AVALIAÇÃO DA METODOLOGIA PESQUISA-AÇÃO ENQUANTO SUPORTE PARA PROJETOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM COMUNIDADES RURAIS [email protected] APRESENTACAO ORAL-Agricultura Familiar e Ruralidade JANAÍNA DEANE DE ABREU SÁ DINIZ; MARIA NEUZA DA SILVA OLIVEIRA; RUDI HENRI VAN ELS; MAGDA EVA SOARES DE FARIA WEHRMANN; JOSIANE DO SOCORRO AGUIAR DE SOUZA. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, BRASÍLIA - DF - BRASIL. Avaliação da Metodologia Pesquisa-ação enquanto suporte para projetos de extensão universitária em comunidades rurais Resumo O objetivo deste artigo é discutir a metodologia pesquisa-ação associada a outros métodos participativos, em duas comunidades rurais. Serão analisados não apenas os resultados, mas também as ações conduzidas nessas experiências, com base no referencial teórico e nos procedimentos metodológicos. As duas comunidades analisadas foram atendidas por um grupo de extensão multidisciplinar da Universidade de Brasília, que executou os projetos de extensão atendendo a duas chamadas de fomento do CNPq. O que as duas experiências apresentam em comum é o fato de elas trabalharem a implementação de tecnologias sociais, ou apropriadas, em comunidades que, tradicionalmente, não tem acesso ao serviço de assistência técnica e extensão rural (ATER). A proposta deste artigo é abordar as similaridades e diferenças desses dois projetos de extensão, executados por um mesmo grupo, em duas regiões diferentes, a fim de avaliar os procedimentos metodológicos aplicados nos dois casos. Palavras-chave: pesquisa-ação, diagnóstico rápido dialogado (DRD), planejamento estratégico participativo (PEP), tecnologias apropriadas, desenvolvimento local. Abstract The objective of this paper is to discuss research-action methodology associated to other participative methodologies in two rural communities, as well as analyze, not only the results, but also the actions executed relating them to the theoretical framework and methodological procedures. The two communities were attended by a multidisciplinary team of the University of Brasilia, which executed the extension project funded by the CNPq. The two projects have in common the fact that they worked the implementation of social or appropriate technologies in communities that traditionally do not have access to technical assistance and rural extension. The purpose of this paper is to treat the similarities and differences of the two projects, carried out by the same team in two different regions, in order to evaluate the methodological procedures used in the two cases. Key-words: Action research, social technologies, local development, quick dialogued diagnosis, participatory strategic planning, appropriate technologies, local development 1. Introdução Projetos de extensão universitária, em comunidades rurais, são por natureza, ações executadas por equipes multidisciplinares. A discussão sobre a avaliação dessas ações e a indissociabilidade entre pesquisa e a própria ação extensionista é discutida, principalmente, por autores como Freire (1977), Oliveira (1999), Rodrigues (1997), Caporal & Costabeber (2007) dentre outros. Para Freire (1977, pg. 19), a palavra extensão tem diversos sentidos, dependendo de cada contexto em que é aplicada. Esta palavra que a principio se ligava etimologicamente ao arquitetônico, sofreu uma extensão e passou a ser utilizada em diversas áreas, tais como: economia, linguística, psicologia, antropologia, sociologia etc. A extensão rural, por exemplo, nasceu como instrumento de ensino e educação não formal, conforme estudos de Olinger (1996). O objetivo era oferecer aos membros de comunidades rurais, trabalhadores, jovens e donas-de-casa, a oportunidade de acesso ao conhecimento, sem terem que abandonar o campo e suas atividades no meio rural. Ainda sobre o conceito extensão, segundo Teixeira (2008, pg. 7), o termo pode ser conceituado como processo, como instituição e como política, e argumenta que: “Como processo a extensão rural significaria, num sentido literal, o ato de estender, levar ou transmitir conhecimentos de sua fonte geradora ao receptor final, o publico rural. Todavia, como processo, em um sentido amplo, e atualmente mais aceito, extensão rural pode ser entendida como um processo educativo de comunicação de conhecimentos de qualquer natureza, sejam conhecimentos técnicos ou não”. Neste sentido, a extensão universitária ou acadêmica pressupõe uma ação junto à comunidade, ou seja, o público externo à instituição. A pesquisa-ação surgiu no contexto de preparação das comunidades rurais, como uma metodologia de suporte aos projetos de extensão. O objetivo era a formação desses atores, por meio da aceitação de novas idéias e conhecimentos, bem como, a renovação de hábitos e atitudes. Criando assim a melhoria das condições da unidade produtiva e do lar, bem como a elevação do nível de vida das populações rurais, conforme mencionado por Rodrigues (1997). A discussão teórica sobre pesquisa-ação é ilustrada pelos atores sociais, que refletem sobre a sua ação. E a experiência prática é ilustrada por esses mesmos atores, que vislumbram sua próxima ação (RESWEBER, 1995). O objetivo