Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais 2008 // Samira Kauchakje Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br © 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. K21 Kauchakje, Samira. / Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais. / Samira Kauchakje. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2008. 220 p. ISBN: 978-85-387-0137-8 1. Pesquisa de avaliação (Programas de ação social). 2. Ação social. 3. Projeto social. I. Título. CDD 330.015195 Capa: IESDE Brasil S.A. Crédito da imagem: IESDE Brasil S.A. Todos os direitos reservados. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Samira Kauchakje Pós-Doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Ciências Sociais aplicadas à Educação e Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Especialista em Ecologia Humana pela Unicamp, em Supervisão em Serviço Social e em Metodologia do Serviço Social pela PUC-Campinas. Graduada em Serviço Social pela PUC-Campinas. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Sumário Planejamento: aspectos teóricos e históricos...............................................9 Aspectos teóricos........................................................................................................................................ 9 Aspectos históricos...................................................................................................................................14 Questão social: expressões históricas e atuais............................................25 Questão social............................................................................................................................................25 Questão social e planejamento no Brasil..........................................................................................31 Direitos humanos, econômicos, sociais e culturais e o desenvolvimento......................................................................39 Direitos humanos, econômicos, sociais e culturais.......................................................................39 Desenvolvimento humano....................................................................................................................43 Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais............................................................................57 Atores sociais..............................................................................................................................................57 Os direitos sociais e a responsabilidade dos atores sociais........................................................61 Políticas públicas....................................................................................................71 Políticas públicas: noções gerais..........................................................................................................71 Áreas e setores das políticas públicas................................................................................................77 Ciclo das políticas públicas....................................................................................................................78 Políticas sociais.......................................................................................................85 Políticas sociais: noções gerais.............................................................................................................85 Objetivos e população destinatária e políticas sociais no Brasil..............................................87 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Sistema Brasileiro de Proteção Social.............................................................97 Proteção social: uma prática social e política..................................................................................97 Sistema Brasileiro de Proteção Social..............................................................................................101 Políticas sociais e princípios constitucionais.................................................................................106 Projetos sociais: aspectos teóricos e metodológicos............................. 115 Projetos sociais.........................................................................................................................................115 Etapas e processos..................................................................................................................................122 Rede de parceiros e o planejamento de projetos sociais..................... 