OS CONFLITOS DE GERAÇÃO NO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR ANTONIO AUGUSTO DOS SANTOS SOARES - Doutorando Universidade Trás-Os-Montes e Alto do D’ouro – Portugal [email protected] PROFA. DRA. CARLA SUSANA MARQUES - Orientadora Universidade Trás-Os-Montes e Alto do D’ouro – Portugal [email protected] PROF. DR. PEDRO ANTONIO DE MELO - Orientador Universidade Federal de Santa Catarina – Brasil [email protected] RAFAEL PEREIRA ORCAMPO MORÉ - Doutorando Universidade do Vale do Itajaí – Univali [email protected] RESUMO Estamos vivendo uma era em que os avanços tecnológicos são constantes no nosso cotidiano. Para os jovens nascidos após 1990, também conhecidos como Geração Z ou Geração Digital, essa realidade é bastante natural. Não é raro vermos crianças de 2 anos manuseando smartphones e tablets, sem, se quer, ainda saberem muito bem pra quê esses aparelhos servem. O modo de pensar e de agir dessa geração foi totalmente influenciado pela tecnologia e o fácil acesso à informação. Esses jovens aprenderam a ter voz ativa em casa e repetem esse comportamento na escola e no trabalho. Este artigo está embasado em uma pesquisa de metodologia quantitativa, realizada com 72 alunos de universidades públicas e privadas no Brasil e em Portugal, e o que se pretende é 1 lançar uma luz sobre essa nova realidade, de forma que os currículos, os sistemas das universidades e os modelos de regulação e supervisão oficiais possam contemplar as expectativas, interesses e necessidades apontados por esses jovens. Palavras-chave: novas gerações, ensino superior, regulação, supervisão. ABSTRACT We are living in an era in which technological advances are constant in our daily lives. For young people born after 1990, also known as Generation Z or Digital Generation, this reality is quite natural. It is not uncommon to find children 2 years thumbing smartphones and tablets, no matter if they don’t know what are those devices used for. The way of thinking and acting of that generation was totally influenced by technology and easy access to information. These young people have learned to have a voice at home and repeat this behavior in school and at work. This article is grounded in a quantitative research methodology, conducted with 72 students from public and private universities in Brazil and Portugal, and the aim is to highlight this new reality so that curricula, universities systems and models of regulation and supervision officers can contemplate the expectations, needs and interests indicated by these young people. Key words: new generations, higher education, regulation, supervising 2 1. INTRODUÇÃO Antes de analisarmos o atual sistema de ensino superior em relação às necessidades da nova geração, faz-se necessário distinguir essa população, não só quanto a denominação em si, como também sobre seus hábitos e modelos relacionais. Regnier (2011) registra que as gerações que se traduz numa sociedade se definem e se diferenciam a partir de um conjunto de valores que emergem das condições históricas específicas (eventos econômicos, demográficos, sociais e tecnológicos), e que se tornam dominantes ou emblemáticos em uma determinada época. Sendo assim, os jovens são os portadores mais frequentes destes valores por serem expostos a eles, e esses valores tendem a estruturar suas condutas e formas de observar o mundo ao longo de suas vidas. Para melhor entender essa situação é apresentado o Quadro 1, em que se demonstra alguns conceitos de gerações passadas num estudo comparativo entre Brasil e Estados Unidos (REGNIER, 2011). Quadro 1: Nomenclaturas das gerações na sociedade Fonte: Regnier (2011) 3 O Quadro 1 destaca que há características e valores que merecem ser analisados e que podem ajudar a entender melhor o que se passa na cabeça desses jovens, que muitas vezes ocupam cargos importantes