Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Out/2011 Texto Complementar APLICAÇÃO DO TESTE DE ANTIGLOBULINA HUMANA = TESTE DE COOMBS DIRETO E INDIRETO Elaboradora Margarida de Oliveira Pinho. Bióloga, Responsável pelo Laboratório de Imuno-hematologia e Coordenadora da equipe técnica do Serviço de Hemoterapia do Instituto Nacional de Câncer - M.S. - RJ. Especialização em Hemoterapia - Instituto Fernandes Figueira - Fiocruz, Título de Proficiência Técnica em Imuno-hematologia pela SBHH. O teste de antiglobulina humana (AGH), foi descrito em 1945 por Coombs e colaboradores. Em 1946 Coombs e colaboradores descreveram o uso de antiglobulina humana para detectar in vivo a sensibilização de hemácias por anticorpos, tornando possível o diagnóstico da Doença Hemolítica Perinatal (DHPN). Com a descoberta do teste de AGH, outros anticorpos IgG foram detectados com seus respectivos antígenos, levando a descorberta e à caracterização de muitos sistemas de grupos sangüíneos. Coombs produziu soro antiglobulina humana (AGH) injetando soro humano em coelhos. Como resposta imunológica ocorreu a produção de anticorpo contra a globulina humana, também chamado de soro de Coombs. O teste de antiglobulina pode ser usado para detectar hemácias sensibilizadas por anticorpos IgG, auto-anticorpos IgG ou componentes do complemento. A sensibilização pode ocorrer in vivo ou in vitro. O uso da antiglobulina humana para detectar a sensibilização de hemácias in vitro é uma técnica de duas fases chamada Teste de Antiglubulina Indireta (TAI), também conhecida como Teste de Coombs Indireto. A sensibilização in vivo é detectada por procedimento de uma fase chamada Teste de Antiglobulina Direta (TAD), também conhecida como Teste de Coombs Direto. O TAI e o TAD continuam sendo os procedimentos mais comuns e de muita importância nos testes imunohematológicos (sorologia de grupos sanguíneos). O Teste de Coombs é baseado no principio de que as globulinas anti-humanas obtidas de espécies não humanas imunizadas ligam-se a globulinas humanas como IgG ou complemento, livres no soro ou fixas a antígenos em hemácias. Os principais anticorpos de grupo sanguíneo são IgM (chamados de completos) e IgG (chamados de incompletos). Os anticorpos IgM se ligam facilmente aos antígenos correspondentes devido a sua estrutura pentâmera que favorece a aglutinação direta das hemácias suspensas em salina (soro fisiológico). Os anticorpos IgG são chamados não aglutinantes pois sua estrutura monômera é muito pequena, esses anticorpos são capazes de sensibilizar as hemácias que tenham antígenos correspondentes mas não promovem a aglutinação diretamente. As hemácias sensibilizadas por anticorpos IgG necessitam da adição do soro antiglobulina humana para aglutinarem. Alguns anticorpos de grupo sanguíneo têm a capacidade de ligar complemento à membrana da hemácia. Reagentes de globulina anti-humana = Soro de Coombs Antiglobulina Humana Poliespecífica = Soro de Coombs Poliespecífico - Contém anticorpo IgG e C3d do complemento humano. Outros anticorpos anticomplemento, tais como antiC3b, anti-C4b ou anti-C4d, também podem estar presentes. A AGH poliespecifica comercialmente preparada contém pouca ou nenhuma atividade contra cadeias pesadas de IgA e IgM, porém, a mistura de soros poliespecíficos podem conter atividade de anticorpos contra cadeias leves kappa e lambda comuns a todas as classes de imunoglobulinas com moléculas IgA ou IgM. Antiglobulina Humana Monoespecífica = Soro de Coombs Monoespecífico - Reagentes AGH monoespecificos contêm apenas uma especificidade de anticorpos. A antiglobulina humana anti-IgG que é o mais usado ou anticorpos específicos para componentes do complemento, como exemplo o C3b ou C3d. Anti-IgG = Soro de Coombs anti-IgG Reagentes rotulados anti-IgG, não contêm nenhuma atividade anticomplemento. O anti IgG pode conter especificidade anti-cadeia leve e, portanto, reagir também com células sensibilizadas com IgM e IgA. Anti-complemento - Reagentes anti-complemento como antiC3b-C3d. são reativos apenas contra os componentes de complemento designados e não contém nenhuma atividade contra imunoglubulinas humanas. Teste de Antiglobulina Direto (TAD) O TAD, também conhecido como Teste de Coombs Direto é um método simples que permite detectar a sensibilização das hemácias por anticorpos IgG e ou fração de complemento in vivo. Método em tubo - Preparar uma suspensão de hemácias à 5% em solução salina, transferir para outro tubo uma gota da suspensão de hemácias e lavar três vezes com solução salina. Após a lavagem pingar duas gotas do soro antiglobulina humana (preferencialmente poliespecífico), ou de acordo com a rotina estabelecida pelo serviço, homogeneizar, centrifugar e ler observando a presença ou ausência de aglutinação. Página 1 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Out/2011 Resultados Negativos (TAD): pingar uma gota de suspensão de hemácias sensibilizadas (reagente comercial - hemácias previamente sensibilizadas e utilizadas na rotina para