ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO... 263 ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO DE COMBUSTÍVEL E NA GERAÇÃO DE POLUENTES Gustavo Siqueira Alvarenga Henry Pizarro Viveros Antonio Carlos Canale Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística, EESC-USP, São Carlos, SP, Brasil Resumo A praça de pedágio é uma intervenção instalada na rodovia que força uma redução da velocidade de curso dos veículos. Essa alteração no perfil de velocidade aumenta o tempo de viagem e gera um consumo extra de combustível e a produção excedente de poluentes provenientes da queima desse combustível. Este trabalho analisou caminhões leves, médios e pesados que cruzam a praça de pedágio Jacareí, localizada na Rodovia Presidente Dutra, km 165. Mediu-se quanto tempo um veículo leva para efetuar o pagamento da tarifa. Foram feitas simulações do consumo de combustível dos caminhões cruzando a praça de pedágio. Foi utilizado um modelo matemático construído na plataforma Matlab Simulink. Baseou-se em testes em pista utilizando o Vbox para aquisição dos dados de velocidade e espaço. Foram avaliados os ganhos em consumo de combustível e tempo para os caminhões que optam por efetuar a cobrança eletrônica no pedágio. Concluiu-se que a cobrança realizada com o veículo em movimento ameniza os impactos inerentes. Um caminhão modelo CAT 05, que faz o percurso São Paulo–Rio–São Paulo quinze vezes ao mês, gasta 2 horas e consome 30,2 litros de diesel a menos em consequência da utilização do dispositivo eletrônico de pagamento do pedágio. Foi feita uma previsão anual do gasto de combustível e emissão de poluentes em função da operação da praça de pedágio em estudo. Avaliou-se qual a contribuição do pedágio na produção de poluição. Palavras-chave: pedágio, sistema eletrônico de pagamento, combustível, poluentes, AVI. Introdução O transporte rodoviário tem grande importância na matriz de transporte brasileira. Cerca de 60% do transporte de carga é realizado por meio de rodovias (Geipot, 2009). Segundo dados do BEN (Brasil, 2009), o modal rodoviário foi responsável por 27% do consumo final de energia no Brasil em 2004 e por 92% do consumo final de energia no setor de transporte. O óleo diesel é o principal responsável, com 51% do consumo total. O pedágio rodoviário é uma intervenção física instalada na rodovia que restringe o direito de passagem mediante pagamento de tributo ao poder público ou à concessionária privada. Segundo dados da ABCR, existem 331 pontos de cobrança de pedágio, e, com as recentes concessões federais e do Rodoanel em São Paulo, esse número deverá chegar perto de 380 (Neto, 2007). Do ponto de vista energético, o pedágio pode ser considerado um obstáculo, pois provoca alteração no perfil de velocidade de curso dos veículos. Primeiramente, ocorre a absorção da energia cinética do movimento, transformandoa em calor dissipado nos sistemas de freios, e depois temse a transformação de energia química, proveniente da queima do combustível, novamente em energia cinética, necessária para recolocar o veículo na velocidade de curso. Nessa perspectiva, o pedágio pode ser comparado a uma lombada, um semáforo ou até uma rodovia mal conservada, que exige que o motorista reduza a velocidade do veículo para enfrentar os obstáculos. (Freitas, 2003; Bartholomeu, 2008) A utilização de sistemas de transportes inteligentes (ITS), na identificação automática dos veículos (AVI), tem se mostrado um interessante meio de pagamento da tarifa de pedágio. No Brasil, o uso dessa tecnologia, aplicada na forma de cobrança eletrônica do pedágio (ETC), permite que o usuário realize o pagamento da