Representações das
identidades lésbicas na
telenovela Senhora do Destino
Silvia Gomide
[email protected]
facebook.com/sgomide
Mestre pela Universidade de Brasília (UnB)
Eleonora e Jenifer
Eleonora e Jenifer no Orkut
Orkut – os telespectadores
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A análise da repercussão da novela na comunidade
Eleonora & Jenifer que chegou a ter 1.457 membros
Os participantes mais constantes e articulados tinham na
faixa dos 30/40 anos
Os mais jovens participantes eram adolescentes de 14/15
anos
Homossexuais e Heterossexuais
Os vídeos
Teoria e Metodologia de Pesquisa
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A Teoria Queer a ser usada como ferramenta de
observação das questões da sexualidade e gênero
Estudos culturais foi nosso filtro na análise da
inserção dessas representações nos meios de
comunicação de massa e sua importância social.
Análise de conteúdo como ferramenta de exame dos
discursos sobre homossexualidade presentes na
novela e no Orkut
A História do Movimento Gay e
Lésbico
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Movimento homófilo
Movimento de libertação gay
Feminismo Lésbico
Modelo étnico
Teoria Queer
Telenovela: “nos revela a nós
mesmos”
A TV
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De acordo com o IBGE 90% dos lares
brasileiros tinham televisão em 2003. A
geladeira estava presente em 87,3% dos
domicílios.
A cobertura da Rede Globo, de acordo com a
própria emissora, atinge 99,84% dos
municípios.
Que histórias contam as telenovelas?
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Toda história principal de uma novela tem
uma mesma idéia: o mocinho e a mocinha
querendo ir para a cama e o resto
(liderado por um/a vilão/ã) não quer
deixar.
O gênero se alimenta de impasses de
natureza moral. Quando a atitude do
personagem coincide com a do
espectador, dá-se a identificação.
As repetições são as mensagens que ficam
e que permanecem na memória desses
espectadores ao longo dos anos de
convivência com a novela.
Personagens lésbicas
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Nas novelas brasileiras alguns
casais lésbicos são retratados de
maneira tímida – como Laís e
Cecília de Vale Tudo (1986).
A explosão do casal Leila e
Rafaela em Torre de Babel
(1998) foi um “trauma” ainda
não superado por parte da
comunidade lésbica brasileira.
Em Mulheres Apaixonadas
(2003) é anunciado que
acontecerá um beijo lésbico entre
as personagens Clara (Alinne
Moareas) e Rafaela (Paula
Picarelli). Na cena em que
ocorreria o beijo e que foi ao ar
no último capítulo, Rafaela está
travestida e se fingindo de morta
e o beijo é no queixo.
Por que aparecer na novela?
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Se a democracia representativa
clássica era simbolizada pelo mercado
e pelas assembléias públicas da Grécia
antiga, a democracia no início do
século XXI se desenvolve dentro de
uma sociedade da informação e se
caracteriza pela passagem do fórum
público para a mídia. A participação
no debate democrático na sociedade
torna-se cada vez mais dependente
em ser visível na mídia.
A novela Senhora do Destino
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220 capítulos
Alcançou 81% de share (percentual de
aparelhos de TV sintonizados na emissora)
contra 68% atingido por Celebridade (novela
anterior no mesmo horário)
A média de audiência da novela foi de 49 pontos
(cada ponto são 50 mil aparelhos conectados na
emissora) e 74% de share. A atração
antecessora, Celebridade, teve média de 45
pontos e 67% de share.
Picos de audiência: Lindalva/ Isabel
A concretização do romance de Eleonora e
Jenifer atingiu 50 pontos de audiência
A média diária de pessoas que assistem novela é
calculada em 40 milhões de telespectadores,
chegando a picos de 45 milhões
Calcula-se que as novelas atinjam em todo o
mundo um público de 2 bilhões de espectadores.
Conclusão - Antes "aquilo" que "coisa
nenhuma"
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A novela Senhora do Destino
representou personagens homossexuais
de maneira discriminatória.
Ainda assim configurou uma inovação
na representação social de lésbicas no
Brasil.
O casal foi retratado dentro da
perspectiva do amor romântico
associado aos casais heterossexuais e
teve um “final feliz”, nos moldes
usuais da narrativa ficcional
audiovisual.
Incrementou a visibilidade social das
lésbicas
Homossexualidade
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Na telenovela, a homossexualidade é associada a
termos negativos e apresentada como algo sobre
o que o indivíduo não tem escolha, algo mais
forte do que a própria vontade.
A homossexualidade é apresentada como
indesejável, porém inevitável quando acontece,
e um fato com o qual as famílias têm que se
“acostumar”, se “resignar”, “aceitar”.
Amor e sexo
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A telenovela em estudo veiculou cenas de amor e desejo
entre as duas mulheres mais explícitas verbal do que
visualmente
Houve um duplo padrão regendo os limites para os casais
homossexuais e para os heterossexuais
Se as duas mulheres sequer tiveram uma cena de beijo
romântico, os casais de homens e mulheres se envolveram
em grande diversidade de práticas sexuais que fogem à
sexualidade autorizada
O romance lésbico é dessexualizado e rapidamente a libido
das personagens é voltada para a maternidade, tida como
“função natural” de toda mulher.
O namoro
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A realização do amor monogâmico é tida como um pré-requisito para
que o indivíduo encontre a felicidade
As palavras alegria e felicidade surgem usualmente associadas a estar
junto de quem se ama, a coabitar, revelando uma perspectiva
idealizada de amor romântico.
