo Freire – São Paulo: Paz e Terra, 1996 – (Coleção Leitura). SARAMAGO, José, (1999). Memorial do Convento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. A natureza da escola Profº. Ms. Jaime Fogaça* A lguns dos princípios básicos do ser humano é saber con viver coletivamente. A natureza humana ao longo de sua história evidenciou tal necessidade pela lógica da evolução do pensamento e das transformações provocadas e realizadas pelos diferentes momentos do surgimento de uma nova natureza. Mas afinal de que natureza falamos? Daquela cuja experiência coletiva supre e provoca nos indivíduos a buscar por organizar sua vida e a vida dos seus iguais. Quando entramos no universo da escola, a partir de seu projeto cultural civilizatório, percebemos que a perspectiva é racionalista e tem seu tempo de organização e sistematização dos saberes. No entanto, chega o momento em que a natureza humana e o conjunto das suas ações exigem que a escola vá além do padrão estabelecido e construa em sua natureza, o espaço onde o indivíduo e o saber cientifico estejam inseridos nos espaços locais e globais, mas sem que haja a desumanização de princípios que os torne integradores e socializados. É preciso saber que a natureza humana é também a natureza da escola, pois o espaço escolar se constituí como revelador dos conflitos, dos medos, das paixões, dos desejos, das trajetórias e das relações que os sujeitos estabelecem entre si e com o mundo. Portanto, a escola em sua natureza, é a própria imagem dos que os seus sujeitos que, conseguiram ou não realizar seus desejos, suas necessidades. Nas suas naturezas, a escola é um agente transformador, realizador e integrador. Não cabe mais um olhar voltado ao limitado processo de ensino-aprendizagem, pois mesmo com outras limitações de caráter econômico e estrutural, a escola é sim o portal para seus sujeitos encontrarem-se e perceberem-se nas suas vivências. Se teoricamente dizemos que a escola é um espaço complexo, sem receios podemos afirmar que são as diferentes dimensões humanas que tornam esse espaço com as mesmas características, se constituída por pensamentos complexos, mas humanos, é da natureza humana a complexidade e por isso atrativa, lúdica, formadora e provocativa. A partir desses elementos de reflexão sobre a natureza da escola é que as diferentes experiências surgem no seu âmbito. Sejam elas de natureza formal ou não, o importante é que possa ultrapassar as limitações do espaço físico e enxergar além dele, ou seja, integrar à convivência escolar as relações sociais, os sentimentos de diferentes naturezas em relação à vida humana e também das demais vidas do planeta e, primordialmente, os desejos por desenvolver sabor e o amor pelo aprender na escola, e não mais senti-la como natureza remota. Assim, a escola não é só mais um prédio impregnado de regras e obrigações, mas sim um espaço visto como a paisagem constituída por muitas imagens reais, onde os elementos de natureza viva e não só representativa, comungam de acordo com as suas experiências e de acordo com os saberes sistematizados sem necessariamente priorizar somente um desses elementos. A cada dia, a cada instante e a cada encontro a natureza escolar tornase mais viva, mais desejada, mais esperada pelo momento que se faz presente no cotidiano. Ela simplesmente acontece e, nesse acontecer é espontânea, mas organizada, é complexa, mas desperta o aprender e é formadora, mas realizadora dos desejos, das necessidades e dos princípios da natureza humana e, portanto escolar. Nesse caminho de construção, os momentos em que as práticas da escola se tornam necessárias, para enfrentar as limitações, que também fazem parte da natureza humana e escolar, como o não acesso ao escrever, ler, refletir e produzir, é importante para o encontro com o universo das experiências de vida e com a organizada vida escolar, constituindo o sentido de existência da escola e reafirmando as trajetórias já elaboradas por seus sujeitos. Verifica-se aí que os saberes já elaborados são necessários, que as novas experiências formadoras resultam da mediação dos diferentes momentos e processos históricos e, por isso, importantes e relevantes ao seguro e sentido de existência da escola. Essas provocações são algumas do universo de necessidades, vontades e desejos contidos na natureza que a escola cria, desperta e sem dúvida integra ao mundo, ao sujeito e ao portador de uma necessidade muito importante, de participar dessa natureza com a sua vida, com os seus desejos e com suas experiências. Perceber a escola numa perspectiva sempre de renovação, de encantamento e porque não de um espaço de realização dos sentimentos de conflitos e de conquistas e de projetos que constituem a natureza da vida. * Formação em Geografia. Mestre na área pela UFRGS. Membro da equipe do Instituto Integrar/RS. A escola e a educação necessárias à juventude da classe trabalhadora *Marco Mello Educador e Coordenador Pedagógico na Rede Municipal de Educação de Porto Alegre-RS A Juventude como problemática social e educacional P rogramas governamentais nas áreas de saúde e segurança pública, ONG´s de direitos humanos e com atuação na área social, empresas e fundações ligadas ao terceiro setor, pesquisadores ligados a universidades, meios de comunicação de massa, escolas... todos parecem ter, em um período relativamente recente, ampliado o interesse e tematizado a situação da juventude na sociedade contemporânea. Isso se deve, em boa medida, a emergência dos novos movimentos sociais e culturais no processo de redemocratização da sociedade e da vida política, nos anos oitenta e noventa. Também de pesquisas sobre as identidades coletivas contemporâneas e o multiculturalismo, tais como as questões envolvendo os recortes étnicos, de gênero e geracionais que alteraram profun- damente a configuração desse debate. Um exemplo dessa atenção é a aprovação recente pela Câmara dos Deputados do Estatuto da Juventude. O texto prevê os direitos e as políticas públicas destinadas aos jovens de 15 a 29 anos. Além de prever a criação da Rede e o Sistema Nacional de Juventude, que incluirão conselhos estaduais e os sistemas de avaliação e informação sobre a juventude. As políticas públicas, previstas pelo Estatuto, têm como base a geração de trabalho, renda e profissionalização dos jovens; condições especiais de jornada de trabalho, que possibilitem compatibilizar o emprego e os estudos; direito a meia passagem nos transportes públicos intermunicipais e interestaduais para jovens dentro dessa faixa etária. Se a juventude é uma categoria que deve ser vista como uma construção social, histórica, cultural e relacional, é preciso também lembrar que, sob essa generalização, escondem-se grandes distâncias e subsumindo outras tantas identidades: o lugar de classe; o pertencimento étnico-racial; as questões de gênero; a orientação sexual; a adesão associativa; a crença religiosa; as preferências estéticas; musicais; etc. Portanto, pode-se considerar a juventude como uma condição social que tem como parâmetro fundamental a faixa etária, mas não se resume a ela. *Assessora práticas formativas em educação junto à movimentos sociais e populares, do campo e da cidade e processos de Reconstrução Curricular junto às administrações populares. Endereço eletrônico: [email protected]. Os jovens e os indicadores da exclusão O reconhecimento dos jovens como “sujeitos de direitos” é recente (NOVAES,2007) e as iniciativas de políticas públicas para a juventude, sobretudo aquela empobrecida, que vive na periferia, são insignificantes diante dos enormes desafios contemporâneos. Ser jovem no Brasil hoje é pertencer a um contingente de 50,2 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos, mais de 1/4 da população brasileira. Desses, 14 milhões são tidos como pobres, pois a renda per capta de suas famílias não passa de meio salário mínimo. O desemprego é maior entre os jovens pobres, em torno de 26,2%, do que entre os ricos, 11,6%. E ainda mais grave, 68,3% dos jovens, entre 18 e 24 anos, não frequentam a escola (CASTRO E AQUINO, 2008). Aqueles matriculados no Ensino Médio encontram a dificuldade de conclusão e acabam, em boa medida, alimentando os altos índices de retenção e evasão na modalidade. De cada 100, apenas 14% dos jovens conseguem cursar uma universidade pública. Esses são alguns dos indicadores do quanto tem sido traumática a travessia dos jovens da classe trabalhadora. Nesse desejo de uma real integralização de sua formação escolar e de uma inserção soberana no mundo do trabalho. Toda essa busca em um país que ainda mantém um padrão extremamente concentrado de partição da renda e da riqueza, e como vimos pelos índices, também do capital cultural. A escola e a educação necessária E m especial as modalidades da Educação de Jovens e Adultos, a Educação de Nível Médio e a Educação Profissional, precisam urgentemente de uma reestruturação. Para que assim se possa, de fato, construir novos currículos que atendam aos anseios e necessidades da classe trabalhadora. O que certamente implica ir muito além de uma política compensatória, de curta duração e de preparação técnica para o mercado de trabalho e para as demandas do capital. Precisamos de escolas e edu- cadores que não dissociem as dimensões do trabalho, da tecnologia, da ciência e da cultura. Mas sim que valorizem os saberes, resultantes das vivências, trazidos por esses jovens que, muitas vezes, carregam consigo, desde muito cedo, as marcas de um processo de exploração e dominação. Uma escola que problematize as visões alienadas do senso comum e que favoreça uma formação