Entrevista com o Pr. Valter Graciano
1. Projeto Os Puritanos: Quando e como começou sua trajetória
como tradutor?
Resposta: Ao longo de meu ministério por várias igrejas, em Minas e em Goiás,
eu já lia em espanhol e inglês a Bíblia e outros livros. Foi daí que veio
surgindo o anseio de um dia aprender a traduzir. Cheguei a traduzir, à moda
de arremedo, boa parte da primeira edição das Institutas, em espanhol,
seguindo mais o desejo de ver esta obra em nosso idioma. Um forte anseio me
consumia. Muito do que lia, em seguida traduzia. Por exemplo, em minhas
primeiras leituras da Teologia Sistemática de Berkhof ainda em espanhol (li
esta obra toda algumas vezes), ia traduzindo aquilo que pudesse ajudar-me a
gravar mais intensamente na memória o conteúdo da obra.
Mas foi em meu pastorado numa pequena cidade goiana, Ceres, que encarei
decisivamente a tarefa de traduzir livros de convicção profundamente
calvinista. Naquele tempo ainda era pouca a produção de obras de cunho
reformado. Foi então que traduzi o precioso livro de William Hendriksen, Mais
que Vencedores. Assim que cheguei em São Paulo, ele foi publicado. A
tradução foi muito precária, por isso se fez dele uma nova, e, por sinal, muito
boa. Essa é a origem da publicação dos comentários neotestamentários de
Hendriksen/Kistemaker que temos hoje.
Chegando a São Paulo como um dos diretores da Editora Cultura Cristã, além
de assumir a preparação das revistas dominicais e de revisar outros livros,
assentei no coração aperfeiçoar minhas traduções, o que consegui
plausivelmente com a ajuda do grande teólogo e colega Rev. Sabatine Lali.
Certo dia ele declarou que minha tradução de determinado livro ficaria
melhor no lixo. E ele estava coberto de razão. No momento, fiquei arrasado,
porém não desisti. E foi assim que começou minha trajetória de tradutor.
Aliás, nunca digo que sou tradutor, e sim que traduzo, que são duas coisas
distintas. E esses primórdios me serviram de grande instrução e preparo.
2. PP: O que o motivou a traduzir as obras de João Calvino?
Resposta: Enquanto ia traduzindo os comentários de William Hendriksen (pois
fui eu que introduzi essa notável obra em nosso idioma), em meu universo
interior foi se delineando um profundo desejo de ver o Reformador falando
nosso idioma. O que principalmente me levou a esse anseio? Quando cheguei
em São Paulo para trabalhar na ECC, estava em processo a tradução das
Institutas, feita pelo Dr. Waldir Carvalho Luz. Tive que ler aquela tradução
toda; e à medida que avançava na leitura, mais entendia que ninguém iria ler
a obra naquela linguagem. Em meio à minha grande frustração e pesar, sentia
que era preciso traduzir as obras do Reformador numa linguagem em que
todos pudessem ler, pois foi esse o objetivo do Reformador. Enquanto
escrevia, ele queria que todos entendessem. Isso tinha que ser feito, porém
não atinava para a possibilidade. Com quem falava a respeito, me olhavam de
modo indagador, com certo espanto. Alguns, entre os mais íntimos, diziam
que eu era um sonhador. Não faltou quem dissesse que eu era maluco. Além
de ser dispendiosa demais, já não havia necessidade de se produzir uma obra
tão volumosa e dispendiosa. Todo argumento que meus amigos usavam para
me dissuadir, era como faíscas a incendiar mais minha mente e coração. Eu
sempre cria que era viável e mesmo indispensável.
3. PP: Quais as dificuldades para se traduzir Calvino?
Resposta: No tocante a mim, a primeira dificuldade estava em mim mesmo.
Meu recurso literário era então muito mais fraco do que hoje. A linguagem das
obras do Reformador é muito erudita. Abria um livro a esmo e tentava ler e
desistia. A segunda dificuldade era o fato de que eu só poderia traduzir do
inglês, e não dos originais latim e francês. Ainda quando a tradução para o
inglês fosse muito bem feita, todavia teria que produzir uma tradução de
tradução. Terceiro, A obra é vasta demais para ser produzida em sua
totalidade. A editora naquele tempo estava dando seus últimos e moribundos
suspiros, e logo morreu. Quarto, jamais teria encontrado, naquele momento,
pessoas para formar uma equipe na elaboração da obra. Quinto, naquele
momento, com certeza o Conselho Editorial não iria aprovar meu projeto.