129 Identificação dos responsáveis pelo projeto e a articulação de parceiros em rede...............................................................................................130 Rede de parcerias: Estado e organizações da sociedade civil local e internacional...........................................................................................136 Análise da situação social e objetivos......................................................... 145 Análises da situação social: localidade e população-alvo........................................................145 Definição dos objetivos e metas........................................................................................................150 Recursos e gestão de projetos sociais......................................................... 161 Recursos de projetos sociais...............................................................................................................161 Modos de gestão de projetos sociais...............................................................................................165 Avaliação e o processo de planejamento.................................................. 177 Avaliação de projetos sociais..............................................................................................................177 Cronograma de atividades..................................................................................................................183 Roteiro de projeto social.......................................................................................................................185 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Apresentação Nos acostumamos a ouvir a palavra “projeto” nas mais variadas utilizações: seja no que se refere a um “projeto de vida”, um “projeto empresarial”, um “projeto de pesquisa” ou mesmo um “projeto social”. A ampla utilização da palavra “projeto” no nosso cotidiano, muitas vezes equivocada ou leviana, por si só justificaria a importância da presente disciplina se esta se limitasse a tratar da gestão de ações planejadas. Porém, Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais adota um viés muito mais promissor. Em vez de se constituir em um roteiro de procedimentos para o bom andamento dos projetos sociais, busca trazer à tona uma discussão de princípios e temas fundamentais àquilo que se considerou “questão social”. Ao tomar como ponto de partida a constatação das desigualdades e injustiças sociais (mesmo nas variadas sociedades de democracia representativa), o presente livro parte do princípio de que as leis, regras e acordos não são muitas vezes efetivados por obstáculos históricos, políticos, econômicos, gerenciais ou socioculturais, visando contribuir para a sua superação. Por isso, a disciplina busca articular toda a dimensão das políticas sociais para construir seus temas, tratando de direitos humanos, da discussão das implicações das políticas públicas, e portanto, envolvendo-se em uma discussão acerca da democracia e cidadania, sempre tendo como pano de fundo exemplos derivados de contextos históricos, leis, emendas ou declarações internacionais acerca do tema. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br A autora, através da utilização de uma ampla e atual bibliografia, trata do processo de elaboração de um projeto (englobando as metas, objetivos, planejamento e avaliação); das relações entre os diversos atores sociais (Estado, empresas, sociedade civil organizada, movimentos sociais e ONGs); das políticas sociais e suas conexões com os programas e projetos específicos, sem deixar de dar atenção às implicações dos diferentes modos de gestão das ações específicas. Desta forma, o presente livro se constitui como uma importante referência não apenas para os estudantes dedicados às questões sociais, mas também para os cidadãos comprometidos em reivindicar seus direitos e tomar parte ativa na direção da sociedade em que vivem, contribuindo para consolidação e ampliação da democracia. Boa leitura! Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais No planejamento de políticas públicas, programas e projetos sociais há diferentes atores envolvidos. Segundo Oliveira (2006) pode-se considerar o planejamento e elaboração de políticas e projetos como: a) de responsabilidade das autoridades e dos gestores públicos (planejamento centralizado ou não democrático); b) de responsabilidade maior dos atores sociais que implementam as políticas e projetos e, também, da população-alvo dos mesmos; ou c) de responsabilidade tanto dos gestores públicos, implementadores e população (participativo ou democrático). Baumgarten (2002), por sua vez, destaca o planejamento participativo no sentido da parceria com a sociedade civil (em especial com o Terceiro Setor) ou, principalmente no sentido da participação da população diretamente envolvida nas políticas e nos projetos, e por meio de conselhos e movimentos, no sentido do fortalecimento da autonomia como decisão de seus próprios destinos. Observa-se que o planejamento e a implementação de políticas e projetos sociais podem ser centralizados ou podem ser participativos. Atores sociais Os principais atores sociais1 envolvidos no planejamento e implementação de políticas e projetos sociais são: 1. Estado; 2. empresas com responsabilidade social; 3. organizações não governamentais (ONGs); 4. conselhos gestores de políticas e 5. movimentos sociais. 