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Linguagens, Códigos e
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Prof. Sérgio Rosa
A falta de paralelismo pode não ser
considerada um erro gramatical,
mas prejudica a arquitetura e o
entendimento textuais.
UMA QUESTÃO DE CLAREZA
Paralelismo e Gramática
A quebra paralelística não constitui, de fato, um deslize de
gramática; em razão dela, não se infringem regras de concordância, regência, colocação. O problema é de arquitetura textual. Os casos em que esse tipo de quebra ocorre devem ser
corrigidos, porque são estranhos à índole da língua e ferem
os princípios lógicos referentes à ordenação e coordenação
das ideias. Com isso, terminam por afetar a coerência.
As rupturas se dão quer no âmbito sintático, quer no
semântico. Entre as do primeiro caso, são comuns as que
desrespeitam a articulação entre pares correlativos do tipo
“mais... do que”, “não só... como também”, “desde... até” etc.
Por exemplo:
infinitivo, produz uma espécie de desvio que dificulta a leitura. O texto perde a esperada continuidade, torna-se menos
fluente e mais confuso.
O tipo mais frequente de ruptura paralelística é aquele
em que os elementos coordenados de uma determinada
função sintática apresentam-se como termos simples e como
orações. Vemos isso na passagem que segue:
3. “Como no Brasil a educação é precária, as crianças tentam conseguir dinheiro através de mendicância, roubo e até se prostituindo.”
1. “Na sociedade em que vivemos, mentir tornou-se mais conveniente do que a verdade.”;
2. “Os tipos de livros variam desde a autoajuda aos infantis.”
Em (3), a ruptura é semelhante. A harmonia entre os núcleos
do adjunto adverbial de meio, todos de natureza substantiva,
quebra-se com a oração gerundial “e até se prostituindo”. O
uso de “prostituição” manteria o paralelismo (mendicância,
roubo e até prostituição). E um bom recurso para destacar o
dinamismo dos meios utilizados a fim de conseguir dinheiro seria transformar em oração reduzida os três segmentos
(mendigando, roubando e até se prostituindo).
Quem lê as passagens acima, percebe que nelas há falhas de
organização não estritamente gramatical, mas nem por isso
menos prejudiciais à comunicação. Em (1), o sujeito da oração principal devia ter a mesma forma que o da comparativa.
O primeiro, no entanto, é um verbo no infinitivo (mentir); e o
outro, um substantivo (mentira). Para corrigir a frase, é preciso
uniformizar a classe morfológica: “mentir tornou-se mais conveniente do que dizer a verdade”; ou: “a mentira tornou-se
mais conveniente do que a verdade”.
No caso (2), essa quebra é dupla. Não só se desfez a correlação “desde... até” (contaminando-a com “de... a”), como se misturou substantivo com adjetivo.
Pensamos que a melhor correção seria: “variam... dos de
autoajuda aos infantis”, transformando-se “autoajuda” em
núcleo de locução adjetiva.
Paralelismo Semântico
Na quebra do paralelismo semântico, coordenam-se palavras
de naturezas diferentes. A um conjunto de ações, por exemplo,
interpõe-se um agente. É o que mostra a passagem abaixo:
4. “Armadilhas, tentações, interesseiros irão lhe acompanhar aonde você queira ir.”
É preciso padronizar a sequência de modo que não se misturem termos abstratos e concretos. Se a frase começa com
“armadilhas” e “tentações”, o natural é que se complete com
“interesses”. A referência a “interesseiros” desconcerta o leitor.
