INFLUÊNCIA DA PLURIATIVIDADE NOS ESTABELECIMENTOS FAMILIARES RURAIS EM SÃO VICENTE DO SUL – RS [email protected] Apresentação Oral-Agricultura Familiar e Ruralidade LAURÍCIO BIGHELINI SILVEIRA; PEDRO SELVINO NEUMANN. UFSM, SANTA MARIA - RS - BRASIL. Influência da pluriatividade nos estabelecimentos familiares rurais em São Vicente do Sul – RS Influence of pluriactivity in rural familiar stablishments in São Vicente do Sul – RS Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade Resumo Este trabalho constitui-se no estudo sobre a composição da renda em estabelecimentos familiares rurais no município de São Vicente do Sul - RS. Seu objetivo principal foi a identificação das diferentes fontes de renda dos agricultores familiares e, em especial, do papel da pluriatividade. O procedimento metodológico foi a “Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários”. Foram realizadas entrevistas com uma amostra de 280 estabelecimentos rurais familiares, sujeitos que compõem um universo de aproximadamente 550 estabelecimentos. Esses estabelecimentos foram classificados para a análise em 4 categorias: famílias agrícolas (30,3%), famílias não-agrícolas (5,4%), famílias pluriativas (57,2%) e famílias de aposentados (7,1%). Para uma melhor compreensão do objeto em questão foram criadas novas subcategorias para o caso das famílias pluriativas: famílias pluriativas tradicionais (41%), famílias pluriativas desejadas (45%), famílias pluriativas não desejadas (3%) e famílias pluriativas intersetoriais com trabalho doméstico (11%). Estas informações demonstram ser significativa a presença da pluriatividade em meio aos estabelecimentos familiares do município. A grande maioria dos estabelecimentos considerados como pluriativos tem área inferior a 10 ha e a atividade agrícola é desenvolvida como atividade de subsistência, sendo que muitos deles tornaramse locais de residência. Pode-se, segundo os critérios adotados, afirmar que a pluriatividade está presente no município de São Vicente do Sul. Ela contribui, significativamente, para a formação da renda dos agricultores familiares. Palavras-chave: Pluriatividade, Agricultura Familiar, São Vicente do Sul. Abstract This work constitutes a study on the composition of income in rural family establishments in São Vicente do Sul – RS. The main objective of this study was the identification of the different sources of income of the family producers and, in special, of the role of the pluriactivity. The metodological procedure used was the “Diagnostic Analysis of Agricultural Systems”. Interviews were carried out with 280 rural family establishments from a total of 550 stablishments that compose the universe of familiar stablishments of the borough. These establishments were classified in 4 categories for analysis as follow: 1 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural agricultural families (30.3%), no agricultural families (5.4%), pluriactive families (57.2%) and families of retired people (7.1%). For a better understanding of the object in question it was created new subcategories in the case of the pluriactive families: traditional pluriactive families (41%), desired pluriactive families (45%), no desired pluriactive families (3%) and intersectorial pluriactive families with domestic work (11%). These data show a significant presence of the pluriactivity in the family establishments in São Vicente do Sul. The majority of the pluriactive establishments have area smaller than 10 ha, and the agricultural activity is developed as subsistence activity and many of these stablishments became residence places. It may be claim, according to the used criteria, that the pluriactivity is present in São Vicente do Sul. It contributes significantly for the formation of the income of producers. Key Words: Pluriactivity, family agriculture, São Vicente do Sul. Introdução A manutenção de um nível de renda adequado que proporcione condições mínimas para sustento e desenvolvimento da família rural é que garante em última instância, a sua sobrevivência e reprodução social. A pluriatividade1 vem destacando-se como possibilidade real para o incremento e a diversificação da renda familiar rural, servindo também, como meio para proporcionar a melhor e mais justa distribuição de renda. De outra forma, a pluriatividade pode vir auxiliar na preservação da identidade do meio rural, ao proporcionar a viabilização da permanência das famílias rurais em sua origem, o meio rural. O termo pluriatividade foi cunhado nos anos 80, na Europa. Até então, essa característica dos estabelecimentos agrícolas, recebia várias outras denominações. Na atualidade, é ampla a discussão sobre o assunto, bem como os vários modelos desenvolvidos na tentativa de melhor explicar sua existência. Segundo Schneider (2003), a pluriatividade pode ser considerada como uma característica da agricultura familiar. Ao se discutir sua origem e evolução, pode-se observar a influência decisiva que as práticas tradicionais desenvolvidas pelos agricultores familiares, denominadas coloniais, na origem de várias atividades que, atualmente, compõem os estabelecimentos ditos pluriativos. Essas atividades evoluíram de maneira mais intensa em regiões com colonização alemã, italiana e polonesa, como é o caso da região sul do Brasil. Metodologia Este estudo foi baseado no método de estudo/análise de espaços agrários conhecido como Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários, apoiado, na obra INCRA/FAO (1999) e, em Lima et. al. (2001). Foram realizadas algumas adaptações no procedimento metodológico, principalmente, no que se refere às técnicas de “survey”. 