1. O Estado é composto por órgãos e atividades públicas-estatais, denominados do Primeiro Setor por serem, no geral, de direito público e que realizam ações de interesse exclusivamente público. 2. As empresas de direito privado, no geral possuem fins lucrativos, mas mesmo quando isto não ocorre desenvolvem atividades de interesse privado e com1 Por ator social compreende-se organizações, grupos de pessoas ou indivíduos que estão envolvidos de alguma forma no processo de planejamento. Em termos gerais, ator social aqui tem um sentido similar à agente social em Giddens (1989) que esclarece que as ações sociais envolvem poder e, desta forma, supõe agentes com capacidade transformadora – agentes sociais na produção e reprodução da vida social. Mas também, o termo tem o sentido próximo a de sujeitos sociais, compreendidos como partícipes da construção da experiência pessoal e social, conforme Touraine (1994). Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 57 põem o Segundo Setor. Segundo Simões, fazem parte do campo da implementação de programas e projetos sociais as empresas que se comprometem “não apenas pela qualidade física do produto, mas agora por meio da incorporação de um valor ético (por meio da atuação pró-ativa pela cidadania, causas sociais, meio ambiente e outras) às marcas empresariais”. Estas empresas passaram a compreender “responsabilidade social como conduta ética, com atitudes socialmente responsáveis na deliberação e execução de suas ações, incluindo relações com a comunidade, empregados, fornecedores, meio ambiente, governo, consumidores, mercado e acionistas”. (SIMÕES, 2007, p. 418-425) 3. As ONGs2, associações e fundações de direito privado, que realizam ações de interesse público, sem fins lucrativos compondo o denominado Terceiro Setor. As ONGs podem ser classificadas3 em: ativistas – que participam e fomentam as lutas por direitos e realizam projetos de educação e assessoria para os grupos populares e aos movimentos sociais. As ONGs IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), FASE (Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional), Terra de Direitos, Greenpeace, entre outras são exemplos; 58 Divulgação: SOS Mata Atlântica. Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais de produção de conhecimento – que organizam e divulgam conhecimento sobre temas socioambientais e políticos principalmente. A FASE é um exemplo, apoiando inclusive publicações e organizações como o Observatório das Metrópoles4; 2 3 4 Para aprofundar o conhecimento sobre as Organizações Não Governamentais (ONGs) e Terceiro Setor ver Lei n. 9.637 de 15 de maio de 1998. Sobre classificações e diferenciações entre as Organizações Não Governamentais ver Gohn (2000); Scherer-Warren (2006); e Kauchakje (2007). Ver<www.fase.org.br/_fase/pagina.php?id=4>. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Tora Mârtens. de prestação de serviços – que realizam ações destinadas à oferta de serviços e de bens materiais e educacionais, por exemplo, que têm à seguinte subdivisão geral: ONGs cuja motivação é a ajuda e solidariedade humanitária; ONGs confessionais que são ligadas a Igrejas e norteadas por princípios religiosos. São exemplos destas instituições, respectivamente, as APAES e a Pastoral da Criança. Alexandre Silva. empresariais – que são ligadas a empresas para o desenvolvimento de atividades na maioria de caráter socioambiental, como a Fundação O Boticário, a Fundação Bradesco e a Fundação Roberto Marinho. Importante observar com Scherer-Warren (2006) que, na realidade, as ONGs ativistas e prestadoras de serviços têm mesclado cada vez mais seus perfis e objetivos, havendo aquelas que conjugam a defesa ativa de direitos, o envolvimento com movimentos sociais e a prestação de serviços à população, como é o caso do CEFURIA (Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo) em Curitiba-PR que participa e ativa movimentos populares e presta serviços como o de disponibilizar a venda de produtos artesanais criados por participantes de clubes de troca e economia solidária. 3.1 No universo do Terceiro Setor há também as OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público5, que podem ter acesso aos recursos pú5 Lei 9.790/99. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais Fundação O Boticário. 