em empresas, assim como maior envolvimento na vida acadêmica, seja como aluno ou como professor. GERAÇÕES, SUAS DENOMINAÇÕES E PRINCIPAIS CARACTERISTICAS GERAÇÃO CARACTERISTICAS/VALORES (BRASIL) TRADICIONALISTAS familia, lealdade, moralidade, liderança autoritária, estilo conservador, pensamento lógico, comprometimento BABY BOOMER vaidade, valorização do status e ascensão profissionai (workaholics), condicionados ao trabalho em equipe, vida toda em uma empresa GERAÇÃO X também denominada geração "cola cola", educados durante a ditadura, emprego duradouro, facilidade com a tecnologia, uso relativo da internet, flexibilidade, são autoconfiantes ( mas céticos -ver para crer--), mulheres no mercado GERAÇÃO Y educados no processo de democratização, uso intenso da internet, participação em foruns e blogs, uso amplo da tecnologia na comunicação, otimismo, aceitam a diversidade, dominam as tecnologias, são "multifuncionais", ficam em média 15 anos numa empresa. GERAÇÃO Z também conhecida como "geração digital", ligados a alta tecnologia, relações predominantemente virtuais, problemas de interação social, acreditam num mundo de igualdade, banda larga e celular com internet são as preferências, mundo sem fronteiras, menos de 5 anos numa empresa. Agosto/2013 - Elaborado pelo autor a partir da palestra do Prof. Ubiratan Zakaib do Nascimento. Disponível em: www.slideshare.net/birazn/conflito-de-geraes-no-ensino-como-aproximarse-do-aluno-usando-a-tecnologia Quadro 2: Gerações, suas denominações e principais características Fonte: Regnier (2011) No Quadro 2 destaque para a Geração Z, que é a geração presente nos dias de hoje, sendo caracterizada pela autora como envolvida com alta tecnologia e predomínio de grande interação social por meio de Internet e redes sociais. O quadro 3 apresenta alguns elementos específicos de quatro gerações antecessoras na geração Z. É possível notar ainda como estão identificadas as principais características das gerações (REGNIER, 2011). 4 Quadro 3: Evolução das gerações da Internet Fonte: Regnier (2011) Na geração mais antiga, intitulada pela autora de Seniores, verifica-se uma valorização do trabalho, sendo ele uma obrigação, e os aspectos de lealdade e de autoridade estando muito presentes. Na segunda geração, Baby Boomers, o destaque é a recompensa voltada ao aspecto monetário e a eficiência atrelada à gestão por processos. Na geração X o olhar volta-se a liberdade e ao tempo livre para o funcionário, de modo que ele possa estar mais presente com a família e consiga assim desenvolver melhor sua carreira. Por fim, na geração Y, registra-se o grande interesse dos funcionários na recompensa rápida e imediata, e que a carreira na empresa acompanhe as novas oportunidades do futuro. 5 Para Malafaia (2011), o contexto socioeconômico, até poucas décadas, era razoavelmente estável. Poucas mudanças aconteciam e, ainda assim, a velocidade com que aconteciam, proporcionavam tempo para que as organizações se adaptassem. Hoje, convive-se com um cenário em que tudo se modifica rapidamente, fazendo com que as organizações tenham que se antecipar a essas mudanças. A geração Z está chegando ao mercado de trabalho, dividindo, muitas vezes, o tempo de estudo e o trabalho. Segundo Queiroz et al. (2008, p. 2) o mundo jovem apresenta um amplo leque de diversidade diante das condições materiais e simbólicas vividas, as diferentes formas de agrupamento e organização, as classes sociais, as diferenças étnicas e religiosas e as peculiaridades regionais e de gênero. Essa digressão aponta a necessidade de os estudos afastarem-se dos modelos normativos históricos e abstratos e enfatizar os processos de investigação que buscam perquirir os principais elementos constituintes do ser jovem nas sociedades contemporâneas. Relativamente ao mundo do trabalho, Queiroz et al. (2008, p. 2) diz