omnilateral, integral, para a cidadania ativa. E que também, junto a isso, capacite para a inserção crítica no mundo do trabalho. Para tanto, é preciso discutir amplamente a função social da escola e da educação no contexto vivido. A gestação de um novo modelo de desenvolvimento, pautado na justiça social e na emancipação humana, requer que necessariamente se faça uma reordenação das políticas públicas em educação. Com aprovação e implementação do novo Plano Nacional de Educação (2001-2011), que se não tem o papel redentor e nem é tão avançado como gostaríamos, coloca seguramente o debate da educação e seus desafios em um patamar superior ao existente. PNE: Desafios no horizonte A travessia, da realidade vivi da à realidade desejada, re quer que as experiências contrahegemonicas gestadas na sociedade civil, nos movimentos sociais e populares, no meio sindical, possam ganhar consistência, capilaridade e amplitude, de forma a servir de parâmetro para as políticas públicas de Estado, e não apenas de governo. Mais do que isso, é necessário que consigamos a aprovação de um Plano Nacional de Educação – PNE, que aloque recursos suficientes para que possamos ter um desenvolvimento social e educacional compatível com o país que queremos. Com recursos públicos para as escolas pú- blicas e uma educação que promova a criticidade e a automonia dos sujeitos. Por essa razão, diversos movimentos sociais e populares, centrais sindicais, além de partidos e coletivos de esquerda, têm se mobilizado em torno da campanha “10% do PIB na educação pública já!”. Esta exige, do governo federal, que 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país seja destinado à educação pública, com implantação imediata. Basta lembrar que no Governo FHC tivemos em torno de 4% PIB, e no de Lula, 5,3% (NAGOYA, 2011). Precisamos de medidas, por parte dos gestores, que busquem a adoção de um padrão custoa l u n o indissociável da qualidade: o controle e regulação das iniciativas privadas, na educação, pelo Estado (como o voraz Sistema S); a valoriza- ção de todos os trabalhadores em educação, com formação permanente e em serviço, e que comece com o pagamento do piso salarial nacional e a implementação de planos de carreira. Além disso, faz-se necessária a democratização da gestão da escola; a universalização do acesso, a garantia de permanência e inclusão social na educação. Possíveis todas se com políticas de assistência, permanência estudantil e ações afirmativas. Exigências que, combinadas à ampliação da EJA, desde a alfabetização até a integração com a Educação Técnica e Tecnológica, e uma nova configuração do Ensino Médio e Profissional, nos seus tempos, metodologias e focos, podem alavancar uma nova fase de desenvolvimento social e humano em nosso país, e não apenas econômica, a serviço do capital. O investimento em recursos para a educação e o conjunto das políticas públicas requeridas não terão efetividade, todavia, se não forem desencadeadas ações na concretude do chão da escola, pelas comunidades e em uma perspectiva emancipatória. As juventudes da classe trabalhora e a educação popular N a especificidade pedagógi ca, a opção pela Educação Popular (FREIRE, 1983; MELLO, 2011) requer um processo dialógico, onde educadores e educandos reflitam, analisem, debatam e construam conhecimentos significativos, explorando as contradições e ambiguidades para o avanço possível. É a práxis político-pedagógica libertadora que vai construir o sonho possível (FREIRE, 1998; CITOLIN, 2005), e acumular na direção de um projeto histórico de emancipação das classes populares, para além do capital (MÉSZAROS, 2005). Afirmar uma prática pedagógica popular implica repensar, no plano pedagógico, os critérios de seleção, organização e hierarquização dos conhecimentos a serem trabalhados com as juventudes da classe trabalhadora, na EJA, no Ensino Médio ou na Educação Profissional, partindo dos saberes, práticas e culturas dos próprios educandos. Implica em buscar uma prática interdisciplinar dialética (MÉJIA JIMÉNEZ, 1989), que supere progressivamente o isolamento das disciplinas em si e da própria realidade; em uma dupla ruptura epistemológica (SANTOS, 2007), seja em relação aos saberes populares, seja em relação aos saberes científicos. Implica no desvelamento crítico dos processos de exploração, dominação e opressão, estimulando no plano político ações coletivas e organizadas na busca da superação das condições de desigualdade social. Como pertinentemente lem- bra FRIGOTTO (2009:135) “O olhar da escola e de seus profissionais que queiram pautar essa agenda, cobra dois movimentos concomitantes: estar com os movimen-tos sociais e com suas lutas e exercer, no terreno que nos cabe, uma crítica implacável aos governos reformistas e aos organismos internacionais, sentinelas e intelectuais do sistema capital e de sua natureza destrutiva e mutila¬dora de direitos e de vidas humanas” Nessa direção, é preciso determinação aliada à generosidade para trabalhar com a diversidade sócio-cultural, aprender e valorizar as experiências e os saberes da classe trabalhadora (QUERUBIN, 2005). Ao mesmo tempo em que façamos o bom combate às desigualdades sociais produzidas pela classe que vive da exploração do trabalho dos outros - os deserdados da terra. Comecemos socializando os recursos necessários para tanto: Um Plano Nacional de Educação com qualidade social e 10% do PIB para a Educação Pública. Referências bibliográficas ABRAMOVAY, Miriam; ANDRADE, Eliane Ribeiro, ESTEVES, Luiz Carlos Gil (Orgs). Juventudes: outros olhares sobre a diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; Unesco, 2007. CASTRO, Jorge Abrahão de; AQUINO, Luseni (Orgs.) Juventude e Políticas Sociais no Brasil. IPEA –Instituto de Pesquisas Aplicadas. Ministério da Fazenda. Governo Federal. Texto para Discussão. N.1335. Brasília, abril de 2008. CITOLIN, Soloá. O processo metodológico do Programa Integrar. In: QUERUBIN. Docimar (Org.) Educação de Jovens e Adultos: a experiência dos metalúrgicos do Programa Integrar/RS. Porto Alegre: Tommo Editorial, CAMP. 2005. pp.131-136. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 12 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. _________. “Educação: o sonho possível”. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues (Org.). Educador: vida e morte. 11 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998. FRIGOTTO, Gaudêncio. Escola e Trabalho numa perspectiva histórica: contradições e controvérsias. Sísifo. Revista de Ciencia da Educação. N.9, PP.129-136. Disponível em htttp:sisifo.fce.ul.pt, acesso em Nov 2011. MÉJIA JIMÉNEZ, Marco Raúl. Educação Popular: pedagogia e dialética. Ijuí: ed. UNIJUÍ, 1989. MELLO, Marco. “Culturas e Identidades Juvenis na Educação de Jovens e Adultos: tensões e desafios”. In: OLIVEIRA, Everton Ferrer de; LOCH, Jussara; AGUIAR. Helvécio (Orgs). Formação de Educadores de Educação de Jovens e Adultos. Anais do Seminário Nacional. Porto Alegre: Deriva, 2011. MÉSZAROS, István. A Educação para além do Capital. São Paulo: Boitempo, 2005. NOVAES, Regina “Juventude e sociedade: jogos de espelhos”. Revista Sociologia. Ano I, n. 2, Especial: Juventude Brasileira. 2007. pp. 6-15. NAGOYA, Otávio. Campanha exige 10% do PIB Para educação no Brasil. Revista Caros Amigos, Out 2011. P.32-33 QUERUBIN. Docimar (Org.) Educação de Jovens e Adultos: a experiência dos metalúrgicos do Programa Integrar/RS. Porto Alegre: Tomo Editorial, CAMP. 2005. SANTOS, Boaventura de Sousa. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. São Paulo: Boitempo, 2007. A organização do currículo do Proe Romir Rodrigues Professor de Geografia e Coordenador do PROEJA do Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Canoas O s fenômenos sociais e his tóricos permitem a observa ção, em um primeiro momento, apenas de sua aparência, pois, sua essência, sempre contraditória e em movimento, permanece refratária a uma percepção imediata. Para a compreensão da essência dos fenômenos é necessário estabelecer um processo de análise que procure englobar as suas várias dimensões e as diferentes forças que nele atuam, numa perspectiva de totalidade. Nessa direção, analisar o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade EJA – Proeja – requer percebê-lo, no mínimo, em dois aspectos importantes. Um deles está relacionado ao fato do Programa integrar um conjunto de movimentos, iniciados a partir do governo Lula, que redefiniram a política da educação profissional no Brasil. Esta redefinição foi permeada por disputas entre os diferentes sujeitos sociais, como os sindicatos, as empresas, o sistema S e a rede federal, sendo, portanto, atravessada por interesses contraditórios. A segunda dimensão é a da sua implantação efetiva, especialmente na rede federal de educação profissional, cuja inércia institucional ainda está carregada de práticas que, muitas vezes, não dialogam com as demandas dos educandos da educação de jovens e adultos. Aprofundando o aspecto do Proeja enquanto política pública, este se constitui em um programa, instituído pelo Decreto 5.840, de 13 de julho de 2006, que alia o aumen- to da escolaridade à formação profissional, articulando a Educação de Jovens e Adultos com a Educação Profissional. Segundo o documento base do Proeja, a pretensão é articular uma formação humana, com garantia do acesso aos diversos saberes produzidos historicamente pela humanidade, integrada a uma formação profissional, com sólida base científica e tecnológica, que permita não só compreender o mundo, mas sobre ele agir, na construção de uma sociedade mais justa e solidária. Nesse