MICOTOXINAS EM ALIMENTOS IV Seminário de Contaminantes em Alimentos 01 a 02 de setembro 2010 Beatriz T. Iamanaka CENTRO DE CIÊNCIA E QUALIDADE DE ALIMENTOS Av. Brasil, 2880 • CEP 13.070-178 • Campinas/SP • Brasil Tel. 19 3743-1781/1810/1820 • Fax 19 3242-4585 e-mail: [email protected] http://www.ital.sp.gov.br MICOTOXINAS São substâncias químicas produzidas durante o metabolismo secundário de algumas espécies de fungos filamentosos, responsáveis pela contaminação de alimentos e rações animais Considerações importantes Mais de 300 conhecidas Alimentos em geral Grãos oleaginosos Grãos com alto teor de carboidratos A ausência de fungos não implica na ausência de micotoxinas Aspergillus, Penicillium, Fusarium são os gêneros mais importantes relacionados às micotoxinas. Aspergillus é mais importante nos trópicos e sub-trópicos Penicillium é mais importante em regiões temperadas e nas regiões polares, mas certas espécies são também comuns nos trópicos Fusarium são comuns em toda parte PRINCIPAIS GRUPOS • AFLATOXINAS • OCRATOXINA • ZEARALENONA • FUMONISINAS • TRICOTECENOS: DEOXINIVALENOL (DON), T-2, HT-2, NIVALENOL • PATULINA Alimentos com um alto risco de contaminação por micotoxinas Alimento Fungo provável Micotoxinas prováveis Amendoim A. flavus A. parasiticus Aflatoxinas A. flavus A.parasiticus Aflatoxinas Fusarium spp. Tricotecenos Zearalenona F. verticillioides Fumonisinas Fusarium spp. Tricotecenos (DON) Alternaria spp. Alternariol, ácido tenuazônico A. flavus Aflatoxinas Milho Sorgo Alimentos e matérias primas com moderado risco de contaminação por micotoxinas Alimentos Trigo Cevada Cereais à base de milho Fungo provável Micotoxinas prováveis Penicillium spp. Ocratoxina, citrinina, CPA Alternaria spp. Alternariol, ac. tenuazônico Fusarium spp. Tricotecenos F. graminearum DON P. verrucosum Ocratoxina A. flavus Aflatoxinas Fusarium spp. Cereais à base de trigo Fusarium spp. Café A. westerdijkiae A. carbonarius Tricotecenos Fumonisinas Tricotecenos Ocratoxina Micotoxinas encontradas em frutas Micotoxinas Patulina Aflatoxinas Ocratoxina Frutas Fungos produtores Maçã Penicillium expansum Pera Byssochlamys nivea Figo Uvas Figos Tâmaras Groselha A. flavus, A. parasiticus A. ochraceus, A. carbonarius, A. niger Micotoxinas encontradas em bebidas Ocratoxina A Café Vinhos Suco de uva Cerveja Patulina Suco de maçã Cidra de maçã Aflatoxinas Café Cerveja O que causam? 1) Efeitos agudos: altas concentrações e frequência de ingestão única -Necrose e degeneração gordurosa- AflaB1 2) Efeitos crônicos: exposição prolongada a baixas concentrações do agente tóxico - Aparecimento de carcinoma hepático-AflaB1 AFLATOXINAS Amendoim, milho, caroço de algodão, castanha do Brasil, figo seco, pistache, pimenta e especiarias Aspergillus flavus - Temperatura de crescimento: 10-48ºC, com ótima a 33ºC - aw mínima 0,80 a 37ºC -Produtor de B1,B2 e ácido ciclopiazônico Aspergillus parasiticus - Temperatura crescimento: 