Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em Gestão da Assistência Farmacêutica no SUS Trabalho de Conclusão de Curso ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA A USUÁRIOS COM HEPATITE VIRAL C, ATENDIDOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL-BRASIL Autor: Rachel Helen Borges da Silva Orientador: Prof. Dr. Carlos Cezar Flores Vidotti Brasília - DF 2010 RACHEL HELEN BORGES DA SILVA BITAR ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA A USUÁRIOS COM HEPATITE VIRAL C, ATENDIDOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERALBRASIL Artigo apresentado ao Programa de PósGraduação Latu Sensu em Gestão da Assistência Farmacêutica no SUS da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do certificado de Especialista em Gestão da Assistência Farmacêutica. Orientador: Prof. Dr. Carlos Cezar Flores Vidotti Brasília 2010 AGRADECIMENTOS Aos meus pais pelo carinho e estímulo pela educação constante; Ao meu querido marido Paulo Eduardo Júnior pela força, dedicação e compreensão; Às farmacêuticas Sandra de Oliveira e Liana Holanda pelo apoio e pela sua contribuição no levantamento dos dados; Ao farmacêutico Fábio Siqueira pelas orientações nas análises estatísticas dos dados; Ao professor Dr. Carlos Cezar Flores Vidotti pelas suas orientações; A todos que direta e indiretamente me ajudaram na elaboração deste trabalho. 3 ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA A USUÁRIOS COM HEPATITE VIRAL C, ATENDIDOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE NO DISTRITO FEDERALBRASIL RACHEL HELEN BORGES DA SILVA BITAR Resumo: A infecção pelo vírus da hepatite C (HCV), pela sua alta prevalência e por seus custos de tratamento, exigem políticas públicas específicas no Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, os pacientes infectados com HCV e tratados com interferona peguilada, ribavirina e interferona convencional desenvolvem uma série de alterações laboratoriais e reações adversas que exigem um maior controle dos mesmos. O alto valor de mercado destes fármacos provoca grande impacto financeiro do tratamento do HCV para o SUS. O objetivo é verificar os resultados terapêuticos dos pacientes com hepatite viral C atendidos na SES/DF, levantar os custos de tratamento e analisar o papel da orientação farmacêutica na hepatite C. Foi realizado um estudo transversal retrospectivo na SES/DF, no período de janeiro de 2008 a fevereiro de 2009, dos usuários com HCV cadastrados e que obtiveram tratamento. Foi feito também um levantamento bibliográfico do período de janeiro/2004 a janeiro/2010, para o conhecimento do papel da orientação farmacêutica com a hepatite C. Obteve-se a informação que 126 usuários portadores do HCV foram cadastrados e autorizados para tratamento na SES/DF. Deste total, 75 concluíram o tratamento, 43 (34,1%) desistiram, dentre outros desfechos. O número de usuários desistentes é elevado, e as causas das desistências são desconhecidas, mas infere-se que seja devido aos efeitos adversos ao tratamento. Estes poderiam ser minimizados por meio do correto acompanhamento dos pacientes, visando melhor adesão ao tratamento, visto que o abandono reflete em maior gasto do sistema público neste tratamento Sugere-se a implantação do serviço de orientação farmacêutica a estes pacientes, o que poderá assegurar melhor adesão dos pacientes com HCV ao tratamento preconizado pelo SUS, visando eficácia terapêutica, bem como redução dos gastos no sistema público de saúde. Palavras-chaves: hepatite C, terapêutica medicamentosa, custos de tratamento, abandono, orientação farmacêutica, assistência farmacêutica 1- INTRODUÇÃO A hepatite viral C é uma doença com alta prevalência, atinge cerca de 180 milhões de pessoas no mundo, e progride para a cronicidade na maioria dos pacientes. Sua magnitude, diversidade virológica, formas de transmissão, evolução clínica, além da sua complexidade diagnóstica e terapêutica demanda por parte dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), políticas específicas no campo da saúde pública (Portaria MS nº 34, anexo I). Os problemas de acesso aos fármacos em nível ambulatorial, pela indisponibilidade, pela falta de qualidade ou pelo uso irracional, oneram ainda mais o sistema de saúde ao “acarretar internações desnecessárias pelo agravamento de quadros clínicos contornáveis com o tratamento ambulatorial”(VELÁSQUEZ in: BERMUDEZ & BONFIM, 1999: 9-13). Segundo o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite Viral C (PCDTHCV), um inquérito populacional que está sendo realizado pelo Ministério da Saúde (MS), 4 em parceria com a Universidade de Pernambuco e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) obteve como resultados iniciais que entre 0,94 a 1,89% da população brasileira na faixa etária entre 10 a 69 anos possui o anticorpo anti-HVC. Pode-se inferir deste resultado que a imunização da população brasileira contra o vírus da hepatite C é muito baixa, portanto o risco de contaminação é alto. A hepatite C possui como agente etiológico um vírus hepatotrópico do tipo C chamado HCV, pertencente à família Flaviviridae e genoma RNA. Sua transmissão ocorre pelas vias parenteral, percutânea, vertical, sexual. Seu período de incubação varia entre 15 à 150 dias, com média em 50 dias e o período de transmissibilidade inicia uma semana antes do início dos sintomas, mantendo-se enquanto o paciente apresentar HCV-RNA detectável. Ressalta-se que sua transmissão ocorre principalmente pela via parenteral, através de sangue contaminado, e está comumente associada com: abuso de drogas intravenosas, procedimentos invasivos, transfusões sanguíneas, acupuntura, tatuagens, uso de álcool e tabaco, bem como relações sexuais desprotegidas (FELIPE; MEIRA, 2009). O HCV pode ser classificado em 6 tipos de genótipos (G1, G2, G3, G4, G5 e G6), no qual o G1 é o mais comum e também o mais grave, em 5 tipos ou graus de fibrose (obedecendo a classificação Metavir, F0, F1, F2, F3, F4 e F5) sendo que igual ou acima de F2 é considerada moderada a intensa, e em cindo atividades necro-inflamatórias (obedecendo a classificação Metavir, A0, A1, A2, A3, A4 e A5) e com valor igual ou acima de A2 também é considerada moderada a intensa. A presença de fibrose, cirrose e a identificação do genótipo são fatores relevantes na determinação e duração do tratamento que no geral está previsto para 48 semanas (genótipos 1 e 4) ou 24 semanas (genótipos 2 e 3), conforme prevê o PCDT-HCV - Portaria MS n° 34 de 28 de setembro de 2007. Ainda podem acontecer co-infecções com HIV/HCV, dificultando