METÁFORA E DEVOLUÇÃO:
O LIVRO DE HISTÓRIA NO PROCESSO DE
PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO
Elisabeth Becker U. P. Marizilda Fleury Donatelli
Mary Dolores Ewerton Santiago
POSSIBILIDADES NA DEVOLUTIVA INFANTIL
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Como transmitir e compartilhar nossa compreensão?
construir uma narrativa sobre os aspectos mais
relevantes observados no processo
psicodiagnóstico, apresentando-a à criança sob a
forma de um livro de história infantil
NARRATIVAS: MITOS, FABULAS E CONTOS DE FADA
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Mito são narrativas utilizadas pelos povos gregos antigos para explicar
fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do
homem, que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de
muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Não
obedecem ao princípio da razão, transmitindo um conhecimento, uma
realidade não-racional
As fábulas, diferentemente dos mitos, são histórias construídas por um
determinado autor e seu objetivo é transmitir uma idéia moral, um valor.
Relatam situações do cotidiano, a maneira das pessoas se comportarem no
dia a dia
Os contos de fada, por sua vez, também são criações bastante antigas.
Transmitem conhecimento sobre questões humanas universais,
colocando em foco as questões-limite da existência como nascimento,
vida e morte
LIVRO DE HISTÓRIA E CONTOS DE FADA
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O livro de história elaborado com a finalidade de
devolução diagnóstica à criança, aproxima-se dos
contos de fada em alguns aspectos e difere em
outros.
Semelhanças - os contos de fada e o livro de
história como devolutiva têm por objetivo a
transmissão de algum conhecimento.
LIVRO DE HISTÓRIA E CONTOS DE FADA - Semelhanças
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CONTOS DE FADA - conhecimento de alguma situação
peculiar ao existir humano;
LIVRO DE HISTÓRIA - conhecimento de si, da sua
história, de seus conflitos;
atinge diferentes camadas da psique, na medida
em que contempla a trajetória de vida e os
conflitos da criança através de metáforas,
analogias e imagens visuais que favorecem uma
apreensão adequada às suas possibilidades de
consciência.
LIVRO DE HISTÓRIA E CONTOS DE FADA - Semelhanças
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Em ambos, a verdade é apresentada, não é omitida.
Nos contos de fada, não raramente há a morte ou
enfraquecimento de alguma figura parental e, de
algum modo, a criança é colocada em contato com
essas questões-limite da existência.
Muitas crianças trazidas para um psicodiagnóstico têm
histórias de vida trágica e esta fará parte do livro,
embora de forma metafórica.
LIVRO DE HISTÓRIA E CONTOS DE FADA - Diferenças
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Diferenças - os contos de fada têm um caráter moral, o
que não ocorre com o livro de história.
Contos de fada promovem a interiorização de certos
valores e este também não é o propósito do livro de
história. Ao contrário, seus objetivos contemplam as
possibilidades criativas da criança, cabendo sempre a
ela os julgamentos e, principalmente, as possíveis
soluções para os conflitos centrais.
FUNDAMENTOS DA DEVOLUÇÃO PSICODIAGNÓSTICA
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A devolução é realizada em uma ou duas entrevistas
no final do processo psicodiagnóstico e é necessária
para que o paciente possa integrar aspectos de sua
identidade que estão dissociados.
Funciona como mecanismo de reintrojeção, sobretudo
da identidade latente do paciente, contribuindo para
diminuir fantasias de doença, incurabilidade e
loucura, possibilitando-lhe perceber-se com mais
critérios de realidade, com menos distorções
idealizadoras ou depreciativas.
FUNDAMENTOS DA DEVOLUÇÃO PSICODIAGNÓSTICA
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Objetivo: auxiliar o paciente a realizar uma
integração psíquica daqueles aspectos de sua
personalidade que estão dissociados, contribuindo,
desse modo, para a preservação de sua
identidade
DIFICULDADES ENCONTRADAS NA DEVOLUTIVA COM
CRIANÇAS
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A utilização de material de técnicas projetivas enquanto
mediadores na devolução à criança – limitações quanto às
possibilidades de contribuir efetivamente para que a
criança integre alguns aspectos de seu próprio
funcionamento psíquico e obtenha uma compreensão das
situações (familiares, escolares ou sociais) relacionadas à
manifestação de seus sintomas.
Reações de desinteresse, ou atitudes passivas, de aparente
aceitação de tudo que lhe é dito, até expressões diretas de
intolerância à devolução que lhe é dada (fazer ruídos, falar
de outros temas ou mesmo tentar impedir o psicólogo de
prosseguir na sua comunicação).
