ficha técnica TNSJ coordenação de produção Maria João Teixeira assistência de produção Eunice Basto, Maria do Céu Soares, Mónica Rocha direção de palco (adjunto) Emanuel Pina direção de cena Cátia Esteves, Ana Fernandes luz Abílio Vinhas, José Rodrigues, Nuno Gonçalves maquinaria Filipe Silva (coordenação), Adélio Pêra, António Quaresma, Carlos Barbosa, Joaquim Marques, Joel Santos, Jorge Silva, Lídio Pontes, Paulo Ferreira som João Oliveira, Joel Azevedo, José Menezes vídeo Fernando Costa apoios MEXE parcerias MEXE patrocínios MEXE O MEXE é um projeto financiado por apoios TNSJ apoios à divulgação agradecimentos TNSJ Câmara Municipal do Porto Polícia de Segurança Pública Mr. Piano/Pianos Rui Macedo equipa MEXE Abel Sousa, Alexandra Silva, Ana Luísa Castelo, Aurora Mendes, Bárbara Parente, Claire Binyon, Conceição Fonseca, Cristina Queirós, Emanuel Gomes, Hélder Nogueira, Hugo Bonito, Hugo Cruz, Hugo Gomes, Hugo Silva, Inês Castanheira, Irene Oliveira, Irene Serafino, Ivo Dias, João Albuquerque Barbosa, Léa Oliveira, Luís Tiago, Luísa Bezerra, Margarida Sousa, Maria Gil, Maria João Mota, Maria Vasquez, Nuno Patrício, Patrícia Costa, Patrícia Poção, Paulo Brás, Raquel Veiga, Rodolfo Sá Pereira, Sérgio Anjos, Sónia Passos, Tiago Ralha, Valter Araújo, Wilma Moutinho, equipa da Embaixada Lomográfica do Porto, equipa do TeCA/TNSJ, equipa da Galeria de Paris e equipa da Junta de Freguesia do Bonfim. A todas estes acrescentam‑se todos os dias mais e mais que não se nomeiam neste espaço, mas que contribuirão intensamente para a grande festa que é o MEXE. PELE – Espaço de Contacto Social e Cultural Fábrica da Rua da Alegria Rua da Alegria, 341 4000‑047 Porto www.apele.org [email protected] [email protected] facebook.com/pages/Pele‑Espaço Teatro Nacional São João Praça da Batalha 4000‑102 Porto T 22 340 19 00 Teatro Carlos Alberto Rua das Oliveiras, 43 4050‑449 Porto T 22 340 19 00 Mosteiro de São Bento da Vitória Rua de São Bento da Vitória 4050‑543 Porto T 22 340 19 00 www.tnsj.pt [email protected] edição Departamento de Edições do TNSJ coordenação João Luís Pereira, Ana Almeida design gráfico Studio Dobra fotografia Patrícia Poção (MAPA – O Jogo da Cartografia), Júlio Silva Castro (Dez Mil Seres), Juliana Pinho (Criaturas), Kees Deenik (Meysara) impressão Multitema Não é permitido filmar, gravar ou fotografar durante os espetáculos. O uso de telemóveis ou relógios com sinal sonoro é incómodo, tanto para os intérpretes como para os espectadores. MEXER para transformar O grande Encontro Internacional de Arte e Comunidade regressa ao Porto em 2015, afirmando‑se como um dos espaços incontornáveis em Portugal e na Europa de cruzamento e contaminação das pujantes práticas artísticas comunitárias. Este ano, o MEXE mexe com a nossa ideia de multiculturalidade numa Europa profundamente dividida e confronta‑se com a necessidade urgente de reflexão sobre as práticas artísticas comunitárias no espaço‑tempo que vivemos. Na sua terceira edição, o MEXE encontra pela primeira vez o acolhimento‑âncora de um equipamento cultural da cidade – o Teatro Carlos Alberto/TNSJ. Esta cumplicidade oportuna não invalida a continuidade da vocação do Encontro para o espaço público, antes pelo contrário, permite o aprofundamento de projetos na sua programação que contemplam abordagens distintas e com outro tipo de recursos. Esta edição mantém igualmente, com grande esforço mas coerente com os seus princípios, a preocupação de acesso às diferentes áreas de programação de públicos diversos, mantendo a gratuitidade da maior parte das ações e, nos casos de entrada paga, um preço simbólico. À semelhança de anos anteriores, o MEXE organiza‑se em quatro grandes componentes que ganham outras formas em 2015: oficinas, espetáculos, o Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias e a Mostra de Documentários. Nesta edição, as três oficinas de teatro e música focam‑se nas comunidades com quem a PELE tem vindo a desenvolver trabalho nos últimos