A1 ID: 32659563 10-11-2010 Tiragem: 50283 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 17,60 x 33,18 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Combustíveis fósseis são mais subsidiados do que as renováveis MARATHON OIL/REUTERS Ricardo Garcia Relatório da Agência Internacional de Energia considera necessário o fim dos apoios a fontes poluentes de energia a Os subsídios aos combustíveis fósseis em 2009 superaram, a nível global, os apoios às energias renováveis em mais de cinco vezes, segundo dados ontem divulgados pela Agência Internacional de Energia (AIE). Eliminar estes subsídios é essencial para a segurança energética e para combater as alterações climáticas, diz a AIE no seu relatório anual sobre as perspectivas no sector da energia para as próximas três décadas. Segundo AIE, os subsídios aos combustíveis fósseis somaram 312 mil milhões de dólares (224 mil milhões de euros). As maiores fatias foram dirigidas aos produtos petrolíferos (40 por cento), ao consumo de electricidade produzida a partir de combustíveis fósseis (30 por cento) e ao gás natural (27 por cento). Os apoios ao carvão representam apenas dois por cento do total. A quase totalidade dos subsídios concentra-se em países em desenvolvimento, sobretudo em grandes produtores de combustíveis fósseis (como o Irão, a Arábia Saudita e a Rússia) e grandes consumidores de energia (China e Índia). Já os apoios às energias renováveis representaram, a nível mundial, 57 mil milhões de dólares (41 mil milhões de euros) em 2009. A AIE preconiza o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, argumentando que os efeitos seriam benéficos em várias áreas. O consumo de energia primária teria uma redução de cinco por cento até 2020, em relação a um cenário de manutenção dos subsídios. A demanda de petróleo sofreria uma redução de 4,7 milhões de barris diá- O petróleo ficou com a principal fatia dos subsídios Apoios Fóssil monopoliza Em mil milhões de dólares Irão 67 Arábia Sandita 36 Rússia 34 Índia China Egipto 22 18 16 Venezuela 14 Indonésia 13 Emirados 11,5 Uzbequistão 10,5 Fonte: AIE rios – cerca de um quarto do consumo dos Estados Unidos. As emissões globais de CO2, por sua vez, cairiam 5,8 por cento, o que representa 40 por cento do esforço necessário até 2020 para conter o aumento da temperatura média global a dois graus Celsius até ao final do século. “Eliminar os subsídios ao consumo de combustíveis fósseis pode representar uma peça central para lidar com as alterações climáticas”, conclui a AIE, no seu relatório. A posição da AIE foi bem recebida pela organização ambientalista Greenpeace. “A AIE tem vindo crescentemente a reconhecer o papel importante que as energias renováveis podem desempenhar na luta contra as alterações climáticas e para melhorar a segurança no abastecimento”, diz Sven Teske, director da Greenpeace para as energias renováveis, citado num comunicado da organização. A Greenpeace discorda, porém, de alguns cenários da AIE, que consideram a energia nuclear e a tecnologia de captura e armazenamento de carbono como alternativas para um sistema energético mais sustentável. No seu relatório, a AIE calcula que que o fracasso da cimeira climática de Copenhaga, em Dezembro passado – onde foi adoptado um acordo nãovinculativo, com metas pouco ambiciosas para a redução das emissões de CO2 – vai custar ao mundo algo como um bilião de dólares (723 mil milhões de euros). Este valor representa a diferença entre o custo de medidas para cortar emissões até 2035 estimado antes e depois de Copenhaga. Situação actual e cenários China já é o maior consumidor de energia a A China já é o maior consumidor mundial de energia, tendo ultrapassado os Estados Unidos em 2009, segundo dados preliminares da Agência Internacional de Energia (AIE). O consumo de energia per capita é, porém, maior nos EUA. No cenário central da AIE, a procura de energia na China deverá subir 75 por cento até 2035 – representando mais de um terço (36 por cento) de todo o aumento no consumo energético mundial nesse período. O crescimento no consumo mundial está estimado em 1,2 por cento ao ano, em média. Num cenário conservador, que leva em conta apenas as políticas energéticas actuais, o aumento seria de 1,4 por cento ao ano. Num outro cenário, com medidas mais arrojadas para conter o aumento da temperatura média global a dois graus Celsius, o consumo cresceria menos – 0,7 por cento ao ano. A maior parte do crescimento no consumo (93 por cento) ocorrerá nos países em desenvolvimento. Os combustíveis fósseis – petróleo, carvão e gás natural – continuarão a ser dominantes em 2035. Mas a sua parcela no bolo energético total cairá para 74 por cento, contra 81 por cento hoje. As renováveis deverão dar um grande salto, segundo a AIE, aumentando a sua quota de sete por cento, em 2008, para 14 por cento, em 2035. O cenário central da AIE também antevê um crescimento, embora menor, da energia nuclear – que passará a responder por oito por cento do mix energético mundial. A AIE assume uma subida do preço do barril de petróleo para 99 dólares (72 euros) em 2020 e 113 dólares (82 euros) em 2035, como reflexo dos custos crescentes da sua exploração. R.G.