1 Pluriatividade “refere-se a situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família com domicílio rural passam a dedicar-se ao exercício de um conjunto variado de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção. Ao contrário do que se poderia supor, esta não é uma realidade confinada ao espaço rural de países ricos e desenvolvidos.” Schneider (2003) 2 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O método proposto baseia-se no enfoque sistêmico, centrando seu foco nos atores da história dos sistemas agrários. A teoria sistêmica delimita o objeto complexo, no intuito de analisá-lo2. A estrutura rural está em constante adaptação, para que se viabilize a permanência e/ou desenvolvimento de seus membros. Para a compreensão da realidade a Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários parte do estudo do geral para o particular: mundo, país, estado, região, município, localidade, propriedade, cultura ou criação e técnicas nelas utilizadas. Nessa trajetória de análise, busca-se identificar e, principalmente, explicar a diversidade de fenômenos em cada etapa, evidenciando aspectos históricos e econômicos. O presente trabalho delimitou como universo geográfico de estudo o município de São Vicente do Sul - RS, considerando como atores sociais a serem estudados os agricultores familiares com seus diferentes sistemas de produção e como principal aspecto da realidade estudada, a formação de sua renda total. Os agricultores familiares estudados enquadravam-se nos moldes desenvolvidos pelo Projeto de Cooperação Técnica realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). (INCRA/FAO, 2000). Pluriatividade Torna-se cada vez mais freqüente observarem-se pessoas ou grupos, principalmente familiares, considerados como integrantes da população rural, que não têm a produção agrícola do estabelecimento, como única atividade, sendo esta a principal ou secundária. Isso decorre da necessidade de complemento de renda e do surgimento de novos postos de trabalho, que se caracterizam como não-agrícolas. Esta forma de composição do trabalho familiar é denominada pluriatividade e é reiterada por Schneider (2003): ...refere-se a situações sociais em que os indivíduos que compõem uma família com domicílio rural passam a se dedicar ao exercício de um conjunto variado de atividades econômicas e produtivas, não necessariamente ligadas à agricultura ou ao cultivo da terra, e cada vez menos executadas dentro da unidade de produção. Ao contrário do que se poderia supor, esta não é uma realidade confinada ao espaço rural de países ricos e desenvolvidos. (p. 4) Segundo Del Grossi e Graziano da Silva (2000), a expansão das atividades nãoagrícolas foi divulgada de forma pioneira por Anderson e Leiserson (1980), como sendo originada da rápida expansão em regiões agrícolas da África, Ásia e América Latina, levando o nível do emprego não-agrícola nestes locais a índices entre 20 e 30% já em 1970, ou 30 a 40% se fossem adicionados às vilas e povoados. Souza (1999) caracteriza dois períodos históricos da discussão teórica da pluriatividade: Um iniciado nos anos 70, na América do Norte e Europa Ocidental, tentando compreender a natureza e significância da renda agrícola e externa a mesma, bem como, as rendas dos membros do grupo. Corresponde, principalmente, às dinâmicas internas do desenvolvimento do sistema alimentar, que produziram desarranjos na produção mundial. E o segundo, no final dos anos 80, levando em conta o desenvolvimento na produção agrícola e a produção agrícola de negócio, correspondendo à idéia da pluriatividade associada com a reestruturação “pós-fordista”. 2 A teoria da evolução (Darwin), a teoria da formação e diferenciação dos climas, bem como a teoria da formação e diferenciação dos sistemas agrários, são exemplos da teoria sistêmica. 3 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Anteriormente, já se discutia sobre o assunto, fazendo-se uso de outras terminologias. Cabe, portanto, trazer à discussão tais termos, evidenciando semelhanças e eventuais discrepâncias. A terminologia mais adotada para se explicar fenômenos semelhantes era “Part time farming” (agricultura em tempo parcial), termo cunhado por Rozman na década de 1930. Esta terminologia muitas vezes é usada como sinônimo de “pluriactivité” (pluriatividade), que foi inicialmente utilizada na Europa, no final dos anos 80. (Kageyama, 1998) Transitoriamente, na tentativa de melhor representar essa situação, utilizaram-se outras terminologias, dentre elas, “multiple job-holding” (empregos múltiplos), usada inicialmente por Fuguitt nos anos 50-60. Somente a partir dos anos 80, começa a se firmar o termo pluriatividade, de acordo com Kageyama (1998). Até meados dos anos 80, permaneciam considerados como sinônimos, sendo um de origem inglesa e outro de origem francesa. Na realidade, a diferença é mais do que epistemológica, para Schneider (2003), a pluriatividade corresponde ao fenômeno que começou a se expandir, na década de 1970 com a crescente diversificação das fontes de renda, das unidades de produção rurais. Tedesco (1998) define pluriatividade desta forma: A pluriatividade, em linhas gerais, é um modelo de organização do trabalho agrícola que combina atividades extra-agrícolas; está em contraposição ao fulltime e/ou monoativitê, no entanto liga-se ao horizonte da tendência da agricultura americana para o farming part-time ou para o multiple job holding. Porém, a noção é bem mais complexa e envolve uma problemática teórica e empírica de difícil demarcação teórica. (p. 4) Usados como sinônimos por muito tempo, até hoje existem opiniões divergentes sobre seu significado. Para Kageyama (1998), eles não podem ser totalmente superpostos, pois o tempo parcial, apesar de ser uma condição básica para poder se dedicar a outras atividades, por si só não significa que o restante do tempo seja utilizado com outras atividades, dentre elas as não-agrícolas, para configurar, desta forma, a pluriatividade. São variadas as situações que podem ser observadas: um indivíduo ou um grupo familiar de tempo parcial para a agricultura pode ficar ocioso no restante do tempo, configurando desta forma a agricultura de tempo parcial, e não a pluriatividade; um indivíduo que trabalha apenas a metade da jornada de trabalho pode ser pluriativo (com atividades agrícolas e não-agrícolas) e tempo parcial (referindo-se neste caso a jornada de trabalho); uma pessoa ocupada em tempo integral, que em parte do tempo pratica a agricultura e restante do tempo outras atividades (não-agrícolas), seria pluriativa com ocupação em tempo integral e praticando agricultura de tempo parcial. Schneider (2003) diz que o “part time farming” refere-se à utilização de parte do tempo de trabalho da família ou de seus membros em atividades agrícolas, tendo como contraponto o “full-time farming” (agricultura em tempo integral) que pressupõe a dedicação de todo tempo de trabalho dos membros da família para as atividades agrícolas. Já “pluriaactivité” refere-se à combinação de uma ou mais formas de renda ou inserção profissional de um ou mais membros da família, tendo como contraponto o termo “monoactivité” (monoatividade) que significa o desempenho em apenas uma atividade, em tempo integral por parte dos membros da família. A agricultura monoativa e em tempo integral encerram o mesmo conteúdo sendo semelhantes, mas seus opostos são substancialmente diferentes. 4 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A pluriatividade implica uma forma de gestão do trabalho doméstico que sempre inclui o trabalho agrícola, o que não quer dizer que esta atividade seja exclusiva ou mesmo a mais importante. Outras atividades podem ser assumidas com o objetivo de sustentar ou de dar suporte à unidade doméstica, ou ainda serem motivadas por considerações não relacionadas à agricultura. (Fuller e Brun, 1988, p. 150, apud Schneider, 2003) A agricultura de tempo parcial é a prática de atividades agrícolas em parte da jornada de trabalho de um indivíduo ou grupo familiar, sem que o restante do tempo deva, necessariamente, estar ocupado por outras atividades. Levando-se em conta que cada individuo dispõe de um tempo útil de oito horas diárias de trabalho. Pluriatividade se configura, quando o indivíduo ou grupo familiar desenvolve uma ou mais atividades agrícolas em uma parte do tempo e uma ou mais atividades nãoagrícolas e/ou agrícolas remuneradas fora de sua unidade, em outra parte do tempo, sem que, necessariamente, ocupem a totalidade do tempo pelo somatório de ambas atividades. Faz-se, então, a seguinte relação, a pluriatividade vem necessariamente acompanhada do tempo parcial, sendo que o inverso não é verdadeiro, pois o tempo parcial não está necessariamente acompanhado pela pluriatividade. Barthez (1987) acreditava ser a pluriatividade uma conseqüência do tempo parcial. Nela agricultores que não ocupam todo o tempo nas atividades agrícolas tendem a procurar outras atividades para se afastarem da ociosidade, tornando-se então pluriativos. Essa situação freqüentemente ocorria com as esposas de agricultores as quais abandonavam a atividade agrícola para se dedicarem integralmente à atividade externa. Sobre exploração agrícola das unidades camponesas, Barthez (1987) considera como sendo pluriativa a família cujos membros realizavam tarefas específicas e em tempos determinados. Assim a maioria dessas unidades poderia ser considerada como pluriativas, uma vez que a maior parte das tarefas era interna à exploração, bastava então, que as diferentes pessoas exercessem atividades específicas, como por exemplo, um membro na produção de cereais e outro na criação de animais, para configurar a pluriatividade. Schneider (2003) ao comentar as idéias de Garrier, Hubscher e Carneiro, sugere que a pluriatividade sempre existiu, marcando presença em diferentes períodos históricos e sócio-econômicos. As atividades não-agrícolas sempre foram praticadas por camponeses ao longo do tempo, que sem conhecer os rígidos padrões atuais de divisão de trabalho, esses camponeses eram praticamente auto-suficientes e, portanto, pluriativos. As formas pioneiras da pluriatividade na agricultura: o “trabalho