tarifa em movimento, a uma velocidade de 40 km/h, não sendo necessária a parada para que a cobrança seja efetuada. Em alguns outros países, essa tecnologia tem sido empregada na forma de “Passagem Livre”, ou, no inglês, “Open Road Tolling – ORT”, na qual a identificação é realizada com o veículo na velocidade normal de tráfego. De acordo com Klodzinski et al. (2007), o próximo passo evolutivo a ser enfrentado na integração de sistemas ITS e na cobrança de pedágio é a utilização do conceito de ORT. Minerva, 6(3): 263-271 264 ALVARENGA, VIVEROS & CANALE Sabe-se que a não alteração do perfil de velocidade, ou a passagem livre pelo pedágio, gera ganhos consideráveis para toda a cadeia de envolvidos nesse sistema. Os usuários são beneficiados diretamente pela redução do tempo de espera para pagamento da tarifa e pela redução do consumo de combustível (Al_Deek et al.,1996; Li et al., 1999). As concessionárias são beneficiadas pela redução dos custos operacionais e administrativos envolvidos na manutenção da praça (Dando, 1997). Além disso, os índices de acidentes na região da praça de pedágio e o número de emissões de poluentes provenientes da queima do combustível também são menores (Klodzinski et al., 2007; Bartin et al., 2006). Do ponto de vista do usuário, essa pesquisa quantifica, de maneira teórica e experimental, quais os ganhos inerentes à utilização do sistema eletrônico de pagamento do pedágio, no que diz respeito ao tempo de viagem e ao consumo de combustível. Já do ponto de vista ambiental, avaliase o impacto da operação da praça de pedágio Jacareí no ano de 2008, no que diz respeito ao consumo de combustível e à geração de dióxido de carbono. Metodologia A primeira etapa do estudo consta do levantamento de dados estatísticos de “tempo de cobrança” e de “tempo na praça” e dos testes em pista com caminhões cruzando a praça de pedágio. A segunda etapa trata da manipulação desses dados em laboratório, de simulações computacionais a fim de avaliar o consumo de combustível dos caminhões, da análise de viabilidade econômica da utilização da cobrança eletrônica do pedágio e da avaliação do impacto ambiental da instalação da praça de pedágio no que diz respeito à emissão de CO2. Praça de pedágio A escolha da praça de pedágio de Jacareí se deu em função de sua localização e importância no cenário do transporte rodoviário brasileiro. A Rodovia Presidente Dutra cruza uma das regiões mais ricas do país e liga duas das principais metrópoles: Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo dados da ANTT, o fluxo na rodovia no ano de 2006 foi de 58 milhões de veículos. Entende-se por “praça de pedágio”, nesta pesquisa, toda região de interferência no fluxo dos veículos causada pela instalação das cabines de cobrança. Essa região foi definida pelos pontos de início e fim do alargamento da pista, como pode ser visto na foto aérea do Pedágio Jacareí mostrada na Figura 1. Considerou-se que a velocidade dos veículos fora dos limites da praça de pedágio é a velocidade normal de curso. Trabalho estatístico A coleta de dados foi realizada nos dias 14, 15, 16 e 17 de abril de 2008, das 8 h até as 17 h. Foi adquirido um total de 1028 amostras. Acredita-se que o período escolhido representou bem o fluxo na região no que diz respeito à maior parte dos dias do ano. Não houve qualquer incidente, como chuvas, acidentes de trânsito, eventos, etc., que descaracterizasse o fluxo na região. As amostras coletadas foram dividas em dois grupos. O primeiro, denominado “TC – Tempo de Cobrança”, corresponde ao tempo médio necessário para automóveis e caminhões efetuar o pagamento na cabine manual de cobrança. O