O "setor trigonal" e o "saber-fazer" matemático nos séculos XVI e XVII Fumikazu Saito Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [email protected] Neste trabalho apresentamos o instrumento como suporte que veicula conhecimentos do "saber-fazer" matemáticos dos séculos XVI e XVII, tendo por foco o "setor trigonal" (trigonal sector) de John Chatsfeild (fl. 1638). Os setores, muito utilizados por artesãos e artilheiros, eram verdadeiras "calculadoras" que ajudavam a simplificar cálculos bastante laboriosos a partir de finais do século XVI. As diferentes escalas que os compõem permitiam realizar variados cálculos não só aritméticos, mas também geométricos e trigonométricos. Entretanto, diferentemente dos tradicionais setores, que comumente são compostos de duas "pernas", o "setor trigonal" incorpora num quadrante de círculo dois diferentes tipos de escalas e duas réguas por meio dos quais são realizados diferentes cálculos. Um estudo preliminar das partes desse instrumento, bem como de seu uso, têm revelado diversos aspectos das práticas matemáticas nos séculos XVI e XVII em que "matemáticos" e "praticantes de matemáticas" compartilharam não só técnicas, mas também conhecimentos matemáticos. Este trabalho tem por base documentos originais. Atenção especial é dada ao tratado The trigonall sector, publicado em 1650, sobre o qual incidem análises específicas pautadas em tendências historiográficas atualizadas da história da ciência. Bibliografia BENNETT, J. A. Practical Geometry and Operative Knowledge. Configurations, Baltimore, v. 6, p. 195-222, 1998. BENNETT, J. A. Knowing and doing in the sixteenth century: what were instruments for?. British Journal for the History of Science, London, v. 36, n. 2, p. 129-150, 2003. CHATSFEILD, J. The trigonall sector: The description and use thereof: Being an instrument most aptly serving for the resolution of all Rightlined Triangles with great faculty and delight.... London: Robert Leybourn, 1650. GESSNER, S. Savoir manier les instruments: la géometrie dans les écrits italiens d'architecture (1545-1570). Revue d'Histoire des Mathématiques, Paris, v. 16, n.1, p. 87147, 2010. GUNTER, E. The Description and Use of the Sector for such as are Studious of Mathematicall Practice. London: Willian Iones, 1623. LEYBOURNE, W. The Line of Proportion or Numbers, commonly called Gunters Line made easie. By the which may be Measured all manner of superficies and solids, as Board, Glass, Pavement, Timber, Stone, &cc. How to perform the same By a Line of equal parts... whereunto is added, the use of the Line of proportion... London: J. S. for G. Sawbridge at his house on Clerk... green, 1667. RICHENSON, A. W. English Land Measuring to 1800: Instruments and Practices. Cambridge/London: The Society for the History of Technology/MIT Press, 1966. SAITO, F. History of Mathematics and History of Science: Some remarks concerning contextual framework. Educação Matemática Pesquisa, São Paulo, v. 14, n. 3, p. 363385, 2012. SAITO, F. Instrumentos e o "saber-fazer" matemático no século XVI. Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, v. 18, n. especial, p. 101-112, 2013. TAYLOR, E. G. R. The Mathematical Practitioners of Tudor & Stuart England. Cambridge: Institute of Navigation/Cambridge University Press, 1954.