Relato de uma experiência com o MST, acampamento Terra Prometida, Tinguá-NovaIguaçú.
A Aneps-RJ, foi convidada em outubro de 2006, por intermédio de Francisco do
MST, um dos coordenadores do curso de saúde do Rio de Janeiro, para que promovéssemos
alguma atividade sobre a articulação junto aos alunos militantes de saúde do movimento no estado. Na
ocasião fomos assistir uma das aulas e conversar com as pessoas no local sobre a atividade e combinamos
que faríamos uma oficina para apresentar e refletir sobre a Aneps e seu papel no cenário da saúde.
Por vários motivos só conseguimos participar neste ano, 2007, no (4o. ou5o.módulo).Antes de
começarem as aulas um companheiro da Anepsrj esteve na reunião geral de preparação do mesmo
atendendo a dinâmica do curso, localizando a Aneps no contexto geral e conhecendo as demandas para as
quais poderíamos conseguir ajudas.Ficou decidido que a realização da oficina de saúde pela AnepsRJ,
seria dia 24/03/07, e se dispuseram a planejar e fazer esa atividade cinco "anepsianas", umas com mais
experiências, em relação ANEPSRJ, e outras nem tanto, porém, o desejo e a disposição eram os mesmos.
Neste processo de preparação conseguimos articular um transporte coletivo, assim uma caixa de
diversos materiais (pastas, canetas, materia educativos diversos, revistas Radis e até alguns exemplares de
livros sobre a história do SUS) para os companheiros alunos do curso.
O grande dia. Combinamos de encontrarmos em Laranjeiras ,às 07:00.Ao chegar ao local combinado,
eu, Celia, encontrei Irene de olho numa Kombi de transporte escolar, com placa de Nova Iguaçu,
estacionada do outro lado da rua, imaginando que pudesse ser o nosso transporte e ao mesmo tempo
revisava o "roteiro" da oficina, a leitura as vezes era interrompida para que, a mesma, pudesse admirar e
fazer carinho nos cachorros que passavam em suas caminhadas matinais, retornando logo sua atenção a
valiosa folha de papel.
Em seguida chegaram Teresa e, Marília, esta carregando um aparelho de som. Tínhamos pensado em
usar as músicas do CD organizado pelo Sérgio(EPS), e como o "seguro morreu de velho, Marília se
comprometeu em garantir o som. Bem, as cinco estavamos prontas para dar início a nossa jornada, num
belo sábado com um sol de "rachar". os acomodamos na Van e seguimos viagens e, é lógico, continuamos
a discutir o nosso roteiro, e começamos a definir o papel de cada uma na oficina, por questões de
didática, porém, sabíamos que podíamos contar com todas em qualquer momento.
Na Leopoldina paramos para darmos carona ao Cosme, um militante do MST e morador do
acampamento Terra Prometida, aproveitamos para conhecer um pouco das pessoas e do cenário que
nos aguardavam. Cosme contou que as famílias do Terra Prometida estão juntas desde de 1999, em
busca de terra e melhoria na qualidade de vida e coseqüentemente melhoria do próprio Homem:
A primeira ocupação deste grupo foi em Miguel Pereira. No ano seguinte, as famílias foram para Santa
Cruz, onde ocuparam uma área de 905 hectares de terras em nome da Comissão Nacional de Energia
Nuclear(CNEN), do governo federal, onde cultivaram alimentos e construíram casas. Em 2006, a partir de
uma negociação envolvendo governo federal, estadual e a empresa alemã Thyssenkrupp, as terras se
tornaram alvo da companhia Siderúrgica do Atlântico(CSA), que pretende construir no local a "maior
siderúrgica da América Latina". Então houve pressão para que as famílias deixassem o local. Em feveriro
de 2006 as famílias foram transferida para Tingá- Nova Iguaçu, com promessa de no máximo em 90
dias, serem alocadas em outras áreas e teriam infra-estrutura para se instalar. Entretanto, a CSA cumpriu
o prometido, transferindo para as famílias dos Sem Terra a fazenda a qual ocupam em Tinguá, mas, o
governo estadual que ficou de negociar a desapropriação da outra fazenda, para que eles pudessem
cultivar,não cumpriu,criando um impasse. E as famílias continuam vivendo num local repleto de pedras e
terrenos irregulares, impedindo o cultivo que lhes dava subsistência e o sustento.