rural acessório” e as “atividades não-agrícolas complementares” são comentados por Schneider (2003), que cita Chayanov (1974) para ilustrar a existência da pluriatividade em tempos, quando esta terminologia não existia, referindo-se à busca do equilíbrio e reprodução social do grupo familiar através da realização de atividades não-agrícolas, como forma de complementar períodos de entressafra ou de excesso de mão-de-obra na família, como quando os filhos estão tornando-se adultos e ainda permanecem no núcleo familiar; e Kautsky (1980) referindo-se à dominação da indústria e das grandes propriedades que ditam as regras para o processo de evolução da agricultura moderna, e nesta condição, ditam também as formas de adaptação e sobrevivência dos pequenos agricultores que se tornam fornecedores de mão-de-obra para esses seguimentos, para viabilizar sua manutenção e reprodução. Ao se falar em pluriatividade como algo temporário para contornar situações de crise, existem opiniões diversas, como a de Sacco dos Anjos (2003): 5 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural ...não se trata simplesmente de uma estratégia de adaptação que de modo exclusivo incide em famílias camponesas detentoras de explorações nãocompetitivas do ponto de vista técnico e econômico, mas que igualmente alcança unidades familiares modernizadas e fortemente integradas aos mercados. (p. 20) Tedesco (1998), aborda duas formas de se ver a pluriatividade, citando Franklin (1969), o qual acreditava que os camponeses poderiam passar da transitoriedade para o capitalismo tornando-se assalariados puros, e Chayanov (1981), com a idéia de que as fontes externas de dinheiro são transitórias, não o camponês, para ele, quando o fator terra torna-se insuficiente para prover seu sustento e reprodução, a mão-de-obra excedente se volta para outras atividades, como as artesanais ou comerciais, para que se retome o equilíbrio econômico da unidade familiar. A pluriatividade pode ocorrer como um fenômeno interno na busca pela adaptação ao desenvolvimento tecnológico e econômico ou simplesmente pela ocupação de empregos externos numa fuga dos efeitos da pauperização das famílias rurais. A tipologia utilizada neste trabalho, já descrita na metodologia, é formada em parte pela tipologia desenvolvida pelo Projeto Rurbano, no que se refere à classificação geral das famílias, e para as famílias pluriativas fez-se uso da classificação usada por Nascimento (2002). Em ambas foram feitas adaptações, para que melhor se adequassem aos propósitos do estudo. A pluriatividade é entendida de forma bastante ampla, sendo considerada como pluriativa toda a família que, além das atividades agrícolas próprias, possuir qualquer outro tipo de atividade que gere renda para o núcleo familiar, sendo elas agrícolas ou nãoagrícolas. Inclusive a agroindústria familiar tradicional3. Resultados Pluriatividade nos estabelecimentos familiares do município Sua presença poderia ser comprovada por estudos baseados na análise de dados secundários, como de censos demográficos ou PNADs, o que, provavelmente, seria menos trabalhoso. Contudo, os riscos inerentes ao uso desse tipo de dado para pesquisa, motivaram a opção pela utilização de dados primários, obtidos através de pesquisa de campo4. A distribuição das famílias obedeceu aos critérios estabelecidos em que se considerou como de aposentados aquela em que a renda provém, exclusivamente, de aposentadorias. Nas famílias agrícolas, a renda é exclusivamente, de atividades agrícolas próprias ou somente de atividades agrícolas remuneradas. As famílias nãoagrícolas possuem somente atividades não-agrícolas e as pluriativas possuem pelo menos uma atividade agrícola própria e outra qualquer. Com base nesses critérios, a tabela 1 traz a visão geral obtida no universo da amostra estudada. 3 É polêmica a discussão de considerar o tradicional processamento de produtos agrícolas como atividade agrícola ou não-agrícola. Nesta investigação, ela é considerada como uma atividade ligada à agricultura e dependente dela, ficando em uma situação intermediária as atividades agrícolas e não-agrícolas. Sua presença como fonte de renda configura a pluriatividade. 4 Não se quer desvalorizar estudos baseados em dados secundários, haja vista, que alguns desses serão utilizados como parâmetros de comparação dos resultados obtidos neste estudo. 6 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural TABELA 1 - CLASSIFICAÇÃO DAS FAMÍLIAS DE RESIDENTES NO MEIO RURAL DO MUNICÍPIO SEGUNDO O ENQUADRAMENTO NA TIPOLOGIA PROPOSTA Freqüência Percentual FNA 15 5,4 Fap 20 7,1 FA 85 30,3 FP 160 57,2 FAp = Família de Aposentados; FA = Famílias Agrícolas; FNA = Famílias Não-agrícolas; FP = Famílias Pluriativas. Dentre as unidades familiares estudadas, há 30,3% de famílias que dependem, exclusivamente, das atividades agrícolas próprias, são as famílias agrícolas. Entretanto, ao somar-se a estas, também as unidades pluriativas classificadas como tradicionais, chega-se ao percentual de 53,9% dedicadas a agricultura, semelhante ao índice encontrado por Leal5 (2004), para o estado do Rio Grande do Sul, segundo o qual cerca de 51% do total das famílias ocupa-se com atividades, unicamente, agrícolas. Tal índice poderia ser maior, caso fossem incluídas