sentido, o Proeja pretende contribuir para a diminuição das desigualdades sociais indicadas, por exemplo, em dados que apontam para o fato de 65,9 milhões de brasileiros, de 15 anos ou mais, ainda não terem concluído o ensino fundamental; ou que 10 milhões de pessoas, maiores de 14 anos, integradas à atividade produtiva, serem analfabetas ou subescolarizadas. Para atingir este objetivo, o Proeja propõe a instituição de um currículo integrado, que busca articular os eixos do trabalho, ciência e cultura, numa concepção que, voltada para a EJA, reconhece os saberes produzidos no mundo do trabalho e nos diversos espaços sociais, na direção de uma formação integral. Para isso é proposto, pelo documento base, o estabelecimento de uma organização curricular que supere os limites dos modelos tradicionais fundamentados em disciplinas e na rigidez dos tempos e espaços. Uma estrutura curricular que implemente uma abordagem de conhecimentos e práticas interdisciplinares, baseadas em * Dados Censo IBGE, 2000, retirados do Documento Base do Proeja metodologias dinâmicas, que partam da valorização dos saberes dos educandos e de suas realidades. O currículo proposto para o Proeja avança numa direção mais crítica. Visto que reafirma a concepção de homem como ser históricosocial; busca desenvolver uma perspectiva de totalidade e integração de saberes, por meio de práticas interdisciplinares, com o protagonismo dos educadores e dos educandos na condução do processo educativo; e tem a pesquisa e o trabalho como princípios educativos. Para desenvolver estes pressupostos, o documento base do Proeja projeta como possibilidades metodológicas a organização do currículo por Complexo Temático, centrado em Resolução de Problemas, mediado por dilemas reais vividos pela sociedade e por Áreas do Conhecimento. Ou seja, independente da metodologia adotada, a organização curricular deve ser centrada na integração, no diálogo de experiências, no estudo da realidade local e na elaboração de um planejamento coletivo e participativo. Na análise dos pressupostos do Proeja é possível identificar que os limites para a sua implantação não estão na legislação ou na dimensão de política pública, mas sim no segundo aspecto anteriormente indicado: na sua implantação efetiva nas Instituições Educativas, especialmente os Institutos Federais – IFs – locais prioritários para o desenvolvimento do Programa. De modo geral, os IFs, apesar de possuírem uma institucionalidade recente, carre- eja - Perspectivas e Possibilidades gam, para o bem e para o mal, uma longa tradição das antigas Escolas Técnicas. Se esta tradição gera, em alguns casos, uma excelência na formação profissional, em outros, dificulta a entrada de novas metodologias e arranjos curriculares de tempo e espaço necessários para trabalhar com as classes populares, foco do Proeja. Tais dificuldades se constituem em vários momentos do desenvolvimento do Programa. Iniciando na definição de cursos sem uma investigação do arranjo produtivo e das demandas sociais locais, passando pela realização de processos seletivos, por meio de provas e pela organização curricular disciplinar, cindida entre componentes de formação geral e de formação profissional que não dialogam entre si. Outro elemento importante é a formação do grupo de educadores que, de maneira geral, não está preparado para trabalhar com as exigências da EJA, empregando equivocadamente os mesmos procedimentos metodológicos utilizados nas aulas dos demais cursos. Aprofundando um pouco mais a questão curricular, e atendo-se às experiências com as quais dialoguei, observam-se as mesmas sequências didáticas características do Ensino Médio “regular”, a rigidez nos tempos e espaços, a invisibilidade dos conhecimentos que os educandos construíram ao longo da vida e, dessa forma, reafirmam-se as mesmas práticas pe- dagógicas que foram responsáveis pela exclusão dos sujeitos em suas trajetórias escolares. É necessário ressaltar, porém, o fato de existir educadores que implementam metodologias diferenciadas, propõem ativid a d e s interdisciplinares e se preocupam em partir dos conhecimentos e saberes construídos ao longo da vida dos educandos. Outras formas de pensar o currículo começam a ser gestadas, com o perceber as áreas do conhecimento como importante instância de articulação do trabalho pedagógico, a implantação de eixos formativos selecionados a partir de questões da vida dos educandos e do mundo do trabalho e a realização de projetos de trabalho interdisciplinares. O Proeja é, portanto, um Programa que possui uma potencialidade significativa em termos de inclusão das classes populares e na qualificação dos trabalhadores, em especial, os que apresentam uma trajetória formativa intermitente. Além disso, constitui-se em uma política consistente para a reafirmação do caráter público da rede federal ao trazer para seu interior, de forma permanente, sujeitos que, tradicionalmente, estavam dela afastados. Conclui-se, nesta rápida e sintética análise, que o Proeja tem muito a avançar, mas já é, hoje, uma importante iniciativa para o aumento da escolaridade e para a qualificação profissional, mas que enfrenta, dentro da rede federal, um conjunto de resistências. Da mesma forma, o trabalho permanente de vários educadores começa a erodir estas resistências, abrindo espaços para a entrada de novas formas de pensar a educação, em especial no ensino profissional, e o papel social dos IFs. Para o Proeja, estes são momentos de travessia, de construção e reconstrução de sua identidade como uma importante política pública para o desenvolvimento social e econômico, do país e de cada pessoa. Uma possibilidade para o avanço é a realização de uma refundação deste Programa, com a retomada dos princípios e concepções expostas no conjunto de documentos que o criaram e sua transformação, em práticas concretas, no interior das Instituições. Bibliografia FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise. Ensino Médio integrado: concepções e contradições. São Paulo: Cortez, 2005. SETEC/MEC. Documento Base do Programa Nacional de Integraçãoda Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade EJA. Brasília: 2007. Educação profiss Construindo a formação dos trabalh Antonio Almerico Biondi Lima Educador popular, pedagogo, doutor em educação (UFBA), ex-diretor de Qualificação do Ministério do Trabalho e Emprego (2003-2007) e Sup 1. Um debate atual H á um aparente consenso so bre a necessidade de educa ção profissional. As diversas centrais de trabalhadores, empresariado local e multinacional, diversos setores e níveis de governo, organizações não governamentais, agências multilateriais, a opinião pública em geral concorda com a necessidade e expansão desta modalidade de educação. Mas tal aparência se desfaz rapidamente quando se pergunta: educação profissional para quê? para quem? como? onde? quais conteúdos devem ser aprendidos? A primeira questão é definir o que é educação profissional. Para fins deste artigo, educação profissional é "um conjunto de políticas, programas e ações de educação, independente do nível e de sua relação com a escolaridade,cujo princípio e objetivo é a formação para o trabalho em todas as suas formas". A definição é ampla o suficiente para abarcar, como preconiza a LDB, os cursos superiores de tecnologia, os cursos técnicos de nível médio e os cursos "livres", sem vinculação com a escolaridade denominados de "qualificação profissional", embora tais cursos sejam chamados de vários nomes (adestramento, treinamento, capacitação, etc.). O anúncio do Programa de Acesso à Educação Profissional e Tecnológica (PRONATEC) recrudesceu o debate e exige reflexões críticas sobre o desenvolvimento desta política pública tão importante para o desenvolvimento social econômico e ambiental do Brasil. 2. Um breve passeio na história da educaçãoprofissional no Brasil P ara entender o atual estado da educação profissional no Brasil, pode-se utilizar várias abordagens, partindo do pressuposto que a formação de trabalhadores sempre foi objeto de disputa envolvendo os donos do capital, seus representantes no Estado e os próprios trabalhadores. O que está em jogo é a qualificação do trabalhador, entendida comoos conhecimentos necessários para realizar um determinado trabalho (este conceito sociológico não deve ser confundido com o termo "qualificação profissional", que tem um sentido mais restrito, de cursos). sendo fundamental para a produção do mais-valor e, portanto, adquire papel estratégico nas interações capital e trabalho. A primeira abordagem envolve a historicização do desenvolvimento da educação profissional. No Brasil colônia e império, formar para trabalho era algo para "órfãos e desvalidos", constituindo uma rede de escolas confessionais que dura até hoje. Já os escravos eram "formados" no trabalho forçado e a elite ia estudar nas cortes portuguesa e francesa e, posteriormente, nas poucas faculdades criadas por aqui. No Brasil da 1a República, as experiências de formação de trabalhadores conduzidas por socialistas e anarquistas ("escolas livres") são sufocadas pela repressão e se instala, em 1909, a 1a rede pública, as escolas de artífices mantidas pela União, que viriam a constituir a atual rede federal de educação. Com o estado novo, transfere-se parte da responsabilidade da formação dos trabalhadores para o trabalho para o empresariado, sendo criados o SENAI e o SENAC, base da rede pública sob gestão privada denominada "Sistema S". Mais ou menos nes- te período foram criadas também escolas públicas estaduais, cujo desenvolvimento seria desigual e cíclico