UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS
CURSO DE DIREITO
SOCIEDADE CONTROLADORA: HOLDING
ANTONIO CLAUDIO MÜLLER LENZI
Itajaí, outubro de 2007
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICASE SOCIAIS - CEJURS
CURSO DE DIREITO
SOCIEDADE CONTROLADORA: HOLDING
ANTONIO CLAUDIO MÜLLER LENZI
Monografia submetida à Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Orientador: Professor Eduardo Erivelton Campos.
Itajaí, outubro de 2007
AGRADECIMENTO
A Deus por estar sempre presente, me
iluminando, guiando e protegendo;
Ao empenho e dedicação do meu professor
orientador, Eduardo Erivelton Campos;
A todos meus familiares, que tanto amo e admiro;
A minha preciosa namorada, Jessica Campello,
por todo amor, carinho, apoio, atenção e
compreensão em todos os momentos.
DEDICATÓRIA
Aos meus avós Anna Maria Müller e Odemar
Müller, exemplos de respeito e caráter; à minha
mãe Clarisse Müller, por toda confiança
depositada, auxílio, me ensinando os valores da
vida, por todo amor demonstrado; a minha
sempre querida filha Luiza Lenzi; obrigado a todos
por tudo.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, outubro de 2007
Antonio Claudio Müller Lenzi
Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Antonio Claudio Müller Lenzi, sob
o título Sociedade Controladora: Holding, foi submetida em 20 de novembro de
2007 à banca examinadora composta pelos seguintes professores: Eduardo
Erivelton Campos, Emerson de Moraes Granado e José Silvio Wolf, e aprovada
com a nota 10.
Itajaí, novembro de 2007
Professor Eduardo Erivelton Campos
Orientador e Presidente da Banca
Msc Antônio Augusto Lapa
Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CC
Código Civil
CLT
Consolidação das Leis Trabalhistas
LSA
Lei das Sociedades Anônimas
UNIVALI
Universidade do Vale do Itajaí
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.
Grupo de Direito
O grupo de direito se estabelece mediante convenção pela qual as sociedades se
obrigam a combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos
objetos ou a participar de atividades ou empreendimentos comuns. A controladora
deve ser necessariamente brasileira e o contrato registrado na Junta Comercial1.
Grupo de Fato
Conceitua-se os grupos de fato como a junção de sociedades, sem a necessidade
de exercerem, entre si, um relacionamento mais profundo, permanecendo
isoladas e sem organização jurídica2.
Grupo de Sociedades
Grupos de sociedades são sociedades associadas a caminho da integração, que
se opera mediante incorporação ou fusão. Interligadas tais sociedades, mantêm,
todavia, personalidade jurídica própria, conquanto, subordinadas à sociedade de
comando3.
Holding
Companhia holding é uma sociedade juridicamente independente que tem por
finalidade adquirir e manter ações de outras sociedades, juridicamente
independentes, com o objetivo de controlá-las, sem com isso praticar atividade
comercial ou industrial4.
Holding Administrativa
1
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 5 ed. São Paulo: Saraiva,
2007, p. 466.
2
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 2v., p. 276.
3
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. 15 ed. São Paulo: Saraiva,
2005, p. 307.
4
LODI, João Bosco. Holding. 3 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 4.
É a holding administrativa que profissionaliza as operadoras. Usada também em
casos em que os herdeiros não tenham interesse profissional no empreendimento
e o interesse seja só de investimento. É um passo para as cisões ou
diversificações de negócios5.
Sociedade
Sociedade é o contrato celebrado entre pessoas físicas e/ou jurídicas, ou
somente entre pessoas físicas (art. 1.039), por meio do qual estas se obrigam
reciprocamente a contribuir, com seus bens ou serviços, para o exercício de
atividade econômica e a partilhar, entre si, os resultados 6.
Sociedade Controlada
Controlada é a sociedade que se submete à controladora7.
Sociedade Controladora
A sociedade controladora se caracteriza por ser titular de direitos de sócio que lhe
assegure de modo permanente, a preponderância nas deliberações sociais 8.
Sociedades Contratuais
Serão contratuais aquelas sociedades cujo ato de constituição tem esta natureza.
Será o contrato social constituído no interesse e confere a vontade dos sócios,
regulando as relações entre eles no transcorrer da vida social, a elas se aplicando
normas de direito contratual, especialmente no que se refere á autonomia da
vontade9.
Sociedades Empresárias
As sociedades empresárias são as organizações econômicas, dotadas de
personalidade jurídica e patrimônio próprio, constituídas ordinariamente por mais
5
LODI, João Bosco. Holding. 3 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 44.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 234.
7
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. 3 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006, p. 344.
8
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2v., p. 277.
9
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 170-171.
6
de uma pessoa, que têm como objetivo a produção ou a troca de bens e serviços
com fins lucrativos10.
Sociedades Estatutárias
As sociedades estatutárias, também denominadas institucionais, se constituem
por um ato de manifestação de vontade dos sócios, mas não é este revestido de
natureza contratual. Em decorrência, os postulados da teoria dos contratos não
contribuem para a compreensão dos direitos e deveres dos membros da
sociedade11.
Sociedades Não Personalizadas
Não personalizadas são as sociedades irregulares ou de fato, ou seja, aquelas
cujos atos constitutivos ou não foram ultimados ou, se o foram, não foram levados
a registro no órgão competente, a Junta Comercial12.
Sociedades Personalizadas
São sociedades personalizadas aquelas onde as sociedades são distintas dos
sócios, titularizam seus próprios direitos e obrigações 13.
10
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 140.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2004. 2v., p. 26.
12
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. p. 53.
13
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 07.
11
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................... XII
INTRODUÇÃO ................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3
DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS................................................. 3
1.1 NÃO PERSONALIZADAS ................................................................................6
1.1.1 SOCIEDADE COMUM ..........................................................................................7
1.1.2 SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO .........................................................8
1.2 PERSONALIZADAS .......................................................................................10
1.2.1 CONTRATUAL .................................................................................................11
1.2.1.1 Sociedade em Nome Coletivo ................................................................12
1.2.1.2 Sociedade em Comandita Simples ........................................................14
1.2.1.3 Sociedade Limitada.................................................................................15
1.2.2 ESTATUTÁRIA .................................................................................................24
1.2.2.1 Sociedade em Comandita por Ações ....................................................25
1.2.2.2 Sociedade Cooperativa...........................................................................27
1.2.2.3 Sociedades Anônimas ............................................................................29
CAPÍTULO 2 .................................................................................... 34
DO GRUPO DE SOCIEDADES ........................................................ 34
2.1 GRUPO DE FATO ..........................................................................................36
2.2 GRUPO DE DIREITO .....................................................................................40
2.3 CONSÓRCIO ..................................................................................................43
2.4 SOCIEDADES CONTROLADAS....................................................................47
2.5 SOCIEDADES CONTROLADORAS ..............................................................49
CAPÍTULO 3 .................................................................................... 52
HOLDING ......................................................................................... 53
3.1 CONCEITO DE HOLDING..............................................................................53
3.1.1 PRINCIPAIS FINALIDADES DA HOLDING ..............................................................59
3.1.2 RAZÕES PARA A FORMAÇÃO DE UMA HOLDING ..................................................61
3.1.3 DO CONTRATO SOCIAL ....................................................................................65
3.2 FORMAÇÃO DA HOLDING ...........................................................................66
3.2.1 FORMAÇÃO DA HOLDING POR CISÃO SIMPLES ....................................................71
3.2.2 FORMAÇÃO DA OLDING POR DESMEMBRAMENTO ...............................................72
3.2.3 FORMAÇÃO DA PLANEJADA PELA PESSOA FÍSICA ..............................................73
3.2.4 FORMAÇÃO COMPLETA ...................................................................................74
3.2.5 RAZÕES PARA PASSAR O COMANDO DO GRUPO PARA A HOLDING ADMINISTRATIVA
..............................................................................................................................75
3.3 TIPOS DE HOLDING ......................................................................................76
3.4 OBJETIVOS DA HOLDING ............................................................................78
3.4.1 PECULIARIDADES ............................................................................................80
3.4.2 DO PLANEJAMENTO FISCAL .............................................................................81
3.4.3 TRANQÜILIDADE NOS NEGÓCIOS ......................................................................82
3.5 ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO DA HOLDING ...........................................83
3.6 CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS....................................................................84
3.7 RELACIONAMENTO DA HOLDING COM AS CONTROLADAS ..................86
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 90
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................... 92
RESUMO
A presente monografia foi organizada para apresentar a
holding, sociedade controladora do grupo de sociedades. Para isso, o trabalho
apresentou as sociedades não personalizadas e as personalizadas, que são as
de maior número no universo de empresas. Cada sociedade busca a sua
finalidade específica e que melhor se enquadrem no tipo que estiverem
constituindo. Para a compreensão do tema é necessário que se apresentem os
grupos de sociedades, qual finalidade de cada sociedade que está presente nele,
como que se observa está constituição para por fim apresentar a holding que é
uma das pertencentes a este grupo, sendo a controladora das demais
sociedades. Para atingir o objetivo proposto, no Capítulo 1 fez-se um estudo das
sociedades. Já no Capítulo 2 abordou-se o tema grupo de sociedades. O trabalho
monográfico, em seu Capítulo 3 apresentou em estudo da holding propriamente
dita. O trabalho objetivou estudar a holding sem a intenção de esgotar o assunto.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto a sociedade
controladora em um grupo de sociedades, a holding.
O seu objetivo é dispor a respeito da holding, evidenciando
sua contribuição para o fortalecimento econômico do grupo de sociedades, assim
como o favorecimento para que a sociedade continue em harmonia entre os
sócios por um prazo maior.
Para tanto, no Capitulo 1, apresentar-se-ão os tipos de
sociedades empresárias, seus aspectos conceituais e suas classificações,
dispondo sobre o surgimento de cada uma destas sociedades com as suas
determinadas finalidades no meio comercial.
No Capítulo 2, demonstrar-se-ão os aspectos conceituais e
jurídicos dos grupos de sociedades, que surgiram pela expansão das sociedades,
assim como a necessidade que estas tiveram em diversificar seu ramo de
negócios para que possíveis crises não as afetassem por completo.
Por fim, no capítulo 3, tratar-se-á do estudo da holding,
observando seus conceitos e objetivos no controle do grupo de sociedades, bem
como sua vocação para fortalecer todas as sociedades que estão sob sua
administração.
Vale ressaltar, que o estudo basear-se-á apenas na
legislação e doutrinas pátrias, não se valendo do uso da jurisprudência como
fonte de pesquisa.
O presente Relatório de Pesquisa encerrar-se-á com as
Considerações Finais, onde são demonstradas importantes conclusões sobre o
tema, assim como o estímulo para a continuidade das pesquisas e reflexões
sobre a holding e seus aspectos benéficos no controle das sociedades.
2
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:

Havendo um grupo de empresas a holding pode orientar e unificar
procedimentos.