59 blicos federais, estaduais e municipais por meio do termo de parceria. Para firmar a parceria é necessário o concurso de projetos, dispensando o processo de licitação. Assim, [...] as OSCIPs são organizações privadas, cujas atividades o Poder Público reconhece serem de interesse público [...] na execução de projetos, programas, planos de ações correlatas, por meio de doação de recursos físicos, humanos e financeiros ou ainda na prestação de serviços intermediários de apoio a outras organizações sem fins lucrativos e a órgãos do setor estatal que atuem em áreas afins. (SIMÕES, 2006, p. 386) Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais 4. Os conselhos gestores de políticas são instâncias de participação social no planejamento, na elaboração e no controle das políticas públicas. Existem conselhos que são deliberativos e outros apenas consultivos. Para algumas políticas como de assistência social, saúde e educação os conselhos são paritários (possuindo iguais representantes, em termos do número de membros da sociedade civil e governamental) e deliberativos. A existência dos conselhos, nestas políticas, condiciona inclusive o repasse das verbas orçamentárias. Existem outros tipos de conselhos que influenciam a condução das políticas como os Conselhos Tutelares, que atuam junto à rede de proteção da criança e do adolescente; os Conselhos Populares, formados em torno de temas que mobilizam setores da população (como saúde, segurança) e os Conselhos Comunitários, geralmente formados por associações de bairro e movimentos populares dedicados a ações reivindicatórias.6 O Conselhos Popular de Saúde da Zona Leste de São Paulo ou de Diadema7 ilustram a conjunção de características de conselhos popular e comunitário e ao mesmo tempo de influência nas políticas, pois, a própria Lei Orgânica da Saúde (LOS) estabelece a obrigatoriedade de haver conselhos nacionais, estaduais e municipais da Política de Saúde, e possivelmente os conselhos gestores da política de saúde no município e estado de São Paulo têm ações em conjunto ou debates com os conselhos populares citados. 60 5. Os movimentos sociais são uma forma de ação coletiva cujo objetivo é organizar e expressar demandas sociais e políticas para a defesa de interesses de grupos e coletividades e, também, para apresentar propostas de sociedade e direcionar a vida social. Desde pelo menos o século XIX, os movimentos sociais têm sido um dos protagonistas que demandam a legislação e elaboração de políticas sociais, tais como as leis trabalhistas que estipularam as horas de trabalho, férias e bases salariais; à políticas de saúde, previdência social e educação. No Brasil as greves de trabalhadores de 1917 e dos anos 1950 causaram mudanças na legislação e nas condições oferecidas ao trabalho, sendo que as greves de 1978/1980 durante o Regime Militar tiveram impacto no movimento pela redemocratização do Brasil. Além dos movimentos dos trabalhadores, outros exemplos são os movimentos feministas, ecológicos, dos negros, pela moradia, pela paz etc. 6 Sobre tipos de conselhos ver Gohn (2001), Tatagiba (2002) e Kauchakje (2002). 7 Algumas informações no site <www.cmdiadema.sp.gov.br/blogs/index. php?blog=5&title=conselho_popular_de_saude_toma_posse_hoj_28&more=1&c =1&tb=1&pb=1>. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Os direitos sociais e a responsabilidade dos atores sociais Ao longo dos principais marcos históricos das sociedades que adotaram alguma forma de planejamento social, observa-se que no final do século XIX e, sobretudo, entre 1940 e 1970, o ator principal no processo de planejamento, elaboração e implementação de políticas e projetos sociais foi o Estado; nas décadas de 1980 e 1990 houve um ambiente de descrédito quanto à regulação e intervenção social do Estado, sendo que a ênfase recaiu sobre as ações sociais da sociedade civil (especialmente nas ONGs e nas ações de responsabilidade social de empresas) ou em parceria com esta; e nos primeiros anos de 2000 há uma tendência para legitimar as políticas e projetos sociais estatais com a participação da sociedade civil, isto é, nos quais [...] os atores sociais/sujeitos coletivos presentes na arena política são corresponsáveis na implementação de decisões e respostas às necessidades sociais. Não é que o Estado perca a centralidade na gestão social, ou deixe de ser o responsável na garantia de oferta de bens e serviços de direito dos cidadãos; o que altera é o modo de processar esta responsabilidade. A descentralização, a participação, o fortalecimento da sociedade civil pressionam por decisões negociadas, por políticas e programas controlados por fóruns públicos não-estatais, por uma execução em parceria e, portanto, publicizada. (CARVALHO, 1999, p. 25) Por isso, é importante frisar, Estado e sociedade civil