desta forma o tratamento de ambos, devido principalmente ao potencial hepatotóxico dos antiretrovirias usados no tratamento do HIV, bem como os efeitos adversos e as interações entre as drogas usadas nas duas patologias (OGBUOKIRI, 2005). Em Varaldo (2003, cap. 5) estão descritos vários fatores que podem inferir na progressão da doença, conforme exposto na integra, abaixo. “Entre os fatores do meio ambiente e do estilo de vida do portador que influem no curso e na progressão e que são atualmente apresentados e discutidos nos congressos, podem ser citados os seguintes (os termos são leigos para facilitar a compreensão do portador e não podem servir como referência médica): tempo de contaminação - um tempo maior pode resultar em uma maior proporção na progressão; idade da pessoa ao ser infectada - pessoas infectadas após os 50 anos de idade podem ter uma enfermidade mais ativa, de progressão mais rápida; sexo do portador - as mulheres podem desenvolver uma progressão menos ativa que os homens; cor de pele do portador - pessoas de pele escura parecem desenvolver uma forma mais ativa da doença que as pessoas brancas; raça do portador - as raças anglo-saxônicas parecem desenvolver uma forma mais ativa da doença que as raças latinas; forma de contágio - os contaminados por transfusão parecem ter uma progressão mais rápida; carga excessiva de ferro - é verificada uma maior progressão da hepatite C em portadores com altos níveis de ferro no fígado; ingestão de bebidas alcoólicas - aumenta consideravelmente a progressão da doença; co-infecção com hepatite B - não aumenta a progressão para a cirrose, porém aumenta o risco de desenvolver câncer no fígado; co-infecção com o HIV (AIDS) - aumenta a progressão para a cirrose e, nestes casos, verifica-se uma proporção mais alta de cirrose; fumantes - é possível que exista um risco maior, neste grupo, para desenvolver câncer no fígado; influência da imunossupressão - os esteróides não parecem tornar a hepatite C mais ativa; influência da hemofilia - alguns estudos (limitados) fazem pensar em uma menor incidência de fibroses nos portadores hemofílicos.” O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica estabelece normas para o tratamento e financiamento de determinadas patologias crônicas cujas linhas de cuidado estão definidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicados pelo Ministério da 5 Saúde como estratégia de acesso a fármacos no âmbito do Sistema Único de Saúde, segundo a Portaria nº GM/MS Nº 2981, de 30 de novembro de 2009 que, substituiu a Portaria GM/2009 nº 2577/2006 do Componente de Medicamentos de Dispensação Excepcional. Esses Protocolos têm o objetivo de estabelecer os critérios de diagnóstico de doenças crônicas, o tratamento preconizado com os fármacos disponíveis nas respectivas doses corretas, além de estabelecer a monitorização do tratamento, racionalizando assim a prescrição e o fornecimento dos fármacos. Para o tratamento da hepatite C, seguindo o PCDT-HCV, são necessários: uma aplicação semanal do fármaco interferona peguilada ou ainda 3 aplicações semanais do interferona convencional e o uso oral diário do fármaco ribavirina, durante 24 ou 48 semanas consecutivas. Com objetivo primário da supressão sustentada da replicação viral, que deve acontecer preferencialmente até a 12ª semana de tratamento. O uso da interferona peguilada, convencional e ribavirina traz uma série de alterações laboratoriais e reações adversas que necessitam de uma monitorização mais rigorosa dos pacientes a fim de aumentar a adesão ao tratamento. Dentre as reações adversas mais comuns estão a depressão, astenia e sintomas gripais para as interferonas e anemia hemolítica para a ribavirna. E estas são reponsáveis pela descontinuação do tratamento em aproximadamente 30% dos pacientes (OGBUOKIRI, 2005; WALTERS-SMITH e MARSHALL, 2009). No termo de responsabilidade do PCDT-HCV, assinado pelo médico e paciente, acercas dos riscos do tratamento com interferona mais ribavirina estão descritos como reações adversas nos itens 6 e 7: “Os principais efeitos adversos relatados para a interferona alfa e interferona peguilada são dor de cabeça, fadiga, depressão, ansiedade, irritabilidade, insônia, febre, tontura, dor torácica dificuldade de concentração, dor, perda de cabelo, coceiras, secura na pele, borramento da visão, alteração no paladar gosto metálico na boca, estomatite, náuseas, perda de apetite, diarréia, dor abdominal, perda de peso, dor muscular, infecções virais, reações alérgicas de pele, hipertireoidismo e hipotireoidismo, vômitos, indigestão, diminuição das células do sangue (plaquetas, neutrófilos, hemácias), tosse, faringite, sinusite. Os efeitos adversos menos freqüentes incluem comportamento agressivo, aumento da atividade de doenças auto-imunes, infarto do miocárdio, pneumonia, arritmias, isquemias;” “Os principais efeitos adversos relatados para ribavirina incluem cansaço, fadiga, dor de cabeça, insônia, náuseas, perda de apetite, anemia. Os efeitos adversos menos freqüentes são: dificuldade na respiração, conjuntivite, pressão baixa, alergias de pele, rinite, faringite, lacrimejamento;” O alto valor de mercado da interferona peguilada, bem como da interferona convencional e da ribavirina, atrelados a duração do tratamento, traz um grande impacto financeiro deste tratamento no SUS. Somente com fármacos o MS gasta em média com cada usuário R$20.000,00 por tratamento com interferona peguilada e ribavirina. Portanto, o abandono do tratamento, a utilização inadequada ou desperdício da ampola ou das cápsulas por parte dos pacientes representam perdas que precisam ser evitadas. No artigo de Amaral; Reis; Picon (2006) refletiu-se sobre a criação de serviços de acompanhamento farmacêutico de pacientes com hepatite C, no qual foi constatado que a melhora destes usuários é inquestinável e que o serviço gera acolhimento e educação dos pacientes contribuindo para a melhora da adesão e consequente resposta ao tratamento. Assegurar a adesão dos pacientes com hepatite C ao programa de tratamento previsto no PCDT-HCV é importante para melhorar a resolutibilidade no tratamento, bem como redução dos gastos no sistema público de saúde. No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde não disponibiliza até o presente momento o serviço de orientação farmacêutica aos usuários em pauta. 6 2- OBJETIVOS 2.1- OBJETIVO GERAL Verificar os resultados terapêuticos dos pacientes com hepatite viral C atendidos pelo Componente Especializado da Assistência Farmacêutica na SES/DF e levantar os custos de tratamento, analisando o papel da orientação farmacêutica nestes parâmetros. 