deste artigo é discutir a metodologia pesquisa-ação associada a outros métodos participativos, em duas comunidades rurais e analisar os dados e os resultados empíricos dessas experiências, segundo o referencial teórico e os procedimentos metodológicos desenhados. As duas comunidades analisadas foram atendidas por um grupo de extensão multidisciplinar da Universidade de Brasília, que executou os projetos, atendendo a duas chamadas de fomento do CNPq. O que ambas as experiências têm em comum é que elas trabalham a implementação de tecnologias sociais ou apropriadas, de produto ou processo, em comunidades que tradicionalmente não têm acesso ao serviço de assistência técnica e extensão rural. A primeira experiência foi realizada no Cerrado brasileiro, atendendo uma chamada, para desenvolver tecnologias, com bases ecológicas apropriadas para a agricultura familiar. O projeto atendeu uma pequena comunidade agrícola no município de Correntina, no Oeste da Bahia. A segunda experiência foi na Amazônia Brasileira, em uma comunidade, que vive do extrativismo de frutos da floresta, e respondeu uma chamada para desenvolvimento de tecnologias de gestão para comunidades tradicionais. O projeto foi desenvolvido em um assentamento agroextrativista, localizado no município de Mazagão, no Sul do estado do Amapá. As ações foram executadas por um grupo multidisciplinar do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília (UnB), que já tinha algumas ações de pesquisa em andamento nas duas comunidades. A proposta deste artigo é abordar as similaridades e diferenças desses dois projetos de extensão, executados por um mesmo grupo, em duas regiões diferentes, a fim de analisar os procedimentos metodológicos aplicados nos dois casos. 2. Contexto dos projetos Os projetos foram executados em comunidades rurais de duas regiões brasileiras distintas. A Figura 1 mostra os municípios e as comunidades onde foram conduzidos os projetos Veredão, comunidade de Puçazeiro, no estado da Bahia e Maracastanha, comunidade do Maracá, estado do Amapá. Figura 1:– Localização das comunidades. Fonte: Acervo dos projetos. 2.1. Veredão O Extremo Oeste Baiano é uma região de expansão da agricultura de grande escala. É a região, onde nas últimas décadas cresceu, de forma significativa, a produção de soja, algodão, milho e pecuária. A agricultura da região apresenta alto grau de mecanização e de inserção no agronegócio. O Extremo Oeste da Bahia seguiu a tendência histórica da migração sulista para os Cerrados (WEHRMANN, 2000). Esses atores vieram para a região atraídos, sobretudo, pelo preço das terras, bem inferiores aos preços do Sul do País. Diferentemente dos imigrantes do sul, que procuram as terras altas e planas, favoráveis à mecanização e aumento da produção de escala, as comunidades tradicionais da região ainda tiram seu sustento da agricultura de subsistência, cultivando as áreas de brejo e as margens dos rios que cruzam a região. Há várias pequenas comunidades nessa região dos Cerrados, que vivem à margem do crescimento acelerado da agricultura empresarial. O advindo dessa agricultura dinamizou a região, pois foi criada toda uma infra-estrutura de apoio à produção, como estradas para escoar a produção e energia elétrica para irrigação das superfícies planas. Essas comunidades, normalmente, ficam nos fundos dos grandes empreendimentos agroindustriais e contam com infra-estrutura precária e têm na agricultura de subsistência, familiar e a na alocação temporária da sua mão-de-obra, para os grandes empreendimentos, seu sustento. A comunidade de Puçazeiro situa-se no município de Correntina no (Extremo) Oeste Baiano e é formada por aproximadamente 15 famílias. Algumas destas famílias já estão radicadas neste local a mais de quarenta ou cinqüenta anos. Muitos desses agricultores têm abandonado suas práticas tradicionais de cultivar a terra, para prestar serviços temporários nas grandes fazendas que ficam próximas. O assalariamento da mão-de-obra é uma das maiores fontes de complementação da renda familiar mais comum na região, assim como os benefícios das políticas públicas. Por ser uma região de cerrado, a mesma é rica em veredas que margeiam e formam grandes rios de água corrente. Nessas veredas os agricultores conseguem produzir os alimentos básicos de sua dieta alimentar, principalmente, feijão, mandioca, abóbora, banana e cana-de-açúcar. Por essas áreas estarem sendo exploradas há muitos anos, tem ocorrido diminuição da produção a cada ano, porque a fertilidade natural da terra está comprometida devido ao uso incessante do solo. Observações de campo permitem afirmar que, atualmente, as famílias do Puçazeiro residem em casas de adobe, sem saneamento básico e sem energia elétrica. Há uma escola de ensino fundamental em funcionamento, porém, a maioria dos alunos não consegue um bom nível de instrução escolar regular. Pois além das atividades escolares, eles trabalham nas grandes fazendas da região como mão-de-obra temporária, e, normalmente, abandonam seus estudos. Além da dificuldade de freqüentar a escola, também se nota que há pouca aplicabilidade do conteúdo escolar na vida cotidiana local. Pode-se constatar