ao longo do século XX. A estas "grandes "redes" se somam, em relação aos cursos técnicos,as iniciativas de escolas privadas, escolas municipais, escolas vinculadas às universidades e em relação à qualificação profissional, um sem número de entidades: de clubes de mães, sindicatos, empresas (universidades corporativas), igrejas, organizações não governamentais, etc. Nestes processos históricos ficam evidentes questões recorrentes como vinculação com o modelo de desenvolvimento ,a dicotomia autonomia-subordinação, relação com a educação básica, categorias de trabalhadores selecionados para qualificação, financiamento público de ações privadas, etc. sional para quê? hadores para além do falso consenso perintendente de Educação Profissional da Bahia (2008 até o presente) 3. Uma 2ª abordagem: O Campo Qualificação e seus atores P odemos encarar os processos envolvendo qualificação como um campo de forças e de luta (Bourdieu), ou seja um espaço social onde as disputas pelo controle de objetivos, conteúdos, métodos e recursos se desenrolam Neste campo, os atores sociais transitam, e sua capacidade de intervenção lhes dão papel de protagonistas, coadjuvantes ou meros figurantes. Como no mundo da arte, os papéis podem se inverter, resultado das lutas e do reconhecimento da capacidade de intervenção da cada ator. Analisando o campo Qualificação nos últimos 25 anos, podemos observar tais mutações. Por exemplo, verifica-sea forte presença das agências multilaterais nos anos FHC, enfraquecidas nos Governos Lula; a ambiguidade e complementariedade do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Ministério da Educação (MEC) em todo o período; o permanente protagonismo do empresariado e o papel quase coadjuvante (por vezes figurante) das organizações de trabalhadores. Bourdieu afirmava que no cam- po, em contraponto aos "sacerdotes" (responsáveis por manter a "tradição" e a "liturgia" do campo, ou seja , manter as relações de poder estáveis em poder de um pólo hegemônico), aparecem "profetas", quase sempre "heréticos", que questionam as estabilidade do campo e dão fundamento às lutas travadas dentro dele. O momento atual é auspicioso para que tais heresias se afirmem, questionando o estabelecido, principalmente aquelas testadas e ancoradas em base social popular. 4. Algumas das heresias que estão modificando as relações de força do campo Qualificação a) Formação Integral e Currículo integrado A concepção de Educação Profissional como Educação permite pensar a formação do estudante, jovem e/ou trabalhador,como pessoa humana, trabalhador/a e sujeito de direitos. Uma das formas de integração, experimentada pelo movimento sindical (CUT) foi a principal prática de resistência à separação da educação básica da educação profissional nos anos FHC. Adotada atualmente pelo MEC e reintroduzida pelo Decreto 5.154/ 2004 (que revogou o famigerado decreto 2.204/96), a integração da educação básica com a educação profissional é uma necessidade permanente, seja como forma de humanizar o currículo, seja como base científica da tecnologia ou ain- da como forma de reintroduzir o trabalho no ensino médio. Na rede estadual da Bahia corresponde por mais de 75% da oferta de cursos. b) Eixos Tecnológicos/ Arcos Ocupacionais Introduzida pelo MEC no 1o governo Lula, a classificação dos cursos tecnológicos e técnicos de nível médio em eixos tecnológicos, além de vinculá-los a uma base científica comum e permitir a discussão sobre o papel social das tecnologias, contribui para a regulação da oferta de cursos, objeto de disputa no campo Qualificação. Já os arcos ocupacionais foram elaborados pelo MTE e introduzidos em ações de qualificação profissional e no Programa Projovem como estratégia de supe- rar a tradicionalfragmentação curricular (voltada para uma única ocupação ou meramente atividades dela), com uma formação ampla que, ao mesmo tempo em que amplia as possibilidades de inserção no mundo do trabalho, possa ser ponto de partida para os processos posteriores de qualificação. c) Ciências Humanas e da Linguagem Nos cursos de educação profissional ( e a formação de seus educadores), a base científica não pode se limitar às ciências exatas e naturais. As ciências humanas e da linguagem são bases necessárias para a formação integral. Neste sentido, os currículos das disciplinas da base nacional comum podem influenciar as da formação técnica es- pecífica e vice-versa. Além desta estratégia, a rede estadual da Bahia adotou a "formação técnica geral" no currículo de todos os seus cursos. Elaborado originalmente por Maria Nilde Mascellani e aplicada com sucesso nas experiências do movimento sindical, trata-se de um conjunto de componentes curriculares que servem de ponte entre a educação básicae técnica. No caso baiano: Linguagem-Inclusão Digital/ Biologia-Saúde, Segurança e meio Ambiente/ Filosofia Ética e direitos do trabalho e Iniciação Científica /Sociologia-Organização do Processo de Trabalho e Organização Social do Trabalho. d) Pedagogia do Trabalho: o Trabalho como princípio educativo e a intervenção social como princípio pedagógico Entendendo a Pedagogia como ci- ência da educação (de todas as formas e possibilidades de educação e das suas relações), é necessário aprofundar a investigação dos processos educativos relativos ao trabalho. Na perspectiva marxiana e gramsciana, é imperativo pensar o trabalho como princípio educativo, não apenas o trabalho como um fim, mas como portador de um conjunto de significados: filosófico, sociológico, econômico político, prático e pedagógico. O trabalho constrói conhecimentos e saberes etodo trabalhador é portador deles, embora sob o capitalismo os conhecimentos sejam apropriados pelo capitalista e os saberes do trabalho menosprezados pela elite acadêmica e pela elite científico-tecnológica. Recuperar e valorizar tais conhecimentos e saberes, além de compreender os processos de aprendizagemno e para o trabalho são objeto da Pedagogia do Traba- lho. Um exemplo interessante, em execução na Bahia é a integração de educação profissional com educação de jovens e adultos (PROEJA Médio e Fundamental ou FIC), que também pode assumir a forma , para determinadas categorias de trabalhadores de PROEJA ALTERNÂNCIA. Além disto, a educação profissional da Bahia adota a intervenção social como princípio e ferramenta pedagógica. Trata-se de mobilizar professores e estudantes para prestação de serviços à comunidade imediata e/ou ao território onde a unidade escolar se insere, em um tipo de "estágio social". O aprendizado com ocorre tanto pela execução prática de procedimentos, como da vivência e discussão do contexto e das situações sociais vivenciadas. Além disso, as ações se articulam com orientação profisisonal e o estágio propriamente dito. 5. Desafios atuais:velhos e novos atores em luta R etornamos ao ponto de parti da deste artigo. Educação profissional para quê? Há de fato um consenso sobre a educação profissional? Nos tempos atuais, as noções ainda hegemônicas de competência e empregabilidade influenciam a presença, ausência e intensidade da vinculação das ações de qualificação de qualquer nívelcom as estratégias de desenvolvimento sócio econômico ambiental includente. O empresariado, autointitulado "expert em qualificação eficiente", impõe um pensamento do "aqui e o agora", ou seja do tempos e espaços imediatos. Ao contrário, o pólo não hegemônico, no qual nos incluímos, percebe a territorialização e interiorização numa perspectiva de futuro, como indutores de uma nova forma de governança do território, oposta àquela que preserva, como reserva de capital, as regiões menos desenvolvidas, relegando gerações inteiras ao abandono, até o momento de sua eleição como "bola da vez" do desenvolvimento capitalista. Se a qualificação por si só não gera emprego e renda, como insinuam os defensores dateoria do capital humano, não se pode ter dúvida de seu papel positivo em processos de inclusão, na desprecarização e na regulação do uso da força-de-trabalho, nas lutas por melhores condições e relações de trabalho. É preciso reconhecer que o governo Lula resgatou a educação profissional, retirando-a da sua imagem de "patinho feio" da educação (imagem compartilhada com a educação de jovens e adultos, onde ainda persiste). Ora,se ocorreu uma enorme expansão da oferta em nú- mero de matrículas e unidades, ela ocorreu por meio da rede federal (Governo Lula I) e da rede estadual (Governo Lula II), superando a oferta privada. Neste momento, tratase de consolidar estas redes, dando-lhes suporte e insumos para que a tal expansão possa contribuir para o desenvolvimento social e para a inclusão. Entretanto, alguns elementos precisam estar presentespara que tal contribuição se concretize. Vamos elencar as condições estão vinculadas às políticas públicas e sua regulação, onde a falta de consenso se torna evidente. REGULAÇÃO: estão em fase final de discussão no Conselho Estadual de Educação (CNE) as diretrizes nacionais de educação profissional. A versão incial sofreu muitas críticas, sendo elaborado um documento alternativo elaborado por representantes da rede federal, rede estadual (a qual representei), sociedades científicas e movimentos sociais. Existe uma forte contradição entre a versão incial e as diretrizes do ensino médio, já aprovada pelo CNE mas ainda sem homologação do MEC. Uma possibilidade é a fusão dos dois pareceres, entretanto deve se alertar que o documento alternativo foi elaborado na perspectiva de abranger toda a educação profissional, não apenas os cursos técnico de nível médio, envolve a formação de professores e, inclusive, uma