validação dos testes com antiglobulina humana pelo método em tubo), homogeneizar, centrifugar e fazer a leitura. O resultado deste controle tem que ser positivo (presença de aglutinação), para que o teste seja validado. Se o resultado do controle for negativo o teste é inválido, portanto deve ser repetido. Resultados Positivos (TAD): indica presença de anticorpos na superfície da hemácia (sensibilização in vivo). Devem ser avaliados e relacionados com o diagnóstico do paciente, com a terapia medicamentosa do momento e com a história transfusional. Nos pacientes que apresentam resultado positivo é importante investigar sinais de hemólise in vivo, transfusão de sangue recente, fazer um teste de antiglobulina indireta (TAI) para investigar anticorpos no soro do paciente, verificar uso de medicamento e que medicamento está usando, verificar se recebeu transfusão de componentes plasmáticos ABO incompatível e outros fatores que possam ser relevantes para o diagnóstico associado ao resultado encontrado. O Teste de Antiglobulina Direto (TAD) está indicado para investigação de: 1. Anemias Hemolíticas Autoimunes; 2. Anemias Hemolíticas Induzidas por Drogas; 3. Doença Hemolítica Perinatal; 4. Reações Hemolíticas Transfusionais; 5. Transfusão de sangue ou componentes contendo plasma ABO-incompatível; 6. E outras situações mais específicas que são detectadas após criteriosa avaliação clínica para identificar a causa do TAD positivo. As amostras de sangue para realização do TAD devem ser colhidas em EDTA e o teste deve ser feito o mais rápido possível. A amostra não deve ir para geladeira antes do resultado final, evitando que anticorpos presentes no plasma sejam adsorvidos às hemácias resultando em resultados falsos negativos. A amostra com resultado de TAD positiva, deve ser submetida ao procedimento de eluição, que consiste em remover os anticorpos que estão causando a sensibilização na membrana da hemácia. A eluição pode ser feita por diversas técnicas. antiglobulina, se poliespecífica ou monoespecífica, deve ser definida pelo Serviço de acordo com as características dos pacientes atendidos no serviço. Resultados Negativos (TAI): pingar uma gota de suspensão hemácias previamente sensibilizadas (reagente comercial) usadas na rotina para validação dos testes com antiglobulina humana (Teste de Coombs) pelo método em tubo, homogeneizar, centrifugar e fazer a leitura. O resultado deste controle tem que ser positivo (presença de aglutinação), para que o teste seja válido. Se o resultado do controle for negativo invalida o teste, portanto, deve ser repetido. Resultados Positivos (TAI): indica a presença de anticorpo irregular (tipo IgG) e/ou fração de complemento na amostra teste. Todos os resultados positivos devem ser informados por escrito: - Ao médico solicitante (do paciente ou da gestante); - Ao doador de sangue, juntamente com os resultados de sorologia; - Mulher em idade fértil que, independente do Fator Rh, deve receber esclarecimento para que, em possíveis gestações, possa informar imediatamente ao médico que vai acompanhar o pré- natal. Principais causas de resultados positivos: - Transfusões de sangue e/ou hemocomponentes; - Gestação; O teste de antiglobulina Indireto (TAI) é utilizado para: - Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) em doadores de sangue e/ou pacientes, utilizando um conjunto de hemácias comerciais com perfil antigênico conhecido; - Prova de compatibilidade (prova cruzada) em teste prétransfusional; - Titulação de anticorpos tipo IgG; - Identificação de Anticorpos Irregulares (IAI) utilizando um painel de hemácias com perfil antigênico conhecido; Fenotipagem de hemácias utilizando anti-soros comerciais com especificidade definida. - Fenotipagem de hemácias utilizando anti-soros comerciais com especificidade definida. Teste de Antiglobulina Indireto (TAI) O TAI, também conhecido como Teste de Coombs Indireto, é capaz de detectar a presença de anticorpo irregular no soro (do tipo IgG). É um teste de grande importância para monitorar principalmente mulheres Rh negativo em período gestacional. As mulheres Rh negativo tem maior probabilidade de ser aloimunizadas por gestação. A maioria da população é Rh positiva (aproximadamente 85%), justificando a alta incidência de filhos Rh positivo com mães Rh negativo. Método em tubo - Para realizar este teste é necessário um conjunto de células (hemácias comerciais em suspensão à 5%) com perfil antigênico conhecido e capaz de detectar a maioria dos anticorpos de importância clínica. A técnica consiste em colocar uma ou duas gotas do soro a ser investigado junto com uma gota da suspensão das hemácias comerciais (conforme orientação do fabricante). O período de incubação à 37ºC pode variar conforme reagentes utilizados, é importante seguir sempre a técnica recomendada na instrução de uso do fabricante. Após o período de incubação lavar três vezes com solução salina duas gotas do reagente antiglobulina humana (conforme instrução do fabricante). O tipo de Esquema - Mostra