Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ESCOLAR NO ENSINO BÁSICO Thiago Laurentino Araújo (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN) Bruna Lorena Valentim da Hora (Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN) Carla Tatiane da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN) Evanoel Fernandes Nunes (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN) Sheila Alves Pinheiro (Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN) Ivaneide Alves Soares da Costa (Universidade Federal do Rio Grande do Norte -UFRN) Resumo: Este trabalho buscou conhecer a percepção ambiental de alunos e professores de ensino fundamental, médio e EJA, com o objetivo de utilizá-la como ponto de partida para a execução de um projeto de revitalização da escola. Grande parte dos investigados não soube expor claramente sua percepção ou associam meio ambiente com ações de preservação. Detectou-se baixa compreensão sobre o meio ambiente em sua totalidade e 50% dos participantes não considera o ser humano como integrante do meio ambiente. Esta investigação possibilitou a realização de uma ação na perspectiva da educação ambiental direcionada ao contexto da escola, bem como voltada à construção junto aos alunos de um conceito de meio ambiente melhor elucidado. Palavras chaves: meio ambiente escolar, educação ambiental, sociedade sustentável, ensino básico. PERCEPÇÃO SOBRE MEIO AMBIENTE ESCOLAR NO ENSINO BÁSICO INTRODUÇÃO O contexto socioambiental atualmente vivido pela humanidade demanda providências voltadas para a mudança de postura no que diz respeito às ações do homem sobre o meio ambiente, porém, para potencializar sua eficiência é necessário tomar conhecimento das percepções que os sujeitos têm sobre a temática e como eles se enxergam no meio em que vivem. Marin et al (2008) reflete a percepção ambiental como as diferentes formas do ser humano perceber o mundo, as quais podem se revelar diferentes ao longo do tempo e entre diferentes sociedades. Segundo Villar et al (2008) “o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para uma melhor 7214 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 compreensão da inter-relação homem-ambiente, levando em conta suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas.” Várias investigações a respeito das concepções ambientais vem sendo realizadas, Malafaia e Rodrigues (2009) obtiveram que a grande maioria dos alunos investigados apresentam uma visão reducionista de meio ambiente, Fernandes et al (2002) obtiveram que 35,1% dos docentes investigados apresentam uma visão antropocêntrica de meio ambiente, segundo a autora e seus colaboradores “essa forma de pensar parece ser uma das razões da falta de interesse para as causas humanas da crise ambiental e para não assumirmos nossas responsabilidades, sejam elas individuais e coletivas, perante os problemas ambientais.” Nesse contexto a investigação das percepções ambientais é uma importante ferramenta para a proposição de projetos para a educação ambiental (OLIVEIRA e CORONA, 2008). Segundo Marin (2008): É somente na redescoberta desses modos de viver e de se relacionar com a natureza, o lugar habitado e a coletividade que se pode ancorar uma postura sensível e pró-ativa e uma discursividade enraizada, crítica, capaz de gerar o comprometimento das pessoas, focos das metas da educação ambiental (MARIN, 2008, p. 216-217). A educação ambiental aqui discutida reflete bem as competências que os alunos devem desenvolver ao longo da sua experiência escolar de acordo com os PCN’s (2006), as quais consistem em entender a forma pela qual o ser humano se relaciona com a natureza e as transformações que nela promove, além de favorecer o desenvolvimento de modos de agir e pensar para uma sociedade sustentável. Tendo em vista a importância de se conhecer as diversas visões de meio ambiente para a proposição de ações que atendam às demandas socioambientais e educacionais, o presente trabalho buscou conhecer as percepções de alunos e professores de uma escola da rede pública de ensino básico com o objetivo de utilizá-las como ponto de partida para a realização posterior de uma ação de revitalização do ambiente escolar usando a temática ambiental para a integração