A holding, desempenhando seu papel de sociedade controladora,
consegue fazer com que cada sociedade pertencente ao grupo
alcance um nível maior de desenvolvimento e crescimento.
Quanto à Metodologia14 empregada, registrar-se-á que, na
Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo15, e, o Relatório dos
Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente16, da Categoria17, do Conceito Operacional18 e da
Pesquisa Bibliográfica19.
14
“Na categoria metodologia estão implícitas duas categorias diferentes entre si: Método e
Técnica”. In: PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica- Idéias e ferramentas úteis para o
pesquisador do Direito. 8 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003, p. 103.
15
“O método indutivo pesquisa e identifica as partes de um fenômeno e coleciona-os de modo a
ter uma percepção e conclusão geral”. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica:
idéias e ferramentas úteis para o pesquisador de Direito. 8 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora,
2003. p.199.
16
“Explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de
abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. PASOLD, César
Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, p. 241.
17
“palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. PASOLD, César
Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit. especialmente p. 229.
18
“definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal
definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD, César Luiz. Prática da
Pesquisa Jurídica. p. 229.
19
“Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD,
César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 240.
CAPÍTULO 1
DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS
O indivíduo que desempenha sua atividade econômica de
maneira organizada na produção ou circulação de bens ou de serviços, com a
finalidade de obtenção de riqueza é classificado como empresário.
Aumentando a complexidade e volume de seus negócios,
torna-se necessário investimento em diferentes áreas e também na abrangência
das mesmas. Tornando somente possível desempenhar as atividades de forma
eficiente com o esforço de mais pessoas, ou seja, empresários, que estejam
interessados nos lucros que elas prometem propiciar. Levando assim ao
surgimento das sociedades20.
Bertoldi21, ao lecionar sobre as sociedades as qualifica:
As sociedades empresárias são as organizações econômicas,
dotadas de personalidade jurídica e patrimônio próprio,
constituídas ordinariamente por mais de uma pessoa, que têm
como objetivo a produção ou a troca de bens e serviços com fins
lucrativos.
Coelho22, ainda sobre o assunto, leciona:
Atente-se que o adjetivo “empresaria” conota ser a própria
sociedade (e não os seus sócios) a titular da atividade econômica.
Não trata, com efeito, de sociedade empresarial, correspondente à
sociedade de empresários, mas da identificação da pessoa
jurídica como o agente econômico organizador da empresa. Essa
sutileza terminológica, na verdade, justifica-se para o direito
societário, em razão do princípio da autonomia da pessoa jurídica,
o seu mais importante fundamento. Empresário, para todos os
20
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2004. 2v, p. 03.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. 3 ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006, p. 140.
22
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 05.
21
4
efeitos de direito, é a sociedade empresaria como os titulares da
empresa, porque essa qualidade é da pessoa jurídica, não dos
seus membros.
Requião23 discorre que:
Fazem companhia os mercadores e outros homens entre si, para
ganhar mais facilmente, juntando seus capitais em um, do que às
vezes serem recebidos nela por companheiros: uns que sabem e
entendem de comprar e vender, embora não tenham capital para
fazê-lo; outros que o têm, mas lhes falta aquela instrução.
Destas uniões entre empresários surgem sociedades, que
podem ser classificadas pelos critérios abaixo relacionados.
A responsabilidade dos sócios, na sociedade limitada, ocorre
quando o sócio responde na medida de sua contribuição para a soma do capital,
porém de forma solidária até a integralização do capital 24.
Quando todos os sócios assumem responsabilidade ilimitada
e solidária relativamente às obrigações sociais, há a sociedades ilimitadas. E
quando o contrato social conjuga a responsabilidade ilimitada e solidária de
alguns sócios com a responsabilidade limitada de outros sócios, temos a
sociedades mistas25.
As sociedades não-personificadas, que são as sociedades
irregulares ou de fato, hoje denominadas sociedades em comum e em conta de
participação. Nas personificadas que são aquelas que adquirem personalidade
como, por exemplo, a sociedade limitada26.
A forma do capital é outro critério para classificação da
sociedade, que pode ser capital fixo, cujo capital é determinado e estável, só
podendo ser modificado para mais ou para menos, assim, são todas as
23
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 367.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 373.
25
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 374.
26
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 374.
24
5
sociedades comerciais. Além desse há também o capital variável, que são as
sociedades cooperativas27.
Pela estrutura econômica as sociedades podem ser
classificadas como sociedades de pessoas, em função da qualidade pessoal dos
sócios e sociedades de capital, tendo a atenção preponderantemente o capital
social28.
Nas sociedades de pessoas existe uma confiança recíproca,
que cada sócio deposita nos demais, são as pessoas que se fazem reunir para a
criação da sociedade. Já nas sociedades de capital, não importa a pessoa que
deseja ingressar, mas sim o capital que será investido29.
Segundo Amador Paes de Almeida30 “a melhor das
classificações é aquela que fixa a responsabilidade pessoal dos sócios, este é o
critério mais razoável e mais prático para a classificação das sociedades
empresárias”.
Para Coelho31:
Existem cinco tipos de sociedades empresárias, nome
coletivo, comandita simples, comandita por ações, anônima
e por quotas de responsabilidade limitada. Mas, embora
sejam cinco os tipos disponíveis, somente as limitadas e
anônimas possuem importância econômica. As demais, em
razão de sua disciplina inadequada às características da
economia da atualidade, são constituídas apenas para
atividades marginais, de menor envergadura.
A seguir, dividem-se as sociedades em dois grandes grupos
as não personificadas, ou seja, aquelas que não constituem personalidade
jurídica e as personificadas, as quais dão surgimento à pessoa jurídica.
27
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 374.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 374.
29
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 169.
30
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. 15 ed. São Paulo: Saraiva,
2005, p. 93.
31
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 23.
28
6
1.1 NÃO PERSONALIZADAS
Há uma vasta discussão a respeito da inclusão, ou não,
desta classificação como uma sociedade empresária.
De acordo com Fabio Ulhoa Coelho “as sociedades
empresárias são sempre personalizadas, ou seja, são pessoas distintas dos
sócios, titularizam seus próprios direitos e obrigações”32.
No
entendimento
de
Coelho
“as
sociedades
não
personalizadas não passam de acordos ou contratos de investimento comum, que
a lei preferiu chamar de sociedade”33.
Segundo Rubens Requião34:
Em razão de não ser documentada, que viceja no mundo
fático, se pode chamar de sociedade de fato, provada sua
existência através de presunções, ao passo que a sociedade
constituída por instrumento escrito, mas não o tenha
legalizado com o arquivamento no registro competente,
permanece irregular em face da lei.
Embora tenham contradições a respeito de sua classificação
como sociedade, as sociedades não personalizadas são aquelas onde duas ou
mais pessoas, que embora tenham confeccionado documento escrito, não
constituíram uma pessoa jurídica. Elas podem ser constituídas de forma oral ou
documental, não sendo necessário levar a registro na Junta Comercial35.
Os integrantes da sociedade comprometem-se em contribuir
com bens e serviços, com a finalidade de obter um ganho econômico, e deste
ganho ter os resultados partilhados entre si.
Existem dois tipos de sociedades não personalizadas, a
Sociedade em Comum e Sociedade em Conta de Participação.
32
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 07.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 07.
34
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 394.
35
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 479.
33
7
1.1.1 SOCIEDADE COMUM
Por não ser considerada uma pessoa jurídica, uma vez que
não é inscrita no órgão competente, é dita como sociedade não personificada.
A sociedade comum também é conhecida por “sociedade de
fato” e “sociedade irregular”. Não se trata de um tipo societário para constituição
de empresas e sim como uma condição em que a sociedade se encontra.
Sobre este assunto o Código Civil de 200236 traz os
seguintes artigos, constando às características a respeito deste tipo societário.
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á
a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto
neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele
forem compatíveis, as normas da sociedade simples.
Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros,
somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas
os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio
especial, do qual os sócios são titulares em comum.
Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão
praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo
de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o
conheça ou deva conhecer.
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto
no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
Este tipo societário traz alguns problemas para os sócios,
pois, como ela não é registrada, nas relações entre si ou com terceiros, não há
como se provar de forma concreta a existência desta sociedade a não ser de
forma escrita. Havendo possíveis problemas com terceiros, cabe a estes provar,
valendo-se de com todas as provas admitidas em direito.
36
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
8
Silva37 ensina sobre a matéria:
É a sociedade que não tem seus atos constitutivos inscritos no
registro competente, seja nas juntas comerciais, seja nos cartórios
de pessoas jurídicas. Os sócios, nas relações entre si ou com
terceiros, só podem provar sua existência por escrito, e os
terceiros, por todos os meios de provas admitidos em Direito.
Não há garantia do beneficio de ordem, então os sócios
tornam-se solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, podendo, assim, os
credores executarem primeiramente os bens de cada um dos sócios, e não os
bens da sociedade, ainda que esta tenha bens suficientes para cobrir a dívida.
1.1.2 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO
O Código Civil a qualifica como sociedade, e a inclui no
subtítulo como sociedade não personalizada, pois mesmo que seu eventual
contrato social seja levado a algum registro, esta não adquirirá personalidade
jurídica38.
É o entendimento de Bertoldi39:
Efetivamente de sociedade não se trata. A conta em participação
não tem patrimônio próprio, não necessita ser constituída em
documento escrito e registrada no Registro Publico de Empresas
Mercantis, razão pela qual não pode ser considerada pessoa
jurídica e muito menos sociedade.
Existem, nessa espécie de sociedade, dois tipos de sócios: o
sócio ostensivo, empresário, que aparece nos negócios com terceiro contratando
sob o seu nome e responsabilidade, e tanto pode ser uma sociedade comercial
37
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. São Paulo: Barros, Fischer & Associados, 2005,
p. 44.
38
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 438.
39
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 177.
9
como um empresário individual, e o sócio participante, que é o prestador de
capital para aquele, não aparecendo externamente nas relações da sociedade40.
A atividade constitutiva do objeto social é exercida
unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e
exclusiva
responsabilidade,
participando
os
demais
dos
resultados
correspondentes. Assim, obriga-se perante terceiro somente o sócio ostensivo, e,
exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social 41.
Coelho42, ao lecionar sobre o assunto, menciona:
A Sociedade em Conta de Participação é um contrato de
investimento comum, no qual duas ou mais pessoas se vinculam
para a exploração de uma atividade econômica. Um dos sócios,
aqui nomeado como ostensivo que é o empreendedor, dirige o
negócio e é o responsável de forma ilimitada pelas negociações e
relações da atividade econômica. Os demais sócios são
nomeados participantes, normalmente entram como investidores.
São curiosas as características da sociedade em conta de
participação. Não tem razão social ou firma; não se revela publicamente, em face
de terceiros; não terá patrimônio, pois os fundos do sócio participante são
entregues, fiduciariamente, ao sócio ostensivo que os aplica como seus, pois
passam a integrar o seu patrimônio43.
O Código Civil garante ao sócio participante o direito de
fiscalizar a gestão social, mas o proíbe de intervir nas relações do sócio ostensivo
com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este nas obrigações
em que intervir. O sócio ostensivo não pode admitir novos sócios, salvo se houver
consentimento expresso dos demais44.
40
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 438.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 438.
42
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 479.
43
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 438.
44
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 439.
41
10
A posição de Negrão45 ilustra sobre a falência do sócio
ostensivo:
A natureza especial da contribuição do sócio oculto,
denominando-o sócio participante, e permitindo sua habilitação
como credor quirografário na falência do sócio ostensivo. Pela
legislação comercial, o sócio oculto, no caso de falência do sócio
ostensivo, vê os fundos com que contribuiu servirem para
pagamento dos credores.
A sociedade em conta de participação constitui moderno
instrumento de captação de recursos financeiros para o desenvolvimento
econômico, tendo, além disso, amplas e úteis aplicações, dentro do moderno
campo do direito comercial46.
1.2 PERSONALIZADAS
De acordo com o Código Civil em vigência, a personalidade
da sociedade empresária é adquirida com a inscrição, no registro próprio e na
forma da lei, nos seus atos constitutivos.
As sociedades empresárias são sempre personalizadas,
pois são pessoas distintas de seus sócios, têm seus próprios direitos e
obrigações47.
Existem direitos onde a personalização está diretamente
ligada à limitação da responsabilidade dos sócios. Em nosso ordenamento
jurídico, assim como em outros paises, não ocorre essa necessidade entre os
dois temas societários, podendo haver situações onde os sócios respondem
ilimitadamente pelas obrigações sociais48.
45
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 5 ed. São Paulo: Saraiva,
2007, p. 303.
46
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 439.
47
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 7.
48
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 7.
11
Requião49 nos ensina sobre a personalização da sociedade:
Formada a sociedade comercial pelo concurso de vontades
individuais, que lhe propiciam os bens ou serviços, a
conseqüência mais importante é o desabrochar de sua
personalidade jurídica. A sociedade transforma-se em um novo
ser, estranho à individualidade das pessoas que participam de sua
constituição, dominando um patrimônio próprio, possuidor de
órgãos de deliberação e execução que ditam e fazem cumprir sua
vontade. Seu patrimônio, no terreno obrigacional, assegura sua
responsabilidade direta em relação a terceiros.
Bertoldi50 nos ensina sobre a personificação da sociedade: Em
verdade, com a personificação da sociedade, o resultado prático
que se busca é justamente a separação do patrimônio dos sócios
em relação ao patrimônio da sociedade, pois os sócios contribuem
para os fundos sociais com parcela de seus patrimônios.
As sociedades personalizadas podem ser divididas em dois
grandes grupos, as contratuais, e as estatutárias.
1.2.1 CONTRATUAL
Sociedades
contratuais
são
aquelas
cujo
ato
de
constituição e de regulamentação tem natureza contratual.
É o que ensina Coelho51:
As sociedades contratuais são constituídas por um contrato entre
os sócios. Isto é, nelas, o vínculo estabelecido entre os membros
da pessoa jurídica tem natureza contratual, e, em decorrência, os
princípios do direito dos contratos explicam parte das relações
entre os sócios.
Acerca da matéria ensina Bertoldi52:
49
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 385.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 143.
51
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 25-26.
52
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 170-171.
50
12
Serão contratuais aquelas sociedades cujo ato de constituição tem
esta natureza (contratual). Será o contrato social constituído no
interesse e conforme a vontade dos sócios, regulando relações
entre eles no transcorrer da vida social, a elas se aplicando
normas de direito contratual, especialmente no que se refere à
autonomia da vontade.
Silva53 menciona:
São constituídas necessariamente por um contrato. Para sua
dissolução, não basta a vontade majoritária dos sócios, pois o
Código Civil enumera causas especificas, como morte ou
expulsão de sócio.
A constituição e a dissolução seguem regras próximas a do
regime jurídico dos contratos. Podendo a qualquer momento ser extinta no caso
sucessório, já que nos contratos ninguém tem a obrigação de continuá-lo para
sempre, a menos que tenha vontade54.
Nesta categoria encontra-se a sociedade em nome coletivo,
em comandita simples, e a sociedade limitada.
1.2.1.1 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
O Código Civil não define a sociedade em nome coletivo,
mas torna evidente no artigo 1039, de plano, a principal característica do tipo:
respondem todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais55.
O artigo 1039 do CC56 caracteriza as sociedades em nome
coletivo:
Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na
sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios,
solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais.
53
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 50.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 26.
55
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 431.
56
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
54
13
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante
terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime
convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada
um.
A lei exige que os empresários sejam pessoas naturais,
afastando a presença da pessoa jurídica57.
Neste mesmo sentido ensina Coelho58:
Na sociedade em nome coletivo, todos os sócios são pessoas
físicas e responsáveis solidários pelas obrigações sociais.
Sendo a sociedade pessoa jurídica que difere da pessoa dos
sócios que a compõem, não há como falar no direito moderno em sócio
necessariamente comerciante para compor a sociedade. Duas ou mais pessoas,
não comerciantes ou não empresárias, podem constituir a sociedade com
propósitos comerciais, e nem por isso se tornam comerciantes ou empresarias59.
Na sociedade em nome coletivo todos os sócios são
ilimitada e solidariamente responsáveis pelas obrigações sociais, porém
respondem subsidiariamente por essas obrigações60.
Por ser subsidiária, os sócios não podem ser executados por
dividas da sociedade senão depois de executados todos os bens sociais 61.
Coelho62 esclarece acerca da matéria:
A exploração de atividade econômica por esse tipo de associação
de esforços, portanto, não preserva nenhum dos sócios dos riscos
inerentes ao investimento empresarial. Se a empresa não resultar
frutífera, eventualmente que nenhum empreendedor ou investidor
afasta seriamente, isso poderá significar a ruína total dos sócios e
de sua família, uma vez que os patrimônios daqueles podem ser
57
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 432.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 478.
59
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 432.
60
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 433.
61
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 175.
62
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 478-479.
58
14
integralmente comprometidos no pagamento dos credores da
sociedade.
Por conseqüência desta responsabilidade que os sócios
carregam, neste tipo societário somente o sócio pode ser administrador 63.
Sempre haverá um determinado grau de responsabilidade
para cada sócio, não podendo um ou mais sócios obter isenção 64.
1.2.1.2 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
A sociedade em comandita simples é composta por sócios
de duas categorias, os comanditados, necessariamente pessoas físicas com
responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações sociais, que por terem este
perfil seriam relacionados como os empreendedores, e o comanditário, pessoa
física ou jurídica com responsabilidade limitada ao valor de sua quota, este