não se confundem em competências e atribuições na direção política, pois ao Estado cabe a legislação, a regulamentação e os recursos financeiros e administrativos das políticas públicas às quais os projetos sociais estão atrelados. E a sociedade civil tem potenciais de mecanismos de participação e controle8 das ações do Estado, para incluir novas demandas que modificam as legislações e políticas, bem como, para implementar e executar as políticas e projetos. Pode ser observada, inclusive, uma espécie de divisão de tarefas entre o Estado e as organizações da sociedade civil da seguinte forma: legislar é próprio do Estado com influência de movimentos sociais, fóruns e ONGs ativistas e prestadoras de serviço; o mesmo ocorre quando da formulação das políticas, sendo que para algumas (por exemplo, saúde, assistência social, educação, criança e adolescente) os conselhos de políticas públicas e de direitos são uma exigência da lei; 8 A sociedade civil possui mecanismos e espaços de participação e controle das ações do Estado como: conselhos, audiência pública, orçamento participativo, plebiscito, referendo, iniciativa popular, ONGs, além dos movimentos sociais (GOHN, 2001; AVRITZER & NAVARRO, 2003; KAUCHAKJE, 2005a e 2005b). Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais Quer dizer, nos dias de hoje o Estado figura como um dos componentes do planejamento, elaboração e implementação de política, ainda que um componente privilegiado em termos dos recursos e competências no âmbito da legislação e do próprio planejamento, ou seja, ao Estado compete, ainda quando de forma participativa, legislar e planejar as políticas públicas. 61 na implementação das políticas, programas e projetos sociais comparecem o Estado e ONGs de prestação de serviços, principalmente; no controle mútuo das ações desenvolvidas são predominantes o Estado, ONGs ativistas, conselhos e fóruns de políticas. Além destes, o Ministério Público é outro ator importante; na fiscalização, conforme suas competências, estão o Estado e conselhos de políticas e de direitos e o Ministério Público; e com relação ao financiamento há a concentração de meios e recursos do Estado seja porque transfere os recursos para os atores da sociedade civil ou porque realiza incentivos fiscais para que estes atores participem de ações sociais. Nesta divisão de tarefas os seus atores principais, todavia, se entrecruzam, chocam e compartilham atividades e influências. Isto pode ocorrer quando o Estado interfere com sua força institucional nas decisões dos conselhos, enquanto estes também podem alterar as decisões tomadas nos gabinetes sobre as políticas públicas; as ONGs ativistas colocam novos temas para as decisões na formulação de leis e das políticas e ao mesmo tempo buscam recursos e apoios públicos para suas atividades. Neste sentido, Simões (2006, p. 404) chama a atenção que Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais [...] na concepção do Estado Democrático de Direito, instituído pelo Art. 1 da Constituição de 1988 [...] o interesse público não se restringe ao mínimo estatal, sendo reconhecido também em inúmeras atividades [...]. A democracia exige o reconhecimento público de um amplo setor de atividades privadas, porém consideradas de interesse social. Além disso, implica a ampla participação das classes e dos grupos sociais, socialmente organizados, nas decisões políticas. [...] o Estado assume inúmeras atividades, consideradas de interesse social e, por outro lado, a sociedade civil participa ativamente das atividades estatais, tanto no Legislativo, quanto no Executivo. 62 Mesmo as ações sociais executadas pelas associações e fundações do Terceiro Setor têm o sentido de assegurar os direitos de cidadania, pois estas organizações, mesmo que privadas, realizam atividades de interesse público e recebem recursos públicos e incentivos fiscais para isto. O Terceiro Setor, embora sem fins lucrativos, não deixa de ser uma atividade econômica pela qual o desenvolvimento social é concebido como resultado de investimento na área social e cultural. [...] o Poder Público investe capital para impulsionar as entidades e organizações que se dedicam à prestação de serviços nas áreas de saúde, educação e assistência social, defesa de direitos de grupos específicos da população, trabalho voluntário, proteção ao meio ambiente, concessão de microcréditos e outros [...] É uma economia de investimentos sociais, subordinados às políticas públicas e, portanto, adstritos aos princípios públicos da legalidade [...] com práticas de gestão administrativas proibitivas de obtenção individual ou coletiva, de quaisquer benefícios ou vantagens pessoais dos dirigentes. (SIMÕES, 2006, p. 433) Di Pietro observa que há o risco de que os direitos sociais sejam fragilizados e os