Sexto, fui demitido da Editora e fiquei a enfrentar meus conflitos pessoais,
agora com menos recurso ainda. Enfim, eu era um homem sozinho, tentando
chegar na praia, quando ainda estava em alto mar, sem ver nenhuma tábua de
salvação. Mas a maior dificuldade de se traduzir Calvino é a indiferença da
“igreja” para com aquilo que lhe pertence de direito. Até onde pude
perceber, a igreja nunca sentiu necessidade de fazer o Reformador falar nosso
idioma para ser lido pelos brasileiros. Se a igreja quisesse, teria começado
esta obra desde o início, pois ela sempre teve recursos financeiros para as
outras coisas!
4. PP: Como se sente, como brasileiro, quando está traduzindo as
obras tão antigas do mestre e reformador de Genebra?
Resposta: Esta é uma indagação muito complexa, pois ela lida com um
universo subjetivo. Enquanto traduzo essas obras grandiosas, sinto-me
precipitado no espaço sideral, continuamente aturdido pelo conteúdo delas,
em profunda convivência com o doutor genebrino.
Certo colega perguntou-me se não me sentia vaidoso em ver boa parte dessas
obras já nas estantes dos leitores. Minha resposta foi que, muito embora essa
tendência fosse real em mim, porém, mesmo que deixasse a vaidade entrar e
dominar minha vida interior, não conseguiria, porque, convivendo com
Calvino, sua vida, sua atitude, sua grandeza sempre esmagaram meu ego. Pois
é difícil encontrar um homem com um coração mais piedoso do que foi João
Calvino.
É verdade que tenho consciência da grandeza de tal empreendimento. Além
das Institutas e de umas pequenas obras do Reformador, tudo mais dele que
lemos em português é de minha lavra. De vez em quando recebo
correspondência de colegas que expressam seus sentimentos pelo que faço, às
vezes me causando profunda comoção. Por isso sou imensamente grato ao
Senhor da Igreja por me escolher para essa atividade, pois ele poderia (ou,
digamos, deveria) ter escolhido a quem de direito, no entanto lhe aprouve
servir de minha pessoa tão despreparada para essa prestação de serviço à sua
igreja. Meu drama é que, enquanto realizo esse divino trabalho, quase não
tenho com quem partilhar tão imensa bênção. São poucos com quem tenho o
prazer de dialogar e ser correspondido. Às vezes quase explodo de emoção e
não encontro alguém para dividir isso. Mesmo assim, sinto-me como o homem
mais abençoado da terra por receber esse mandado da parte do Senhor da
Igreja. Que bênção é Deus me usar para facultar aos brasileiros a leitura das
obras de João Calvino, ainda que seja um trabalho deficitário!
O drama é ainda mais intenso quando me lembro de minha origem e de minha
trajetória. Estritamente falando, não possuo nada, absolutamente nada, que
me qualifique para esse empreendimento. No entanto, foi a mim que o Senhor
escolheu para esse fim. Todo esse aparato negativo dissipa a tendência
natural de envaidecer-me. Ainda mais, eu seria um mísero homem se deixasse
a vanglória dominar-me. Por isso, tenho sempre em mente o texto de Paulo,
em 1 Coríntios 1.26-29, que termina: “A fim de que ninguém se vanglorie na
presença de Deus.”
5. PP: Qual a importância destas traduções para a Igreja
brasileira?
Resposta: Sendo o povo brasileiro de cultura religiosa essencialmente
católico-romana, que desde a fundação da nação procurou desfigurar a
imagem dos reformadores do século dezesseis, fazer Martinho Lutero e João
Calvino falarem aquilo que realmente falaram e serem o que realmente foram
é de grande importância para que nosso povo aprenda a apreciar esses vultos
da Igreja em sua integridade, sem distorção, sem adulteração, sem fuligem.