relacionado à figura do investidor65.
Requião66 ensina acerca da matéria:
Ocorre a sociedade em comandita simples quando duas ou mais
pessoas se associam, para fins comerciais, obrigando-se uns
como sócios solidários, ilimitadamente responsáveis, e sendo
outros simples prestadores de capitais, com a responsabilidade
limitada às suas contribuições de capital. Aqueles são chamados
sócios comanditados, e estes sócios comanditários.
Neste mesmo sentido leciona Bertoldi67:
A sociedade comandita simples é composta por sócios que
respondem ilimitadamente pelas dividas da sociedade, os
comanditados, pessoas físicas. E os sócios cuja responsabilidade
é limitada ao capital investido na sociedade, os comanditários.
Uma das características da sociedade em comandita
simples é o fato de que nem todos os sócios podem ser gerentes. A gerência da
63
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 479.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 433.
65
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 476.
66
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 433.
67
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 176.
64
15
sociedade, com efeito, compete aos sócios comanditados ou, dentre eles, o que
for ou os que forem designados no contrato social. Silenciando o contrato, todos
os comanditados são gerentes, podem usar a firma ou razão social 68.
Já os sócios comanditários têm restrições, não podendo ter
seu nome empregado na firma da sociedade, nem praticar ato de gestão, sob
pena de responderem pelas obrigações sociais como se fossem comanditados 69.
Neste mesmo sentido ensina Requião70
É vedado ao sócio comanditário dar o nome à razão social. O que
violar a vedação torna-se solidária e ilimitadamente responsável
pelas obrigações sociais, o mesmo ocorrendo se se imiscuir na
administração da sociedade.
O Código Civil determina que se empreguem a comandita
simples as normas da sociedade em nome coletivo, esclarecendo que aos
comanditados se aplicam os mesmos direitos dos sócios deste tipo de sociedade.
Os
comanditados
podem,
assim,
estabelecer
regras,
redistribuindo
a
responsabilidade entre si, com eficácia apenas entre estes sócios71.
1.2.1.3 SOCIEDADE LIMITADA
A sociedade limitada foi criada para atender ao interesse de
pequenos e médios empreendedores, que viram o beneficio da limitação da
responsabilidade que as sociedades anônimas tinham, mas sem a complexidade
e a burocracia que estás se sujeitavam72.
Segundo Coelho73:
Ela foi a alternativa para a exploração de atividades econômicas,
em parceria, que pudesse assegurar a limitação da
68
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 434.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 477.
70
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 434.
71
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 434.
72
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 366.
73
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 371.
69
16
responsabilidade característica
formalidades próprias desta.
da anônima, mas sem
as
Uma vez constituída, a comunicação dos bens dos sócios e
da pessoa jurídica, ficam restritas as quotas de cada um, como cita Vander
Brusso Silva, “uma vez que a responsabilidade dos sócios está restrita ao valor de
suas quotas, estabelecendo nítida separação entre o patrimônio da sociedade e o
patrimônio pessoal dos sócios, que não podem ser alcançados pelas obrigações
sociais”74.
Os juristas formularam uma sociedade em que todos os
sócios pagavam pelo capital social, porem responsabilizavam-se limitadamente,
somente com o valor no qual contribuíram individualmente no capital social 75.
Negrão76 nos esclarece sobre a responsabilização do capital
social:
Nesse tipo societário, se cada sócio integralizar a parte que
subscreveu no capital social, se casa um deles ingressar com o
valor prometido no contrato, nada mais podem exigir os credores.
Entretanto, se um, alguns ou todos deixarem de entrar com os
fundos que prometeram, haverá solidariedade entre eles pelo total
da importância faltante, perante a sociedade e terceiros.
Bertoldi77 ilustra acerca do surgimento:
Uma vez integralizado o capital da sociedade limitada, estarão os
sócios exonerados de responsabilidade no que se refere às
dividas assumidas pela sociedade.
Assim ensina Coelho78:
A personalização da sociedade limitada implica a separação
patrimonial entre a pessoa jurídica e seus membros. Sócio e
sociedade são sujeitos distintos, com seus próprios direitos e
74
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 52-53.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 476.
76
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 351.
77
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 182.
78
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 402.
75
17
deveres. As obrigações de um, portanto, não se podem imputar ao
outro. Desse modo, a regra é a da irresponsabilidade dos sócios
da sociedade limitada pelas dividas sociais. Isto é, os sócios
respondem apenas pelo valor das quotas com que se
comprometem no contrato social. É esse o limite de sua
responsabilidade.
Trazendo assim mais segurança para os empreendedores,
já que, “os sócios respondem, na limitada, pelas obrigações sociais, dentro de
certo limite, essa regra, alias, explica o nome do tipo societário” 79.
Como pessoa jurídica possui um patrimônio seu, que se
forma a partir de seu capital social. Esse patrimônio próprio responde
ilimitadamente pelas obrigações contraídas, garantindo aos credores uma
possível divida contraída. A limitação da responsabilidade cai somente sobre os
sócios que a compõe, e estes se limitam ao que contribuíram no capital social 80.
Devido a sua funcionalidade e praticidade, este tipo
societário se difundiu de forma intensa. Hoje, as sociedades limitadas são
amplamente utilizadas para as mais variadas formas de empreendimentos,
principalmente pelas pequenas ou medias empresas 81.
No Brasil, a sociedade limitada só pode ser constituída por
pelo menos duas pessoas, física ou jurídica, não se admite que sua origem seja
unipessoal82.
Acerca ainda da constituição da sociedade limitada,
Coelho
83
nos ensina:
A forma adequada do contrato social da limitada é a escrita, por
instrumento publico ou particular. No primeiro cão, dirigem-se os
interessados na constituição da sociedade empresaria ao cartório
de notas, onde o oficial reduz a termo, em escritura, a vontade por
eles manifesta. Pelo outro meio, os sócios contratam de um
79
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 404.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 476.
81
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 476.
82
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 388.
83
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p.393.
80
18
advogado a preparação da minuta do contrato social. Os dois
devendo ostentar as cláusulas essenciais.
Bertoldi84 ilustra sobre o tema:
A sociedade limitada poderá ser constituída mediante contrato
escrito lavrado por instrumento público ou privado. O contrato
social é o instrumento que irá regular o funcionamento da
sociedade, impondo, em conjunto com o ordenamento jurídico,
quais as regras a que se submeterão a sociedade empresária e
seus sócios.
A pessoa da limitada não é parte do contrato social, até
mesmo porque dele deriva, e os contratantes devem, por imposição lógica,
preexistir à formação do contrato. Mas ela é, pronta e necessariamente, envolvida
pelo contratado entre os sócios participantes do contrato social. Ou seja, o que os
sócios negociam, entre eles, gera direitos e obrigações também para a pessoa
jurídica em gestação85.
A respeito da solidariedade pela integralização do capital
social ensina Coelho86:
Entre os sócios da sociedade limitada, pode-se constatar, há
solidariedade pela integralização do capital social. Essa é, a
propósito, a diferença, em termos de repercussões econômicas,
do limite da responsabilidade dos sócios na sociedade anônima e
na limitada.
Segundo Requião87:
A limitação da responsabilidade do sócio não equivale à
declaração de sua irresponsabilidade em face dos negócios
sociais e de terceiros. Deve ele ater-se, naturalmente, ao estado
de direito que as normais legais traçam, na disciplina do
determinado tipo de sociedade de que se trate. Ultrapassando os
preceitos de legalidade, praticando atos, como sócio, contrários à
84
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 186-187.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 400.
86
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 405.
87
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 517.
85
19
lei ou ao contrato, tornam-se pessoal e
responsáveis pelas conseqüências de tais atos.
ilimitadamente
Neste tipo societário, como em qualquer outro, certos
problemas surgem no decorrer desta atividade empresarial.
É o que deixa mais evidente Coelho88:
Como em qualquer relação entre pessoas unidas com o intuito de
fazer dinheiro juntas, interesses convergentes convivem
antagônicos. Os sócios de uma sociedade empresária não
escapam dessa contradição dialética. A geração de dinheiro
representa o núcleo comum dos seus interesses. Aliás, foi
principalmente em vista desse objetivo que eles formaram a
sociedade. Por sua vez, a repartição do dinheiro ganho em
conjunto representa uma seara dos interesses conflituosos.
Ainda tratando desta contradição dialética nos interesses
dos sócios ensina Coelho89.
A contradição dialética entre os interesses comuns e antagônicos
dos sócios se podem encontrar em qualquer tipo de sociedade
empresaria, mas é na limitada que ela se manifesta de modo mais
eloqüente, em vista da natureza contratual do vinculo entre os
sócios, e dos estreitos e cotidianos contatos que costumam
manter. Não raro são amigos ou parentes, freqüentam-se. Por
outro lado, as atividades econômicas exploradas por sociedades
limitadas costumam ser de um menor porte, comparando-se-as
com as das anônimas, e exigem, assim, direto e próximo
acompanhamento dos empreendedores.
Com
o
passar
do
tempo,
cercados
de
dedicação,
competência, mas também de insucessos e frustrações, os sócios se convencem
de que a repartição tornou-se desproporcional, e logicamente cada um percebe
estar desfavorável para si, não sendo mais possível de tolerar essa desigualdade,
torna-se impossível também a continuidade da sociedade90.
88
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 359.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 360.
90
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 360.
89
20
No processo de tomada de decisões, na limitada, cada sócio
interfere de modo proporcional à contribuição que deu para o negócio 91.
A prevalência da vontade da maioria é, inegavelmente, um
valor da organização democrática das relações entre os homens, produto da
evolução racional da espécie humana, conquista da historia. Porém, a maioria é
medida pelo tamanho da contribuição, em recursos materiais, de cada pessoa,
então a regra deixa de ser democrática92.
Segundo Coelho93:
O sócio responsável pelo aporte de mais de metade do capital
social
representa,
sozinho,
a
maioria
societária,
independentemente do número de integrantes que possua a
sociedade. A vontade dele prevalece sobre a dos demais em toda
e qualquer decisão da sociedade limitada para a qual a lei não
estabeleça quorum qualificado. Ele define, sozinho, a destituição
de administrador da sociedade, a menos que seja sócio, a
remuneração dos administradores, a destinação do resultado, a
aprovação das demonstrações financeiras etc.
Para se resguardar contra os abusos do sócio majoritário, os
minoritários devem estabelecer, ao negociarem o ingresso na sociedade,
condições contratuais que supram à carência de garantias legais. A melhor forma
de resguardar seus direitos é a negociação da cláusula de unanimidade, que
salvaguarda o investimento feito pelo minoritário94.
Acerca da matéria ilustra Coelho95:
O sócio minoritário tem um único trunfo nas negociações com o
majoritário, é não ser sócio. Esse trunfo ele gasta, completa e
inevitavelmente, ao assinar o contrato social. Se não negociar
convenientemente a inclusão de certas garantias nesse
documento antes de assiná-lo, o sócio minoritário será lesado.
91
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 361.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 362.
93
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 362.
94
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 363.
95
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 364.
92
21
Segundo Coelho, “nas sociedades limitadas, as relações são
contratuais, e por essa razão, se o sócio descuidou de preservar seus interesses,
ao assinar o contrato social, poderá ter prejuízo”96.
Neste preceito, se não forem contratuais os vínculos
constituintes da sociedade, o seu desfazimento por completo pode guiar-se por
normas e princípios inspirados no direito contratual97.
Sobre a formação do capital social, ensina Bertoldi98:
Com a constituição da sociedade limitada, seus sócios devem
obrigatoriamente destacar do patrimônio particular parcela que irá
compor o capital social. Essa destinação pode se dar de forma
imediata, com o sócio subscrevendo e integralizando suas quotas
no momento da constituição da sociedade, ou então o sócio pode
subscrever parte do capital social e integraliza-lo posteriormente
em uma única ou em várias prestações, conforme constar no
contrato social.
As sociedades limitadas como já intitulada é de pessoas.
Isso porque, no CC, a disciplina referente às condições para a alienação das
quotas sociais, aplicáveis se o contrato social não dispuser em sentido contrario,
adota solução que aproxima as limitadas às sociedades de pessoas. O sócio só
pode alienar suas quotas a terceiros estranhos à sociedade se não houver
oposição de titulares de mais de um quarto do capital social, a menos que o
contrato social disponha diferentemente. Desse modo, as limitadas, quando os
sócios não contrataram em sentido diverso, conferindo-lhes de forma expressa o
perfil capitalístico, devem ser reputadas de pessoas 99.
Sobre a alienação de quotas a terceiros explica Bertoldi100:
Para evitar futuros transtornos, com a possibilidade de terceiros
ingressarem na sociedade sem que os demais sócios queiram, é
comum que no contrato social conste a norma a esse respeito. É o
96
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 365.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 369.
98
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 197.
99
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 374.
100
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 198.
97
22
exemplo da estipulação relativa à obrigatoriedade de o sócio que
pretende negociar suas quotas oferece-las aos demais sócios. Se
não houver manifestação em um determinado período de tempo,
presume-se que não têm eles interesse pela aquisição e está o
cedente livre para oferecer a terceiros suas quotas.
Os
recebimentos
devidos
aos
empreendedores
ou
investidores são estipulados nos contratos. Porém os pro labores, são devidos
somente aos que trabalham de fato na empresa.
Assim ensina Coelho101:
Todos os sócios, empreendedores ou investidores, têm direito ao
recebimento, nos limites da política de distribuição contratada
entre eles. Já o pro labore, ainda no plano dos conceitos,
remunera o trabalho de direção da empresa. Seu pagamento,
assim, deve beneficiar apenas os empreendedores, que
dedicaram tempo à gestão dos negócios sociais. No plano
jurídico, a distinção assume contornos exclusivamente formais, e
se afasta da pureza conceitual. Quer dizer, os lucros, quando
distribuídos, são devidos a todos os sócios, o pro labore, ao sócio
ou sócios que, pelo contrato social, tiverem direito ao seu
recebimento. Em decorrência da rigidez formal da regra, o sócio
investidor, que não trabalha na gestão de empresa, mas que é
nomeado, no contrato social, como titular de direito a pro labore,
deve receber o pagamento. Em contrapartida, o empreendedor
que exerce a administração, mas não é lembrado, no contrato
social, como titular do direito ao pro labore, não o pode receber.
Nos contratos ficam firmados os direitos de cada um e deles
devem derivar toda a conduta e maneira a tratar cada um dos sócios.
Nas sociedades limitadas com onze ou mais sócios, é
obrigatória a realização de assembléia para deliberação sobre as matérias
indicadas em lei. Se o número de sócios não ultrapassa dez, a assembléia não é
obrigatória e essas matérias poderão ser consensualmente deliberadas em
documento firmado por todos os sócios102.
101
102
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 423.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 426.
23
Neste mesmo sentido ensina Requião103:
A assembléia é obrigatória sempre que a sociedade limitada tenha
mais de dez sócios, ou quando for determinada pelo contrato
social. Será dispensável se todos os sócios decidirem por escrito
sobre a matéria que seria objeto da assembléia.
O direito de participar das deliberações sociais é um dos
direitos decorrentes do status de sócio. Conjuga-se com o direito de votar, que
não é intangível, pois pode ser condicionado pelo regime jurídico da sociedade,
como se dá com as ações preferenciais da sociedade anônima104.
Os direitos que os sócios têm de fiscalizar os negócios das
empresas, mesmo não fazendo parte da administração da empresa, são
evidentes. Embora, para tal, algumas barreiras devem ser superadas.
Segundo Requião105, existem dois obstáculos:
O exercício do direito de fiscalização da administração pelo sócio
que dela não participa depende da superação de dois obstáculos,
o acesso às informações e o custo das diligencias fiscais. No
primeiro obstáculo, o sócio deve negociar no contrato social ou em
instrumento apartado, um fluxo continuo de informações. Com
relação ao custo, este é alto devido à complexidade e a demanda
por um profissional que verifique sua consistência.
As retiradas dos sócios das sociedades ocorrem como
ensina Coelho106:
Das sociedades limitadas por prazo indeterminado de vinculo
instável, o sócio pode retirar-se a qualquer tempo,
independentemente de motivação. Das limitadas de vinculo
instável com prazo determinado e das limitadas de vinculo estável,
a condição para o exercício do direito de retirada é a divergência
relativamente a alteração contratual deliberada pela maioria,
incorporação ou fusão envolvendo a sociedade.
103
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 531.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 530.
105
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 433.
106
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 437.
104
24
1.2.2 ESTATUTÁRIA
As Sociedades institucionais, também, designadas como
estatutárias, ao contrário das contratuais, não têm como fundamento a presença
plena da autonomia da vontade, isto é, aos sócios não cabe, normalmente, a
ampla discussão a respeito das regras que regem a sociedade, motivo pelo qual o
ato que rege não tem natureza contratual, mas sim institucional ou estatutária 107.
É a opinião de Silva108:
Dependem de um estatuto social para sua constituição e podem
ser dissolvidas pela vontade da maioria dos sócios, bem como
pela intervenção ou liquidação extrajudicial.
Assim ensina Coelho109:
As institucionais também se constituem por um ato de
manifestação de vontade dos sócios, mas não é este revestido de
natureza contratual. Em decorrência, os postulados da teoria dos
contratos não contribuem para a compreensão dos direitos e
deveres dos membros da sociedade.
Requião110
aponta
a
diferença
entre
as
sociedades
contratuais e estatutárias:
Nos contratos admite-se a resolução pela inexecução das
obrigações, o que não ocorre na instituição, explicando-se, por
esse motivo, a indissolubilidade do casamento; sendo, alem disso,
mais estáveis as situações institucionais, que não podem ser
bruscamente resolvidas ou dissolvidas, porque aliam ao seu poder
de duração um poder de evolução e adaptação às condições
novas da vida que as situações contratuais não possuem.
Neste tipo societário a pessoa ingressa através da compra
de suas ações, e desta não se pode desfazer o vínculo societário mediante o
107
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 171.
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 50.
109
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 26.
110
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 343.
108
25
reembolso da participação societária, porque não tem natureza contratual. Para a
retirada, o sócio desinteressado deve negociá-la, vendendo-as a interessados no
investimento. Mesmo quando o sócio vem a falecer, seu herdeiro deverá integrar
o quadro de acionistas, embora por curto espaço de tempo, após isto feito, poderá
negociar livremente as ações111.
As comanditas por ações, as cooperativas e as sociedades
anônimas são exemplos de sociedades estatutárias.
1.2.2.1 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES
A Sociedade em comandita por ações é classificada como
sociedade de capital. Praticamente todas as disposições referentes às sociedades
anônimas aplicam-se a esse tipo de sociedade, salvo, ao que se refere à
responsabilidade
de
alguns
acionistas,
forma
de
administração
e
sua
denominação112. Fabio Ulhoa Coelho aponta sobre essa diferença no mesmo
sentido, registrando “a diferença principal entre esta sociedade e as anônimas, diz
respeito à responsabilidade de parte dos sócios, os que administram a empresa,
pelas obrigações sociais”113.
O sócio administrador possui responsabilidade diversa da