Cosme também falou de sua luta por uma sociedade mais justa e igualitária, de meio ambiente, de
reponsabilidade social, e de seu envolvimento e comprometimento com o MST, que onde há necessidade
de organização do movimento ele vai, já esteve no Noroeste do Estado, o último município foi Campos,
mas, confessa que seu lugar e sua família é o acampamento Terra Prometida. Nós cincos, "anepsianas",
esquecemos o roteiro da oficina para deliciar com todo o aprendizado que Cosme nos presenteava.
Depois de algumas horas no asfalto, nos restavam mais 07 km em terra batida,então,"embrenhamos"
numa estrada de terra um tanto esburacada, e como havia chovido no dia anterior havia lama. Num
determinado momento tivemos que retornar e seguimos por outra trilha. A paisagem entretanto
compensava os "sacolejos", cercada de montanhas e muito verde com aquele cheirinho maravilhoso de
terra e mato molhado.
Enfim, chegamos, fomos presenteadas mais uma vez pela natureza, o local fica "encravado" na reserva
de Tinguá, um vale cercado por morro coberto por floresta de um lado e do outro entre os arbusto aparece
um lago.
Fomos muito bem recebidas, com músicas, grito de guerras e palavras de ordem. Então, iniciaram a nos
contar a história do MST no Estado do Rio de Janeiro,muitos relatos reafirmavam o que Cosme já havia
dito. O MST no Estado do Rio de Janeiro está há 20 anos. O assentamento Terra Prometida
comporta 75 famílias, porém, no momento conta com 69 a 70 famílias. Muitos acabam dessistindo de
seus sonhos ao enfrentar dificuldades, que são muitas e podem durar anos.
Estão nesta localidade, ou seja, Tinguá- Nova Iguaçu, há 11 meses, após, já ter passado por outros
lugares. Ainda não é o local ideal pois, a terra não é boa para o cultivo em toda sua extensão somente em
uma pequena área,onde cultivam aipim, porém, não é suficiente para garantir a subsistência da
comunidade e as famílias sobrevivem de cestas básicas. Aguardam o governo cumprir a promessa, para
construir no assentamento de Tinguá uma Escola Agrícola e a outra fazenda vai ficar para o plantio.
Disseram que vivem um momento de grande expectativas em relação ao governo,por não ser de direita e
nem se de esquerda,embora em cima do muro,mesmo assim, as expectativas são boas, estão tendo
espaços para debater não só a reforma agrária, mas, também, as mudanças sociais e percebem que houve
um avanço neste 20 anos de luta.
Expectativas em relação ao Curso e a oficina Anepsrj:
.Melhorar a saúde na comunidade este é o nosso objetivo, alcançarmos um nível de saúde de uma forma
geral. .O curso é estadual, tem pessoas de várias regiões do estado, estamos construindo uma alternativa
para suprir a ausência dos atendimentos em posto de saúde, hospitais, remédios químicos. .O curso
também está nos dando outra dimensão para buscar solução dentro da nossa comunidade, porque o SUS
não consegue chegar até nós, aqui estamos aprendendo algo novo para nossa comunidade.
.Os Sem Terra têm dificuldade para serem atendidos no SUS, há discriminação nos Postos de Saúde,
quando solicita o endereço, os sem terra não têm endereço são acampados, e em virtude disso é
negado o atendimento aos mesmos.
.O curso traz contato entre várias áreas do movimento.
.Estamos no quarto curso e é a primeira vez que a Anepsrj, está participando, isto, só aumenta nossa
expectativa.
. Em primeiro lugar gostaríamos de entender o que é Aneps?Oque ela vem nos trazer de novo?
. O MST está em busca constante para aprender cada vez mais, para avançar e expandir.
. Esperamosque ANEPS visualize outros caminhos em outros setores, temos dificuldades em nos
deslocar.
Graciela apresenta a ANEPS e cada uma de nós falamos um pouco da nossa expectativa em relação ao
curso.
Início da oficina, escolhemos como metodologia, a dramatização, As pessoas formaram três grupos, os
quais
apresentaram situações vivenciadas pelos militantes do MST,e assim, foi surgindo questões importantes
e, sendo
problematizadas,criando momentos de profundas reflexões, possibilitanto a desconstruções de alguns
conceitos e situações e a construções de outros/as.