um dos aspectos fundamentais do trabalho é a sua importância para a própria subsistência do jovem e da sua família. Como filhos de trabalhadores, que sobrevivem do produto de seu trabalho, esses jovens, desde muito cedo, reconhecem a importância de sua contribuição para a renda familiar e, por isso, buscam exercer a solidariedade com seus pais, auxiliando-os com os seus gastos individuais, ou como podem, nas despesas familiares. A coesão do grupo familiar relacionase, em certa medida, a essa reciprocidade, na forma de ajuda mútua exercida entre os seus membros. Outro aspecto que merece destaque diz respeito à ausência de trabalho na vida do jovem trabalhador. A situação de desemprego é percebida como uma forma de impedimento de participação social efetiva e assume um sentido de exclusão, gerando uma condição de inadequação permanente. (QUEIROZ et al., 2008, p. 4). Quanto ao mundo da escola, os autores também afirmam que a escolarização é, em geral, percebida pelo jovem como um meio de alcançar melhores postos de trabalho e, em consequência, melhores condições de vida. 6 2. NECESSIDADES E MOTIVAÇOES DO SER HUMANO Abraham Maslow foi um psicólogo que apresentou, em 1954, o que foi chamado de “Hierarquia das Necessidades”, onde procurou descrever quais eram as necessidades primárias e secundárias das pessoas, conforme figura abaixo (CHIAVENATO, 1997): Figura 1: Hierarquia das necessidade de Maslow Fonte: adaptado pelos autores Queiroz et al. (2008) diz que a juventude não é um conceito e uma realidade empírica homogênea, portanto expressa uma diversidade que supõe a superação de conceitos estereotipados, até mesmo no meio acadêmico – como jovem alienado, apolítico, conservador, individualista – ou o oposto – potencializador de mudança, responsável pelas transformações radicais da sociedade, dentre outros. Quanto as motivações, segundo Maximiano (2009), existem duas definições: Intrínseca: que se originam nas próprias pessoas. São os impulsos interiores; e Extrínseca: que se originam do ambiente onde as pessoas vivem. Ainda segundo Maximiano (2009), não se pode deixar de lado o que se denominou Teoria da Expectativa, que explica como determinados valores das pessoas, combinados com algum tipo de estímulo, podem produzir forças motivacionais. 7 Serrano (2011) lembra que […] Maslow cita o comportamento motivacional, que é explicado pelas necessidades humanas. Entende-se que a motivação é o resultado dos estímulos que agem com força sobre os indivíduos, levando-os a ação. Para que haja ação ou reação, é preciso que um estímulo seja implementado, seja decorrente de coisa externa ou proveniente do próprio organismo. Esta teoria nos dá ideia de um ciclo, o Ciclo Motivacional. Quando o “Ciclo Motivacional” não se realiza, sobrevém a frustração do indivíduo, que poderá assumir várias atitudes: Comportamento ilógico ou sem normalidade; Agressividade por não poder dar vazão à insatisfação contida; Nervosismo, insônia, distúrbios circulatórios/digestivos; Falta de interesse pelas tarefas ou objetivos; Passividade, moral baixo, má vontade; Pessimismo, resistência às modificações, insegurança, não colaboração, etc. 3. EDUCAÇÃO SUPERIOR NA ERA DIGITAL Falar de era digital remete as evoluções tecnológicas apresentadas entre os séculos 19 e 20, em que se aborda o conceito de “inovação fechada”, em que as tecnologias das empresas eram desenvolvidas de modo restrito em seus centros de P&D. (CHESBROUGH, 2006; CHESBROUGH; APPLEYARD, 2007). O gerenciamento fechado da inovação se estendeu até meados do século 20, principalmente pela ausência de envolvimento das universidades e governos em pesquisas que tivessem aplicações comerciais ou industriais. Nessa época, os projetos consistiam em iniciativas realizadas internamente e fechadas para o desenvolvimento de novos produtos e processos, contudo, para serem competitivas no mercado, precisavam buscar alternativas para manter sua base de pesquisadores por muitos anos, além de que a propriedade intelectual teria que ser muito bem protegida, evitando assim a espionagem industrial. (CHESBROUGH, 2006; CHESBROUGH; APPLEYARD, 2007; CHIARONI; CHIESA; FRATTINI, 2010.) 