oito anos, nomeadamente no Centro Histórico do Porto, Lagarteiro e Lordelo do Ouro. Destaque para o Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias, uma coorganização inédita do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Évora, ESMAE/IPP e PELE. Este Encontro irá decorrer nos dias 9 e 10 de setembro e tem como objetivo promover a reflexão, considerando a importância que estas práticas têm vindo a adquirir no seio das criações artísticas contemporâneas, entendendo‑se estas como indissociáveis das manifestações e experiências sociais e culturais das comunidades. Exposição coletiva A abertura da temporada 2015‑16 no TNSJ celebra uma outra abertura – a do exercício das artes à comunidade. Acolher, nos nossos vários espaços e palcos, as experiências artísticas de cariz comunitário do programa MEXE representa um modo festivo, ainda estival, de inaugurar a nossa programação. É uma exposição coletiva, um momento em que a coletividade se mostra e diz de si. Este programa festivo não exclui uma reflexão crítica, antes a reclama, e isso é fundamental. Estas práticas artísticas pró‑sociais, de carácter político (no sentido mais nobre do termo), arriscam‑se à instrumentalização, a tornar‑se objeto de apropriações mais ou menos populistas, o que requer atenção. Sistematizar experiências comunitárias de carácter diverso num programa único, associando‑lhe um encontro internacional que reúne teóricos e fazedores, vem favorecer precisamente o desenvolvimento de um pensamento crítico, a consolidação de um corpo teórico, a partilha de metodologias, em suma, a realização de um balanço, na dupla aceção da palavra: avaliação sistemática e movimento livre para novo salto. Curiosamente, a iniciativa MEXE antecipa, no calendário nacional, o mais comunitário dos atos cívicos – as eleições –, no qual, desejavelmente, as escolhas de cada um mexem com o rumo do coletivo. Ocasião para afirmar o exercício das artes como um exercício democrático de cidadania. Nuno Carinhas Diretor Artístico do TNSJ Os espetáculos que compõem a programação desta edição chegam ‑nos de companhias nacionais de reconhecida qualidade na área do teatro, dança e música, destacando‑se o consistente coletivo Dançando com a Diferença e a inspiradora coprodução Criaturas do Teatro O Bando e Teatro dos Barris, entre outros. O espetáculo internacional de um grupo constituído por mulheres turcas e marroquinas, Meysara, que aborda o tema do feminino na perspetiva muçulmana, preenche intencionalmente a noite de 11 de setembro. Destaque ainda para o grupo húngaro Színpad AHA, constituído por pessoas sem‑abrigo, que nos coloca em contacto com uma cultura pouco conhecida para os portugueses, quando se erguem, no agora, muros numa Europa blindada pelo medo. A Mostra de Documentários contempla uma estreia absoluta, Cidadãos de Corpo Inteiro, filme sobre o processo de construção de MAPA – O Jogo da Cartografia, uma criação da PELE que envolveu cerca de cem pessoas do Porto e que fecha o MEXE com a sua última apresentação. Esta Mostra revela ainda outros projetos nacionais e internacionais, experiências estimulantes da Argentina e Brasil, do campo de refugiados de Jenin na Palestina e de uma prisão na Irlanda do Norte. Destaquem‑se ainda nesta edição a extensão do festival a Rio Tinto e a parceria consolidada com o ICAF – International Community Arts Festival de Roterdão (Holanda). Este é o espaço para reforçar um imenso agradecimento aos parceiros formais e informais, à equipa incansável deste Encontro e a todos os cidadãos que se implicam de diferentes formas e intensamente na realização do mesmo. Este é o tempo de MEXER, é o tempo de transformar. Hugo Cruz Diretor Artístico da PELE Cidadãos de Corpo Inteiro Dez Mil Seres Estreia do documentário TeCA · 9 set · qua 21:00 TNSJ · Salão Nobre · 8 set · ter 21:00 direção e coreografia Clara Andermatt realização, captação e edição Patrícia Poção pós‑produção áudio João Correia coprodução PELE, TNSJ dur. 1:33 MAPA – O Jogo da Cartografia música original, colaboração na dramaturgia e estereogramas Jonas Runa figurinos e desenho de luz Maurício Freitas Lançamento do livro interpretação Aléxis Fernandes, Bárbara Matos, Joana Caetano, Mickaella Dantas, Rui João Costa, Sofia Marote, Telmo Ferreira com Ana Luísa Castelo, Cristina Queirós, Isabel Menezes, Nuno Carinhas, Regina Guimarães edição PELE produção Associação dos Amigos da Arte Inclusiva – Dançando com a Diferença Cidadãos de Corpo Inteiro encerra e descodifica um processo de trabalho de cerca de dois anos que resultou em MAPA – O Jogo da Cartografia. O documentário revela diferentes fases da criação deste espetáculo, que emergiu com base no trabalho desenvolvido e consolidado no Porto, pela PELE, nos últimos sete anos e que se reflete na criação e continuidade de grupos de teatro comunitário (Grupo AGE, Grupo Auroras/Lagarteiro, Grupo de Teatro Comunitário EmComum/Lordelo do Ouro, Grupo de Teatro Comunitário da Vitória/Centro Histórico e Grupo de Teatro de Surdos do Porto). Durante esta labuta de cartografar, no seu caminho e na sua forma de fazer, houve ainda espaço para questionar o teatro e a cidadania como pilares da democracia. Porquê, como e com quem fazemos teatro comunitário? Criaturas TeCA · 10 set · qui 21:00 a partir de Este Azul que nos Cerca de Dulce Maria Cardoso dramaturgia e encenação João Neca cenografia Fátima Santos, João Neca desenho de luz Guilherme Noronha música Filipe Freire figurinos Clara Bento com Isabel Atalaia, Margarida Mata, Sara Rodrigues, Paula Gato apoio à oralidade Sara de Castro apoio à corporalidade Juliana Pinho apoio à encenação Edgar Costa interpretação Ana Penas, Carmo Franco, Cristina Sampaio, Edgar Costa, Filipe Freire, Gil Sidaway, Manuela Sampaio, Rafaela Miranda criação Teatro dos Barris parceria Teatro O Bando estreia 8Nov2012 Centro das Artes Casa das Mudas (Madeira) dur. aprox. 50’ M/3 anos Olho a primeira vez e vejo um padrão plano, repetitivo, limitado. Olho mais fundo e vejo com outra nitidez, acedo a um lugar misterioso onde encontro outras formas, um número infinito de variações. Vejo o pormenor, o recorte, a filigrana que emana luz interior. É preciso tempo, espera, espaço, repouso e vontade no querer ver… Agora, já dentro desse outro lugar, descubro seres estranhos que se dedicam a ações, a que só a imaginação consegue dar sentido. Desta vez foi um processo distinto, mas continuei com a mesma intenção em desafiar os limites, os deles e os meus, afinal é assim que se aprende e que nos vamos aprofundando em nós e no conhecimento do que nos rodeia. Iniciámos este processo fora do estúdio. Caminhos, trilhos, serra, mar… Vimos esculturas, pedras preciosas e rudes, sentimos a chuva, abrigámo‑nos do calor, pisámos a terra, as pinhas, cheirámos as folhas, ouvimos os sons, imitámos as árvores e os pássaros, tocámos na lama. Apercebemo‑nos dos pormenores, do espaço e do tempo. Despertámos os sentidos, descobrimos novos sentidos e questionámos o aparente sem sentido. Aproximámo‑nos das Coisas! Foi uma viagem labiríntica em direção ao pormenor, esse que não tem fim, que se vai subdividindo até ao desconhecido infinito. Há outras formas de ver, de pensar, de ouvir, de rir, de fazer e de viver. Basta estar em perpétua criação. Clara Andermatt Uma viagem labiríntica em direção ao pormenor É a segunda vez que trabalho com o Grupo Dançando com a Diferença e novamente me dou conta da importância deste projeto, e do prazer que tenho em criar para este elenco. estreia 11Abr2015 Vale dos Barris (Palmela) dur. aprox. 