POSSIBILIDADES NA DEVOLUTIVA INFANTIL
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Como devolver?
novos procedimentos que se mostrem mais eficazes no
sentido de alcançar os objetivos no encerramento do
psicodiagnóstico da criança:
apropriar-se da própria historia, bem como de seus
conflitos, defesas, desejos e modo de se relacionar com
o ambiente de modo geral,
retomar a relação estabelecida com o psicólogo,
podendo despedir-se dele e da situação de uma forma
mais autônoma e integrada do que quando se iniciou o
processo.
O USO DE HISTÓRIAS NA PSICOTERAPIA DE CRIANÇAS
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Gardner (1993) - Contar histórias é um dos modos favoritos
da criança se comunicar e que as crianças gostam tanto de
contá-las como de escutá-las. Gardner criou a "técnica de
relato mútuo de histórias", propondo-a para crianças de 5
a 11 anos. Nesta técnica, o psicoterapeuta estimula a
criança a criar uma historia, apreende seu tema
psicodinâmico tomando-o como uma projeção e então
formula e narra uma outra historia para a criança com as
mesmas características presentes na dela, mas introduzindo
soluções de conflitos mais saudáveis do que aquelas
originalmente propostas pela criança.
O USO DE HISTÓRIAS NA PSICOTERAPIA DE CRIANÇAS
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Oaklander (1980) - Baseando-se nas concepções da
Gestalt e tendo como objetivo ajudar a criança a
tomar consciência de si mesma e de sua existência no
mundo, a autora faz um amplo uso de histórias: contar,
ler, escrever, estimular a criação de histórias através de
figuras, bonecos e, ainda registrá-Ias no gravador e
aparelho de vídeo para serem posteriormente vistos
pela criança. Os objetivos da utilização desta técnica
se assemelham, em alguns aspectos dos de Gardner.
A UTILIZAÇÃO DO LIVRO DE HISTÓRIA COMO PROCEDIMENTO
DEVOLUTIVO NO PSICODIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS
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O livro de historia é o resultado da compreensão
de todo o trabalho realizado no psidiagnostico.
Contém aspectos significativos do desenvolvimento
da criança e de suas relações com o meio em que
vive, assim como uma compreensão de seus
sintomas.
A UTILIZAÇÃO DO LIVRO DE HISTÓRIA COMO PROCEDIMENTO
DEVOLUTIVO NO PSICODIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS
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A criação de uma história devolutiva exclusiva para
a criança permite-lhe uma vivência psicológica
também única.
Utilizando-se de recursos analógicos propiciados
pelas identificações com personagens, a criança
parece obter uma percepção do seu sintoma, bem
como, a expressão dos sentimentos com ele
envolvidos.
A UTILIZAÇÃO DO LIVRO DE HISTÓRIA COMO PROCEDIMENTO
DEVOLUTIVO NO PSICODIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS
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A elaboração do livro de histórias como devolutiva
supõe alguns elementos norteadores:
1. O livro de histórias é uma metáfora que
expressa a compreensão do psicodiagnóstico. É
uma síntese que contempla a história vital da
criança e suas vivências durante o
psicodiagnóstico, suas dificuldades e recursos
internos, em uma linguagem acessível à sua
compreensão.
UTILIZAÇÃO DO LIVRO DE HISTÓRIA COMO PROCEDIMENTO
DEVOLUTIVO NO PSICODIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS
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2. A história e os personagens devem ser escolhidos
em função das afinidades e analogias com os
conteúdos evidenciados no psicodiagnóstico. Por
exemplo, pulgas e macaquinhos como personagens
para crianças com condutas hiperativas, pássaros e
peixes como personagens para famílias migrantes.
UTILIZAÇÃO DO LIVRO DE HISTÓRIA COMO PROCEDIMENTO
DEVOLUTIVO NO PSICODIAGNÓSTICO DE CRIANÇAS
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3. Quanto ao conteúdo formal é fundamental que o livro de história
traduza:
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a história de vida (familiar e da criança)
o sintoma
a busca de atendimento e a relação com o psicólogo
a explicitação dos sentimentos do personagem de identificação
a integração dos diferentes aspectos observados através da hora de
jogo, testes, visitas, etc.
4. O final da história ainda é um tema controverso, entretanto é
muito importante que a criança tenha a chance de expressar sua
própria solução final quanto ao encaminhamento dado.
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metáfora e devolução_livro de história