as hemácias sensibilizadas por imunoglubulinas IgG e sendo ligadas pela antiglobulina humana promovendo a reação de aglutinação. Página 2 de 3 Questionário - Proficiência Clínica Área: Imunohematologia Rodada: Out/2011 Principais fatores que afetam o teste da antiglubulina: Temperatura - A temperatura ótima para detecção de anticorpos tipo IgG é de 37ºC, que é também uma temperatura ótima para ativação de complemento. Os testes de antiglobulina indireto devem ser incubados à 37ºC. Tempo de incubação - (1) Hemácias suspensas em salina o tempo pode variar de 30 a 120 minutos; (2) Usando a técnica de LISS, o tempo de incubação pode variar de 10 a 150 minutos. Usando LISS, o tempo de incubação não deve exceder a 40 minutos, a incubação prolongada pode eluir os anticorpos das hemácias. 6. Tubos sujos; 7. Centrifugação excessiva para leitura; 8. Células poliaglutinantes; 9. Anticorpo conservante-dependente em reagentes LISS; 10. Anticorpos contaminantes no reagente de globulina antihumana. Resultados falso - negativos 1. Lavagem inadequada ou imprópria de células; 2. Reagente de antiglobulina humana não reativo devido a neutralização; Lavagem das células - Para os realizar os TAD e TAI é necessário lavar as hemácias com salina, no mínimo por três vezes, antes de adicionar a antiglobulina humana. A lavagem das hemácias tem como objetivo retirar as globulinas séricas livres no meio, a lavagem inadequada ocasiona neutralização da AGH resultando numa reação falso-negativa. 3. Reagente de antiglobulina humana não adicionado; 4. Soro em teste não reativo por perda da atividade do complenmento; 5. Soro em teste não reativo por perda da atividade do complenmento; Uso incorreto do polietilenoglicol (PEG) – (1) É usado como aditivo para aumentar a captação de anticorpos. Sua ação é remover a água, concentrando efetivamente o anticorpo. O reagente (AGH) de escolha deve ser o anti-IgG para evitar resultados falso - positivos. A utilização do PEG pode causar agregação de hemácias com resultados falso - positivos quando centrifugado logo após a incubação. Para evitar resultados falso - positivos é necessário lavar o teste imediatamente após a incubação; (2) A performance do PEG é comparada ao LISS, entretanto, resultados indicam que o PEG dobra a detecção de anticorpos clinicamente significativos enquanto diminui os não significativos clinicamente. 6. Condições de incubação inadequadas no teste de antiglobulina indireto (TAI); 7. Concentração da suspensão de hemácias inadequada, muito alta ou muito baixa; 8. Centrifugação inadequada, muito forte ou muito fraca; 9. Leitura inadequada na hora ressuspender o botão de hemácias para leitura; Adição da antiglobulina humana - A antiglobulina humana deve ser acrescentada às hemácias imediatamente após a lavagem, evitando eluição do anticorpo das hemácias e como consequência, neutralizando a antiglobulina humana, resultando em reação falso - negativa. O volume do reagente adicionado ao teste deve seguir a instrução do fabricante do reagente. Centrifugação para leitura - As centrífugas devem ser calibradas e validadas para diversas necessidades de centrifugação definidas por cada laboratório. Para centrifugação de botão de células recomenda-se usar 1.000 de força centrífuga relativa (FCR), durante vinte segundos. A centrifugação é fundamental para conclusão dos resultados. Centrifugação mais alta gera resultados mais sensíveis, porém dependendo da forma que o botão é ressuspenso, o resultado pode ser falso - positivo fraco (por ressuspensão inadequada) ou ter um resultado falso - negativo se a suspensão for vigorosa. As condições ótimas de centrifugação devem ser determinadas para cada centrífuga. Causas de Erros nos Testes de Antiglobulina Humana – Teste de Coombs Resultados falsos-positivos 1. Amostra refrigerada e/ou coaguladas são inadequadas podem aderir complemento in vitro; 2. Hemácias com autoaglutinação; 3. Contaminação bacteriana da amostra, na salina para lavagem ou pipetas utilizadas para o teste; 4. Reagente de hemácias utilizadas para antiglobulina indireta com TAD positivo; 5. Salina contaminada por metais pesados ou sílica colidal; testes Importante: Todas as reações negativas nos testes de antiglobulina humana pelo método em tubo devem ser validadas com adição do reagente de hemácias sensibilizadas com anticorpos IgG. Após a adição desse reagente o teste deve ser homogeneizado e centrifugado. Depois da centrifugação fazer uma nova leitura. Teste válido: resultado positivo (aglutinação de pelo menos 1+). Teste inválido: resultado negativo (ausência de aglutinação) Repetir o teste da AGH. A causa mais comum de erro é a lavagem inadequada, reagente AGH não reativos e falha na adição do reagente AGH. BIBLIOGRAFIA • Resolução - RDC Nº 57, de 16 de dezembro de 2010. • Portaria MS nº 1.353, de 13 de junho de 2011. • HARMENING, D. Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4ª ed. Ed. Revinter. . 2006. • DANIELS, G. Human Blood Groups. 2ª ed. Blackwell Science. 2002. de Página 3 de 3