famílias que possuem, além das atividades agrícolas, outras a ela intimamente ligadas, como por exemplo, a agroindústria familiar, por vezes, considerada como atividade agrícola. Já as famílias que dependem apenas da aposentadoria representam cerca de 7,1% do universo pesquisado, e as que não exercem a atividade agrícola (famílias não-agrícolas) representam 5,4%. Estas famílias que não têm nenhum de seus membros exercendo atividades agrícolas usam a área rural como local da residência, devido ao menor custo e estarem localizadas próximas à sede do município. Pluriatividade e seus subtipos As famílias pluriativas foram classificadas em quatro subtipos, conforme descrito na metodologia, onde se utilizou a classificação de Nascimento (2002). Para esse autor, uma família que, além das atividades agrícolas próprias, desenvolve atividade agrícola remunerada, é classificada como pluriativa tradicional; atividade não-agrícola sem trabalho doméstico é pluriativa desejada; atividade de trabalho doméstico é pluriativa não desejada; ou atividade não-agrícola mais trabalho doméstico é pluriativa intersetorial com trabalho doméstico. A figura 1 demonstra como estão distribuídas as famílias quanto à forma de pluriatividade que apresentam. 5 Relativo ao ano de 1999. 7 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 11% 3% FPD 45% FPT FPND 41% FPITD FIGURA 1- Famílias pluriativas segundo seus subtipos FPD = Famílias Pluriativas Desejadas; FPT = Famílias Pluriativas Tradicionais; FPND = Famílias Pluriativas Não Desejadas; FPITD = Famílias Pluriativas Intersetoriais com trabalho doméstico. Os dados evidenciam que, do total de 160 famílias classificadas como pluriativas, 45% são do subtipo família pluriativa desejada, ou seja, são famílias que desenvolvem as atividades agrícolas próprias, complementando sua renda com outras atividades não-agrícolas (sem trabalho doméstico), podendo também desenvolver atividades agrícolas remuneradas, não deixando de ser pluriativa desejada, pois a atividade não-agrícola sem trabalho doméstico é que vai determinar essa classificação. Dos 255 membros das famílias classificadas como pluriativas desejadas 34,9% não são economicamente ativos. Dentre os 171 que são economicamente ativos 49 (28,65%) são agricultores, 13 (7,6%) são agricultores e aposentados, 50 (29,23%) são agricultores com dupla atividade (2 estudantes, 4 trabalhadores agrícolas temporários e 44 não-agrícolas), 7 (4%) assalariados agrícolas, 13 (7,6%) assalariados agrícolas com dupla atividade (2 estudantes e 11 com atividades nãoagrícolas), 4 (2,33%) estudantes com atividades não-agrícolas, 4 (2,33%) aposentados com atividades não-agrícolas e 23 (13,45%) trabalhadores nãoagrícolas. Conforme a figura 2, as atividades não-agrícolas aparecem assim distribuídas: 16,5% na construção civil, 18,8% no funcionalismo público, 15,3% no artesanato, 25,9% no comércio, 5,9% na prestação de serviços e 17,6% em ocupações não-agrícolas variadas. As famílias pluriativas tradicionais, ou seja, famílias que desenvolvem atividades agrícolas próprias e complementam sua renda com atividades agrícolas remuneradas, ficaram representadas por 41% do total de pluriativas. Há um reduzido índice de famílias em que a pluriatividade manifesta-se pelo Construção civil 17,60% 16,50% Funcionário público 5,90% Artesanato 18,80% Comércio Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociologiade Rural 25,90% Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Prestação serviços 15,30% Ocupações variadas 8 exercício de atividades que requeiram pouca especialização, que por conseqüência, há uma baixa remuneração, como o trabalho doméstico. Essas representadas pelas famílias pluriativas não desejadas cujo percentual é de 11% do total e as famílias pluriativas intersetoriais com trabalho doméstico com apenas 3% do total. Isso representa 14% de unidades de produção com presença de trabalho doméstico, dentre as famílias pluriativas. FIGURA 2 - Distribuição das atividades não-agrícolas Famílias agrícolas Famílias que se dedicam a atividades unicamente agrícolas que, segundo o critério de classificação utilizado neste estudo, estão divididas em dois subtipos: o das famílias agrícolas de agricultores autônomos (FAAA), compostos por famílias que obtêm sua renda exclusivamente de atividades agrícolas próprias, desenvolvidas na unidade de produção ou em áreas arrendadas; e o das famílias agrícolas de trabalhadores agrícolas (FATA), que obtêm renda somente pelo trabalho agrícola desenvolvido fora da unidade familiar. As duas situações em uma mesma unidade familiar configuraria a família pluriativa tradicional (FPT). Entre as unidades agrícolas, 53 delas são de famílias agrícolas de agricultores autônomos, 62% do total, e outras 32 famílias são famílias agrícolas de trabalhadores agrícolas, 38% do total. Este último índice reflete a situação em que vive uma boa parte das famílias. Muitas delas vivendo em área muito pequenas, algumas vezes cedidas pelos pais ou familiares, outras em ocupações irregulares de áreas públicas e, às vezes, em terrenos adquiridos a preços baixos, localizados em áreas pouco valorizadas. São famílias que não possuem área suficiente para produção agrícola e, em muitos casos, nem para desenvolverem atividades de subsistência. Por essa razão, dedicam-se ao trabalho fora da unidade, como geração de renda para sobrevivência e reprodução familiar. 