segundo, denominado “TP – Tempo na Praça”, corresponde ao tempo necessário para os veículos cruzarem a região da praça de pedágio definida no estudo. Nesse grupo, foram coletadas amostras para os veículos cruzando a praça, ora passando pela cabine manual, ora pela cabine eletrônica, onde a cobrança é feita pela identificação automática do veículo – AVI. O tempo de cobrança, “TC”, foi calculado pela média simples. Comparou-se esse valor com os valores sugeridos por Polus & Reshetnik (1997) para a capacidade de cabines de pedágio. Verificou-se também o efeito da classe veicular no atendimento à cabine, como mostrado por Araújo (2001). Figura 1 Praça de pedágio de Jacareí. Minerva, 6(3): 263-271 ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO... A diferença de tempo na praça, “TP”, entre a cobrança manual e a eletrônica foi feita aplicando o teste de hipóteses. No caso, buscou-se testar (rejeitar) a hipótese nula de que o tempo médio de passagem na praça é igual nos dois casos. A hipótese alternativa testada foi a de que os valores médios observados para aqueles que utilizam a cabine manual é superior à daqueles que utilizam a cabine eletrônica. Os resultados são mostrados nas Tabelas 1, 2 e 3. O índice “95% CI” indica o nível de confiança com que os testes foram aplicados, e o valor resultante corresponde ao intervalo que contém o conjunto das médias para tal nível de confiança. Os resultados nos mostram que, tanto para caminhões quanto para automóveis, a cobrança, quando efetuada pelo sistema eletrônico, reduz o tempo necessário para cruzar a praça de pedágio. Nesse estudo, a redução foi de 61% para caminhões e 60% para automóveis. Testes em pista Os testes em pista são fontes de dados necessárias para compreender como o veículo cruza a praça de pedágio. O procedimento consiste no monitoramento do perfil de velocidade do caminhão durante o percurso do pagamento da tarifa. Para isso foi utilizado um GPS, que forneceu vetores de posição e velocidade do caminhão. A precisão de posicionamento do equipamento é de 2 m e a taxa de aquisição de dados foi de 20 Hz. Foram monitorados três caminhões de diferentes categorias. Cada um deles cruzou a praça de pedágio duas vezes, ora passando pela cabine manual, ora pela eletrônica. 265 O motorista e a carga do caminhão foram mantidos constantes. A Figura 2 mostra o equipamento empregado para aquisição dos dados e dois dos caminhões utilizados no teste. A Tabela 4 nos fornece informações dos caminhões utilizados nos testes. A partir dos vetores de velocidade e posição foi construído um gráfico com três curvas sobrepostas a fim de caracterizar os diferentes tipos de perfil de velocidade dos caminhões cruzando a praça de pedágio. O “Perfil Médio – Cabine Manual” mostra o caminhão partindo da velocidade de curso de 80 km/h e baixando até a zero km/h, quando efetua o pagamento da tarifa nas cabines de cobrança. O “Perfil Médio – Cabine Eletrônica” também mostra o caminhão partindo da velocidade de 80 km/h, porém ocorre redução para velocidade de 40 km/h, quando nesse momento é realizada a cobrança através da identificação eletrônica com o veiculo em movimento. Por fim, o “Perfil – Passagem Livre” nos mostra uma linha reta sem alteração da velocidade de curso. Essa condição pode ser encarada como ausência do pedágio, ou como cobrança no sistema ORT, prática já realizada em algumas praças de pedágio no mundo. Os perfis médios foram construídos considerando que a velocidade inicial e a final, nos três casos, é a mesma. Além disso, a distância percorrida nos três casos também é igual, 2037 m. Isso assegura que a diferença entre o consumo de combustível