perspectiva da regulação (inclusive com a criação do catálogo nacional) dos cursos de qualificação profissional. A educação profissional pelo seu caráter, origem e papel estratégico não pode ser pensada apenas como modalidade do ensino médio. Isto seria um retrocesso na luta daqueles-que-vivem-do-trabalho pelo reconhecimento de seus conhecimentos e saberes. A identidade da educação profissional e sua sinergia com as políticas de trabalho, emprego e renda é algo que ultrapassa o campo educacional e deve ser aprofundado. POLÍTICAS PÚBLICAS: A proposta de Plano Nacional de Educação para o Decênio 2012-2021 enviado ao Congresso nacional em dezembro/2010 é bastante generosa com a educação profissional, não se comparando, nem de longe, com o PNE anterior. Entretanto há uma fragmentação de metas que precisa ser resolvido, para que os resultados sejam passíveis de monitoramento e mensuráveis. O PNE também padece do problema recorrente de não se considerar as redes estaduais de educação profissional no processo de consolidação da política pública. Os atores sociais devem acompanhar e intervir nas discussões para que os avan- ços obtidos nos últimos anos sejam consolidados. O PRONATEC, uma das maiores inciativas do gênero no mundo e um dos carros-chefe do governo Dilma, parece procurar anteceder o PNE em algumas de suas metas. É, sem dúvida, um programa ambicioso e, nas suas virtudes, traz algumas armadilhas. Primeiro, a expansãoda oferta deve continuar privilegiando as redes públicas. Se isto está garantido para as redes federais, o mesmo não ocorre com as redes estaduais, pois até o momento não se conhece detalhes da 2a versão do Programa Brasil Profissionalizado (que financiou cerca de R$ 900 milhões em obras, equipamentos e acervo bibliográfico, ainda sem avaliação qualitativa). A recém anunciada expansão da rede federal pela Presidenta Dilma, embora importante e audaciosa, na maioria dos casos não considerou os investimentos do Brasil Profissionalizado nos estado nem os investimentos estaduais (no caso da Bahia foram cerca de 4 vezes maiores), como se a rede federal pairasse no território, acima dele e dos demais ofertantes de educação profissional. Do mesmo modo, se deve ser saudada as inciativas de (re) publicização do sistema S, com o estabelecimento de seu papel na expansão, não se pode carrear mais recursos públicos sem a devida contrapartida, para além da necessária gratuidade da oferta. Maior participação de governo e trabalhadores na gestão; incluir os governos estaduais na gestão das estruturas regionais; decisão de quais e onde implantar cursos, a ser compartilhada com fóruns estaduais de educação profissional, entre outras, são fundamentaispara garantir a não sobreposição e a complementaridade das ações, muitas vezes replicadas das redes federais e estaduais. Deve ser descartado o financiamento das demais instituições privadas, uma espécie de PROUNI da educação profissional (aliás, proposta do candidato Serra e em execução em Minas Gerais a partir do 2o governo Aécio Neves). As redes privadas, com raras exceções são dispersas, não tem escala e são de qualidade duvidosa. O MEC teria condições de fiscaliza-las? Em algumas divulgações falou-se em "autorizar instituições de nível superior reconhecidas a ofertar cursos técnicos nas suas áreas de atuação". sem dúvida muitas destas instituições possuem laboratórios e professores, mas é um pressuposto perigoso achar que "quem sabe fazer ensino superior, sabe fazer ensino técnico". Além disto, a maioria das instituições superioresprivadas estão nos grandes centros, onde existe oferta consolidada. Em todo caso, as redes federais e estaduais temmuito mais expertise , escala e capilaridade, e mais: o custo per capita por aluno é muito menor. Estas questões impulsionaram a reorganização do Fórum de Gestores Estaduais de Educação Profissional, agora vinculado ao Conselho de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), como espaço de intervenção da rede estadual junto ao MEC. POLÍTICAS DE TRABALHO, EMPREGO E RENDA: Tradicionalmente o MTE executa ações de qualificação profissional, financiadas com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A desvinculação destas ações com a elevação da escolaridade e com o desenvolvimento local e nacional levou a um enorme desperdício de recursos, tornando as ações um braço das políticas compensatórias neoliberais. O maior instrumento o Plano Nacional de Formação de Trabalhadores (PLANFOR), multibilionário, foi substituído, a partir de 2003, pelo modesto, do ponto de vista financeiro,porém ambicioso Plano Nacional de Qualificação (PNQ). Muitas dos conceitosbase do PNQ foram utilizados para criar programas integrados voltados para populações específicas, como ProJovem, Saberes da Terra, Trabalho Domestico Cidadão, Juventude Cidadã, entre outros. Outro ponto importante foi a aproximação com o MEC no campo da certificação profissional, terreno em disputa, ainda sem regulação nacional. No 2o governo Lula, o PNQ não avançou e pergunta-se qual o seu futuro, diante do PRONATEC, que pretende utilizar a mesma fonte de financiamento para ações com pessoas desempregadas ou em processo de inclusão produtiva. O Fórum de Secretários do Trabalho (FONSET) vem sinalizando suas preocupações com a necessidade de não descaracterizar e sim fortalecer o sistema público de trabalho, emprego e renda (política do Governo Lula I e atualmente em compasso de espera) e articulá-lo com as ações de inclusão produtiva (Programa Brasil Sem Miséria) e de promoção do Trabalho Decente, como está fazendo o governo da Bahia. A resolução de nenhum destes desafios prescinde de um ator destinado a ser protagonista, mas que tem assumido ultimamente "papéis baratos": os trabalhadores, que devem assumir a cena, o roteiro e a direção na construção de uma nova política de educação profissional no Brasil. Políticas públicas de educação e trabalho na perspectiva dos direitos sociais* Sebastião Lopes Neto Diretor do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas N os dias 11 e 12 de dezem bro de 2010 educadores comprometidos com a Educação dos Trabalhadores e Trabalhadoras a partir da Oficina de Educação e Trabalho, organanizada pelo IIEP – Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas e o Grupo de Pesquisa Trabalho e Educação do programa de Pós-Graduação da faculdade de Educação da universidade de São Paulo (FEUSP) propuseram-se a apontar alguns encaminhamentos para no sentido de fortalecer as políticas públicas permanentes voltadas mais especificamente para os jovens e adultos. O Proeja deve ser entendido, por suas finalidades, fundamentos e diretrizes, como a principal referência para a política pública nacional de educação de jovens e adultos trabalhadores. Constitui-se, essencialmente, em uma política edu- cacional que visa assegurar direitos. É preciso demarcar o avanço considerável realizado pelo programa ao propor a integração da formação profissional inicial à educação básica, criando canais de comunicação e viabilizando sua continuidade na educação profissional técnica de nível médio. Ao propor valorizar a especificidade e a qualidade do ensino de adultos, a medida determina a construção prévia de um projeto pedagógico integrado único, além de prever o reconhecimento, pelas instituições ofertantes, de conhecimentos e habilidades obtidos pelos alunos em processos formativos extracurriculares mediante avaliação individual. Está prevista, também, a possibilidade de o aluno que demonstrar, a qualquer tempo, aproveitamento no curso vir a obter o diploma, com validade nacional, tanto para fins de habilitação técnica como de conclusão do ensino médio, possibilitando-lhe o prosseguimento dos estudos no nível superior. Outro aspecto relevante é o fato de se prever que a implantação do Proeja venha a ocorrer em instituições federais, preparadas e equipadas para realizar um ensino de qualidade. Acrescente-se a isso a determinação da construção de itinerários formativos para os cursos de formação profissional inicial e continuada, na área profissional escolhida (em sintonia com as demandas de nível local e regional), providência que pretende intervir na regulamentação desse tipo de formação, a qual permanece, ainda hoje, na forma de cursos livres, não sujeitos à regulamentação do MEC, sem qualquer tipo de orientação *Extraído do Documento Políticas Públicas de Educação e Trabalho na perspectiva dos direitos sociais, organizado pelo IIEP – Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas que pode ser lido na íntegra no endereço www.integrar.org.br normativa que permita a validação dos conhecimentos, seja para a classificação funcional da ocupação, seja para posterior aproveitamento dos estudos. Considerando a pertinência sócio-política e pedagógica do Proeja como base para o que deveria se consolidar como política pública, cabe considerar entraves, limites e dificuldades enfrentados no seu desenvolvimento, que devem ser superados por medidas governamentais e ações das próprias instituições de ensino e da sociedade em geral. Para que o Proeja se consolide nessa perspectiva, sugere-se: • a determinação do Governo no sentido de estabelecer as bases da coordenação das diversas ações visando a educação para o trabalho quanto ao público de jovens e adultos, na perspectiva da unidade no diverso; • a constituição de espaços de negociação social sobre diretrizes, institucionalização e operacionalização a respeito da educação de jovens e adultos, envolvendo os atores responsáveis pelo desenvolvimento de cada território. Uma maior e mais efetiva participação de