“O título deste concerto coreográfico é sugestivo. Paulo Ribeiro submete as suas próprias criações (ou mais precisamente os títulos das suas criações) a uma lógica do jogo de ‘scrabble’. Do ponto de vista da construção coreográfica, o jogo é certamente outro. Os corpos têm um grau de plasticidade superior ao das palavras, e os movimentos uma fluidez maior do que frases literárias. Não existe remontagem do repertório, no sentido estrito do termo, nem tão-pouco uma simples reciclagem de materiais. Ou melhor, existe tudo isto, mas mais do que isto. A relação com as peças não é uma espécie de revisitação de memórias, antes é conduzida como uma revisão do plano coreográfico a partir de uma nova planificação de materiais. Este labor, conduzido por Leonor Keil, juntamente com os músicos e com o próprio Paulo Ribeiro, resulta numa peça interessante, autónoma, que aos olhos do espectador não obriga à identificação das citações. Este é de resto um dos aspectos que facilita a recepção de Memórias de Um Sábado com Rumores de Azul.” DANIEL TÉRCIO – “Concerto coreográfico”. Expresso (7OUT05). “Crítica aberta à mediocridade vigente, Memórias… não podia, portanto, deixar de ser um brutal manifesto do coreógrafo contra as instituições e os decepadores engravatados da cultura em Portugal. Mas, fora isso, Ribeiro volta a criar uma peça de extraordinária força física e corpos entrelaçados – como só ele sabe –, brilhante nos planos de conjunto, no uso de adereços, na acidez trespassante e na forma dissimulada com que esconde por trás de um movimento doce, quase necessariamente, um outro violento. Com um acompanhamento musical ao vivo por Nuno Rebelo e Vítor Rua igualmente notável – e o regresso à certeza íntima de saber-se que Leonor Keil continua a ser a mais extraordinária e expressiva das nossas bailarinas –, estas Memórias… são mais uma superior prova de inteligência artística por parte de Paulo Ribeiro. Porque estes 10 anos foram isso mesmo.” GONÇALO FROTA – “A Coreografia-Manifesto”. Blitz (4OUT05). “Para além do título, acaba por ser a temática, adaptada à realidade actual, que liga este espectáculo aos que lhe estiveram na base. Sábado 2 fala de um desejo sexual vibrante reprimido pela sociedade e pela Igreja; Rumor de Deuses é uma peça ritual que explora a ligação entre o corpo e o divino; Azul Esmeralda aproxima o homem de algo que o transcende e faz referência a fanatismos; e, por último, Memórias de Pedra fala de algo que nos é intimamente próximo, Portugal, ‘que é um pouco disto tudo’. A escolha destas quatro peças teve a ver precisamente com os temas que as interligam.” ANA LEONOR MARTINS – “Memórias de um Sábado com Rumores de Azul”. Magazine Artes (NOV05). “Paulo Ribeiro cria com o coração. É da energia dos bailarinos que se serve, para gerar movimentos, vozes… sketches cómicos e momentos dramáticos. O coreógrafo trabalha corpos consistentes, como se fossem resistências vivas de universos esmorecidos.” CLÁUDIA ALMEIDA – “Canto Amargurado”. Jornal de Letras (13SET05). The pushed body New pieces from P.R. and Antony Rizzi at Mousonturm A forced energy pushes even up the walls At first a group of people lines up for photo shots, but soon it´s been fragmented, being pushed apart by dubious forces, so that everyone has to twitch on his own. These days P.R. shows “Memories of a Saturday with blue whispers” at Mousonturm in Frankfurt: a choreography which almost doesn´t whisper at all. Even the faces are participating by pulling faces, when a nervous energy passes through the body. At times such a forced energy, that a dancer runs up the walls. Nuno Rebelo and Vitor Rua are driving the dancers live with mostly 2 electric guitars. Parts of the movement vocabulary do seem coquettish, playfully, but above all these bodies express despite at a loss. The people P.R. shows are charged of electricity. Sometimes they are overthrown by lightning speed, at other moments they go desperately into hysteria, but mostly they twitch, kick and spin- dancers on the brink of a nervous breakdown. And when they stand still for once, their look is all- consuming sad, or blood runs off their mouth, which they later wash off quite untouched. Life might be tough, but at the end they have the power. “forza”, force is the nevertheless – keyword at this “memories with blue whisper”. Choreographers from 2 repealed dance companies The Portuguese choreographer P.R. was the artistic director of the Portuguese Gulbenkian Ballet, which has been put to an end last year. ……………………… The 2 works of this evening are on a razor edge, questioning, who has the power over the dance? The dancer or a force which dances them. FRANKFURTER RUNDSCHAU / 6.2.2006 Courageous into the future P.R.s borderline walk, dancewise at Mousonturm. It´s a view which the Portuguese choreographer P.R. dares to take, mostly a friendly one. A view out of an uncomfortable situation, loaded of violence- but full of irony and optimism. P.R. calls his almost one hour lasting piece “Memories of a Saturday with blue whispers”, which for him is meant to indicate and to look back to the 10 years of existence of the company. At the weekend the dancers have been guests at the Mousonturm in Frankfurt. “Memories” along moments, which have been danced, along themes and tendencies, subjects and aesthetic in images. For this piece P.R. is inspired by quotations, he takes out of 4 older pieces. Light and uninhibited. “Together with the dancers of that time, and with the experiences of the common years, we want to take the challenge, ready to be surprised by the process of developing itself”, comments the former Director of the Gulbenkian Ballet. “The past is the fundament for the future”. That sounds interesting, because on one side P.R. points the contemporary ballet into an observing role. When the dance starts to quote itself; and when the aesthetic, to think about oneself, rises, then the future starts. This does P.R. with an blinking eye. At first he designs pictures full of aggressions on the model of older choreographies, a mirror of a society, which takes itself apart. 7 dancers,2 musicians – yes, it may be allowed to play music live again. And the dance becomes again a reaction on the acoustical environment. P.R. draws sketches of violence nourished by interpersonal relations, and by the end he leaves a little superstar back on stage, who starts to quote all the hits of all those icons. On the other hand P.R. guides the ballet a bit back again, to jump full of energy into a new aesthetical form. The times of description and self reflection seem to be past. It may be allowed to dance again. Only a few contemporary choreographers combine in such an opulent way the sub- and the high culture, weave the popular dance with house, electronic and R´n´B. And what do we learn out of it? At least, that dance can be clearly more, than the pondering deconstructing over self reflections of heavy problems. Let´s float into the future. CHRISTIAN RUPP; OFFENBACH_ POST 10.02.2006