2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1 Fazer levantamento de dados dos pacientes com hepatite viral C tratados no Distrito Federal, nos anos de 2008 e 2009, incluindo dados da doença e do tratamento medicamentoso. 2 Fazer levantamento dos custos dos fármacos da hepatite viral C, nos anos de 2008 e 2009, no Distrito Federal; 3 Fazer levantamento dos custos dos fármacos da hepatite viral C, nos anos de 2008 e 2009, no Distrito Federal, para o tratamento de pacientes que solicitaram retratamento; 4 Analisar o papel da orientação farmacêutica no cuidado ao paciente com hepatite C por meio de levantamento bibliográfico, nos últimos cinco anos, identificando elementos requeridos para programa com vistas à melhoria da terapêutica medicamentosa e à redução de custos. 3- MATERIAIS E MÉTODOS Conforme, Gil (1999, p. 160), “as fontes de “papel” muitas vezes são capazes de proporcionar ao pesquisador dados suficientemente ricos para evitar perda de tempo com levantamentos de campo, sem contar que em muitos casos só se torna possível a investigação social a partir de documentos.” Segundo o mesmo autor, “muitos dados importantes na pesquisa social provêm de fontes de “papel”: arquivos históricos, registros estatísticos, diários, biografias, jornais, revistas e etc”, mas lembra, como limitação, que pode haver divergência entre o registro e a situação real. Diante do exposto, foi realizado um levantamento de dados secundário, quantitativo, no sistema informatizado do serviço do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica da SES/DF, dos usuários com HCV, com classificação do CID-10: B18.2, que solicitaram e foram autorizados para tratamento, desde janeiro de 2008 até fevereiro de 2009. Verificou-se a continuidade destes usuários até março de 2010, visto que o período de tratamento preconizado pelo PCDT-HCV, é de 24 semanas para a interferona convencional e de 48 semanas para a interferona peguilada. Aplicou-se desta forma um estudo transversal em que foram levantados os seguintes dados: 1. Para todos os selecionados: Conclusão do tratamento: completou, suspendeu por orientação médica ou desistiu; Sexo: masculino ou feminino; Peso médio dos pacientes; Altura média dos pacientes; 7 - Qual o tipo da interferona escolhida para tratamento; Classificação da hepatite: grau de fibrose, genótipo, inflamação e se existe cirrose; Existência de co-infecção HIV/HCV. Condição do tratamento: primeira vez ou retratamento Os custos dos fármacos que o MS forneceu cobertura financeira pela aquisição centralizada e abastecimento das Secretarias Estaduais de Saúde ou pelo repasse financeiro definido em portaria específica vigente, foram calculados através de informações repassadas por meio de contato eletrônico, pela Coordenação do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica do MS. E os custos com os fármacos adquiridos para pacientes pela SES/DF, devido estarem fora dos critérios de inclusão do PCDT-HCV, necessário para a concessão da cobertura financeira do MS, foram obtidos pelo registro das compras empenhadas e registradas no sistema de materiais da SES/DF nos anos de 2008 e 2009. Para o conhecimento do papel da orientação farmacêutica aos pacientes com HCV em tratamento medicamentoso, foi realizado levantamento bibliográfico que utilizou a técnica de pesquisa documental indireta, como descreve Markoni e Lakatos (1999, p 64, 65, 73) no período de cinco anos, de janeiro de 2004 a janeiro de 2010, em humanos, nas seguintes bases de dados Medline/Pubmed e Bireme, por meio das seguintes palavras-chave: hepatite C, pharmaceutical care, hepatitis C, assistência farmacêutica. No Medline/Pubmed, foi utilizada a estratégia: "pharmaceutical services"[MeSH Terms] OR ("pharmaceutical"[All Fields] AND "services"[All Fields]) OR "pharmaceutical services"[All Fields] OR ("pharmaceutical"[All Fields] AND "care"[All Fields]) OR "pharmaceutical care"[All Fields]) AND ("hepatitis c"[MeSH Terms] OR "hepatitis c"[All Fields] OR "hepacivirus"[MeSH Terms] OR "hepacivirus"[All Fields]. Na base bireme.org, foi utilizada a estratégia de busca com as terminologias do DeCS (descritores em saúde): HEPATITIS C AND PHARMACEUTICAL CARE. Foram selecionados todos os artigos que envolviam o tratamento da hepatite C, com o acompanhamento do profissional farmacêutico, em atendimento ambulatorial, independente do desfecho. As análises estatísticas e manuseamento de dados, geração de gráficos e Tabelas foram realizados através do programa estatístico Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 16, obtido na Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPCS). A pesquisa utilizou dados secundários e, por isso, não foi submetida a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Conforme determina a Resolução nº196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, pesquisas com seres humanos devem ser submetidas a um CEP. 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO Levantamento de dados dos pacientes com hepatite viral C tratados no Distrito Federal, nos anos de 2008 e 2009. No período de estudo, nos meses de janeiro de 2008 a fevereiro de 2009, 126 usuários portadores do HCV foram cadastrados e autorizados para tratamento na SES/DF1. Em relação ao sexo da população estudada 83 (65,9%) são do sexo masculino e 43 (34,1%) do sexo feminino, como mostra a Tabela 1. Em seqüência a Tabela 2 destaca que na 1 Todos esses usuários neste período solicitam o tratamento e foram autorizados após parecer favorável de avaliadores da área técnica para receberem os fármacos, seja pela primeira vez ou pela segunda vez, também chamada de retratamento 8 correlação, altura, peso e idade, identificou-se que as médias obtidas foram, 168 cm, 71 kg e 50 anos, respectivamente. No artigo de Mariño et al (2009), realizado com usuários europeus, também foi observado um percentual elevado de usuários do sexo masculino (68%). A maior prevalência de infecção em homens parece ocorrer independente do continente e da cultura. Estudos realizados em outros países e culturas permitiriam verificar a possível repetição desta observação. Talvez, a relação sexual de forma desprotegida e o compartilhamento de seringas no uso de drogas ilícitas ocorram com maior frequência entre homens. Tabela 1 - Sexo Sexo Freqüência Percentual 83 43 65,9 34,1 126 100,0 Masculino Feminino Total Tabela 2 – Correlação entre altura (cm), peso (kg) e idade (anos) Válidos Média (+/- desvio padrão) Moda Sem informação Total Altura (cm) 