Quando me propus verter para a língua brasileira as obras de João Calvino,
meu intuito primordial não foi que todos abraçassem integralmente o
pensamento teológico do Reformador de Genebra, mas que suas obras fossem
conhecidas, confrontadas, e o leitor pudesse decidir sobre sua aceitação ou
não com pleno conhecimento de causa. Em geral, cita-se o Reformador como
havendo dito o que não disse e tendo feito o que não fez. É oportuno lembrar
que João Calvino, como os demais reformadores, não foi infalível em tudo
quanto fez, ensinou e escreveu. Infalíveis foram os escritores da Bíblia. Há
detalhes no ensino de Calvino com os quais não concordo. Mas esses detalhes
de sua interpretação de modo algum ferem o grandioso todo de sua
interpretação da Bíblia e da fé cristã. Em suma, o povo brasileiro precisa
conhecer o Reformador para que, quando discordar dele, possa justificar seus
motivos. Creio que, com isso, muitos presbiterianos passarão a admirar o
Reformador.
6. PP: Olhando para as obras de Calvino e o presbiterianismo de
hoje, o que o alegra e o que o entristece?
Resposta: O que me alegra é a grande ênfase que hoje o presbiterianismo está
pondo na fé reformada, e tem feito grande empenho para disseminar o
calvinismo, quer na confissão pública, quer na literatura, quer na celebração
eclesiástica. Temos hoje grandes mestres que não só defendem a fé
reformada, mas eles mesmos escrevem grandes obras e inclusive biografias de
João Calvino. São teólogos genuinamente calvinistas. Não só os presbiterianos
fazem isso, mas muitos de outras confissões.
O que me entristece é o fato do presbiterianismo medrar em solo brasileiro
com o substrato calvinista, porém sem a presença maciça do Reformador
genebrino. Se o evangelismo presbiteriano brasileiro florescesse com as
Institutas do Reformador nas mãos, certamente a igreja seria muito mais
robusta. Não precisaria mais que isso para o presbiterianismo ser, talvez, a
maior força do povo evangélico.
Entristece-me o fato de que o presbiterianismo, em si, nunca se moveu
positivamente na direção de ajudar-me na expansão das obras de João
Calvino. A instituição, propriamente dita, nunca me estendeu a mão ou nunca
dirigiu uma palavra oficial abonando meu trabalho ou mandando-me parar a
fim de que as autoridades teológicas assumam o comando e façam a coisa
certa: produzir as obras do Reformador diretamente dos originais.
Além do mais, é doloroso ver e ouvir de grandes vultos que insistem em
permanecer no seio do presbiterianismo, não sendo realmente presbiterianos.
Os concílios têm permitido a permanência desses vultos em seu seio. E esses
vultos têm contribuído para a deformação da igreja. E eles, por sua vez, não
têm oferecido algo melhor que o calvinismo tem. Sua contribuição distorcida
não faz a igreja se agigantar; apenas a faz mudar de rumo e de caráter. Não
sou contra alguém pensar de modo adverso do calvinismo; sou contra, sim, a
igreja tolerar que ensinos distorcidos medrem em seu seio sem reagir. Quem
não é presbiteriano deveria estar em outros meios, não no meio presbiteriano.
Consistência é algo mui belo!
7. PP: O que mais lhe chama a atenção no caráter do escritor João
Calvino?
Resposta: É sua piedade, convicção e persistência. Além de oferecer seu
coração inteiro ao Senhor da igreja, bem como cultivar a mais vera piedade
que um cristão pode fazer, ele, desde o início, cultivou a mais profunda
convicção de haver sido chamado pelo Deus eterno para ser o reformador de
sua igreja. Por isso mesmo, sua persistência, em meio à mais feroz
perseguição, o engrandece sem paralelo. Assim como Lutero foi o Cisne da
Reforma, segundo a profecia de João Us, João Calvino foi a Águia da Teologia
Reformada. E isso se deve à sua profunda piedade, à sua inabalável convicção
e à sua inamovível persistência em seguir adiante. Isso nos faz entender por
que, quando foi expulso de Genebra, saiu em silêncio e foi para Strasburg em
continuação de sua obra de reforma ali. Ao ser chamado de volta às lides
genebrinas, chorando afirmou que tinha de voltar para seu inferno até
concluir ali sua obra começada. E, ao assumir novamente o púlpito genebrino,
convidou o povo a ler com ele o mesmo versículo onde havia interrompido sua
exposição.