38% FAAA FATA 62% FIGURA 3 - Famílias agrícolas e seus subtipos FAAA = Família Agrícola de Agricultores Autônomos; FATA = Família Agrícola de Trabalhadores Agrícolas. 9 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Uma particularidade dessas famílias de trabalhadores agrícolas é que 75% delas moram, durante a semana, no local de trabalho, retornando as suas moradias próprias nos finais de semana e/ou nas férias. Na realidade, essas famílias possuem dois domicílios, e os outros 25% trabalham em unidades próximas à residência, não necessitando residir no local de trabalho. Famílias de aposentados Representam 7,1% do total das unidades familiares. Registre-se, entretanto, que dentre as várias famílias não classificadas como de aposentados, existem muitas em que se pôde encontrar uma ou mais pessoas aposentadas e/ou pensionistas. Esse fato eleva o tipo de renda obtida desta transferência social a um papel relevante na formação da renda total das unidades familiares pesquisadas no município, atingindo, no universo pesquisado, 21,74% de aposentadorias e pensões em relação à população total e 31,5% em relação à população adulta. No município de São Vicente do Sul, cerca de 42,85% das unidades familiares rurais, possui, na constituição da renda, a participação de valores oriundos de aposentadorias e pensões, apresentando assim um significativo papel na formação de renda das famílias rurais do município. Pluriatividade e a área dos estabelecimentos familiares Conforme a tabela 2 pode-se observar que a grande maioria das unidades familiares do município de São Vicente do Sul é de pequeno porte, com 190 unidades, equivalendo a 75,4% do universo pesquisado, com até 10 ha6. TABELA 2- TAMANHO DAS UNIDADES FAMILIARES TAMANHO FREQÜÊNCIA ATÉ 10 HÁ 190 MAIOR 10 HA ATÉ 50 51 HÁ MAIOR 50 HÁ 11 PERCENTUAL 75,40 20,24 4,37 A tabela 3 mostra a presença da pluriatividade, levando-se em conta a área das unidades familiares. Através dela, pode-se ter uma visão bastante clara da relação existente entre a área das unidades familiares e o tipo de atividade exercida por seus membros. Das 190 unidades com área até 10 ha, pode-se observar que 64,8% são pluriativas, sendo 55 (29%) comerciais e 135 (70%) de subsistência. Portanto, a 6 Foram excluídas para esta análise 28 unidades que não informaram a área do estabelecimento, contudo, dentre essas, 22 estão abaixo de 10 ha (são de trabalhadores agrícolas que residem no trabalho. A área aproximada foi informada por vizinhos nas entrevistas e não constam na relação para evitar o uso de informações duvidosas, que poderiam macular os resultados da investigação) e os outros 6, realmente, não informaram a área da unidade, por residirem em áreas de terceiros ou por não saberem precisar a área, apenas constam como de pequeno porte. Dessas 1 é FPT, 2 são FAAA e 3 são FPD. 10 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural maioria das unidades de pequeno porte é pluriativa e de subsistência, uma justificando a presença da outra. Das demais, 51 apresentam área entre 10 e 50 ha, sendo 47 (92%) comerciais e apenas 4 (8%) de subsistência, e outras 11 têm mais de 50 ha, sendo 100% delas comerciais. Esses dados demonstram a tendência de estabelecimentos maiores apresentarem finalidade agrícola comercial e os menores de subsistência. TABELA 3 - ÁREA DAS UNIDADES FAMILIARES EM RELAÇÃO AO TIPO DE FAMÍLIA E A FINALIDADE COMERCIAL OU DE SUBSISTÊNCIA 0 até 10 + de 10 até 50 Mais de 50 Total FAp Nº 19 % 10 C 7 S 12 Nº 2 % 4 C 2 S - Nº 0 % - C - S - Nº 21 % 8,3 C 9 S 12 FA 34 17,9 15 19 17 33 16 1 8 72,7 8 - 59 23,4 39 20 FNA 14 7,3 - 14 1 2 - 1 0 - - - 15 6,0 - 15 FP 123 64,8 33 90 31 61 29 2 3 27,3 3 - 157 62,3 66 92 Total 190 100 55 135 51 100 47 4 11 100 11 - 252 100 114 138 FAp = Família de Aposentados; FA = Famílias Agrícolas; FNA = Famílias Não-agrícolas; FP = Famílias Pluriativas. Nº = número de famílias; % = percentual; C = unidades comerciais; S = unidades de subsistência. A figura 4 mostra as unidades familiares com até 10 ha, que são a grande maioria em relação à área apresentada pelo universo de estabelecimentos estudados, em que dos 190 estabelecimentos existentes, 10% são de famílias de aposentados, 18% de unidades agrícolas, 7% de unidades não-agrícolas e a grande maioria, cerca de 65%, de unidades familiares pluriativas. 10% 18% FAp. FA FNA FP 65% 7% FFIGURA 4 - Unidades familiares com área entre 0 e 10 ha em relação ao tipo de família FAp = Família de Aposentados; FA = Famílias Agrícolas; FNA = Famílias Não-agrícolas; FP = Famílias Pluriativas. Ao observar-se a figura 5, verifica-se que, do total das 157 famílias pluriativas que informaram a área do estabelecimento, demonstradas na tabela 4, cerca de 78% são unidades com até 10 ha, tem-se ainda 20% com área entre 10 e 50 ha, restando apenas 2% 11 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural com mais de 50 ha. Salienta-se ainda que dentre as que não informaram a área, existe grande propensão de possuírem uma área menor que 10 ha, como já foi relatado anteriormente. Dos dois parágrafos anteriores, deduz-se que a grande concentração de unidades pluriativas converge