que a taxa de analfabetismo de adultos aproxima-se de 100%. Enquanto a agricultura e a pecuária de escala comercial, que se apóiam na infraestrutura regional de estradas e energia, apresentam um crescimento significativo, tornando a região uma das mais dinâmicas nesse segmento, percebe-se que a agricultura familiar encontra dificuldade para se reproduzir, devido à ausência de tecnologias adequadas e de condições particulares para a produção em pequena escala, gerida pelo trabalho familiar. Assim, percebe-se um processo de empobrecimento das comunidades locais, acentuado pelo êxodo dos jovens para as cidades mais próximas, em busca de outras oportunidades. Dados de 2008 do IBGE sobre a produção agrícola municipal (PAM) do município de Correntina evidenciam a importância dos empreendimentos não familiares na região. Constam no município 3.565 estabelecimentos da agricultura familiar contra apenas 334 não familiares. Em contrapartida, enquanto a área total dos estabelecimentos da agricultura familiar foi de 69.483 ha, os estabelecimentos não familiares apresentaram uma área total mais de dez vezes maior que a dos não familiares, correspondendo a 778.737 ha. A extensão da rede de serviço de energia elétrica público, nas margens das estradas, atende às grandes propriedades aí situadas e é justificada por sua viabilidade econômica, pois esses empreendimentos têm uma demanda que possibilita o seu atendimento pela concessionária. Ao contrário, as comunidades, que se encontram as margens dos rios e ficam, em média, a 25 km de distância da rodovia, têm dificuldade para acessar esse serviço básico. Pelo viés econômico, a demanda de consumo de eletricidade dessas comunidades não justifica a extensão da rede elétrica. Além da questão de infra-estrutura, como estradas e energia, ainda há o problema de escala de produção das propriedades de agricultura familiar e o baixo retorno econômico das culturas tradicionais, como mandioca e milho. Essas culturas garantem apenas o consumo familiar, pois não há mecanismos para escoamento, equipamentos e tecnologias apropriadas para beneficiar a produção no local e, também, não há qualquer incentivo governamental. Nessa região, a Universidade de Brasília realiza pesquisas com fontes alternativas de energia há algum tempo. Pesquisadores da UnB desenvolveram um equipamento capaz de aproveitar a energia cinética dos rios para gerar energia elétrica para o atendimento de pequenas cargas residenciais ou comunitárias. A proposta de extensão veio para viabilizar a aplicação dos resultados dessas pesquisas com energia alternativa, nas comunidades da região e a introdução de tecnologias sociais apropriadas de agricultura e agroecologia. 2.2. Maracá O sul de estado do Amapá sempre foi caracterizado por uma região de extrativismo de especiarias e de frutos da floresta. A região chegou a ser, no século XIX, uma das maiores produtoras de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa), realizando exportação direta para os grandes centros consumidores na Europa. Após o declínio do extrativismo da borracha e diversos conflitos fundiários houve, nos anos 1980, um reordenamento do território, que resultou nas primeiras experiências de reforma agrária na Amazônia onde se procurou implementar sistemas comunitários de posse e gestão por meio de assentamentos agroextrativistas e reservas extrativistas e de desenvolvimento sustentável (DINIZ, 2008). O Projeto de Assentamento Agroextrativista do Maracá (PAE-Maracá) foi um dos primeiros assentamentos com essas características. O PAE-Maracá localiza-se no município de Mazagão, no sul de estado do Amapá, possuindo extensão territorial de aproximadamente 500.000 ha. O assentamento é dividido em Baixo, Médio e Alto Maracá e é habitado por aproximadamente 1.000 famílias. Nas regiões do Alto e do Médio Maracá, a principal atividade econômica é o extrativismo de castanha-do-brasil, que dá o sustento para mais de 100 famílias. Os principais castanhais se encontram no Alto Maracá e o principal acesso é pelo rio que leva o mesmo nome. A principal aglomeração urbana é Vila Maracá, habitada por 200 famílias e por onde passa a principal rodovia do sul do estado e se encontram as principais infraestruturas sociais: posto de saúde, escolas de ensino fundamental e médio, além da escola família agroextrativista, que recebe filhos de comunitários de todo o assentamento e de áreas próximas. No Alto Maracá habitam aproximadamente 50 famílias em quatro comunidades. O percurso para se chegar às últimas comunidades é formado por mais de 20 cachoeiras ou quedas d’água, o que torna o acesso longo, difícil e muitas vezes arriscado, tanto para as pessoas como para os produtos transportados, principalmente a farinha de mandioca e a castanha-do-brasil. Os acessos terrestres também são muito precários. Devido a essas dificuldades de acesso, os serviços básicos para os habitantes, escolas, postos de saúde, eletricidade e água potável, ainda são praticamente inexistentes. A taxa de analfabetismo entre a população adulta é de 60 % e parte das crianças não freqüenta as escolas devido às dificuldades de acesso (DINIZ, 2008). No que se refere aos serviços