segmentos organizados da sociedade na elaboração, condução e fiscalização das Políticas Públicas de Educação para o trabalho voltada para os jovens e adultos, certamente, favorecerá a coordenação dessas políticas no âmbito do governo; • a criação de um Observatório Permanente de Situações de Trabalho e de Formação Profissional, com o objetivo principal de identificar e analisar as mudanças no mercado de trabalho, nas ocupações e no conteúdo das qualificações, buscando envolver os diversos segmentos diretamente referidos à problemática do Trabalho e Educação para trabalhadores jovens e adultos; • a Rede Nacional de Certificação Profissional e Formação Inicial e Continuada (Rede Certific) não pode se manter em uma condição ambígua: o Comitê Gestor Nacional, no que se refere às suas atribuições, guarda justaposições frente a instâncias da Rede; e, embora esteja prevista a representação social, há problemas na definição dos papéis, no peso das atribuições e na sua efetividade; • a referência oficial para o desenvolvimento dos projetos de formação e certificação pela Rede Certific continua sendo, basicamente, a Classificação Brasileira de Ocupações, instrumento inadequado para orientar processos formativos. Tentativas parciais, como os Arcos Ocupacionais e a Formação Técnica Geral (COPPE/ RJ), foram desenvolvidas especialmente para o PNQ e o PROJOVEM. É preciso avançar na construção de Currículos e Itinerários Formativos para os cursos de trabalhadores jovens e adultos, assim como na elaboração de um Guia Nacional de Formações e Certificações Profissionais, de modo a estabelecer parâmetros comuns com vistas à coordenação nacional das ações com tal fim; • o PROEJA deve promover o preparo de trabalhadores jovens e adultos p a r a que sejam capazes de enfrentar adequadamente os desafios atuais presentes no mundo do trabalho (considerando a educação escolar, a formação técnica e a preparação para a cidadania), no que se refere tanto à inserção no mercado de trabalho (assalariamento), quanto à realização do trabalho autônomo e do trabalho associado e autogestionário; • o Proeja deve ser reforçado como uma ação relevante dos IFs, seja mediante a oferta direta, seja em articulação com outros sistemas de ensino, o que exige enfrentar a cultura de restrição de acesso e de seleção dos sujeitos trabalhadores. Por outro lado, é preciso que se estabeleça uma discussão pública, envolvendo gestores e professores dos IFs, governos, representantes da sociedade civil, com vistas a melhor definir as atribuições dos IFs no Proeja. Para além de abrigar cursos dessa modalidade, a Rede Federal, beneficiada por sua expansão, detém o papel estratégico de impulsionar e orientar as iniciativas estaduais e municipais a ampliarem a oferta do Proeja, e tornar-se referência nacional para tal ação (equipamentos, instalações, formação de professores, assessoria para elaboração de currículos integrados, de itinerários formativos profissionais e de material didático etc.), bem como na realização dos processos de certificação; • do mesmo modo, as políticas de financiamento da educação profissional devem continuar colocando, como necessária contrapartida social, a implantação ou ampliação das vagas de PROEJA nas redes estaduais e municipais; • é preciso normatizar a docência no Proeja e no Proeja FIC como parte da jornada de trabalho docente, abrindo-se concursos de ingresso direcionados diretamente à contratação de professores para o exercício de atribuições nessa modalidade de ensino. A realização de concursos e a formação continuada dos professores são fundamentais para a construção e implementação do currículo integrado; • é necessário que ocorra uma integração entre os diferentes ministérios para ações efetivas de formação e inserção dos trabalhadores portadores de necessidades especiais; • o currículo integrado é incompatível com a abordagem por competências, e tem como pressuposto apreender os processos produtivos em sua historicidade e múltiplas dimensões - econômica, social, cultural, ambiental, dentre outras como objeto de integração de conhecimentos gerais e específicos. O currículo integrado implica a geração de novos espaços e tempos curriculares, assim como processos didáticos interdisciplinares e estimuladores da autonomia intelectual dos estudantes. Na educação regular, a duração dever ser de, no mínimo, 4 anos; e, na EJA, de 3 anos, correspondendo, respectivamente, a 3.800 e 2.400 horas. A construção do currículo integrado na EJA deve levar em conta os conhecimentos acumulados pelos sujeitos e os conhecimentos formalmente assumidos no currículo. O programa Brasil Profissionalizado deve ser um exemplo de incentivo de construção de infraestrutura inicial para a implantação da educação profissional integrada ao ensino médio na modalidade EJA. Permanece, entretanto, a necessidade de haver fontes permanentes de financiamento da educação integrada, tanto regular quanto na modalidade EJA; • o horizonte deve ser a completa integração do Proeja ao Sistema Nacional de Educação, o que pressupõe a definição de um marco regulatório e a construção de uma base de financiamento permanente, tanto para as oferta de nível médio quanto para as de ensino fundamental, pois, atualmen- te o FUNDEB contempla apenas os cursos técnicos integrados com o ensino médio EJA, permanecendo descobertas as demais formas de oferta; • a oferta de auxilio financeiro aos alunos matriculados no PROEJA e PROEJA-FIC deve ser objeto de discussão entre os variados segmentos - trabalhadores, escolas e ministérios -, de forma a se constituir em direito de acesso à educação e permanência na escola, como fator indutor de elevação de escolaridade e profissionalização, e não como ação compensatória ao desfavorecimento social que os vitima; • é preciso que se discuta a legislação de execução orçamentária à luz das especificidades dos projetos educacionais. A Lei de Licitações e Contratos, Lei 8.666, de 1993, que regula todos os convênios realizados com recursos federais, ao tratálos da mesma forma, independentemente de sua natureza, gera entraves às ações promovidas no campo da educação e da formação profissional; • é preciso que se construa uma relação mais direta entre a SECRETARIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA e o MEC com o fim de introduzir os parâmetros técnicos, sociais e econômicos da Economia Solidária nos cursos ministrados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, incluindo Proeja, ensino médio técnico, tecnológico e pós-graduação; • que sejam consolidadas políticas de juventude, em especial pela renovação do ensino médio, bem como políticas específicas para a faixa etária mais jovem que hoje se encontra na EJA, no sentido da correção da distorção idade série, per- mitindo tratar com olhares específicos públicos que possuem diferentes expectativas de formação e trabalho; • pela articulação do Proeja com políticas de transferência de renda, tanto na direção de sua utilização como forma de assistência estudantil ao jovem e adulto, no apoio à permanência e conclusão com êxito, como no horizonte da superação da condição de pobreza, através da qualificação profissional e social para geração de trabalho e renda, inclusive pelos processos solidários de produção; • pela articulação do Proeja, em especial do Proeja FIC, com o Programa Seguro Desemprego; permitindo ao municípios articularem as ações de qualificação (PNQ) em conjunto com as ofertas de ensino fundamental EJA; • pela defesa da proposta de parecer e minuta de resolução sobre as Diretrizes Nacionais Curriculares para o Ensino Médio e para a Educação Profissional, formulada por um grupo de trabalho, formado por especialistas, gestores federais e estaduais, sociedades científicas e representantes dos trabalhadores e dos movimentos sociais, e entregue pelo MEC ao Conselho Nacional de Educação - CNE no último dia 1° de setembro; • pelo apoio à formulação incluída na proposta de Plano Nacional de Educação, enviada pelo Governo ao Congresso em 15 de dezembro de 2010, de garantir, no mínimo, 25% da oferta de EJA seja integrada à educação profissional; • por fim, continua-se a interpelar o governo para que convoque a sociedade (movimentos sociais, sindicalismo, gestores públicos, pesquisadores) para um amplo debate sobre um projeto estratégico de enfrentamento da problemática dos jovens e adultos que não tiveram acesso à educação básica e à formação profissional, sob uma referência de política de Estado. Ao final do segundo mandato do governo Lula, ao iniciar-se a terceira gestão do Partido dos Trabalhadores, considera-se que do ponto de vista político, econômico e social as condições estão maduras para o seu desenvolvimento e que o governo não pode mais adiar a sua implantação. Encaminhamentos Organização imediata de uma CONFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO, sobre EJA e Educação Profissional, que reflita, encaminhe e aponte diretrizes para: 1. Educação e trabalho; 2. Implementação do PROEJA e PROEJA-FIC; 3. Formação de educadores na construção do currículo integrado; 4. Educação básica e educação profissional; 5. Certificação Profissional; 6. O público e o privado na oferta da EJA e da educação profissional; 7. O papel da educação ao longo da vida; 8. Os parâmetros da política educacional oficial traçada para esta modalidade de ensino. Observando a diversidade na constituição histórico-social-cultural e étnico racial. 9. Convocar os diferentes sujeitos, organizações, instituições que estudam, refletem e analisam esta modalidade de ensino e que estejam ligados ao debate sobre EJA, educação profissional, cientifica e tecnológica, educação para o mundo do trabalho, educação e economia solidária, currículo integrado e PROEJAs. 