Homoafetividade, infância e Identidade de gênero Ana Paula Viana de Souza Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP email: [email protected] Marilia Silveira Cardoso Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP email: [email protected] Maria Ivone Marchi-Costa Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP email: [email protected] Pôster Pesquisa concluída De acordo com Louro (1998), as questões sobre gênero ganham espaço a partir das discussões e manifestações do movimento feminista que concebe o conceito de gênero como parte da formação da identidade do sujeito. É considerado, portanto, que não são somente as características biológicas que determinam a construção da identidade, mas as representações que se construíram pela sociedade ao longo da história acerca dessas características. Nas palavras de Louro: “[ ... ] a ótica está dirigida para um processo, para uma construção, e não para algo que exista a priori. O conceito passa a exigir que se pense de modo plural, acentuando que os projetos e as representações sobre mulheres e homens são diversos” (1998, p. 23). Desde o seu nascimento meninos e meninas estão sujeitos a seguir um determinado comportamento, pois toda a cultura tem uma definição de conduta e sentimentos apropriados 1 para homens e mulheres (LOURO, 1998). O desenvolvimento de nossas identidades tem início com a interação que estabelecemos com o meio em que vivemos e, portanto, de acordo com o universo social e cultural do qual fazemos parte. Seguindo esse raciocínio, a identidade se forma a partir de um processo de construção que se dá na interação com o outro, considerando as vivências, experiências, tornando-se assim passível de transformações ao longo de nossas trajetórias. Nessa compreensão, Melucci (2004, p. 46) afirma que “a aprendizagem não termina com o fim da idade evolutiva e nas diversas passagens da vida colocamos em questionamento e reformulamos a nossa identidade”. De acordo com Melucci (2004, p. 50) “a identidade define a nossa capacidade de se reconhecer e de ser reconhecido”. Essa importância de reconhecer e ser reconhecido, considerando as estruturas elementares de constituição da identidade, ocupa um espaço importante desde a interação primária vivida na infância. Pois, as relações que fazem parte da construção de nossas identidades giram em torno das alternativas possíveis e limites impostos em todos os espaços, tendo início nas redes de socialização primárias como a família e a escola e, posteriormente, na vida social em geral. O que se constata que a identidade de gênero é um tema polêmico e controverso na própria literatura científica que trata desse assunto, como por exemplo na psicologia, psiquiatria, antropologia, sociologia e estudos de gêneros. Como já mencionado, no que tange à infância e ao desenvolvimento da identidade de gênero e ao desempenho de papéis de gênero, a sociedade delimita claramente o que é esperado para cada gênero de acordo com seu sexo biológico, ou seja, os meninos devem corresponder ao que é esperado para o sexo masculino e para as meninas o que é esperado para o sexo feminino. Se a criança não corresponder, sofrerá preconceitos e discriminações, pois, faz-se a correlação com uma futura orientação homoafetiva. Embora a orientação sexual se manifestará / definirá na adolescência com a eclosão dos hormônios sexuais, ainda é muito comum pais e professores fazerem a relação ainda na infância com a futura orientação homoafetiva quando a identidade de gênero e desempenho de papéis não correspondem ao que é esperado socialmente para cada sexo e gênero, o que gera sofrimento e possíveis patologizações. Os estudos de gêneros inseridos 2 na pós modernidade têm desconstruído essa correlação linear entre identidade de gênero, papéis de gênero e homoafetividade. Pesquisar essas questões sob o ponto de vista das pessoas homoafetivas pode representar possibilidades de libertação de aprisionamentos em verdades universalizantes geradoras de sofrimentos e patologizações, o que pode representar um trabalho preventivo em prol da saúde mental da criança e seus familiares. Assim esse estudo objetiva compreender como pessoas que se autodesignam homoafetivas vivenciaram o desenvolvimento de sua identidade de gênero na infância. Para tal foram convidados a participar da pesquisa dez pessoas que se auto definem como homoafetivas, sendo que sete são gays e três lésbicas. Estas foram selecionados mediante a técnica de “bola de neve” (snowball sample), na qual o pesquisador solicita ao participante indicações de outras pessoas que possam ser entrevistadas e assim sucessivamente, caracterizando indicação por cadeia (PATTON,2002). Trata-se de pesquisa qualitativa, cuja metodologia é fenomenológica e foi realizada por entrevista dialógica, mediada por perguntas reflexivas para ampliação da narrativas dos entrevistados no sentido de favorecer melhor compreensão de ambos. As entrevistas foram realizadas via internet (cam) e ou pessoalmente, sendo que em ambas as formas foram priorizadas a privacidade e as entrevistas tiveram a duração aproximada de 40 minutos. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado por cada participante, após terem tido as explicações sobre o objetivo da pesquisa, o tipo de participação e a garantia de anonimato e sigilo em relação a qualquer informação que possa identificar o participante, assim como o direito de desistir a qualquer momento da pesquisa e que a decisão não significará em qualquer perda, e a disponibilidade da pesquisadora para atender aos participantes, caso necessário. Os dados obtidos via narrativas dos participantes foram compiladas em três categorias de significados: 1) desenvolvimento de sua identidade de gênero na infância, 2) desempenho de papéis de gênero na infância e 3) Se a futura orientação homoafetiva deu alguns sinais na infância e como se expressaram. A análise dos dados revelou que todos os entrevistados quando criança gostavam de brincadeiras, brinquedos, vestes que socialmente eram e são atribuídas ao gênero oposto, ou seja, os meninos gostavam de brincar e representar papéis 3 que eram atribuídos às meninas e três destacaram que queriam ser menina, da mesma forma as meninas gostavam do que se relacionava ao universo masculino, porém não relataram que desejam torna-se menino. A maioria com exceção de 01 pessoa, tinha como ídolo uma pessoa famosa que representava o universo que desejavam pertencer, ou seja, os meninos tinham como ídolo cantoras, dançarinas, apresentadoras de programas e as meninas revelaram como ídolos cantoras que eram caracterizadas como fortes e causadoras de polêmicas. Embora todos tenham se percebido diferentes desde a pré – escola, a consciência de sua orientação sexual foi tomada entre 12 a 18 anos de idade. A maioria revelou que vivenciou constrangimentos quanto ao desempenho de papéis de gênero tendo que brincar escondido e dissimular, o que provocou solidão e algumas vezes sentimentos de aprisionamento e de que estavam fazendo coisas erradas. Constatou-se que tanto os gays como as lésbicas tiveram vivencias similares no que tange ao desenvolvimento da identidade de gênero. Como considerações finais salienta-se a importância de dar continuidade a esse estudo no sentido de buscar ampliação de conhecimentos, pois, esse é uma via de desconstrução de preconceitos e discriminações calcadas em verdades universalizantes que desconsideram a diversidade e a pessoa em sua alteridade. Palavras-chave: homoafetividade; gênero; infância. LOURO, G. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. MELUCCI, A. O jogo do Eu: a mudança de si em uma sociedade global. – 1. ed., Editora Feltrinelli, 2004. PATTON, MQ. Qualitative Evaluation and Research Methods. 3rd ed. London: Sage Publications; 2002. 4