recursos públicos mal utilizados devido à Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br [...] transferência de serviços públicos sociais para entidades privadas, acompanhada da transferência da res pública, para ser administrada sob regime jurídico próprio da empresa privada. O sucesso dessa forma de parceria dependerá em grande parte da eficiência do controle. Se este não for estruturado de forma adequada, os direitos do cidadão e a proteção da res pública poderão ficar seriamente comprometidos. (DI PIETRO, 1998, p. 4) Mais explicitamente, a autora preocupa-se com o risco de que o repasse de recursos financeiros e de responsabilidades com os serviços públicos para as organizações e entidades da sociedade possa significar uma forma de privatização do que é público. Para ela este risco [...] decorre exatamente do surgimento de entidades paraestatais, pelo fato de o Estado a elas transferir atividades, bens públicos, móveis e imóveis, e mesmo parcelas do orçamento do Estado, que ficam sob a gestão de tais entidades. Várias ideias norteiam o surgimento dessas entidades: a de que elas ficarão livres das amarras do direito administrativo, especialmente licitação e concurso público; ficarão livres dos controles formais que hoje incidem sobre as entidades públicas e sujeitarse-ão apenas a controle de resultados, com a participação da própria sociedade; e a ideia de que o seu relacionamento com a Administração Pública se dará normalmente por meio de contratos de gestão, nos quais se estabelecem as exigências mínimas a serem atendidas e a forma de controle. Resultado: é a res pública que está sendo privatizada, porque está sendo posta nas mãos do particular para ser administrada, pretensamente, no interesse público. (DI PIETRO, 1998, p. 3) Apesar das atividades do Terceiro Setor estarem inseridas legalmente nas políticas públicas, quer dizer, nos direitos dos cidadãos, o repasse de recursos e serviços públicos para entidades e organizações da sociedade civil pode colocar em risco a base do Estado de Direito Social e Democrático, ou seja, “de um Estado em que os direitos fundamentais do homem constituem a própria razão de ser do Estado” (DI PIETRO, 1998, p. 3). Em outras palavras, um Estado que se justifica, em parte, pela proteção de direitos, inclusive pela oferta pública de serviços sociais à população. Se isto não fica claro nem para os membros das entidades e organizações sociais, nem para a população, então a despeito do aspecto legal, na prática das relações sociais os programas e projetos sociais são deslocados para fora do campo dos direitos, e são interpretados e executados como ajuda e benesse destinadas às pessoas a quem se nega a cidadania e são tratados como excluídos, marginalizados, necessitados ou carentes. Como lembra Telles (2000), ajuda é passível de agradecimento, mas direito pode ser exigido. Entretanto, apesar do risco de que recursos e incentivos públicos sejam confundidos e utilizados como privados, é possível também observar as potencialidades dos Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais Mas há ainda outro risco que requer atenção para que, de fato, direitos possam ser assegurados: as ações realizadas devem não apenas ser fiscalizadas e controladas como públicas, mas também precisam ser divulgadas e consideradas pelas próprias pessoas que a realizam e para a população como sendo uma atividade com caráter público de direito e não como caridade ou boa vontade daqueles que fazem parte das ONGs, por exemplo. 63 projetos sociais participativos, haja visto que organismos estatais e entidades, organizações e empresas nacionais e internacionais9 têm catalisado investimentos para projetos sociais participativos em localidades, incentivando e potencializando de recursos as comunidades locais em atividades tais como: promoção dos direitos humanos, prevenção à violência, alimentação solidária, economia solidária e ajuda humanitária (SANTOS, 2001). Estes arranjos em alianças e redes sociais podem ser vistos como forma de enfrentamento da questão social local (fome, pobreza, migração forçada por perseguições étnicas ou políticas, desemprego, entre outras) que é gerada pelas políticas e economias locais e também pela economia e conflitos mundializados. O planejamento de políticas e projetos sociais compartilhados com a sociedade civil nacional e internacional ganha, assim, o caráter de solidariedade política diante da questão social. Entretanto, tais iniciativas, cabe repetir, para contribuir com o desenvolvimento de capacidades e liberdades humanas devem, necessariamente, ser reafirmadas como direitos das pessoas seja em termos dos direitos de cidadãos em seus países ou em termos dos direitos humanos (SANTOS, 2001). TEXTO COMPLEMENTAR Pessoas jurídicas podem ser de Direito