É próprio do leitor antecipar não apenas o conteúdo, como
também a estrutura do que lê. A confirmação das expectativas
que ele cria garante a eficácia do processo. Tais expectativas se
frustram quando ocorrem as rupturas paralelísticas. As quebras
constituem um entrave à leitura e comprometem a aceitabilidade do texto – daí a necessidade de que os alunos identifiquem
Tipos de paralelismo
Em alguns casos, o desrespeito ao paralelismo dá à frase o aspecto de um anacoluto. Numa redação sobre trotes telefônicos a unidades móveis de saúde, um de nossos alunos escreveu: “O esquema era simples: ligar para o serviço e, quando
atendessem, diriam alguma piada velha e sem graça.” O uso
de “diriam” no lugar de “dizer” não compromete a coesão,
pois o sujeito é o mesmo tanto para “dizer” quanto para “ligar,
mas a escolha do futuro do pretérito, quando se esperava o
1
esse tipo de problema e aprendam a evitá-lo. Devemos lhes
mostrar que a manutenção do paralelismo não é um recurso
meramente cosmético. Ela concorre para que o autor comunique a sua mensagem com eficiência e, sobretudo, com clareza.
a)
b)
c)
d)
e)
Chico Viana é doutor em Teoria da Literatura pela UFRJ.
Exercitando para o Enem
01.O texto do professor Chico Viana nos dá conta de que “a falta de paralelismo pode não ser considerada um erro gramatical, mas prejudica a
arquitetura e o entendimento textuais, portanto o princípio do paralelismo baseia-se em que a ideias semelhantes correspondem estruturas
similares.” A partir dessa passagem, pode-se afirmar que a aplicação da
harmonia estrutural que garante o paralelismo pode ser percebida em:
a) Para vencer, é preciso esforço e que sejamos compenetrados.
b)Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido.
c) Tornei-me um grande nome da história da Paraíba como em
todo o Brasil.
d) O anacoluto não respeita, nas situações discursivas da oralidade,
as regras de concordância verbal ou a sintaxe.
e) A partir de então, na empresa, foi vítima do ciúme, do ressentimento, dos agressores que a invejam.
não respeitam as regras de concordância verbal ou a sintaxe.
Entende-se pelo texto que o anacoluto, nas construções textuais, pode ser considerado:
uma corrupção gramatical, sem grave intensidade.
um recurso de mera oralidade, apenas no âmbito sintático.
como requintado recurso da escrita, que privilegia o lusitanismo.
como enunciado frasal de progressão consistente e bem articulado.
frase quebrada, de substancial sequência lógica de uma frase.
04.Assinale a opção em que a escritura da frase promove uma noção paralelística em que se observa relação de simultaneidade.
a) No período de um ano, não só cresceu o número de assaltos e roubos na cidade mas também o de assassinatos por armas de fogo.
b) De qualquer forma conte comigo, seja para ajudar na mudança, seja
para limpar a nova casa, seja para o churrasco de inauguração.
c) Se, por um lado, a venda do sítio resolveu nossos problemas financeiros, por outro perdemos o único meio de lazer da família.
d) Não pudemos viajar no Carnaval passado, nem nas férias de julho, nem nas de janeiro.
e) Hoje em dia, quanto mais uma pessoa estuda, mais ela tem condições de competir no mercado de trabalho.
05.Em construções frasais, deve-se privilegiar a norma culta, principalmente a arquitetura textual a fim de que não se deem casos
de quebra de paralelismo. Aponte, entre os itens abaixo, aquele em
que se dá a ruptura de ordem estrutural.
a) Enquanto os baianos são famosos pelo carnaval de rua, os cariocas se destacam pelo carnaval organizado das escolas de samba.
b) Não me sinto bem nesta casa, neste bairro, nesta cidade nem
neste país.
c) Tanto no trabalho quanto ao relacionar com os amigos, Luísa
tem se mostrado muito indócil.
d) Não me refiro àquela senhora de verde, mas, sim, a de vermelho.
e) Os custos são altíssimos, os salários são elevados, a qualidade
do ensino é deplorável. Certos cursos estão a ponto de perder o
credenciamento.
02.Os casos de ruptura do paralelismo de que são exemplos algumas frases da questão anterior confirmam-se, principalmente,
por representarem:
a) acentuados problemas de ordem estética.
b) sobretudo, desvios da noção sintática.
c) escritura de conteúdo fraco.
d) objetos de excessivo rigor dos corretores.
e) conscientes construções com marcas elípticas.
03.Na frase: “O avião, não te disse, tudo está atrasado.”, temos anacoluto.
O anacoluto é comum na linguagem coloquial e também frequente na poesia; nas situações discursivas da oralidade que
Exercitando para o Enem
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