estabelecia para o sócio que não desempenha nenhuma atividade na empresa,
Bertoldi114 ensina a respeito da diferenciação da responsabilidade:
A administração da sociedade em comandita por ações somente
pode ser exercida por sues acionistas, que, nessa qualidade,
respondem de forma ilimitada pelos compromissos assumidos
pela sociedade. A responsabilidade dos sócios administradores
em relação à sociedade é subsidiária, ou seja, em primeiro lugar
deverão ser perseguidos os bens de propriedade da sociedade
para a satisfação de suas obrigações, para então se ingressar no
patrimônio particular dos sócios administradores. Por outro lado, a
responsabilidade entre os administradores é solidária, pois poderá
111
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 26.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 176.
113
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 477.
114
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 176-177.
112
26
o credor escolher entre eles aquele contra quem deva ajuizar a
ação executiva ou de cobrança. Se é assim com relação aos
sócios administradores, no que se refere aos sócios que não
participam da administração da sociedade, sua responsabilidade é
limitada ao preço das ações que subscreveram ou adquiriram.
Assim ensina Coelho115:
Na comandita por ações, o acionista, se não participa da
administração da sociedade, tem a responsabilidade limitada ao
preço de emissão das ações que subscreveu ou adquiriu; já o que
exerce funções de diretor (ou administrador) responde pelas
obrigações da sociedade constituídas durante sua gestão, de
forma subsidiaria (após o exaurimento do patrimônio social),
ilimitada (sem qualquer exoneração) e solidária (com os demais
membros da diretoria).
Neste mesmo sentido explica Almeida116:
Aquela em que o capital, tal como as sociedades anônimas, se
dividem em ações, respondendo os acionistas apenas pelo preço
das ações submetidas ou adquiridas, assumindo os diretores,
responsabilidade solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.
A comandita por ações tanto pode usar a firma como a
denominação, acrescida, porém, do aditivo, escrito por extenso ou abreviado,
"comandita por ações". Mas, se utilizar a firma, nela só poderá constar os nomes
dos gerentes ou diretores117.
Neste mesmo entendimento Bertoldi118, dispõe:
A sociedade em comandita por ações também tem seu capital
social dividido em ações, podendo adotar como nome uma firma
ou denominação, sempre seguida das palavras “comandita por
ações”, por extenso ou abreviadamente. Caso adote como nome a
forma de firma, ela necessariamente deverá conter tão-somente
os nomes dos sócios diretores ou gerentes.
115
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 477.
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 154.
117
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 157.
118
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 176.
116
27
Ademais, a sociedade em comandita por ações, difere das
sociedades anônimas por não contar com conselho de administração, não pode
ter capital autorizado (autorização estatutária para aumento futuro do capital
social) e não pode emitir bônus de subscrição119.
1.2.2.2 SOCIEDADE COOPERATIVA
Com o a instituição do Código Civil em 2002, no intuito de
promover a unificação do sistema de direito privado, nos artigos 1093 e seguintes,
estabelece os princípios e características da sociedade cooperativa, ressalvando
a legislação especial.
A política nacional de cooperativismo prevê o patrocínio e
coordenação do sistema cooperativo por parte do Poder Público, especialmente o
federal, desenvolvido por meio de estímulos creditórios e financeiros. Esta política
nacional visa contemplar os seres criados por pessoas que reciprocamente se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade
econômica, de proveito comum e sem objetivo de lucro. Este conceito é fornecido
pelo art. 3º da Lei nº. 5764/71120.
Art. 3º - Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas
que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício de uma atividade economia, de proveito comum,
sem objetivo de lucro.
A finalidade da obtenção de lucro é marca registrada em
todos os tipos de sociedades, porém na cooperativa ele é substituído pelo
proveito comum, resultante do esforço solidário dos cooperados. A ajuda mútua é
a força que impera na essência das cooperativas, superando até mesmo a
agregação de capitais. A cooperativa visa não ao proveito egoístico do capitalista,
que agrega capital e assume riscos para obter lucro, mas, por meio do
119
120
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 177.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 423.
28
desenvolvimento econômico e social que propiciar a melhoria da qualidade de
vida dos seus membros121.
O traço de distinção entre a cooperativa e os demais tipos
de sociedades empresárias se fixa no momento em que “nessas o sócio investe
para buscar resultados lucrativos proporcionais aos riscos (normalmente tendo
como referencial o valor de sua participação no capital social)”, enquanto na
“cooperativa o móvel que atrai a filiação do cooperado não é obtenção de lucros,
mas a possibilidade de utilizar-se dos serviços da sociedade para melhorar a sua
própria situação econômica”122.
O artigo 1094 do CC123, sobre as características das
sociedades cooperativas:
Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:
I – variabilidade, ou dispensa do capital social;
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a
administração da sociedade, sem limitação de número máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que
cada sócio poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos
à sociedade, ainda que por herança;
V - quorum, para a assembléia geral funcionar e deliberar,
fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no
capital social representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou
não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua
participação;
121
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 423.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 425.
123
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
122
29
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das
operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser
atribuído juro fixo ao capital realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda
que em caso de dissolução da sociedade.
Acerca dos tipos e objetivos das cooperativas, Requião124
ensina:
Existem três tipos e objetivos de cooperativas. As cooperativas
singulares estão voltadas para a prestação de serviços aos
associados e serão mistas se se dedicarem a mais de um objetivo
ou atividade. As cooperativas centrais ou federações terão por
objetivo organizar, em comum e em maior escala, os serviços
econômicos e assistências de interesse das filiadas, orientado sua
atividades, facilitando a utilização recíproca de serviços. E as
confederações de cooperativas têm por objetivo coordenar a
atividade das afiliadas nos casos em que o vulto dos
empreendimentos ultrapassarem o âmbito e a capacidade ou
conveniência de atuação das centrais e federações.
1.2.2.3 SOCIEDADES ANÔNIMAS
As sociedades anônimas tiveram o surgimento devido a
grandes empreendimentos, que exigiam um volume de investimento muito
grande. Atualmente ela também se destina, na maior parte dos casos, a grandes
empreendimentos onde o capital necessário deve ser buscado através de várias
pessoas na busca pela obtenção de capital.
Almeida125 conceitua sociedade anônima como:
A pessoa jurídica de direito privado, de natureza mercantil, com
capital dividido em ações, sob uma denominação, limitando-se a
responsabilidade dos acionistas ao preço de emissão das ações
subscritas ou adquiridas.
124
125
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. p. 425.
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 172.
30
Coelho126 conceitua da seguinte forma:
A sociedade anônima, também referida pela expressão
companhia, é a sociedade empresária com capital social dividido
em ações, espécie de valor mobiliário, na qual os sócios,
chamados acionistas, respondem pelas obrigações sociais até o
limite do preço de emissão das ações que possuem.
Para atrair estes investidores e tornar possível o crescimento
da sociedade, criaram-se fatores decisivos para que fosse alvo desta obtenção de
capital.
Coelho127 nos esclarece acerca destes fatores:
O fator decisivo a ser levado em consideração por tais
investidores será o grau de segurança e liquidez apresentado pela
alternativa de investimento na sociedade anônima. A limitação da
responsabilidade e a negociabilidade da participação societária,
características da anônima, revelam-se os mecanismos
apropriados à atração desse capital.
As suas características fundamentais são, a limitação da
responsabilidade dos sócios e a negociabilidade da participação societária,
instrumentos imprescindíveis para despertar o interesse de investidores e
propiciar a reunião de grandes capitais128.
Bertoldi129 cita algumas características fundamentais acerca
da sociedade anônima:
As sociedades anônimas têm como características, o capital social
é dividido em ações, é sociedade de capital e não de pessoas, a
responsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas, é sempre empresarial,
independentemente de seu objeto social, há a possibilidade de
subscrição do capital social mediante apelo ao publico.
126
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 63.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 59.
128
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 59.
129
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 210.
127
31
Embora muitos tenham vontade e uma boa idéia para um
empreendimento de grande porte muitas vezes isto não é possível por falta de
recursos, e a sociedade anônima segundo Bertoldi disponibiliza esta necessidade,
“a possibilidade de subscrição do capital social mediante apelo ao público é sem
duvida a sua característica fundamental”130.
Por estar geralmente ligada as atividades econômicas de
grande porte, o estado acaba interferindo mais na sua constituição e
funcionamento do que no das demais sociedades. E realmente foi pelo interesse
estatal que estas sociedades foram erguidas, na certeza de lucro certo por parte
destes131.
A sociedade anônima é uma típica sociedade de capital,
com suas ações transferíveis a qualquer pessoa, não havendo nenhum
impedimento para a livre negociação das mesmas. O que importa para a
sociedade é a contribuição dos sócios para a reunião de capital, sem se importar
com a qualidade deste132.
A denominação na sociedade anônima deverá ser sempre
ligada a seu ramo de atividade ou então a pessoa que se quer homenagear, sem
a utilização de firma ou razão social.
Coelho133 ensina:
Na denominação, é obrigatória a identificação do tipo societário
por meio da expressão, sociedade anônima, ou a abreviatura, S/A,
ou companhia, abreviatura Cia.
O legislador criou dois tipos de sociedades anônimas, as
abertas e as fechadas.
A companhia aberta pode ser conceituada, segundo
Almeida
130
134
, como:
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 211.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 60.
132
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 211.
133
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 79.
131
32
Aquela que procura captar recursos junto ao público, seja com a
emissão de ações, debêntures, partes beneficiárias ou bônus de
subscrição, ou ainda depósitos de valores mobiliários e que, por
isso mesmo, tenha admitido tais valores à negociação em Bolsa
(instituição pública ou privada destinada a operar ações e
obrigações da companhia) ou mercado de balcão (transação dos
mesmos valores sem a intervenção da Bolsa).
Sobre o mesmo tipo, ilustra Coelho135:
As sociedades anônimas abertas contam com recursos captados
junto ao mercado de capitais, e, por isso, sujeita-se a sua
administração à fiscalização governamental. O objetivo desse
controle é conferir ao investimento em ações e outros valores
mobiliários dessas companhias a maior segurança e liquidez
possível.
Bertoldi136 nos ensina sobre a anônima aberta:
A aberta caracteriza-se pelo fato de buscar recursos junto ao
publico em geral, oferecendo os valores mobiliários de sua
emissão a qualquer pessoa, indistintivamente.
Por essa abertura ao público, cabe aos administradores
comunicar automaticamente, aos órgãos de empresa e a bolsa de valores, todos
os atos cometidos e assembléias, para que o rumo da empresa e suas decisões
sejam divulgadas aos investidores137.
As companhias com pequeno número de sócios e cujas
ações não são ofertadas ao público em geral são chamadas de companhias
fechadas. Elas não precisam da abertura ao público para alcançar o seu
financiamento. Previamente determinados em um grupo restrito de pessoas, os
interesses tanto da companhia quanto dos seus sócios, são regulados no âmbito
privado do contrato, sendo dispensado o interesse coletivo138.
134
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 209.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 67.
136
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 216.
137
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 216.
138
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 215-216.
135
33
Já a companhia fechada, segundo Almeida139, é aquela:
Onde não formula apelo à poupança pública, obtendo recursos
entre os próprios acionistas ou subscritores. É, a rigor, a
sociedade anônima tradicional, restrita à famílias ou grupos e que,
por isso mesmo, dispensa a tutela estatal.
Silva140 nos ensina acerca da anônima fechada:
São anônimas fechadas, quando seus valores mobiliários não
estão em negociação nos mercados mobiliários, a cargo do
mercado de balcão ou das bolsas de valores.
A constituição destas sociedades anônimas, como a de toda
sociedade, deverá preencher alguns requisitos. A subscrição de todas as ações
em que se divide o capital social, por pelo menos duas pessoas, a realização
inicial de no mínimo 10% do preço de emissões das ações subscritas em dinheiro
e a efetivação do depósito no Banco do Brasil, ou em outro estabelecimento
bancário autorizado, da parte do capital em dinheiro141.
Uma dos aspectos importantes presentes nas sociedades
anônimas é a liquidez. A liquidez é um atributo do investimento relacionado à
facilidade de redisponibilização do dinheiro correspondente. O investidor, na
maior parte das vezes, não precisa deste dinheiro para pagar despesas, ou não
encontra outros meios de investir naquele determinado momento, então aplica em
ações. A qualquer modo, uma hora o investidor retomar aquele recurso, neste
momento a disponibilidade de reaver o dinheiro investido deve ser rápida. Se o
investimento tem liquidez, ele conseguirá retomar rapidamente o investimento 142.
Em segundo capitulo aborda-se o grupo de sociedades.
139
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. p. 209.
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 65.
141
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 66.
142
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 67-68.
140
34
CAPÍTULO 2
DO GRUPO DE SOCIEDADES
Com a modernização e desenvolvimento do mercado, as
exigências por parte do mesmo começaram a surgir, não bastava ser uma
empresa forte economicamente, ela deveria capitalizar vários nichos de negócio.
Partindo desta idéia os empresários sentiram a necessidade de investir em
variadas formas de empreendimento, para a expansão de sua atividade
econômica.
O surgimento dos grupos empresariais foi a resposta destes
empreendedores com a visão de uma empresa, ou grupos de empresas, forte
para obter poder sobre o mercado.
O desenvolvimento de técnicas e idéias dos grandes grupos
de
sociedades
gerou
uma
verdadeira
revolução
no
direito
comercial,
conseqüência da concentração econômica das empresas143.
Com empresas fortes, o desenvolvimento econômico destes
grupos traduz ascensão, gerando sempre um poder maior de competitividade.
A busca pela liderança de mercado, melhoramento da
produção, assim como o desenvolvimento tecnológico em todos os processos da
empresas, fez com que elas buscassem o aglutinamento para alcançar este
objetivo144.
Uma empresa que opera sozinha consegue obter um ganho
razoável para o investimento em tecnologia. Por outro lado, um grupo de
sociedades tem a capacidade de canalizar muito mais recursos para o
143
144
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 24 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 2v, p. 271.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2v., p. 271.
35
desenvolvimento tecnológico, colocando-as a frente das demais em termos de
estrutura e desempenho.
Foi deste principio que os grupos de sociedades surgiram.
As multinacionais foram os grandes exemplos, pelo seu poder e estrutura, sob a
forma de holdings145.
O
espanto
devido
à
aparecimento
força
tinham
destas
para
multinacionais
mobilizar-se
causava
nacionalmente.
certo
Os
empreendedores nacionais tiveram que despertar e aceitar que estas vieram para
ficar e se quisessem continuar crescendo teriam que analisar o mercado de outra
forma, com mais comprometimento, dinamismo e voltados para as tendências
tecnológicas.
A união de sociedades não pode ser vista como uma
mudança fácil. O grupo de sociedades deve manter as características de cada
empresa, sua personalidade jurídica não é alterada, assim como seu patrimônio
próprio que permanece intacto.
O que se busca com o grupo de sociedades, é o
fortalecimento de todos. Cada um com seu ramo de negócio, porém com as
diretrizes estipuladas pela coordenação, para que o fortalecimento caminhe
uniforme em todas elas.
O grupo de sociedades surge da combinação de esforços
para a realização de objetos sociais.
Coelho146 ensina acerca deste assunto:
No grupo, cada filiada conserva a sua personalidade jurídica e
patrimônio próprio. Não existe solidariedade entre elas, salvo por
sanções decorrentes de infração da ordem econômica, por
obrigações previdenciárias ou trabalhistas. A formação do grupo
objetiva a coordenação ou subordinação da administração das
sociedades filiadas, definindo-se uma delas, necessariamente
brasileira, como a líder. A convenção pode prever, para esse fim,
145
146
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2v, p. 271.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 490.
36
a existência de órgãos de deliberação colegiada e cargos de
direção geral. Além das demonstrações financeiras específicas de
cada sociedade filiada, deverá ser feita a consolidação destas,
para analise, pelos interessados, da situação do grupo.
No grupo de sociedades encontra-se sempre a sociedade
controladora, necessariamente nacional, que designará o rumo a ser tomado, e as
diretrizes a ser seguidas, estabelecendo uma convenção, onde ficará definida
toda a diretoria do grupo, e também a responsabilidade pelas demonstrações
financeiras de cada filiada.
Acerca da convenção do grupo ensina Bertoldi147:
A convenção de grupo deverá ser aprovada em assembléia geral
das sociedades que dele participem, com a aprovação de
acionistas que representem metade, no mínimo, das ações com
direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo estatuto,
considerando-se constituído a partir do momento em que a
convenção de constituição e documentos relacionados a ela forem
arquivados no Registro Público das Empresas Mercantis.
As sociedades podem associar-se sob três modos, grupo de
fato, grupo de direito, consórcio.
2.1 GRUPO DE FATO
O grupo de fato caracteriza-se pela união de duas ou mais
sociedades, que participam com ações entre si, sem que registrem esta ligação.
Cada sociedade gerência seu próprio negócio, não criando nenhum vínculo de
solidariedade.
Neste grupo encontram-se quaisquer sociedades sob
relação de controle ou coligação148.
Bertoldi149 ensina acerca deste grupo:
147
148
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 346.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 490.
37
Os grupos de fato, constituem-se de sociedades que se
relacionam mediante a participação acionaria de umas em relação
a outras, todas pertencentes a uma mesma organização de fato.
Estas se apresentam sob a forma de coligadas, controladoras e
controladas.
É o entendimento de Requião150:
São grupos de fato as sociedades que mantêm, entre si, laços
empresariais através de participação acionária, sem necessidade
de se organizarem juridicamente. Relacionam-se segundo o
regime legal de sociedades isoladas, sob a forma de coligadas,
controladoras e controladas, no sentido de não terem necessidade
de maior estrutura organizacional.
Cada sociedade permanece com sua personalidade jurídica.
Não constituem nenhum órgão deliberativo, ou uma convenção, somente existe o
vínculo acionário.
O grupo de fato é constituído por controladora e controlada
ou sociedades coligadas. Existem três tipos de coligadas, as controladas; filiadas;
de simples participação151.
Para as controladas encontra-se duas outras categorias que
são as controladas por controle direto e as por controle indireto, nas controladas
por controle direto, a maior parte do capital está na posse de outra sociedade e,
portanto ela tem autonomia para eleger grande parte dos administradores. Já nas
controladas por controle indireto, onde a sociedade que detem a maioria das
quotas é controlada por uma terceira que possua a maior parte dos votos nas
deliberações, permitindo-lhe eleger a maioria dos administradores152.
O artigo 1098 do Código Civil153 dispõe sobre as controladas