para cada tipo de cobrança fica restrita a maior ou menor redução de velocidade durante o percurso da praça de pedágio, ou seja, ao tipo de cobrança efetuado. Tabela 1 Tempo de cobrança. Tempo na cabine TC_automóveis (s)1 TC_caminhões (s)2 1 2 Média (s) 12,8 19,0 DesvPad 6,2 8,5 TC_automóveis: tempo de cobrança de automóveis. TC_caminhões: tempo de cobrança de caminhões. Tabela 2 Tempo na praça – caminhões. Tempo na praça TP_manual (s)1 TP_avi (s)2 3 ΔTP_caminhões (s) Média (s) 107,8 41,5 66,3 DesvPad 26,3 4,6 27,0 95% CI – – (61,0 ; 71,5) 1 TP_manual: tempo necessário para cruzar a praça de pedágio passando pela cabine manual. TP_avi: tempo necessário para cruzar a praça de pedágio passando pela cabine eletrônica. 3 ΔTP_caminhões: diferença de tempo para os diferentes tipos de cobrança. 2 Minerva, 6(3): 263-271 266 ALVARENGA, VIVEROS & CANALE Tabela 3 Tempo na praça – automóveis. Tempo na praça TP_manual (s)1 TP_avi (s)2 ΔTP_automóveis (s)3 Média (s) 88,4 35,7 52,6 DesvPad 26,7 5,0 26,9 95% CI – – (47,3 ; 58,0) 1 TP_manual: tempo necessário para cruzar a praça de pedágio passando pela cabine manual. TP_avi: tempo necessário para cruzar a praça de pedágio passando pela cabine eletrônica. 3 ΔTP_automóveis: diferença de tempo para os diferentes tipos de cobrança. 2 Figura 2 Caminhões e GPS utilizados nos testes em pista. Tabela 4 Informações dos caminhões utilizados nos testes. Modelo Mercedes 1721 Mercedes 2035 Volvo FH Categoria Cat 03 Cat 05 Cat 09 Carga transportada (ton) 23,0 41,0 74,0 90 80 Velocidade (km/h) 70 60 50 40 30 Cabine manual Cabine eletrônica Passagem livre 20 10 0 Figura 3 0 500 1000 1500 Distância (m) 2500 Distância × velocidade dos caminhões utilizados nos testes. Simulações computacionais O modelo computacional, construído na plataforma Matlab/Simulink, foi desenvolvido no Laboratório Computacional de Veículos do Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística Minerva, 6(3): 263-271 2000 da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (EESC-USP). A descrição das equações do movimento, das forças atuantes no veículo e da validação do modelo pode ser encontrada em Navarro (1997) e Diniz (2009). ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO... Foram feitas simulações para caminhões de quatro categorias. As Tabelas 5 a 8 mostram os principais dados utilizados no que diz respeito ao consumo de combustível dos caminhões. As informações técnicas foram obtidas com os fabricantes, e os limites de peso bruto total está em acordo com norma brasileira. As simulações foram feitas para cada uma das categorias de caminhões descritas acima reproduzindo as três condições obtidas nos testes em pista: 1. Caminhão passando pela cabine manual de cobrança, reduzindo a velocidade até zero. Neste caso, foi computado o gasto do consumo em marcha lenta do motor, referente ao tempo médio de espera para efetuar o pagamento, TC = 19,0 s. 2. Caminhão passando pela cabine eletrônica de pagamento reduzindo a velocidade até 40 km/h. 3. Caminhão fazendo o percurso simulando a cobrança no caso da passagem livre, na velocidade máxima permitida da rodovia, de 80 km/h. Essa condição também é ponto de partida para análise da questão ambiental, já que representa condição semelhante à não existência do pedágio, ou à cobrança realizada no modelo ORT. O valor médio do consumo de combustível no trecho simulado referente a cada tipo de passagem, bem como o consumo em ml de diesel, é apresentado nas Tabelas 9 a 12. 