IMAGEM NO BRASIL Artes visuais e os diferentes modos de ver Ana Elisabete Lopes As coisas são porque as vemos, e o que vemos, e como vemos, depende das artes que tenham influído em nós. [Oscar Wilde] Qual o papel da imagem no contexto educacional da sociedade contemporânea? É possível pensar no desenvolvimento de uma cultura visual, que amplie as experiências estéticas e sensíveis, visando a transformação da ação criadora do homem nos diferentes espaços sociais onde atua? O escritor Ítalo Calvino constrói uma crítica ao processo de massificação visual característico do mundo atual e nos apresenta uma “pedagogia da imaginação”. Esta proposta surge como uma forma de resistência ao empobrecimento humano do poder de evocar imagens, ocorrido como conseqüência da inundação de imagens pré-fabricadas na qual nos encontramos submersos. Evoca a visibilidade como um dos valores que devemos cuidar e preservar, pois corremos o risco de perder a faculdade humana fundamental de “pôr em foco visões de olhos fechados, de saber brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens.” (CALVINO, 1990, p.108). Estaríamos, assim, empobrecendo nosso potencial de lidar com a imaginação e a fantasia como vias de acesso ao conhecimento dos significados profundos da existência humana e com isso limitando nossas possibilidades de ação sobre o mundo. Buscando lutar contra este possível empobrecimento da experiência contemporânea e visando a ampliação dos modos de apropriação do conhecimento é que ressaltamos a relevância do trabalho com diferentes tipos de imagens no contexto educacional. Acreditamos ser possível desenvolver uma educação visual que propicie uma interação de modo mais informado, criativo e crítico com as imagens e mensagens que nos rodeiam no mundo contemporâneo. A escola se apresenta, assim, como um espaço onde é possível propiciar o convívio e o diálogo entre o acervo imagético, trazido pelos alunos de sua experiência cotidiana, com as produções artísticas e culturais reconhecidas universalmente e pertencentes a diferentes épocas e contextos sócio-culturais. Nesta perspectiva, a educação visual deve considerar as técnicas, os procedimentos, as informações históricas, os produtores, as relações culturais e sociais envolvidas no processo de produção artística e cultural. Abordar a complexidade dos modos de produção de imagem, pode contribuir para a formação de um olhar mais crítico e criativo sobre o contexto imagético no qual estamos inseridos no mundo contemporâneo. Com a ampliação deste universo perceptivo, podemos melhor selecionar, distinguir qualidades, compreender criticamente e nos comunicar por imagens. Este exercício do olhar, de ver o diferente, de desvelar significados e critérios exige um trabalho continuado de educação do olhar que articule percepção, imaginação, conhecimento, produção artística e, ao mesmo tempo, valorize e respeite a multiplicidade e diversidade de pontos de vista, dos modos de ver e estar no mundo. Uma das formas de nos aproximarmos deste exercício é acompanhando as manifestações do ser humano que se concretizam na linguagem visual. A arte é uma produção social e, desta forma, está inserida dentro de um contexto histórico-cultural. As artes visuais nos sensibilizam prioritariamente pelo sentido da visão e aquele que cria procura materializar suas idéias e sentimentos numa forma apreensível visualmente. Através da combinação dos diferentes elementos constitutivos da linguagem visual – linhas, formas, cores, texturas, movimento etc. – encontramos uma maneira de nos comunicar e revelar nosso modo particular de significar o mundo. LEGENDA(S) DA(S) FOTO(S) • Foto de Rui André. REFERÊNCIAS – CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. – LOPES, Ana Elisabete. “Artes visuais e os diferentes modos de ver”. In: Educação@pós-modernidade. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2003. Sobre o(a) autor(a): Arte-educadora. Doutora em Psicologia pela PUC-Rio. Professora da Universidade Estácio de Sá e do Instituto Helena Antipoff – SME/RJ