Calvino não nutria dúvida acerca de sua vocação ministerial. Essa convicção
deveria ser o carro chefe do ministério de todos os pastores atuais. Temos em
João Calvino matéria suficiente para tornar o ministério pastoral brasileiro a
força mais edificadora e demolidora que se pode imaginar. Edificando a Igreja
e demolindo os aríetes dos inimigos.
8. PP: Que recomendação faz ao leitor de Calvino?
Resposta: Eu começaria com os não-leitores dele. Com aqueles que acreditam
que não têm que ler as obras do Reformador, sem terem consciência do que
estão perdendo. Acreditam que as obras teológicas modernas são muito mais
substanciosas. Não atinam para o fato de que os autores dessas obras estão se
nutrindo do Reformador genebrino. Meu conselho, se é que tenha algum peso,
é que passem a degustar o conteúdo dessas obras.
Aos leitores do Reformador, meu conselho é que intensifiquem essas leituras e
pesquisas. Que procurem ir fundo no raciocínio desse grande teólogo.
Assimilem ao máximo. Não têm que ficar apenas citando o nome do
Reformador, nem apenas declarando que lê-lo é essencial à vida cristã. Não
precisam divulgá-lo de modo apaixonado. Não seguimos o Reformador
genebrino. Nosso supremo Mestre é nosso Senhor Jesus Cristo. É a teologia do
Reformador que temos de incrementar na igreja, como sendo a melhor e mais
fiel interpretação da Santa Escritura. Ser calvinista é encarar a Bíblia tal como
é, sem redução nem acréscimo; sem fantasia nem negação. O Reformador nos
dá grande exemplo de como devemos crer na Bíblia. Daí, os genuínos
calvinistas não põem em dúvida nenhum texto sagrado. O que lhe parece
absurdo, ele abraça ainda mais e busca maior percepção do que está lá.
9. PP: Até onde vai sua esperança em uma reforma na Igreja
brasileira?
Resposta: Já entrevejo essa reforma se concretizando no seio daqueles grupos
evangélicos que antes repeliam a visão reformada do Cristianismo.
Principalmente a Assembleia de Deus tem abraçado em maior escala a fé
reformada. Quando ainda tinha Edições Parakletos, meu maior freguês eram
os seminários da Assembleia de Deus. Por exemplo, aqui em Goiânia há um
grande avanço em direção à teologia reformada nos seminários e igrejas
assembleianos. Os pastores que conheço declaram a plenos pulmões que sua
convicção é reformada.
Soube ainda que há o mesmo movimento entre as Igrejas Cristãs Evangélicas.
E é possível que esse movimento se expanda aonde ainda não o vemos. Sem
querer ser presunçoso, quando comecei a editar as obras do Reformador
genebrino, minha principal meta era alcançar as igrejas de convicção
arminiana. E creio que o efeito de meu trabalho está surgindo, muito embora
as obras do Reformador publicadas ainda sejam em pequena escala e ainda
não chegaram a todos os rincões. Mas gostaria que todos soubessem que
algumas dessas obras já atingiram a terceira edição. Hoje temos no Brasil três
versões das Institutas: duas editadas pela Editora Cultura Cristã e outra
editada pela UNESP, editora secular. E creio que essas edições estão
circulando em grande escala por todo o território nacional e até mesmo
internacional. A Editora Fiel, a qual publica minhas traduções, tem
disseminado essas obras em todos os países de língua portuguesa. Ela tem
facilitado a aquisição dessas obras em todo o Brasil. Nunca poderíamos
imaginar que João Calvino viesse a ser tão popular em solo brasileiro.