8 Este modelo ultrapassado e míope travou o avanço tecnológico em boa parte das empresas do mundo ocidental no século 20, e ainda hoje pode ser encontrado em serviços e produtos que chegam ao consumidor final. Sobre o conceito de Inovação Aberta ou de Open Innovation, proposto em 2003 por Henry Chesbrough, ele traduz um novo paradigma para a gestão da inovação no século 21. Num contexto marcado pelo jogo de forças competitivas e pela mudança, o conhecimento transformou-se no principal ativo estratégico das organizações, fazendo com que empresas se “abram” para a colaboração com outros atores, traduzindo uma lógica de cooperação de sinergias e de exploração de novos conceitos que condicionam o processo de inovação continuada. Inovar é mais do que apenas investir em pesquisa científica; é pensar em novos modelos de negócio, manter cooperação com os clientes e consumidores e atrair a participação de fontes externas de conhecimento (CHESBROUGH, 2006). A partir da observação de práticas realizadas por grandes e pequenas empresas desde a década de 60, Chesbrough definiu os fundamentos do conceito, que oferece alternativas para as empresas enfrentarem um eterno desafio: como inovar de forma rápida e eficaz? (CHESBROUGH, 2006; CHESBROUGH; APPLEYARD, 2007). O modelo de inovação aberta tem sido promovido, nestes termos, como uma receita para o sucesso das organizações e universidades na sociedade do conhecimento, e o sucesso desse modelo esta na sua correta aplicação como fator-chave para que as sejam capazes de compreender em que situações o modelo de inovação aberta constitui, em contraponto as abordagens tradicionais, "fechadas", a abordagem mais adequada para a criação de valor. O mercado atual caracterizado por mudanças aceleradas, tanto nas tecnologias como nas formas organizacionais, e a capacidade de gerar e absorver inovações vem sendo considerada crucial para que o gestor possa tornar sua empresa competitiva. Entretanto, para acompanhar as rápidas mudanças em curso, torna-se de extrema relevância a aquisição de novas capacitações e conhecimentos, o que significa a adoção de ações de inovação aberta que possam intensificar a capacidade de indivíduos, empresas e países de aprender e transformar esse aprendizado em fator de competitividade para os mesmos, o que 9 compreende uma fase denominada de Economia Baseada no Conhecimento ou Baseada no Aprendizado (FREEMAN, 1995). Neste sentido, fatores cruciais do conhecimento, implícitos nas práticas de pesquisa, desenvolvimento e produção, não são facilmente transferíveis, pois estão enraizados em pessoas, o chamado conhecimento tácito, que também podem ser encontrados em organizações e locais específicos. Somente os que detêm esse tipo de conhecimento podem ser capazes de se adaptar às velozes mudanças que ocorrem nos mercados e nas tecnologias e gerar inovações em produtos, processos e formas organizacionais (DOSI, 1992; FREEMAN, 1991; 1995; CHESBROUGH, 2006). Neste ponto que a prática de inovação aberta pode contribuir no compartilhamento de informações e conhecimentos de difícil transferência, uma vez que a prática colaborativa na troca entre empresas de um mesmo setor, ou de diferentes, concorrentes ou não, contribui na geração de ideias e na inovação constante e permanente de produtos, serviços e processos de todos os envolvidos, remetendo a uma perspectiva de “desenvolvimento sistêmico”, em que todo o setor e empresas que dele fazem parte buscam trabalhar em conjunto para se desenvolverem, sendo o diferencial competitivo