médicos, o posto de saúde mais próximo é o da Vila Maracá, a porção mais urbanizada do PAE-Maracá, situada à distância de, no mínimo, duas horas de barco do Alto Maracá. Quanto ao acesso à eletricidade e à água potável, raras são as residências onde existe motor a base de óleo diesel ou poços. E quando esses serviços existem, não são fornecidos pelos Poderes Públicos. O extrativismo da castanha é a principal atividade, além da agricultura de subsistência. Os principais compradores da castanha residem na Vila Maracá, de onde o produto é despachado para os municípios de Laranjal do Jari e Santana, as principais portas de saída do estado em direção ao porto de Belém. Os compradores também são os principais comerciantes da Vila Maracá, praticando ainda o sistema de aviamento1, uma vez que boa parte das dívidas contraídas pelos castanheiros e suas famílias durante a saída deles para os castanhais é paga com barricas de castanha. Uma barrica de castanha equivale a 100 litros ou 48 kg. Os habitantes de outras áreas do assentamento, Médio e Baixo Maracá, também exploram os castanhais do Alto Maracá. Eles se dirigem para o Alto somente durante a safra da castanha e lá permanecem por períodos que podem variar de uma semana a mais de dois meses. Um dos pontos de estrangulamento da atividade dos extrativistas que habitam as outras partes do PAE-Maracá é o escoamento de sua coleta. Por esse motivo, muitos preferem ter o transporte de seus produtos realizado pelos agentes intermediários, que geralmente recebem as castanhas em um galpão instalado próximo à queda d’água do Varador, na comunidade de mesmo nome. Se o produto é entregue aos agentes intermediários do Alto Maracá, o preço pago é muito mais baixo, se comparado ao preço pago na Vila Maracá, devido ao custo do frete. A Universidade de Brasília também realiza pesquisas com fontes alternativas de energia elétrica, bem como trabalhos na área de diagnóstico da cadeia produtiva de produtos florestais não-madereiros (PFNM) desde 2002. A mesma tecnologia de geração de energia por meio de turbinas hidrocinéticas desenvolvida pela UnB para o Extremo Oeste de Bahia estava sendo adaptada para atender às especificidades da Amazônia em 2004. A proposta de extensão veio para complementar as ações de pesquisa já em curso na UnB e propor tecnologias de gestão focadas na melhoria da cadeia produtiva da principal atividade da região, o extrativismo, bem como implementar tecnologias apropriadas para a valorização, por meio do beneficiamento, da produção local. 3. Metodologia Os procedimentos metodológicos dos dois projetos não foram iguais. A própria característica das comunidades foi determinante nesse processo. A proximidade ou distância das comunidades à Universidade é um fator muito importante, pois determina a frequência e o tempo de permanência da equipe em campo. Como pontos comuns, podem-se considerar três principais aspectos: 1) nos dois projetos foram realizados estudos exploratórios alguns anos antes de se propor as pesquisas-ação; 2) houve envolvimento e participação de atores locais, o que garantiu uma base de apoio das atividades de campo; 3) nas duas comunidades a universidade estava realizando pesquisas com tecnologias apropriadas para o geraração de energia elétrica para o atendimento de pequenas cargas residenciais ou comunitárias; 4) foram obtidos financiamentos junto ao CNPq, a partir de editais específicos e apropriados aos contextos acima descritos. 3.1. Projeto Veredão O estudo exploratório da região de trabalho foi realizado em 2003. Ele tinha como objetivo fazer um levantamento socioeconômico das comunidades rurais no município de Correntina e levantar o potencial de geração de energia elétrica com turbinas hidrocinéticas; ele foi realizado por uma equipe de pesquisadores da 1 O aviamento é definido por Filocreão (2002) como “relação econômica que se dá entre um comerciante que fornece antecipadamente as mercadorias essenciais à vida dos seringueiros e castanheiros, em troca de sua produção” (p. 38). Universidade de Brasília. A partir dessa pesquisa, foi possível construir um banco de dados organizados num Sistema de Informações Geográficas (SIG), com dados secundários do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das secretarias municipais de saúde e educação, além dos dados primários colhidos nas comunidades. A co-construção da proposta de extensão surgiu a partir da avaliação dos dados do SIG, contatos com lideranças locais e visitas a diversas comunidades na região. Foi escolhida a comunidade de Puçazeiro. Após a escolha da comunidade foi realizado um diagnostico para colher informações diversas sobre a comunidade, chamado de Diagnóstico Rápido e Dialogado (DRD). Segundo Gastal (2002), o Diagnóstico Rápido e Dialogado (DRD), é uma metodologia que consiste no conhecimento, análise e interpretação dinâmica do modo como se estrutura e se viabiliza o espaço rural por meio de seus componentes: sistemas de produção, sistemas naturais e organização social da comunidade. Esse autor menciona que a rapidez e o diálogo devem ser incorporados ao diagnóstico, pois são características que permitem uma primeira visão da realidade da