1242ºC, com ótima a 32ºC - aw mínimo 0,80 a 37ºC - Países tropicais e subtropicais -Produtor B1, B2, G1 e G2 - Baixa incidência em alimentos Condições para a produção de aflatoxinas Fator A. flavus Mínimo Ótimo Máximo 13 16 a 31 31 a 37 0,82 0,95 a 0,99 >0,99 12 25 40 pH 2,0 6,0 >8,0 aw 0,86 a 0,87 0,95 >0,99 Temperatura (ºC) aw A. parasiticus Temperatura Aflatoxina B1 - Substância hepatocarcinogênica, mutagênica - Pertencente ao Grupo1: carcinogênico para humanos (IARC/1993) Aflatoxina M1 - Produto hidroxilado da Afla B1 - Presente no leite e produtos derivados - Grupo 2B: agente possivelmente carcinogênico (IARC, 1993) SABINO et al. (1998) 45% amostras amendoim e derivados positivas, sendo 27% maior que 20ppb IAMANAKA et al. (2005) 231 amostras amendoim e derivados, 24% contaminadas, e 13% > 20ppb OLIVEIRA et al. (2010) 30 amostras de ração e leite de propriedades leiteiras do estado de SP Ração 40% positivas 1,2 a 19,5 µg/kg Média de 8,4 µg/Kg Leite 36,7% positivas 0,010 a 0,645 µg/L Média de 0,144 µg/L Apenas 1 amostra apresentou >0,5ug/L (0,645ug/L) Ocratoxina A Aspergillus westerdijkiae - T ótima = 24 - 31ºC - aw min = 0,77 a 25ºC -Alimentos de baixa atividade de água (grãos, cereais, milho, soja) Aspergillus carbonarius - T ótima = 32 – 35ºC - Frutas secas, uva, vinho, café Penicillium verrucosum Países de clima temperado T ótima = 20ºC aw mínimo = 0,80 Comum em cereais, queijo, cerveja Fator P. verrucosum Temperatura (ºC) aw A. ochraceus Temperatura (ºC) aw Mínimo Ótimo Máximo 0 20 31 0,86 a 0,87 0,95 a 0,99 >0,99 12 31 37 0,83 0,95 a 0,99 >0,99 Nefrotóxica e nefrocarcinogênica Nefropatia endêmica dos Balcãs Grupo 2B: possivelmente carcinogênico para humanos (IARC, 1993) Níveis de ocratoxina A no café em vários estágios de produção Nível (ug/kg) Estádio de produção (Nº de amostras) Média Cerejas do pé (6) < 0,2 < 0,2 – 0,4 Passas do pé (16) < 0,2 < 0,2 Secos do solo (25) 2,0 < 0,2 – 37 Terreiro (40) 2,1 < 0,2 – 48 Tulha (48) 3,4 < 0,2 – 109 Aspergillus westerdijkiae, Aspergillus niger Amostras com maior porcentagem de infecção: Cerejas do pé – 2% Passas do pé – 4% Secos do solo – 16% Terreiro – 34% Tulha – 36% Níveis de ocratoxina A em cafés no Brasil (Iamanaka et al., 2005) % amostras Nìvel (µg/kg) Média positivas Café Nº de amostras Cru Cru 6969 79,7 79,7 ND––41,3 41,3 ND 4,43 4,43 Torrado e moído 25 48,0 ND – 7,31 1,30 Solúvel 8282 76,8 76,8 ND– –241,7 241,7 ND 12,43 12,43 Ocratoxina A nos principais vinhos europeus (Majerus and Ottender,1996) Tipo Nº de amostras Nº de amostras positivas (%) Média (µg/L) Máximo (µg/L) Branco 41 14 (34%) 0,07 1,2 Rose 14 6 (43) 0,10 2.4 Tinto 89 40 (45) 0,18 7,0 Total 144 60 (42) Aspergillus carbonarius 7,0 Ocratoxina A em cerveja – Europa (Scott, 1996) Nº de amostras Nº de amostras positivas (%) Média (µg/L) Máximo (µg/L) Alemanha 56 12 (21%) 0,85 1,5 Canadá 41 26 (63) 0,06 0,2 Reino Unido 16 14 (88) 0,01 0,05 Suiça 7 7 (100) 0,01 0,03 País