1:00 M/6 anos Não somos iguais, não nadamos no mesmo mar e atravessamos o mundo a fingir o contrário, obcecados pela cor dominante: o azul cinzento. Uma ilha de faroleiros, um azul que os cerca, uma obsessão de isolamento, uma aparente tranquilidade num lugar onde o bem é quase impossível. Quando a beleza de uma mulher invade tudo, conhecemos melhor uma maldade primitiva, o animalesco lugar onde sempre voltamos quando é tudo um jogo, quando está tudo em causa. João Neca Esta cor que nos cerca Estamos todos muito apertados. Cada vez mais próximos, cada vez menos juntos. E por isso o Teatro, este sítio onde nos encontramos e procuramos o outro com outro tempo. Mais exíguo ainda é o espaço para a diferença, para sentir o mundo de outra cor. Corrompemos e somos corrompidos, contaminamos e somos contaminados, e coibimo‑nos de afirmar a diferença fundamental: o que nos distingue das outras criaturas. P.S. – Inesquecíveis estes momentos em que os sonhos se concretizam. Uma gratidão eterna a quem, comigo, acreditou tanto. Meysara TeCA · 11 set · sex 21:00 texto e direção Jasmina Ibrahimovic interpretação Fatima Lamkharrat, Jaoualia Ouazizi, Leyla Cakir produção Rotterdams Wijktheater (Holanda) dur. aprox. 1:00 M/12 anos Espetáculo programado em parceria com o ICAF – International Community Arts Festival de Roterdão. Três enérgicas e vivazes jovens muçulmanas holandesas de origem turca e marroquina procuram apresentar‑se da melhor forma ao público: a todos vós. Consideram‑se incorretamente representadas na atual sociedade holandesa e ocidental, onde estereótipos e imagens mediáticas negativas as privam da própria identidade. Juntamente com os espectadores, tentam descobrir novas maneiras de se apresentarem. Existirá alguém fora do seu próprio contexto? Dependerá aquilo que somos da imagem que os outros têm de nós? Será que existo sem o outro? Usando apenas as suas memórias de infância e pequenas imagens frágeis do seu passado, procuram reconstruir a sua identidade através de flashbacks, voltando ao passado para o comentar. Meysara baseia‑se nas vidas das três atrizes, cujas histórias são transformadas num texto dramático e encenadas profissionalmente. Partilhar histórias é uma das mais importantes armas contra a alienação de que estas mulheres dispõem. Meysara é uma resposta tocante, por vezes cómica e esperançosa, a uma Holanda, e talvez mesmo a uma Europa, que parece cada vez mais dividida e alienada no seu âmago. MAPA – O Jogo da Cartografia TeCA · 13 set · dom 21:00 Criação coletiva direção Hugo Cruz texto Regina Guimarães (a partir de criação coletiva) grupo de dramaturgia Ana Luísa Castelo, Elisabete Moreira, Hugo Cruz, Irene Oliveira, José Brochado, Margarida Sousa, Maria Gil, Maria João Mota, Susana Madeira assistência de direção Susana Madeira direção musical Bruno Estima músicos Factor E (Óscar Rodrigues, Pedro Augusto, Tiago Oliveira) grupos convidados Arquicoro, Coro Sénior da Fundação Manuel António da Mota, Grupo de Percussão do Centro de Iniciativa Jovem, Orquestra Comunitária de Lordelo do Ouro – ADILO direção técnica e desenho de luz Wilma Moutinho desenho de som Tiago Ralha, Pedro Augusto cenografia Hugo Ribeiro figurinos Lola Sousa, Nuno Encarnação vídeo e fotografia Patrícia Poção registo escrito do processo Ana Luísa Castelo intérprete de língua gestual Raquel Veiga produção executiva Maria Vasquez interpretação Grupo AGE, Grupo Auroras/ Lagarteiro, Grupo de Teatro Comunitário EmComum/Lordelo do Ouro, Grupo de Teatro Comunitário da Vitória/Centro Histórico, Grupo de Teatro de Surdos do Porto Alexandra Silva, Alida Rocha, Ana Silva, Angelina Correia, Aurora Mendes, Conceição Mesquita, Cristina Queirós, Elisabete Moreira, Elisa Fonseca, Elisabete Sousa, Emanuel Gomes, Fernando Lagos, Glória Ribeiro, Henrique Ribeiro, Hermínia Silva, Hugo Bonito, Hugo Freitas, Hugo Silva, Irene Oliveira, Isaura Morais, Jó Costa, Joana Silveira, José Brochado, Luís Oliveira, Luísa Fonseca, Margarida Sousa, Maria Angelina Pinho, Maria Gil, Mariana Gil, Maria João Mota, Maria José Costa, Maria José Paiva, Marília Guimarães, Nuno Colaço, Patrícia Queirós, Paula Baptista, Ricardo Cottin, Salvador Gil, Serafim Heitor, Sérgio Anjos, Sofia Gomes, Vicente Gil coprodução PELE, Casa da Música, TNSJ estreia 31Out2014 Mosteiro de São Bento da Vitória (Porto) dur. aprox. 