267 A Figura 4 mostra um gráfico com o consumo de combustível em ml de diesel versus o peso bruto total do caminhão. São apresentados os pontos referentes às simulações nas três condições propostas: cabine manual, cabine eletrônica e passagem livre. Como esperado, vemos que, quando a velocidade de passagem é mais alta, como no caso da passagem livre, o consumo de combustível é menor. Também pode-se verificar que, quanto maior a carga transportada, maior é o consumo de combustível. Resultados Estudo de caso O estudo de caso avalia custo/benefício para um caminhão da categoria CAT 05 utilizando as cabines de cobrança manual e eletrônica para pagamento do pedágio. No Brasil, a empresa que comercializa o dispositivo de reconhecimento eletrônico cobra mensalmente R$11,20 pela prestação do serviço. A rota escolhida para estudo é a Rodovia Presidente Dutra, que compreende a praça de pedágio em estudo. De São Paulo para o Rio de Janeiro (ida e volta), o caminhão passa por dez cabines de cobrança. Foi considerado que nos dois sentidos o caminhão faz o percurso carregado. Além disso, admite-se a hipótese de que o consumo de combustível é o mesmo para as outras praças de pedágio. A Tabela 13 mostra os parâmetros do estudo de caso. Tabela 5 Dados utilizados na simulação para um caminhão três eixos – CAT 03. Mbs1 (ton) Diferencial Câmbio 23,0 4,3 (8,81 ; 6,55 ; 4,77 ; 3,55 ; 2,48 ; 1,34 ; 1,0) Motor Marcha Torque (N.m) Potência (cv) rpm_max rpm_min B_ml4 (g/s) 942,7 a 1300 rpm 264 a 2300 rpm 2500 1200 0,58 2 3 1 Mbs: massa total do caminhão. rpm_max: faixa máxima de rotação para mudança de marcha. 3 rpm_min: faixa mínima de rotação para mudança de marcha. 4 B_ml: consumo específico do motor em marcha lenta. 2 Tabela 6 Dados utilizados na simulação para um caminhão cinco eixos – CAT 05. Mbs (ton) 41,5 Diferencial Câmbio 4,0 Grupo lento: (11,72 ; 7,92 ; 5,29 ; 3,64 ; 2,66 ; 1,80 ; 1,20 ; 0,83) Grupo rápido: (9,75 ; 6,58 ; 4,40 ; 3,02 ; 2,21 ; 1,48 ; 1,00 ; 0,69) Motor Marcha Torque (N.m) Potência (cv) rpm_max rpm_min B_ml (g/s) 1600 a 1100 ≈ 1500 rpm 360 a 2000 rpm 1800 1200 0,67 Minerva, 6(3): 263-271 268 ALVARENGA, VIVEROS & CANALE Tabela 7 Dados utilizados na simulação para um caminhão sete eixos – CAT 07. Mbs (ton) 54,0 Motor Diferencial Câmbio 4,0 Grupo lento: (11,72 ; 7,92 ; 5,29 ; 3,64 ; 2,66 ; 1,80 ; 1,20 ; 0,83) Grupo rápido: (9,75 ; 6,58 ; 4,40 ; 3,02 ; 2,21 ; 1,48 ; 1,00 ; 0,69) Marcha Torque (N.m) Potência (cv) rpm_max rpm_min B_ml (g/s) 1900 a 1300 rpm 430 a 2200 rpm 1800 1200 0,95 Tabela 8 Dados utilizados na simulação para um caminhão nove eixos – CAT 09. Mbs (ton) 74,0 Motor Diferencial Câmbio 5,0 Grupo lento: (11,72 ; 7,92 ; 5,29 ; 3,64 ; 2,66 ; 1,80 ; 1,20 ; 0,83) Grupo rápido: (9,75 ; 6,58 ; 4,40 ; 3,02 ; 2,21 ; 1,48 ; 1,00 ; 0,69) Marcha Torque (N.m) Potência (cv) rpm_max rpm_min B_ml (g/s) 1900 a 1300 rpm 430 a 2200 rpm 2200 1400 0,95 Tabela 9 Resultados da simulação para o caminhão três eixos – CAT 03. Média (km/l) Distância (km) Consumo (ml) Cabine manual 3,2 2,037 654,0 Cabine eletrônica 4,0 2,037 507,3 Passagem livre 5,3 2,037 382,7 Tabela 10 Resultados da simulação para o caminhão cinco eixos – CAT 05. Cabine manual Cabine eletrônica Passagem livre Média (km/l) 1,7 2,0 2,6 Distância (km) 2,037 2,037 2,037 Consumo (ml) 1213,3 1010,9 794,1 Tabela 11 Resultados da simulação para o caminhão sete eixos – CAT 07. Cabine manual Cabine eletrônica Passagem livre Média (km/l) 1,2 1,4 2,0 Distância (km) 2,037 2,037 2,037 Consumo (ml) 1701,7 1407,7 1032,0 Tabela 12 Resultados da simulação para o caminhão nove eixos – CAT 09. Cabine manual Média (km/l) 1,1 Distância (km) 2,037 Consumo (ml) 1838,8 Cabine eletrônica 1,4 2,037 1461,3 Passagem livre 1,5 2,037 1401,9 Minerva, 6(3): 263-271 ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO... 2000 