de cada empresa será identificado no “gap”, ou nicho de mercado, em cada uma deve conseguir se posicionar frente a concorrência. (DAVID, 1998; CHESBROUGH, 2006). No contexto atual de intensa competição, que o conhecimento é a base fundamental e o aprendizado interativo é a melhor forma para indivíduos, empresas e países estarem aptos a enfrentar as mudanças em curso, é preciso que as empresas intensifiquem a geração de inovações e capacitem seus colaboradores para adotarem práticas voltadas a inovação aberta em seu ambiente de atuação. (OCDE, 2013; HARISON; KOSKI, 2010; KIRSCHBAUM, 2010). Em 2011, a empresa Quest – Inteligência de Mercado elaborou um estudo com base na cidade de São Paulo, no qual estão identificadas as principais características de pessoas das gerações X, Y, Z. Ao analisarmos o material elaborado, depara-se com as seguintes afirmações relativas à geração Z: 10 “[…] a internet, o celular, as redes sociais, os blogs sempre existiram. O mundo é conectado. Eles são pessoas sem barreiras geográficas.” “[…] embora tenha menos de 20 anos, 1/3 já trabalha e tem rendimento mensal de R$820,00 em média.” “[…] é a que mais produz e compartilha conteúdo na internet. O grau de interação social da geração Y se aproxima da geração Z.” “[…] é muito parecida com a geração Y, mas faz quase tudo com maior intensidade.” “[…] praticamente todos os internauta da geração Z estão em redes sociais.” “[…] usa pesadamente o celular para entretenimento e para interação social.” “[…] lê menos livros, jornais e revistas. Talvez seja consequência da rapidez com que a informação chega pela internet e da impaciência de ler. Interesse em pequenas leituras, ao invés de aprofundamento extenso.” Como afirma Prensky (2001), os alunos mudaram radicalmente. Os alunos de hoje não são mais as pessoas para as quais o nossos sistema de educação foi desenhado. Os jovens das Gerações Y e Z cresceram na Era Digital e, por isso, têm maneiras diferentes de pensar, comunicar e aprender. (OBLINGER; OBLINGER, 2005; PRENSKY, 2006; TAPSCOTT, 2008). Muitos dos atuais professores do ensino superior no Brasil e em Portugal têm entre 40 e 49 anos1. Já os alunos que ingressam no ensino superior em ambos os países têm entre 18 e 22 anos2. Como pertencem à gerações diferentes, observa-se que os estilos de ensino e de aprendizagem muitas vezes são conflitantes, o que exige uma constante atualização na formação e no trabalho do professor. É importante ressaltar, porém, que essas diferenças entre as gerações são importantes para a construção de um ensino de qualidade, onde o professor ao elaborar seu método de ensino deverá considerar o perfil de cada aluno. 1 2 www.inep.gov.br - acessado em 29/08/2013 www.pordata.pt - acessado em 29/08/2013 11 Conforme pesquisa realizada pela FGV, divulgada em 2009, 40,3% dos estudantes deixaram a escola por falta de interesse. Em 2006, quase todas as escolas nos EUA tinham computadores ligados à internet. Mas não se observava uma melhora no desempenho dos alunos, porque a metodologia de ensino não havia mudado (TAPSCOTT, 2008). O sistema de ensino atual foi projetado para que o aluno simplesmente absorva sozinho o que aprende com o professor, ou seja, apenas ensina ao aluno o que aprender. É preciso preparar o professor para utilizar as tecnologias disponíveis com o intuito de ensinar ao aluno não só o que aprender, mas sim como aprender. É importante que o sistema educacional se concentre no aluno. O professor deve interagir mais com seus estudantes, auxiliando-os a buscar e descobrir as coisas sozinhas. Os alunos, por sua vez, devem interpretar e absorver os novos aprendizados, aplicando-os em seu dia-adia. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA Baseado na pesquisa efetuada por Mainardes (2010), aplicamos, de forma aleatória, o mesmo modelo de perguntas, com algumas adaptações, em alunos do primeiro e segundo ano do curso de administração e/ou gestão de IES no Brasil e em Portugal. Foram 72 respondentes, sendo 48 alunos de Portugal e 24 do Brasil. Pode-se observar também que 45 respondentes frequentam o curso presencial e 27 a modalidade à distância. Verificou-se que, a maior parte do público entrevistado, é do sexo feminino, sendo representado por 65% do total de respondentes. Já o público masculino foi de 35%. Ainda de acordo com a pesquisa, identificou-se que 90% dos entrevistados tem idade entre 18 e 24 anos, representantes da Geração Y. Os 10% restantes referem-se a um único respondente, que tem idade até 40 anos, sendo representante da Geração X. 12 Que a universidade propociasse eventos relacionados ao meu curso 5,6% Que após o meu curso eu fosse valorizado no mercado de trabalho1,4% 1,4% Que a universidade proporcionasse um ambiente agradável e seguro 4,2% 4,2% Que a universidade me ensinasse a gerir meu tempo 8,5% 18,6% Minha realização pessoal 1,4% 2,8% Que fosse possível eu trabalhar coomo voluntário em causas sociais e locais 9,7% 25,0% Que a universidade facilitasse os relacionamentos com outras universidades (no país e no experior) 12,7% Que eu vesse novas experiências de vida 2,8% 5,6% Que o curso e a universidade permi ssem minha liberdade de pensar e de expressar 4,2% 8,3% Que a universidade vesse fortes ligações com o mercado de trabalho em geral 1,4% 2,8% Que a universidade contasse com uma estrutura tecnológica atualizada 1,4% 2,8% Que os processos burocrá cos na universidade fossem claros e bem definidos 4,2% 2,8% Que a universidade fosse ágil e adáptável às necessidades dos alunos 2,8% 4,2% Que a aulas fossem mo vantes 2,8% 9,7% Realizar inves gações cien ficas 8,3% 16,7% Professores sempre disponíveis aos alunos 4,2% 4,2% Uma boa coordenação entre os professores do meu curso 1,4% Que a universidade prestasse bons serviços (bibliotecas, serviços acadêmicos, residências, alimentação, etc) 1,4% 4,2% Que a universidade oferecesse uma boa infra-estrutura para os alunos (tanto no curso como no geral) 1,4% 4,2% Que a universidade apoiasse financeiramente os alunos 12,5% 1,3% Disciplinas atualizadas, interessantes e ligadas à realidade social e da profissão 6,9% Ter mais aulas prá cas do que teóricas 11,1% 13,9% Que o curso me proporcionasse um bom emprego após a sua conclusão 4,2% 2,8% Fazer novos amigos e ter uma vida acadêmica animada 9,8% 12,5% Que o curso vesse um alto grau de exigência 8,4% 8,5% 0% Discordo Não concordo, nem discordo 10% 91,6% 94,4% 88,9% 71,5% 93,0% 61,1% 83,1% 88,8% 84,7% 93,1% 91,7% 87,5% 90,3% 84,7% 69,5% 88,9% 94,5% 91,7% 91,6% 68,1% 90,2% 72,3% 90,3% 75,0% 81,7% 20% Concordo 2,8% 2,8% 2,7% 1,4% 2,8% 4,2% 4,2% 2,8% 2,8% 2,7% 4,1% 5,5% 2,7% 2,8% 5,5% 2,7% 4,1% 2,7% 2,8% 30% 40% 50% 60% 18,1% 2,9% 2,7% 2,7% 2,7% 1,4% 70% 80% 90% 100% Não sabe responder Figura 2: Diagnóstico educacional Fonte: dados da pesquisa Para este artigo, selecionamos uma série das perguntas do questionário (bloco 6), que de certa maneira podem demonstrar a expectativa dessa amostra com relação ao curso e à universidade. Embora a amostra de respondentes seja pequena, analisando os resultados apresentados no quadro abaixo, é possível observar que existe uma correlação entre a realidade e a teoria. Dentre as respostas apontadas, verifica-se: 93% dos entrevistados veem o ingresso no ensino superior como uma realização pessoal; 84,7% gostariam que o curso e a universidade permitissem a liberdade de pensar e de expressar dos alunos; 93,1% entendem que a universidade precisa ter fortes ligações com o mercado de trabalho em geral; 91,7% dos respondentes disseram que a universidade precisa contar com uma estrutura tecnológica atualizada; 90,3% concordam que a universidade deve ser ágil e adaptável às necessidades dos alunos; 84,7% disseram que as aulas devem ser instigantes; 88,9% entendem que os professores devem estar sempre disponíveis aos alunos; e 13 90,2% consideram importante que as disciplinas sejam atualizadas, interessantes e ligadas à realidade social e da profissão. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Faz-se necessário enfatizar que o objetivo deste artigo não é o de questionar as teorias dos grandes pensadores, muito menos esgotar a discussão sobre este assunto tão importante que é a educação. Como afirma Panarelli (2012, p.22) “[…] propõe Freire (2010) que a universidade tem a função de construir a criticidade, o conhecimento e de levar o educando a realidade transformadora e não a obediência cega e ao equacionamento e ao encontro de uma solução ou investigações e transformação da realidade”. Ainda para Panarelli (2012, p22.) “[…] esta realidade revela que o docente e o educando, a cada dia, tornam-se parceiros no processo do conhecimento”. Masetto (2003) lembra que o docente leva o educando a interagir de forma coletiva com outros especialistas, abrindo espaço para futuras reflexões e diálogos a respeito de resoluções sociais. Não há dúvidas que a Geração Digital desafia o método de ensino tradicional. A escola não é mais a única fonte de aprendizado dos estudantes. É preciso repensar na forma de ensinar esses jovens, pois assim como Oblinger e Oblinger (2005) apontam se não houver oportunidade de interação na sala de aula, seja ela física ou on-line, o aluno não irá à aula. Os recursos tecnológicos ajudam a tornar a sala de aula mais dinâmica e atraente para os jovens. Jogos, simulações, estudos de caso são exemplos de aprendizagem participativa e que desperta o interesse da nova geração. Reduzir as aulas expositivas e estimular a busca pelas respostas também são métodos bastante eficazes para esse novo público. Pode-se também publicar na internet versões audíveis do 14 material da aula, para que os alunos possam escutar em seus aparelhos de música, mesmo enquanto executam outra atividade. Neste sentido, conclui-se que é fundamental que o ensino, de forma geral, seja readequado às necessidades da nova geração, e para iniciar este processo, alguns questionamentos são fundamentais, a exemplo das seguintes perguntas formuladas por Carlson (2005); Oblinger e Hawkins (2005); Skiba (2005); e Sweeney (2005): Você conhece seus alunos e suas preferências? Depois de saber as suas preferências, como você vai se adaptar? equilíbrio entre os mundos físico (sala de aula) e virtuais de aprendizagem é apropriado para os seus alunos? Existem obras de renovação do seu espaço físico, que estejam direcionadas para os seus alunos? Há equilíbrio entre o corpo docente e as perspectivas dos estudantes? Como você estimula seus alunos e quais as tecnologias serão incorporadas aos seus métodos de ensino? Estas perguntas devem ser indagadas com o propósito de reflexão do atual panorama educacional e buscar novas formas de gestão e alternativas pedagógicas para a educação de crianças e jovens na era digital. 6. BIBLIOGRAFIA Carlson, S. (2005). The net generation goes to college. Chronicle of Higher Education, 52(7), A34. [On-line] Disponível em: http://chronicle.com/free/v52/i07/07a03401.htm. Acessado em 29/08/2013. Chesbrough, H.W. (2006). Open Business Models: How to thrive in the new innovation landscape. Harvard Business School Press. Chesbrough, H.W. & Appleyard, M. M. (2007). Open Innovation and Strategy. California Management Review, 50. 15 Chesbrough, H.W. & Schwartz, K. (2007) Innovating business models with co-development partnerships. Research Technology Management, v. 50, n. 1, p. 55-59. Chiavenato, I. (1997). Introdução à teoria geral da administração. 5. Ed. São Paulo: Makron Books, 920p. Chiaroni, D.; Chiesa, V.; Frattini, F. (2010). 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