Penicillium verrucosum PATULINA - Produzida por Penicillium expansum e Byssochlamys nivea - Solúvel em água - Presente em maçã, suco de maçã, suco de uva, queijo Penicillium expansum Em animais de laboratório: -Edema pulmonar -Hemorragia -Danos no fígado, baço e rins -Edema cerebral Patulina em suco de frutas brasileiras (Sylos, 1994) Nº de amostras Nº de amostras positivas (%) Suco de maçã 20 1 (5.0) 17 Suco de uva 17 0 ND Suco de abacaxi 10 0 ND Suco de manga 6 0 ND Amostras Penicillium expansum Nível (µg/kg) FUMONISINAS - FB1, FB2 e FB3 - São poliálcoois, esterificado com ácido carboxílico 1,2,3 -Baixa lipossolubilidade - Milho e produtos derivados FUNGOS PRODUTORES Fusarium verticillioides - Tótima = 22,5 a 27,5ºC - aw min = 0,87 a 25ºC - produtor de FB1 e FB2 Fusarium proliferatum -produtor de FB1, FB2 e FB3 Aspergillus niger (Frisvad et al., 2007, Production of fumonisin B2 by Aspergillus niger, Journal of Agricultural and Food Chemistry, 55: 9727-9732) -Edema pulmonar em suínos -Leucoencefalomalácia em equinos -Atividade de iniciação carcinogênica em fígado e rim em ratos -Relacionado a câncer de esôfago em países africanos -Grupo 2B (IARC, 1993) ZEARALENONA - Intermediário da síntese de hormônios e promotores de crescimento Fungos produtores Fusarium graminearum - Patógeno de plantas - t ótima = 24-26ºC - aw mín = 0,90 Milho, trigo, cevada, aveia, centeio Efeitos Infertilidade em suínos Síndrome estrogênica - fêmeas: tumefação vulvar, atrofia dos ovários, hipertrofia das mamas e útero - machos: atrofia dos testículos e hipertrofia das mamas Alteração na reprodução de gado leiteiro, aves Tricotecenos Desoxinivalenol (DON) ou Vomitoxina e nivalenol - São polares - Apresentam estabilidade química Fungos produtores: Fusarium graminearum e Fusarium culmorum - Trigo, aveia, cevada, milho T-2 e HT-2 -trigo, milho, aveia, cevada, arroz, feijão, soja -F. sporotrichioides, F. poae, F. equiseti e F. acuminatum -Saprófitas presentes nas plantas -Responsáveis por micotoxicoses em animais e humanos - Aleucia tóxica alimentar: angina, cefaléia, vomitos e, em casos mais graves, a leucopenia seguida de hemorragia e morte MÉTODOS DE DETECÇÃO EM ALIMENTOS - Métodos de triagem e semiquantitativos - Cromatografia Camada Delgada (CCD) - Enzime-linked immunosorbent assays (ELISA) - Técnicas imunocromáticas (tiras) - Métodos quantitativos - Colunas de Imunoafinidade - Colunas de carvão e alumina CLAE/Fluorescência e UV LC/MS e LC/MS/MS CG/MS Extração com solventes apropriados Limpeza da amostra (imunoafinidade) Ocratoxina A em café cru DESCONTAMINAÇÃO Calor seco: somente T > 200 ºC pois são termorresistentes Calor úmido: autoclavagem a 121ºC/4h ocorre redução significativa Extração com solventes: uso de clorofórmios, acetona, somente para fins analíticos Tratamento com solução alcalina: neutralização com álcali Oxidação: tratamento com hipoclorito de sódio 5% MÉTODOS PREVENTIVOS Adoção de Boas práticas - Evitar contato com o solo - Entrada de animais e insetos - Secagem adequada 13% cereais 10% amendoim em casca, caroço de algodão, soja 8% amendoim descascado 11% café - Evitar absorção de umidade dos grãos secos LEGISLAÇÃO Ministério da Saúde: Resolução RDC no 274 ANVISA/MS, 15 de outubro de 2002 - Amendoim (com casca, descascado, crú ou tostado) pasta de amendoim (pasta de amendoim ou manteiga de amendoim) Aflatoxinas B1+B2+G1+G2 = 20 ug/kg (ppb) - Milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído, farinhas e sêmolas) Aflatoxinas: B1+B2+G1+G2 = 20 ug/kg (ppb) Leite fluido: Aflatoxina M1 = 0,5 ug/L (ppb) Leite em pó: Aflatoxina M1 = 5,0 ug/L (ppb) Resolução CNNPA/MS nº 34/76 Aflatoxinas B1 e G1= 30 µg/kg para todos os alimentos, exceto amendoim, milho e seus produtos Ministério da Agricultura. Portaria MA/SNAD/SFA No. 07 de 09/11/88 Para qualquer matéria prima a ser utilizada diretamente ou como ingrediente para rações destinadas ao consumo animal: Aflatoxinas (máximo) = 50 µg/kg Limites Máximos Tolerados (LMT) propostos para alimentos (Anvisa) Micotoxinas Produto (µg/kg) Aflatoxinas B1, B2, G1, G2 Cereais e produtos a base de cereais, exceto milho e derivados 5,0 Aflatoxinas B1, B2, G1, G2 Nozes, frutas desidratadas e secas e sementes oleaginosas exceto amendoim e derivados Aflatoxinas B1, B2, G1, G2 Alimentos infantis com cereais 1,0 Aflatoxinas B1, B2, G1, G2 Produtos de Cacau e chocolate 5,0 Aflatoxinas B1, B2, G1,G2 Condimentos e especiarias 20,0 Ocratoxina A Cereais e produtos a base de cereais 10,0 Ocratoxina A Café torrado 10,0 Ocratoxina A Café solúvel 10,0 Ocratoxina A Vinho 2,0 Ocratoxina A Polpa e suco de uva 2,0 Ocratoxina A Vinagre de vinho 10,00 Ocratoxina A Condimento e especiarias 10,00 Ocratoxina A Alimentos infantis a base de cereais 2,0 Ocratoxina A Produtos de cacau e chocolate 5,0 Ocratoxina A Frutas secas e desidratadas 10,0 Desoxinivalenol (DON) Farinha de trigo 1200 Desoxinivalenol Outros produtos derivados de trigo 750 Desoxinivalenol Alimentos infantis a base de cereais 200 Fumonisinas (B1 + B2) Milho não processado 2000 Fumonisinas (B1 + B2) Farinha de milho 1000 Fumonisinas (B1 + B2) Outros produtos a base de milho 400 Fumonisinas (B1 + B2) Alimentos infantis a base de milho 200 Patulina Suco de maçã 10,0 50 Codex Alimentarius Commission – Alinorm 10/33/41 Izmir, Turkey (26 – 30 April 2010) Níveis para aflatoxinas totais, planos de amostragem, código de prática REGULAMENTO (EU) No 165/2010 DE 26 February 2010 Estabelece níveis máximos de aflatoxinas em alimentos REGULAMENTO (CE) N.o 401/2006 de 23 de Fevereiro de 2006 Estabelece os métodos de amostragem e de análise para o controle dos teores de micotoxinas em alimentos Obrigada! [email protected] CENTRO DE CIÊNCIA E QUALIDADE DE ALIMENTOS Av. Brasil, 2880 • CEP 13.070-178 • Campinas/SP • Brasil Tel. 19 3743-1781/1810/1820 • Fax 19 3242-4585 e-mail: [email protected] http://www.ital.sp.gov.br