10. Convocar a sociedade civil para participar de forma ativa na Conferência ou fazendo uma rodada de preparações que antecedam a conferência para chegar à mesma já com argumentos e possibilidades construídas. 11. Convocar os ministérios/secretarias que articulam, de alguma forma, programas ou projetos direcionados para jovens e adultos. Escola Técnica José César de Mesquita: apr Jurandir Damin Diretor da Escola Mesquita Concebida e construída em 1963, pelas mãos e sonhos de trabalhadores metalúrgicos, através do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, o qual mantém até os dias de hoje, a Escola Técnica José César de Mesquita teve , em seu mote inicial, a proposta dos associados de terem acesso a uma escola que possibilitasse a seus filhos, e a si mesmos, aprender uma profissão. Também conhecida como Escola Mesquita, esta instituição educacional caracteriza-se, atualmente, pela efetivação de ações de formação e educação profissional de nível médio (EJA- Educação de Jovens e Adultos) e técnico (Mecânica, Eletrônica, Automação Industrial e Informática) direcionados para jovens e adultos que se caracterizam, fundamentalmente, pela busca de formação, pós Ensino Médio, no sentido do acesso ao mundo do trabalho. Oferece também Cursos de Qualificação Profissional, de curta duração, e os Projetos Especiais, executados em parceria com o poder público (Governos Municipais, Estadual e Federal), sociedade civil. Por iniciativa própria e da sua mantenedora, desenvolve e executa também um conjunto de projetos e programas especiais de inclusão social, articulando educação básica, educação profissional de nível básico e economia solidária – ES – na perspectiva de criação de alternativas de trabalho e renda, e principalmente por acreditar que a ES é a possibilidade real de vivenciar, na prática, princípios que visam à construção de um mundo solidário. As ações, de intervenção social e formativa, da Escola Técnica José César de Mesquita são tecidas e construídas de forma orgânica com a sua Mantenedora e em parceria com as mais diversas instituições e organizações da sociedade civil, como: ONG´s e OSCIP´s, Associações, Fundações e Cooperativas, Escolas, Universidades, Incubadoras e Centros de Pesquisa, Fóruns e Conselhos representativos, Conselhos Profissionais, Sindicatos e as Empresas Privadas. Do ponto de vista da abrangência social, as ações e as atuações da organização revelam um amplo espectro de intervenção que transita do local ao global, do município de Porto Alegre, passando pela Região Metropolitana, até programas e projetos em outros municípios e regiões do Estado do Rio Grande do Sul. A Escola Técnica Mesquita, sensível às consequências sociais causadas pelo desemprego estrutural, devido à terceira revolução industrial, reorientação política do Estado sob a égide do estado mínimo e as novas formas de organização do trabalho, orientou, a partir do ano 2000, que a coordenação pedagógica pensasse em projetos que contemplassem a visão e os princípios da Mesquita e de sua mantenedora. A elaboração de projetos especiais, num primeiro momento, teve por objetivo minimização dos efeitos da globalização neo-liberal. Com o passar do tempo, percebeu-se que era possível não apenas minimizar os problemas sociais aprofundados pelas “novas” relações entre capital/trabalho, mas também preparar as pessoas para se organizassem melhor, a fim de enfrentar as dificuldades encontradas no cotidiano. A recente história desta experiência mostra que acertamos na escolha da metodologia pedagógica ao optarmos pelo paradigma da Educação Popular, no qual a realidade *Atualmente refere-se a juventudes no plural e não mais no singular, considerando os recortes referidos às diferenças sociais – classe, gênero, etnia etc. rendendo e ensinando com as juventudes* sócio-economica-cultural serve de referência para o estabelecimento da relação ensino aprendizagem, entre educador(a) e educando(a), e para a construção do conhecimento. A partir dessa visão, várias ações passaram a ser elaboradas e executadas pela escola Mesquita com foco na juventude. Partindo do entendimento de que precisamos falar de juventudes, no plural, pois para além da questão de classe é preciso também considerar a diversidade das condições materiais e simbólicas vivenciadas, cotidianamente, pelos diferentes grupos juvenis. Assim, a Escola compreende os jovens como sujeitos de direitos, definidos não mais por suas incompletudes ou desvios, mas sim por suas necessidades, que passam a ser reconhecidas como demandas cidadãs “legítimas”. Com esse olhar, sem os homogeneizar, partindo do pressuposto de que as juventudes, no mais amplo sentido, são sujeitos que fazem história. Independente do grupo ou redes sociais, são eles os protagonistas de suas histórias. Por isso, a Mesquita chama-os para assumirem as “rédeas” dos seus percursos formativos em relação ao mundo do trabalho, proporcionando um conjunto de projetos voltados para o segmento juvenil. Para esta reflexão destacaremos dois: Jovem Aprendiz: Atualmente a Escola Mesquita está com 180 jovens aprendizes. Nesse programa, a Escola atua como entidade responsável pela aprendizagem, conforme lei 10097/00 e decreto 5598/2005. A Escola já formou, de dezembro de 2007 até agosto de 2011, 880 jovens. Os cursos que a Escola Mesquita oferece são de: Manutenção em Elétrica e Eletrônica, Atendente de Nutrição Hospitalar, Auxiliar Administrativo e Atendimento ao Público. EJA - Ensino Médio: Oferecido pela Escola Técnica Mesquita, diferencia-se pela sua proposta pedagógica, compreendendo a realidade histórico-social, percebida pelos educandos(as), como ponto de partida metodológico na relação ensino aprendizagem em sala de aula. Para tanto, organiza seu currículo por áreas de conhecimento (comunicação e expressão, biologia e química, física e matemática e sócio históricas) a partir de uma perspectiva interdisciplinar. Todos os cursos oferecidos pela Escola Mesquita contemplam, na sua grade curricular, a inclusão digital, multiculturalidade, mundo do trabalho, comunicação e expressão, direitos humanos, além dos conteúdos específicos. Neste sentido, a Escola Técnica Mesquita, que desde 2000 até os dias de hoje já atendeu mais de 6.000 pessoas nos Projetos Especiais , vai se (re)fazendo em um espaço de pedagogização da Participação Popular, que almeja potencializar novas relações político-culturais de cidadania. Buscando, na sistematização permanente, as Intencionalidades Pedagógicas conscientes, que organizem a aprendizagem decorrente da reflexão-ação-reflexão das relações culturais existentes na comunidade, abrindo espaços significativos, nos quais as vozes historicamente silenciadas manifestem-se através do Pensar e do Fazer, adotado como lema desta Escola. *Este texto traz prioritariamente a experiências dos Projetos Especiais, mas é importante destacar que além destes, a Mesquita oferece permanentemente os cursos técnicos de Automação Industrial, Mecânica, Informática e Eletrônica que mantém regularmente 500 jovens e adultos estudando nestes cursos. Educação de Jovens e E m Canoas, no Bairro Guajuviras, muitas mudanças estão acontecendo. O poder público, através dos governos municipal, estadual e federal, está investindo na construção da cultura da paz, através do "Território da Paz". Nesse conjunto de ações, o Integrar, juntamente com a Secretaria de Educação de Canoas, organizou uma turma de Ensino Fundamental somente para mulheres, muitas delas ligadas ao pojeto Mulheres da Paz. Os estudos acontecem na Associação de Moradores do Guajuviras. É lá que os sonhos, desejos e construções vão sendo tecidos pela possibilidade de construção coletiva e de troca de saberes. Em Canoas, o Projeto Integrar não se limita apenas ao Bairro Guajuviras. Ele está inserido nas escolas municipais: Escola Minis- “O EJA nos proporciona muito mais que aprendizado. Através das aulas, construímos grandes amizades, além de conhecimento.” tro Carlos Ludwig (Bairro Mathias Velho), Escola Santos Dumont (Bairro Niterói), Escola Duque de Caxias (Bairro Nossa Senhora das Graças), Escola Guajuviras (Bairro Guajuviras), Escola Rio de Janeiro (Bairro Figueira), Escola Paulo VI (Bairro Fátima) e na Associação de Moradores do Guajuviras (Bairro Guajuviras). No total, são 8 turmas que totalizam 215 educandos. Confira o que dizem os educandos: “Há 32 anos estou sem estudar. Achava que não ia conseguir. Aproveito cada minuto, valorizo cada vez mais o meu tempo. Depois que acabar o EJA, pretendo fazer faculdade de Serviço Social.” Catia Macedo Evangelista, 40 anos Sônia Mara Betat, 47 anos e Adultos em Canoas “Parei de estudar com 14 anos e sempre tive um sonho estudar novamente. Sou vendedora há 26 anos. Antigamente, conseguíamos trabalhar sem estudo. Hoje, para ser vendedora, é necessário ter o ensino médio.” Neusa de Vargas Ramos, 52 anos “Depois que voltei a estudar, sinto-me muito mais útil. Sinto orgulho de ter voltado e pretendo fazer uma faculdade após o término do curso.” Maria Conceição Machado Pereira, 56 anos “Tenho 4 filhos e 8 netos. Parei de estudar há 11 anos, ou seja, estava há 42 anos sem estudar. Quando meus netos nasceram, comecei a sentir vergonha e resolvi voltar. Hoje tenho orgulho de poder ser a avó deles que frequenta uma sala de aula.” Maria de Loureds Covatti, 53 anos “Tinha 13 anos quando parei de estudar. Quando perdi meu pai, minha mãe me tirou da escola porque eu precisava cuidar dos meus irmãos enquanto ela