Grupo 1 ( atendimento em um posto de saúde)
. Discriminação da atentende em relação ao usuário do MST sem condições de fornacer um endereço
conforme solicitado no cadastro. No primeiro momento o grupo colocou em relação aos sem terra,
posteriormente na percepção dos outros grupos, o senhor Alcebíades colocou que a discriminação é
geral, ou melhor, é mais pela falta de preparo ou de sensibilidade dos profissionais que estão na porta de
entrada do sistema.
. Controle Social exercido pelo usuário, a importância da população denunciar sem medo, a partir do
entendimento que está lutando pelo seu direito.
.Abrir mão de seus direitos( coexistindo com denúncia e controle social-discriminação levou a optar e
investir cada vez mais na medicina alternativa).
Grupo 2- Atendimento em medicina alternativa( shiatusu).
.O desafio da convivência social ( as diversas visões e postura dentro de um acampamento).
.Quem legitima as nossas práticas?( a distância e descrença em relação às práticas tradicionais, a
necessidade de um certificado).
. Socializar as informações para ajudar a criar consciência.
Grupo 3-Reuniãodo MST sobre o curso de Saúde.
.Relação
entre estes
conhecimentos,
sua
serventia cotidiana
e o
resgate
cultural(parteiras,benzedeirasetc..)
.A prática da medicina alternativa funcionando como restauração da auto-estimada capacidade de fazer(
o negócio é "meter a mão e fazer")
.A lógica da medicina alternativa e a realização dos princípios norteadores do SUS.
.Contribuição Social, possilitou,uma riqueza do aprendizado, com vários temas referentes a vários
setores.
Após o almoço, retornamos as discussões, porém antes ficamos observando e tentanto aprender a
preparar coletivamente a massa de pão.
.As dificuldade em relação aos atendimentos no SUS foi o que teve mais queixas.
. Surgiu uma discussão em relação a pessoa que se infiltra no MST, para denegrir a imagem do
movimento.
. O MST tem dificuldade de esta em alguns espaços que acreditam ser importantes para o
movimento.Como por exemplos no conselhos de saúde.Gostariam de ter pelo o menos alguém que
tenha voz e que lute por eles,alguém que tenha identificação com MST e grite por eles.
.Embora os Conselhos não estejam funcionando como deveriam, ou como gostaríamos,mas, temos que
ocuparmos este espaço, e a única forma de reivindicarmos nosso direito, enquanto controle social.
O Conselho é um processo e tem que ser construído.Senhor Alcebíades fala do encontro e da troca como
forma importante de enfrentamento e superação.
Quando já aproximava da finalização, o tempo mudou e anunciou a chegada de mais chuva, o motorista
da van ficou preocupado, com medo de ficarmos "presos" no acampamento, e resolveu ir na frente e nos
aguardar no asfalto e o pessoal do acampamento se encarregou de levar a gente até o asfalto.
Tivemos também,que mudarmos de local, pois aonde estávamos o telhado é de zinco, e a experiência do
dia anterior, mostrou,que a comunicação fica impossível com o barulho da chuva nas telhas. Nos
dirigimos para a biblioteca para finalizarmos, e terminamos com a realização da Mística.
A mística foi pensada pelos militantes e a companheira Marília, onde por meio da simbologia, eles
demonstraram o que entendeu como sendo Aneps e também, reforçaram seu pedido de ajuda a
mesma, ao qual já haviam verbalizados. Enfim, A Marília, representava a ANEPS, era uma "figura"
articulada. E no espaço havia várias Instituições que integra de algum modo o setor saúde, como a SES,
SMS, Vigilância Sanitária, Conselho de Saúde, Unidade de Saúde etc..., sem falar somente utilizando de
expressão corporal ,o
integrante do MST, procurou
atendimento nestas instituições,sendo
negado,porém,ao procurar a ANEPS, essa por sua vez, foi se articulando com as demais Instituições e o
integrante do MST foi atendido.
E finalizamos com um grande abraço e mais grito de guerra, palavra de ordem e o hino do MST foi
cantado com muita emoção
Nos comprometemos a participar do próximo módulo levando pessoas do Conselho Estadual de Saúde e
quem sabe do Municipal (Nova Iguaçu).
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Relato de uma experiência com o MST, acampamento