Cabine manual Cabine eletrônica Passagem livre 1800 1600 Consumo (ml) 269 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 0 20 40 60 Peso bruto transportado (ton) 80 Figura 4 Resultados das simulações – PBT (ton.) versus consumo. Tabela 13 Dados do estudo de caso. Categoria Carga (ton) No viagens/mês Preço diesel CAT 05 41,5 15 R$ 2,10 Nessas condições, o caminhão que opta por adquirir o dispositivo de reconhecimento eletrônico de velocidade e então passa a efetuar a cobrança com o veículo em movimento, na velocidade recomendada pelo fabricante de 40 km/h, gasta aproximadamente 30,2 litros de diesel a menos que o caminhão que para a fim de realizar a cobrança na cabine manual. Isso representa uma redução de duas horas no tempo total de viagem no mês e uma redução R$52,60 no custo do transporte, já descontada a mensalidade de R$11,20 cobrada pela utilização do AVI. A Tabela 14 mostra a economia gerada para outras categorias de caminhões. Vale ressaltar que tais considerações subestimam as vantagens apresentadas, já que na prática, quando um caminhão se aproxima da cabine de cobrança manual, na maioria das vezes, ele encontra uma fila. Isso representa um aumento no tempo de espera para efetuar o pagamento da tarifa, o que implica aumento no tempo de viagem. Além disso, o consumo de combustível em marcha lenta do caminhão também é maior, o que representaria um aumento nos gastos e uma diferença ainda maior quando feita a comparação com o usuário do AVI. Análise Ambiental A alteração no perfil de velocidade imposta pela instalação da praça de pedágio implica um aumento no consumo de combustível dos veículos. Dessa maneira podemos afirmar que a praça de pedágio contribui para emissão de poluentes provenientes da queima desse combustível. A avaliação do impacto do pedágio no que diz respeito à emissão de CO2 baseou-se na condição anterior à instalação da praça de pedágio, ou seja, quando a velocidade do fluxo dos veículos naquela região não era afetada pelas cabines de cobrança. Para quantificar a emissão de poluentes foi utilizada a metodologia proposta por Bartholomeu (2008). O modelo se restringe a analisar as emissões da combustão do óleo diesel, uma vez que a maior parte do transporte de carga brasileiro é movida a diesel (Brasil, 2009). Além disso, foi admitido que a combustão é completa, isto é, todo o carbono do combustível é convertido em CO2 (foi desconsiderada a emissão de CO, que posteriormente sofre oxidação e se converte em CO2 na atmosfera). Foi adotado o fator de emissão de CO2 a partir do diesel de 2,75 kg/l. Tabela 14 Redução do consumo e economia por categoria. Categoria CAT 03 CAT 05 CAT 07 CAT 09 Diesel (l) 24,3 30,4 48,1 60,6 Economia (R$) 39,9 52,6 89,7 116,1 Minerva, 6(3): 263-271 270 ALVARENGA, VIVEROS & CANALE Para calcular o volume de combustível gasto tendo em vista a instalação da praça de pedágio, foram utilizadas as equações 1, 2 e 3, que descrevem o consumo de combustível em função da carga transportada para cada tipo de cobrança. As equações foram construídas a partir dos resultados do gráfico da Figura 4. 1. Cabine manual Bcm(c) = 0,38c2 + 60,90c – 5700,27 2. Cabine eletrônica Podemos transformar esse volume de combustível em toneladas de CO2 pela equação: Ej = Vj ∗ FE 1000 Ej = emissão de CO2 em toneladas referente ao ano de 2008 da praça de pedágio de Jacareí. Vj = volume de diesel em litros gasto no ano de 2008 em função da instalação da praça de pedágio de Jacareí. FE = fator de emissão de CO2 pelo diesel, cujo valor adotado é de 2,75 kg/l. Bce(c) = – 0,40c2 + 57,83c – 632,32 Dessa maneira, o valor encontrado para emissões foi de aproximadamente 10 mil toneladas de CO2 para o ano de 2008. 