1:00 M/12 anos Espetáculo traduzido em língua gestual. Um mapa maravilhosamente instável O teatro é a poesia que sai do livro para descer à rua. Federico García Lorca A PELE separa o que está dentro daquilo que está fora. Até há menos meses do que os dedos de uma mão, eu não sabia o que havia por detrás do nome. Até desconfiava um bocado de uma superfície de contato tão vasta, por razões que não vêm ao caso… Surgiu o Hugo Cruz com uma proposta da qual ainda levei um tempo a perceber os contornos exatos. Ou seja: qual podia ser o meu papel num projeto de espetáculo que a PELE já estava a levantar. Agarrar o pássaro em voo, em suma. PAPEL E PELE. Foi‑me desde logo bastante claro que o trabalho oficinal de escrita não podia, por limitações temporais e minhas, configurar‑se como lugar aberto inscrito numa longa duração. Como fazer então para apanhar o comboio de criação do texto em marcha, mobilizar para essa matéria todos os contributos de todos os participantes de todos os grupos, em tempo útil e sem frustrar as expectativas de pessoas que eu nem conhecia? Felizmente nasci escriba feliz, e o teatro, território de infindáveis aprendizagens, ajudou ‑me a aprofundar e variar as maneiras da escuta – do escrever com, do escrever para, do escrever a partir, do escrever sem… Este palavreado serve sobretudo para esclarecer que a menção “texto de Regina Guimarães a partir de criação coletiva” corresponde, na verdade, à solução pela qual se enveredou. A saber: com base num esboço de guião, num projeto de cenografia, no imperativo de casar elementos do teatro grego com componentes atuais ou perenes, nas inúmeras sugestões fornecidas pelos numerosos intérpretes‑autores, na súmula feita pela equipa de dramaturgia, nas maquettes destinadas aos três hinos das três tribos, nos abundantes desenhos e mapas, tentei fabricar uma sequência de cenas, não demasiado extensa, que abarcasse tudo isso e de tudo isso um pouco, contemplasse uma forte dimensão coral e se articulasse em torno da ideia de cartografia construída ao vivo e em tempo real. Entretanto, a vida é mais generosa do que, por vezes, a pintamos: os poucos ensaios a que consegui assistir permitiram colocar caras e vozes e corpos nas deixas, afetos e argumentos nas situações. Algumas correções de trajetória, algumas reorganizações dos vários momentos, alguma reflexão sobre a especialização e as polifonias e, por fim, o trabalho cometido entregue nas mãos de quem o desejou e delineou. Mais vale 2, 20, 200 pássaros a voar do que uma ave cativa de uma mão. O norte magnético deste texto vosso/nosso é um conceito de cartografia em movimento, de mapa maravilhosamente instável para uma cidade encalhada. Pode isso parecer contraditório com a própria noção de representação gráfica de um território. Acredito que a transposição para cena a que o público vai assistir provará visceralmente que assim não é. Neste momento particular em que o Porto sai de uma era merceeira de fechamento doentio e de colapso promovido a orientação política para mergulhar de cabeça numa fase fashion e tudo‑para‑turista‑ver, a reflexão sobre o devir da velha urbe e seus muitos corações periféricos é tão útil como respirar. Porque a disneylandização em curso pode rapidamente transformar os habitantes em figurantes e a cidade em cenário, como pressagiava o sociólogo Jean‑Pierre Garnier, com quem tive o prazer de privar. Quem melhor do que as populações instaladas e/ou mantidas à margem para questionar, com conhecimento de causa e efeito, os processos de decadência e de “requalificação” de uma cidade? Quem melhor do que os insatisfeitos para transformar cada farrapo em bandeira de esperança? Atrevo‑me a recomendar que atentem no facto de que as queixas, as amarguras, as mágoas, os protestos, as contestações, as rejeições, os gritos, etc. no Jogo da Cartografia nunca são comodistas, interesseiros, gananciosos ou autocentrados, muito embora espelhem o mais fielmente possível os desabafos e os sonhos de indivíduos singulares. O Jogo da Cartografia inventou‑se com base num