para unidades de pequeno porte, que buscam alternativas para suprir a falta de área para produção agrícola que lhes propicie uma renda compatível com o sustento e a reprodução da família, através do complemento da renda pelo exercício da pluriatividade e o complemento do sustento, ou melhor, das necessidades básicas relacionadas à alimentação, com a agricultura de subsistência. Segundo Neumann (2003): ...as unidades com pouca superfície de área útil (SAU), em torno de sete hectares, e que desenvolvem atividades agrícolas basicamente de subsistência, dependendo economicamente do assalariamento temporário em outras unidades. Uma característica dos “Minifundiários” da região da Policultura é o fato de uma grande parcela destes agricultores não ser proprietário de suas terras (são “semterras”). (p. 198) 20% 2% até 10 ha + de 10 até 50 ha + de 50ha 78% FIGURA 5 - Unidades familiares pluriativas em relação às áreas de seus estabelecimentos Pela observação da figura 6, confirma-se a tendência da predominância das famílias pluriativas também, entre as unidades de tamanho intermediário, entre 10 e 50 ha, em contraponto com o que mostra a figura 7, com as unidades de tamanho maior, acima de 50 ha, em que a proporção de unidades pluriativas (27%) é menor que as agrícolas (73%). Isso confirma a tendência de unidades de produção maiores apresentarem auto-suficiência, não necessitando, desta forma, a prática de atividades alternativas que venham a torná-las pluriativas. Lembra-se ainda que, conforme consta na tabela 3, das 51 unidades entre 10 e 50 ha, 47 (92%) são comerciais e, apenas, 4 (8%) de subsistência e, das que têm mais de 50 ha, todas são comercias. 12 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 4% 33% Fap FA FNA FP 61% 2% FIGURA 6 - Unidades familiares com + de 10 até 50 ha em relação ao tipo de famílias presentes FAp = Família de Aposentados; FA = Famílias Agrícolas; FNA = Famílias Não-agrícolas; FP = Famílias Pluriativas. As unidades familiares com presença de atividades agrícolas foram classificadas em dois tipos: as comerciais são aquelas em que existe uma ou mais atividades agrícolas na unidade familiar cujo produto final destina-se à comercialização; de subsistência são aquelas em que todas as atividades agrícolas na unidade familiar destinam-se ao consumo da família. 0% 27% Fap FA FNA 0% FP 73% FIGURA 7 - Unidades familiares com + de 50 ha em relação ao tipo de famílias presentes FAp = Família de Aposentados; FA = Famílias Agrícolas; FNA = Famílias Não-agrícolas; FP = Famílias Pluriativas. Os dados da tabela 3 mostram que 60% das unidades familiares, as quais informaram a área da unidade, são de subsistência, portanto a maioria. Das 153 unidades de subsistência, observa-se, na figura 7, que 97% são constituídas de unidades menores que 10 ha. Isso confirma a tendência das unidades de porte menor apresentarem menos atividades de cunho comercial. Das restantes 3%, são áreas 13 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural entre 10 e 50 ha e, dentre as maiores que 50 ha, não se registrou a presença de unidades de subsistência. 3% 0% Até 10 ha + de 10 até 50 ha + de 50 ha 97% FIGURA 8 - Unidades familiares de subsistência em relação à área de seus estabelecimentos Muitas das unidades de subsistência não possuem área suficiente para o desenvolvimento das atividades agrícolas comerciais tradicionais no município, dedicam-se então, a culturas de subsistência e complementam a renda com atividades fora da unidade familiar, sejam elas agrícolas ou não-agrícolas. Em relação às unidades familiares comerciais, observa-se, na figura 9, a existência de maior uniformidade em sua distribuição entre as diferentes dimensões de unidades familiares, aparecendo a área intermediária (10 a 50 ha) com índice de 47%, seguido pelas unidades menores (até 10 ha), que representam 39% do total, enquanto as unidades com mais de 50 ha representam 11%. 11% 40% Até 10 ha + de 10 até 50 ha + de 50 ha 49% FIGURA 9 - Unidades familiares comerciais em relação à área de seus estabelecimentos 14 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Considerações finais: Do universo estudado, 57,2% foram identificados como sendo estabelecimentos de famílias pluriativas, índices semelhantes aos obtidos em estudo realizado por Leal (2004) para o estado do Rio Grande do Sul, 30,3% foram identificados como estabelecimentos constituídos de famílias agrícolas, 5,4% como de famílias não-agrícolas e 7,1% como de famílias de aposentados (aposentadorias e pensões). Nos estabelecimentos identificados como pluriativos, a pluriatividade desejada foi preponderante em 45% dos casos, equivalendo a 25,35% do total dos estabelecimentos familiares estudados. Constatando-se assim, a maior especialização nas ocupações no meio rural de São Vicente do Sul e, por conseqüência, a maior participação da pluriatividade na formação da renda total dessas unidades familiares, uma vez que as atividades que exigem maior especialização, também, remuneram melhor. A pluriatividade tradicional é preponderante em 41% do total dos estabelecimentos classificados como pluriativos, ou seja, 23,57% do total dos estabelecimentos estudados, demonstrando que a atividade agrícola remunerada, permanece como uma alternativa no complemento de