por controle direto no inciso primeiro e por controle indireto no inciso segundo:
Art. 1.098. É controlada:
149
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 344.
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2v, p. 273.
151
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 465.
152
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 465.
153
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
150
38
I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria
dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral
e o poder de eleger a maioria dos administradores;
II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente,
esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas
por sociedades ou sociedades por esta já controladas.
Outro tipo de coligadas são as filiadas. Sociedades onde o
capital em torno de dez por cento pertence à outra sociedade sem que esta a
controle.
O artigo 1099 do Código Civil154 cita a respeito das filiadas:
Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital
outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital
da outra, sem controlá-la.
A sociedade de simples participação é aquela em que outra
sociedade obtém menos de dez por cento do seu capital, porem tem direito a
voto.
Está disposto no artigo 1100 do Código Civil155, a respeito da
sociedade de simples participação:
Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital
outra sociedade possua menos de dez por cento do capital com
direito de voto.
Nos grupos de fato uma das principais atribuições é garantir
a transparência entre coligadas e entre as controladoras, através de regras
próprias sobre as demonstrações financeiras.
O artigo 247 da lei 6404/76 dispõe acerca das informações
que deveram ser especificadas nas demonstrações financeiras:
154
155
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
39
Art. 247. As notas explicativas dos investimentos relevantes
devem conter informações precisas sobre as sociedades
coligadas e controladas e suas relações com a companhia,
indicando:
I - a denominação da sociedade, seu capital social e patrimônio
líquido;
II - o número, espécies e classes das ações ou quotas de
propriedade da companhia, e o preço de mercado das ações, se
houver;
III - o lucro líquido do exercício;
IV - os créditos e obrigações entre a companhia e as sociedades
coligadas e controladas;
V - o montante das receitas e despesas em operações entre a
companhia e as sociedades coligadas e controladas.
O artigo 250 da Lei 6404/76 dispõe sobre os aspectos que
não deveram constar nas demonstrações financeiras:
Art. 250. Das demonstrações financeiras consolidadas serão
excluídas:
I - as participações de uma sociedade em outra;
II - os saldos de quaisquer contas entre as sociedades;
III - as parcelas dos resultados do exercício, dos lucros ou
prejuízos acumulados e do custo de estoques ou do ativo
permanente que corresponderem a resultados, ainda não
realizados, de negócios entre as sociedades.
§ 1º A participação dos acionistas não controladores no patrimônio
líquido e no lucro do exercício será destacada, respectivamente,
no balanço patrimonial e na demonstração do resultado do
exercício.
40
§ 2º A parcela do custo de aquisição do investimento em
controlada, que não for absorvida na consolidação, deverá ser
mantida no ativo permanente, com dedução da provisão
adequada para perdas já comprovadas, e será objeto de nota
explicativa.
§ 3º O valor da participação que exceder do custo de aquisição
constituirá parcela destacada dos resultados de exercícios futuros
até que fique comprovada a existência de ganho efetivo.
§ 4º Para fins deste artigo, as sociedades controladas, cujo
exercício social termine mais de 60 (sessenta) dias antes da data
do encerramento do exercício da companhia, elaborarão, com
observância das normas desta Lei, demonstrações financeiras
extraordinárias em data compreendida nesse prazo.
O grupo de fato não é formalmente convencionado através
do registro na Junta Comercial.
2.2 GRUPO DE DIREITO
O grupo de direito, até como o nome já sugere, está
caracterizado de fato e de direito, devidamente registrado e organizado.
Neste grupo a combinação de esforços é formalizada por
uma convenção, registrada na Junta Comercial. Rubens Requião entende que
para o grupo ser considerado de direito “deve haver uma convenção, formalizada
no Registro Público de Empresas Mercantis, tendo por objetivo uma organização
composta de companhias, mas com disciplina própria, sendo reconhecidas pelo
direito”156.
O grupo necessita ser reconhecido em direito para que a
expressão, grupo de direito, possa ser utilizada.
156
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2v, p. 273.
41
Negrão157 ensina acerca da consideração legal do grupo:
Somente após o registro na Junta Comercial da convenção de
constituição de grupo é que se considerará legalmente instituído,
com direito de usar essa expressão. O registro far-se-á com a
convenção devidamente aprovada, acompanhada das atas das
assembléias ou instrumentos de alteração social que a
autorizaram, bem como de declaração autenticada do número das
ações ou quotas de que a sociedade de comando e as demais
sociedades integrantes são titulares em cada sociedade filiada, ou
exemplar de acordo de acionistas que assegura o controle de
sociedade filiada.
O grupo de direito, também chamado holding, está previsto
no art. 265 da Lei n. 6404/76:
Art. 265. A sociedade controladora e suas controladas podem
constituir, nos termos deste Capítulo, grupo de sociedades,
mediante convenção pela qual se obriguem a combinar recursos
ou esforços para a realização dos respectivos objetos, ou a
participar de atividades ou empreendimentos comuns.
§ 1º A sociedade controladora, ou de comando do grupo, deve ser
brasileira, e exercer, direta ou indiretamente, e de modo
permanente, o controle das sociedades filiadas, como titular de
direitos de sócio ou acionista, ou mediante acordo com outros
sócios ou acionistas.
A obrigação que as sociedades criam umas com as outras é
o que as tornam fortes e competitivas. O desenvolvimento surge pelo
comprometimento e visão que juntas conseguem alcançar.
Negrão158 ensina sobre o grupo de direito:
O grupo de direito estabelece mediante convenção pela qual, as
sociedades se obrigam a combinar recursos ou esforços para a
realização dos respectivos objetos ou a participar de atividades ou
empreendimentos comuns. A sociedade comandante deve ser
necessariamente brasileira e o contrato registrado na Junta
157
158
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 466.
42
Comercial. A ligação entre elas identifica-se com a expressão
“grupo de sociedades” ou, simplesmente, “grupo”, criando uma
nova estrutura administrativa e, ainda, podendo instituir órgão de
deliberação colegiada e cargos de direção geral.
A direção geral, juntamente com o órgão de deliberação
traça a melhor estratégia para as sociedades alcançarem seus objetivos, suas
metas e tornando-as mais eficientes. No grupo de sociedades um ponto
importante, da direção geral, é a analise se cada sociedade do grupo está
alcançando o que lhes foi proposto.
Para escolher as metas e caminhos a serem seguidos devese elaborar uma convenção, e esta deverá obedecer aos requisitos do artigo 269
da Lei 6404/76:
Art. 269. O grupo de sociedades será constituído por convenção
aprovada pelas sociedades que o componham, a qual deverá
conter:
I - a designação do grupo;
II - a indicação da sociedade de comando e das filiadas;
III - as condições de participação das diversas sociedades;
IV - o prazo de duração, se houver, e as condições de extinção;
V - as condições para admissão de outras sociedades e para a
retirada das que o componham;
VI - os órgãos e cargos da administração do grupo, suas
atribuições e as relações entre a estrutura administrativa do grupo
e as das sociedades que o componham;
VII - a declaração da nacionalidade do controle do grupo;
VIII - as condições para alteração da convenção.
43
Parágrafo único. Para os efeitos do número VII, o grupo de
sociedades considera-se sob controle brasileiro se a sua
sociedade de comando está sob o controle de:
a) pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil;
b) pessoas jurídicas de direito público interno; ou
c) sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou
indiretamente, estejam sob o controle das pessoas referidas nas
alíneas a e b.
A convenção nada mais é que as diretrizes que o grupo
deverá estabelecer e cumprir ao longo de seu empreendimento.
Os administradores eleitos, do grupo de direito, deverão
estabelecer as instruções que os administradores das filiadas irão observar,
sempre observando as orientações gerais estabelecidas previamente pelo
grupo159.
São os administradores que guiarão o grupo, porém sempre
resguardando todas as premissas estipuladas na convenção.
2.3 CONSÓRCIO
O consórcio é um contrato firmado entre duas ou mais
sociedades para executarem um determinado empreendimento. Finalizado o
empreendimento, o consórcio criado se desfaz.
É o entendimento de Coelho160:
As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo
controle ou não, podem constituir consórcio para executar
determinados empreendimentos. Desta união de esforços
empresariais não resulta uma nova pessoa jurídica. Por outro
159
160
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 490.
44
lado, entre as consorciadas não se estabelece solidariedade,
exceto relativamente às obrigações perante consumidores, às
trabalhistas e nas licitações.
Neste sentido a legislação das sociedades anônimas, a Lei
6404/76, evidencia esta associação com objetivo determinado:
Art. 278. As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o
mesmo controle ou não, podem constituir consórcio para executar
determinado empreendimento.
Neste sentido ensina Negrão161:
Nada mais é do que o contrato entre duas ou mais sociedades,
sob o mesmo controle ou não, para executar determinado
empreendimento. Sua constituição prescinde de estarem às
sociedades consorciadas sob o mesmo controle, de fato e de
direito.
Está união para um único empreendimento pode ser visto
como uma vontade mútua para que o negócio seja feito, porém, ao mesmo tempo
os recursos de ambos estão limitados e sem a formação de um consórcio não
haveria a possibilidade de ser executado.
Segundo Bertoldi162:
Sempre que duas ou mais sociedades unirem esforços para a
execução de um empreendimento comum, que normalmente não
conseguiriam realizar sozinhas, poderão constituir um consórcio.
Nessa forma contratual as sociedades consorciadas somente se
obrigam nas condições previstas no respectivo contrato,
respondendo cada uma por suas obrigações, sem presunção de
solidariedade.
Este exemplo de grupo de sociedades é bastante utilizado
na construção civil, e em outros setores como na concorrência de obras públicas
e no setor de importação e exportação.
161
162
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 346.
45
Restringem-se as obrigações entre as sociedades às
condições previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas
obrigações, sem presunção de solidariedade163.
Mesmo em caso de falência de uma consorciada, nenhum
efeito se produzirá sobre os bens das outras, subsistindo o consórcio com as
demais contratantes os créditos que porventura tiver a falida serão apurados, e
pagos, na forma estabelecida no contrato de consórcio164.
Tratando-se de contrato bilateral, caberá ao administrador
judicial decidir se prossegue ou não com sua execução, ponderando os benefícios
e prejuízos que sua decisão acarretará à massa165.
A exceção aberta para os efeitos da relação de emprego
está disposta no artigo 2, parágrafo 2 da CLT:
Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou
coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada
uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a
direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo
industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica,
serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente
responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.
Os direitos salvaguardados aos empregados, assim como na
maioria das sociedades, estão amparados em lei, para que a parte mais fraca não
saia no prejuízo.
A assembléia geral ou o órgão competente deve aprovar o
contrato constituído pelas empresas consorciadas, no qual deverá constar o que
está disposto no artigo 279 da Lei 6404/76:
163
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
165
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 467.
164
46
Art. 279. O consórcio será constituído mediante contrato aprovado
pelo órgão da sociedade competente para autorizar a alienação
de bens do ativo permanente, do qual constarão:
I - a designação do consórcio se houver;
II - o empreendimento que constitua o objeto do consórcio;
III - a duração, endereço e foro;
IV - a definição das obrigações e responsabilidade de cada
sociedade consorciada, e das prestações específicas;
V - normas sobre recebimento de receitas e partilha de resultados;
VI - normas sobre administração do consórcio, contabilização,
representação das sociedades consorciadas e taxa de
administração, se houver;
VII - forma de deliberação sobre assuntos de interesse comum,
com o número de votos que cabe a cada consorciado;
VIII - contribuição de cada consorciado para as despesas comuns,
se houver.
Parágrafo único. O contrato de consórcio e suas alterações serão
arquivados no registro do comércio do lugar da sua sede, devendo
a certidão do arquivamento ser publicada.
O contrato e suas possíveis alterações deveram ser
arquivados na junta comercial do lugar de sua sede, devendo a certidão do
arquivamento ser publicada no órgão oficial da União ou do Estado, e em outro
jornal de grande circulação166.
166
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das Sociedades Comerciais. p. 309.
47
2.4 SOCIEDADES CONTROLADAS
Considera-se controlada a sociedade na qual a controladora,
diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe
assegurem, de modo permanente, a preponderância nas deliberações sociais e o
poder de eleger a maioria dos administradores.
Silva167, assim ao comentar as sociedades controladas,
ensina:
É aquela de cujo capital outra sociedade possui a maioria dos
votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e o
poder de eleger a maior parte dos administradores ou cujo referido
controle está em poder de outra, mediante ações ou quotas
possuídas por sociedades por estas já controladas.
As regras aplicadas nestas sociedades geralmente partem
de acordo com o que a outra sociedade define, uma vez que esta outra possui a
maioria dos votos nas deliberações.
Coelho168 define as controladas:
A sociedade controlada é definida como aquela de cujo capital
outra sociedade participa com a maioria dos votos nas
deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e tem o poder
de eleger a maioria dos administradores.
Os administradores das controladas irão buscar atender o
que lhes foi passado pelas controladoras.
O Código Civil169, no artigo 1098, dispõe sobre a matéria:
Art. 1.098. É controlada:
I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria
dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral
e o poder de eleger a maioria dos administradores;
167
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 82.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 488.
169
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
168
48
II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente,
esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas
por sociedades ou sociedades por esta já controladas.
As sociedades controladas ainda podem ser chamadas de
coligadas, assim ensina Silva170:
Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas relações
de capital, são controladas, filiadas ou de simples participação em
outras sociedades.
Neste mesmo sentido Negrão171 esclarece:
São chamadas coligadas as sociedades cujo capital ou parte dele
pertence à outra sociedade. A coligada será considerada em
outras três subespécies: controlada, filiada ou de simples
participação, conforme a extensão da relação de capital em poder
de outra.
A filiada é a sociedade cujo capital, na ordem de dez por
cento ou mais, pertence à outra sociedade, que, entretanto, não a controla. A de
simples participação é a sociedade de cujo capital outra sociedade possua menos
de dez por cento com direito a voto172.
O Código Civil173, dos artigos 1097, 1099 e 1100, traz a
legislação acerca das sociedades coligadas:
Art. 1.097. Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas
relações de capital, são controladas, filiadas, ou de simples
participação, na forma dos artigos seguintes.
Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital
outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital
da outra, sem controlá-la.
170
SILVA, Vander Brusso da. Direito Comercial. p. 82.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 246.
172
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 247.
173
BRASIL. Código Civil. 18 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
171
49
Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital
outra sociedade possua menos de dez por cento do capital com
direito de voto.
Outra classificação das controladas seria, a sociedade
controlada por controle direto e a por controle indireto.
Negrão174 ensina sobre a classificação das sociedades
controladas:
A controlada distingue-se em controlada por controle direto ou por
controle indireto. A primeira é aquela cujo capital pertence a outra
sociedade, que possui a maioria de votos nas deliberações dos
cotistas ou assembléia geral, permitindo-lhe eleger a maioria dos
administradores; a segunda, controlada por controle indireto, é
aquela cujo controle de ações ou quotas se encontra em poder de
outra sociedade ou sociedades, que por sua vez, é ou são
controladas por outra, que possui a maioria de votos nas
deliberações dos cotistas ou assembléia geral, permitindo-lhe
eleger a maioria dos administradores.
A sociedade controlada possui vida própria, e deve alcançar
os seus objetivos como uma sociedade unitária. Porém as decisões que ela toma
no sentido de estratégia, acabam sendo fiscalizadas pelas controladoras, que
formam a maior parte dos votos nas deliberações desta sociedade.
2.5 SOCIEDADES CONTROLADORAS
A sociedade controladora é aquela que diretamente ou
através de outras sociedades, é titular de direito de sócio que lhe assegure, de
modo permanente, a preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger
a maioria dos administradores175.
174
175
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. p. 247.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 488.
50
Segundo Rubens Requião, “preponderância foi a melhor
expressão que o legislador encontrou para, nesse caso, traduzir a idéia de
domínio de uma sociedade sobre a outra”176.
O controle que a sociedade controladora assume sobre as
controladas é para que estas sigam sempre o objetivo geral do grupo. Os
administradores do grupo de sociedades possuem uma capacidade limitada para
o controle total das mesmas, a saída é eleger pessoas capazes de assimilarem o
que lhes foi proposto e colocar em prática para que cada sociedade cresça da
melhor maneira possível.
Bertoldi177 ensina sobre a sociedade controladora:
A sociedade controladora, como tal, está obrigada a usar o poder
com o fim de fazer a companhia controlada realizar o seu objeto e
cumprir sua função social, tendo deveres e responsabilidades
para com os demais acionistas, os que nela trabalham e para com
a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses devem
lealmente respeitar e atender.
A controladora exige que as controladas respeitem de forma
que os interesses do grupo prevaleçam.
O artigo 116 da lei 6404/76 dispõe sobre a qualificação de
controlador:
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural
ou jurídica, ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto,
ou sob controle comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo
permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembléiageral e o poder de eleger a maioria dos administradores da
companhia; e
b) usa efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e
orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.
176
177
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 2v, p. 277.
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 344-345.
51
Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o
fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua
função social, e tem deveres e responsabilidades para com os
demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com
a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve
lealmente respeitar e atender.
A sociedade controladora deve obedecer aos requisitos do
artigo 269, parágrafo único da lei 6404/76, que diz:
Parágrafo único. Para os efeitos do número VII, o grupo de
sociedades considera-se sob controle brasileiro se a sua
sociedade de comando está sob o controle de:
a) pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil;
b) pessoas jurídicas de direito público interno; ou
c) sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou
indiretamente, estejam sob o controle das pessoas referidas nas
alíneas a e b.
Como o grupo é nacional, e atua no território brasileiro, a
controladora deve ser também nacional, para que além de seus interesses, os
interesses do Brasil prevaleçam.
Coelho178
ensina
sobre
as
normas
aplicadas
às
controladoras:
As suas demonstrações financeiras devem trazer informações