exercício de democracia participativa, embora ninguém lhe tenha colado essa etiqueta. Possa ele sacudir a poeira de alguns preconceitos acerca das aspirações dos cidadãos. E possa a PELE aproximar o que está dentro daquilo que está fora. Regina Guimarães Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias TeCA · Sala de Ensaios e Sala de Vidro · 9+10 set qua+qui 9:30‑19:00 coorganização PELE, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Évora, Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo O Encontro Internacional de Reflexão sobre Práticas Artísticas Comunitárias pretende refletir a diversidade das práticas artísticas comunitárias. Como tal, a sua organização contempla espaços de reflexão académica mais sistematizada, assim como espaços de partilha de perspetivas e troca de experiências num registo de maior informalidade. Objetivos Investigar práticas artísticas comunitárias no contexto internacional, identificando o papel social que desempenham e as formas estéticas utilizadas. Promover o intercâmbio e parcerias entre projetos artísticos comunitários nacionais e internacionais. Analisar as criações artísticas que reflitam processos de transformação cultural, social e comunitária. Estimular a investigação e criação de pensamento crítico e científico sobre projetos comunitários de cariz artístico. Analisar questões relacionadas com a postura ética e política a adotar na intervenção artística na comunidade. Aprofundar os moldes de desenvolvimento da investigação académica na prática artística. Água ECOAR Exposição de fotografia TeCA · 9 set · qua 20:30 de Paulo Pimenta produção PELE Um olhar sobre os processos de criação artística em três estabelecimentos prisionais pelo fotojornalista Paulo Pimenta, que acompanha o desenvolvimento do projeto ECOAR – Empregabilidade, Competências e Arte, promovido pela PELE durante o ano de 2015. Paulo Pimenta é um fotojornalista português que trabalha atualmente no jornal Público. Em 2010, ganhou o prémio Fotojornalismo Estação Imagem, o único prémio de fotojornalismo atualmente existente em Portugal, com o trabalho sobre a desativação da linha ferroviária do Sabor. Comédias do Minho El Quijote Silêncio Oficina TeCA · Sala de Ensaios · 11 set · sex 10:00‑13:00 Matemurga orientação Marco Ferreira duração 3 horas “Existe no silêncio tão profunda sabedoria que às vezes ele transforma‑se na mais perfeita resposta” (Fernando Pessoa). O convite é feito para explorar a singularidade artística do silêncio, através de uma reflexão criativa das suas potencialidades de consciência e transformação social. Num processo altamente colaborativo, embarcamos numa viagem interior pelo universo particular do silêncio. Arriscar contar histórias escondidas, atrever confrontar o outro através da expressão teatral, com o seu poder, o seu perigo e a sua segurança. Ficar no silêncio, através da imagem do teatro, dizer a verdade, ouvir o outro, como se o fizéssemos pela primeira vez. Descobrir um silêncio que releva, intui, denuncia e captura a realidade. The Journey of a Freedom Fighter Mickey B Mostra de Documentários TeCA · Sala de Ensaios · 11‑13 set 11 set · sex 15:00 12 set · sáb 15:00 13 set · dom 15:00 Água El Quijote The Journey of a Freedom Fighter realização e montagem Eva Ângelo imagens vídeo Eva Ângelo, Hélder Cardoso, João Vladimiro, José Barbieri, Rafael Del Rio, Gonçalo Crespo montagem de som e misturas Quico Serrano tradução Rui Pena correção de cor Paulo Américo produção executiva Inês Barahona coprodução Artemrede – Teatros Associados, Terratreme Filmes (Portugal) dur. 1:24 realização Daniel Brazil direção de fotografia Cesar Zanetti assistentes Bruno Carretero, Edmilson do Nascimento edição Gabriela Trama, Renata Palheiros vinhetas Gabriela Trama locução Daniel Alves tradução Nicolás Monasterio produção executiva Renato Sakata produção VIATV – Comunicação e Cultura (Brasil) dur. 30’ realização e montagem Mohammed Moawia direção de fotografia Mohammed Moawia, Mustafa