3. Passagem livre Bpl(c) = – 0,06c2 + 25,65c – 174,44 em que: Bc = consumo em função da carga para cada tipo de passagem; c = carga transportada em toneladas. Primeiro foi calculado o volume anual de combustível gasto para os caminhões que utilizaram as cabines manual e eletrônica. Em seguida, calculou-se o volume anual de combustível supondo que todos os caminhões tivessem cruzado a região na velocidade de 80 km/h, ou seja, utilizando a equação de consumo para a passagem livre. Os dados de fluxo de veículos (Tabela 15) foram fornecidos pela NOVADUTRA, concessionária que administra o pedágio de Jacareí, e são referentes ao ano de 2008. Foram considerados os valores médios de carga transportada por categoria mostrados na Tabela 16. Assim, temos que o consumo de combustível dos caminhões que cruzaram a praça de pedágio de Jacareí, no ano de 2008, foi de aproximadamente 5,2 milhões de litros. Se todo esse volume de trafego não tivesse desacelerado, ou seja, se a cobrança pudesse ter sido feita segundo o modelo ORT, com o caminhão a 80 km/h, ou, ainda, se não houvesse pedágio, o consumo seria próximo de 1,7 milhão. Ou seja, cerca de 3,5 milhões de litros de diesel são consumidos a mais em função da instalação da praça de pedágio de Jacareí. Conclusão Os resultados obtidos confirmam a hipótese de que a instalação da praça de pedágio contribui para o aumento do tempo de viagem, do consumo de combustível e da emissão de poluentes. Isso ocorre pela alteração no perfil de velocidade, necessário para que o pagamento da tarifa seja efetuado. A possibilidade de pagamento da tarifa em movimento se apresenta como uma boa solução econômica/ ambiental para essa questão. A utilização do conceito Open Road Toll é a maneira mais eficiente de cobrar a tarifa, já que simula a condição de não existência do pedágio, ou seja, não altera a velocidade de fluxo dos veículos. Como mostrado no estudo de caso, a mensalidade cobrada para utilização do serviço de cobrança eletrônica é facilmente recuperada pela economia de combustível proporcionada pelo sistema. Além disso, o tempo de viagem e as emissões de poluentes também são menores. No que diz respeito aos benefícios com relação à economia de tempo, pode-se observar uma redução de aproximadamente 60% do tempo necessário para cruzar a praça de pedágio em estudo. Em se tratando de benefícios econômicos, a utilização do dispositivo eletrônico possibilita uma redução de até 29% do combustível necessário para cruzar a praça de pedágio em estudo, que representa uma economia mensal relevante. Tabela 15 Fluxo de veículos por categoria. Cabine manual Cabine eletrônica CAT 03 1361119 1053575 CAT 04 261546 380072 CAT 05 863595 987073 CAT 06 278551 351798 CAT 07 66891 82816 CAT 08 72 312 CAT 09 4335 12859 CAT 10 67 19 Tabela 16 Carga média transportada por categoria utilizada na análise ambiental. Carga (ton) CAT 03 23 Minerva, 6(3): 263-271 CAT 04 33 CAT 05 43 CAT 06 50 CAT 07 57 CAT 08 65,5 CAT 09 74 CAT 10 80 ESTUDO DO IMPACTO DO PEDÁGIO NO AUMENTO DO TEMPO DE VIAGEM, NO CONSUMO... Com relação ao impacto ambiental, a pesquisa se mostra como importante fonte de informações para a tomada de decisões, tanto por parte das concessionárias de rodovias, no que diz respeito às melhorias na elaboração de projetos e construção de novas praças de pedágio, quanto por parte do governo, no que diz respeito à utilização do pedágio como regulador de trânsito nas rodovias e grandes cidades. Nesse sentido, o estudo apresenta interesses relevantes dentro do pensar melhores condições e possibilidades para o cenário rodoviário brasileiro, além de