Para mim, em particular, isso significa um genuíno reavivamento, o qual não
se dá na esfera das emoções, e sim do intelecto. A visão calvinista da Bíblia
revoluciona a vida em sua inteireza. Só existe reavivamento legítimo quando a
fé é posta em prática; ela é um sistema que leva o indivíduo a viver a religião
de Jesus. Quando a religião permanece na esfera emocional, não há produção
de frutos; mas quando atinge a esfera do raciocínio, leva o indivíduo a pensar
no que Jesus ensinou e viveu, então sua vida sofre a mais salutar revolução
espiritual e moral.
10. PP: Quando conclui uma tradução de Calvino, que súplica faz a
Deus?
Resposta: Quero que o leitor saiba que cada obra de Calvino que traduzo
constitui um universo para minha mente e espírito. Ora mergulho num oceano
sem fundo, ora sinto ter asas e me precipito no espaço sideral e de lá não
quero voltar, ora sinto na exposição do Reformador genebrino uma atmosfera
musical que soa como a maviosa harpa, o violino, o piano, e trabalho o tempo
todo sob os efeitos dessas músicas celestiais. Ele consegue me submergir nas
próprias ideias bíblicas, levando-me a ver o que está lá, porém até então não
havia percebido.
Isso me leva a orar mentalmente, sem cessar. Com muita frequência paro a
tradução e, dominado pela emoção, prorrompo em oração de ação de graças e
oro que os leitores sintam a mesma coisa. Todos os dias começo meu trabalho
rogando que o Senhor da igreja estique um pouco mais minha vida terrena
para terminar todas as obras do Reformador genebrino. Quando termino um
volume, dou graças, olho para o alto e dou um grito: Aleluia! Agradeço-lhe em
me usar, o menor de todos os servos de Cristo, o menos competente para tal
empreendimento, e rogo que use meu modesto trabalho para a mudança da
vida dos filhos de Deus e para que muitos incrédulos venham à verdadeira fé
por meio desse humilde trabalho.
Aproveito o ensejo para contar em poucas palavras que, quando terminei o
terceiro volume da Harmonia da Lei, meu computador deu uma pane e apagou
completamente tudo o que estava nele. Quase tudo foi salvo porque
mantenho um HD externo com tudo gravado nele. Mas esse volume não fora
gravado ali. Foi usada toda a tecnologia moderna na tentativa de recuperação
da pasta. Quase quinhentas páginas perdidas. Faltou pouco para entrar em
pânico. O desalento fulminou minha alma. Passaram-se uns quinze dias,
quando certa manhã assentei-me diante do computador, e, sob o efeito de
algo que li em algum lugar, que dizia: “Quem desiste de lutar nunca tem
razão”, olhei para o alto e disse ao Senhor: “Meu Deus, renova meu ânimo
para fazer de novo esta tradução como se fosse a primeira vez”. Com os olhos
marejados, com o coração aos saltos, com o volume aberto diante de mim, no
mesmo lugar de antes, recomecei a tradução com o mesmo ânimo e a mesma
gratidão. Sabia que havia nisso um propósito divino. Cerca de dois meses
depois estava com a nova tradução concluída – e valeu a pena!
Tenho a consciência de que sou o homem mais privilegiado do Brasil. Não
sinto vaidade; sinto gratidão. Quem mantém convívio com Calvino, através de
suas obras, não consegue envaidecer-se, porquanto está em contato indireto
com um dos homens mais humildes que a igreja já teve em seu seio. Quando
descobri que ele ordenara que sua sepultura fosse mantida no anonimato, e
que hoje não se sabe onde ela está, que sentimento devo nutrir em meu
mísero coração? O que me sobra que me envaideça? É verdade que a
tendência está aí, com boca escancarada para me tragar. Mas em minha
mente está impressa uma terrível realidade: Sou apenas servo! Senhor é
outro!
A Ele toda a glória!
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Goiânia, 11 de abril de 2013
Valter Graciano Martins
O menor em Cristo
Rev. Valter Graciano é Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil desde 1964 tendo sido
jubilado em 2009. Continua em pleno vigor de suas funções profissionais como renomado
tradutor de dezenas de títulos e, em seu maior volume, das obras do grande reformador João
Calvino. Casado com Dona Cremilda. Tem cinco filhos e dez netos.
Site: http://ospuritanos.blogspot.com.br/
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Entrevista com o Pr. Valter Graciano