103 169 (+/-9,5) 170 23 126 Peso (kg) 101 71 (+/-13,1) 67 25 126 Idade (anos) 119 50 (+/-9,1) 48 7 126 Variáveis Tabela 3 – Faixas etárias dos usuários dos sexos masculino e feminino Sexo MASCULINO FEMININO Faixa Etária Freqüência Pencentual de 50 a 59 anos 36 43,4 de 60 a 69 anos 27 32,5 de 30 a 39 anos 11 13,3 de 70 a 79 anos 6 7,2 de 40 a 49 anos 0 0 Sem informação 3 3,6 Total de 60 a 69 anos 83 15 100,0 34,9 de 70 a 79 anos 9 20,9 de 50 a 59 anos 8 18,6 de 20 a 29 anos 3 7,0 de 30 a 39 anos 3 7,0 de 10 a 19 anos 1 2,3 Sem informação 4 9,3 43 100,0 Total Na Tabela 3, é apresentada idade dos usuários distribuídos por sexo, sendo que 36 (43,6%) usuários do sexo masculino estão entre os 50 e 59 anos de idade, 27 (32,5%) entre 60 e 69 anos, 11 (13,3%) de 30 a 39 anos e 6 (7,2%) de 70 a 79 anos. Para o sexo feminino 15 9 (34,9%) estão entre 60 a 69 anos, 9 (20,9%) entre 70 a 79 anos, 8(18,6%) entre 50 a 59 anos, dentre outras faixas. Quanto à existência de co-infecção com os vírus do HIV e HCV, 15 (11,9%) estavam co-infectados e 88,1% não estavam, como mostrado na Tabela 4. Para os co-infectados, em relação ao sexo, 8 (53,3%) são do masculino e 7 (46,7%) são feminino. O dado obtido para os co-infectados 11,9% ´foi menor do que o descrito por Spooner (2009) , no qual 25 a 33% da população com HIV estão co-infectados com o HCV. Talvez no DF o risco esteja diminuído ou o diagnóstico não está sendo realizado. Na Tabela 5 são mostrados dados quanto à classificação do vírus da hepatite C do grupo estudado em relação ao genótipo, grau de fibrose e se existe cirrose. Na população estudada observa-se que 68 (54%) dos usuários são do genótipo 1, 5 (4%) são do genótipo 3, para 51 (40,5%) dos usuários não foi possível obter a informação. A maior ocorrência de fibrose são dos tipos 2 e 3, com 24 (19%) e 17 (13,5%), respectivamente, sendo que para 64 (50,8%) dos usuários esta informação não estava disponível. Para a ocorrência de cirrose 15 (11,9%) a possuem e 111 (88,1%) não possuem. Tabela 4 – Co-infecção com os vírus HIV/HCV em relação ao sexo Co-infectados Sim Sexo Masculino Feminino Não Freqüência 15 8 7 111 Percentual 11,9 53,3 46,7 88,1 126 100,0 Total Tabela 5 – Classificação da doença: genótipo, fibrose, cirrose Variáveis Genótipo G1 G3 G2 G4 Sem informação Fibrose F2 F3 F1 F4 Avançada Sem informação Cirrose Não Sim Freqüência Percentual 68 5 1 1 51 54,0 4,0 0,8 0,8 40,5 24 19,0 17 13,5 11 8,7 7 5,5 1 0,8 66 52,4 111 15 88,1 11,9 Quanto a classificação do HCV, nesse grupo chama atenção para o genótipo no qual 68 (54%) dos usuários são do genótipo 1, este dado corrobora com o apresentado por Mariño et al. (2009), sendo o mais comum e está associado a menor resposta viral sustentada quando comparado com os genótipos 2 e 3. Observou-se que o número de casos com cirroses ficou em 15 (11,9%) dos usuários e tal dado foi igual aos dos co-infectados HIV/HCV, conforme Tabela 4, mas não são os 10 mesmos usuários. Ressalta-se que o risco de se desenvolver carcinoma hepatocelular após o aparecimento da cirrose é de 1 a 4% (DAVIS, 2004 apud SMITH; DONG; KAUNITZ, 2007) Dos 126 usuários em estudo 75 (59,5%) concluíram o tratamento, 43 (34,1%) desistiram do tratamento, 6 (4,8%), entre outros desfechos, como mostrado na Tabela 6. Para os que desistiram obteve-se média próximo aos 5 meses, sendo que 25% ocorreu até o segundo mês de tratamento, 50% até o quinto mês e 75% até o 7º mês, como motrado na Tabela 7. Conforme descrito na Tabela 8, 102 (81%) usuários solicitaram o tratamento pela primeira vez e 22 (17,5%) estavam em retratamento. Para a população estudada, identificou-se, conforme Tabela 9, que a associação alfapeginterferona 2b 100 mcg, mais, ribavirina 250 mg cápsulas foi o tratamento solicitado e autorizado em 81 (64,3%) dos casos, seguindo da associação alfapeginterferona 2b 100 mcg, mais, ribavirina 250 mg cápsulas, com 44 (34,9%). Da população estudada, observou-se que a maioria é do sexo masculino, com 83 (65,9%), possuem em média 50 anos, 169 cm de altura e 70 kg, conforme expresso nas Tabelas 1 e 2. Um comparativo em relação a faixa etária revelou que o masculino foi expressivo (36 usuários) com faixa etária entre 50 e 59 anos, e o feminino possuem na maioria maior faixa etária, sendo 15 usuárias entre 60 a 69 anos, conforme Tabela 3. Para os casos de co-infecção HIV/HCV no grupo estudado 15 (11,9%) estavam coinfectados e em relação ao sexo, 8 (53,3%) são masculino e 7 (46,7%) são feminino. Percebese aqui que para a coinfecção a diferença entre os sexos é mínima, provavelmente não seja estatísticamente significativa. Tabela 6 – Desfechos dos tratamentos Desfecho Freqüência Percentual 75 43 6 1 1 59,5 34,1 4,8 0,8 0,8 126 100,0 Tratamento Concluído Desistência Suspenso Mudou-se para outro Estado Plano de Saúde Total Tabela 7 – Tempo em que ocorreu a desistência ao tratamento. Variáveis Média Desvio padrão Mediana Percentil Tempo em meses 4,72 3,07 5,00 2,00 5,00 7,00 25 50 75 Tabela 8 – Situação em relação ao tratamento Situação Freqüência Percentual 1ª Vez Retratamento 103 23 81,7 18,3 Total 126 100,0 11 Tabela 9 – Fármacos utilizados Medicamentos Alfapeginterferona 2a 180 mcg + ribavirina 250 mg cápsulas Alfapeginterferona 2b 100 mcg + ribavirina 250 mg cápsulas Alfapeginterferona 2b 3.000.000 UI + ribavirina 250 mg cápsulas Total Frequência Percentual 81 64,3 44 34,9 1 0,8 126 100,0 Neste estudo, conforme tabela 7, 75 (59,5%) dos pacientes concluíram o tratamento e 43 (34,1%) desistiram do tratamento, o abandono prejudica o controle da doença, ocasionando injúrias no fígado mais graves e o tratamento deve ser iniciado novamente, aumentado o gasto do sistema público. Tal dado expõe a necessidade para o acompanhamento estrito e orientação educativa destes pacientes visto que, as desistências ocorreram em média até o quinto mês de tratamento e 25% até o segundo mês de tratamento. O que sugere uma falha no aporte terapêutico destes pacientes. O termo de responsabilidade do PCDT-HCV enfatiza a necessidade da realização de exames hematológicos, especialmente durante as quatro primeiras semanas de tratamento, para detecção de alterações nas células do sangue, anemia e leucopenia e, desta forma, quando for necessário, proceder o ajuste de dose (Portaria MS nº34, anexo I, ítem 8) Os fármacos alfapeginterferona 2b 100 mcg frasco, alfapeginterferona 2a 180 mcg frasco e ribavirina 250 mg cápsulas, foram os que mais ocorreram neste estudo, foram utilizados por 125 usuários, conforme Tabela 9. Sendo apenas um caso com o uso do interferona convencional, e 103 (87%) dos usuários estavam na primeira vez do tratamento. O PCDT-HCV estabelece como critério de inclusão para uso da alfapegiinterferonaa a obrigatoriedade da presença do genótipo 1 e neste estudo foi verificado que apenas 54% dos usuários tinhan este genótipo, mas em 40,5% da população estudada não estava disponível o tipo de genótipo acometido. Levantamento dos custos dos fármacos da hepatite viral C, nos anos de 2008 e 2009, no Distrito Federal. Os valores das aquisições centralizadas para os fármacos da hepatite C, nos anos de 2008 e 2009, estão descritos na Tabela 10. Nesta tabela, verifica-se que os valores financeiros obtidos em 2009 foram, respectivamente, R$380,00, US$198,32 e R$0,14, das aquisições dos fármacos alfapeginterferona 2b 100 mcg frasco, alfapeginterferona 2a 180 mcg frasco e ribavirina 250 mg comprimido. Partindo dos valores financeiros, conforme Tabela 9 e levando-se em consideração que neste estudo estavam em tratamento 44 (34,9%) pacientes com a associação alfapeginterferona 2b 100 mcg (um frasco por semana), mais, ribavirina 250 mg cápsulas (150 cápsulas por mês), durante 48 semanas, e calculando-se a média dos valores nos anos de 2008 e 2009, têm-se como gasto aproximado, se todos esses concluíssem o tratamento, os valores de R$823.680,00 com alfapeginterferona 2b 100 mcg e R$11.088,00 com ribavirina, totalizando R$834.768,00. Utilizando a mesma lógica anterior, para os 81 (64,3%) usuários com a associação alfapeginterferona 2a 180 mcg (um frasco por semana), mais, ribavirina 250 mg cápsulas (150 12 cápsulas por mês), os valores seriam de U$814.186,08 ou R$1.465.535,002 com alfapeginterferona 2a 180 mcg e R$20.412,00 com ribavirina, totalizando R$1.485.947,00. Tabela 10 – Valores das aquisições em contratos do Ministério da Saúde para os fármacos da hepatite C Medicamentos Valores em 2008 Alfapeginterferona 2b 120 mcg frasco Alfapeginterferona 2b 100 mcg frasco Alfapeginterferona 2b 80 mcg frasco Alfapeginterferona 2a 180 mcg frasco Ribavirina 250 mg cápsulas * Para ribavirina, a centralização ocorreu em 2009. Fonte: Ministério da Saúde, SCTIE, DAF, CGMEDEX, ano 2010. R$420,00 R$400,00 R$394,00 U$220,50 * Valores em 2009 R$415,00 R$380,00 R$350,00 U$198,32 R$0,14 Portanto, durante o período estudado, ter-se-ia o gasto de R$1.486.782,00, com os 125 pacientes da população selecionada. Excluiu-se o cálculo com a alfapeginterferona 2b 3.000.000 UI, pois não foi levantado o valor de sua aquisição, devido representar apenas um caso da população estudada. Na Tabela 11 está descrito o resumo estimado com a população estudada nos parágrafos anteriores, no qual o custo geral total seria de R$2.320.715,00 e o custo por paciente ficaria em R$18.972,00 para a associação alfapeginterferona 2b 100 mcg, mais, ribavirina 250 mg cápsulas e R$18.345,00, para alfapeginterferona 2a 180 mcg, mais, ribavirina 250 mg cápsulas. Tabela 11 – Descrição dos valores financeiros gastos estimados com os usuários que utilizaram as associações medicamentosas alfapeginterferona 2b 100 mcg + ribavirina 250 mg cápsulas e alfapeginterferona 2b 100 mcg + ribavirina 250 mg cápsulas. Medicamentos Alfapeginterferona 2b 100 mcg Alfapeginterferona 2a 180 mcg Ribavirina 250 mg casuals Custo médio unitário 44 R$390,00 81 377,00* 125 R$0,14 Usuários Total Quant. total /usuário / tratamento 48 frascos 48 frascos 1800 cápsulas Custo médio total R$823.680,00 R$1.465.776,00 R$31.500,00 R$2.320.956,00 *Valor convertido do U$ para o R$ Fonte: Ministério da Saúde, SCTIE, DAF, CGMEDEX, ano 2010. Estimou-se na Tabela 11 que o valor do tratamento medicamentoso para os 125 usuários que utilizaram a combinação alfapegiinterferonaa mais ribavirina se tivessem concluído o tratamento em 48 semanas, ficaria em torno de R$2.320.956,00. Contudo, 23 (18,3%) dos usuários estavam em situação de retratamento e apenas cinco destes possuíam critérios de inclusão para o repasse financeiro pelo MS, conforme PCDT-HCV, item 6.3.2, sendo portanto o restante, 18 usuários, sob custeio exclusivo da SES/DF, objeto de estudo da próxima seção. Neste estudo não foram levantados custos indiretos do tratamento, como consultas médicas, aplicações dos injetáveis, exames laboratoriais, afastamentos dos trabalhos temporários dos usuários, deslocamentos semanais até o pólo de aplicação dentre outros. 2 Aplicou-se nesse caso a correção monetária de R$1,80 para cada U$, conforme valor publicado pelo Banco Central em 1º de julho de 2010, disponível em: http://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/PtaxRPesq.asp?idpai=TXCOTACAO 13 Levantamento dos custos dos fármacos da hepatite viral C, nos anos de 2008 e 2009, no Distrito Federal, para o tratamento de pacientes que solicitaram retratamento Para o tratamento dos pacientes com hepatite viral crônica C que solicitaram retratamento3 com alfapeginterferona 2a ou 2b, nos anos de 2008 e 2009, no DF, no qual o ônus da aquisição é de responsabilidade na maioria dos casos da SES/DF obteve-se os seguintes valores de aquisição registrados no seu sistema informatizado: Cada frasco de alfapeginterferona 2b 100 mcg foi adquirido por R$1.060,99 em 2008 e R$R$ 1.123,58, com valor médio de R$1.092.28. Cada frasco de alfapeginterferona 2a 180 mcg foi adquirido por R$940,00 em 2008 e R$910,00 em 2009, com valor médio de R$925,00. Cada cápsulas de ribavirina 250 mg foi adquirido por R$0,48 em 2008 e R$0,72 em 2009, com valor médio de R$0,60. No ano de 2009, o MS adquiriu por meio de compra centralizada alfapeginterferona 2b 100 mcg R$380,00/frasco, alfapeginterferona 2a 180 mcg US$198,32/frasco e ribavirina 250 mg R$0,14/cápsula. Assim foi identificada a discrepância dos valores das aquisições no DF referentes aos retratamentos não custeados pelo MS, nos quais as alfapeginterferonas foi quase 200% acima do valor e para a ribavirina 400% acima do valor. Os altos custos de manejo destes casos de retratamento por abandono de tratamento precisam ser evitados, devido aos efeitos negativos da progressão da doença que atrelados ao valor dos fármacos encarecem o sistema público com gastos que poderiam ser evitados com um acompanhamento adequado (WALTERS-SMITH e MARSHALL, 2009; SPOONER, 2009). Analise do papel da orientação farmacêutica no cuidado ao paciente com hepatite C por meio de levantamento bibliográfico, nos últimos cinco anos, identificando elementos requeridos para programa com vistas à melhoria da terapêutica medicamentosa e à redução de custos. A busca dos artigos que envolviam o tratamento da hepatite C resultou num total de 39 artigos. Destes oito foram