versar sobre questões que abrigam discussões importantes tanto para a economia do usuário em si quanto para a questão ambiental como um todo. Agradecimentos Ao Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronáutica e Automobilística da Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, (EESC- USP), pelo apoio institucional à pesquisa. À CGMP – Centro de Gestão de Meios de Pagamentos S.A., e à FIPAI, pelo apoio financeiro a pesquisa. À Nova Dutra, pela disponibilização da praça de pedágio para realização dos testes. À Tegma e Casas Bahia, pelo empréstimo dos caminhões utilizados nos testes. À OpenCadd, pelo apoio técnico. Referências Bibliográficas AL-DEEK, H. M.; RADWAN, A. E.; MOHAMMED, A. A.; KLODZINSKI, J. G. Improvements in traffic operations at electronic toll collection plazas in Orlando. In: ANNUAL MEETING OF THE ITS WORLD CONGRESS, 3., 1996, Flórida. Article... Orlando, Flórida, 1996. ANP (Agência Nacional do Petróleo). Disponível em: http:/ /www.anp.gov.br/doc/ petroleo/relatorios_precos/2009/ Diesel_032009.pdf. Acesso em: 21 maio 2009. ARAÚJO, J. J. Características operacionais de praças de arrecadação de pedágio. 2001. Tese (Mestrado) – EESC, USP, São Carlos, São Paulo. BARTIN, B.; MUDIGONDA, S.; OZBAY, K. Estimation of the impact of electronic toll collection on air pollution levels using microscopic simulation model of a large-scale transportation network. In: TRANSPORTATION RESEARCH BOARD ANNUAL MEETING, 86., 2006. Article… 2006. BARTHOLOMEU, D. B.; CAIXETA, J. V. F. Impactos econômicos e ambientais decorrentes do estado de conservação das rodovias brasileiras: um estudo de caso. RESR, Piracicaba, SP, v. 46, n. 3, p. 703-738, jul.-set. 2008. 271 BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia e Departamento Nacional de Política Energética. Balanço energético nacional. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.mme. gov.br/site/menu/select_main_menu_item.do? channelId=1432&pageId=17036 >. Acesso em: 20 maio 2009. CANALE, A. C. Automobilística: dinâmica e desempenho. São Carlos: Livros Érica Editora LTDA, 1989. v. I. DANDO, M. Electronic toll market. ITS: Intelligent Transport Systems, n. 8, p. 56-58, 1997. DINIZ, J. B. Desenvolvimento e validação de um software para simulação de consumo de combustível veicular. 2009. São Paulo: Dissertação (Mestrado), EESC-USP, São Carlos, SP. FREITAS, M. K. Investigação da produção e dispersão de poluentes do ar no ambiente urbano: determinação empírica e modelagem em rede neural da concentração de CO. 2003. Tese (Doutorado), EESC-USP, São Carlos, São Paulo. GEIPOT. Anuário Estatístico dos Transportes. Disponível em: http://www.geipot.gov.br/. Acesso em: 27 maio 2009. KLODZINSKI, J.; GORDIN, E.; AL-DEEK, H. M. Evaluation of impacts of open road tolling on main-line Toll Plaza. Transportation Research Board of the National Academies, Washington, n. 2012, p. 72-83, 2007. LI, J.; GILLEN, D.; DAHLGREN, J. Benefit-cost evaluation of the electronic toll collection system: a comprehensive framework and application. Washington, D.C.: Transportation Research Board 78th Annual Meeting January 10-14, 1999. NAVARRO, H. A. Desempenho na aceleração e consumo de combustível de veículos rodoviários comerciais. 1997. v. I. Tese (Doutorado), EESC-USP, São Carlos, São Paulo. NETO, A. L. V. Pedágios, até que ponto os benefícios compensam os custos. 2007. Disponível em: www. ntcelogistica.org.br/arquivos/tecnicos/Pedagios_ final2008.pdf. Acesso em: 29 maio 2009. POLUS, A.; RESHETNIK, I. A new concept and a manual for toll plaza planning. Canadian Journal of Civil Engineering, v. 24, n. 4, p. 532-538, 1997. Minerva, 6(3): 263-271