Sobre design gráfico e
teatro: uma aproximação
por Marcos Corrêa*
* designer gráfico (Ato Gráfico Design) do projeto Memória Tá Na Rua
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Como desenvolver um projeto visual para um grupo de teatro que tem o discurso de
não seguir “a lógica de produção de cartazes, folders, fichas técnicas e outros elementos convencionais
do teatro, porque nunca compactuou com a fragmentação do fazer artístico”?
Como pensar visualmente/narrativamente um todo aparentemente caótico?
Essas e muitas outras questões, transitaram por nossas cabeças, mãos e olhos.
Mergulhando e impregnados de idéias, textos, fotos, desenhos, fotolitos e arte-finais
antigas, cartazes (bem poucos), conversas, histórias e estórias, iniciamos o desenvolvimento
da visualidade do grupo Tá Na Rua.
A primeira fase do projeto compreendeu a identidade visual, sítio eletrônico, dvd (capa
e rótulo), livro, a presente revista e o material de divulgação do(s) lançamento(s) destes
produtos culturais, coincidentemente (ou não...) no aniversário de 71 anos de Amir Haddad.
Este artigo dá uma pincelada nos processos de construção da identidade visual e do livro.
Não nos estendendo em prolegômenos técnico-formais, vamos nos ater, rapidamente
(escrevo este artigo no dia do fechamento da revista, automaticamente, num café...), aos
conceitos que nortearam esse jogo, esse repertório, esse universo visual peculiar: um grupo de
teatro de rua, um coletivo de pesquisa, um experimento cênico. Partindo de alguns detalhes
sobre o logotipo, podemos sintetizar os conceitos deste projeto:
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UFNB
mesma altura, inclusive o acento agudo se transforma em detalhe interno do caracter
“a” em “Tá” >> a não-diferenciação entre público e atores. a relação/gestão horizontal. a
importância do coletivo
rBTUSËTDPSFTCÃTJDBTFTUÈPRVBTF
TFNQSFQSFTFOUFTo básico, o atávico, o objetivo. das
três cores básicas nascem todas as outras, toda a potência das cores/idéias já existem aqui.
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formais evidentes >> a “tradição”. a coerência de discurso. o pensamento revolucionário. as
idéias que levaram o grupo a escolher este personagem como símbolo persistem ainda hoje. sem
“modernizações” e sem maquiagem, mas revisto e reinterpretado.
Estas idéias básicas permearam também o conceito do livro.
O “livro-trouxa”.
Onde as memórias estarão guardadas. Onde o leitor abra este livro e as idéias/imagens/
cores saltem, como nas cheganças do grupo. Onde a multiplicidade esteja refletida. Onde o
aparente caos formal sugira o improviso, tão presente e fundamentalnas apresentações do
grupo. Onde a coerência e consistência das idéias e pensamentos estejam evidentes nestes
recortes, por vezes teóricos, por vezes emocionados, por vezes históricos, por vezes formais,
por vezes afetuosos.
Estes foram os desejos que perseguimos durante todo o processo.
A contrução do livro começa pela estrutura: o formato da página, as margens, a mancha
gráfica que o texto ocupará, as tipografias, os níveis de leitura (corpo do texto, títulos,
subtítulos, notas, citações, epígrafes, referências, a numeração das páginas, a cabeça da página,
a relação entre texto e imagem, as entrelinhas...)
Uma base racional, uma estrutura lógica.
(pausa)
Um músico (que não me ocorre no momento) dizia algo assim sobre como tocar jazz:
aprenda música, treine solfejos, conheça profundamente seu instrumento. Depois, esqueça
isso tudo e apenas toque.
(retomada)
Pronta esta estrutura, improvisamos com os elementos, partindo de idéias contidas no
texto, do potencial imagético das fotos, de ironias, contrapontos, paradoxos, comentários e
reflexões sobre a matéria-prima.
A estrutura existe ali, invisível quase.
Podemos traçar aqui um paralelo com o modus operandi do grupo com suas rodas de
elaboração, reflexão e pensamento anterior ao trabalho de corpo, música, movimento, cores
e produção de sentido.
E ainda, traçar um paralelo mais profundo com o próprio modus operandi do Ato Gráfico
com grupos de teatro. Mas este é um assunto (longo) para uma outra ocasião...
Refletir sobre estes e outros paralelos possíveis e sobre os processos envolvidos, renderia
mais que o presente (e brevíssimo) artigo. O melhor talvez seja experienciar o livro, pois,
como dizia Fernando Pessoa:
“Sentir? Sinta quem lê!”
(E quem vê, acrescento).
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