comunidade a ser trabalhada. É importante comentar que o DRD não deve se constituir em um fim em si mesmo, uma vez que não é ele o objetivo maior do trabalho a ser desenvolvido, mas sim, um instrumento para apoiar a metodologia, ou seja, é uma etapa do trabalho. Além de coletar informações, o diagnóstico permite interpretá-las corretamente. Para a aplicação desse diagnóstico, é importante a participação efetiva dos produtores no processo de análise da problemática e na reflexão de alternativas. O método que foi utilizado permitiu levantar a maior quantidade possível de informações a respeito de cada propriedade, bem como, do produtor e de sua família, tais como: os recursos naturais da propriedade, equipamentos, benfeitorias, os cultivos, as criações de animais, a família do agricultor e o modo como esses componentes interagem. Essa foi a primeira atividade para iniciar a mobilização dos atores envolvidos nesse processo. Houve um total de 15 (quinze) questionários aplicados na comunidade Puçazeiro. A partir desse diagnóstico, iniciou-se um processo de construção junto aos moradores da comunidade, chamado de Planejamento Estratégico Participativo (PEP). O Planejamento Estratégico Participativo (PEP), segundo Rocha (2001), é uma metodologia que foi elaborada com técnicas estruturadas e semi-estruturadas, programadas para serem aplicadas em etapas distintas de intervenção, de forma que ao final dos trabalhos, tem-se o Planejamento Estratégico Participativo da comunidade. O PEP é uma metodologia que procurou planejar as atividades a serem desenvolvidas na comunidade, onde, os próprios membros da comunidade foram os atores que elegeram as atividades que deveriam ser desenvolvidas na localidade. Essa metodologia possui as seguintes fases de intervenção por parte da equipe de trabalho: - Construção do histórico da comunidade, que visa resgatar a história da própria comunidade (levantamento de informações). - Mandato do planejamento. Nessa etapa os membros da comunidade tomam consciência das normas e regulamento que regem o PEP. - Interessados x Interesses. Esse é um levantamento que visa identificar os interesses e os interessados no projeto, quem são os parceiros ou não. - Missão do PEP. É um momento que expressa a razão de ser da comunidade, ou seja, o que os moradores esperam dela, quais são suas expectativa em relação a algum tipo de melhoria, qual é o futuro da comunidade daqui a dez, quinze ou vinte anos. - Análise do ambiente externo e interno da comunidade. O objetivo dessa etapa é identificar as variáveis externas que influenciam positivamente ou negativamente a comunidade. Ação (Campo) Pesquisa (Literatura) Participação na formulação das propostas prioritárias. A partir do levantamento das prioridades da comunidade, iniciou-se uma série de missões visando o planejamento de tais atividades, ou seja, quais procedimentos deveriam ser adotados para que as propostas fossem colocadas em prática. Primeiramente, procurou-se discutir alguns pontos inerentes ao PEP, tais como: histórico da comunidade, mandato do PEP, interesses e interessados, missão do PEP e, ambiente interno e externo à comunidade. O mandato do PEP consiste em construir uma lista de regras a serem obedecidas nessa etapa do trabalho, como por exemplo, respeitar a opinião do outro, saber trabalhar coletivamente, ter comprometimento com o projeto, dentre outros. A respeito dos interesses e interessados, foi realizado um levantamento dos interesses que havia em relação ao projeto, bem como os interessados no projeto. Quanto à missão do PEP, realizou-se todo um trabalho para explicar minuciosamente o que é esta metodologia para a comunidade, uma vez que, eles são os principais atores desse processo. Em relação ao ambiente externo e interno foi realizada uma palestra explicando o que isso significa, pois, tentou-se analisar junto aos produtores o que é, e como é o ambiente dentro e fora da comunidade, e se isso poderia interferir ou não no desenvolvimento do projeto. Essa metodologia mostrou que a participação dos moradores da localidade é ferramenta indispensável para a construção de qualquer tipo de empreendimento. Isso corrobora o pensamento de Bordenave (1985), que diz que a participação é uma necessidade humana universal, partindo do princípio de que, desde suas origens, o ser humano vive agrupado com seus semelhantes. Sendo assim, a participação é a forma de interação que sempre acompanhou o homem nas diversas fases de sua evolução. Nessa mesma linha, Bordenave (1985) argumenta ainda que, o homem só desenvolverá seu potencial pleno dentro de uma sociedade que permita e facilite a participação de todos. O futuro ideal da sociedade humana só será possível numa sociedade participativa. A metodologia aplicada no decorrer do desenvolvimento do projeto mostrou que, conforme Buarque (2004), o desenvolvimento local requer alguma forma de mobilização e iniciativas dos atores locais em torno de um projeto coletivo. Na figura 2 é apresentada a interação entre ação e pesquisa do projeto Veredão. Levantamento sobre metodologias participativas e sua adaptação ao contexto local Identificação de elementos teóricos para conduzir o