julgados relevantes para a análise. por envolverem o acompanhamento do profissional farmacêutico, em atendimento ambulatorial, independente do desfecho. Na Tabela 12, estão listados os artigos selecionados. A seguir, será realizada a apresentação resumida dos artigos selecionados conforme o número de ordem da Tabela 12, da mais recente até a mais tardia, dentro do período selecionado. No artigo de Walters-Smith e Marshall (2009) é descrita a prática do profissional farmacêutico num ambulatório de cuidado para pacientes com hepatite C crônica. Neste local os farmacêuticos clínicos são responsáveis pela avaliação inicial da terapia, observam os possíveis efeitos colaterais, imunizações contra os vírus das hepatites A e B, bem como orientam sobre os fármacos e exames laboratoriais necessários para o monitoramento da toxicidade e eficácia da terapia. Os autores concluem que os farmacêuticos estão em posição oportuna para motivar os pacientes na adesão a farmacoterapia, reduzindo e manejando efeitos colaterais e reações adversas, para otimizar as respostas ao tratamento, especialmente em pacientes com genótipo 1. A educação centra-se na seqüela de infecção crônica de HCV, incluindo cirrose, carcinoma hepatocelular, doença hepática descompensada e a necessidade 3 De acordo com o PCDT-HCV, na observação do item 6.3.2.1, não é recomendado o retratamento com interferon peguilado dos portadores do genótipo 1 da hepatite C previamente tratados com interferon peguilado. Portanto, o MS não autoriza estes retratamentos, e quando ocorrem são de custeio exclusivo das SES. 14 de transplante. Spooner (2009) atenta para os benefícios e barreiras no envolvimento do farmacêutico no tratamento do HCV enfatizando que a percepção do farmacêutico na prestação do cuidado com o paciente com HCV é semelhante ao que é realizado em outros cuidados do seu cotidiano. Mariño et al. (2009) descrevem a atuação do farmacêutico numa equipe multidisciplinar, que acompanha pacientes com hepatite C crônica, genótipo 1. Focalizam que a responsabilidade do farmacêutico recai no manejo da terapia farmacológica e nas orientações educativas sobre: armazenamento de fármacos, formas de administração do medicamento, como reagir em casos de reações adversas, esquecimento e/ou perda de doses, dentre outras. Os autores finalizam com o comentário que a participação do farmacêutico na equipe multidisciplinar melhorou a adesão desses pacientes devido sua habilidade para identificar e dar soluções para melhorar o uso dos fármacos. Tabela 12 – Relação dos artigos selecionados que mostram o papel do farmacêutico no apoio à terapia de pacientes com hepatite C. N Artigos 1 WALTERS-SMITH, N.; MARSHALL, S. M. Opportunities and considerations for pharmacist intervention in the management of the chronic hepatitis C patient. J Manag Care Pharm, v. 15, n. 5, p. 417-9, jun. 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19496639>. Acesso em: 24 maio 2010. 2 SPOONER, L. M. The critical need for pharmacist involvement in the management of patients with hepatitis C. J Manag Care Pharm, v. 15, n. 2, p. 151-3, mar. 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19236129>. Acesso em: 24 maio 2010. 3 MARINO, E. L., et al. Pharmacist intervention in treatment of patients with genotype 1 chronic hepatitis C. J Manag Care Pharm. v. 15, n. 2, p.147-50, mar. 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19236128>. Acesso em: 24 maio 2010. 4 COHEN, S. M.; KWASNY, M. J.; AHN, J. Use of specialty care versus standard retail pharmacies for treatment of hepatitis C. Ann Pharmacother, v. 43, n. 2, p. 202-9, feb. 2009. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19193591>. Acesso em: 24 maio 2010. 5 SMITH, J. P.; DONG, M. H., KAUNITZ, J. D. Evaluation of a pharmacist-managed hepatitis C care clinic. Am J Health Syst Pharm, v. 64, n. 6, p. 632-6, mar 15. 2007. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17353572>. Acesso em: 24 maio 2010. 6 MÁRQUEZ-PEIRÓ, J. F., et al. Identifying improvement opportunities in the management of hepatitis C. Farm Hosp, v. 30, n.3, p. 154-60, may-jun. 2006. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16999562>. Acesso em: 24 maio 2010. 07 OGBUOKIRI, T. Advances in the pharmaceutical care of hepatitis C/HIV co-infection. HIV Clin, v. 17, n. 1, p. 12-5, dec. 2005. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15754458>. Acesso em: 24 maio 2010. 8 KOLOR, B. Patient education and treatment strategies implemented at a pharmacist-managed hepatitis C virus clinic. Pharmacotherapy, v. 25, n. 9, p. 1230-41, sep. 2005. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16164396>. Acesso em: 24 maio 2010. Foi realizado um estudo retrospectivo por Cohen; Kwasny; Ahn (2009) numa instituição acadêmica com adultos infectados HCV e tratados entre 2001 e 2006. Obtiveram como resultado que o cuidado farmacêutico no tratamento da hepatite C não está associado ao aumento das taxas da supressão sustentada da replicação viral. Porém, houve menor incidência nas reduções de doses do interferona e/ou ribavirina, recomendadas para o manejo de reações adversas não controladas com o uso de terapia de suporte. No entanto, não ocorreu diferença 15 estatística entre os grupos na conclusão do tratamento. Smith; Dong; Kaunitz (2007) também realizaram um estudo retrospectivo no período de outubro/2002 a março de 2004 no qual foram selecionados os pacientes infectados com HCV e que receberam acompanhamento farmacoterapêutico, foram coletadas informações demográficas, caracteríticas da doença, informações do tratamento e resposta virológica. Vinte e sete pacientes pacientes foram acompanhados e verificaram que 63% destes obtiveram diminuição da carga viral, 11% suspenderam devido as reações adversas e em 8% foi necessário o uso de fatores do crescimento mielóide .Concluíram que os resultados na resposta terapêutica dos pacientes com HCV é similar aos resultados dos pacientes de terapias convencionais com o acompanhamento do farmacêutico clínico. Porém novos estudos são necessários para investigar o valor do acompanhameno farmacêutico em pacientes com HCV. Márquez-Peiró et al. (2006) analisaram numa coorte longitudinal (de janeiro a outubro de 2005) oportunidades de melhora dos pacientes monoinfectados pelo HCV durante a dispensação dos fármacos alfapeguinterferona 2a ou 2b e ribavirina sob orientação farmacêutica. Verificaram que a morbidade farmacoterapêutica para toxicidade hematológica, síndrome pseudogripal, os dentre eventos adversos, é menor do que a relatada na literatura