do conhecimento das disciplinas da matriz curricular, no âmbito do PIBID Biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 7215 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 METODOLOGIA Campo da pesquisa A pesquisa foi realizada com 50 participantes, correspondente a 33,57% dos alunos matriculados no turno vespertino de uma escola pública de ensino básico no município de Natal-RN. De acordo com o diagnóstico da escola realizado em 2011 ela acolhe 973 alunos distribuídos nos três turnos, atendendo ao Fundamental I, apenas no turno matutino, Ensino Fundamental II, Ensino médio e Ensino de Jovens e Adultos (EJA), nos turnos vespertino e noturno. O questionário foi respondido por alunos e docentes do turno vespertino presentes no dia de sua aplicação e uma pequena amostra de alunos do Ensino Fundamental II, no turno matutino. A investigação das percepções nesta pesquisa constituiu-se a primeira etapa de um projeto maior, cujo objetivo foi abordar um tema gerador dentro da perspectiva da educação ambiental para promover uma integração das diversas áreas do conhecimento da matriz curricular. O tema “Revitalização do espaço escolar e qualidade de vida” foi previamente abordado pelos professores em suas respectivas disciplinas, além disso, foi usado como ponto de partida para a realização de um evento intitulado “I Encontro de Sensibilização Ambiental do Lourdes Guilherme”, cuja duração foi de três dias. Além da realização de uma palestra sobre sustentabilidade, foram ministradas cinco oficinas intituladas “Pintando o 7”, “Resíduos, qual a sua cor?”, “Pneus, pra que te quero?”, “Reciclando a PET” e “Plantando uma ideia”. As respostas obtidas a partir dos questionários foram utilizadas como ponto de partida para a seleção e abordagem de conteúdos em cada oficina. Instrumento de pesquisa Optou-se por um questionário composto por 12 questões, entre elas haviam 4 questões objetivas e 8 discursivas. Assim como Malafaia e Rodrigues (2009), para a questão objetiva com mais de uma resposta presente no questionário, a incidência de cada resposta foi contabilizada, sendo apresentado no gráfico o número de vezes em que a opção foi marcada. Para análise dos dados adotou-se a análise de conteúdo segundo Bardin (2010), a partir da qual foram criadas categorias que de acordo com o sentido das respostas. 7216 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 RESULTADOS E DISCUSSÃO A escola apresenta um grande índice de evasão, por este motivo estiveram presentes no dia da aplicação 47 alunos e 3 professores, totalizando 50 investigados. Dos 50 participantes, 62% são do sexo feminino e 38% do sexo masculino. A faixa etária dos alunos participantes da pesquisa varia entre 15 e 33 anos, enquanto dos professores entre 48 e 55. Devido ao número reduzido de docentes que respondeu ao questionário, não será realizada distinção entre as respostas fornecidas por eles e pelos alunos. Ao indagar quantos anos estão na escola obteve-se que 36% apresenta até 1 ano de vivência na escola, 36% entre 1 e 4 anos, 20% a partir de 5 anos e 8% não respondeu. Quando se perguntou a opinião acerca da estrutura verde da escola, 60% qualificou como ruim, 22% como regular, 16% como bom e apenas 2% como ótimo (figura 1). Também foi solicitado que os investigados justificassem a qualificação dada à estrutura verde da escola. A partir da categorização das respostas obteve-se que 34% forneceu justificativas indicando área verde inexistente ou reduzida, 24% falta de manutenção da estrutura da área verde, fazendo uma alusão ao espaço que cerca os espaços verdes e 12% alegou subutilização e estrutura física inadequada (tabela 1). A categoria denominada outras, que nesta questão abrangeu 30% das respostas, refere-se a questões não respondidas e incoerentes. Figura 1. Qualidade atribuída à estrutura da área verde escolar. As justificativas mostram que existem fortes razões para a qualificação da estrutura verde como, predominantemente, ruim e regular. As respostas refletem que não há ações voltadas para a criação e/ou ampliação de áreas verdes, ou ainda, 7217 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 manutenção da existente. Em suma, os alunos atribuem a qualidade ruim à estrutura da área verde escolar devido à falta de árvores e de sua manutenção. Tabela 1. Categorias representativas das justificativas acerca da qualidade da estrutura da área verde da escola. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência Área verde inexistente ou reduzida Falta de manutenção da estrutura da área verde Subutilização e estrutura física inadequada “Porque falta muita estrutura na escola, falta a área verde. ” “Porque está bem descuidada. ” 34% 24% “Porque ela poderia ser mais usada, essa 12% área poderia ser mais utilizada a favor dos alunos, poderia fazer projetos. ” “Porque não há muito esforço pra 30% Outras* praticar esporte. ” Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. De acordo com Taveira (2008) “... mais do que relações geométricas e propriedades físicas, o espaço arquitetônico da escola incorpora as necessidades, expectativas e desejos de seus usuários, tornando-se palco do espetáculo do cotidiano, o espaço vivido”. Isso leva a crer que o espaço físico habitado pelos estudantes e professores possui um significado para eles, e, portanto, ao não receber os devidos cuidados leva a esses agentes escolares a se sentirem desvalorizados, assim como o conhecimento abordado dentro deste espaço também passa a perder o seu valor diante deles. Aos docentes também cabe a mobilização para realizar as mudanças necessárias no espaço escolar, a fim de utilizá-lo e se apropriar dele como uma ferramenta de aprendizagem. Caso contrário, a falta de ações para manutenção e/ou utilização do espaço escolar incita no aluno a ausência do dever de preservar o ambiente que frequenta. Ao questionar se a estrutura anteriormente citada poderia ser melhorada, 100% dos investigados responderam que sim. Em seguida, solicitou-se que em caso afirmativo, fosse sugerido de que maneira poderia ser melhorada. Entre as respostas obtidas, 46% sugeriu ações relacionadas a manutenção da escola, 32% plantação de vegetais e 6% ações voltadas a demanda escolar (tabela 2). É possível perceber que as sugestões fornecidas são voltadas, justamente, para sanar as necessidades da escola indicadas nas justificativas da questão anterior. Portanto, a estrutura física de uma instituição de ensino não consiste apenas dos limites e organização dos espaços escolares, mas tem um significado para os seus usuários, 7218 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 sobretudo, do quão valorizados são os agentes envolvidos no processo de ensinoaprendizagem e do próprio processo. Este pensamento é compartilhado por Ribeiro (2004), ao afirmar que: Tabela 2. Categorias representativas das sugestões para modificar a estrutura da área verde da escola. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência 46% Ações relacionadas a “Fazendo uma boa limpeza, retirando todo o manutenção da escola lixo e tirando o mato que está muito grande.” 32% Plantação de vegetais “Com jardins e hortas, e um lugar agradável para todos, assim nós poderíamos interagir melhor com o meio ambiente.” 6% Ações voltadas à “Fazendo algo que beneficie os alunos, que traga interesse aos estudantes e que demanda escolar possamos utilizá-las.” “Em muitas coisas na escola.” 16% Outras* Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. O espaço escolar deve compor um todo coerente, pois é nele e a partir dele que se desenvolve a prática pedagógica, sendo assim, ele pode constituir um espaço de possibilidades ou de limites; tanto o ato de ensinar quanto o ato de aprender exigem condições propicias ao bemestar docente e discente (RIBEIRO, 2004, p. 105). A partir do questionamento acerca do que a escola representa para discentes e docentes, 22% se enquadraram na categoria “fonte de conhecimento, ensino, aprendizado”, 28% se referiram à escola como um local de oportunidades para o futuro e 16% alegou que a escola não atende às funções sociais (tabela 3). No tocante à escola, Dessen e Polonia (2007) afirmam que a abordagem dos conteúdos curriculares possibilita o desenvolvimento da habilidade de pensar, agir e interagir no mundo, ou seja, a escola seria um polo que proporciona as condições necessárias para a formação de um cidadão e sua inserção na sociedade, especialmente o mercado de trabalho. Essa visão de escola