Escola Básica e Secundária de Velas AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS DO SÉCULO XIX-XX O liberalismo pôs fim ao Antigo Regime em todo o mundo ocidental, mas não garantiu a igualdade preconizada: * o regime representativo legitimava o poder dos governos liberais, mas limitava mediante a adopção do voto censitário o exercício de soberania popular. Apenas uma elite participava na vida política. Estavam excluídas as camadas populares (assalariados rurais e urbanos), a pequena burguesia, as mulheres e os negros; * A elegibilidade dos cidadãos não era reconhecida a todos os eleitores e dependia da fortuna pessoal. Os cargos políticos não eram remunerados e, por isso, muitos cidadãos embora elegíveis, estavam impossibilitados de se candidatarem por razões económicas; * O bicameralismo com a supremacia da câmara não electiva sobre a câmara dos deputados eleitos contrariava os princípios da soberania popular; * A dificuldade de implantação dos partidos com ideias contrárias aos interesses dos grupos sociais dominantes favoreceu a hegemonia das facções políticas burguesas representadas pelos partidos liberais. As fracas divergências que separavam estas facções garantiam a estabilidade do regime liberal sem sobressaltos mediante a alternância no poder (rotativismo liberal) que perdurou até às primeiras décadas do século XX; * O sistema eleitoral não garantia a representação partidária na proporção dos votos obtidos e muitos cargos políticos dependiam de sufrágio indirecto. A instrução e a informação são condições fundamentais para a consolidação de qualquer democracia. Era, por isso, necessário formar cidadãos para o exercício consciente do direito de voto. Quadro I: O analfabetismo em 1900-1901 ANO 1900 1901 PAÍS Inglaterra Bélgica Áustria Espanha Portugal Roménia França Itália % 7,5 3,9 35,6 63,8 78,6 82,6 25,6 56 Anuário Estatístico, 1903 Ao contrário dos liberais oitocentistas preocupados com o ensino secundário, os democratas dos fins do século XIX e princípios de XX, estão interessados no alargamento do ensino secundário a fim de garantir a cada homem o exercício do seu direito de cidadania. O ensino primário conheceu, deste modo, um incremento sem 1 precedentes em vários países e o analfabetismo recuou a ritmo acelerado, atingindo níveis relativamente baixos. (quadro I). A França sob o impulso de Jules Ferry, ministro da instrução Pública estabeleceu a escolaridade obrigatória e gratuita. A Bélgica, a Itália e a Grã-Bretanha adoptaram idênticas medidas durante o último quartel do século XIX. A 1ª República Portuguesa concedeu também atenção especial ao ensino primário. O ensino secundário e superior não foi menosprezado e expandiu-se, abrangendo um número cada vez mais elevado da população. Permaneceu, todavia, reservado aos grupos sociais mais abastados. A universalidade, a obrigatoriedade e a gratuidade do ensino favoreceram a difusão da propaganda política e ideológica através de panfletos, cartazes, jornais e contribuíram para a valorização e a expansão da imprensa. As tiragens dos grandes diários aumentaram vertiginosamente em todos os países de regime democrático mediante o contributo da intensificação da instrução e da redução do preço dos jornais. Os livros e as revistas conheceram também uma expansão considerável, atingindo camadas sociais cada vez mais vastas e heterogéneas. Também o cinema foi encarado pelo poder político, como um instrumento de informação política - ideológica. Os governos liberais defr0ontaram-se nas primeiras décadas do século XX com profundas contradições. A sua doutrina da igualdade revelou-se um autêntico fracasso mediante os resultados alcançados: - O liberalismo económico favorecera os mais ricos em detrimento das camadas populares. O fosso social entre a alta burguesia e o operariado era cada vez mais profunda; - As instituições políticas, eram controladas pela alta burguesia em detrimento da classe média e do operariado. As contradições referidas geraram, nas últimas décadas do século XIX, o descontentamento da pequena e média burguesia, do operariado, contribuindo para o fortalecimento do movimento sindical e dos partidos de esquerda (Partido Socialista Francês; Partido Trabalhista Inglês). Nas primeiras décadas do século XX, a situação dos regimes da democracia liberal agravou-se ainda mais mediante a deterioração das condições de vida das camadas sociais menos favorecidos. Os salários reais caíram no período de 1900-1914. A agitação laboral intensificou-se. O movimento grevista recrudesceu em vários países e os governos liberais recorreram à repressão violenta. Os partidos de esquerda exploraram a situação e desencadearam uma campanha violenta contra os partidos no poder. A eclosão da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) acentuou a sua crise e aprofundou as suas contradições: - a nova situação criada pela guerra obrigou o Estado a interferir na economia, tabelando os preços e os salários, criando pautas aduaneiras proteccionistas, restringindo o consumo e a iniciativa privada, regulamentando a produção; - o poder executivo sobrepôs-se em quase todos os Estados ao legislativo, impondo, em muitos casos, uma ditadura de guerra; - as liberdades individuais foram restringidas, a repressão policial instalou-se, a censura aplicou-se a todos os órgãos de informação. A nova situação criada pela guerra ainda mais as duras condições de vida das camadas mais baixas da sociedade, favoreceu a especulação da burguesia de negócios, contribuindo para a maior agudização das contradições sociais responsáveis por diversas manifestações de rua e pela intensificação da agitação laboral. Os partidos da oposição aproveitam, então, habilidosamente e a reposição das liberdades política. As posições então assumidas pelos partidos de esquerda conquistam a opinião pública e tornam difícil a sobrevivência dos governos liberais. Uma vez assinada a paz, a mudança é inevitável e a conquista do poder ficam ao alcance dos partidos de esquerda. (Adaptado) 2