Privado ou de Direito Público Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais (SIMÕES, 2007, p.341-430) 64 São de Direito Privado todas as que são criadas por particulares, a saber: as associações, as sociedades (simples ou empresariais), as fundações, as organizações religiosas e os partidos políticos. Observe-se que também são de Direito Privado aquelas [...] em que o Estado participe em sociedade com empresas privadas ou mesmo como único proprietário, sob a forma de empresa pública ou sociedade de economia mista; e ainda as fundações, mesmo quando por ele instituídas. [...] São de Direito Público todos os entes instituídos pelo Estado, em nível federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. [...] O conjunto das atividades desenvolvidas por estes entes constitui o que se denomina do setor público ou estatal [...]. A lei pode declarar que as atividades de uma pessoa jurídica de Direito Privado sejam de interesse público e, por isso, devam ficar subordinadas ao controle do Poder Público. [...] Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Deve ficar claro, portanto, que determinadas pessoas jurídicas, de natureza privada, podem ter atividades ou finalidades que o Estado declare de interesse público, mas não se tornam entidades estatais. Tecnicamente, por isso, a denominação correta, em nossa opinião, é setor estatal, em vez de setor público, quando quisermos nos referir às pessoas jurídicas de Direito Público. A denominação de setor público é mais ampla, pois engloba tanto o setor estatal, quanto as pessoas jurídicas de Direito Privado, cujas atividades sejam declaradas de interesse público. [...] no setor privado, as pessoas jurídicas dividem-se em duas categorias: as que têm finalidades de lucro e as que não têm fins lucrativos. [...]. As entidades e organizações sem fins lucrativos apresentam grande variedade de nomes, como centros, instituto, ação, associação, sociedade, fundação, movimento, educação e outros. [...] As sociedades com fins lucrativos têm atividades econômicas do tipo empresarial e por objetivos a partilha dos resultados entre os sócios. [...] As sociedades sem fins lucrativos são aquelas cujo objetivo social, expresso em seus atos constitutivos, é a prática de atos civis não empresariais, sem visar lucro. [...] Para que assim se configurem [há] uma série de exigências, dentre elas, as mais importantes, a de não remunerarem, de qualquer forma, direta ou indiretamente, os seus dirigentes, pelos serviços prestados; e aplicarem integralmente os seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais e outros. [...] As associações, em seu conceito amplo, são [...] organizadas segundo seus estatutos, com a finalidade de atingirem a satisfação de certos interesses sociais não lucrativos, sejam eles sindicais, religiosos, cooperativistas, políticos, partidários, filantrópicos, assistenciais, esportivos, artísticos, científicos, habitacionais, de pesquisa ou outros. [...] A fundação [...] é uma entidade de Direito Privado, sem fins lucrativos, instituída por pessoa particular ou pelo Estado, denominado de instituidor, mediante uma dotação especial de bens livres, que ficam vinculados a uma determinada finalidade [...]. Esta finalidade somente poderá ser religiosa, moral, cultural ou de assistência. [...] costuma-se denominar de pública quando o Estado é seu instituidor; e de privada quando seu instituidor ou fundador é uma pessoa física ou jurídica privada. [...] Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais As sociedades sem fins lucrativos, embora possam apresentar uma grande diversidade de nomes e por estes serem conhecidas, em última análise, reduzem-se a duas categorias: as associações e as fundações [...]. 65 Conceituação de atividades sociais em setores O Primeiro Setor [...] é o conjunto das atividades do Estado consideradas essenciais ao interesse público e de sua exclusiva responsabilidade, como a administração da justiça, a elaboração e aprovação das leis e o poder de polícia. [...] O Segundo Setor é o da sociedade civil, concebido pelo conjunto das atividades privadas, com finalidades estritamente particulares, da indústria, comércio, bancos, agronegócios, clubes, escolas, sindicatos, cooperativas, associações e uma infinidade de serviços em geral [...] inclusive sem fins lucrativos, mas cuja natureza não afeta, necessariamente, ao interesse público. [...] Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais Passou-se a denominar de Terceiro Setor o conjunto de atividades não estatais ou governamentais constituídas de pessoas jurídicas de Direito Privado, sem fins lucrativos, que se dedicam ao fornecimento de serviços de assistência, saúde e educação, pesquisa, construção de moradias, hospitais, clubes, creches, meio ambiente, museus, bibliotecas, filantropia, idosos, crianças carentes, portadores de deficiência e outros, considerados de interesse público. [...] a Constituição adota diversas denominações acerca das entidades e organizações sem fins lucrativos [...] No conjunto, denomina-se de entidades e organizações sociais o universo de instituições de Direito Privado, sem fins lucrativos, autônomas em relação ao Estado, mas cujas atividades são de interesse público. 66 [...] os recursos do Terceiro Setor advêm de três fontes: da própria sociedade civil (nacional ou estrangeira) ou de financiamentos diretos ou indiretos do Poder Público. Os diretos formulam-se sob diversas modalidades de convênios, contratos ou termos de parceria, com vistas a implementar ações de interesse social; os indiretos mediante incentivos tributários, por meio de imunidade ou isenção tributária (privilégios fiscais). Uma outra tendência manifesta-se nos setores empresariais [...] A responsabilidade social configura-se, assim, como o exercício sistemático de ações e estratégias, visando à implementação de canais de relacionamento entre a empresa, seu público e o próprio futuro da sociedade. [...] (por meio da atuação próativa pela cidadania, causas sociais, meio ambiente e outras) Esta atividade, como se vê, não integra as atividades do Terceiro Setor, porque efetivada por empresas privadas, com fins lucrativos e cujas atividades não são reconhecidas pelo Estado, em regra, como tendo fins públicos. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br ATIVIDADES 1. Quais são os principais atores sociais envolvidos no planejamento e implementação de políticas e projetos sociais? Quais deles compõem o Primeiro, o Segundo e o Terceiro Setor? 2. Quais são os tipos de ONGs e suas características? Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 67 3. Pesquise em equipe os projetos sociais que estão sendo implementados em seu município. Escolha um projeto e entregue um trabalho de até duas páginas contendo: a. nome e local do projeto; b. quem são os atores sociais (não se trata aqui de pessoas, mas sim dos nomes das organizações e entidades envolvidas no projeto); c. neste projeto escolhido classifique os atores que você identificou no item (b). Isto é, quais atores são do Primeiro, Segundo e Terceiro Setor. Faça uma lista dos atores sociais por setor. Quando houver um órgão que não se encaixe em nenhum setor coloque num item separado (outros). Lembre-se: não copie textos de sites da internet ou dos documentos dos projetos sociais, escreva as informações com suas próprias palavras. Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais 68 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 69 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br Gabarito Atores sociais e o planejamento de políticas e projetos sociais 1. Os principais atores sociais envolvidos no planejamento e implementação de políticas e projetos sociais podem ser dispostos em cinco classes: 1. Estado, 2. empresas com responsabilidade social, 3. organizações não governamentais (ONGs), 4. conselhos gestores de políticas e 5. movimentos sociais. Destes, os órgãos do Estado compõem o Primeiro Setor, as empresas o Segundo Setor sendo que o Terceiro Setor é constituído pelas organizações não governamentais (ONGs) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs). 2. Os tipos de ONGs são: a. as ONGs ativistas – que participam e fomentam as lutas por direitos e realizam projetos de educação e assessoria para os grupos populares e aos movimentos sociais. b. as ONGs produtoras de conhecimento – que organizam e divulgam conhecimento sobre temas socioambientais e políticos principalmente. c. as ONGs de prestação de serviços – que realizam ações destinadas à oferta de serviços e de bens materiais e educacionais, podendo estas ser divididas em 1) ONGs cuja motivação é a ajuda e solidariedade humanitária e 2) ONGs confessionais que são ligadas a Igrejas e norteadas por princípios religiosos. d. as ONGs empresariais – que são ligadas a empresas para o desenvolvimento de atividades na maioria de caráter socioambiental, como a Fundação O Boticário, a Fundação Bradesco e a Fundação Roberto Marinho. Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br 3. Duas páginas contendo um texto dos próprios alunos (não serão aceitas cópias de sites ou de documentos) com as seguintes informações: a. nome e local do projeto; b. nomes das organizações e entidades envolvidas no projeto; Elaboração e Planejamento de Projetos Sociais c. separação nos itens Primeiro, Segundo, Terceiro Setor e outros. Cada organização ou entidade deverá ser colocada em um dos itens. Quando houver um órgão que não se encaixe em nenhum setor coloque num item separado (outros). Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br