clínica desses fármacos. Os autores concluem que as ações farmacêuticas foram preventivas, na maioria dos casos. Ogbuokiri (2005) fez uma abordagem do tratamento da hepatite C em co-infectados HIV/HCV. ressaltando que vários estudos têm documentado sobre o tratamento efetivo de pacientes co-infectados HIV/HCV em uso de terapia antiretroviral (nestes estudos 88% dos pacientes não desenvolveram efeitos hepatotóxicos severos devido o uso de antiretrovirais). Porém, argumenta que o tratamento deve acontecer sob acompanhamento estrito de uma equipe multidisciplinar para a prevenção e controle dos eventos adversos, incluindo hepatotoxicidade dos agentes antiretrovirais, e da interação entre os fármacos das duas terapias. Esclarece que o farmacêutico é o profissional mais acessível ao paciente, dentre os outros profissionais da saúde, que compreende bem estas doenças e seus tratamentos, podendo manejar os efeitos adversos e melhorar a resposta virológica dos pacientes nas duas doenças. No artigo publicado por Kolor (2005) foram discutidas as estratégias utilizadas pelos farmacêuticos clínicos para facilitar um desfecho bem-sucedido do tratamento da hepatite C utilizando terapia combinada, alfapeguinterferonaa mais ribavirina. Enfatiza a importância da monitorização freqüente desses pacientes, pois na maioria das vezes foi necessário o ajuste de doses, para melhor controle dos efeitos adversos, contribuindo para o aumento da adesão à terapia. A educação promovida pelos farmacêuticos durante o tratamento foi eficaz no aumento do percentual da supressão sustentada da replicação viral, definida como a ausência de HCV-RNA após seis meses da conclusão do tratamento. Estes artigos, relacionados na Tabela 12, identificam a facilidade de acesso aos farmacêuticos como sendo importante para o sucesso no tratamento.Quando disponíveis numa equipe multiprofissional, os farmacêuticos clínicos, provavelmente, dispõem de conhecimento apropriado para o manejo adequado do paciente, visto que o tratamento recomendado utiliza fármacos que desenvolvem reações adversas graves, como anemia grave, leucopênia, depressão, irritabilidade e, se não são acompanhadas apropriadamente, levam a desfechos difíceis de controlar, ocasionando o abandono do tratamento, dificultando assim o controle da doença, podendo levar a danos hepáticos irreversíveis ocasionados pela fibrose e atividade inflamatória no fígado que gera cirrose. Um paciente que desiste do tratamento, diminue a possibilidade de cura e aumenta as chances de transplante hepático (WALTERS-SMITH e MARSHALL, 2009) E o retratamento gera custos elevados ao sistema público (SPOONER, 2009). Conforme exposto nos resultados 16 anteriores que no DF o custo da aquisição das interferonas peguiladas pela SES é quase 200% acima do valor adquirido pelo MS em compra centralizada. Segundo Ogbuokiri (2005) é essencial que os pacientes com HCV recebam a orientação e/ou educação acerca de algumas questões, antes do início e durante o tratamento, como listado a seguir: 1. Potenciais consequências do não tratamento da infecção pelo HCV; 2. Estratégias para a prevenção de transmissões; 3. Necessidade de interromper o uso de álcool e/ou drogas ilícitas injetáveis; 4. Potenciais benefícios do uso da combinação interferona + ribavirina na redução do dano no fígado; 5. Recomendação para dieta alimentar diária entre 2.500 a 3.000 calorias e hidratação com 3.000 a 3.500 ml de água por dia; 6. Orientação sobre as doses de cada medicamento e a forma de aplicação; 7. Duração do tratamento; 8. Importância da adesão à terapia; 9. Teratogenicidade da ribavirina, recomenda-se o uso de pelo menos dois métodos contraceptivos em mulheres e testes de gravidez mensal durante o tratamento e após seis meses do encerramento; 10. Informaçõs sobre os efeitos adversos e formas de manejá-los; 11. Orientação sobre os resultados dos níveis do HCV-RNA e genótipos; 12. Programação das consultas com a equipe, exames laboratoriais e imunizações recomendadas; 13. Recursos para apoiar os pacientes durante o tratamento. Um dos manejos mais comuns neste tratamento ocorre na presença de anemia e/ou leucopenia quando recomenda-se o uso de fatores de crescimento mielóide (alfaepoetina recombinante e/ou filgrastim, molgramostim ou lenograstim) ou a redução da dose dos fármacos. Seguindo o PCDT-HCV (Portaria MS nº34, anexo I) este manejo deve seguir: a) Até a 12ª semana de tratamento: 1º passo: uso de fatores estimulantes (alfaepoetina recombinante, filgastrim, lenogratim e/ou molgramostim); 2º passo: redução da dose dos fármacos (em até 20%), se o 1º passo falhar. b) Após a 12º semana de tratamento 1º passo: redução da dose dos fármacos (em até 20%); 2º passo: uso de fatores estimulantes (alfaepoetina recombinante, filgastrim, lenogratim e/ou molgramostim), se o 1º passo falhar. O PCDT-HCV recomenda o uso de fatores do crescimento quando o os níveis de hemoglobina estiverem menor ou igual a 10 g/dL ou queda acima de 3,0 g/dL quando comparado ao nível do pré-tratamento. Para a redução da dose dos fármacos pode-se diminuir até 20% da dose em uso e acima desse valor somente em juízo clínico se houver falência das alternativas de manejo. De acordo com os resultados apresentados neste estudo, nos quais 34% dos pacientes desistiram do tratamento, conforme Tabela 6, o acompanhamento da conduta terapêutica desses pacientes tem alta relevância, pela redução de abandonos (WALTERS-SMITH e MARSHALL, 2009; SPOONER, 2009; MARIÑO et al., 2009). Provavelmente, se houvesse o serviço de orientação farmacêutica na farmácia do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica na SES-DF, este número poderia ser menor e o gasto com a aquisição do medicamento também. A literatura mostra o impacto positivo desta atividade, como melhora 17 na adesão ao tratamento medicamentoso (WALTERS-SMITH e MARSHALL, 2009; MARIÑO, 2009; KOLOR, 2005). Visto que os valores adquiridos pelo DF nos anos de 2008 e 2009, quando comparado com as aquisições centralizadas pelo MS, foram 200 % maiores para as alfapeginterferona 2b 100 mcg e alfapeginterferona 2a 180 mcg e com a ribavirina 250 mg cápsulas chegaram a 400% acima do valor. No entanto, Spooner (2009) alerta que para o sucesso na adesão à terapia proposta pelo acompanhamento farmacêutico é necessário que o farmacêutico esteja preparado para a prática orientativa com os pacientes com HCV. Portanto os resultados obtidos nos trabalhos publicados por Mariño (2009), Márquez-Peiró (2006) e Kolor (2005) foram decorrentes do trabalho de profissionais faramacêuticos treinados