trabalhava. Eu já fui caixa de loja, auxiliar administrativa. Hoje, é impossível eu conseguir um emprego como estes sem concluir o ensino.” Vera Lúcia Saldanha dos Santos, 48 anos Inclusão Digital e Meio Ambiente na Escola de Jovens e Adultos João Paulo I T rabalhando o meio ambiente, no se gundo eixo, fizemos uma atividade na área de Ciências Naturais e Exatas aqui na Escola João Paulo I. Com pesquisas na web relacionadas ao tema, fizemos uma apresentação no Power Point em conjunto com a Prof. Rosi, nossa Articuladora, e o resultado foi tão bacana que resolvi divulgar, pelo menos um deles, no nosso blog da EJA. Os alunos adoraram trabalhar com a tecnologia, ficaram muito motivados, aprenderam e principalmente se conscientizaram. Ficou muito bom! A proposta foi em duplas, mas o educando Marco Antonio Alecrim, da turma T2A, autor do trabalho em questão, não é muito de se juntar em grupo, então tinha a opção de trabalhar solo. Ele tem 16 anos. É importante ressaltar que a articuladora deve entender de informática, pois não adianta nada a gente ter uma articuladora que só serve para alcançar coisas ou substituir alguém. A Rosi entende de informática. Ela salvou tudo e passou para o pendrive, o que ajuda muito na hora da correria e locomoção dos educandos. Realmente é o apoio que a gente precisa. Se não a gente faz tudo e acaba desistindo porque é muita coisa num momento só. Fomos duas vezes na informática. Pesquisamos o assunto e levantamos os pontos de interesse para o trabalho. Discutimos o assunto em aula e elaboramos um mapa da atividade. Na segunda vez, utilizamos a "biblioteca" onde pesquisamos e organizamos as informações no programa adequado. Em outra aula, cada slide foi apresentado para todo o grupo para que todos pudessem obser- var as variações possíveis dos trabalhos e os recursos que podem ser utilizados. Muitos nunca tinham utilizado esse programa, então foi aprendizagem mesmo. O que mais me apaixonei foi em observar o interesse geral. Foi unânime! Eles se envolveram, o que foi muito gratificante. A gente tem que apostar na diversificação do trabalho, pois a informação se busca na web e muito mais do que aquela que a gente pode oferecer. A escola está mudando e não dá para ficar utilizando os mesmos "livros de antigamente". Enquanto profissional, adorei e me senti muito bem. Fonte: http://reestruturaeja-canoas.blogspot.com Educação de Jovens e Adultos em Esteio O Instituto Integrar desenvol ve, em parceira com a Se cretaria Municipal de Educação de Esteio, o Programa Integrar no município desde 2010. O projeto é destinado a trabalhadores que, por diversas razões, não conseguiram concluir seus estudos e visa constituir uma proposta de educação solidária e comprometida com o processo de transformação social a partir de uma metodologia que trabalhe o conhecimento de forma integral, possibilitando um diálogo permanente com a realidade vivida pelos educandos. Em 2011, o projeto foi reeditado e, hoje, conta com 4 turmas e aproximadamente 76 educandos nas seguintes escolas municipais: Santo Inácio, Maria Lí- gia Andrade, Eva Carnal Haack Johann e Osvaldo Aranha. Os esforços dos educandos são registrados nos depoimentos a seguir. Perceba que eles são carregados de sonhos, desejos e, principalmente, certeza de que estão retomando um direito que há muito lhes foi tirado, o direito de estudar. “Ao me inscrever para cursar o Programa Integrar 2011, tinha plena certeza de que um novo horizonte estaria se abrindo. E tudo o que eu esperava e buscava, em matéria de aprendizagem e conhecimento, pouco a pouco, ao longo deste ano, foi se concretizando. Uma pessoa que ficou muitos anos fora de uma sala de aula, como eu fiquei, não tem idéia da dificuldade de se adaptar novamente ao ritmo dos estudos e, ao mesmo tempo, conciliar com o trabalho diário. Mas com um pouco de paciência e, acima de tudo, boa vontade, agregada com a compreensão dos colegas e a paciência da nossa educadora, meus objetivos estão sendo alcançados. Espero que este projeto continue e que muitos outras pessoas se beneficiem com esta metodologia de concluir o ensino fundamental.” Celimar Rodrigues Saiba como é a repercussão da Educação de “A proposta de trabalho do Programa Integrar possibilita uma quebra de paradigmas na educação, pois viabiliza a concretização de uma utopia, a construção do conhecimento e a construção e exercício da cidadania, pois, através de temáticas que partem da realidade do educando, possibilita-se a desconstrução dos conceitos e a reelaboração de novos que possuem relevância e significado para o grupo. A transdisciplinaridade permite permear por todas as áreas do conhecimento, o que envolve e dá significado à aprendizagem, bem como estimula a curiosidade e, consequentemente, o instinto investigador dos educandos desenvolvendo a autonomia. É muito significativo presenciar a evolução do grupo tanto no aspecto cognitivo, quanto no pessoal e até profissional, ouvir o quanto foi produtivo estar naquele espaço escolar, o quanto foi positivo a constituição do grupo que, mesmo nas diferenças, une-se para atingir seus objetivos. Através desta experiência, concretizei um sonho, o sonho de que, com um olhar diferenciado, a construção do conhecimento é possível. Que uma metodologia e currículo integrado fazem a diferença. Pude ainda validar a teoria de que aprendemos quando damos significado, quando nos sentimos parte do processo e não meros espectadores. Apesar das dificuldades, persistimos e vencemos e este é o resultado de um trabalho fundamentado na troca e não na mera transferência de saberes e experiências. Loraine Albring - Professora da rede municipal de Esteio/RS, atuando no C.M.E.B. Maria Lygia de Andrade Haack. Especialista em Metodologia e Ensino de Geografia. “O Programa Integrar é um projeto que veio para todos terem oportunidade de terminar o Ensino Fundamental. É ótimo, mas é lamentável que, para o Ensino Médio, não tenha um projeto que dê continuidade.” Elisete da Silva “Este ano, para mim, foi de grandes conquistas, pois vo ma Integrar, ultrapassei meu medo da Matemática e h Gosto do modo de aprendizado deste método, pois não gíria popular). Sempre gostei de história, mas agora go dade. Na informática, aprendi muitas técnicas que vou Elisa da Silva, 41 anos “O primeiro ponto a ser destacado, quando se faz uma re Integrar, é a possibilidade de se trabalhar com uma única t mos nossos educandos mais profundamente, com suas ha à possibilidade de planejar as aulas em conjunto com os o cadernos pedagógicos, permite que possamos explorar as superação das dificuldades que, porventura, possuam. A p Adultos é rica em possibilidades, pois propicia a utilizaçã que ocorra a aprendizagem. Apesar das dificuldades inic uma vez que nós, professores de área, fomos formados avaliar que esta é uma metodologia adequada para a forma tos que exigem plena capacidade de abstração e aborda cidadania.” Lisiane Acosta Ramos e Jovens e Adultos na comunidade de Esteio “Faz 12 anos que trabalho no magistério. Passei por várias administrações, todas elas defendendo a interdisciplinaridade, todavia o único lugar que, de fato, isto funcionou foi no Integrar. Nele, as disciplinas deixaram de ser caixinhas (matemática, ciências, geografia, etc.) e agora funcionam como um bloco único. Acredito que este método deveria se estender para toda a rede de ensino do município de Esteio. O programa ainda pode melhorar com aulas de língua estrangeira, concomitantemente, as já disciplinas trabalhadas, até porque, na informática, os programas são todos em inglês.” Adriano Peixoto Maia - Professor de Informática ltei a estudar depois de 27 anos. Entrei no Prograhoje posso dizer que já gosto mais desta matéria. chegamos a sentir tédio (como falam os jovens na sto de todas as disciplinas dentro da sua normalilevar para meu comércio.” eflexão sobre a proposta metodológica do Programa turma durante a semana, o que permite que conheçaabilidades e dificuldades. Este conhecimento, somado outros educadores do Programa e com o suporte dos potencialidades dos nossos educandos, levando-os à proposta metodológica do Programa Ação Integradao de diversas estratégias e de diversos espaços para iais no trabalho com a metodologia transdisciplinar, para trabalharmos uma única disciplina, é possível ação de adultos trabalhadores, pois aprofunda conceitemas do mundo do trabalho, assim como política e “Vejo que foi muito além do que eu esperava. Voltar a estudar foi um resgate de identidade, mas, junto com isso, vieram as novidades que eu não esperava. Não esperava ir ao teatro, muito menos fazer uma participação. A Bienal foi uma agradável novidade, até no Museu Tecnológico da PUC, eu fui. Resgatar a minha autoconfiança e ter certeza do quanto eu sou capaz e posso ir muito mais longe. O Enem é uma prova do quanto me sinto segura em relação a mim. Uma frase da capa do meu caderno de perguntas era: cada coisa tem seu tempo a seu tempo. Por isso, se eu não conseguir é porque não era a hora, mas sei que no próximo ano farei nova inscrição. Não posso deixar de falar das pessoas ótimas que conheci, das amizades que construí, do professor Adriano que me ensinou a usar Word e muitos outros recursos que ainda não dominei, como a digitação, mas isso é questão de tempo. Minha professora Patrícia é a maior incentivadora nesse processo de aprendizagem. Ela me dá confiança e mostra que sou capaz. O meu limite sou é eu quem faço. Estou muito contente por este ano estar sendo muito mais do que eu poderia imaginar.” Adriana Belíssimo Souza O tempo A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará. Mário Quintana