planejamento 2 4 1 3 Estudo exploratório Aplicação do DRD 5 PEP 6 Condução da pesquisa-ação pela equipe e atores locais Figura 2: Ações conduzidas em campo e os referenciais da literatura no projeto Veredão. Fonte: Elaborado pelos autores. No campo inferior são apresentadas as ações realizadas em campo, enquanto que na parte superior são representados os referenciais da literatura que forneceram suporte às ações de campo. A pesquisa-ação inicia no campo, com o estudo exploratório (1). Em seguida, com informações preliminares sobre os atores e o contexto local, foi possível selecionar metodologias participativas (2) para aplicação junto à comunidade. O DRD (3) permitiu um aprofundamento das informações e, sobretudo, um diálogo com a comunidade, assim como algumas pistas de referenciais teóricos (4) para o planejamento (5) e a condução da pesquisa. 3.2. Projeto Maracastanha A co-construção da proposta do projeto de pesquisa-ação durou seis meses. Foram utilizadas, além de avaliações de experiências precedentes, um estudo exploratório sobre as famílias extrativistas envolvidas e a estrutura da cadeia produtiva da castanha-do-brasil no PAE-Maracá, além da coleta de opiniões dos membros da comunidade sobre suas expectativas com relação à utilização da turbina hidrocinética. As informações sobre as expectativas dos atores locais foram informadas durante encontros com as famílias que deveriam participar do projeto e foram registrados nos relatórios das idas a campo, que serviram para as discussões da equipe, para a proposição das atividades do projeto e para a pesquisa de soluções para os principais usos previstos para o equipamento. Entre as situações identificadas, durante o estudo sobre a estrutura da cadeia produtiva local, destaca-se a forte ligação entre extrativistas e agentes intermediários, justificada pela falta de organização social dos extrativistas do PAE-Maracá, e pela ausência do Estado. Dessa forma, ficou evidente a necessidade de se concentrar os esforços da equipe no desenvolvimento de uma melhor estrutura de escoamento de produtos. Mas, primeiramente, foi necessário promover uma melhor organização dos atores da cadeia produtiva, a fim de garantir a sustentabilidade da estrutura que seria instalada. Antes e durante os trabalhos de instalação do equipamento de geração de energia, promoveu-se a mobilização e o envolvimento dos extrativistas, uma vez que a equipe do projeto deveria se retirar após a conclusão das ações. Foi necessário preparar a comunidade para a gestão da nova estrutura, mesmo sabendo que não seria possível prever qual o tempo necessário para a equipe continuar em ação com os membros da comunidade. Esta é uma questão freqüentemente levantada nesse tipo de intervenção: qual é o melhor momento para se retirar do campo? Mas a resposta irá depender de diversos fatores, principalmente do nível de organização e de (in)formação dos atores locais. O projeto de pesquisa-ação foi proposto com o objetivo de construir uma nova configuração local para a participação dos extrativistas do Alto Maracá na cadeia produtiva da castanha-do-brasil. Ele consistia em um projeto complementar ao de geração alternativa de energia, a fim de garantir a mobilização e a organização social dos atores locais, não apenas os extrativistas do PAE-Maracá, mas também os membros de instituições locais, que tinham um importante papel na construção de uma nova configuração para a cadeia da castanha-do-brasil. O comprometimento e o fortalecimento dos atores deveriam acontecer a partir de ações e reflexões coletivas para promover as mudanças na cadeia produtiva local. Mesmo que a pesquisa-ação tenha sido proposta em um edital destinado ao desenvolvimento de tecnologias de gestão para os povos e comunidades tradicionais, sendo também complementar a outro projeto proposto e desenvolvido dentro de um programa mais amplo, ela foi baseada nas demandas locais das comunidades. A participação desses atores desde a concepção do projeto e ao longo das diferentes etapas passou a representar uma estratégia para torná-los co-responsáveis. A pesquisa-ação conduzida no PAE-Maracá pode ser considerada experimental, pois seu objetivo geral foi o de construir uma nova configuração local para a participação de extrativistas em uma cadeia produtiva da castanha-do-brasil. Nas pesquisas-ação experimentais, o envolvimento dos atores é considerado como controlado, porém no caso desta pesquisa, houve situações e ações que tiveram que ser revistas com relação ao que havia sido inicialmente previsto, o que remete à noção de ecologia da ação (AVENIER & ALBERT, 2005), segundo a qual é difícil se garantir o controle total de uma ação iniciada. Antes de se iniciar um novo projeto ou uma ação qualquer, é recomendável se basear em experiências similares anteriores, identificando os elementos que podem ser diretamente aplicados ou adaptados ao novo contexto. Os métodos de trabalho utilizados na pesquisa-ação consistiram principalmente em seminários, oficinas e cursos, onde informações sobre temas específicos foram transmitidas e discutidas entre a equipe do projeto e os membros da comunidade, contando ainda com a participação de