e habilitados para o acompanhamento. Desta forma antes que se inicie um acompanhamento educativo e/ou orientativo com um grupo de usuários faz-se necessário a capacitação da equipe farmacêutica e que haja um alinhamento de conhecimentos junto com outros profissionais envolvidos no tratamento como, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, nutricionistas, dentre outros. Diante do exposto, sugere-se como proposta para a implantação do serviço de orientação farmacêutica para pacientes com HCV, a capacitação da equipe de farmacêuticos, alocados para essa finalidade, acerca do assunto e o envolvimento dos profissionais da rede SES-DF que trabalham com estes usuários sobre a importância do acompanhamento farmacêutico, conhecimentos e técnicas específicas, inclusive o aconselhamento farmacoterapêutico. Neste momento devem ser definidos quais os manejos que serão aplicados e estes devem estar em concordância os realizados pela equipe multiprofissional. Posteriormente, para o serviço orientativo farmacêutico sugere-se o agendamento de uma avaliação farmacêutica com o usuário antes do início do tratamento e posteriormente nas 12º, 24º e 48º semana. Para tanto, devem ser levantados e anotados em formulários individuais os dados da Tabela 13: Tabela 13 - Dados que deveriam constar em formulário apropriado na realização de serviço farmacêutico de acompanhamento de pacientes portadores de HCV 1 Quais os fármacos utilizados para o tratamento e o tempo previsto para a conclusão: anotar data de início e fim; 1. 2 Quais os fatores de risco do paciente: Uso de alcóol e/ou drogas Relações sexuais: monogâmicas ou poliogâmicas Tipo de profissão Tipo de alimentação Tendência a depressão Outras doenças pré-existentes, incluindo HIV, hemofilia, tuberculose etc; 2. 3 3. 4. Verificar os exames laboratoriais, principalmente: Hemograma complete HCV-RNA 4 5 Explicar sobre o uso dos fármacos, e seus efeitos adversos; Instruí-lo sobre a necessidade do acompanhamento dos exames laboratoriais para melhor controle de algumas reações, como a anemia. 5. 6 Orientá-lo a procurar seu médico na presença de algum efeito mais grave. Fonte: Elaborada pela autora. As avaliações nas 12º, 24º e 48º semanas devem focalizar na resposta terapêutica obtida pelos níveis da carga viral (HCV-RNA quantitativo) que devem estar diminuídos em 2 logarítimos até a 12º semana em relação ao valor obtido no início do tratamento, conforme descreve o PCDT-HIV, e também observação do estado geral de saúde do paciente. 18 Sugere-se ainda que sejam realizadas reuniões bimestrais com a equipe farmacêutica afim de avaliar as condutas empregadas e também a impressão do paciente quanto ao serviço disponibilizado. 5. CONCLUSÃO: Os usuários com HCV no DF, durante o periodo estudado, revelaram que são homens na sua maioria, com idade entre 50 e 59 anos, infectados em média com genótipo 1 , 11,9% estavam com cirrose e possuíam co-infecção. No entanto, não foi possível o conhecimento pormenorizado de todos os casos, devido não estar totalmente disponível no sistema informatizado as informações consultadas, como genótipo, fibrose, cirrose,. Mas os dados da conclusão do tratamento e as casos de retratamento foram efetivos para demonstrar que existe uma falha no tratamento destes usuários. Este estudo propiciou o conhecimento da efetividade do tratamento diponibilizado pelo SUS no DF que ressaltou no período estudado apenas 59,5% dos usuários conseguiram concluir o tratamento e que 34,1% desistiram. A causa da desistência é desconhecida, sendo necessário estudo para identificar as motivações. A hipótese principal é que a desistência tenha ocorrido devido à falha no tratamento destes pacientes. O acompanhamento do tratamento destes pacientes, realizado por serviço de orientação farmacêutica, que conte com farmacêutico capacitado, provavelmente reduziria este quadro.. A implantação do serviço de orientação farmacêutica no serviço de farmácia do Componente Especializado, na SES-DF, poderá assegurar melhor adesão dos pacientes com hepatite C à terapia farmacológica, visando maior resolutibilidade no tratamento, bem como redução dos gastos no sistema público de saúde. Pharmaceutical care to patients with viral hepatitis type C treated at Distrito FederalBrazil Abstract: Infection hepatitis C virus (HCV), by its prevalence and high treatment costs, require specific public policies in the Brazilian Unified Health System (SUS). Additionaly, patients infected with HCV and treated with pegylated interferona, conventional interferona and ribavirin develop a number of laboratory test abnormalities and adverse reactions that require closer monitoring of them. The high market value of these drugs causes big financial impact of HCV treatment to SUS. Our aim is to propose a pharmaceutical care program for patients with HCV in Distrito Federal (DF). To identify DF patients with HCV profile and to perform literature search of pharmaceutical care programs organized to attend patients with HCV. A restrospective analysis was performed, from January 2008 to February 2009, of patients with HCV who were enrolled and received treatment through SUS. A literature search was performed from January 2004 to January 2010 to identify pharmaceutical care programs which deals with patients infected with HCV. 126 users carrying the HCV were registered and approved for treatment in DF. Out of this, 75 completed treatment, 43 withdrew, among others outcomes. The number of users dropouts is high (34,1%) and it appears to be due to adverse effects of treatment that could be minimized through proper monitoring of patients. The implementation of a pharmaceutical care service would ensure better compliance of patients with HCV to the treatment, improving therapeutic effectiveness and reducing costs to SUS. 19 Keywords: pharmaceutical care, hepatitis c, pharmacotherapy, treatment costs, treatment adandon. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AMARAL, K. M.; REIS, J. G., PICON, P. D. Atenção farmacêutica no Sistema Único de Saúde: um exemplo de experiência bem sucedida com pacientes de hepatite C. Rev. Bras. Farm. vol. 87, n. 1, p. 19-21. 2006. BRASIL. Portaria GM/MS Nº 2.981, de 26 de novembro de 2009, disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/portaria_2981-343_ceaf.pdf.> Acesso em 03 março 2010. BRASIL. Portaria GM/MS Nº 2.577, de 27 de outubro de 2006, disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pt_2577_cmde_2006.pdf.> Acesso em 16 agosto 2009. BRASIL. 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