A relação amorosa homossexual seria algo que se faz sem incomodar
as outras pessoas, por isso ninguém deveria intervir ou “se meter”.
A legalização da união entre as lésbicas é definida como casamento –
que nada mais seria do que a assinatura de um contrato entre duas
pessoas.
O estabelecimento de uma união homossexual estável é diversas vezes
definido por personagens heterossexuais como “o fim do mundo” e a
homossexualidade é apontada como causa inevitável de sofrimento.
A adoção
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Quando Eleonora e Jenifer efetivaram a adoção
de Renato, tornaram-se a simulação de um casal
heterossexual cuja única peculiaridade é ser
formado por duas mulheres
Além de não ameaçarem o status quo, o
reforçam e permitem a identificação com os
telespectadores heterossexuais
A adoção de um menino pelo casal homossexual
é definida como “o menor de dois males”.
A beleza
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A cobrança para que as duas
lésbicas não retratassem o padrão
estético dominante também pode
ser discriminatória, se direcionada
apenas aos homossexuais.
Essa crítica deve ser endereçada a
todos os personagens, uma vez
que se trata de um padrão que
abrange todo o elenco.
Não há sentido de exigir-se mais
diversidade étnica e estética
apenas das lésbicas.
A beleza e as telespectadoras
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Alguns espectadores se disseram
satisfeitos pelo fato de o casal ter sido
representado por mulheres “femininas”,
quebrando o estereótipo da “sapatão
masculinizada”
Outros indivíduos acreditam que esse
tipo de representação impinge às lésbicas
as mesmas exigências estéticas que já
pesam sobre as mulheres heterossexuais,
além de aumentar a discriminação contra
as homossexuais “masculinizadas”
Nos diálogos em exame não foram
abordadas questões de classe e raça, mas,
principalmente, de papéis de gênero e
considerações estéticas.
O telespectador
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Percebemos nas telespectadoras em análise uma
identificação com as personagens lésbicas, conforme
prevê a literatura sobre o tema
Nas discussões examinadas houve narração de histórias
de vida semelhantes às representadas na novela,
especialmente no que tange à crise de identidade que
uma das personagens enfrentou quando se percebeu
homossexual.
Alguns espectadores contaram ter identificado
alterações na sua própria perspectiva sobre a
homossexualidade ao acompanhar a novela. Outros
perceberam modificações no comportamento de amigos
e familiares, principalmente de maneira positiva, na
aceitação social de homossexuais.
O beijo
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O tema que mais mobilizou o grupo de espectadores em estudo
foi a expectativa da veiculação de um beijo romântico entre o
casal de lésbicas.
A esperança, no início da novela, de que ao menos um beijo
fosse mostrado foi dando espaço à frustração à medida que a
ficção se desenvolvia e o beijo não era veiculado, terminando
com manifestações de raiva e frustração ao fim da narrativa.
A expectativa foi por representações do casal de lésbicas
dentro das normas do amor romântico.
Visibilidade
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A imensa ansiedade por visibilidade e representação positiva
de lésbicas na mídia massiva foi perceptível em nosso grupo
durante os oito meses da veiculação da ficção seriada.
As espectadoras teceram inúmeras críticas ao padrão duplo de
representação de personagens homossexuais e heterossexuais.
Há renitente argumentação no grupo analisado de que a
diminuição do preconceito contra os homossexuais em sua
representação ficcional faria parte de um processo evolutivo.
Nessa linha de raciocínio, “tempo”, “calma” e “paciência”
levariam a uma representação menos discriminatória, que
evoluiria a cada telenovela em comparação a outras anteriores.
Repercussão social
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Identificamos em nosso grupo de análise um “trauma” deixado
pela novela Torre de Babel (1998), na qual um casal de
lésbicas foi assassinado por desagradar parte da audiência.
Reações sociais variadas foram narradas pelos telespectadores
de estudo. As reações negativas referiam-se mais comumente
às reações de “nojo” expressas por familiares que
acompanhavam a novela junto com os internautas.
O maior temor expresso pelas participantes mais jovens estava
ligado às reações negativas das próprias mães. Várias
internautas contaram o grande cuidado que tinham para
esconder de familiares que acompanhavam o romance e que
torciam por um final feliz para as lésbicas.
Visão política da homossexualidade
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No grupo também encontramos discussões teóricas e
políticas sobre o lesbianismo, centradas
especialmente na “saída do armário” e na defesa dos
direitos civis dos homossexuais.
Percebemos ser mais comum acreditar em uma
identidade gay estável do que em uma perspectiva
mais fluida, queer, da orientação sexual.
Identificamos ainda a reverberação de diversos
preconceitos contra as lésbicas, presentes no senso
comum nacional, apesar de todos os participantes se
posicionarem favoravelmente ao romance do casal
ficcional.
A adoção vista pelos telespectadores
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A adoção de uma criança pelo casal lésbico não agradou aos
espectadores do nosso grupo em análise.
Foi questionado inclusive como o público aceitaria ver o casal
adotando uma criança, se não conseguia ver as lésbicas se
beijando.
A adoção do menino foi percebida pelas participantes da
comunidade como um tema politicamente importante para a
comunidade gay e lésbica, mas visto como “chato” e
“desinteressante” para a representação ficcional.
A questão racial e a ausência de vínculos “de sangue” entre as
mães e o menino surgiram tanto no texto da novela quanto nas
discussões do grupo em análise.
Fim
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Eleonora & Jenifer - Introdução à Comunicação