outros atores convidados. Muitos desses atores eram parceiros locais, que participavam indiretamente do projeto. O projeto também previa alguns mutirões, que tiveram a participação de outros comunitários, não apenas do PAE-Maracá, mas também de outras regiões do Amapá. A etapa de concepção participativa foi anterior à proposição do projeto. Ela também consistiu de encontros, formais e informais, para definir com os comunitários as etapas seguintes. A mobilização dos atores locais e de outros atores participantes foi conduzida à medida que as etapas previstas eram executadas. Pesquisas bibliográficas também foram realizadas pelos pesquisadores participantes, principalmente para confirmar informações históricas sobre a exploração da castanha-do-brasil no PAEMaracá, e também para identificar técnicas e processos que pudessem ser adaptados à realidade local, antes de serem introduzidos. A figura 3 apresenta a interação entre ação e pesquisa no projeto Maracastanha. Pesquisa Ação Identificação de Mais elementos pistas teóricas e teóricos para elaboração de questionários conduzir uma nova ação socioeconômicos Revisão de literatura sobre o contexto local 2 1 Estudo exploratório 4 3 Avaliação preliminar de ações similares Identificação de elementos para conduzir uma avaliação da ação 6 5 Diagnóstico socioeconômico com comunidades locais 9 7 8 10 Avaliação das Construção e Condução da planejamento pesquisa-ação pela ações conduzidas coletivo de um equipe e atores novo projeto/ação locais Figura 3: Ações conduzidas em campo e os referenciais da literatura no projeto Maracastanha. Fonte: Elaboração dos autores. Da mesma forma que na Figura 2, a pesquisa-ação no Projeto Maracastanha inicia no campo, com o estudo exploratório (1). As informações preliminares sobre os atores e o contexto local foram ainda complementadas com leituras sobre os contextos históricos e socioeconômicos da comunidade (2). A partir deste trabalho mais teórico, foi possível se realizar uma avaliação das experiências anteriores na região (3). Estas primeiras etapas forneceram pistas teóricas (4), que apoiaram a confecção dos questionários para aplicação do diagnóstico socioeconômico (5). A avaliação dos resultados do diagnóstico orientou a equipe executora para novos elementos teóricos (6) para construção e planejamento das ações do projeto (7), assim como para a condução das ações (8). Uma nova consulta à literatura (9) permitiu a identificação de elementos para uma avaliação das ações conduzidas pelos atores (10). A Figura 1 caracteriza um projeto onde não havia ocorrido ações prévias, ou seja, não foi possível levantar, dentro de contexto regional, experiências anteriores. Já na Figura 2, as ações foram fortemente orientadas por avaliações de diversas experiências anteriores na região do projeto. Observa-se que houve uma evolução entre os dois processos, que nos leva a discutir o próprio processo de avaliação de projetos, assim como a acumulação de experiência entre projetos. 4. Discussão e avaliação dos projetos de pesquisa-ação Uma avaliação é considerada como sendo a concepção de um julgamento de valor sobre uma ação, com a perspectiva de tomada de decisão (PLANTE, 1991, apud LIÈVRE, 2002). Para a avaliação de uma ação social, Lièvre (2002) propõe três tipos de abordagem: pelos objetivos, pelos atores e pelos meios ou resultados. A avaliação pelos objetivos consiste em tentar determinar “se os efeitos provocados pela ação estão de acordo com os objetivos fixados” (LIÈVRE, p. 38). A ação não pode ser inovadora, uma vez que não existe informação que permita conceber previamente objetivos mensuráveis que façam sentido. A avaliação só poderá ser feita após o desenvolvimento da ação, avaliação para retrospectiva e ex-post. Normalmente, ela é realizada por atores externos à ação. A abordagem pelos atores é utilizada nos casos de introdução de ações inovadoras, que permitam retroações entre os diferentes atores. Consideram-se os modos de coordenação e cooperação entre os diferentes parceiros, com base nos seus respectivos desafios, mas também nas informações necessárias ao desenvolvimento do programa. Ela deve “se dar antes do fim da ação, a fim de permitir retroações a partir da ação [...] Trata-se de aumentar a consciência de cada ator para um ponto de vista mais coletivo” (op. cit. p. 39). Por fim, a abordagem pelos meios é intermediária às outras duas abordagens. Ela “permite considerar o que efetivamente aconteceu durante o desenvolvimento da ação” (LIÈVRE, p. 40), sem se preocupar com o que foi previsto inicialmente. Propõe também avaliar se os meios utilizados permitiram aos atores a condução da ação de forma satisfatória até a sua conclusão e identificar os obstáculos ao bom desenvolvimento da ação. Para efeito deste artigo, a avaliação adotada pelos autores segue a abordagem da avaliação pelos meios, pois está interessada em identificar principalmente os processos desencadeados, assim como os seus obstáculos e pontos fortes. Ao se analisar as duas experiências, pode-se perceber pelas figuras 2 e 3, que elas representam o processo da pesquisa-ação nas comunidades, que, apesar de apresentarem ações semelhantes, os