corresponde justamente aos 50% dos investigados que a consideram como fonte de conhecimento, ensino e aprendizado e como local de oportunidades para o futuro, juntamente. A questão que segue buscou conhecer a concepção de meio ambiente escolar dos investigados. As categorias “abrangente” e “reducionista” foram elaboradas com base 7219 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 naquelas apresentadas por Reigota (1995, apud FERNANDES et al, 2002; MALAFAIA E RODRIGUES, 2009). A categoria “explicativa” refere-se às concepções que confundem meio ambiente com o ato de preservação, na categoria “abrangente” estão inclusas as concepções que definem o meio ambiente de uma forma mais ampla e comTabela 3. Categorias representativas acerca do que a escola representa para os investigados. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência Fonte de conhecimento, ensino, aprendizado Local de oportunidades para o futuro/alcançar metas Não atende as funções sociais “Representa aprendizagem, conhecimento e valores.” “Representa o meu futuro, para uma vida boa pra mim.” 22% 28% “Está representando apenas um 16% passatempo, pois deveria ser uma fonte de educação, um lugar onde você pudesse colocar em prática seus conhecimentos.” “Representa muitas coisas.” 34% Outras* Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. plexas, a categoria “reducionista” consiste na ideia de que meio ambiente refere-se estreitamente aos aspectos físicos naturais, excluindo o homem e todas as suas produções, a categoria “espaço preservado” descreve meio ambiente como um espaço íntegro, sem interferência humana (tabela 4). Tabela 4. Categorias representativas acerca da concepção de meio ambiente escolar. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência “Eu acho que é zelar da natureza, dos rios e das plantas.” “O ambiente onde existe um equilíbrio natural Abrangente de plantas, escolas e seres humanos.” “Lugar onde se existe plantas, terra, enfim.” Reducionista Espaço preservado “Uma escola limpa, sem poluição.” “Tudo muito sujo mesmo.” Outras* Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. Não explicativa 30% 18% 14% 8% 30% A categoria “não explicativa” teve mais do que o dobro de frequência, 30%, em comparação ao obtido por Fernandes et al (2002), este resultado pode ser a consequência do sensacionalismo impregnado nas veiculações midiáticas sobre o tema, nas quais as ações voltadas para a preservação são tratadas com maior frequência e sem 7220 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 uma abordagem mais completa do assunto. Apenas 14% das respostas se enquadraram na categoria “reducionista”, o que configura uma grande discrepância em comparação ao obtido por Malafaia e Rodrigues (2009), cuja frequência foi de 81,8% e por Costa et al (2006), cuja frequência foi de 51%. É importante destacar que, assim como observado por Molin et al (2007) em sua pesquisa, não há aprofundamento do conceito de meio ambiente independente do aumento da escolaridade dos entrevistados, já que estudantes de todas as séries do ensino médio, inclusive da EJA, responderam ao questionário. Devido a este quadro é que inúmeros trabalhos reafirmam a importância da formação continuada dos professores e da aplicação de uma educação ambiental para a sustentabilidade, que busque sanar as lacunas de conhecimento dos alunos e desperte a consciência de meio ambiente em sua totalidade (COSTA et al, 2006; FERNANDES, 2002; MALAFAIA E RODRIGUES, 2009; PEDRINI et al, 2010). Ao solicitar que marcassem os elementos que considerassem como parte do meio ambiente obteve-se um resultado (figura 2) semelhante em Brasil (2012), na qual se avaliou a percepção ambiental do brasileiro. Figura 2. Elementos considerados como parte do meio ambiente. Em ambas as pesquisas o item plantas e animais estão entre as mais indicadas, seguidos pelos itens rios, mar e areia. A diferença na indicação do ser humano como parte do meio ambiente entre as duas pesquisas foi pequena, todavia, a frequência, de forma geral, reflete a concepção amplamente impregnada na sociedade de que o homem não é um integrante do meio ambiente. Araújo et al (2014) também investigou o que os alunos julgam fazer parte do meio ambiente e encontrou