renda dos estabelecimentos familiares. A pluriatividade não desejada e intersetorial com trabalho doméstico representam juntas 14,37% do total dos estabelecimentos pluriativos e 8,21% do universo total de estabelecimentos estudados. A pouca representatividade desses estabelecimentos pode ser considerada como um aspecto positivo, em vista destas formas de pluriatividade originarem-se de atividades pouco especializadas e, conseqüentemente, com baixa remuneração. Em relação aos estabelecimentos classificados como de famílias agrícolas, 62% deles são constituídos por famílias agrícolas de agricultores autônomos (FAAA), e 38% por família agrícola de trabalhadores agrícolas (FATA). Considerando-se o universo total de estabelecimentos pesquisados, a renda nãoagrícola está presente em 38,9% do total, e em 59% das unidades classificadas como pluriativas. A atividade agrícola remunerada está presente em 23,6% do universo estudado e corresponde às unidades pluriativas tradicionais. Esse tipo de atividade está presente também, em outros tipos de estabelecimentos pluriativos, os quais não são classificados como pluriativos tradicionais em virtude de o critério de classificação priorizar a presença de atividades não-agrícolas do universo estudado. As atividades agrícolas remuneradas estão presentes em 38,2% do total de estabelecimentos, portanto ela continua sendo uma alternativa importante para a complementação de renda dos estabelecimentos familiares rurais. As rendas de aposentadorias, que correspondem ao somatório de benefícios em forma de aposentadorias e pensões, são expressivas na formação da renda dos estabelecimentos familiares estudados. Desses, 7,1% possuem somente este tipo de renda, todavia, do público adulto pesquisado total, 31,5% possui este tipo de renda, fazendo parte da composição da renda de mais do que 7,1% das famílias estudadas. A pluriatividade manifestou-se com maior destaque nos estabelecimentos de pequeno porte, 78% dos estabelecimentos classificados como pluriativos possuem áreas de até 10 ha, ou seja, 48,8% do total dos estabelecimentos familiares. Na maioria desses estabelecimentos pluriativos com até 10 ha (73,2%) a atividade agrícola é somente de 15 Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural subsistência. Do restante dos estabelecimentos pluriativos, 20% possuíam entre 10 e 50 ha e, apenas, 2% tinham mais de 50 ha. Esta relação é exatamente inversa nas áreas agrícolas maiores. Pois, em 72,7% do total das unidades com mais de 50 ha, a atividade agrícola constitui-se na única fonte de renda. A significância da pluriatividade, no município, está vinculada ao conceito de pluriatividade considerado. Se fossem consideradas como pluriativas, apenas as unidades de produção com presença de atividades não-agrícolas, o índice apresentado seria menor. Os dados coletados comprovaram a presença da pluriatividade na agricultura familiar do município. Ela atinge um alto índice de participação na formação das rendas das unidades de produção familiares nas diferentes localidades do município presentes neste estudo. Pode-se dizer que 57,2% das unidades familiares de São Vicente do Sul são constituídas de famílias pluriativas, considerando-se a amplitude do conceito utilizado na investigação. Conclusões: Guiados por critérios tradicionais para identificar a pluriatividade, constata-se que a presença de estabelecimentos pluriativos é significativa dentre as unidades familiares do município. Entretanto, um olhar mais atento sobre as condições das famílias pluriativas, leva a conclusão de que a grande maioria das famílias classificadas como pluriativas têm como fonte de renda principal o emprego fora de unidade de produção. Verificou-se a existência de forte relação da pluriatividade com os estabelecimentos que não têm na atividade agrícola uma fonte renda (subsistência), como uma estratégia de quem não dispõe de área suficiente (pequeno porte) para garantir sua viabilização econômica e social através da atividade agrícola convencional. De outra forma, deve-se ressaltar a tendência apresentada pelas unidades de maior porte em se manter auto-suficientes apenas com as atividades agrícolas e, conseqüentemente menores índices de pluriatividade. Assim, os dados da pesquisa apontam, claramente, que as unidades com áreas maiores tendem a ser auto-suficientes e não pluriativas, sendo válido o contrário, onde se observa claramente que porte pequeno das unidades familiares, a agricultura de subsistência e a presença de pluriatividade caminham juntas, ou seja, são situações em que a presença de uma desencadeia o aparecimento de outra. Verificou-se ainda que rendas de aposentadorias e pensões estão presentes em um grande número de estabelecimentos, sendo uma importante fonte de renda. Bibliografia ALMEIDA, J. A. Pesquisa em Extensão Rural: Um Manual de Metodologia. Brasília, MEC/ABEAS, 1989. 182 p. BALSADI, V. V. Mudanças rurais e o emprego no estado de São Paulo. São Paulo, Ed. Linear B, 1º edição, 2002. BARTHEZ, A. Familia, actividad y pluriactividad en la agricultura. Arkleton Research. Cambio Rural en Europa. Colóquio de Montpellier. p. 161-177, 1987. BECKER, C. M. G. São Vicente do Sul, uma perspectiva histórica. 1982. 72f. 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