desdobramentos foram diferentes. A ação de avaliar pode permitir às equipes de novos projetos, e até mesmo àquelas de projetos em andamento, o aprendizado, pelos erros, fracassos e/ou sucessos, a refletir e a propor outras ações de desenvolvimento mais adaptadas aos contextos locais. O exercício da avaliação de experiências anteriores é fundamental para a proposição de novas ações. Além disso, ao longo de uma ação de desenvolvimento já iniciada, ainda é possível se tirar lições que possam conduzir a mudanças nos objetivos e métodos inicialmente previstos para essa mesma ação (DINIZ, 2008). No caso da pesquisa-ação na comunidade do Maracá, aproveitou-se da experiência da equipe no processo junto à comunidade de Puçazeiro. Dessa forma, a abordagem da avaliação de experiências anteriores pode ser utilizada para desenvolver o aprendizado, a partir das experiências de projetos similares, em uma perspectiva de aprendizagem cumulativa entre projetos, conforme proposto por Fabbe-Costes & Lièvre (2002). A Figura 4, adaptada desses autores, propõe uma representação dessa acumulação de experiências. As etapas relacionadas a cada projeto podem variar, com diversas retroações. Porém, é importante se atentar para a acumulação de experiências entre cada projeto executado por uma mesma equipe. Figura 4 – Acumulação de experiência entre projetos. Fonte: Diniz (2008), adaptada de Fabbe-Costes & Lièvre (2002). 5. Conclusão Neste artigo foi discutida a metodologia pesquisa-ação associada a outros métodos participativos em duas comunidades rurais. A aplicação de diversos métodos participativos foi apresentada no seu contexto. O DRD, representado pela ação 3 na Figura 2, assim como a ação 5 da Figura 3, fizeram um diagnóstico da comunidade por meio de um diálogo informal, entre os comunitários e os pesquisadores. Isso possibilitou extrair detalhes importantes da fala dos atores locais. O PEP e a construção e o planejamento coletivo representados pelas ações 5 e 7 nas Figuras 2 e 3, respectivamente, proporcionaram espaços de interação e diálogo entre os membros da comunidade e pesquisadores. Pode-se perceber um aumento da auto-estima dos agricultores por estarem fazendo parte de uma construção coletiva. Com esta metodologia foi possível identificar as possibilidades de melhoria que poderiam ser implementadas na comunidade. Esse método mostrou a importância de a academia romper com a visão míope de chegar com propostas prontas e acabadas nas comunidades, supondo que uma determinada alternativa é “melhor” para aquela localidade. A metodologia mostrou que a participação dos atores locais é ferramenta indispensável para a construção de qualquer tipo de empreendimento. Isso vem de encontro com o pensamento de Bordenave (1985), que diz que a participação é uma necessidade humana universal, partindo do princípio de que, desde suas origens o ser humano vive agrupado com seus semelhantes. Sendo assim, a participação é a forma de interação que sempre acompanhou o homem nas diversas fases de sua evolução. Além do diálogo, participação e co-construção, o artigo destacou o que a pesquisa-ação pode proporcionar como suporte na execução do projeto. As idas e vindas entre ações na comunidade e a reflexão provocada pela pesquisa pelos atores cria condições para reformulação, adaptação e das próprias ações: a pesquisa-ação permite que a ação influencia a avaliação e a avaliação orienta a ação. Um projeto de pesquisa-ação sempre estará ligado a um desejo de se resolver um problema concreto, a partir da transformação de uma situação considerada como problemática, em outra mais favorável (ALLARD-POESI & PERRET, 2003). Entretanto, a percepção do que é relevante no campo da pesquisa depende fortemente da natureza dos objetivos da ação, ou seja, os elementos que serão considerados são geralmente aqueles que os próprios idealizadores definem como relevantes. A análise das duas experiências, nesse artigo, e o exercício de descrição das idas e vindas entre ação e pesquisa permitiram discutir a metodologia de pesquisa-ação associada a outros métodos participativos, além de uma comparação dos dois processos. Ainda, a análise das duas experiências permitiu o novo acúmulo de experiências que pode auxiliar a equipe executora na proposição e condução de novos projetos. A avaliação de uma experiência de pesquisa-ação não pode, portanto, se basear exclusivamente nos resultados. Ela deve também considerar os processos de construção das etapas pelos pesquisadores-atores, assim como os diferentes contextos e realidades das comunidades envolvidas. 6. Referências Bibliográficas Avenier, M. J. ; Albert M. N. 2005. The contribution of systemic modeling and complex thinking to the understanding of organizational processes: the case of organizational commitment, First Organization Studies Summer Workshop on Theorizing Process in Organizational Research, June 12-13, Santorini. Bordenave, Juan E. Díaz. 1985. O que é participação. São Paulo: Ed. Brasiliense, 3ª ed, 82p. Buarque, S.C. 2004. Construindo o desenvolvimento local sustentável: metodologia de planejamento. Rio de Janeiro, Ed. Garamond. 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