Tuberculose no final do século XIX em Portugal
Jo an a Cristin a Ro d rigu es Bo rralh o
D issertação para obte nção do Grau d e Mestre e m
Ciências Farmacêuticas
Ju nh o 2014
A so rte f avo re ce ap enas os espí ritos prepa rado s
Pasteur
1
Resu mo
A luta contra a tube rculose n o mun do é um exem plo de com o um en orm e
esforço conj unto da hum ani da de se mostra i nsuficiente pa ra ve ncer um m al
apa re nteme nte ao seu alcance.
N o final d o século XIX, a tu be rculose gan ha protag onismo com o u ma d as
gra nd es pan demi as, acomp anh an do o seu acréscimo d e p erto a revoluçã o
industrial. Esp alh and o-se
p or to do
o m un do
através
da
explo raçã o
e
colonização m as descobri ndo -se tamb ém o seu age nte causa dor, p or R obe rt
Koch em 18 82.
Esta pan demi a p erpassa to do o seculo XX e, ap esar de a ciê ncia te r
consegui do neste século os mei os pa ra venc er este flag elo, me dicame ntos
seguros e eficazes e tam bém o con hecime nto plen o da sua prop agaç ão, entra
mesmo assim, pelo séd ulo XXI, aind a com o um dos pro blem as d e sa úd e
pública com mai or rep ercussão e m todo o gl ob o.
A present e dissertaçã o foca-se n a an álise da passag em da tu be rculose
por Po rtug al no final do seculo XIX, como chegou, como se propa go u, como
torno u-se u ma das mai ores pan demi as no nosso país mas també m no mu nd o
inteiro.
Palavras-chave: Tuberculose, século XIX, pandemia, Portugal.
2
Ab stract
The fight a gainst tub ercul osis in the w orld is an exampl e of how a h ug e
combine d effo rt of hu manity, show s insufficient to d efeat a n a pp arently easy
evil.
In the en d of XIX century, the tub erculosis w ins a spotlight as o ne of the big gest
pan demics, w atching th eir grow th the ind ustrial revol ution. T he tu be rculosis
sprea d aro un d th e w orl d th rou gh the explo ratio n a nd colo nization, but also w as
discovered her ca usative age nt, by R obert Koch in 1 882.
This pa nd emic pe rvad es the entire XX ce ntury, a nd altho ug h th e science ha d
achieved in this centu ry, the metho ds to triumph a gai nst this scourge, the safe
and effective drugs, an d also th e know led ge of how the tu bercul osis sprea d,
this disease, e nter in th e XXI centu ry, still as on e of th e health p robl ems w ith
gre at impact in the entire w orld.
This thesis focus in the analysis of the passa ge of tub ercul osis throu gh Po rtug al
in the end of the XIX century, h ow arrived, h ow it spre ad, h ow it becam e o ne of
the bigg est pan demics of our cou ntry but also in the entire w o rld.
Key words: tuberculosis, XIX century, pandemics, Portugal
3
Ag rad ecim en to s
Primeirame nte exp resso os meus since ros a grad ecimentos a o Professor
Alexand re d a Silva, pela confia nça, disponi bilida de e orie ntação p resta da.
Gostaria d e ag ra dece r aos meus p ais e irmão, p or tod o o ap oio e
suporte dad o ao lo ng o da jo rn ada acadé mica.
Finalme nte, um a especial pal avra de ag ra decime nto a tod os os q ue
contribuí ram p ara a presente tese, tal como a Fu nd ação Po rtugu esa d o
Pulmão, Po rtug al e a Associação N acio nal d e Tu be rculose e D oe nças
R espirató rias, Portug al;
Tamb ém g ostava de ag ra decer a tod os os col eg as d o cu rso q ue estivera m
prese ntes de uma forma o u de outra du ra nte esta avent ura, em especial à Sara
Palmeira e à Ana R ita Sousa.
Obri gad a!
4
Ín d ice
Re sumo ....................................................................................................................................................... 2
Ab st ra ct ....................................................................................................................................................... 3
Introd uçã o ................................................................................................................................................... 6
Port ugal no do sé culo XI X ...................................................................................................................... 7
Rob ert Ko ch ........................................................................................................................................... 10
Pandemia s do século XIX em Po rtu gal ................................................................................................ 12
Definição e Hi stó ria ............................................................................................................................... 13
História ..................................................................................................................................15
Tuberculo se e m Po rtu gal ...................................................................................................................... 18
A Mortalidade ......................................................................................................................22
Tratame nto da t ube rculo se ................................................................................................................... 24
Sanató rio s.............................................................................................................................................. 29
Con clu sã o ................................................................................................................................................. 35
Refe rê ncia s Bibliográfica s ........................................................................................................................ 36
Anexo s....................................................................................................................................................... 40
Anexo I – Mo rtalidade Ge ral em Li sb oa (1873 – 1879 ) ....................................................................... 40
Anexo II – Principai s patologia s e seu s nú mero s d e óbito no Ho spital São Jo sé do ano de
1851 e do 1º t rime st re d e 1852 ............................................................................................................. 41
Anexo III – M ort alidade Ge ral em Li sboa (1881 -18 86 )........................................................................ 42
Anexo IV – Mo rtalidade Ge ral em Li sboa (188 7-1901 ) ....................................................................... 43
Anexo V – Doente s do Ho spí cio D. Ma ria Am élia, por gé nero, e stado civil e profi ssão .................... 44
Anexo VI – Local de onde são o s d oente s que de ram en tra da no Ho spí cio D. Ma ria Am élia .......... 45
5
In tro d ução
A prese nte dissertaçã o assenta na a nálise d a evoluç ão d a tube rculose po r
Portug al no final do século XIX, como se torno u um a pa ndemi a e o imp acto qu e
teve.
A tubercul ose é um tem a q ue tem sido m uito estud ad o a o lo ngo dos tem pos,
sendo tem a de teses não só d e mestrad o como esta, mas também d e
D outora ment o, pod en do citar a tese “C o nh ecer, trat ar e c ombat er a “p este
bra nca”. A tisiologia e a lut a contra a tu be rculose em Po rtug al” d e Ismael Vieira .
Este final de século foi um tempo d e gra nd es e rápi das mud anças, com o
desenvolvim ento das in dústrias e dos mei os d e tra nspo rte, as gra nd es cidad es
começaram a rece ber ca da vez mais pessoas do campo, fazen do com qu e as
cidades crescessem e mod ernizassem; as cidad es que m ais evoluçõ es
tiveram, foram Lisboa e P orto. P ode -se até diz er que mei o sécul o b astou, p ara
introd uzir n a vida diá ria o camin ho-de -ferro, o ba rco a v apo r, a eletricida de, o
telefone, o telé grafo, a foto grafia p or M eyer qu e foi um farm acêutico e m
Frankfu rt, tendo sid o el e o p rimei ro a acopl ar ao microscópio uma câm ara
fotográfica; bem como assepsia, a a nestesia e a radi ografia.
D os nomes mais importantes da é poca, salient am -se L ouis Pasteur e R obe rt
Koch. Pasteur foi professor químico em Estrasb urgo, e em Pa ris. D os vários
trabal hos, os sob re a fe rme ntação fo ram os q ue tiveram m aior inte resse p ara
as ciências d a saú de, descob rin do a b actéria respons ável p ela f erme ntaçã o
láctica, em 185 7, alem
de
preco nizar a “pasteu rização ” como técnic a
indispe nsável pa ra a pres ervaçã o co ntra as d oe nças d o vin ho e da cervej a
(18 61 -18 73 ). Mas os trab alhos m ais rel evantes te rã o sido sob re doe nças
contagios as do h omem e d os a nimais. Te nd o sid o a d escobe rta da vacinaçã o,
através do estu do d o processo de imu nida de cont ra do enças conta giosas.
A tuberculos e é uma d oe nça infeciosa causa da p ela b actéria Mycob acteriu m
tubercul osis.
A prese nte tese enco ntra -se, distrib uída d a seg uinte forma: na i ntro duçã o
temos uma b reve história d a con dição d e Port ugal no século XIX, on de a nalisa se um p ouco a situação co mo as classes mais p ob res viviam e tam bém as
6
classes mais altas, ainda d entro d a introduçã o fala -se d a vida d o h omem qu e
deu um o utro rumo à histó ria da tub ercul ose descob rin do o seu a gent e
causado r. Por último faz -se uma lista das pan demi as que invadi ram Po rtug al
no seculo XIX .
C om pro gresso do t rab alh o e ntra -se com a definiçã o e breve históri a d a
tubercul ose, de pois fala -se com o a tu bercul ose atin giu P ortu gal d e q ue fo rma e
quem m ais afetou. N o tema M ortalid ad e, fala-se nos núm eros monstru osos qu e
a tub ercul ose p rovoc ou em Po rtug al e p or fim e ntra -se n o ram o d o tratame nto,
mais por mei o de profilaxias aca ba ndo a falar n os sanató rios, princi palme nte n o
hospício D ona Ma ria Améli a da M adei ra.
Portugal no do s éculo XIX
D esde os D escobrime ntos até ao final do século XIX, conhece -se muito mal o
estado sa nitári o d a p op ulação p ortu guesa, m as sab e -se qu e foi prec ária, nã o
melho ra ndo ao l on go d o temp o. Sab e-se qu e a es perança m édi a d e vida d os
Portug ueses ro ndav a os 30 -3 5 a nos até m ea dos do século XIX, tend o
oscilações ace ntuad as n os a nos seg uintes. Este a ume nto deve u -se às
muda nças religiosas com a dimi nuiçã o d os pe re grin os am bula ntes, início d e
hábitos d e higie ne e p ossivelmente a m elho ria d a alime ntação em po pulaçõ es
de im po rtância nu mérica p ro gressivame nte m aio r, com o dese nvolvimento d o
comércio e d a ind ústria.
Sabe -se q ue e m 17 76 P ortu gal tin ha uma pop ulaçã o n a ordem dos 3 a 3, 3
milhões de ha bitantes , p ois foi realiza do o ce nso d e Pin a Ma niq ue, se ndo d a
ord em d os 3 milhõ es de h abita ntes no i nício do sécul o XIX, tendo a ume ntad o
cerca de 4 2% na seg un da meta de d este seculo, chega nd o a ser 5,5 milh ões.
1,2
Para qu e, e m m enos de um século, se tivesse conse gui do alcança r esse
patama r, foi necessá rio q ue as taxas d e mort alida de inf antil e t amb ém g eral
1
F A. Gon çalve s Ferreira – Histó ria da saúde e do s se rviço s de saú de e m Po rtugal . Fu nda ção
Calou ste Gulben kian Li sboa capítulo 11 pág. 1 77,180 ,198
2
Fe rnand o So u sa, A. H. De Oliveira Marque s - Po rtugal e a reg ene ração. E ditorial Presen ça.
7
tivessem diminuído. É o piniã o u nâni me e ntre os histori ado res d a Epid emiol ogi a
que a dimin uição d a mo rtalid ade, n este seculo, se d eveu essenci alment e às
medid as higi ene -sanitá rias, já q ue “a me dicina n ão dispun ha de mei os
aprop riad os
tratame nto”.
de
comb ate
às
d oe nças
ne m
de
técnicas
eficazes
de
3,4
O seculo XIX, mais precisamente a sua se gu nda meta de ficou co nheci do com o
“século d a bu rgu esia”. Os ricos bu rg ueses neste século su bstituíram a no breza,
copian do os seus estilos de vida. O din hei ro d estes ricos burg ueses foi ga nh o
na ind ústria, na b anca o u ate mesm o no Brasil. N o final deste século eram os
burgu eses que d ominav am, tanto a nível político como económic o. U m
exemplo f oi o con de de Bu rn ay, de o rige m bel ga que domi nava a alta fin ança e
tinha um a influê ncia p olítica elevad a, cheg and o a p articipa r em e mpresas
ligad as ao vidro, tab aco, pa pel, transp ortes ferroviá rios e ind ustria química.
2,5
N o seculo XIX começou a fala r-se da classe op erá ria, fo rma da p elos p eq uen os
agriculto res, p eq uen os come rciant es e os a rtesãos, q ue na mai or pa rte d as
vezes proc urava m tra bal ho nas novas atividad es do sector secu nd ári o, ficand o
aloja dos em locais de plo ráveis. Esta classe vivia sem con dições de vida, e foi lhes ligad o o conc eito de “proletá rio ”, ou seja, com p role -família muit o
nume rosa – e sem ben efícios.
As mas con dições de vida, de alime ntação e d e h abitaçã o, inclui nd o a falta d e
arej ame nto das ha bitações desta classe, contribuía p ara m a pro pa gação d os
vírus e bactérias causa dores de muitas d oenças, tal como a tub ercul ose.
Em 1852, des envolve ram -se associações de socorros mútu os, que tinha m
como p rincipal preocu paçã o, as dificulda des eco nómicas dos o perári os e ai nd a
auxiliavam os familiares d estes mesmos o pe rári os em situ ações d e d oe nça,
desemp re go, invalid ez ou mort e. Os sindicatos tentavam a partir d e greves
aume ntar a influê ncia dos op erá rios, m as a classe bu rg uesa n unca s e senti u
3
4
5
FE RREI RA, 1990: 221
Re vi sta d a Faculdad e de Le tra s - HIS TÓ RIA; Po rto, II I Sé rie, vol. 7, 2006, p p. 181 -19 5
educa cao.t e.pt
8
ameaça da, pelo me nos em Portu gal. C om o os transp ortes p úblicos era m
escassos a maioria dos bai rros op erá rios e ram construídos ju ntos às fábricas,
pratica esta qu e contin uou pelo sécul o XX.
6,7
C erca d e 7 0% da po pul ação no fin al d o seculo XIX trab alhava na ag ricultura,
sendo a vid a no camp o difícil; o trabalh o do camp on ês era lig ad o às estações
do a no e às alterações d o estad o do te mpo. O suste nto d a maio ria das famílias
era retirad o com o seu próp rio su or, ch ama da assim de ag ricultura d e
subsistência. Quem ti nha posse d e um a p arcel a de t erra, tinha um lu ga r n a
sociedad e ru ral e p odi a pa rticipar n a vida politica local.
8
Em termos d e alim entaçã o, seg und o Simã o d e Ma rtel , as classes proletá rias
em Portu gal co miam m enos e pi or q ue as mesmas n o estrang eiro. C omo a
maiori a da pop ulaçã o vivia da ag ricultura, a base da alim entaçã o, era m
vegetais na s ua maio ria, batata e o “p ão b ranc o”. A carn e, o p eixe, ov os, leite,
queij o, etc., não faziam pa rte d a alim entaçã o d os campo neses m as eram sim
um luxo qu e só po r vezes consegui am ter. O azeite e ra restringi do a o caldo e
só po ucas vezes ao molh o d e b atata. Ao contrário dessas classes, as
abastad as faziam um co nsum o de ca rn e, aves, peixe e go rd uras qu e excedi a
as exigências fisiológicas.
C omo mai oria da po pul ação nã o disp un ha de águ a can alizad a, esta a bastecia se dos fo ntan ários, poços e cistinas, em q ue nã o se s abia como era a
quali dad e bacte rioló gica, send o muitas vezes duvidosa.
9
Todas estas situações d e po brez a, má higi ene e má alim entaçã o em Po rtug al
em conjunt o com o Mycobacterium tub ercul osis descoberto p or R ob ert Koch,
pod em levar à Tub ercul ose. A descobe rta de R ob ert Koch foi um d os maiores
6
educacao.te .pt
7
Revista da Faculdade de Letra s - H ISTÓRIA; Porto, III Série, vol. 7,2006, p p. 181 -19 5
8
Sim ão de Martel, A alim entação das classes pobres e suas relações com o trabalho, in Boletim
do Trabalh o Industri al, nº44, Lisb oa, 1911
9
Análise Social, vol. xxxii (142), 1997 (3.º), 483-535
9
passos para a pesq uisa de uma cura pa ra a tu be rculose, daí el e ser cham ado o
“Pai” d a tube rculose.
R obert K och
R obert Koch d esde semp re foi uma p essoa de dicad a ao q ue se prop unh a,
modesto e co m u ma se re nida de a dmirável, e ra exige nte e n ão con hecia o qu e
era re po uso n em fraqu eza de ânim o. Era um da quel es profissionais q ue s e
dizia, “do núm ero da qu eles cientistas puros qu e vivem exclusivamente do amo r
à sua p rofissão e d o prazer do estudo dos se gre dos d a n atureza” E dison so bre
R oentge n, mas aplicad o tamb ém a Koch.
N ão são só os traços de pers onali da de que fizeram de K och um investiga do r
brilh ante, mas tam bém a vocação, q ue n ele su pla ntou os co nhecim entos d o
médico e do m atemático, o inte resse d emo nstrad o po r tud o e tam bém o
interesse em inv estigar o q ue as a parências ocultavam.
Era d otad o como po ucos p ara a inv estigação, co nsegui nd o ai nda em alun o, n o
ano de 1 86 4 em G ottinge n, ser p remi ado po r um tra bal ho sob re a re de nervos a
uterin a. D outo ro u-se em H amb urgo no an o d e 1 866 em M edicin a. Aos 41 an os
na cidad e de C alcutá d escobri u o ag ente da cóle ra.
Koch estudava na Silésia a d oenç a qu e dizimava o ga do, q ua ndo t eve um a
ideia que em b ora hoj e p areç a muito simpl es, naq uel a ép oca foi muit o
importa nte. A i deia era col ocar entre duas l âmin as de vidro este rilizadas pel a
chama, uma seme nteira da b actéria q ue se dese nvolveu n o seu meio d e
cultura ao ar, e po rtanto da c ontami nação po r o utras bactéri as. Estudou dep ois
as condições em q ue as form as interm ediá rias do se u ciclo evolutivo, ou seja,
os
esporos,
se
desenvolviam
e
p ro pag avam;
e
no
f im
re produzi u
experim entalm ente a doe nça.
Koch ao cheg ar à capital (B erlim ), no mesmo an o qu e o bacilo da fe bre tifoid e
foi descobe rto p or Eb erth, p re ocup ou -se e d ecidiu desven dar “a orig em d e um a
das mais sinistras doe nças, das m ais p ervers as, mais insidi osas e, às vezes,
singula rme nte mais fulmi nant es. H edion da com o a peste, tão antiga c omo o
10
H omem, a T ub ercul ose, de carácter e nd émico, semp re f oi am eaça l atente n o
decurso de tod a a história da H uma nida de.”
Koch det ermi nad o e m e ncontrar resp ostas ensai ou n a su a co baia nu merosas
inoculaçõ es d e tecid os d oe ntes; imp reg na ndo vari as técnicas de cultura, um as
a qu ente, out ras a frio, com o obj etivo de isola r o b acilo resp onsável pel a
tubercul ose. Ap ós 17 2 pre pa raçõ es, Koch ficou surp re en dido a o visualizar n o
campo do microscópio, isol ad os ou em sé rie pe qu enos baston etes finos e
curvos, de 2 a 3 milésimos de milím etro. Estes b acilos termi navam em po nta e
encontravam -se de p referência n as células giga ntes dos tubé rculos, pintad os
de
az ul,
emb ebi dos
n esta
ultima
prepa raçã o
n uma
solução
alco ólica
concentrada de azul -d e-m etileno com 10% d e potassa. Após esta d escobe rta,
impun ha -se cultiva-lo num mei o ap rop ria do. N aqu ela altura, os meios de
cultura q ue se co nheci am eram os líqui dos, on de
as substâncias se
misturavam umas com as outras, send o p raticame nte im possível o isol ame nto.
Mas Koch, h abitu ad o a os mais rudi ment ares m eios de t rab alh o, lem bro u -se d e
recorre r ao s oro san guín eo, descob rin do assim vári as soluçõ es a o problem a;
ou seja, o meio san guín eo e ra o ide al pois contin ha tud o o que
o
microrg anismo n ecessitava para se rep ro duzir; era transp arente, po de nd o
assim visualizar-se, e po r fim era soli dificável ao calo r, e Koch aq uece ndo -o a
65º, impe diu assim, as bacté rias d e se mistura r um as com as outras. O
resultad o fo ram col óni as pu ras q ue, in ocula das, n os anim ais de ensai o,
rep ro duziam a d oe nça.
O tra balh o de K och n ão acab ou aq ui, el e ai nd a conse gui u d emo nstrar a via d e
contágio d a do ença. Esta experi ência consistiu em fazer passar, em recintos
completam ente f echad os, on de se enc ontravam coel hos e cob aias, um a
corre nte d e ar co ntami nad o com b acilos. Veio a o bserva r-se que s eman as
dep ois os animais ado eceram com tube rculose, localiza da nos p ulmões, tal
como acontecia geralme nte nos h uma nos.
“Koch n ão se limito u ap en as a desco brir o a gent e causal d a tisica: confirmou, a
um tem po, e sem lug ar a duvid as, as teo rias mic robi an as de Pasteu r;
estabelec eu, nas su as gra nd es linhas, o qua dro an átom o -p atoló gico d a
tubercul ose; fixou os princípi os funda mentais d e todas as investigaçõ e s
11
bacteriol ógicas ulteri ores, pel a i nvençã o d os n ovos m étod os d e p esquisa; de u,
em suma, impulso d ecisivo à bacteriol ogi a.”
Aprese ntou -se na socied ade d e fisiolo gia de Be rlim e revelo u “A Etiolo gia d a
Tube rculose ”, com todos os p orm en ores d a investigaçã o e insistind o na técnic a
rigo rosa e i ng rata da sua rev elação la boratori al, q ue marco u uma dat a
histórica. 24 de M arço d e 18 82.
Koch foi ai nda mais lo nge e apresent ou vá rias info rmaçõ es rel evantes pa ra a
preve nção da i nfeção tal co mo o isol ame nto d os do entes ; a desinfeçã o d e tud o
qua nto estivesse a o alca nce d a sua expeto raçã o; os cuid ad os clínicos e d e
enfermag em; a e ducaçã o e info rmaçã o po pul acional e em, pa rticular, d os
doe ntes e suas famílias; ou seja, o registo obri gató rio d e tod os os casos para
efeitos de estatística.
Em 1890, comu nicou n o X congresso inte rn acion al de me dicina de Be rlim, o
que p ensava el e ser o p rocesso de imu nização ativa d a tube rculose, p or mei o
de um extrat o bacteri an o das res petivas culturas, a qu e chamo u tub erculin a. Ao
contrá rio do qu e p ensava a t ube rculin a n ão era uma vacina, esta nã o atingi a
nem o b acilo nem o tecid o tisico, o que esta fazia/faz é suspende r o processo
de evol ução d a d oença expe rime ntal. A tuberculi na foi anos mais tarde usad a
por Von Pirq uet no diag nóstico d a tu be rculose i nfantil, at ravés d e reaçõ es
tuberculi nas, ou seja, o qu e Koch
10
descobriu foi uma form a de di agn óstico d a
doe nça.
Pandem ias do séc ulo XIX em Portugal
C omo já dito a nteri orm ente, é po uca a i nformação rel ativa à sa úd e d a
pop ulaçã o po rtug uesa, n em d as do enças q ue a atin giam, mas sa be-s e qu e,
doe nças do tip o infecioso desig na das po r feb res, p estilências ou pestes
atingiram a po pul ação, tal com o a l ep ra, tifo, varíol a e pal udismo em zon as
panta nosas.
10
Em 1905, rece be u o pré m io Nobe l.
12
D efinição e H istóri a
A
tube rculose
é
uma
d oença
m ultissistémica,
qu e
p od e
te r
vári as
apresentaçõ es e manif estações, sendo a causa mais comum de mo rtalid ad e
em relaç ão a d oenç as infeciosas.
11
A pal avra “T ube rculose ” sig nifica u m conj unto al argad o de manif estações
patoló gicas de índ ole i nfeciosa e de evoluç ão crónica, e m q ue o a gent e
etiológico
é
o
Mycob acterium
tu be rculosis,
que
tem
cinco
va rie dad es
conhecid as, o h ominis, q ue ca usa a tub ercul os e h uma na, o bovis, causa dor d a
tubercul ose b ovina, o m uriu m
da tu be rculose
dos rat os, o aviuns
da
Tube rculose aviá ria e o piscium da T ube rculose d os peixes e animais d e
sangu e frio. Os qu e p od em caus ar tu be rculose em h uma nos sã o o homi nis e o
bovis.
12
O bacilo de Koc h ou M. tube rculosis , ao te r enc ontrado o h uma no, conse gui u
ada ptar-se à esp écie h uma na qu e levo u a um a di minuiçã o da ca pacid ade d e
multiplicar-s e no m eio exte rior, h aven do assim um a maio r virulê ncia. Os
pulmõ es
são
os
ó rg ãos
mais
ataca dos
e
m ais
propícios
pa ra
o
desenvolvim ento d e tube rculose, ou sej a, são simultane ame nte qu entes,
húmid os, sombrios e a reja dos. N este ambient e pe rfeito, são capazes d e
prolife ra r, em form a de coló nias e p arte destes germes migra pa ra outras zon as
do orga nismo hum an o, sendo u m meio d e contamin ação d e tod o o organism o
através das vias linfáticas, bronc ogé nicas ou h emato gé nicas. U ma outra part e
destes ge rmes é expulsa do orga nismo p elas vias a ére as, torn an do -se nu m
potencial co ntági o.
9,10
Geralme nte a co ntamin ação faz -se po r inal ação do ar co ntamin ado po r b acilo
de Koch. Q uan do este cheg a a os pulm ões provoca um pe qu eno foc o
pne umó nico, que l eva a um a resp osta imunitá ria in especifica através d e
macrófa gos e mon ócitos.
11
Medscape – tu berc ulosis
12
FILH O, Cláudio Bertolli – H istória Social da Tuberculose e do Tuberculoso : 1900-19 50. Rio de
Janeiro: Edit ora Fiocruz, 200 1
13
O bacilo t em um a carap aça lipídica e rica em enzimas, q ue co nseg ue na m aio r
parte das vezes, passa r pel as ba rreiras im unol ógicas e prog redi r a pa rtir d a
corre nte sa ng uíne a at é atin gir os ó rg ãos. Ao atin gir os o utros órgãos, o
org anismo reag e e ori gina um a resp osta imunitá ria específica, mediant e a
ampliaçã o da ca pacid ad e d e fa gocitose das cél ulas mo bilizad as contra o
invasor.
Send o qu e as outras tubercul oses qu e existem pod em ocorre r como d oenç a
primá ria ou conse quê ncia de uma infeçã o g en eralizada, a tu be rculose prim ári a
é o rigi nad a ou prim oinfeçã o, co rres pon de g eralm ente a um a l esão inflam atóri a
inicial, localizada n a regiã o subpl eu ral. Em situações no rmais o b acilo irá ficar
hibe rna do até que haj a al gum a alte raçã o q ue o retire da latê ncia e ataca o
org anismo. N este estado, já o orga nismo criou algu mas defesas , q ue faz com
que nã o h aja pe rig o d e dissemi naçã o, mas d estrói os tecidos l ocais. Qu and o o
bacilo che ga ao fin al d a tercei ra ou oitava sem ana, geralme nte já é ca paz d e
criar col ónias ca pazes de c riar re ações i nflamató rias, q ue evide nciam a
destruiçã o d e tecid os. Esta reaçã o l eva a q ue os glób ulos brancos recu bram a
lesão o q ue leva a o ap arecimento d e nó dul os, que se cham am tubé rculos. C om
o passa r do temp o, este tub ércul o é co nstituído p or cél ulas mo rtas, proteínas e
bacilos e tem a a parência de um q ueijo (massa case osa).Os sintom as mais
comuns da tub ercul ose pulm on ar a parecem n esta fase que são p erda d e
peso/an orexia, feb re, su ores notu rn os, do res n o peito, fa diga, hem optise e
tosse.
A situação mais g rave é q uan do os órg ãos atingi dos sã o os pul mões, pois a
expetoração está infet ada, co ntamin an do tu do em red or c omo os alime ntos, as
rou pas, as louças, ou seja, tudo.
9, 13
A epidemi a dos nossos dias surgiu n a Inglate rra n o seculo XVI, onde atingi u o
seu pico em 17 50, estend eu -se à Eu rop a ocident al o nd e o seu máximo foi n os
mead os do an o 180 0, chega nd o posteri orm ente à Europ a orie ntal, América d o
Sul e do N orte, ond e atingi u o seu aug e em 18 90. O último pico aco nteceu n a
13
C F, Veloso, António José Barros – Medicina: a arte e o ofício. Lisboa: Gradiva, 2000 e C abral,
José e C OELH O, Rui M. Alves – O nosso inim igo o bacilo da tuberculose , 2º ed. P ort o: AC TP
14
África e Ásia, onde a m orbilida de ai nda é eleva da em m uitos locais, enq uant o
como po r exempl o nos E.U .A, já atingiu a fase end émica.
Mas a tu be rculose nem semp re f oi con hecid a p ela do ença qu e é. A ntes d e se r
uma do ença co ntagi osa tinha o utros n omes e out ras ori gens.
H istória
A pal avra tube rculose d eriva d o latim tub erculu m q ue significa i nchaço o u
tumefação. A pal avra tub ercul a foi usada pela primei ra vez no secul o XVII por
Francisco Sylvius, send o so mente n os finais do seculo XIX chama da d e
tubercul ose no m eio mé dico.
1415
A Tube rculose po de ser enco ntra da na histó ria recua nd o até 300 00 an os atrás,
ond e a Mycobacteri um tu berc ulosis ain da se ria um microrg anismo d o solo se m
a capacid ade d e infeta r anim as de san gue q ue nte. C om a evoluçã o esta
bactéria, ou seja, M. b ovis ada ptou -se a b ovinos a ncestrais, mais precisament e
aos bisont es qu e p ovoaram as planícies d a Eu ro pa ce ntral e o riental. Estes
bisontes cheg aram a ser milhõ es de indivíd uos, sendo destruíd os em massa
pelos colon os europ eus pa ra ap roveitam ento d as peles. D evido a terem sid o
milhões de anim ais, permitiu a exp ansã o da e pid emia d a tube rculose a nimal.
O microrg anismo da tub erculose, o M. tube rculosis , é recente com parad o com
outros com o po r exem plo a Esche richia coli. Estudos ge néticos re alizados e m
isolados co ntemp orân eos d e M. t ube rculosis , estimaram em 150 00 e 20 00 0
anos o tem po que ocorreu pa ra a divergência entre os isola dos. Pensa -s e
assim que a dissemin ação glo bal e especificação d o microrg anismo d everá te r
ocorri do a o mesmo temp o qu e a mig raçã o pale olítica para o novo m un do.
Esta teoria coi ncide com a q ue o M. tub ercul osis deriva do M. bovis, qu e
ada ptou -se ao hosp ed eiro hum ano desd e a é poca e m qu e se começa ram a
diag nosticar anim a, o u seja, há cerca d e 1 00 00 an os. Esta alte ração levo u a
14
C F. SONTAG, Susan – Illness as Metaphor
15
Vide GRMEK, Felipe [et al.] – Chagas disease and hum an m igration. Mem . Inst. Osw aldo C ruz
Vol 95 nº4 (2000)
15
que a do ença se torna r-se numa zo on ose, ou seja, esta d oe nça contin uava n os
bovinos m as p odia ser tra nsmitida a os h uma nos, o qu e ac ontece u até h á
poucas d écad as. Quan do o hom em se começo u a fixar em p eq uen as
povoaçõ es, e se começaram a dom esticar difere ntes tipos de anim ais, as
condições torna ram -s e favoráveis à tra nsmissão de d oenç as infeciosas d e
animais p ara h uman os. C om o a ume nto d a conce ntraçã o d e h uma nos, esta
doe nça passou a conseg uir p ro pag ar -se entre pesso as.
Investigações paleo ntoló gicas sugerem qu e a tuberc ulose afeto u hom ens a
algu ns milhares de a nos A.C ., havendo evid en cias da tu bercul ose óssea e m
esquel etos do n eolítico e id ade do b ro nze (5 00 0 AC ) e tamb ém em múmi as
egípcias de 3 00 0 AC .
A tuberculos e du rante o pe rcurso d a história j á teve muitas apa rê ncias e
nomes, já foram as cáries vert ebrais dos “p otticos” egípcios, escróful as curad as
com o toq ue dos reis taumat urg os de Marc Bloch, se nd o tamb ém a tísica
galo pant e, a febre h éctica, também foi os tumores b ranc os, até chegar à
tubercul ose bacte rioló gica liga da a o bacilo ca usado r.
Tamb ém cham ad a d a “fe bre d as almas se nsív eis”, teve este n ome m ais n o
século XVIII, pois a “tísica romântica ” foi uma do ença rel aciona da c om a rtistas,
poetas e g ran des perso nali dad es históricas dessa é poca. A tu be rculose atingi u
gra nd es no mes a nível mun dial, com o o gra nd e m úsico Moza rt, C hopi n,
escritores como M oliè re, e ntre outras pers onali da des conh ecidas. A nível d o
nosso país, pe rson alida des como Júli o D iniz, C esário Ve rde entre o utros,
também foram vítimas desta doe nça.
Apesar d a mortali dad e ligad a à tube rculose ser muito el evad a, pod e-se dize r
que el a ficou mun dialm ente con hecid a através d as criações artísticas, sendo
por isso tamb ém ch ama da da do ença dos “Amo res imp ossíveis”. A obra “A
D ama das C am élias” d e D umas filh o e a su a a da ptação para ó pera p or part e
de Ve rdi, com o nom e d e “La T rav iatta”, pôs al guém a m orrer pel a prim eira vez
em palco po r causa da tu bercul ose. Outra obra muito conh ecida, qu e é os
Miseráveis tem uma p erso na gem com tub ercul ose qu e é Fanti ne.
16
N a literatu ra p ortu guesa p od emos encont rar a tub ercul ose e m “Frei L uis d e
Sousa” de G arret na perso na gem M aria, o u e ntão em H e nri que de So uzelas n a
obra de Júli o D inis “Morgadi nh a dos C an aviais” ou entã o em “Amo r d e
Perdiçã o” d e C amilo C astelo Bra nco na p erso na gem Te resa.
N a pintura também a pud emos e ncontrar n os qua dros d e Edvard Munch, “O
Grito” e a “Me nin a D oe nte”, q ue se gu nd o críticos teve como inspi raçã o a mort e
da mãe e irmã d o pinto r po r tube rculose.
Todas estas ob ras em re do r desta do ença fizera m com que el a fosse ligada a
um lad o româ ntico, send o vista como um sintom a d e um caracte r n ob re e d e
uma geni alid ade a rtística, sendo na ép oca consid erad a como um afrodisíaco,
que conf eria pod eres extrao rdin ári os de seduçã o.
Só ap ós a revol ução P asteuri an a, é qu e a t ube rculose ficou a ser vista como a
doe nça d a po breza e d ep ravaçã o, send o uma metáfo ra tal com o Susan S onta g
disse de “roup a fina ”, “co rp os mag ros”, “qu artos sem aq uecime nto”, “higi en e
precá ria ” e “alim entaçã o ina de qua da ”.
Só nos finais do século XIX, após a revolução ind ustrial, a tuberc ulose passo u
de uma p atolo gia incurável e de causa multifactori al para uma d oenç a
infectocontagi osa.
Torn ou -se um a d oe nça e pidémica e u m probl ema im po rtante e g rave de sa úd e
pública, ou s eja, q ua ndo as cid ades c omeça ram a so brepov oar -se, h ouve um a
gen eralização da po breza e g raves pro blem as sanitá rios. A e pid emia c omeço u
a espalh ar -se pela e urop a no início do seculo XVII, chegand o ao seculo XIX
como a resp onsável por 25% das m ortes existentes n a altu ra. Os l ocais mais
afetados fo ram a eu ro pa e a Amé rica do N o rte, on de m ais de 1% da p op ulaçã o
total e por ano te rá d esenvolvid o a d oe nça. A tubercul ose nã o atingi u só os
países da Eu rop a, tamb ém cheg ou a Portu gal, p rovoca ndo um n úme ro el evad o
de mo rtes.
17
Tuberc ulose em Por tugal
Foi du rant e a revolução i nd ustrial no secul o XIX, que a Eu ro pa teve o pic o mais
alto d e epid emia d a T ube rculose, ten do sid o a prim eira causa d e m orte n a
altura.
A mortalid ad e po r tu bercul ose e m Portu gal se gui ndo essa ten dência, atingi a
núme ros assustado res.
Estru tura d a m ortalidad e em Portug al (1 888 -9 0)
C ausas d e m orte d eclar ada s %
“D oenças ge rais” (inclui ndo as inf ecto-conta giosas e a tube rculose –
44,2%
D oenças do a pa relh o respi rató rio - 1 6,6%
D oenças do a pa relh o dig estivo - 9,9%
D oenças dos recé m -n ascidos - 6,9%
D oenças do a pa relh o circulató rio - 5,8%
D oenças do sistema ne rvoso - 5,6%
Outras - 1 1,0%
Total - 10 0,0%
Tabela 1 – p rincipais causas d e morte em Portu gal n os anos de 1 88 8 -90
N o século XIX, a tubercul ose e ra con hecid a mais como a “fe bre das alm as
sensíveis”, pois a “tísica romântica ” foi uma d oenç a relacio nad a com a rtistas,
poetas e g ra ndes p erso nalid ad es históricas dessa ép oca. N o nosso país atingi u
perso nali dad es como Júlio D iniz, C esário Verd e.
C om a descob erta do bacilo de Koch, o tísico deixou de ser aq uele q ue estava
imbuído d uma a ura d e excecionali dad e, p ró pri a d os a rtistas, figuras p úblicas e
escritores do R om antismo, ou seja, como Pô rto disse “o p adec ente d as almas
sensíveis” transformo u-se n o hosp edei ro d e um pa rasita microscópico e nu m
18
foco dea mbul atóri o, ou sej a, passaram a se r consid erad os age ntes d e
contamin ação e um peri go p ara a socieda de.
16
Send o conside ra da a parti r das últimas d uas déc adas d o séc. XIX, uma doenç a
social, estava intimamente liga da, às condiçõ es socioeconómic as na qu al o
país se encont rava, e es pecialm ente à po brez a, qu e tin ha mais hipót eses d e
contágio e infeção, ap esar de atin gir tanto ricos como po bres.
Esta nova realid ad e em que os po bres eram um p eri go, levou a q ue fossem
vistos de outra forma, e ram aq ueles co rp os mag ros, os p orta do res d e u m
parasita respons ável p or um sétimo das m ortes na E uro pa. H o uve um a divisã o
no espaço u rb an o, levand o à construção d e bai rros pobres e ricos. A
descobe rta do b acilo também d eixou d e parte a h eredita ried ad e da tisica,
dan do l ug ar à co nceção d a doe nça microbi ana infecios a e conta giosa, m as
evitável.
17
Em Portugal, a tu bercul ose, atingi a todas as faixas etári as, e a surgid a em mei o
universitá rio se ria qu ase se mpre uma grave do ença. Os sintomas qu e a
den unciavam su rgi am certas vezes, insidiosam ente, e só eram val oriza dos,
numa fase já m ais avançad a e tardia.
C omo P. Low is disse: “quan do se trat a de u m jovem, desej a -se q ue a
tubercul ose sej a rastrea da o mais ced o p ossível e log o cuid ada de m an eira
corret a tod o o te mpo necessá rio. O s anató rio deve pe rmitir realiza r a cura d e
rep ouso em to do o se u ri go r, g raças à terap êutica oc upacio nal concomita nte,
aplicável mesmo aos acama dos. D esde qu e isso se realize, a rea daptaç ão a o
esforço surgi rá e esforça r-n os-em os ao m áximo po r des envolve r ou com pleta r
a instrução.”
C om esta nova p ersp ectiva de ser uma d oe nça social, os fatores sociais d a
vida hum an a, ocup avam um l ug ar d e p eso n a prop ag ação d a tub ercul ose,
16
Cf. PÔRTO, Ânge la – Representações sociais da tuberculose… , p. 44 e Sontag, Susan – Illness as
M etaphor… , pp.13 e 20.
17
FARIA, Raul – Tuberculose, doença social . In CONFERÊNCIAS da Liga Portugue sa de Profilaxia Social (3º
sé rie ). Porto: Im pre nsa Portugue sa, 1936, p.161
19
especialme nte no q ue tin ha a ver com a hi gie ne, com as ha bitações e a
alimentaçã o. Pa ra al ém dos pob res, os o perári os e ram o out ro gran de grup o
afetado p ela tu be rculose. Estes eram vistos pel os mem bros da cl asse médi a,
como irres ponsáv eis nas suas atitudes e comportam entos no local d e t rab alh o
e também n a vida em g eral.
18
C omo a tub ercul ose é um a co nseq uência g rave das c ondiçõ es alim enta res,
habitacio nais e tamb ém hi gié nicas, o R eg ulam ento do C o ncelh o d e Sa úd e
19
tentou im pleme ntar a le gislação do hi gie nismo . Esta legislação impos u m
conjunto d e comp ortam entos e atitu des, q ue tin ham c omo obj etivo melh orar os
hábitos d a pop ulaçã o, sem altera r a o rde m social.
As leis de saúd e pú blica de 18 37 esta belec eram a o brig atori ed ade da i nspeçã o
dos
estab elecime ntos
in dustriais,
p ara
avali ar
o
esta do
sa nitári o
d as
instalações e det ermin ar as me did as corretivas necessá rias .
Em 18 42, su rgi u o p rimeiro có dig o a dministrativo com especificações precisas,
em qu e h avia a defesa da sa úd e p ública, inclui ndo a d os trab alh ad ores e
alun os das escolas e colégi os. As leis dos anos seguintes a ume ntaram as
disposições de vigilâ ncia e inte rvençã o na saú de d a po pulaç ão.
20
N o seculo XIX, o povo vivia numa pobreza profun da , en qu anto q ue a classe
superi or e ra p ouco culta, preco nceituos a, vivia para a política muitas vezes de
uma fo rma co rrupta, deixan do a in dústria e a a gricultu ra estagn ar e o c omérci o
na mão dos estran gei ros.
21
O povo vivia em muito más con dições, trab alhava de sol a sol, tinham escassez
alimenta r, n ão comi am carne devid o à falt a de din hei ro e e ram m uitos
alcoólicos. As casas eram considerad as locais obscuros, sem higi ene e com
má ventilaçã o. A casa dos bu rgu eses seg uia os mesm os erros, n ão have nd o
18
NOVAES, João – O lim ite das horas de trabalho nas fábricas. Porto: Typ. Occide ntal, 1890. Te se
Inaugural, p.82
19
Le gislação que im põe re gras de higie ne, salubridade e se gurança nos e stabelecime ntos,
nom e adam e nte nos públicos/industriais
20
GUILLAUM E, Pie rre – Du désespoir au salut …, p.134
21
POINSARD, Lé on – Portugal ignorado… , p.36
20
princip alme nte um a b oa v entilaçã o.
22
. Tod os estes “p ro blem as” levav am a o
aume nto da tu be rculose.
Em suma, os f atores chaves, mais destacad os p elos m édicos para a
pro pa gação da tub ercul ose eram os problem as urban os, como habit ações, a
má alim entaçã o, muitas vez es nã o pasteu rizad a, e a m entalid ad e d os
portu gu eses.
Os probl emas urban os, muitos foram devido a o aum ento da p op ulaçã o
portu gu esa, pri ncipalme nte n as grand es cidad es, Lisboa e P orto, ten do e m
190 0 2 6,1% da po pulaç ão po rtug uesa. Ap ós a rev olução in dustrial, m uitos
foram os q ue mi grara m pa ra as
gra nd es cidad es, numa
procu ra
po r
inde pen dê ncia ec onómic a. C om este aum ento, as g ran des cid ades f ora m
privilegi adas em d etrim ento das vilas rurais. Lisboa teve um cresciment o d e
164.7 31 habit ante e m 18 01 para 3 57.0 00 e m 19 00. Este aum ento l evou cla ro a
uma nov a disposição a nível d e classes sociais. O centro da cidade era o
espaço da b urguesi a, ao lado d os edifícios govern ame ntais, ou seja, da
política. Os tra balh ad ores
ficaram
ao
mo nte, em
casas d e p eq uen as
dimensõ es, deg rad ad as, sem esgotos e com condições muito de plo ráveis.
Mesmo estes espaços começa ram a ficar sobrep ovoa dos, começan do e m
Lisboa a construírem -s e os cham ados “p áteos”, ou seja, ha bit ações de baix o
23
custo. . Os “páteos” eram construídos a o la do das zon as ind ustriais, send o
assim mais pratico p ara os trab alh ado res . D ad os adq uiri dos po r C orrei a
Gue des, mostraram q ue s ó 6 3 d os 2 33 ”p áteos” a nalisad os é qu e estavam e m
bom
estado
remo del ações .
e
24
88
em
co ndições
razo áveis
m as
se
fossem
feitas
Estes “páte os” eram co nside rad os um d os m aiores p eri go s
para a saúd e a nível de higie ne, send o Alfama um d os mais pro blem áticos.
25
Este probl ema to rno u-se um p robl ema político, pois as taxas de mo rtalid ad e
começaram a a ume ntar e as doe nças e nd émicas e e pidé micas a prevalece r.
22
GARRETT, António de Alme ida – O problem a da tuberculose… ,p24
TEIXEIRA, M anue l C. – As estratégias de habitação em Portugal . Análise Social. Vol. 27, nº115 (1992)
pp. 65 -89
24
Inqué ritos re alizado s e m : CONCELHO dos Me lhorame ntos Sanitários/M inisté rio das Obras Públicas,
Com é rcio e Industria – Inquérito aos Pateos de Lisboa, 1º parte. Lisboa: Impre nsa Nacional, 1903 e
Pateos de Lisboa 2º parte. Lisboa: Im pre nsa Nacional, 1905
25
Vide BOM BARDA, Miguel – O bairro de Alfama. A M edicina Contem porânea (2º sé rie ). Lisboa: Livraria
José António Rodrigue s. Vol. 6, nº9 (1904), pp 69 -70
23
21
C om esta pre ocup ação construíram -s e n ovos b airros com ru as mais l argas e
melho r ilumin ação e ventilaçã o. Sílvia C arvalho a naliso u os da dos estatísticos
de mort alida de p or tub ercul ose nas freg uesias de Lisb oa e ntre 1 89 1 e 190 3,
que f oi a altura em qu e estes n ovos bai rros foram construíd os, cheg an do à
conclusão q ue p or exem plo n o bai rro S. N icolau ho uve um a dimin ui ção d a
mortalid ad e p or t ube rculose po r h abita nte, dimi nuin do de 5,2 no an o d e 1 89 1
para 1,7 em 1 90 3.
26
Outro ponto qu e levava ao aum ento d a tube rculose era a alime ntação d os
portu gu eses. U m dos fato res era muitos te rem dificuld ade em ter os alim entos,
devido à pob reza. C o m a f alta d e ali mento, os tra bal had ores ficavam
debilita dos, levan do a terem aste nia física e psicoló gica e l evan do a como as
defesas estavam e m b aixo, o co ntágio e como cons equ ência a tub erculos e
eram m ais fáceis de apa rece r e tam bém qu em a tin ha e m estad o latent e, era
mais fácil ficar em estado ativo. R amal hão Ortig ão che go u a dize r em 1 874 qu e
“Lisbo a tem qu e com er. O maio r d os seus m ales secretos, constantes,
perm an entes, é a fome cró nica.”
27
Para reforça r qu e e ra um a das ca usas d a
tubercul ose, em 19 06, o tisiologista Lan do uzy disse qu e a falta d e hi gie ne e d e
alimentos, era uma das causas pa ra a tub ercul ose.
28
C om o a ume nto da pop ulaçã o os problem as sanitá rios e a fo me, a tub erculos e
provoco u no sécul o XIX , pri ncipalm ente na seg und a m etad e, um núm ero
elevad o de mo rtes.
A Mortalidade
Pierre L ouis, em 18 25, faze ndo estud os bio estatísticos, chegou à c onclusã o
que a h eredita ried ad e era ap enas 1 1% dos casos que h aviam de tub ercul ose,
26
Gue de s, Am ílcar José de Miranda – O Estado português… , pp. 16 -17
Cf. ORTIGÃO, Ram alho - As Farpas: O país e a sociedade portuguesa, Tomo 7. Lisboa: Livraria Clássica
Editora, 1943, p.16
28
Cf. A ALIM ENTAÇÃ O racional (I). Tuberculose: Boletim da Assistência Nacional aos Tuberculosos.
Lisboa: Instituto Rainha D. Amé lia. Vol. 1, nº1 (1906), p.26
27
22
criand o um a n ova visão qu e o contá gio era um a d as pri ncipais causas, vin do a
ser apoi ad o pel a descob erta d o bacilo de Koch .
29
A luta contra a tub ercul ose começo u a ter m ais força, após Sous a Martins, se
ter di rigi do
ao
mortalid ad e
em
g overno,
apresent ado
Portu gal,
um
nom ead ame nte
relató rio
Lisbo a,
das
estatísticas de
C oimbra
e
Po rto,
comparad as com out ras cidad es eu ro peias. Estas estatísticas fizeram move r
aind a no secul o XIX, os higienistas, promove nd o ações d e limpeza a nível
nacion al. Mas apesa r destas ações tod as, a dificuldad e d e di agn óstico e a
ineficácia d a te ra pêutica usa da na altu ra eram aind a um pro blem a grav e n esta
luta. Outro factor q ue fez tom arem -se m edi das contra a tu be rculose, foi com o
referi do ante rio rme nte, ter -se d escobe rto q ue era cont agiosa, pois até lá, com o
era um a d oe nça silencios a e as p essoas q ue a tin ham ma ntinh am -se sãs d e
mente, tend o até pla nos pa ra ativid ades , mantin ha esta d oenç a em segu nd o
plan o.
Falan do m ais especificament e em Lisb oa, o an exo I mostra a m ortali da de g eral
em Lisboa entre 187 3 e 18 79, po de ndo -se verificar q ue a tub ercul ose com
16% , faz parte do g ru po d as 3 maiores causas de morte, sen do as outras
causas,
outras
do enças
i nfetoconta giosas
(5% )
e
outras
causas
nã o
especificadas.
N o anexo II que sã o os da dos do m aior hospital d o país na qu ela é poca, o u
seja, São José, pode -se verificar qu e a tube rculose é a seg un da causa d e
morte e ta mbé m a seg un da mai or ca usa q ue levo u os d oent es a sere m
intern ad os.
Passando p ara a mortali da de comp ree ndi da e ntre 1 881 e 188 6 em Lisbo a,
constou-se tal como se po de ve r n o a nexo III, que a tub ercul ose conti nua a se r
das princi pais causas de mo rte na cid ad e de Lisb oa, ten do como justificação n a
altura, os pro blem as sanitá rias e a falta d e higie ne em conju nto c om a m á
alimentaçã o.
30
Em termos de Portu gal como p aís, os dados divulga do s
29
Cf. M ARTINS, José Thom ás de Sousa – A tube rculose pulmonar e o clima da se rra da Estre lla. Jornal da
Sociedade das Sciencias M edicas de Lisboa: Impre nsa Nacional. Tomo 54 (1890), pp. 258 -298
30
Cf. BENTO, Carque ja - O povo português. Aspetos sociais e económ icos. Porto: Livraria Chaldron, 1916,
p. 309 e BOM BARDA, M igue l - A tube rculose , se me nte e te rreno. Gue rra à tube rculose . Vol. 1, nº1
(1900). Lisboa: Liga Nacional contra a Tube rculose , p.31
23
mostravam q ue a tu be rculose m atava mil pesso as por an o, que re pres ento u
entre 188 1 a 19 00, 2 9.645 m ortes.
31
Até 189 6, ou seja, d ez anos d epois, contin uava -s e a ver u m aum ento n os
óbitos p or tu be rculose, com o se po de ve rificar no anex o IV. N este an exo ai nd a
pod emos ve r que
com to das
as d oenç as existentes n a
altura muit o
pro blem áticas, como a cóle ra e a peste, em Po rtug al, a tub ercul ose ai nd a
estava
muito
presente,
sen do
co nsiderad a
uma
en demia,
ai nd a
mais
pre ocup antes qu e as pa ndemi as.
A partir d esse ano, com tod as as associações contra a tube rculose, como a
Liga N acio nal contra a Tu be rculose e a Assistência N acional aos Tu be rculosos,
e as p rofilaxias qu e se com eçaram a fazer p rincipal mente a pa rtir d e 18 9 9,
começou -se a not ar uma dimin uição nos níveis de tub erculos e, pois no i nício
do seculo XX, era consi derad a a do ença mais temid a a nível social .
Esta diminuição foi a co nsequ ência dos esforços conju ntos de to das as
instituições já me ncion ad as, qu e em conj unto f orm ularam to das as profilaxias
que até à data e ra o único “tratame nto” q ue existia.
Tratam ento da tub erculo se
O tratam ento da tub erculos e n a altu ra praticamente n ão existia, centrava-s e
numa p rofilaxia que im pedi a alg uém d e ter tub ercul ose.
C omo esta p atologi a está a tom ar l ug ar como d oença d omin ante, fez com qu e
se começasse a preocu pa r com a hi gie nização, p assand o p ela higi ene d a
casa, das á guas, d a alim entaçã o, da ro up a e t amb ém a have r mais horas d e
rep ouso e a cui dar m ais das relaç ões sociais entre p essoas.
32
C omo a tub ercul ose é um a co nseq uência g rave das c ondiçõ es alim enta res,
habitacio nais e tamb ém higié nicas, o R egulam ento d o C oncelh o de Sa úde, o u
31
Cf. A TUBERCULOSE e m Lisboa. Guerra á tuberculose. Vol. 1, nº2 (1902). Lisboa: Liga Nacional contra a
tube rculose, p. 2
32
Artigo de José Lope s Dias – noções de higiene geral contra a tuberculose; Cf. DIAS, José Lope s –
Noçõe s de higiene ge ral contra a tube rculose . A Saúde. Coimbra: Junta Ge ral do Distrito de Coimbra . Nº
65-66 (1933), pp. 4 -6
24
seja, as leis de s aúd e pública d e 1 83 7, estab elece ram -se a o brig atori ed ade d a
inspeção dos estab elecime ntos ind ustriais, pa ra avali ar o estad o sanitá rio d as
instalações e det ermin ar as me did as corretivas necessá rias.
Em 18 42, su rgi u o p rimeiro có dig o a dministrativo com especificações precisas,
em qu e h avia a defesa da sa úd e p ública, inclui ndo a d os trab alh ad ores e
alun os das escolas e colégi os. As leis dos anos seguintes a ume ntaram as
disposições de vigilâ ncia e inte rvençã o na saú de d a po pulaç ão.
Para
ajud ar
na
sa úde
pú blica,
os
del eg ad os
distritais,
elabo rava m
semestralme nte a to po grafia mé dica dos se us distritos, com o um relató rio d o
estado sanit ário. A p artir de 1 83 8, as Anais d o C onselh o d e Saú de P ú blica,
começaram a ser p ublicad as, com o objetivo de publica r trab alh os sobre a
situação sanitári a, recome nd ações, docume ntar a evol ução d e epid emia s,
pro postas de refo rmas, ent re o utros assu ntos, no sentid o d e inte ressar a
pop ulaçã o po rtugu esa p elos problem as de hi gien e.
Esta política, tal como noutros países da Eu ro pa, passa ram p ela divul gaçã o po r
peri ódicos médicos, ob ras científicas, e também atrav és das associações e do
Instituto C entral de H igie ne que se rviam p ara da r credi bilid ade às medid as
tomadas. Po rtug al pa rticipou ta mbém nas reu niões europ eias q ue tinh am com o
objetivo a rranj ar m anei ra de have r u niformi da de d a p rofilax ia ao nível d a
Euro pa.
33
Em 189 5, em C oimb ra, h ouve o prim eiro c ong resso mé dico n acion al, o
“C ong resso co ntra a Tu be rculose ”, ori enta do pelo professor A ugusto R oc ha e
por sug estão do qui ntanista de medicin a Ant ónio L eite d e F ari a. N este
congresso foram apresenta das 24 teses, te ndo sido distingui dos al gu ns nom es
como Lop o de C arval ho n os médicos; Leite de Fa ria, como estud ante d e
medicina, entre outros. Salie nta-se a comu nicação de Joã o Vi egas P aul a e m
relaçã o à tub ercul ose anim al, a pa rtir do Myco bacteri um bovis, rel atand o qu e
esta afetava um el evad o núm ero de animais d omesticados e selva ge ns e qu e
33
M ARTINS, José Thom é de Sousa M artins - Relatório dos trabalhos… p.8
25
era um pe rig o p ara a saú de p ública pri ncipalm ente atrav és d o uso n a
alimentaçã o hu man a.
34,35
Impedir a exp ansã o da t ube rculose anim al, ou sej a, impe dir o co ntági o a o
homem, e ra um out ro probl ema, pois isso iria interferi r na alime ntaçã o
nome ad ame nte n o l eite e carne, qu e e ram alim entos j á escassos e q ue as
pessoas nã o desp erdiçavam, e tamb ém afetava a eco nomi a do país. Era
necessário faze r a p asteuriz aç ão do leite. À carne, pod er-se-i a faze r a
esterilização p elo calo r, ou ent ão mel horar as con dições dos talh os.
Mas apes ar d estes esforços tod os, o bacilo de K och conse gui a prop ag ar -s e
mesmo com estas me didas de profilaxia to das; “A Tub ercul ose fu ncionav a
como a i nstância h um a nizado ra do po der higi enista”.
36
Pois também
o
analfa betismo d a p opul ação nã o aju dava na p arte da div ulgaçã o d a info rmaçã o
entra as classes mais pobres e as mais atacad as pela tub ercul ose.
H ouve nec essidade de ed ucar a po pul ação. A Li ga N acio nal co ntra a
Tube rculose cri ou o “C atecismo cont ra a Tu be rculose ”, ond e o obj etivo era
esclarece r as dúvidas mais imp orta ntes, como por exempl o as formas d e
preve nção mais eficazes, como por exem plo ex plicar que escarrar, er a um a
forma d e contá gio, o u o ato de fech ar cartas com saliva, q ue e ra m uito utilizad o
na altura.
37
O isolam ento do Bacilo de Koc h f ez com que a gu erra se viras se contra el e,
pois n em a profilaxia, n em a vacin a de BC G resultavam, pois ap esar d o se u
tamanh o, e ra ca paz d e ser resistente à maio ria dos b ac tericidas co nheci dos n a
altura e co ntagi ar p essoas e anim ais.
António La ncastre, em 19 01, com o secretári o-g eral da AN T, m and ou um ofício
ao gove rna do r d e Lisbo a, p ara ficarem a pa r qu e o escarro em vias pú blicas
não era u m p ro blema g rave com pa ra do com o escarro em locais com o o
34
PALAVRAS do Se nhor Pre side nte do Conce lho na se ssão inaugural da X Confe rencia da União
Inte rnacional Contra a Tube rculose . Bole tim da Assistê ncia Social. Lis boa: Subse cretariado de Estado da
Assistê ncia Social. Nº 8 -9 (1943), p.324
35
PROPHYLAXIA da tube rculose bovina. Guerra á tuberculose. Vol1, nº 1 (1900). Lisboa: Liga Nacional
Contra a Tuberculose , p.45.
36
PEREIRA, Ana Le onor e PITA, João Rui – Liturgia higienista… , p.492
37
Cf. CATECISM O contra a tube rculose . Guerra á tuberculose. Vol. 1, nº2 (1902). Lisboa: Liga Nacional
contra a Tube rculose , pp. 40 -44
26
transpo rte público e l ocais de espet áculo, p ois na ru a, a l uz do dia ne utralizav a
mais dep ressa o bacilo, enq ua nto q ue em locais fecha dos, este p od eria estar a
contagia r du ra nte seman as. U m ano após este ofício ser lançado, o gove rn o
agiu, la nçan do um edit al, que era um bol etim com os serviços sanitá rios d o
rein o, on de estava estipula do qu e era p roi bido cus pir em locais fecha dos e qu e
a multa po de ria che gar aos 1$ 000 réis.
38
Mesmo assim, havia dificulda de em cons egui r qu e as pessoas p raticassem
estes regula ment os de higie ne, po r isso, os médicos começaram a divulga r os
modos de higi en e at ravés da im prensa, homilias dos pá rocos, q ue tinha m
formaçã o e m semi nári os.
39
Tam bém foram co nstruídos escarrad ores , de vi a
pública o u po rtáteis, ou o h ume deced or d e selos.
Em 1903, a profilaxia da tub ercul ose, passava princi palme nte pel a desinfeçã o.
U ma das m edi das o bri gató rias e ra a d esinfeçã o d os qu artos se mpre que havi a
um ó bito por tub ercul ose o u havia mud ança d e q ua rto d e um d oe nte. Ta mbé m
os corpos de pois de m ortos eram nec essários ser d esinfetad os .
Todas estas p rofilaxias mostravam q ue p or um lad o h avia consciência que esta
doe nça e ra p rovoca da po r contá gio, e era necessá rio p recave r a o máximo m as
por out ro l ad o tam bém mostrava q ue a m edicina e ra i neficient e cont ra est a
doe nça.
A pesquisa pa ra um a cura, centrou-s e princip alme nte na p rimei ra meta de d o
seculo XX. A desco bert a d a tub erculi na fez com qu e os médicos co ntinu assem
e com mais afinco a procura por um a cura, um a vacina. A prime ira vacin a
contra a tub ercul ose e ra feita a p artir de bacilos mo rtos, como pro exem plo a
vacina d e M ari glian o, e ntre out ras, o u e ntão através d e estirpes nã o h uma nas,
como a feita atrav és da tarta rug a do m ar, qu e era usad a po r Fri edric h
Friedm an n.
40
Todas estas vacinas n ão f ora m eficazes, e nt ão os cientistas fizeram pesq uisas
para fazer uma vac in a atrav és de b acilos vivos de virulê ncia aten ua da, d e
38
EDITAL de 14 de m arço de 1902. In Boletim dos serviços sanitários do Reino. Lisboa: Impre nsa
Nacional. Nº 2 (1902), pp. 8 -9
39
M ORA, M ário Dam as – A higiene da tuberculose… , p.325
40
BÁGUENA CERV ELLERA, M aria José – La tuberculosis y su historia … , p.93
27
orig em bovi na o u hu man a. As primei ras prod uzidas nã o d era m resulta do, com o
a “Bov o Vaccine ”,
pro dutos,
como
41
qu e qua nd o a dministra da mantin ha a virulê ncia e assim o s
o
l eite,
qu e
eram
extraí dos
desse
a nimal
estavam
contamin ados.
Em 192 1, Albert C almette e o s eu aj ud ante C amille Gué rin, d o I nstituto Parteu r,
descobri ram a vacina BC G, que sig nifica, “Bacilos de C almette -Gu éri n”. N o
mesmo ano, o pe diatra Be rn ard W eill-H all é administrou pel a prim eira vez e m
um ser h uma no, num recé m-n ascido, e m q ue a mãe tinh a m orrido d e
tubercul ose. O be bé, não só so brevive u como ficou im un e. A desco be rta d esta
nova vacin a, p rovoco u um a g ra nd e a desã o, fazen do co m q ue vá rios países n a
Euro pa criassem p rog ram as de vacinaçã o qu e incluíam a BC G.
Em Portug al nã o foi dife rent e, assim que foi descob erta, foi log o a nunci ado qu e
havia uma vacina oral pa ra as vitelas e q ue se podi a estend er ao ser hu man o,
princip alme nte a crianç as e adol escentes.
42
A introduç ão d a vacina BC G e m
Portug al ficou a deve r-se à LPPS, Lig a Portu gu esa de Profilaxia Social,
localizado n o Po rto, q ue tinha como p rio rida de a l uta co ntra a tub erculos e. A
LPPS, em 1928, p ediu ao instituto Pasteur u ma am ostra da vacin a e a receit a
de como faze r a cultura la bo rato rial.
43
Em Lisbo a, em Jan eiro d e 1 92 9, n o Instituto Bacte rioló gico C âm ara Pestan a,
começaram a fo rn ecer a BC G a o p úblico, mas só a p artir de m édicos, d evido à
incerteza ai nd a à volta da vacina. O resp onsável pel a prod ução d a BC G n a
capital e ra Alfred o Ma gal hães, q ue
ap re nde ra
diretame nte com
Albe rt
C almette.
Esta descoberta foi m uito impo rtante, mas até o apa recime nto d esta vacina, o
melho r m étod o p ara co ntrol ar a su a pro pa gaçã o, foi a co nstrução d e
sanatóri os.
41
Outras vacinas que não de ram re sultado foram a “Taruman, conce bida por Robe rt Koch e Fre d
Ne ufe ld e a “IK” criada e m 1920 por Davos, Carl Spe ngle r.
42
A LUCTA contra a tube rculose e m Portugal, A m edicina Contem porânea (2ºsé rie ). Lisboa: Livraria José
António Rodrigue s. Vol. 29, nº 25 (1926), pp. 296 -197; BRITO, Francisco Assis – Da tuberculose e se u
tratam e nto. A m edicina Contem porânea (2ºsé rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 30, nº1
(1927), pp. 3 -5; SOBRE a vacina antitube rculosa. A m edicina Contem porânea (3ºsé rie ). Lisboa: Livraria
José António Rodrigue s. Vol. 1, nº3 (1929), p. 29
43
Cf. CALM ETTE, Albe rt – [Carta] 1928 -05-31
28
San ató rios
N o final d o seculo XIX, um dos p ro blemas que contin uava a fustigar e a causa r
incertezas pri ncipalm ente n a classe médica, era a n atureza da d oe nça, o
tratame nto e o i ntername nto d os do entes em sa natóri os. Pois uma d as maiores
pre ocup ações pa ra os médicos, era a q uantid ad e de pesso as que tinha m
tubercul ose e entravam no h ospital, contamin an do assim os outros doe ntes
não tub ercul osos. Assim, começaram a p ensar n uma form a de se pa ra r u ns
doe ntes dos outros.
Miguel Bom barda, na sessão da S ocied ade d e C iê ncias Mé dicas d e Lisb oa d e
27 de N ovemb ro d e 18 97, disse que q ue ria criar u m gru po p ara estu da r o
pro blem a da h ospitalização dos tube rculosos, com du as questõ es princip ais em
mente, a co ntagi osida de e os altos níveis de m ortali da de. C om este di scurso,
consegui u que a Socied ad e d e C iê ncias Mé dicas estud asse a c riação d e u m
sanatóri o e m Lisb oa.
44
O estudo fico u p or part e d e vári os hom ens inclui nd o
Miguel Bomb arda e C âma ra Pestana, entre o utros. C âm ara Pestan a insistiu
que t amb ém se devia co nstruir um sa nató rio de altitude na cabeç a d e
Monchiq ue pa ra os do entes curáveis e um ma rítimo p ara as cria nças
escrofulosas.
Os sanatóri os foram um fato r chave n a luta cont ra a tub ercul ose po r du as
razões, o clima e o regim e. O regime p orque d á ed ucação sen atori al para qu e
o doe nte conh eça o seu ag ressor, o u seja, a doe nça, e assim tomar
consciência d a n ecessidad e d e con diciona r a sua vid a à pres ervaçã o d a
pró pri a vida. O t ratam ento d e lo ng a duração e a sup ervisão contin uad a,
acompa nh ad os nos seus resulta dos po r tisiologista, pod eri a criar u ma disciplin a
útil. Em 1881, So usa Ma rtins, fez com que a Socie dad e d e Ge og rafia pro move se uma exp edição à serra d a Estrela, a fim de estu da r e an alisar a
possibilida de de construçã o d e sa nató rios n aq uele local; D esd e essa altura,
Sousa M artins, to rno u-se o ap óstolo cal oroso d a proteção da tub ercul ose e m
Portug al e tamb ém o símbolo d e movimento de a poio d os tube rculosos, tend o
44
PESTANA, Luís da Câm ara - Relatório “Hospitalização dos tuberculosos pobres em Lisboa ” Jornal da
Sociedade das Sciencias M edicas de Lisboa . Lisboa: Impre nsa Nacional. Tomo 63 (1899), pp 103 -125
29
consegui do a p rimeira cura n a Serra da Estrela de um d oe nte al i instalad o
naq uele a no. D e pois de terem visto os resultad os p ositivos do t ratam ento d e
doe ntes na serra da estrel a e na mad eira, estes começaram a ser construíd os
até ao fi nal d o século. N o relat ório da expe dição realiza da, So usa Ma rtins
calculou q ue o núm ero de óbitos d evido a esta do ença atingia cifras de cerc a
de vinte mil mortos an uais.
45
Send o os p rincip ais sanató rios d a altu ra e com se rviço d e u rgê ncia o D . C arlos
I, de Lisboa e o R odri gu es Semid e no Porto, em qu e este último p erte ncia à
casa da Misericórdia local
O pri meiro esta belecim ento c ontra
a
tube rculose
foi
construí do
no
Funchal, e m 18 53 p ela imp eratriz
Amélia d e Be au harnais , viúva de D .
Pedro IV, o “H ospício da Princesa
D . Maria Amélia”, em hom ena gem à
memóri a da su a filha qu e falece u neste
mesmo loc al com t ube rculose;
Ilustração 1: Hosp ício D. M aria Amé lia
em
186 2, foi inau gu ra do o edifício própri o q ue ma nd ou co nstruir d ep ois de te r
estado i nstalad o d ura nte 5 a nos em edifício p rovisóri o. Este hos pício limito u-s e
à prestação de cui dad os aos m ad eire nses po bres qu e tinh am tu bercul ose.
Assim, o hospício, não teri a só a fu nção
46
de trat ar g ratuita ment e os
tubercul osos, mas tamb ém foi desig na do com o centro d e investigaçã o da tísica
pulmo na r em term os de estatísticas ; do que ca usava a d oe nça; e o mo do com o
o clima que a Il ha da Mad eira aj ud ava n o tratame nto. O temp orá rio tinh a
ocupaçã o d e vinte e qu atro do entes, ou sej a, doze de ca da sexo, natu rais d a
madei ra ou e ntão d o estran geiro, m as q ualq ue r d oe nte qu e fosse admi tid o,
45
Cf. DIÁRIO da Câm ara dos Se nhore s De putados da Nação Portugue za, se ssão nº28 de 13 de M arço de
1899, pp. 7 -8; DIÁRIO da Câm ara dos Se nhore s De putados da Nação Portugue za, se ssã o nº86 de 16 de
Julho de 1899, pp.4
46
REGULAM ENTO do Hospício da Prince za Dona M aria Amé lia. Gazeta M édica de Lisboa. Lisboa:
im pre nsa Nacional. Tom o 1, nº9 (1853), p. 137
30
tinha que ter uma regra que e ra “ser po bres, de vid a h on esta, e não ter men os
de qui nze an os de id ade ”.
43
Era u m e difício com q ualid ad e, asseio, bo a ventilaçã o, á gu a can alizad a tant o
fria como q ue nte, tinha pa re des forrad as com passa gens bí blicas, c om o
objetivo de controla r o com port ament o d os d oe ntes, p rincipalm ente os m ais
religi osos. Tinha m obiliá rio n ovo e simples, camas de fe rro pa ra m elho r limpez a
e almofa da, colchão e le nçóis para o confo rto do p aciente. Os do entes mais
debilita dos tin ham c adei ras de diferentes i nclinações pa ra c onseg uirem estar o
mais possível cómod os, e um j ardim com mesas e ba ncos.
47
Em suma, e ra u m
local de q ualid ad e, em compa raçã o com os restantes hospitais d a ép oca.
C ada fu ncion ário d o h ospício tin ha uma funçã o es pecífic a e o fu nciona ment o
era cont rola do p or um mé dico, o D r. António da Luz Pita, uma reg ente, q uatro
enfermeiras, um enf ermei ro, u ma cozinh eira e vá rios ra pazes q ue faziam as
tarefas de a uxiliares de açã o médica.
C omo a terap êutica até a altura e ra p raticam ent e in existente, o trata ment o
baseava -se no controlo/tratame nto dos sintomas, como a diarreia, a norexia,
tosse, a he moptise e a feb re., p ois os m édicos d esconh eciam a etiol ogi a d esta
doe nça ent ão b aseavam -se nas d outri nas gal énicas. Mais prop riame nte, o D r.
António da L uz Pita, baseava -se em q uatro tipos d e terapê utica alg umas d o
seculo a nteri or, e a do utrin a q ue segui a era d a farmácia gal énica, e d e
sistemas médico-filosófico. A tera pê utica tube rculosa tin ha a ver com a posiçã o
dos D ubos, ou sej a, o métod o usa do e ra b asea do n a a utorid ad e dos mé dicos
do qu e na pesq uisa e exp erie ncia clinica. N a doutri na, o D r. Antóni o da L uz
Pita, baseava-se em métod os tal como a evacu ação d os maus hu mores po r
clisteres, sangrias e p urgas. Outra do utrin a era a b row nista, qu e d efen dia o us o
de
m edicam entos
ta nto
calm antes
com o
excitantes
no
comb ate
à
48
tubercul ose. E a doutrin a mais utilizada e m Portu gal e ra a a erista, qu e
defen dia qu e os d oe ntes deviam ser col ocad os em exp osição com o a r,
especialme nte ar artificial, ou sej a, com su bstâncias me dicame ntosas nel e,
pois dizia -se
47
48
que
o
ar p uro
e ra
nocivo
pa ra
qu em tin ha
pr oblem as
VIANNA, Francisco José Cunha – Hospício da Princeza … , pp. 137 -138
SHRYOCK, Richard Harrison – National Tuberculosis… , pp 62 -63
31
respiratóri os.
49
Outra te ra pia m uito usad a e ra a da alime ntaç ão, pois tin ha -s e
observa do que a tube rculose trazia p robl emas h ep áticos e intestinais, então o
tratame nto e ra utilizar aliment ação fo rtificante, incluin do o ól eo de fíg ad o d e
bacalh au descob erto n a d écad a d e 1 84 0, e co meçad o a ser utilizad o com o
medicam ento
Ilustração 2: M ed icame ntos usad os n o tratame nto n o H ospício D. M aria Amé lia
Os do entes q ue ent ravam no H ospício e ram de v árias i da des, como se p od e
verificar no qu adro, os prim eiros a nos de fu ncion ame nto tiveram no total 42 8
doe ntes, sendo a m aiori a com ida de comp re endi da e ntre os 2 0 e 30 a nos.
Ilustração 3: Ida de d os d oen tes q ue en travam no Hosp ício D. M aria Amé lia
Ou seja, pode -se concluir q ue e ram os jovens até aos 30 a nos que cont raia m
mais a d oe nça, devid o tamb ém à mai or exposição qu e tinh am a ela, p ois
estavam n o p erío do ativo d a vida. Em term os d e sexo, a mai or aflu ência foi d e
mulhe res nu m total de 2 42 mul he res contra 15 0 hom ens , tal como po de se r
visto no anexo V. A razão de se rem mais mul he res do q ue h ome ns, seria
devido à profissão qu e cad a um tinh a, ou sej a, as mulh eres p roc u ravam m ais
49
GUILLAUM E, Pie rre – Du désespoir au salut… ,pp. 62-63
32
os serviços clínicos e também porq ue m uitas vezes as obrig ações familiares
eram m uitas, os que as deixava sem tempo p ara procu ra r aju da, fazend o com
que o q ua dro clinico piorasse.
N o anex o VI, po de-se ver qu e a maio ria dos d oe ntes inte rna dos era m
madei re nses, seguid o de po rtugu eses do co ntine nte e d e Go a. D entro dos 2 2
que vin ham do co ntine nte, 1 8 eram de Lis boa, 2 do Porto, 1 d e Aveiro e o
ultimo de Fa ro.
Os resulta dos d este hospício pod em se r vistos no seg uinte qu adro, em qu e
“cura do ” n aq uel e tem po se ria um a cu ra hip otética p ois n ão haviam mei os p ara
saber s e estava m esmo curad o o u n ão, e qu e “alivia do ” e ra simpl esmente um a
melho ra m os sintomas a presenta dos, conse guim os ver q ue o mai or núm ero d e
doe ntes estavam na categ oria “melh orados ”, vindo em segu nd o luga r os
“cura dos” e em ultimo os “alivia dos”.
Ilustração 4: R esu lta dos do H osp ício D. M aria Amé lia
A Madei ra era consid era do um local bom pa ra os do entes tub ercul osos, devid o
também a teo ria ae rista, pois como era u m clima m arítimo tinh a p re domi nânci a
de azot o em vez de oxigé nio e po r cont er outras substâncias g asosas tal com o
o cloreto de sódi o. Estas substâncias eram co nside rad as pu rificado ras. Para
além de te r o clima ide al, era lumi nosa, o u seja, tinha b astante luz.
D . Maria Am élia, ai nda em pri ncesa e a poia da e ac onselh ad a p elo se u m arid o,
em 1 88 9, pl ane ou a c riação d e u m e difício p ara a némicas ou um hospital p ara
tubercul osos, inspira da n um asilo fra ncês para ra pa rigas d oent es dos pulmõ es.
Em 18 96, fo ram criad as e nferm ari as de isolam ento p ara tub ercul osos n o
hospital d e Santo Antó nio e tamb ém n o H ospital da Ma rinh a.
33
189 8, ficou marcado p elo atin gir do o bjetivo de R ain ha D . Maria Amélia, qu e
consegui u q ue os tub ercul osos dispe rsos p elos vári os h ospitais de Lisbo a,
fossem isolados n o H ospital d e Arroios, qu e p assou a se r cham ad o de H ospit al
da rai nh a D . Maria Amélia.
Em 19 01, foi cria do o prim eiro disp ensá rio em Lisbo a pa ra t ube rculoses. O
dispensá rio tinh a como funç ões da r consultas ind epe nd entes a tub ercul osos e
a p essoas com predisp osição à tub ercul ose. Pa ra além disso os funcio nári os
também realizava m visitas às casas, para ver as con dições higi énicas, o g ra u
de p romiscuid ade e a misé ria em que viviam as p essoas, também distribuía m
senhas pa ra os m ais p ob res i ram a c ozinhas eco nómicas, p ara te rem roup a,
camas, escarra dores de b olso e desinfet antes . Os que n ão se conse guia m
tratar e ram e nviad os para o hospit al D . Maria Amélia em Arroi os. 50
C om o passar d os an os, os sanatóri os começaram a ser ca da vez men os
utilizados até fecha rem, p ois a m edicin a foi evoluin do, int rod uzind o-se os
antibióticos e a quimi oterapia, em q ue a isoni azida de monstrou ser efic az
contra a tub ercul ose. A evol ução dos tratame ntos foi outra d as causas, estes
começaram a i ncluir com o p or exempl o a
51
rifam picina , que
dimin uí a
eficazmente o co ntági o, po nd o assim cada vez mais de pa rte a vel ha prática
dos b ons a res e do re po uso q ue os san atórios traziam. O fecho dos sa natóri os
pôs fim a uma part e da história d a tub ercul ose, mas esta h istóri a continu a a se r
um assunto i naca ba do pois no seculo XXI, ain da co ntinu a a have r mo rtes
devido a tu be rculose e ain da falt a e ncontrar o po nto final d esta históri a, o u
seja, a cu ra. Estud os contin uam a se r feitos, e esta do ença é ca da vez m ais
clara pa ra to dos nós. Passou po r ser uma doe nça dos a rtistas ligada a o
roma nce, a um a do ença dos po bres até se te r descob erto q ue era co ntagi osa,
e q ue o que a causava era o Mycob acterium tub ercul osis . Portug al sem pre
seguiu as evol uções dos o utros países, tanto a nível me dicinal como sanit ário.
50
Cf. CORREIA, Fe rnando da Silva – Algumas e fem é ride s… ,pp.373 -374; DISPENSÁRIO antitube rculoso e m
Lisboa. A M edicina Contem porânea (2º se rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 4, nº23
(1901), p.191 e o DISPENSÁRIO Antitube rculoso de Lisboa da Assistê ncia Nacional aos tube rculosos. A
M edicina Moderna. Porto: Im pre nsa civilização. Vol. 3, nº101 (1902) p. 313
51
Outros bacte riostáticos utilizados eram , a ciclose rina, a viocina, a pirazida, o etambutol e a e tionamida
34
Co n clusão
Este trabalh o teve com o o bjetivos pri ncipais, an alisar a Tu berc ulose e m
Portug al, como se d esenvolve u e a resp osta q ue os p ortu gu eses de ram a esta
Peste Branca.
A tube rculose ao lon go dos tem pos teve vári as teo rias sob re a su a n atureza.
Gra nche r e La en nec diziam q ue e ra d e causa ú nica e n ão a j ulgava m
contagios a. Virchow , professor d e pat ologi a e político militante, dizia q ue tinh a
orig em
tumoral,
mas
gan ha
p rota gonism o
acompa nh an do o se u acréscimo de p erto
no
final
do
seculo
XIX,
a rev olução i nd ustrial, mas
descobri nd o-se tamb ém o seu a gent e causa do r, este drama pe rp a ssa tod o o
seculo XX e, ap esar de a ciê ncia te r co nseg uido n este século os mei os p ara
vencer este flag elo, m edicam entos se gu ros e eficazes e o conh eciment o pl en o
da sua prop agaçã o, entra m esmo assim, pelo sédulo XXI, ainda como um d os
pro blem as de saúd e pu blica com maio r re pe rcussão em tod o o glo bo.
U m tubercul oso não se diz cu ra do, m as sim clinicament e curad o em gíri a
sanatori al, ou sej a, o b acilo p erm anece, agu arda ndo uma qu alqu er que bra d e
resistência orgâ nica pa ra d e novo, se manifesta r.
Ao lon go dos anos, o san atóri o e ra um lu ga r d e p rimazia no trata mento d a
tubercul ose, p or du as razo es, o clima e o re gime. O regime d á e ducaçã o
senatori al p ara qu e o d oe nte con heça o seu a gressor, ou sej a, a d oença, e
assim tomar consciê ncia d a nec essidade de co ndicio na r a su a vida à
prese rvação da pró pri a vida. O tratame nto d e lon ga duração e a su pervisã o
continua da, acom pa nha dos nos seus res ultados p or tisiolo gista, po de ria cria r
uma disciplin a útil.
35
Pode -se co ncluir qu e a histó ria da tub ercul ose ai nd a está lo nge d e ac aba r,
várias pes quisas ai nda vã o ter qu e ser f eitas pa ra d escobri r mais desta d oenç a
que ai nd a hoj e em dia mat a muitas pessoas.
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41.
SH R YOC K, R ichard H arrison – N ational Tu be rculosis
42.
C adernos informativos AC TP, número 1 4. Junh o de 1 98 9
An exos
Anexo I – Mortalidad e Ge ral em Lisboa (18 73 – 1 87 9)
Fonte 1: C orreio M éd ico de L isb oa
40
Anexo II – Princip ais p atologi as e seu s n úm ero s d e óbi to no H ospital Sã o
José do ano de 1 851 e do 1º trim es tre d e 18 52
Fonte 2: B AR B O SA, António M aria - Principaes causas da morta lidade d o H osp ital de S. José e meios de as
atenuar. Gaze ta M éd ica de Lis boa. L isboa: Im prensa N acio nal. Tom o 1, n º1 (1853 )
41
Anexo III – Mortalidade G eral em Lisbo a (1 88 1-1 88 6)
Fonte 3: O Correio M éd ico de L isb oa
42
Anexo IV – Mortalidad e Ger al em Lisboa (18 87 -19 01 )
Fonte 4: B o letim de saúde e h igiene mun ic ipal de Lisb oa e o periódico "A M ed icina Co ntem porânea”
43
Anexo V – D oen te s do H ospício D . Maria A m élia, por g éner o, es tado civil e
profiss ão
Fonte 5: Gazeta M éd ica
44
Anexo VI – L ocal de onde s ão os doen te s qu e d eram en tra da no H os pício
D . Maria A m élia
Fonte 6: Gazeta M ed ica de L isboa
45
46
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DM_Tuberculose século XIX em Portugal