o mesmo resultado, embora em proporção menor. Segundo o autor: 7221 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Essa falta de sentimento de pertença pode e deve estar atrelada à posição que o homem se coloca diante do meio natural em que está inserido, uma posição de superioridade fundamentada na sua capacidade de modificar este espaço de acordo com seus interesses, sem ser afetado, algumas vezes, de forma clara e imediata por suas ações (ARAÚJO et al, 2014). É diante desse panorama que a educação ambiental se torna cada vez mais necessária, para evitar que essa visão antropocêntrica se cristalize na sociedade e fundamente ações de desrespeito ao meio ambiente. Paiva e Filgueira (2006) reforçam essa ideia ao afirmarem que “nesse contexto, a Educação Ambiental se insere como um conjunto de práticas que envolvem não só a conscientização do indivíduo, mas também uma mudança de postura referente às questões ligadas ao meio ambiente”. Quando questionados acerca da qualidade do meio ambiente escolar, a grande maioria o classificou como ruim ou regular (figura 3). A razão desta classificação fica clara ao analisar as justificativas dadas para ela (tabela 5). Figura 3. Qualidade atribuída ao meio ambiente escolar. Tabela 5. Categorias representativas das justificativas acerca da qualidade do meio ambiente escolar. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência Atitudes de desrespeito ambiental Percepção da necessidade de integração da comunidade escolar “Porque jogam lixo no pátio, fumaça de cigarro pelo ar, entre outros.” “Porque falta atitude para melhorar a nossa escola, temos muito espaço mas falta boas ideias” 18% 22% 7222 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 22% Falta de manutenção da área “Por causa da falta de cuidado.” verde 6% Área verde inexistente ou “Quase não tem áreas verdes.” reduzida “Não tenho opinião formada sobre 32% Outras* isso.” Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. A maior parte das respostas se concentrou na alegação da falta de manutenção da área verde, como também foi visto em uma das primeiras questões, semelhante a esta, indicação de atitudes de desrespeito ambiental e na percepção da necessidade de integração da comunidade escolar para modificar a atual situação da instituição. Percebe-se que há um reforço na afirmativa de que há uma omissão em relação a essa demanda, frequentemente apontada nas justificativas dos entrevistados. Uma vez que a qualidade do meio ambiente escolar tem reflexos negativos nos alunos, Ribeiro (2004) alerta que “analisar o meio ambiente escolar é uma necessidade premente, uma vez que esse tem sido negligenciado.” A última pergunta do questionário pediu que os investigados indicassem o que poderia ser feito para melhorar o meio ambiente escolar. A maioria das respostas se enquadrou na categoria “ações voltadas para a manutenção da escola” (tabela 6). Tabela 6. Categorias representativas das sugestões para melhorar o meio ambiente escolar. Categoria Fragmentos de respostas dos alunos Frequência “Restaurações no interior e exterior da escola.” “Plantar árvores, colocar umas gramas.” “Um programa de conscientização para aprender a não jogar lixo e mais investimentos com mais professores.” “Mudar a direção da escola.” Outras* Fonte: arquivo pessoal. *Questões não respondidas e/ou incoerentes. Ações voltadas à manutenção da escola Ações voltadas ao plantio de vegetais Ações voltadas à conscientização, preservação 24% 18% 17% 24% Quando se compara as respostas desta questão com a que solicitou sugestões de como a estrutura verde da escola poderia ser melhorada é possível perceber que, apesar de se tratar de abordarem elementos fortemente relacionados, o uso do termo meio ambiente nesta última questão levou à obtenção de respostas que resumem a melhora do 7223 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 meio ambiente às ações de plantio de vegetais e ações voltadas à preservação. Acreditase que essa visão estreitamente preservacionista de lidar com o meio ambiente é o reflexo não só da abordagem característica da mídia, mas também da forma como o tema é abordado em sala de aula, quando abordado. De acordo com os PCN’s sobre o Meio Ambiente “é preciso encontrar uma outra forma de adquirir conhecimentos que possibilite enxergar o objeto de estudo com seus vínculos e também com os contextos físico, biológico, histórico, social e político, apontando para a superação dos problemas ambientais.” É de grande importância que se considere essa premissa como ponto de partida para que se realize uma educação ambiental que possibilite aos alunos enxergarem a problemática ambiental com uma visão ampla, mas que forneça subsídio intelectual para a mudança da realidade do aluno. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir desta investigação foi possível conhecer as percepções ambientais dos investigados, a análise dos dados mostrou que grande parte dos alunos não soube se expressar adequadamente, levando a altas frequências de respostas incluídas na categoria outras. A maioria não apresenta um conceito bem elucidado de meio ambiente, confundindo este conceito com a sua preservação. A compreensão do conceito de meio ambiente não acompanha o nível de instrução dos investigados, bem como a noção dos elementos que o integram. A partir disso, observa-se a necessidade de mais estudos sobre as concepções ambientais dos alunos e professores para a proposição de propostas de educação ambiental que venham atender às demandas atuais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, T. L.; SILVA, F. S.; COSTA, I. A. S. Educação ambiental como eixo integrador no ensino-aprendizagem de conteúdos ecológicos: uma experiência com a EJA. Revista Educação Ambiental em Ação. Ano XII, nº 47, 2014. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2010. BRASIL, Ministério da Educação e da Cultura. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio, Ciências da Natureza, Matemática e Suas Tecnologias. Brasília, 2006. BRASIL. O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do consumo sustentável. 2012. 7224 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 COSTA, A. N. B.; PAIVA, M. S. D.; FILGUEIRA, J. M. A inserção da educação ambiental na prática pedagógica: uma análise segundo a visão dos alunos dos cursos técnicos-integrados do CEFET-RN. Revista Holos, Rio Grande do Norte. Ano 22, v. 3, p. 47-61, 2006. DESSEN, M. A.; POLONIA, A. C. A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Revista Paidéia, São Paulo. V. 17, nº 36, p. 21-32, 2007. FERNANDES, E. C.; CUNHA, A. M. O.; JUNIOR, O. M. Educação ambiental e meio ambiente: percepções de profissionais da educação. IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciência, São Paulo, 2002. MALAFALA, G.; RODRIGUES, A. S. L. Percepção ambiental de jovens e adultos de uma escola municipal de ensino fundamental. Revista Brasileira de Biociências, Rio Grande do Sul. V. 7, nº 3, p. 266-274, 2009. MARIN, A. A. Pesquisa em educação ambiental e percepção ambiental. Revista Pesquisa em Educação Ambiental, São Paulo. V. 3, nº 1, p. 203-222, 2008. MARIN, A. A.; OLIVEIRA, H. T.; COMAR, V. A educação ambiental num contexto de complexidade do campo teórico da percepção. Revista Interciência, Venezuela. V. 28, nº 10, p. 616-619, 2003. MOLIN, R. F.; PASQUALI, E. A.; VALDUGA, A. T. Concepções de meio ambiente formulados por estudantes de diferentes níveis de ensino. Anais do VIII de Ecologia do Brasil, Minas Gerais. p. 1-2, 2007. OLIVEIRA, K. A.; CORONA, H. M. P. A educação ambiental como ferramenta de propostas educativas e de políticas ambientais. ANAP Brasil Revista Científica. Ano 1, nº 1, p. 53-72, 2008. PEDRINI, A.; COSTA, E. A.; GHILARD, N. Percepção ambiental de crianças e préadolescentes em vulnerabilidade social para projetos de educação ambiental. Revista Ciência e Educação, São Paulo. V. 16, nº 1, p. 163-179, 2010. RIBEIRO, S. L. Espaço escolar: um elemento (in)visível no currículo. Revista Sitientibus, Bahia. nº 31, p. 103-118, 2004. TAVEIRA, F. G. Práticas sócio-ambientais no espaço escolar: uma reflexão sobre a percepção de usuários de duas escolas do ensino fundamental em João Pessoal, Paraíba. Natal, 2008. VILLAR, L. M. et al. A percepção ambiental entre os habitantes da região noroeste do estado do Rio de Janeiro. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro. V. 12, nº 3, p. 537-543, 2008. 7225 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia