Tuberculose no final do século XIX em Portugal Jo an a Cristin a Ro d rigu es Bo rralh o D issertação para obte nção do Grau d e Mestre e m Ciências Farmacêuticas Ju nh o 2014 A so rte f avo re ce ap enas os espí ritos prepa rado s Pasteur 1 Resu mo A luta contra a tube rculose n o mun do é um exem plo de com o um en orm e esforço conj unto da hum ani da de se mostra i nsuficiente pa ra ve ncer um m al apa re nteme nte ao seu alcance. N o final d o século XIX, a tu be rculose gan ha protag onismo com o u ma d as gra nd es pan demi as, acomp anh an do o seu acréscimo d e p erto a revoluçã o industrial. Esp alh and o-se p or to do o m un do através da explo raçã o e colonização m as descobri ndo -se tamb ém o seu age nte causa dor, p or R obe rt Koch em 18 82. Esta pan demi a p erpassa to do o seculo XX e, ap esar de a ciê ncia te r consegui do neste século os mei os pa ra venc er este flag elo, me dicame ntos seguros e eficazes e tam bém o con hecime nto plen o da sua prop agaç ão, entra mesmo assim, pelo séd ulo XXI, aind a com o um dos pro blem as d e sa úd e pública com mai or rep ercussão e m todo o gl ob o. A present e dissertaçã o foca-se n a an álise da passag em da tu be rculose por Po rtug al no final do seculo XIX, como chegou, como se propa go u, como torno u-se u ma das mai ores pan demi as no nosso país mas també m no mu nd o inteiro. Palavras-chave: Tuberculose, século XIX, pandemia, Portugal. 2 Ab stract The fight a gainst tub ercul osis in the w orld is an exampl e of how a h ug e combine d effo rt of hu manity, show s insufficient to d efeat a n a pp arently easy evil. In the en d of XIX century, the tub erculosis w ins a spotlight as o ne of the big gest pan demics, w atching th eir grow th the ind ustrial revol ution. T he tu be rculosis sprea d aro un d th e w orl d th rou gh the explo ratio n a nd colo nization, but also w as discovered her ca usative age nt, by R obert Koch in 1 882. This pa nd emic pe rvad es the entire XX ce ntury, a nd altho ug h th e science ha d achieved in this centu ry, the metho ds to triumph a gai nst this scourge, the safe and effective drugs, an d also th e know led ge of how the tu bercul osis sprea d, this disease, e nter in th e XXI centu ry, still as on e of th e health p robl ems w ith gre at impact in the entire w orld. This thesis focus in the analysis of the passa ge of tub ercul osis throu gh Po rtug al in the end of the XIX century, h ow arrived, h ow it spre ad, h ow it becam e o ne of the bigg est pan demics of our cou ntry but also in the entire w o rld. Key words: tuberculosis, XIX century, pandemics, Portugal 3 Ag rad ecim en to s Primeirame nte exp resso os meus since ros a grad ecimentos a o Professor Alexand re d a Silva, pela confia nça, disponi bilida de e orie ntação p resta da. Gostaria d e ag ra dece r aos meus p ais e irmão, p or tod o o ap oio e suporte dad o ao lo ng o da jo rn ada acadé mica. Finalme nte, um a especial pal avra de ag ra decime nto a tod os os q ue contribuí ram p ara a presente tese, tal como a Fu nd ação Po rtugu esa d o Pulmão, Po rtug al e a Associação N acio nal d e Tu be rculose e D oe nças R espirató rias, Portug al; Tamb ém g ostava de ag ra decer a tod os os col eg as d o cu rso q ue estivera m prese ntes de uma forma o u de outra du ra nte esta avent ura, em especial à Sara Palmeira e à Ana R ita Sousa. Obri gad a! 4 Ín d ice Re sumo ....................................................................................................................................................... 2 Ab st ra ct ....................................................................................................................................................... 3 Introd uçã o ................................................................................................................................................... 6 Port ugal no do sé culo XI X ...................................................................................................................... 7 Rob ert Ko ch ........................................................................................................................................... 10 Pandemia s do século XIX em Po rtu gal ................................................................................................ 12 Definição e Hi stó ria ............................................................................................................................... 13 História ..................................................................................................................................15 Tuberculo se e m Po rtu gal ...................................................................................................................... 18 A Mortalidade ......................................................................................................................22 Tratame nto da t ube rculo se ................................................................................................................... 24 Sanató rio s.............................................................................................................................................. 29 Con clu sã o ................................................................................................................................................. 35 Refe rê ncia s Bibliográfica s ........................................................................................................................ 36 Anexo s....................................................................................................................................................... 40 Anexo I – Mo rtalidade Ge ral em Li sb oa (1873 – 1879 ) ....................................................................... 40 Anexo II – Principai s patologia s e seu s nú mero s d e óbito no Ho spital São Jo sé do ano de 1851 e do 1º t rime st re d e 1852 ............................................................................................................. 41 Anexo III – M ort alidade Ge ral em Li sboa (1881 -18 86 )........................................................................ 42 Anexo IV – Mo rtalidade Ge ral em Li sboa (188 7-1901 ) ....................................................................... 43 Anexo V – Doente s do Ho spí cio D. Ma ria Am élia, por gé nero, e stado civil e profi ssão .................... 44 Anexo VI – Local de onde são o s d oente s que de ram en tra da no Ho spí cio D. Ma ria Am élia .......... 45 5 In tro d ução A prese nte dissertaçã o assenta na a nálise d a evoluç ão d a tube rculose po r Portug al no final do século XIX, como se torno u um a pa ndemi a e o imp acto qu e teve. A tubercul ose é um tem a q ue tem sido m uito estud ad o a o lo ngo dos tem pos, sendo tem a de teses não só d e mestrad o como esta, mas também d e D outora ment o, pod en do citar a tese “C o nh ecer, trat ar e c ombat er a “p este bra nca”. A tisiologia e a lut a contra a tu be rculose em Po rtug al” d e Ismael Vieira . Este final de século foi um tempo d e gra nd es e rápi das mud anças, com o desenvolvim ento das in dústrias e dos mei os d e tra nspo rte, as gra nd es cidad es começaram a rece ber ca da vez mais pessoas do campo, fazen do com qu e as cidades crescessem e mod ernizassem; as cidad es que m ais evoluçõ es tiveram, foram Lisboa e P orto. P ode -se até diz er que mei o sécul o b astou, p ara introd uzir n a vida diá ria o camin ho-de -ferro, o ba rco a v apo r, a eletricida de, o telefone, o telé grafo, a foto grafia p or M eyer qu e foi um farm acêutico e m Frankfu rt, tendo sid o el e o p rimei ro a acopl ar ao microscópio uma câm ara fotográfica; bem como assepsia, a a nestesia e a radi ografia. D os nomes mais importantes da é poca, salient am -se L ouis Pasteur e R obe rt Koch. Pasteur foi professor químico em Estrasb urgo, e em Pa ris. D os vários trabal hos, os sob re a fe rme ntação fo ram os q ue tiveram m aior inte resse p ara as ciências d a saú de, descob rin do a b actéria respons ável p ela f erme ntaçã o láctica, em 185 7, alem de preco nizar a “pasteu rização ” como técnic a indispe nsável pa ra a pres ervaçã o co ntra as d oe nças d o vin ho e da cervej a (18 61 -18 73 ). Mas os trab alhos m ais rel evantes te rã o sido sob re doe nças contagios as do h omem e d os a nimais. Te nd o sid o a d escobe rta da vacinaçã o, através do estu do d o processo de imu nida de cont ra do enças conta giosas. A tuberculos e é uma d oe nça infeciosa causa da p ela b actéria Mycob acteriu m tubercul osis. A prese nte tese enco ntra -se, distrib uída d a seg uinte forma: na i ntro duçã o temos uma b reve história d a con dição d e Port ugal no século XIX, on de a nalisa se um p ouco a situação co mo as classes mais p ob res viviam e tam bém as 6 classes mais altas, ainda d entro d a introduçã o fala -se d a vida d o h omem qu e deu um o utro rumo à histó ria da tub ercul ose descob rin do o seu a gent e causado r. Por último faz -se uma lista das pan demi as que invadi ram Po rtug al no seculo XIX . C om pro gresso do t rab alh o e ntra -se com a definiçã o e breve históri a d a tubercul ose, de pois fala -se com o a tu bercul ose atin giu P ortu gal d e q ue fo rma e quem m ais afetou. N o tema M ortalid ad e, fala-se nos núm eros monstru osos qu e a tub ercul ose p rovoc ou em Po rtug al e p or fim e ntra -se n o ram o d o tratame nto, mais por mei o de profilaxias aca ba ndo a falar n os sanató rios, princi palme nte n o hospício D ona Ma ria Améli a da M adei ra. Portugal no do s éculo XIX D esde os D escobrime ntos até ao final do século XIX, conhece -se muito mal o estado sa nitári o d a p op ulação p ortu guesa, m as sab e -se qu e foi prec ária, nã o melho ra ndo ao l on go d o temp o. Sab e-se qu e a es perança m édi a d e vida d os Portug ueses ro ndav a os 30 -3 5 a nos até m ea dos do século XIX, tend o oscilações ace ntuad as n os a nos seg uintes. Este a ume nto deve u -se às muda nças religiosas com a dimi nuiçã o d os pe re grin os am bula ntes, início d e hábitos d e higie ne e p ossivelmente a m elho ria d a alime ntação em po pulaçõ es de im po rtância nu mérica p ro gressivame nte m aio r, com o dese nvolvimento d o comércio e d a ind ústria. Sabe -se q ue e m 17 76 P ortu gal tin ha uma pop ulaçã o n a ordem dos 3 a 3, 3 milhões de ha bitantes , p ois foi realiza do o ce nso d e Pin a Ma niq ue, se ndo d a ord em d os 3 milhõ es de h abita ntes no i nício do sécul o XIX, tendo a ume ntad o cerca de 4 2% na seg un da meta de d este seculo, chega nd o a ser 5,5 milh ões. 1,2 Para qu e, e m m enos de um século, se tivesse conse gui do alcança r esse patama r, foi necessá rio q ue as taxas d e mort alida de inf antil e t amb ém g eral 1 F A. Gon çalve s Ferreira – Histó ria da saúde e do s se rviço s de saú de e m Po rtugal . Fu nda ção Calou ste Gulben kian Li sboa capítulo 11 pág. 1 77,180 ,198 2 Fe rnand o So u sa, A. H. De Oliveira Marque s - Po rtugal e a reg ene ração. E ditorial Presen ça. 7 tivessem diminuído. É o piniã o u nâni me e ntre os histori ado res d a Epid emiol ogi a que a dimin uição d a mo rtalid ade, n este seculo, se d eveu essenci alment e às medid as higi ene -sanitá rias, já q ue “a me dicina n ão dispun ha de mei os aprop riad os tratame nto”. de comb ate às d oe nças ne m de técnicas eficazes de 3,4 O seculo XIX, mais precisamente a sua se gu nda meta de ficou co nheci do com o “século d a bu rgu esia”. Os ricos bu rg ueses neste século su bstituíram a no breza, copian do os seus estilos de vida. O din hei ro d estes ricos burg ueses foi ga nh o na ind ústria, na b anca o u ate mesm o no Brasil. N o final deste século eram os burgu eses que d ominav am, tanto a nível político como económic o. U m exemplo f oi o con de de Bu rn ay, de o rige m bel ga que domi nava a alta fin ança e tinha um a influê ncia p olítica elevad a, cheg and o a p articipa r em e mpresas ligad as ao vidro, tab aco, pa pel, transp ortes ferroviá rios e ind ustria química. 2,5 N o seculo XIX começou a fala r-se da classe op erá ria, fo rma da p elos p eq uen os agriculto res, p eq uen os come rciant es e os a rtesãos, q ue na mai or pa rte d as vezes proc urava m tra bal ho nas novas atividad es do sector secu nd ári o, ficand o aloja dos em locais de plo ráveis. Esta classe vivia sem con dições de vida, e foi lhes ligad o o conc eito de “proletá rio ”, ou seja, com p role -família muit o nume rosa – e sem ben efícios. As mas con dições de vida, de alime ntação e d e h abitaçã o, inclui nd o a falta d e arej ame nto das ha bitações desta classe, contribuía p ara m a pro pa gação d os vírus e bactérias causa dores de muitas d oenças, tal como a tub ercul ose. Em 1852, des envolve ram -se associações de socorros mútu os, que tinha m como p rincipal preocu paçã o, as dificulda des eco nómicas dos o perári os e ai nd a auxiliavam os familiares d estes mesmos o pe rári os em situ ações d e d oe nça, desemp re go, invalid ez ou mort e. Os sindicatos tentavam a partir d e greves aume ntar a influê ncia dos op erá rios, m as a classe bu rg uesa n unca s e senti u 3 4 5 FE RREI RA, 1990: 221 Re vi sta d a Faculdad e de Le tra s - HIS TÓ RIA; Po rto, II I Sé rie, vol. 7, 2006, p p. 181 -19 5 educa cao.t e.pt 8 ameaça da, pelo me nos em Portu gal. C om o os transp ortes p úblicos era m escassos a maioria dos bai rros op erá rios e ram construídos ju ntos às fábricas, pratica esta qu e contin uou pelo sécul o XX. 6,7 C erca d e 7 0% da po pul ação no fin al d o seculo XIX trab alhava na ag ricultura, sendo a vid a no camp o difícil; o trabalh o do camp on ês era lig ad o às estações do a no e às alterações d o estad o do te mpo. O suste nto d a maio ria das famílias era retirad o com o seu próp rio su or, ch ama da assim de ag ricultura d e subsistência. Quem ti nha posse d e um a p arcel a de t erra, tinha um lu ga r n a sociedad e ru ral e p odi a pa rticipar n a vida politica local. 8 Em termos d e alim entaçã o, seg und o Simã o d e Ma rtel , as classes proletá rias em Portu gal co miam m enos e pi or q ue as mesmas n o estrang eiro. C omo a maiori a da pop ulaçã o vivia da ag ricultura, a base da alim entaçã o, era m vegetais na s ua maio ria, batata e o “p ão b ranc o”. A carn e, o p eixe, ov os, leite, queij o, etc., não faziam pa rte d a alim entaçã o d os campo neses m as eram sim um luxo qu e só po r vezes consegui am ter. O azeite e ra restringi do a o caldo e só po ucas vezes ao molh o d e b atata. Ao contrário dessas classes, as abastad as faziam um co nsum o de ca rn e, aves, peixe e go rd uras qu e excedi a as exigências fisiológicas. C omo mai oria da po pul ação nã o disp un ha de águ a can alizad a, esta a bastecia se dos fo ntan ários, poços e cistinas, em q ue nã o se s abia como era a quali dad e bacte rioló gica, send o muitas vezes duvidosa. 9 Todas estas situações d e po brez a, má higi ene e má alim entaçã o em Po rtug al em conjunt o com o Mycobacterium tub ercul osis descoberto p or R ob ert Koch, pod em levar à Tub ercul ose. A descobe rta de R ob ert Koch foi um d os maiores 6 educacao.te .pt 7 Revista da Faculdade de Letra s - H ISTÓRIA; Porto, III Série, vol. 7,2006, p p. 181 -19 5 8 Sim ão de Martel, A alim entação das classes pobres e suas relações com o trabalho, in Boletim do Trabalh o Industri al, nº44, Lisb oa, 1911 9 Análise Social, vol. xxxii (142), 1997 (3.º), 483-535 9 passos para a pesq uisa de uma cura pa ra a tu be rculose, daí el e ser cham ado o “Pai” d a tube rculose. R obert K och R obert Koch d esde semp re foi uma p essoa de dicad a ao q ue se prop unh a, modesto e co m u ma se re nida de a dmirável, e ra exige nte e n ão con hecia o qu e era re po uso n em fraqu eza de ânim o. Era um da quel es profissionais q ue s e dizia, “do núm ero da qu eles cientistas puros qu e vivem exclusivamente do amo r à sua p rofissão e d o prazer do estudo dos se gre dos d a n atureza” E dison so bre R oentge n, mas aplicad o tamb ém a Koch. N ão são só os traços de pers onali da de que fizeram de K och um investiga do r brilh ante, mas tam bém a vocação, q ue n ele su pla ntou os co nhecim entos d o médico e do m atemático, o inte resse d emo nstrad o po r tud o e tam bém o interesse em inv estigar o q ue as a parências ocultavam. Era d otad o como po ucos p ara a inv estigação, co nsegui nd o ai nda em alun o, n o ano de 1 86 4 em G ottinge n, ser p remi ado po r um tra bal ho sob re a re de nervos a uterin a. D outo ro u-se em H amb urgo no an o d e 1 866 em M edicin a. Aos 41 an os na cidad e de C alcutá d escobri u o ag ente da cóle ra. Koch estudava na Silésia a d oenç a qu e dizimava o ga do, q ua ndo t eve um a ideia que em b ora hoj e p areç a muito simpl es, naq uel a ép oca foi muit o importa nte. A i deia era col ocar entre duas l âmin as de vidro este rilizadas pel a chama, uma seme nteira da b actéria q ue se dese nvolveu n o seu meio d e cultura ao ar, e po rtanto da c ontami nação po r o utras bactéri as. Estudou dep ois as condições em q ue as form as interm ediá rias do se u ciclo evolutivo, ou seja, os esporos, se desenvolviam e p ro pag avam; e no f im re produzi u experim entalm ente a doe nça. Koch ao cheg ar à capital (B erlim ), no mesmo an o qu e o bacilo da fe bre tifoid e foi descobe rto p or Eb erth, p re ocup ou -se e d ecidiu desven dar “a orig em d e um a das mais sinistras doe nças, das m ais p ervers as, mais insidi osas e, às vezes, singula rme nte mais fulmi nant es. H edion da com o a peste, tão antiga c omo o 10 H omem, a T ub ercul ose, de carácter e nd émico, semp re f oi am eaça l atente n o decurso de tod a a história da H uma nida de.” Koch det ermi nad o e m e ncontrar resp ostas ensai ou n a su a co baia nu merosas inoculaçõ es d e tecid os d oe ntes; imp reg na ndo vari as técnicas de cultura, um as a qu ente, out ras a frio, com o obj etivo de isola r o b acilo resp onsável pel a tubercul ose. Ap ós 17 2 pre pa raçõ es, Koch ficou surp re en dido a o visualizar n o campo do microscópio, isol ad os ou em sé rie pe qu enos baston etes finos e curvos, de 2 a 3 milésimos de milím etro. Estes b acilos termi navam em po nta e encontravam -se de p referência n as células giga ntes dos tubé rculos, pintad os de az ul, emb ebi dos n esta ultima prepa raçã o n uma solução alco ólica concentrada de azul -d e-m etileno com 10% d e potassa. Após esta d escobe rta, impun ha -se cultiva-lo num mei o ap rop ria do. N aqu ela altura, os meios de cultura q ue se co nheci am eram os líqui dos, on de as substâncias se misturavam umas com as outras, send o p raticame nte im possível o isol ame nto. Mas Koch, h abitu ad o a os mais rudi ment ares m eios de t rab alh o, lem bro u -se d e recorre r ao s oro san guín eo, descob rin do assim vári as soluçõ es a o problem a; ou seja, o meio san guín eo e ra o ide al pois contin ha tud o o que o microrg anismo n ecessitava para se rep ro duzir; era transp arente, po de nd o assim visualizar-se, e po r fim era soli dificável ao calo r, e Koch aq uece ndo -o a 65º, impe diu assim, as bacté rias d e se mistura r um as com as outras. O resultad o fo ram col óni as pu ras q ue, in ocula das, n os anim ais de ensai o, rep ro duziam a d oe nça. O tra balh o de K och n ão acab ou aq ui, el e ai nd a conse gui u d emo nstrar a via d e contágio d a do ença. Esta experi ência consistiu em fazer passar, em recintos completam ente f echad os, on de se enc ontravam coel hos e cob aias, um a corre nte d e ar co ntami nad o com b acilos. Veio a o bserva r-se que s eman as dep ois os animais ado eceram com tube rculose, localiza da nos p ulmões, tal como acontecia geralme nte nos h uma nos. “Koch n ão se limito u ap en as a desco brir o a gent e causal d a tisica: confirmou, a um tem po, e sem lug ar a duvid as, as teo rias mic robi an as de Pasteu r; estabelec eu, nas su as gra nd es linhas, o qua dro an átom o -p atoló gico d a tubercul ose; fixou os princípi os funda mentais d e todas as investigaçõ e s 11 bacteriol ógicas ulteri ores, pel a i nvençã o d os n ovos m étod os d e p esquisa; de u, em suma, impulso d ecisivo à bacteriol ogi a.” Aprese ntou -se na socied ade d e fisiolo gia de Be rlim e revelo u “A Etiolo gia d a Tube rculose ”, com todos os p orm en ores d a investigaçã o e insistind o na técnic a rigo rosa e i ng rata da sua rev elação la boratori al, q ue marco u uma dat a histórica. 24 de M arço d e 18 82. Koch foi ai nda mais lo nge e apresent ou vá rias info rmaçõ es rel evantes pa ra a preve nção da i nfeção tal co mo o isol ame nto d os do entes ; a desinfeçã o d e tud o qua nto estivesse a o alca nce d a sua expeto raçã o; os cuid ad os clínicos e d e enfermag em; a e ducaçã o e info rmaçã o po pul acional e em, pa rticular, d os doe ntes e suas famílias; ou seja, o registo obri gató rio d e tod os os casos para efeitos de estatística. Em 1890, comu nicou n o X congresso inte rn acion al de me dicina de Be rlim, o que p ensava el e ser o p rocesso de imu nização ativa d a tube rculose, p or mei o de um extrat o bacteri an o das res petivas culturas, a qu e chamo u tub erculin a. Ao contrá rio do qu e p ensava a t ube rculin a n ão era uma vacina, esta nã o atingi a nem o b acilo nem o tecid o tisico, o que esta fazia/faz é suspende r o processo de evol ução d a d oença expe rime ntal. A tuberculi na foi anos mais tarde usad a por Von Pirq uet no diag nóstico d a tu be rculose i nfantil, at ravés d e reaçõ es tuberculi nas, ou seja, o qu e Koch 10 descobriu foi uma form a de di agn óstico d a doe nça. Pandem ias do séc ulo XIX em Portugal C omo já dito a nteri orm ente, é po uca a i nformação rel ativa à sa úd e d a pop ulaçã o po rtug uesa, n em d as do enças q ue a atin giam, mas sa be-s e qu e, doe nças do tip o infecioso desig na das po r feb res, p estilências ou pestes atingiram a po pul ação, tal com o a l ep ra, tifo, varíol a e pal udismo em zon as panta nosas. 10 Em 1905, rece be u o pré m io Nobe l. 12 D efinição e H istóri a A tube rculose é uma d oença m ultissistémica, qu e p od e te r vári as apresentaçõ es e manif estações, sendo a causa mais comum de mo rtalid ad e em relaç ão a d oenç as infeciosas. 11 A pal avra “T ube rculose ” sig nifica u m conj unto al argad o de manif estações patoló gicas de índ ole i nfeciosa e de evoluç ão crónica, e m q ue o a gent e etiológico é o Mycob acterium tu be rculosis, que tem cinco va rie dad es conhecid as, o h ominis, q ue ca usa a tub ercul os e h uma na, o bovis, causa dor d a tubercul ose b ovina, o m uriu m da tu be rculose dos rat os, o aviuns da Tube rculose aviá ria e o piscium da T ube rculose d os peixes e animais d e sangu e frio. Os qu e p od em caus ar tu be rculose em h uma nos sã o o homi nis e o bovis. 12 O bacilo de Koc h ou M. tube rculosis , ao te r enc ontrado o h uma no, conse gui u ada ptar-se à esp écie h uma na qu e levo u a um a di minuiçã o da ca pacid ade d e multiplicar-s e no m eio exte rior, h aven do assim um a maio r virulê ncia. Os pulmõ es são os ó rg ãos mais ataca dos e m ais propícios pa ra o desenvolvim ento d e tube rculose, ou sej a, são simultane ame nte qu entes, húmid os, sombrios e a reja dos. N este ambient e pe rfeito, são capazes d e prolife ra r, em form a de coló nias e p arte destes germes migra pa ra outras zon as do orga nismo hum an o, sendo u m meio d e contamin ação d e tod o o organism o através das vias linfáticas, bronc ogé nicas ou h emato gé nicas. U ma outra part e destes ge rmes é expulsa do orga nismo p elas vias a ére as, torn an do -se nu m potencial co ntági o. 9,10 Geralme nte a co ntamin ação faz -se po r inal ação do ar co ntamin ado po r b acilo de Koch. Q uan do este cheg a a os pulm ões provoca um pe qu eno foc o pne umó nico, que l eva a um a resp osta imunitá ria in especifica através d e macrófa gos e mon ócitos. 11 Medscape – tu berc ulosis 12 FILH O, Cláudio Bertolli – H istória Social da Tuberculose e do Tuberculoso : 1900-19 50. Rio de Janeiro: Edit ora Fiocruz, 200 1 13 O bacilo t em um a carap aça lipídica e rica em enzimas, q ue co nseg ue na m aio r parte das vezes, passa r pel as ba rreiras im unol ógicas e prog redi r a pa rtir d a corre nte sa ng uíne a at é atin gir os ó rg ãos. Ao atin gir os o utros órgãos, o org anismo reag e e ori gina um a resp osta imunitá ria específica, mediant e a ampliaçã o da ca pacid ad e d e fa gocitose das cél ulas mo bilizad as contra o invasor. Send o qu e as outras tubercul oses qu e existem pod em ocorre r como d oenç a primá ria ou conse quê ncia de uma infeçã o g en eralizada, a tu be rculose prim ári a é o rigi nad a ou prim oinfeçã o, co rres pon de g eralm ente a um a l esão inflam atóri a inicial, localizada n a regiã o subpl eu ral. Em situações no rmais o b acilo irá ficar hibe rna do até que haj a al gum a alte raçã o q ue o retire da latê ncia e ataca o org anismo. N este estado, já o orga nismo criou algu mas defesas , q ue faz com que nã o h aja pe rig o d e dissemi naçã o, mas d estrói os tecidos l ocais. Qu and o o bacilo che ga ao fin al d a tercei ra ou oitava sem ana, geralme nte já é ca paz d e criar col ónias ca pazes de c riar re ações i nflamató rias, q ue evide nciam a destruiçã o d e tecid os. Esta reaçã o l eva a q ue os glób ulos brancos recu bram a lesão o q ue leva a o ap arecimento d e nó dul os, que se cham am tubé rculos. C om o passa r do temp o, este tub ércul o é co nstituído p or cél ulas mo rtas, proteínas e bacilos e tem a a parência de um q ueijo (massa case osa).Os sintom as mais comuns da tub ercul ose pulm on ar a parecem n esta fase que são p erda d e peso/an orexia, feb re, su ores notu rn os, do res n o peito, fa diga, hem optise e tosse. A situação mais g rave é q uan do os órg ãos atingi dos sã o os pul mões, pois a expetoração está infet ada, co ntamin an do tu do em red or c omo os alime ntos, as rou pas, as louças, ou seja, tudo. 9, 13 A epidemi a dos nossos dias surgiu n a Inglate rra n o seculo XVI, onde atingi u o seu pico em 17 50, estend eu -se à Eu rop a ocident al o nd e o seu máximo foi n os mead os do an o 180 0, chega nd o posteri orm ente à Europ a orie ntal, América d o Sul e do N orte, ond e atingi u o seu aug e em 18 90. O último pico aco nteceu n a 13 C F, Veloso, António José Barros – Medicina: a arte e o ofício. Lisboa: Gradiva, 2000 e C abral, José e C OELH O, Rui M. Alves – O nosso inim igo o bacilo da tuberculose , 2º ed. P ort o: AC TP 14 África e Ásia, onde a m orbilida de ai nda é eleva da em m uitos locais, enq uant o como po r exempl o nos E.U .A, já atingiu a fase end émica. Mas a tu be rculose nem semp re f oi con hecid a p ela do ença qu e é. A ntes d e se r uma do ença co ntagi osa tinha o utros n omes e out ras ori gens. H istória A pal avra tube rculose d eriva d o latim tub erculu m q ue significa i nchaço o u tumefação. A pal avra tub ercul a foi usada pela primei ra vez no secul o XVII por Francisco Sylvius, send o so mente n os finais do seculo XIX chama da d e tubercul ose no m eio mé dico. 1415 A Tube rculose po de ser enco ntra da na histó ria recua nd o até 300 00 an os atrás, ond e a Mycobacteri um tu berc ulosis ain da se ria um microrg anismo d o solo se m a capacid ade d e infeta r anim as de san gue q ue nte. C om a evoluçã o esta bactéria, ou seja, M. b ovis ada ptou -se a b ovinos a ncestrais, mais precisament e aos bisont es qu e p ovoaram as planícies d a Eu ro pa ce ntral e o riental. Estes bisontes cheg aram a ser milhõ es de indivíd uos, sendo destruíd os em massa pelos colon os europ eus pa ra ap roveitam ento d as peles. D evido a terem sid o milhões de anim ais, permitiu a exp ansã o da e pid emia d a tube rculose a nimal. O microrg anismo da tub erculose, o M. tube rculosis , é recente com parad o com outros com o po r exem plo a Esche richia coli. Estudos ge néticos re alizados e m isolados co ntemp orân eos d e M. t ube rculosis , estimaram em 150 00 e 20 00 0 anos o tem po que ocorreu pa ra a divergência entre os isola dos. Pensa -s e assim que a dissemin ação glo bal e especificação d o microrg anismo d everá te r ocorri do a o mesmo temp o qu e a mig raçã o pale olítica para o novo m un do. Esta teoria coi ncide com a q ue o M. tub ercul osis deriva do M. bovis, qu e ada ptou -se ao hosp ed eiro hum ano desd e a é poca e m qu e se começa ram a diag nosticar anim a, o u seja, há cerca d e 1 00 00 an os. Esta alte ração levo u a 14 C F. SONTAG, Susan – Illness as Metaphor 15 Vide GRMEK, Felipe [et al.] – Chagas disease and hum an m igration. Mem . Inst. Osw aldo C ruz Vol 95 nº4 (2000) 15 que a do ença se torna r-se numa zo on ose, ou seja, esta d oe nça contin uava n os bovinos m as p odia ser tra nsmitida a os h uma nos, o qu e ac ontece u até h á poucas d écad as. Quan do o hom em se começo u a fixar em p eq uen as povoaçõ es, e se começaram a dom esticar difere ntes tipos de anim ais, as condições torna ram -s e favoráveis à tra nsmissão de d oenç as infeciosas d e animais p ara h uman os. C om o a ume nto d a conce ntraçã o d e h uma nos, esta doe nça passou a conseg uir p ro pag ar -se entre pesso as. Investigações paleo ntoló gicas sugerem qu e a tuberc ulose afeto u hom ens a algu ns milhares de a nos A.C ., havendo evid en cias da tu bercul ose óssea e m esquel etos do n eolítico e id ade do b ro nze (5 00 0 AC ) e tamb ém em múmi as egípcias de 3 00 0 AC . A tuberculos e du rante o pe rcurso d a história j á teve muitas apa rê ncias e nomes, já foram as cáries vert ebrais dos “p otticos” egípcios, escróful as curad as com o toq ue dos reis taumat urg os de Marc Bloch, se nd o tamb ém a tísica galo pant e, a febre h éctica, também foi os tumores b ranc os, até chegar à tubercul ose bacte rioló gica liga da a o bacilo ca usado r. Tamb ém cham ad a d a “fe bre d as almas se nsív eis”, teve este n ome m ais n o século XVIII, pois a “tísica romântica ” foi uma do ença rel aciona da c om a rtistas, poetas e g ran des perso nali dad es históricas dessa é poca. A tu be rculose atingi u gra nd es no mes a nível mun dial, com o o gra nd e m úsico Moza rt, C hopi n, escritores como M oliè re, e ntre outras pers onali da des conh ecidas. A nível d o nosso país, pe rson alida des como Júli o D iniz, C esário Ve rde entre o utros, também foram vítimas desta doe nça. Apesar d a mortali dad e ligad a à tube rculose ser muito el evad a, pod e-se dize r que el a ficou mun dialm ente con hecid a através d as criações artísticas, sendo por isso tamb ém ch ama da da do ença dos “Amo res imp ossíveis”. A obra “A D ama das C am élias” d e D umas filh o e a su a a da ptação para ó pera p or part e de Ve rdi, com o nom e d e “La T rav iatta”, pôs al guém a m orrer pel a prim eira vez em palco po r causa da tu bercul ose. Outra obra muito conh ecida, qu e é os Miseráveis tem uma p erso na gem com tub ercul ose qu e é Fanti ne. 16 N a literatu ra p ortu guesa p od emos encont rar a tub ercul ose e m “Frei L uis d e Sousa” de G arret na perso na gem M aria, o u e ntão em H e nri que de So uzelas n a obra de Júli o D inis “Morgadi nh a dos C an aviais” ou entã o em “Amo r d e Perdiçã o” d e C amilo C astelo Bra nco na p erso na gem Te resa. N a pintura também a pud emos e ncontrar n os qua dros d e Edvard Munch, “O Grito” e a “Me nin a D oe nte”, q ue se gu nd o críticos teve como inspi raçã o a mort e da mãe e irmã d o pinto r po r tube rculose. Todas estas ob ras em re do r desta do ença fizera m com que el a fosse ligada a um lad o româ ntico, send o vista como um sintom a d e um caracte r n ob re e d e uma geni alid ade a rtística, sendo na ép oca consid erad a como um afrodisíaco, que conf eria pod eres extrao rdin ári os de seduçã o. Só ap ós a revol ução P asteuri an a, é qu e a t ube rculose ficou a ser vista como a doe nça d a po breza e d ep ravaçã o, send o uma metáfo ra tal com o Susan S onta g disse de “roup a fina ”, “co rp os mag ros”, “qu artos sem aq uecime nto”, “higi en e precá ria ” e “alim entaçã o ina de qua da ”. Só nos finais do século XIX, após a revolução ind ustrial, a tuberc ulose passo u de uma p atolo gia incurável e de causa multifactori al para uma d oenç a infectocontagi osa. Torn ou -se um a d oe nça e pidémica e u m probl ema im po rtante e g rave de sa úd e pública, ou s eja, q ua ndo as cid ades c omeça ram a so brepov oar -se, h ouve um a gen eralização da po breza e g raves pro blem as sanitá rios. A e pid emia c omeço u a espalh ar -se pela e urop a no início do seculo XVII, chegand o ao seculo XIX como a resp onsável por 25% das m ortes existentes n a altu ra. Os l ocais mais afetados fo ram a eu ro pa e a Amé rica do N o rte, on de m ais de 1% da p op ulaçã o total e por ano te rá d esenvolvid o a d oe nça. A tubercul ose nã o atingi u só os países da Eu rop a, tamb ém cheg ou a Portu gal, p rovoca ndo um n úme ro el evad o de mo rtes. 17 Tuberc ulose em Por tugal Foi du rant e a revolução i nd ustrial no secul o XIX, que a Eu ro pa teve o pic o mais alto d e epid emia d a T ube rculose, ten do sid o a prim eira causa d e m orte n a altura. A mortalid ad e po r tu bercul ose e m Portu gal se gui ndo essa ten dência, atingi a núme ros assustado res. Estru tura d a m ortalidad e em Portug al (1 888 -9 0) C ausas d e m orte d eclar ada s % “D oenças ge rais” (inclui ndo as inf ecto-conta giosas e a tube rculose – 44,2% D oenças do a pa relh o respi rató rio - 1 6,6% D oenças do a pa relh o dig estivo - 9,9% D oenças dos recé m -n ascidos - 6,9% D oenças do a pa relh o circulató rio - 5,8% D oenças do sistema ne rvoso - 5,6% Outras - 1 1,0% Total - 10 0,0% Tabela 1 – p rincipais causas d e morte em Portu gal n os anos de 1 88 8 -90 N o século XIX, a tubercul ose e ra con hecid a mais como a “fe bre das alm as sensíveis”, pois a “tísica romântica ” foi uma d oenç a relacio nad a com a rtistas, poetas e g ra ndes p erso nalid ad es históricas dessa ép oca. N o nosso país atingi u perso nali dad es como Júlio D iniz, C esário Verd e. C om a descob erta do bacilo de Koch, o tísico deixou de ser aq uele q ue estava imbuído d uma a ura d e excecionali dad e, p ró pri a d os a rtistas, figuras p úblicas e escritores do R om antismo, ou seja, como Pô rto disse “o p adec ente d as almas sensíveis” transformo u-se n o hosp edei ro d e um pa rasita microscópico e nu m 18 foco dea mbul atóri o, ou sej a, passaram a se r consid erad os age ntes d e contamin ação e um peri go p ara a socieda de. 16 Send o conside ra da a parti r das últimas d uas déc adas d o séc. XIX, uma doenç a social, estava intimamente liga da, às condiçõ es socioeconómic as na qu al o país se encont rava, e es pecialm ente à po brez a, qu e tin ha mais hipót eses d e contágio e infeção, ap esar de atin gir tanto ricos como po bres. Esta nova realid ad e em que os po bres eram um p eri go, levou a q ue fossem vistos de outra forma, e ram aq ueles co rp os mag ros, os p orta do res d e u m parasita respons ável p or um sétimo das m ortes na E uro pa. H o uve um a divisã o no espaço u rb an o, levand o à construção d e bai rros pobres e ricos. A descobe rta do b acilo também d eixou d e parte a h eredita ried ad e da tisica, dan do l ug ar à co nceção d a doe nça microbi ana infecios a e conta giosa, m as evitável. 17 Em Portugal, a tu bercul ose, atingi a todas as faixas etári as, e a surgid a em mei o universitá rio se ria qu ase se mpre uma grave do ença. Os sintomas qu e a den unciavam su rgi am certas vezes, insidiosam ente, e só eram val oriza dos, numa fase já m ais avançad a e tardia. C omo P. Low is disse: “quan do se trat a de u m jovem, desej a -se q ue a tubercul ose sej a rastrea da o mais ced o p ossível e log o cuid ada de m an eira corret a tod o o te mpo necessá rio. O s anató rio deve pe rmitir realiza r a cura d e rep ouso em to do o se u ri go r, g raças à terap êutica oc upacio nal concomita nte, aplicável mesmo aos acama dos. D esde qu e isso se realize, a rea daptaç ão a o esforço surgi rá e esforça r-n os-em os ao m áximo po r des envolve r ou com pleta r a instrução.” C om esta nova p ersp ectiva de ser uma d oe nça social, os fatores sociais d a vida hum an a, ocup avam um l ug ar d e p eso n a prop ag ação d a tub ercul ose, 16 Cf. PÔRTO, Ânge la – Representações sociais da tuberculose… , p. 44 e Sontag, Susan – Illness as M etaphor… , pp.13 e 20. 17 FARIA, Raul – Tuberculose, doença social . In CONFERÊNCIAS da Liga Portugue sa de Profilaxia Social (3º sé rie ). Porto: Im pre nsa Portugue sa, 1936, p.161 19 especialme nte no q ue tin ha a ver com a hi gie ne, com as ha bitações e a alimentaçã o. Pa ra al ém dos pob res, os o perári os e ram o out ro gran de grup o afetado p ela tu be rculose. Estes eram vistos pel os mem bros da cl asse médi a, como irres ponsáv eis nas suas atitudes e comportam entos no local d e t rab alh o e também n a vida em g eral. 18 C omo a tub ercul ose é um a co nseq uência g rave das c ondiçõ es alim enta res, habitacio nais e tamb ém hi gié nicas, o R eg ulam ento do C o ncelh o d e Sa úd e 19 tentou im pleme ntar a le gislação do hi gie nismo . Esta legislação impos u m conjunto d e comp ortam entos e atitu des, q ue tin ham c omo obj etivo melh orar os hábitos d a pop ulaçã o, sem altera r a o rde m social. As leis de saúd e pú blica de 18 37 esta belec eram a o brig atori ed ade da i nspeçã o dos estab elecime ntos in dustriais, p ara avali ar o esta do sa nitári o d as instalações e det ermin ar as me did as corretivas necessá rias . Em 18 42, su rgi u o p rimeiro có dig o a dministrativo com especificações precisas, em qu e h avia a defesa da sa úd e p ública, inclui ndo a d os trab alh ad ores e alun os das escolas e colégi os. As leis dos anos seguintes a ume ntaram as disposições de vigilâ ncia e inte rvençã o na saú de d a po pulaç ão. 20 N o seculo XIX, o povo vivia numa pobreza profun da , en qu anto q ue a classe superi or e ra p ouco culta, preco nceituos a, vivia para a política muitas vezes de uma fo rma co rrupta, deixan do a in dústria e a a gricultu ra estagn ar e o c omérci o na mão dos estran gei ros. 21 O povo vivia em muito más con dições, trab alhava de sol a sol, tinham escassez alimenta r, n ão comi am carne devid o à falt a de din hei ro e e ram m uitos alcoólicos. As casas eram considerad as locais obscuros, sem higi ene e com má ventilaçã o. A casa dos bu rgu eses seg uia os mesm os erros, n ão have nd o 18 NOVAES, João – O lim ite das horas de trabalho nas fábricas. Porto: Typ. Occide ntal, 1890. Te se Inaugural, p.82 19 Le gislação que im põe re gras de higie ne, salubridade e se gurança nos e stabelecime ntos, nom e adam e nte nos públicos/industriais 20 GUILLAUM E, Pie rre – Du désespoir au salut …, p.134 21 POINSARD, Lé on – Portugal ignorado… , p.36 20 princip alme nte um a b oa v entilaçã o. 22 . Tod os estes “p ro blem as” levav am a o aume nto da tu be rculose. Em suma, os f atores chaves, mais destacad os p elos m édicos para a pro pa gação da tub ercul ose eram os problem as urban os, como habit ações, a má alim entaçã o, muitas vez es nã o pasteu rizad a, e a m entalid ad e d os portu gu eses. Os probl emas urban os, muitos foram devido a o aum ento da p op ulaçã o portu gu esa, pri ncipalme nte n as grand es cidad es, Lisboa e P orto, ten do e m 190 0 2 6,1% da po pulaç ão po rtug uesa. Ap ós a rev olução in dustrial, m uitos foram os q ue mi grara m pa ra as gra nd es cidad es, numa procu ra po r inde pen dê ncia ec onómic a. C om este aum ento, as g ran des cid ades f ora m privilegi adas em d etrim ento das vilas rurais. Lisboa teve um cresciment o d e 164.7 31 habit ante e m 18 01 para 3 57.0 00 e m 19 00. Este aum ento l evou cla ro a uma nov a disposição a nível d e classes sociais. O centro da cidade era o espaço da b urguesi a, ao lado d os edifícios govern ame ntais, ou seja, da política. Os tra balh ad ores ficaram ao mo nte, em casas d e p eq uen as dimensõ es, deg rad ad as, sem esgotos e com condições muito de plo ráveis. Mesmo estes espaços começa ram a ficar sobrep ovoa dos, começan do e m Lisboa a construírem -s e os cham ados “p áteos”, ou seja, ha bit ações de baix o 23 custo. . Os “páteos” eram construídos a o la do das zon as ind ustriais, send o assim mais pratico p ara os trab alh ado res . D ad os adq uiri dos po r C orrei a Gue des, mostraram q ue s ó 6 3 d os 2 33 ”p áteos” a nalisad os é qu e estavam e m bom estado remo del ações . e 24 88 em co ndições razo áveis m as se fossem feitas Estes “páte os” eram co nside rad os um d os m aiores p eri go s para a saúd e a nível de higie ne, send o Alfama um d os mais pro blem áticos. 25 Este probl ema to rno u-se um p robl ema político, pois as taxas de mo rtalid ad e começaram a a ume ntar e as doe nças e nd émicas e e pidé micas a prevalece r. 22 GARRETT, António de Alme ida – O problem a da tuberculose… ,p24 TEIXEIRA, M anue l C. – As estratégias de habitação em Portugal . Análise Social. Vol. 27, nº115 (1992) pp. 65 -89 24 Inqué ritos re alizado s e m : CONCELHO dos Me lhorame ntos Sanitários/M inisté rio das Obras Públicas, Com é rcio e Industria – Inquérito aos Pateos de Lisboa, 1º parte. Lisboa: Impre nsa Nacional, 1903 e Pateos de Lisboa 2º parte. Lisboa: Im pre nsa Nacional, 1905 25 Vide BOM BARDA, Miguel – O bairro de Alfama. A M edicina Contem porânea (2º sé rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 6, nº9 (1904), pp 69 -70 23 21 C om esta pre ocup ação construíram -s e n ovos b airros com ru as mais l argas e melho r ilumin ação e ventilaçã o. Sílvia C arvalho a naliso u os da dos estatísticos de mort alida de p or tub ercul ose nas freg uesias de Lisb oa e ntre 1 89 1 e 190 3, que f oi a altura em qu e estes n ovos bai rros foram construíd os, cheg an do à conclusão q ue p or exem plo n o bai rro S. N icolau ho uve um a dimin ui ção d a mortalid ad e p or t ube rculose po r h abita nte, dimi nuin do de 5,2 no an o d e 1 89 1 para 1,7 em 1 90 3. 26 Outro ponto qu e levava ao aum ento d a tube rculose era a alime ntação d os portu gu eses. U m dos fato res era muitos te rem dificuld ade em ter os alim entos, devido à pob reza. C o m a f alta d e ali mento, os tra bal had ores ficavam debilita dos, levan do a terem aste nia física e psicoló gica e l evan do a como as defesas estavam e m b aixo, o co ntágio e como cons equ ência a tub erculos e eram m ais fáceis de apa rece r e tam bém qu em a tin ha e m estad o latent e, era mais fácil ficar em estado ativo. R amal hão Ortig ão che go u a dize r em 1 874 qu e “Lisbo a tem qu e com er. O maio r d os seus m ales secretos, constantes, perm an entes, é a fome cró nica.” 27 Para reforça r qu e e ra um a das ca usas d a tubercul ose, em 19 06, o tisiologista Lan do uzy disse qu e a falta d e hi gie ne e d e alimentos, era uma das causas pa ra a tub ercul ose. 28 C om o a ume nto da pop ulaçã o os problem as sanitá rios e a fo me, a tub erculos e provoco u no sécul o XIX , pri ncipalm ente na seg und a m etad e, um núm ero elevad o de mo rtes. A Mortalidade Pierre L ouis, em 18 25, faze ndo estud os bio estatísticos, chegou à c onclusã o que a h eredita ried ad e era ap enas 1 1% dos casos que h aviam de tub ercul ose, 26 Gue de s, Am ílcar José de Miranda – O Estado português… , pp. 16 -17 Cf. ORTIGÃO, Ram alho - As Farpas: O país e a sociedade portuguesa, Tomo 7. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1943, p.16 28 Cf. A ALIM ENTAÇÃ O racional (I). Tuberculose: Boletim da Assistência Nacional aos Tuberculosos. Lisboa: Instituto Rainha D. Amé lia. Vol. 1, nº1 (1906), p.26 27 22 criand o um a n ova visão qu e o contá gio era um a d as pri ncipais causas, vin do a ser apoi ad o pel a descob erta d o bacilo de Koch . 29 A luta contra a tub ercul ose começo u a ter m ais força, após Sous a Martins, se ter di rigi do ao mortalid ad e em g overno, apresent ado Portu gal, um nom ead ame nte relató rio Lisbo a, das estatísticas de C oimbra e Po rto, comparad as com out ras cidad es eu ro peias. Estas estatísticas fizeram move r aind a no secul o XIX, os higienistas, promove nd o ações d e limpeza a nível nacion al. Mas apesa r destas ações tod as, a dificuldad e d e di agn óstico e a ineficácia d a te ra pêutica usa da na altu ra eram aind a um pro blem a grav e n esta luta. Outro factor q ue fez tom arem -se m edi das contra a tu be rculose, foi com o referi do ante rio rme nte, ter -se d escobe rto q ue era cont agiosa, pois até lá, com o era um a d oe nça silencios a e as p essoas q ue a tin ham ma ntinh am -se sãs d e mente, tend o até pla nos pa ra ativid ades , mantin ha esta d oenç a em segu nd o plan o. Falan do m ais especificament e em Lisb oa, o an exo I mostra a m ortali da de g eral em Lisboa entre 187 3 e 18 79, po de ndo -se verificar q ue a tub ercul ose com 16% , faz parte do g ru po d as 3 maiores causas de morte, sen do as outras causas, outras do enças i nfetoconta giosas (5% ) e outras causas nã o especificadas. N o anexo II que sã o os da dos do m aior hospital d o país na qu ela é poca, o u seja, São José, pode -se verificar qu e a tube rculose é a seg un da causa d e morte e ta mbé m a seg un da mai or ca usa q ue levo u os d oent es a sere m intern ad os. Passando p ara a mortali da de comp ree ndi da e ntre 1 881 e 188 6 em Lisbo a, constou-se tal como se po de ve r n o a nexo III, que a tub ercul ose conti nua a se r das princi pais causas de mo rte na cid ad e de Lisb oa, ten do como justificação n a altura, os pro blem as sanitá rias e a falta d e higie ne em conju nto c om a m á alimentaçã o. 30 Em termos de Portu gal como p aís, os dados divulga do s 29 Cf. M ARTINS, José Thom ás de Sousa – A tube rculose pulmonar e o clima da se rra da Estre lla. Jornal da Sociedade das Sciencias M edicas de Lisboa: Impre nsa Nacional. Tomo 54 (1890), pp. 258 -298 30 Cf. BENTO, Carque ja - O povo português. Aspetos sociais e económ icos. Porto: Livraria Chaldron, 1916, p. 309 e BOM BARDA, M igue l - A tube rculose , se me nte e te rreno. Gue rra à tube rculose . Vol. 1, nº1 (1900). Lisboa: Liga Nacional contra a Tube rculose , p.31 23 mostravam q ue a tu be rculose m atava mil pesso as por an o, que re pres ento u entre 188 1 a 19 00, 2 9.645 m ortes. 31 Até 189 6, ou seja, d ez anos d epois, contin uava -s e a ver u m aum ento n os óbitos p or tu be rculose, com o se po de ve rificar no anex o IV. N este an exo ai nd a pod emos ve r que com to das as d oenç as existentes n a altura muit o pro blem áticas, como a cóle ra e a peste, em Po rtug al, a tub ercul ose ai nd a estava muito presente, sen do co nsiderad a uma en demia, ai nd a mais pre ocup antes qu e as pa ndemi as. A partir d esse ano, com tod as as associações contra a tube rculose, como a Liga N acio nal contra a Tu be rculose e a Assistência N acional aos Tu be rculosos, e as p rofilaxias qu e se com eçaram a fazer p rincipal mente a pa rtir d e 18 9 9, começou -se a not ar uma dimin uição nos níveis de tub erculos e, pois no i nício do seculo XX, era consi derad a a do ença mais temid a a nível social . Esta diminuição foi a co nsequ ência dos esforços conju ntos de to das as instituições já me ncion ad as, qu e em conj unto f orm ularam to das as profilaxias que até à data e ra o único “tratame nto” q ue existia. Tratam ento da tub erculo se O tratam ento da tub erculos e n a altu ra praticamente n ão existia, centrava-s e numa p rofilaxia que im pedi a alg uém d e ter tub ercul ose. C omo esta p atologi a está a tom ar l ug ar como d oença d omin ante, fez com qu e se começasse a preocu pa r com a hi gie nização, p assand o p ela higi ene d a casa, das á guas, d a alim entaçã o, da ro up a e t amb ém a have r mais horas d e rep ouso e a cui dar m ais das relaç ões sociais entre p essoas. 32 C omo a tub ercul ose é um a co nseq uência g rave das c ondiçõ es alim enta res, habitacio nais e tamb ém higié nicas, o R egulam ento d o C oncelh o de Sa úde, o u 31 Cf. A TUBERCULOSE e m Lisboa. Guerra á tuberculose. Vol. 1, nº2 (1902). Lisboa: Liga Nacional contra a tube rculose, p. 2 32 Artigo de José Lope s Dias – noções de higiene geral contra a tuberculose; Cf. DIAS, José Lope s – Noçõe s de higiene ge ral contra a tube rculose . A Saúde. Coimbra: Junta Ge ral do Distrito de Coimbra . Nº 65-66 (1933), pp. 4 -6 24 seja, as leis de s aúd e pública d e 1 83 7, estab elece ram -se a o brig atori ed ade d a inspeção dos estab elecime ntos ind ustriais, pa ra avali ar o estad o sanitá rio d as instalações e det ermin ar as me did as corretivas necessá rias. Em 18 42, su rgi u o p rimeiro có dig o a dministrativo com especificações precisas, em qu e h avia a defesa da sa úd e p ública, inclui ndo a d os trab alh ad ores e alun os das escolas e colégi os. As leis dos anos seguintes a ume ntaram as disposições de vigilâ ncia e inte rvençã o na saú de d a po pulaç ão. Para ajud ar na sa úde pú blica, os del eg ad os distritais, elabo rava m semestralme nte a to po grafia mé dica dos se us distritos, com o um relató rio d o estado sanit ário. A p artir de 1 83 8, as Anais d o C onselh o d e Saú de P ú blica, começaram a ser p ublicad as, com o objetivo de publica r trab alh os sobre a situação sanitári a, recome nd ações, docume ntar a evol ução d e epid emia s, pro postas de refo rmas, ent re o utros assu ntos, no sentid o d e inte ressar a pop ulaçã o po rtugu esa p elos problem as de hi gien e. Esta política, tal como noutros países da Eu ro pa, passa ram p ela divul gaçã o po r peri ódicos médicos, ob ras científicas, e também atrav és das associações e do Instituto C entral de H igie ne que se rviam p ara da r credi bilid ade às medid as tomadas. Po rtug al pa rticipou ta mbém nas reu niões europ eias q ue tinh am com o objetivo a rranj ar m anei ra de have r u niformi da de d a p rofilax ia ao nível d a Euro pa. 33 Em 189 5, em C oimb ra, h ouve o prim eiro c ong resso mé dico n acion al, o “C ong resso co ntra a Tu be rculose ”, ori enta do pelo professor A ugusto R oc ha e por sug estão do qui ntanista de medicin a Ant ónio L eite d e F ari a. N este congresso foram apresenta das 24 teses, te ndo sido distingui dos al gu ns nom es como Lop o de C arval ho n os médicos; Leite de Fa ria, como estud ante d e medicina, entre outros. Salie nta-se a comu nicação de Joã o Vi egas P aul a e m relaçã o à tub ercul ose anim al, a pa rtir do Myco bacteri um bovis, rel atand o qu e esta afetava um el evad o núm ero de animais d omesticados e selva ge ns e qu e 33 M ARTINS, José Thom é de Sousa M artins - Relatório dos trabalhos… p.8 25 era um pe rig o p ara a saú de p ública pri ncipalm ente atrav és d o uso n a alimentaçã o hu man a. 34,35 Impedir a exp ansã o da t ube rculose anim al, ou sej a, impe dir o co ntági o a o homem, e ra um out ro probl ema, pois isso iria interferi r na alime ntaçã o nome ad ame nte n o l eite e carne, qu e e ram alim entos j á escassos e q ue as pessoas nã o desp erdiçavam, e tamb ém afetava a eco nomi a do país. Era necessário faze r a p asteuriz aç ão do leite. À carne, pod er-se-i a faze r a esterilização p elo calo r, ou ent ão mel horar as con dições dos talh os. Mas apes ar d estes esforços tod os, o bacilo de K och conse gui a prop ag ar -s e mesmo com estas me didas de profilaxia to das; “A Tub ercul ose fu ncionav a como a i nstância h um a nizado ra do po der higi enista”. 36 Pois também o analfa betismo d a p opul ação nã o aju dava na p arte da div ulgaçã o d a info rmaçã o entra as classes mais pobres e as mais atacad as pela tub ercul ose. H ouve nec essidade de ed ucar a po pul ação. A Li ga N acio nal co ntra a Tube rculose cri ou o “C atecismo cont ra a Tu be rculose ”, ond e o obj etivo era esclarece r as dúvidas mais imp orta ntes, como por exempl o as formas d e preve nção mais eficazes, como por exem plo ex plicar que escarrar, er a um a forma d e contá gio, o u o ato de fech ar cartas com saliva, q ue e ra m uito utilizad o na altura. 37 O isolam ento do Bacilo de Koc h f ez com que a gu erra se viras se contra el e, pois n em a profilaxia, n em a vacin a de BC G resultavam, pois ap esar d o se u tamanh o, e ra ca paz d e ser resistente à maio ria dos b ac tericidas co nheci dos n a altura e co ntagi ar p essoas e anim ais. António La ncastre, em 19 01, com o secretári o-g eral da AN T, m and ou um ofício ao gove rna do r d e Lisbo a, p ara ficarem a pa r qu e o escarro em vias pú blicas não era u m p ro blema g rave com pa ra do com o escarro em locais com o o 34 PALAVRAS do Se nhor Pre side nte do Conce lho na se ssão inaugural da X Confe rencia da União Inte rnacional Contra a Tube rculose . Bole tim da Assistê ncia Social. Lis boa: Subse cretariado de Estado da Assistê ncia Social. Nº 8 -9 (1943), p.324 35 PROPHYLAXIA da tube rculose bovina. Guerra á tuberculose. Vol1, nº 1 (1900). Lisboa: Liga Nacional Contra a Tuberculose , p.45. 36 PEREIRA, Ana Le onor e PITA, João Rui – Liturgia higienista… , p.492 37 Cf. CATECISM O contra a tube rculose . Guerra á tuberculose. Vol. 1, nº2 (1902). Lisboa: Liga Nacional contra a Tube rculose , pp. 40 -44 26 transpo rte público e l ocais de espet áculo, p ois na ru a, a l uz do dia ne utralizav a mais dep ressa o bacilo, enq ua nto q ue em locais fecha dos, este p od eria estar a contagia r du ra nte seman as. U m ano após este ofício ser lançado, o gove rn o agiu, la nçan do um edit al, que era um bol etim com os serviços sanitá rios d o rein o, on de estava estipula do qu e era p roi bido cus pir em locais fecha dos e qu e a multa po de ria che gar aos 1$ 000 réis. 38 Mesmo assim, havia dificulda de em cons egui r qu e as pessoas p raticassem estes regula ment os de higie ne, po r isso, os médicos começaram a divulga r os modos de higi en e at ravés da im prensa, homilias dos pá rocos, q ue tinha m formaçã o e m semi nári os. 39 Tam bém foram co nstruídos escarrad ores , de vi a pública o u po rtáteis, ou o h ume deced or d e selos. Em 1903, a profilaxia da tub ercul ose, passava princi palme nte pel a desinfeçã o. U ma das m edi das o bri gató rias e ra a d esinfeçã o d os qu artos se mpre que havi a um ó bito por tub ercul ose o u havia mud ança d e q ua rto d e um d oe nte. Ta mbé m os corpos de pois de m ortos eram nec essários ser d esinfetad os . Todas estas p rofilaxias mostravam q ue p or um lad o h avia consciência que esta doe nça e ra p rovoca da po r contá gio, e era necessá rio p recave r a o máximo m as por out ro l ad o tam bém mostrava q ue a m edicina e ra i neficient e cont ra est a doe nça. A pesquisa pa ra um a cura, centrou-s e princip alme nte na p rimei ra meta de d o seculo XX. A desco bert a d a tub erculi na fez com qu e os médicos co ntinu assem e com mais afinco a procura por um a cura, um a vacina. A prime ira vacin a contra a tub ercul ose e ra feita a p artir de bacilos mo rtos, como pro exem plo a vacina d e M ari glian o, e ntre out ras, o u e ntão através d e estirpes nã o h uma nas, como a feita atrav és da tarta rug a do m ar, qu e era usad a po r Fri edric h Friedm an n. 40 Todas estas vacinas n ão f ora m eficazes, e nt ão os cientistas fizeram pesq uisas para fazer uma vac in a atrav és de b acilos vivos de virulê ncia aten ua da, d e 38 EDITAL de 14 de m arço de 1902. In Boletim dos serviços sanitários do Reino. Lisboa: Impre nsa Nacional. Nº 2 (1902), pp. 8 -9 39 M ORA, M ário Dam as – A higiene da tuberculose… , p.325 40 BÁGUENA CERV ELLERA, M aria José – La tuberculosis y su historia … , p.93 27 orig em bovi na o u hu man a. As primei ras prod uzidas nã o d era m resulta do, com o a “Bov o Vaccine ”, pro dutos, como 41 qu e qua nd o a dministra da mantin ha a virulê ncia e assim o s o l eite, qu e eram extraí dos desse a nimal estavam contamin ados. Em 192 1, Albert C almette e o s eu aj ud ante C amille Gué rin, d o I nstituto Parteu r, descobri ram a vacina BC G, que sig nifica, “Bacilos de C almette -Gu éri n”. N o mesmo ano, o pe diatra Be rn ard W eill-H all é administrou pel a prim eira vez e m um ser h uma no, num recé m-n ascido, e m q ue a mãe tinh a m orrido d e tubercul ose. O be bé, não só so brevive u como ficou im un e. A desco be rta d esta nova vacin a, p rovoco u um a g ra nd e a desã o, fazen do co m q ue vá rios países n a Euro pa criassem p rog ram as de vacinaçã o qu e incluíam a BC G. Em Portug al nã o foi dife rent e, assim que foi descob erta, foi log o a nunci ado qu e havia uma vacina oral pa ra as vitelas e q ue se podi a estend er ao ser hu man o, princip alme nte a crianç as e adol escentes. 42 A introduç ão d a vacina BC G e m Portug al ficou a deve r-se à LPPS, Lig a Portu gu esa de Profilaxia Social, localizado n o Po rto, q ue tinha como p rio rida de a l uta co ntra a tub erculos e. A LPPS, em 1928, p ediu ao instituto Pasteur u ma am ostra da vacin a e a receit a de como faze r a cultura la bo rato rial. 43 Em Lisbo a, em Jan eiro d e 1 92 9, n o Instituto Bacte rioló gico C âm ara Pestan a, começaram a fo rn ecer a BC G a o p úblico, mas só a p artir de m édicos, d evido à incerteza ai nd a à volta da vacina. O resp onsável pel a prod ução d a BC G n a capital e ra Alfred o Ma gal hães, q ue ap re nde ra diretame nte com Albe rt C almette. Esta descoberta foi m uito impo rtante, mas até o apa recime nto d esta vacina, o melho r m étod o p ara co ntrol ar a su a pro pa gaçã o, foi a co nstrução d e sanatóri os. 41 Outras vacinas que não de ram re sultado foram a “Taruman, conce bida por Robe rt Koch e Fre d Ne ufe ld e a “IK” criada e m 1920 por Davos, Carl Spe ngle r. 42 A LUCTA contra a tube rculose e m Portugal, A m edicina Contem porânea (2ºsé rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 29, nº 25 (1926), pp. 296 -197; BRITO, Francisco Assis – Da tuberculose e se u tratam e nto. A m edicina Contem porânea (2ºsé rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 30, nº1 (1927), pp. 3 -5; SOBRE a vacina antitube rculosa. A m edicina Contem porânea (3ºsé rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 1, nº3 (1929), p. 29 43 Cf. CALM ETTE, Albe rt – [Carta] 1928 -05-31 28 San ató rios N o final d o seculo XIX, um dos p ro blemas que contin uava a fustigar e a causa r incertezas pri ncipalm ente n a classe médica, era a n atureza da d oe nça, o tratame nto e o i ntername nto d os do entes em sa natóri os. Pois uma d as maiores pre ocup ações pa ra os médicos, era a q uantid ad e de pesso as que tinha m tubercul ose e entravam no h ospital, contamin an do assim os outros doe ntes não tub ercul osos. Assim, começaram a p ensar n uma form a de se pa ra r u ns doe ntes dos outros. Miguel Bom barda, na sessão da S ocied ade d e C iê ncias Mé dicas d e Lisb oa d e 27 de N ovemb ro d e 18 97, disse que q ue ria criar u m gru po p ara estu da r o pro blem a da h ospitalização dos tube rculosos, com du as questõ es princip ais em mente, a co ntagi osida de e os altos níveis de m ortali da de. C om este di scurso, consegui u que a Socied ad e d e C iê ncias Mé dicas estud asse a c riação d e u m sanatóri o e m Lisb oa. 44 O estudo fico u p or part e d e vári os hom ens inclui nd o Miguel Bomb arda e C âma ra Pestana, entre o utros. C âm ara Pestan a insistiu que t amb ém se devia co nstruir um sa nató rio de altitude na cabeç a d e Monchiq ue pa ra os do entes curáveis e um ma rítimo p ara as cria nças escrofulosas. Os sanatóri os foram um fato r chave n a luta cont ra a tub ercul ose po r du as razões, o clima e o regim e. O regime p orque d á ed ucação sen atori al para qu e o doe nte conh eça o seu ag ressor, o u seja, a doe nça, e assim tomar consciência d a n ecessidad e d e con diciona r a sua vid a à pres ervaçã o d a pró pri a vida. O t ratam ento d e lo ng a duração e a sup ervisão contin uad a, acompa nh ad os nos seus resulta dos po r tisiologista, pod eri a criar u ma disciplin a útil. Em 1881, So usa Ma rtins, fez com que a Socie dad e d e Ge og rafia pro move se uma exp edição à serra d a Estrela, a fim de estu da r e an alisar a possibilida de de construçã o d e sa nató rios n aq uele local; D esd e essa altura, Sousa M artins, to rno u-se o ap óstolo cal oroso d a proteção da tub ercul ose e m Portug al e tamb ém o símbolo d e movimento de a poio d os tube rculosos, tend o 44 PESTANA, Luís da Câm ara - Relatório “Hospitalização dos tuberculosos pobres em Lisboa ” Jornal da Sociedade das Sciencias M edicas de Lisboa . Lisboa: Impre nsa Nacional. Tomo 63 (1899), pp 103 -125 29 consegui do a p rimeira cura n a Serra da Estrela de um d oe nte al i instalad o naq uele a no. D e pois de terem visto os resultad os p ositivos do t ratam ento d e doe ntes na serra da estrel a e na mad eira, estes começaram a ser construíd os até ao fi nal d o século. N o relat ório da expe dição realiza da, So usa Ma rtins calculou q ue o núm ero de óbitos d evido a esta do ença atingia cifras de cerc a de vinte mil mortos an uais. 45 Send o os p rincip ais sanató rios d a altu ra e com se rviço d e u rgê ncia o D . C arlos I, de Lisboa e o R odri gu es Semid e no Porto, em qu e este último p erte ncia à casa da Misericórdia local O pri meiro esta belecim ento c ontra a tube rculose foi construí do no Funchal, e m 18 53 p ela imp eratriz Amélia d e Be au harnais , viúva de D . Pedro IV, o “H ospício da Princesa D . Maria Amélia”, em hom ena gem à memóri a da su a filha qu e falece u neste mesmo loc al com t ube rculose; Ilustração 1: Hosp ício D. M aria Amé lia em 186 2, foi inau gu ra do o edifício própri o q ue ma nd ou co nstruir d ep ois de te r estado i nstalad o d ura nte 5 a nos em edifício p rovisóri o. Este hos pício limito u-s e à prestação de cui dad os aos m ad eire nses po bres qu e tinh am tu bercul ose. Assim, o hospício, não teri a só a fu nção 46 de trat ar g ratuita ment e os tubercul osos, mas tamb ém foi desig na do com o centro d e investigaçã o da tísica pulmo na r em term os de estatísticas ; do que ca usava a d oe nça; e o mo do com o o clima que a Il ha da Mad eira aj ud ava n o tratame nto. O temp orá rio tinh a ocupaçã o d e vinte e qu atro do entes, ou sej a, doze de ca da sexo, natu rais d a madei ra ou e ntão d o estran geiro, m as q ualq ue r d oe nte qu e fosse admi tid o, 45 Cf. DIÁRIO da Câm ara dos Se nhore s De putados da Nação Portugue za, se ssão nº28 de 13 de M arço de 1899, pp. 7 -8; DIÁRIO da Câm ara dos Se nhore s De putados da Nação Portugue za, se ssã o nº86 de 16 de Julho de 1899, pp.4 46 REGULAM ENTO do Hospício da Prince za Dona M aria Amé lia. Gazeta M édica de Lisboa. Lisboa: im pre nsa Nacional. Tom o 1, nº9 (1853), p. 137 30 tinha que ter uma regra que e ra “ser po bres, de vid a h on esta, e não ter men os de qui nze an os de id ade ”. 43 Era u m e difício com q ualid ad e, asseio, bo a ventilaçã o, á gu a can alizad a tant o fria como q ue nte, tinha pa re des forrad as com passa gens bí blicas, c om o objetivo de controla r o com port ament o d os d oe ntes, p rincipalm ente os m ais religi osos. Tinha m obiliá rio n ovo e simples, camas de fe rro pa ra m elho r limpez a e almofa da, colchão e le nçóis para o confo rto do p aciente. Os do entes mais debilita dos tin ham c adei ras de diferentes i nclinações pa ra c onseg uirem estar o mais possível cómod os, e um j ardim com mesas e ba ncos. 47 Em suma, e ra u m local de q ualid ad e, em compa raçã o com os restantes hospitais d a ép oca. C ada fu ncion ário d o h ospício tin ha uma funçã o es pecífic a e o fu nciona ment o era cont rola do p or um mé dico, o D r. António da Luz Pita, uma reg ente, q uatro enfermeiras, um enf ermei ro, u ma cozinh eira e vá rios ra pazes q ue faziam as tarefas de a uxiliares de açã o médica. C omo a terap êutica até a altura e ra p raticam ent e in existente, o trata ment o baseava -se no controlo/tratame nto dos sintomas, como a diarreia, a norexia, tosse, a he moptise e a feb re., p ois os m édicos d esconh eciam a etiol ogi a d esta doe nça ent ão b aseavam -se nas d outri nas gal énicas. Mais prop riame nte, o D r. António da L uz Pita, baseava -se em q uatro tipos d e terapê utica alg umas d o seculo a nteri or, e a do utrin a q ue segui a era d a farmácia gal énica, e d e sistemas médico-filosófico. A tera pê utica tube rculosa tin ha a ver com a posiçã o dos D ubos, ou sej a, o métod o usa do e ra b asea do n a a utorid ad e dos mé dicos do qu e na pesq uisa e exp erie ncia clinica. N a doutri na, o D r. Antóni o da L uz Pita, baseava-se em métod os tal como a evacu ação d os maus hu mores po r clisteres, sangrias e p urgas. Outra do utrin a era a b row nista, qu e d efen dia o us o de m edicam entos ta nto calm antes com o excitantes no comb ate à 48 tubercul ose. E a doutrin a mais utilizada e m Portu gal e ra a a erista, qu e defen dia qu e os d oe ntes deviam ser col ocad os em exp osição com o a r, especialme nte ar artificial, ou sej a, com su bstâncias me dicame ntosas nel e, pois dizia -se 47 48 que o ar p uro e ra nocivo pa ra qu em tin ha pr oblem as VIANNA, Francisco José Cunha – Hospício da Princeza … , pp. 137 -138 SHRYOCK, Richard Harrison – National Tuberculosis… , pp 62 -63 31 respiratóri os. 49 Outra te ra pia m uito usad a e ra a da alime ntaç ão, pois tin ha -s e observa do que a tube rculose trazia p robl emas h ep áticos e intestinais, então o tratame nto e ra utilizar aliment ação fo rtificante, incluin do o ól eo de fíg ad o d e bacalh au descob erto n a d écad a d e 1 84 0, e co meçad o a ser utilizad o com o medicam ento Ilustração 2: M ed icame ntos usad os n o tratame nto n o H ospício D. M aria Amé lia Os do entes q ue ent ravam no H ospício e ram de v árias i da des, como se p od e verificar no qu adro, os prim eiros a nos de fu ncion ame nto tiveram no total 42 8 doe ntes, sendo a m aiori a com ida de comp re endi da e ntre os 2 0 e 30 a nos. Ilustração 3: Ida de d os d oen tes q ue en travam no Hosp ício D. M aria Amé lia Ou seja, pode -se concluir q ue e ram os jovens até aos 30 a nos que cont raia m mais a d oe nça, devid o tamb ém à mai or exposição qu e tinh am a ela, p ois estavam n o p erío do ativo d a vida. Em term os d e sexo, a mai or aflu ência foi d e mulhe res nu m total de 2 42 mul he res contra 15 0 hom ens , tal como po de se r visto no anexo V. A razão de se rem mais mul he res do q ue h ome ns, seria devido à profissão qu e cad a um tinh a, ou sej a, as mulh eres p roc u ravam m ais 49 GUILLAUM E, Pie rre – Du désespoir au salut… ,pp. 62-63 32 os serviços clínicos e também porq ue m uitas vezes as obrig ações familiares eram m uitas, os que as deixava sem tempo p ara procu ra r aju da, fazend o com que o q ua dro clinico piorasse. N o anex o VI, po de-se ver qu e a maio ria dos d oe ntes inte rna dos era m madei re nses, seguid o de po rtugu eses do co ntine nte e d e Go a. D entro dos 2 2 que vin ham do co ntine nte, 1 8 eram de Lis boa, 2 do Porto, 1 d e Aveiro e o ultimo de Fa ro. Os resulta dos d este hospício pod em se r vistos no seg uinte qu adro, em qu e “cura do ” n aq uel e tem po se ria um a cu ra hip otética p ois n ão haviam mei os p ara saber s e estava m esmo curad o o u n ão, e qu e “alivia do ” e ra simpl esmente um a melho ra m os sintomas a presenta dos, conse guim os ver q ue o mai or núm ero d e doe ntes estavam na categ oria “melh orados ”, vindo em segu nd o luga r os “cura dos” e em ultimo os “alivia dos”. Ilustração 4: R esu lta dos do H osp ício D. M aria Amé lia A Madei ra era consid era do um local bom pa ra os do entes tub ercul osos, devid o também a teo ria ae rista, pois como era u m clima m arítimo tinh a p re domi nânci a de azot o em vez de oxigé nio e po r cont er outras substâncias g asosas tal com o o cloreto de sódi o. Estas substâncias eram co nside rad as pu rificado ras. Para além de te r o clima ide al, era lumi nosa, o u seja, tinha b astante luz. D . Maria Am élia, ai nda em pri ncesa e a poia da e ac onselh ad a p elo se u m arid o, em 1 88 9, pl ane ou a c riação d e u m e difício p ara a némicas ou um hospital p ara tubercul osos, inspira da n um asilo fra ncês para ra pa rigas d oent es dos pulmõ es. Em 18 96, fo ram criad as e nferm ari as de isolam ento p ara tub ercul osos n o hospital d e Santo Antó nio e tamb ém n o H ospital da Ma rinh a. 33 189 8, ficou marcado p elo atin gir do o bjetivo de R ain ha D . Maria Amélia, qu e consegui u q ue os tub ercul osos dispe rsos p elos vári os h ospitais de Lisbo a, fossem isolados n o H ospital d e Arroios, qu e p assou a se r cham ad o de H ospit al da rai nh a D . Maria Amélia. Em 19 01, foi cria do o prim eiro disp ensá rio em Lisbo a pa ra t ube rculoses. O dispensá rio tinh a como funç ões da r consultas ind epe nd entes a tub ercul osos e a p essoas com predisp osição à tub ercul ose. Pa ra além disso os funcio nári os também realizava m visitas às casas, para ver as con dições higi énicas, o g ra u de p romiscuid ade e a misé ria em que viviam as p essoas, também distribuía m senhas pa ra os m ais p ob res i ram a c ozinhas eco nómicas, p ara te rem roup a, camas, escarra dores de b olso e desinfet antes . Os que n ão se conse guia m tratar e ram e nviad os para o hospit al D . Maria Amélia em Arroi os. 50 C om o passar d os an os, os sanatóri os começaram a ser ca da vez men os utilizados até fecha rem, p ois a m edicin a foi evoluin do, int rod uzind o-se os antibióticos e a quimi oterapia, em q ue a isoni azida de monstrou ser efic az contra a tub ercul ose. A evol ução dos tratame ntos foi outra d as causas, estes começaram a i ncluir com o p or exempl o a 51 rifam picina , que dimin uí a eficazmente o co ntági o, po nd o assim cada vez mais de pa rte a vel ha prática dos b ons a res e do re po uso q ue os san atórios traziam. O fecho dos sa natóri os pôs fim a uma part e da história d a tub ercul ose, mas esta h istóri a continu a a se r um assunto i naca ba do pois no seculo XXI, ain da co ntinu a a have r mo rtes devido a tu be rculose e ain da falt a e ncontrar o po nto final d esta históri a, o u seja, a cu ra. Estud os contin uam a se r feitos, e esta do ença é ca da vez m ais clara pa ra to dos nós. Passou po r ser uma doe nça dos a rtistas ligada a o roma nce, a um a do ença dos po bres até se te r descob erto q ue era co ntagi osa, e q ue o que a causava era o Mycob acterium tub ercul osis . Portug al sem pre seguiu as evol uções dos o utros países, tanto a nível me dicinal como sanit ário. 50 Cf. CORREIA, Fe rnando da Silva – Algumas e fem é ride s… ,pp.373 -374; DISPENSÁRIO antitube rculoso e m Lisboa. A M edicina Contem porânea (2º se rie ). Lisboa: Livraria José António Rodrigue s. Vol. 4, nº23 (1901), p.191 e o DISPENSÁRIO Antitube rculoso de Lisboa da Assistê ncia Nacional aos tube rculosos. A M edicina Moderna. Porto: Im pre nsa civilização. Vol. 3, nº101 (1902) p. 313 51 Outros bacte riostáticos utilizados eram , a ciclose rina, a viocina, a pirazida, o etambutol e a e tionamida 34 Co n clusão Este trabalh o teve com o o bjetivos pri ncipais, an alisar a Tu berc ulose e m Portug al, como se d esenvolve u e a resp osta q ue os p ortu gu eses de ram a esta Peste Branca. A tube rculose ao lon go dos tem pos teve vári as teo rias sob re a su a n atureza. Gra nche r e La en nec diziam q ue e ra d e causa ú nica e n ão a j ulgava m contagios a. Virchow , professor d e pat ologi a e político militante, dizia q ue tinh a orig em tumoral, mas gan ha p rota gonism o acompa nh an do o se u acréscimo de p erto no final do seculo XIX, a rev olução i nd ustrial, mas descobri nd o-se tamb ém o seu a gent e causa do r, este drama pe rp a ssa tod o o seculo XX e, ap esar de a ciê ncia te r co nseg uido n este século os mei os p ara vencer este flag elo, m edicam entos se gu ros e eficazes e o conh eciment o pl en o da sua prop agaçã o, entra m esmo assim, pelo sédulo XXI, ainda como um d os pro blem as de saúd e pu blica com maio r re pe rcussão em tod o o glo bo. U m tubercul oso não se diz cu ra do, m as sim clinicament e curad o em gíri a sanatori al, ou sej a, o b acilo p erm anece, agu arda ndo uma qu alqu er que bra d e resistência orgâ nica pa ra d e novo, se manifesta r. Ao lon go dos anos, o san atóri o e ra um lu ga r d e p rimazia no trata mento d a tubercul ose, p or du as razo es, o clima e o re gime. O regime d á e ducaçã o senatori al p ara qu e o d oe nte con heça o seu a gressor, ou sej a, a d oença, e assim tomar consciê ncia d a nec essidade de co ndicio na r a su a vida à prese rvação da pró pri a vida. O tratame nto d e lon ga duração e a su pervisã o continua da, acom pa nha dos nos seus res ultados p or tisiolo gista, po de ria cria r uma disciplin a útil. 35 Pode -se co ncluir qu e a histó ria da tub ercul ose ai nd a está lo nge d e ac aba r, várias pes quisas ai nda vã o ter qu e ser f eitas pa ra d escobri r mais desta d oenç a que ai nd a hoj e em dia mat a muitas pessoas. Referên cias Bib lio g ráficas 1. F A. Gonçalves Ferreira – H istória d a saúd e e dos serviços de sa úde em Portug al. Fund ação C al ouste Gul benkia n Lisbo a capitul o 11 2. Fern an do Sousa, A. H . D e Oliveira M arques - P ortu gal e a reg en eração. Editorial Presença. 3. R evista da Faculda de d e Letras - H ISTÓR IA; Porto, III Série, vol. 7,2006 4. educaca o.te.pt 5. Análise Social, vol. xxxii (142), 1 997 (3.º), 6. Medscap e – tube rculosis 7. FILH O, C láudio B ertolli – H istória S ocial d a Tu berc ulose e d o Tu be rculoso : 190 0-195 0. R io de Janei ro: Editora Fiocruz, 2001 8. C F, Veloso, Antó nio José B arros – Me dicina: a arte e o ofício. Lisb oa: Gra diva, 200 0 9. C OELH O, R ui M. Alves – O nosso inimigo o bacilo da tu berc ulose, 2º ed. Porto: AC TP 10. C F. SON TAG, Susan – Illness as Meta pho r an d AID S an d its M etap hor. Lon dres: Pengui n Books, 2002 36 11. Vide GR MEK, F elipe [et al.] – C h agas disease a nd hum an mig ration. Mem. Inst. Osw aldo C ruz Vol 95 nº4 (2 000 ) 12. C f PÔR TO, Âng ela – R e presentaçõ es sociais da t ube rculose: estigma e preco nceito. Ver. Saú de Pu blica. Vol. 41, nº1 (2 007 ) 13. FAR IA, R aul – T ube rculose, do ença social. In C ON FER ÊN C IAS da Li ga Portug uesa d e Profilaxia Social (3º série ). Porto: Imprensa Po rtug uesa, 19 36 14. N OVAES, João – O limite das horas de tra balh o nas fáb ricas. Porto: Typ. Occidental, 18 90. Tese Ina ug ural, 15. GU ILLAU ME, Pierre – D u dés espoir au salut 16. POIN SAR D, Léon – Po rtug al ign orad o. Porto: Ma galh ães e M oniz Ld a., 191 2 17. GAR R ETT, António de Almeid a – O p robl ema d a tube rculose 18. TEIXEIR A, Manuel C . – As estratégias de h abitaçã o em Po rtug al. Análise Social [Em linha]. Vol. 27, nº11 5 (1 992 ) 19. Vide BOMBAR D A, Miguel – O bairro de Alfama. A Medicina C ontemp orâ ne a (2º sé rie ). Lisb oa: Liv rari a José Antó nio R o dri gues. V ol. 6, nº9 (1 90 4) 20. Gue des, Amílcar José de Mira nd a – O Estado p ortu guês 21. C f. OR TIGÃO, R amalho - As Farp as: O país e a sociedade p ortu guesa, Tomo 7. Lisb oa: Livra ria C lássica Editora, 19 43 37 22. C f. A ALIMEN TAÇ ÃO racional (I). Tu bercul ose: Boletim da Assistência N acional aos Tu berc ulosos. Lisboa: Instituto R ainha D . Amélia. Vol. 1, nº1 (19 06 ) 23. C f. MAR TIN S, José Thomás d e Sous a – A tu be rculose pulm on ar e o clima da serra d a Estrell a. Jornal da Socie dad e das Scie ncias Me dicas d e Lisboa: Imprensa N acio nal. Tomo 54 (1 89 0) 24. C f. BEN TO, C arqueja - O povo po rtug uês. Aspetos sociais e económicos. Porto: Livrari a C hald ron, 1 916, 25. BOMBAR D A, Miguel - A tubercul ose, semente e terren o. Gu erra à tubercul ose. Vol. 1, nº1 (1 900 ). Lisbo a: Liga N ac ion al contra a Tub ercul ose 26. C f. A TU BER CU LOSE em Lisb oa. Gu erra á tub ercul ose. Vol. 1, nº2 (19 02 ). Lisboa: Lig a N ac ion al contra a tu berc ulose, 27. VASC ON C ELOS, Tabord a - R ob ert Koch, um a figu ra n o temp o. Porto (19 82 ) 28. C f. D IAS, José Lopes – N oções de higi ene ge ral contra a t ube rculose. A Saúd e. C oimbra: Junta G eral do D istrito de C oimb ra. N º 65-6 6 (1 93 3), 29. PR OPH YLAXIA da tuberculose bovin a. Gue rra á tub ercul ose. Vol1, nº 1 (19 00 ). Lisboa: Lig a N acion al C ontra a T ube rculose, 30. PER EIR A, Ana Leono r e PITA, João R ui – Liturgia higi enista 38 31. C f. C ATECISMO contra a tub erculose. Gu erra á t ube rculose. Vol. 1, nº2 (19 02 ). Lisboa: Lig a N acion al contra a T ube rculose, 32. A luta co ntra a tub erculos e e m Po rtug al, imp orta ntes esclareciment os fornecid os pelo di reto r do I.A.N .T., D r. Lopo de C arvalh o C ancella d e Abre u em conferência de imp re nsa mé dica nacio nal, sep arata de “o m édico” nº 55 2 – Tip. Sequ eira, L.D A P orto (196 2) 33. Proteção ao u niversitári o tub ercul oso (p ré -cura, sanató rios, post-cura) separata de “o mé dico” nº 360 (19 58 ). 34. BÁGU EN A CER VELLER A, Maria José – La tube rculosis y su historia 35. A LU C TA contra a tub ercul ose em P ortu gal, A m edicina C ontem po rân ea (2ºséri e). Lisbo a: Livra ria José Antóni o R odri gu es. Vol. 29, nº 25 (19 26 ), 36. BR ITO, Francisco Assis – D a tub ercul ose e seu trata ment o. A me dicina C ontemp orâ ne a (2ºsérie ). Lisb oa: Livrari a José Antó nio R o dri gu es. Vol. 30, nº1 (1 92 7), 37. SOBR E a vacina anti -tub erculos a. A me dicina C ontem porân ea (3ºsé rie). Lisboa: Livraria José Antó nio R od rig ues. Vol. 1, nº3 (19 29 ), 38. PESTAN A, Luís da C âma ra - R elató rio “H ospitalizaçã o d os tub erculos os pob res em Lisb oa ” Jo rnal d a Socie da de das Scie ncias Me dicas de Lisb oa. Lisboa: Imprensa N acio nal. Tomo 63 (1 89 9), 39. R EGU LAMEN TO do H ospício da Princeza D ona Mari a Amélia. Gazeta Médica d e Lisbo a. Lisboa: imp rensa N acio nal. Tom o 1, nº9 (1 85 3), 40. VIAN N A, Francisco José C unha – H ospício da Princ eza 39 41. SH R YOC K, R ichard H arrison – N ational Tu be rculosis 42. C adernos informativos AC TP, número 1 4. Junh o de 1 98 9 An exos Anexo I – Mortalidad e Ge ral em Lisboa (18 73 – 1 87 9) Fonte 1: C orreio M éd ico de L isb oa 40 Anexo II – Princip ais p atologi as e seu s n úm ero s d e óbi to no H ospital Sã o José do ano de 1 851 e do 1º trim es tre d e 18 52 Fonte 2: B AR B O SA, António M aria - Principaes causas da morta lidade d o H osp ital de S. José e meios de as atenuar. Gaze ta M éd ica de Lis boa. L isboa: Im prensa N acio nal. Tom o 1, n º1 (1853 ) 41 Anexo III – Mortalidade G eral em Lisbo a (1 88 1-1 88 6) Fonte 3: O Correio M éd ico de L isb oa 42 Anexo IV – Mortalidad e Ger al em Lisboa (18 87 -19 01 ) Fonte 4: B o letim de saúde e h igiene mun ic ipal de Lisb oa e o periódico "A M ed icina Co ntem porânea” 43 Anexo V – D oen te s do H ospício D . Maria A m élia, por g éner o, es tado civil e profiss ão Fonte 5: Gazeta M éd ica 44 Anexo VI – L ocal de onde s ão os doen te s qu e d eram en tra da no H os pício D . Maria A m élia Fonte 6: Gazeta M ed ica de L isboa 45 46