Staiti interpretação Rabea Turkman produção executiva Fida Qishta produção Ashish Ghadiali, Mohammed Moawia, Howard Brenton, Jessica Harvey‑Smith, Uday Jhunjhunwala (Palestina) dur. 31’ Um documentário realizado a partir do espetáculo VALE, uma coreografia de Madalena Victorino com música de Carlos Bica, em terras do Vale do Tejo. Um olhar sobre os encontros entre pessoas vindas da dança, do teatro, da música e pessoas de comunidades locais com outras idades, rotinas ou profissões. Um retrato onde a água se transforma e nos leva ao que somos quando todas estas pessoas se juntam. O processo de montagem do espetáculo multicultural El Quijote foi documentado pela equipa da produtora brasileira VIATV – Comunicação e Cultura. Em outubro de 2009, idiomas, cores e culturas de doze países entrelaçaram‑se para narrar a história do Cavaleiro da Triste Figura, o clássico de Miguel de Cervantes adaptado para o teatro por Santiago Garcia, com direção de César Badillo, ambos do coletivo Teatro La Candelaria (Colômbia). Comédias do Minho realização e imagem Paulo Menezes captação de som Armanda Carvalho, Ricardo Leal montagem Maria Joana Figueiredo, Paulo Menezes mistura de som Tiago Matos correção de cor Marco Amaral diretor de produção João Matos produção Terratreme Filmes (Portugal) dur. 1:20 Paulo Menezes acompanhou as Comédias do Minho durante quase todo o ano de 2012 e fez um filme pelos concelhos de Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Valença e Vila Nova de Cerveira, documentando um território comum invadido pela criação artística. Um ponto de vista sobre a descentralização e adaptação do teatro e outras atividades culturais ao Vale do Minho, uma região única no mundo. Journey of a Freedom Fighter acompanha Rabea Turkman na sua jornada de combatente na resistência armada a combatente na resistência cultural. Ele juntou‑se à resistência armada durante a Segunda Intifada palestiniana e, mais tarde, recomendado por um amigo combatente, decidiu juntar‑se ao Freedom Theatre no campo de refugiados de Jenin, durante a amnistia de 2007. O Freedom Theatre acolhe uma comunidade artística vibrante e criativa no norte dos territórios ocupados da Cisjordânia, explorando o potencial das artes performativas como um importante catalisador de mudança social. Matemurga realização Leticia Schilman (Argentina) imagens Aimará Schwieters, Luciana Favit, Graciela Stuchlik, Carlos Valsecchi, Sonia Jaroslavsky, Carlos Nascimbene, Mario Siniawski fotografia Laura Lafit, Julio Locatelli, Red de Fotógrafos de Teatro Comunitario, Claudia Lafit, Emilio Altieri, Gisela Halier, Roberto Ferriello, Leandro Sánchez dur. 30’ Este documentário conta a história do grupo de teatro comunitário argentino Matemurga entre 2002 e 2012. Desde 2006 que o grupo trabalha em Villa Crespo (Buenos Aires), onde pratica um teatro da comunidade para a comunidade, de vizinhos para vizinhos. Em outubro de 2004, estreou a primeira versão de La Caravana, uma história da resistência a partir de canções da memória coletiva, espetáculo que tem sido apresentado em fábricas, escolas, salas de teatro, encontros de teatro comunitário e com o qual participou em inúmeras ações de defesa dos direitos humanos. Mickey B realização Tom Magill guião Tom Magill, Sam Mcclean, Jason Thompson direção de fotografia Angus Mitchell montagem Dean Hagan produção Educational Shakespeare Company (Irlanda do Norte) dur. 1:02 Uma multipremiada adaptação de Macbeth, de William Shakespeare, escrita e interpretada por presos de Maghaberry, uma prisão de alta‑segurança situada na Irlanda do Norte. Mickey B é um dos exemplos mais expressivos do trabalho desenvolvido pela Educational Shakespeare Company, uma instituição focada no envolvimento de pessoas marginalizadas nas artes. Através do teatro e do cinema, desafiam preconceitos, combatem a exclusão social e mudam vidas. O no TNSJ III Encontro Internacional de Arte e Comunidade organização PELE colaboração TNSJ O TNSJ É MEMBRO DA