sobre investimentos relevantes nas controladas. Quando a
controladora é companhia aberta e tem mais de 30% do seu
patrimônio liquido representado por ações de sociedades sob o
controle, devem as suas demonstrações ser consolidadas com as
destas. É vedada a participação recíproca, entre a controladora e
a controlada, salvo nos casos em que a lei autoriza a companhia a
negociar com suas próprias ações ou, não sendo a controladora
sociedade anônima, no limite de suas reservas, excluída a legal.
Se a controladora pretende incorporar a controlada, e uma elas é
178
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. p. 488-489.
52
sociedade por ações, a operação envolve procedimentos
especiais, destinados à tutela dos direitos dos minoritários desta.
Bertoldi179 faz uma ultima colocação acerca das controladas:
É de se registrar que cabe à administração da companhia, por
determinação legal, levantar relatório anual relacionando ainda as
modificações ocorridas durante o exercício, bem como, em suas
demonstrações financeiras, deverá indicar notas explicativas dos
investimentos relevantes com informações precisas sobre as
sociedades coligadas e controladas e suas relações com a
companhia.
No capítulo seguinte estudar-se-á a holding, tipo de
sociedade controladora, que é o objetivo principal deste estudo.
179
BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de Direito Comercial. p. 345.
53
CAPÍTULO 3
HOLDING
3.1 CONCEITO DE HOLDING
Por vários anos, o mundo capitalista vem tendo um
crescimento promissor, onde empresas e empresários têm um ganho econômico
altíssimo conseguindo assim gerar lucros para a modernização e aumento em seu
empreendimento. Com o passar das décadas, na seqüência de um bem-estar
econômico aparece uma crise a qual pega desprevenidos estes empresários,
ocasionando uma perda no patrimônio liquido dos mesmos.
Rasmussen180 dispõe a respeito do assunto:
Cada um destes ciclos econômicos aumentava a velocidade da
obsolescência tecnológica e de estruturas de gestão, exigindo
novas técnicas de planejamento estratégico e cada vez mais o
passado, a extrapolação de dados econômicos históricos do
passado para o futuro, ficou mais limitado para planejar o
comportamento dos mercados e do macroambiente em geral.
Depois do último ciclo de exponencial crescimento, ficou eminente
o que as nações como os empreendimentos solitários ou isolados
têm menos chances de transformar oportunidades em benefícios
reais, em patrimônio liquido.
Em face do problema vivenciado por estas empresas, ficou
claro que alguma decisão deveria ser tomada a cerca do problema, consolidando
os poderes econômicos, para que estes ciclos econômicos não atrapalhassem o
crescimento das empresas.
180
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. 2 ed. São Paulo: Aduaneiras, 1991, p. 27.
54
Foi com este intuito que a sociedade criou ferramentas
legais como as empresas holdings. Com a idéia para tornar grupos econômicos
fortes e com potencial para suportar crises que surgissem.
Rasmussen181 dispõe a respeito do assunto:
Utilizando estas ferramentas estruturais para executar as
estratégias de consolidação e/ou afiliação, para formar grupos
econômicos fortes e poderosos, nós temos que estabelecer uma
nova dimensão para a gestão, um novo relacionamento entre os
reais proprietários do grupo econômico e aqueles que exercem o
poder de manipular estas riquezas no cotidiano, os gestores
profissionais.
Ainda a respeito da holding Rasmussen182 ensina:
Temos também que estabelecer um relacionamento operacional
entre o legislativo do grupo, o “deliberativo” e o executivo, a “alta
gestão”.
Nas holdings, ocorre a transmissão do poder de gestão, que
a primeira vista não é bem aceita pelos fundadores ou sucessores, uma vez que
estes “perdem” o poder de gestão para profissionais de fora de seu eixo familiar.
Essa mudança, no entanto, vem para uma melhora na gestão, já que estes que
irão cumprir esta função são profissionais altamente qualificados.
A Holding chegou ao Brasil nos anos 60, acompanhada
pelas multinacionais. Passaram anos até que o governo federal brasileiro e a
iniciativa privada olhassem este tipo de sociedade com interesse183.
Como é uma palavra estrangeira, que foi criada nos Estados
Unidos a tradução da palavra holding vem do Inglês, TO HOLD, que significa
segurar, manter controlar, guardar.
181
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 28.
182
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 28.
183
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 57.
55
Nos Estados Unidos é utilizada como Holding Company,
uma companhia cuja finalidade é manter ações de outras companhias 184.
Lodi185 traça as características destas companhias holding
nos Estados Unidos:
Qualquer empresa que mantém ações de outras companhias em
quantidade suficiente para controlá-las e emitir certificados
próprios. Em sua forma mais pura, a companhia holding não opera
partes de sua propriedade, mas direta ou indiretamente controla
as políticas operativas e habitualmente patrocina todo o
financiamento.
Lodi186 traz outra qualificação destas companhias:
Companhia holding é uma sociedade juridicamente independente
que tem por finalidade adquirir e manter ações de outras
sociedades, juridicamente independentes, com o objetivo de
controlá-las, sem com isso praticar atividade comercial ou
industrial.
Todos esses conceitos importados mostram uma posição
diferente da realidade brasileira. Ela conceitua a empresa só com sua finalidade
controladora. É a chamada holding pura. Sociedade holding pura é uma empresa
que, tendo como atividade única manter ações de outras companhias, as controla
sem distinção de local, podendo transferir sua sede social com grande
facilidade187.
O sentido do verbo HOLD, que é de segurar, manter,
controlar e guardar dá idéias muito mais amplas, tais como assegurar-se do
controle societário, manter o grupo ou somente uma única empresa sempre
lucrativa, controlá-la para que não se desvie de seus objetivos econômicos e
financeiros e guardá-la para próximas gerações188.
184
LODI, João Bosco. Holding. 3 ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004, p. 4.
LODI, João Bosco. Holding. p. 4.
186
LODI, João Bosco. Holding. p. 4.
187
LODI, João Bosco. Holding. p. 4.
188
LODI, João Bosco. Holding. p. 4.
185
56
No Brasil a holding mista é a mais usada, por questões
fiscais e administrativas, prestando serviços civis e até mesmo comerciais,
entretanto nunca industriais. No panorama nacional a holding deverá ser uma
sociedade simples limitada ou simplesmente uma limitada, excepcionalmente ela
poderá apresentar a forma de uma sociedade anônima189.
A holding é uma ferramenta administrativa. O empresário ao
pensar em formar uma ou mais holdings está pensando em grupos societários,
compartilhando gerências e controles, considerando parcerias e estabelecendo
não só proteções patrimoniais, mas buscando solidez empresarial 190.
Ele deve estar ciente que a vontade dele nem sempre será o
melhor para o grupo, por isso sempre deve ser planejado e discutido.
O acionista controlador tem tranqüilidade de decisões bem
elaboradas, um quadro de empregados de alto nível, cada sócio cumprindo seu
papel dentro do grupo empresarial. Segundo Lodi, “é a preservação dos valores
pessoais de cada fundador e empreendedor. É a preservação dos valores
culturais de seu grupo familiar”191.
Uma grande diferença, entre as empresas isoladas e um
grupo que constitui uma holding para gerir todas estas empresas, está na forma
como é administrada. As empresas sempre foram administradas e controladas
por seus fundadores ou sucessores, de maneira que estes tinham total poder
sobre as empresas.
Rasmussen192 dispõe a respeito do assunto:
Está nítida separação, entre o legislativo e o executivo de
empresas, não é tão fácil no âmbito brasileiro, onde a maioria da
iniciativa privada são grupos familiares, onde os fundadoresgestores, ou seus sucessores, reinavam irrestritamente, sem
189
LODI, João Bosco. Holding. p. 4-5.
LODI, João Bosco. Holding. p. 5.
191
LODI, João Bosco. Holding. p. 6.
192
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 29.
190
57
formar em critério de separação de propriedade de pessoa física e
propriedades da pessoa jurídica.
Esse total controle muitas vezes desestabiliza as empresas
e cria atritos entre os administradores. O sentido da holding é pensar e canalizar
esforço dentro dela, sem que fatores emocionais a atrapalhem.
A holding atua como a controladora de outras sociedades,
as chamadas operadoras, visando sempre o desenvolvimento de todas, mas
principalmente os resultados que estas devem obter. Ela pensa sempre para
dentro do grupo.
A
holding
deve
estar
atenta
a
necessidades
de
modernização de capital de giro de cada operadora. É de sua competência a
uniformização de suas políticas e procedimentos, principalmente as contábeis,
para consolidar em um único relatório todas as informações ao bom desempenho
do grupo193.
É o entendimento de Lodi194:
Enquanto as empresas, chamadas operadoras estão preocupadas
com o mercado em que atuam, com as tendências dos clientes,
com a concorrência e com outros problemas externos, a holding
tem uma visão voltada para dentro. Seu interesse é a
produtividade de suas empresas controladas e não o produto que
elas oferecem.
A holding como empresa controladora tem como meta
principal a rentabilidade. As operadoras devem alcançar o nível máximo de seu
desempenho, que anteriormente já foi estipulado pela controladora, para o grupo
fortalecer.
As holdings não trabalham com produtos de venda ao
consumidor final, os produtos são os investimentos que elas controlam. Podendo
ser fábricas, prestações de serviços, atividades rurais, grupos empresariais,
193
194
LODI, João Bosco. Holding. p. 6.
LODI, João Bosco. Holding. p. 1.
58
aplicações financeiras, compra de ações ou meras cadernetas de poupança,
todas estas formas de investimento são produtos da holding195.
A lucratividade destes investimentos é o objetivo buscado
pela empresa, exigindo uma fiscalização constante pelos diretores e gerentes.
Os diretores da holding irão estabelecer as diretrizes
estratégicas, para assegurar a eficiência das controladas. O conhecimento das
possibilidades e a vocação de suas controladas é essencial para o crescimento
das mesmas196.
A holding faz o elo que liga o empresário e sua família ao
seu grupo patrimonial. Não só que possam fiscalizar, administrar, avaliar
melhorias e planejar ações em cada empresa, ou sociedade, do grupo, mas
através da representação societária em seu conselho de administração a holding
tem a capacidade de limitar este conflito entre grupo empresarial e os
investidores197.
Para que haja eficiência nos negócios, é fundamental que
exista uma filosofia empresarial em seu controle. À medida que a empresa cresce
é necessário que o poder seja compartilhado com as gerações que sucedem.
Neste caso a holding é fundamental198.
A holding é a solução para as transferências necessárias e a
maior longevidade do grupo societário.
É o entendimento de Lodi199:
A pessoa física é efêmera, a pessoa jurídica transcende gerações.
A pessoa física morre. A pessoa jurídica é mal-administrada. Para
a morte não há solução, mas para a má administração mudam-se
os administradores.
195
LODI, João Bosco. Holding. p. 1.
LODI, João Bosco. Holding. p. 1.
197
LODI, João Bosco. Holding. p. 6.
198
LODI, João Bosco. Holding. p. 6.
199
LODI, João Bosco. Holding. p. 6.
196
59
Deste principio firma-se a idéia de que o grupo societário
deve pensar para dentro dele. Se a administração está sendo mal conduzida,
mesmo que sendo por algum sócio-administrador, ou um familiar, ela deve e tem
que ser modificada, para que a empresa não perca com a má administração.
No mundo inteiro a pessoa física é penalizada com altos
impostos, as altas taxas para as pessoas físicas são um incentivo à formação de
empresas.
As
empresas
que
são
mais
transparentes,
mais
responsáveis, devem ser administradas por gerencias capazes, geram mais
empregos, desenvolvem a economia e deveriam ser mais independentes de
aprovação ou favores governamentais. O estimulo a criação destas empresas
deveria ser maior200.
Dentre todos os pontos salientados como importantes nas
holdings, saber o que se deseja alcançar, encarar com profissionalismo os fatos
vivenciados, criar estratégias, sempre se preocupando com os resultados
internos, assim como ordenar o grupo familiar de maneira correta, para que não
haja prejuízo da gestão empresarial, tudo isso é um conceito de holding. Para
Lodi, “a holding é a solução voltada mais para a pessoa física e uma
complementação técnica e administrativa para a pessoa jurídica”201.
3.1.1 Principais Finalidades da Holding
A holding tem a finalidade de manter a maior parte das
ações de outras empresas, portanto mantendo o controle de grupos empresariais.
Isto não quer dizer que ela tenha a totalidade das ações, mas sim em número e
quantidade suficiente para influir diretamente nas decisões. Finalidade na qual ela
evita que o grupo se espalhe em conseqüência de sucessivas alienações 202.
200
LODI, João Bosco. Holding. p. 7.
LODI, João Bosco. Holding. p. 7.
202
LODI, João Bosco. Holding. p. 7.
201
60
Os seus investimentos podem ter alcance internacional,
obtendo um caráter de internacionalidade, por manter ações de companhias que
não estejam no Brasil. Ela se mostra importante como ponte controladora de
exportação, importação e investimentos estrangeiros 203.
Outro ponto favorável é a sua grande mobilidade. A holding
poderá se instalar em qualquer local a qualquer tempo, não sendo necessário a
mobilização geral do grupo, somente dos que a compõem efetivamente 204.
A finalidade da holding não é atender o mercado final, pois
ela está sempre preocupada com a questão interna da grupo. Desta forma a
holding não deve operar como uma indústria, pois esse tipo de atividade é
chamada operativa e está voltada para fora, para o mercado. Lodi relata “que esta
é uma questão muito delicada já que, como a holding é uma manifestação de
vontade, quase sempre de um fundador, os argumentos dessa escolha são
diversificados”205.
Outra finalidade encontrada para a holding é a de manter
minoritariamente ações de outras empresas com a finalidade de investimento ou
de administração, através de acordos societários estabelecendo parcerias. Em
alguns casos,
as holdings são formadas simplesmente
para participar
minoritariamente, recebendo dividendos sem intenção de gerir essas empresas.
Os demais objetivos são somente meio e não fim206.
Os lucros gerados nas controladoras são reaplicados parcial
ou totalmente, protegendo assim o negócio e satisfazendo os investidores.
203
LODI, João Bosco. Holding. p. 7.
LODI, João Bosco. Holding. p. 7-8.
205
LODI, João Bosco. Holding. p. 8.
206
LODI, João Bosco. Holding. p. 8
204
61
3.1.2 Razões para a Formação de uma Holding
O custo para se manter uma holding é muito menor. O
número de funcionários é restrito, permanecendo suas ações em sigilo, que é
primordial aos bons negócios207.
Mediante treinamento de funcionários, a holding pode
profissionalizar a direção da Empresa-mãe, servindo como teste para escolha
mais segura de diretores.
É o entendimento de Lodi208:
A holding também simplifica o topo administrativo da Empresamãe, não ficando esta sobrecarregada de diretores e funcionários
que prestam serviços a outras empresas do grupo, evitando, com
isso, que não se possa avaliar a real rentabilidade ou custo da
empresa operadora.
A holding é o ideal para evitar problemas de sucessão
administrativa, treinando sucessores e profissionais de empresa, para alcançar
cargos de direção. Ela possibilita experiências mais profundas, tendo uma visão
generalista, contrapondo-se a visão especialista da operadora209.
Rasmussen210 dispõe uma visão um pouco mais rígida a
respeito do assunto:
Os gestores ou executivos não são os “todo-poderosos”. Por outro
lado, os fundadores ou seus remanescentes, neste processo de
consolidação, deveriam desistir do seu envolvimento direto nos
assuntos administrativos do grupo, e deveriam transferir as
atividades cotidianas para profissionais qualificados com
comprovados talentos para esta atividade.
207
LODI, João Bosco. Holding. p. 9.
LODI, João Bosco. Holding. p. 11.
209
LODI, João Bosco. Holding. p. 8.
210
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 29.
208
62
Na verdade o que se busca é a melhor administração
possível, não importando se o administrador serão os sucessores ou profissionais
contratados. O objetivo é ter administradores competentes para gerir o grupo.
Os problemas relacionados à herança e sucessão são muito
encontrados nas empresas, este é outro ponto importante que a holding
soluciona. Ela substitui em parte as declarações testamentárias, podendo indicar
especificadamente os sucessores da sociedade, sem atrito ou litígios judiciais. A
visão da holding é fundamental nesses casos, para que as empresas não tenham
prejuízo211.
O patrimônio da operadora deve sempre ser resguardado. A
holding irá administrar tanto seus bens imóveis, quanto os bens moveis, evitando
possíveis conflitos212.
Problemas pessoais ou familiares não afetam diretamente as
operadoras. Em caso de dissidências entre parentes ou espólio, a holding que
decidirá sobre as diretrizes a serem seguidas. Ela age como pessoa jurídica e não
como pessoas físicas emocionadas.
Lodi213 aponta como uma das razões:
A Holding atende também a qualquer problema de ordem pessoal
ou social, podendo equacionar uma série de conveniências de
seus criadores, tais como: casamentos, desquites, separação de
bens,, comunhão de bens, autorização do cônjuge para a venda
de imóvel, procurações, disposições de última vontade. A cada
tipo de problema existe um tipo de Holding, aliada a outros
documentos que poderão suprir necessidades humanas,
apresentando soluções legais em diversas formas societárias.
A holding mantém eqüidistância de cada negócio, permitindo
menor envolvimento emocional de seus sócios com empresas mais antigas e
211
LODI, João Bosco. Holding. p. 8.
LODI, João Bosco. Holding. p. 11.
213
LODI, João Bosco. Holding. p. 11.
212
63
muitas vezes obsoletas. Como a holding não tem produtos, ela só deve pensar
em oportunidades e futuro mercado214.
Lodi215 aponta outra razão para sua formação:
A holding também cuida da obtenção de financiamentos e
empréstimos, possibilitando, assim, maior diversificação de
negócios e planejamento estratégico do grupo. Nesse caso, ela
não procura obter financiamentos externos como também agir
como provedora de investimentos próprios para atender as
necessidades das operadoras, agindo também nos investimentos
em parceria e novas oportunidades.
Como os lucros de suas operadoras passam pela holding ela
tem um poder de investimento maior. A negociação com os bancos tornasse mais
fácil também, uma vez que o capital das operadoras está concentrado em uma
única empresa216.
Ensina Rasmussen217:
A holding tem maior barganha na negociação e obtenção de
recursos financeiros e melhor controle de aplicação líquidos a
curto, médio e longo prazos.
Esta concentração de capital muitas vezes atrai reflexos
negativos para a empresa. Neste sentido a holding também é eficaz, pois ela não
aparece em negociações externas.
Ela é substituta da pessoa física, agindo como sócia ou
acionista de outra empresa, evitando dessa maneira que a pessoa física fique
exposta inutilmente, evitando seqüestros, roubos e uma série de outros elementos
inconvenientes, desde que não haja ostentação de riqueza das pessoas físicas
envolvidas. Pode também ser sócia da própria pessoa física.
Segundo Lodi218:
214
LODI, João Bosco. Holding. p. 11.
LODI, João Bosco. Holding. p. 8.
216
LODI, João Bosco. Holding. p. 9.
217
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 76.
215
64
A holding será também uma prestadora de serviços, e sendo
Sociedade Simples Limitada não estará sujeita a lei de falência.
Como a holding é quase a própria pessoa de seus sócios, ela
deverá agir como tal.
Ainda sobre a representação da holding, Lodi219 ensina:
A holding sendo uma empresa representante do grupo poderá
apresentar-se institucionalmente, transmitindo a imagem global de
confiabilidade, caso isso seja tido como importante. Os apoios
culturais e beneficentes nesse caso são muito apreciados pela
comunidade.
O estudo que a holding faz, constantemente, em busca de
setores econômicos que estão em evolução ou em crises, possibilita a ela
viabilizar investimentos ou proteger alguma empresas que possa estar em meio a
estas crises.
Rasmussen ainda entende como positiva, “a analise
centralizada de projetos de expansão, internacionalização, e, eventualmente, a
venda de componentes que mostram baixo performance econômico”220.
Lodi221 ainda dispõe sobre as holding:
A holding poderá possibilitar negócios no exterior em nome de
todas as empresas do grupo, coordenando todos os seus
interesses. Agira assim filosoficamente como trading, evitando a
formação prematura de operadoras.
A padronização nos processos de Organização e Métodos,
assim como os sistemas de controles internos em todos os componentes do
grupo, faz com que o crescimento seja auferido de maneira harmoniosa em todas
as operadoras.
218
LODI, João Bosco. Holding. p. 10.
LODI, João Bosco. Holding. p. 10.
220
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 76.
221
LODI, João Bosco. Holding. p. 10.
219
65
3.1.3 Do Contrato Social
O contrato social de uma holding é o mais simples possível,
mostrando que a holding é mais uma filosofia de administração do que uma forma
legal. Os pontos mais importantes que devem constar neste contrato, segundo
Lodi222, são:

Regular a forma de alienação das quotas ou ações dos
sócios, assim como a sua retirada;

Definir como atuar em caso de falecimento de um dos sócios;

Resolver como é constituído o capital social;

Elaborar princípios
obrigatórios;

Resolver onde ficará a sede social e qual será sua razão
social.
gerais
de
gerencia
atualmente
Os sócios deverão ser no mínimo, duas pessoas para as
limitadas, sem especificação legal de que sejam pessoas físicas ou pessoas
jurídicas. No caso das sociedades anônimas, existe uma norma que determina o
mínimo de duas pessoas físicas para a gerência e que outros sócios poderão ser
pessoas jurídicas. Para cada sócio devem ser mencionados seus poderes e
atribuições223.
A holding patrimonial familiar, um dos tipos de holding,
poderá ser identificada com o nome da família, no caso de uma homenagem. Já a
holding do grupo não deverá ser identificada com o nome da família, nem do seu
controlador e muito menos com a idéia de poder, dinheiro e grandeza. Não é esse
o objetivo da holding e ela deve manter discrição224.
Para o endereço da holding não há limites para as
possibilidades de sua localização. Deve-se bom senso levando em conta as
vantagens e desvantagens dos endereços escolhidos225.
222
LODI, João Bosco. Holding. p. 14.
LODI, João Bosco. Holding. p. 16.
224
LODI, João Bosco. Holding. p. 16.
225
LODI, João Bosco. Holding. p. 16.
223
66
O capital social é formado tudo que possa ser avaliado em
dinheiro e que faça parte dos objetivos ou estejam a seu serviço, assim como
dinheiro, bens imóveis, bens móveis.
Lodi226 ensina sobre a incorporação destes bens:
Esses bens deverão ser incorporados somente por conferência,
que é uma forma de alienação, que, devidamente executada, gera
economia fiscal na sua formação e evita a taxação na apuração
dos lucros, economia esta que gera proteções fiscais asseguradas
pela Constituição Federal.
No contrato social deverá constar os sócios-gerentes, seus
poderes e limites, que serão exercidos no decorrer da atividade.
Deve também constar como deverá ser disposto a entrada
dos herdeiros e sua posição na sociedade. João Bosco Lodi entende que, “não é
mais possível deixar em testamento quem fica com ações ou quotas e quem fica
com outros bens, a negociação no espolio, essa é outra razão pela qual deve
colocar todo patrimônio no espolio”227.
O contrato social, não é diferente de todos os outros atos de
uma sociedade, deve ser elaborado com muita cautela para evitar dissabores,
principalmente na alienação de bens. É um momento único que deve ser
estudado meticulosamente.
3.2 FORMAÇÃO DA HOLDING
A holding reúne muitos conhecimentos. O mais importante é
a questão administrativa propriamente dita. Em segunda análise, está a questão
jurídica, principalmente o societário e fiscal. A sociologia e psicologia também são
226
227
LODI, João Bosco. Holding. p. 16.
LODI, João Bosco. Holding. p. 17.
67
questões muito importantes por se tratar de entes familiares e mover com o
sentimento dos integrantes228.
A formação de uma holding nunca pode estar ligada a um
único
elemento,
normatizadora
ela
deve
tratar
de
forma
ampla,
empreendedora
e
229
.
A Empresa-mãe, na qual o fundador administrou durante
muitos anos, gerando recursos de caixa significativos, dão sustentação para as
afiliadas que foram criadas por conseqüência deste trabalho. Por estarem ligadas,
a administração é feita pela própria Empresa-mãe, o que no começo era útil, para
dar imagem e sustentação econômica, mas um pouco a frente torna-se uma
âncora em seu desenvolvimento230.
Com a vinculação econômica e operacional entre as
empresas, o controle das coligadas passa para a Empresa-mãe. O patrimônio da
Empresa-mãe torna-se muito maior, facilitando a transferência de recurso entre
elas, sem que haja incidência no Imposto de Renda231.
A Empresa-mãe torna-se uma segunda fonte de renda não
operacional com o seu controle ou participação em outras empresas. O aumento
do ativo imobilizado gera consequentemente o lucro inflacionário232.
A Empresa-mãe tem interesses diversos ao de suas
afiliadas, devido até mesmo ao seu tamanho. É natural que os acionistas queiram
permanecer nela, pelo prestígio e remuneração, sendo benéfico neste caso a
presença dos acionistas controladores, uma vez que por ser uma empresa maior
necessita cuidados maiores.
Com a iniciativa dos acionistas controladores criarem a
holding para o controle das afiliadas. Suas coligadas teriam certo porte e geram
228
LODI, João Bosco. Holding. p. 2.
LODI, João Bosco. Holding. p. 2.
230
LODI, João Bosco. Holding. p. 19-20.
231
LODI, João Bosco. Holding. p. 20.
232
LODI, João Bosco. Holding. p. 20.
229
68
mais recursos para distribuir entre elas mesmas ou para a formação de novas
empresas no grupo233.
Durante algum tempo a holding das coligadas é uma
empresa de papel, sendo ela ativada assim que os acionistas decidem nomear
um executivo para administrar as coligadas. Esse executivo tem autoridade para
coordenar as coligadas e transmitir seu desempenho para a Empresa-mãe234.
Rasmussen235 aponta algumas funções da holding das
coligadas:

A não transferência na administração das coligadas;

Investir em empreendimentos
primordial de visar lucros.
diversos
com
propósito
Após este nível de formação da holding estar bem acertado,
com a holding controlando as afiliadas e a Empresa-mãe controlando este
gerenciamento, o grupo cria a holding administrativa, que ficará acima da
Empresa-mãe e da holding das coligadas236.
A princípio motivo para a formação da holding administrativa
é fiscal, para que os dividendos recebidos de todas as empresas sejam
distribuídos entre elas, sem que o Imposto de Renda incida na transação 237.
O lucro, que antes quando transferido às pessoas físicas dos
acionistas, era tributado diretamente, agora torna-se isento.
É o entendimento de Lodi238:
Antes, esse lucro, ao se transferir de pessoa jurídica para pessoa
jurídica, não sofria diretamente, tributação do Imposto de Renda.
Com isso, aproveitava-se de uma vantagem legal, o grupo podia
crescer, capitalizar-se, realizar uma estratégia de ganhos de
233
LODI, João Bosco. Holding. p. 21.
LODI, João Bosco. Holding. p. 21.
235
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 73.
236
LODI, João Bosco. Holding. p. 21.
237
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
238
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
234
69
capital. Hoje isso só existe quando se foca o rendimento do capital
investido.
Rasmussen239 aponta algumas das finalidades da holding
administrativa:

Consolidar o controle administrativo de finanças, marketing,
planejamento estratégico e recursos humanos;

Influenciar na operabilidade
controladas e afiliadas;

Administrar os interesses dos acionistas ou quotistas;

Administrar projetos de investimentos e alienação;

Preservar e influenciar na cultura, na fidelidade e não na
integridade dos administradores do grupo e dos
componentes,

Centralizar e acompanhar o planejamento estratégico do
grupo.
dos
componentes
das
Para a constituição da holding administrativa unem-se as
ações que os controladores têm da Empresa-mãe e as ações que a Empresamãe tem da holding das coligadas240.
Dessa forma o controle do grupo está hierarquizado, Lodi 241
aponta neste sentido:
Acima da pirâmide, os acionistas, pessoas físicas; logo abaixo, a
holding principal; abaixo desta, as empresas operativas, inclusive
a Empresa-mãe, alinhadas horizontalmente.
A maior dificuldade apresentada nesse processo de
formação é a ligação societária entre Empresa-mãe e as coligadas. O mais
simples seria a compra dessa participação pelos sócios e o conseqüente aumento
de capital na holding por conferência de bens. Um problema apresentado nessa
239
RASMUSSEN, Uwe Waldemar. Holdings e Joint Ventures: uma análise transacional de
consolidações e fusões empresárias. p. 75.
240
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
241
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
70
formação é que nem sempre os sócios têm disponibilidade econômica para tal e a
holding não deve se descapitalizar para compra dessas participações242.
No entanto existe a possibilidade de transformar a Empresamãe em holding tirando dela todas as atividades operativas. É um processo que
pode ser mais econômico e seguro, embora tenha que esperar um ano ou um
balanço para a sua concretização243.
Lodi244 aponta algumas vantagens deste método:

O patrimônio não se desloca, não gerando assim impostos e
taxas;

Não há necessidade de novas escrituras imobiliárias;

Gera de imediato, receita para a holding com o rendimento de
aluguéis de bens moveis e imóveis;

Há uma relevante economia fiscal.
Conforme as possibilidades dos sócios a melhor opção
deverá ser tomada para a criação da holding administrativa.
O último passo para se formar uma holding seria o
afastamento dos acionistas da Empresa-mãe. Todos devem decidir transferir-se
para a sede da holding administrativa, onde o comando do grupo está
estabelecido para gerenciar e administrar245.
A partir deste momento todas as coligadas, assim como a
Empresa-mãe que está mais simplificada, recebem mais atenção, pois o controle
do grupo está nas mãos de uma empresa que tem como objetivo administrar o
grupo.
Após a estrutura da holding estar formada, os acionistas têm
a possibilidade de formar entre a holding administrativa e as pessoas físicas
algumas holdings pessoais ou patrimoniais para auxiliar a administração do
242
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
LODI, João Bosco. Holding. p. 22.
244
LODI, João Bosco. Holding. p. 23.
245
LODI, João Bosco. Holding. p. 23.
243
71
patrimônio particular e investimentos de cada pessoa física, ou de um ramo
familiar246.
3.2.1 Formação da Holding por Cisão Simples
Uma empresa, sociedade anônima fechada por exemplo,
que esteja com um ativo muito grande e haja o interesse de abrir o capital da
empresa, é necessário deixá-la focada em seus objetivos fazendo cisões247.
Deve ser estudado cada caso para que estas cisões não
atrapalhem o dinamismo da empresa. O empresário deve ter agilidade para poder
perceber quando essas cisões são importantes248.
Essa formação é de fato onerosa para a empresa, e deve
ser avaliada afundo antes de ser implantada.
Para a formação de holding por cisão simples o primeiro
passo é a reorganização da empresa, nas cisões já planejadas e nas formações
de novas empresas249.
Ainda no primeiro momento devem selecionar centros de
lucros e independência de objetivos, organizando cada setor da empresa e
separando com as devidas finalidades, para a formação empresas com este
interesse especifico. Os problemas jurídicos e fiscais também são avaliados neste
momento250.
Em um segundo momento, já estipulado os devidos setores,
da-se a formação destas novas empresas que foram elaboradas conforme cada
departamento. Todas estes departamento que futuramente serão empresas
246
LODI, João Bosco. Holding. p. 23.
LODI, João Bosco. Holding. p. 24.
248
LODI, João Bosco. Holding. p. 24.
249
LODI, João Bosco. Holding. p. 24.
250
LODI, João Bosco. Holding. p. 25.
247
72
separadas, serão geridas pela holding, que passará a constituir o grupo de
sociedades251.
3.2.2 Formação da Holding por Desmembramento
Outro caso onde uma empresa de grande porte pode formar
uma holding é o caso do desmembramento, que não é tão oneroso quanto a
formação por cisão, e torna-se uma separação menos traumática252.
A idéia de mudanças na empresa muitas vezes esbarra nos
receios do empresário mais tradicional.
As quotas que a Empresa-mãe tem das demais empresas
são adquiridas por compra e venda, ou por outro modo de interesse dos sócios,
pessoas
físicas
desenvolvimento
ou
pessoas
jurídicas,
quando
utilizada
a
forma
de
253
.
A escolhida para ser a holding geralmente é a prestadora de
serviços.
Lodi ensina254:
Esse sistema não precisa ser executado por cisão. O
desmembramento é mais eficiente quando for utilizado o sistema
de conferencia de bens, possibilitando assim decisões gradativas
e planejadas até por cronograma e escolha cuidadosa de
responsáveis para a gestão das novas unidades.
Nesse tipo de formação da holding percebe-se que os
imóveis, não são transferidos, tirando este ônus da empresa e ainda
possibilitando o seu aluguel pelas operadoras255.
251
LODI, João Bosco. Holding. p. 25.
LODI, João Bosco. Holding. p. 25.
253
LODI, João Bosco. Holding. p. 26.
254
LODI, João Bosco. Holding. p. 26.
255
LODI, João Bosco. Holding. p. 26.
252
73
Outro ponto positivo é que os bens móveis podem ser
repassados às operadoras com uma tranqüilidade maior, ou caso não sejam
passados, também poderão geras receitas através de alugueis 256.
Os funcionários aqui podem ser remunerados mediante
planos de avaliação e treinamento, sem os ônus trabalhistas 257.
A tranqüilidade para formar a holding por desmembramento
é muito maior que na formação por cisão, não esbarrando nas participações
societárias nem no patrimônio liquido da empresa.
3.2.3 Formação da Planejada pela Pessoa Física
O empreendedor com visão mais aguçada naturalmente
desenvolve novos negócios, e evita que a Empresa-mãe diversifique esses
negócios através dela, para que seus objetivos não sejam distraídos258.
A holding será sempre o centro dos investimentos, buscando
alcançar os interesses do grupo, voltada para dentro. As operadoras devem
distribuir os lucros de suas operações, visando ao interesse do mercado e dos
clientes para realizar seus objetivos259.
Partindo desse princípio pode-se afirmar que a atenção da
diretoria de uma operadora não pode ser coerente com a mentalidade de holding,
para não fugir da finalidade que lhe é proposta. O empresário acostumado a
gerenciar uma operadora, deverá ser treinado para adquirir a visão adequada à
holding260.
O empresário inicialmente funda uma empresa, com o
desenvolvimento e o bom retorno que está empresa trás, ele sente a necessidade
de criar outra empresa, diversificando os negócios. A primeira empresa torna-se
256
LODI, João Bosco. Holding. p. 27.
LODI, João Bosco. Holding. p. 27.
258
LODI, João Bosco. Holding. p. 30.
259
LODI, João Bosco. Holding. p. 30.
260
LODI, João Bosco. Holding. p. 30.
257
74
uma controladora da segunda, se está não for comercial ou industrial. Com o
passar do tempo o empresário observa um novo negócio que pode lhe trazer
ainda mais desenvolvimento. Acrescentando está terceira empresa no mesmo
nível em que se localiza a segunda, portanto ela também está no nível de
controlada, a empresa controladora assume a filosofia de holding261.
Com está desenvolvimento patrimonial e no decorrer de
seus negócios, o empresário sente a necessidade de transformar a empresa que
de fato é uma holding. A holding administrativa agora criada tem melhores
chances de desenvolver-se com mais rapidez.
Com o aparecimento dos sucessores, o empresário tem a
necessidade da formação de holdings pessoais, onde os interesses serão
redistribuídos para cada grupo familiar262.
3.2.4 Formação Completa
Todo planejamento colocado em prática no decorrer de um
longo período tem como objetivo principal para a formação de uma holding
completa.
Todas
as
técnicas
administrativas
e
estratégias
de
reestruturação foram feitas para que o grupo chegasse neste ponto. O grupo está
bem definido, com seus setores agrupados e ligados através da holding
administrativa.
Toda empresa que for adquirida com o tempo deve estar
posicionada com as demais da mesma atividade, até para facilitar o recrutamento
de
especialistas
setoriais,
buscando
que
tracem
a
mesma
linha
de
desenvolvimento e filosofia de negócios.
No momento em que se achar próprio, a holding deverá
formar as holding familiares e pessoais, que acompanharam toda a vida do
261
262
LODI, João Bosco. Holding. p. 31-32.
LODI, João Bosco. Holding. p. 33.
75
empresário e seus sucessores, principal motivo para ser planejada a longo
prazo263.
A formação de holdings setoriais, segundo João Bosco Lodi,
“é o ultimo estágio na montagem do grupo. Elas visam dividir setores com perfis
diferentes tais como: setorial financeira, setorial imobiliária, setorial rural”264.
3.2.5 Razões para Passar o Comando do Grupo para a Holding
Administrativa
A
separação
entre
operação
e
controle
é
o
mais
recomendável, para que o objetivo social, que é operacional, seja fixado
exclusivamente nas operadoras, e as funções de controle transfiram-se para a
holding265.
Cada uma deve cumprir seu papel, o grupo pensando no
desenvolvimento como um todo. E as operadoras desenvolvendo suas atividades
no mercado e com seus clientes.
É importante que cada operadora pense em seu contexto
próprio e não no contexto do grupo. Os problemas e conflitos de interesses entre
as operadoras cabem somente a holding discutir, para que na instância das
operadoras o bom andamento dos negócios não seja alterado266.
Para que a instância superior do grupo, a holding, possa
gerir bem todas suas operadoras ela deve estar desafogada, com um número
suficiente de pessoas, destinada a unicamente gerenciar as operadoras.
263
LODI, João Bosco. Holding. p. 34.
LODI, João Bosco. Holding. p. 34.
265
LODI, João Bosco. Holding. p. 36.
266
LODI, João Bosco. Holding. p. 36.
264
76
No âmbito das operadoras os profissionais que ali estão
devem estar por méritos profissionais, sendo eles familiares ou pessoas de fora.
As operadoras devem sempre buscar um alto nível de profissionais 267.
Lodi268 aponta como uma das razões, o favorecimento a
sucessão:
Treinar os sucessores acionários e os sucessores administrativos,
pondo-os no lugar e na perspectiva do fundador.
Com o grupo sob o comando da holding administrativa, fica
mais hábil para criar uma estrutura própria para a tomada de decisões de
diversificação nos negócios, com diferentes tipos de setores dos atuais 269.
3.3 TIPOS DE HOLDING
O tipo societário da holding deve ser escolhido diante da sua
posição no mapa societário.
As holdings setoriais podem ser sociedades anônimas
abertas ou fechadas e mesmo comerciais limitadas. A holding tipo sociedade
anônima aberta é pouco usual devido ao grau de exposição. Mas pode ser
indicada no caso de captação de recursos de terceiros através da venda de
ações270.
A holding setorial deve agrupar as empresas por setor, e
tendo como premissa a especialização dos profissionais, para atender todas as
empresas controladas por ela271.
A
holding
administrativa,
onde
a
administração
profissionalizada das operadoras é exercida. Utilizada também caso os herdeiros
267
LODI, João Bosco. Holding. p. 36.
LODI, João Bosco. Holding. p. 36.
269
LODI, João Bosco. Holding. p. 36.
270
LODI, João Bosco. Holding. p. 39.
271
LODI, João Bosco. Holding. p. 45.
268
77
estejam interessados somente em serem investidores dela. É considerada o
primeiro passo para as diversificações de negócios e cisões272.
As holdings familiares, conforme sua vocação, pode ser
comerciais limitadas, ou sociedades simples. As holdings pessoais devem ser
sempre sociedades simples limitadas, pois essa é a resposta jurídica à pessoa
física, por causa da similaridade dos atos de ambas serem civis 273.
Para evitar conflitos no grupo a utilização da holding familiar
é indicada na hora da simplificação do topo administrativo das operadoras, sem
que haja prejuízo das mesmas. Em caso de inventários próximos a holding
familiar também deve ser utilizada274.
A holding patrimonial será sociedade simples limitada, pois
objetiva a defesa do patrimônio. Sendo ela a subdivisão das holdings familiares
com fins determinados.
Sobre a holding patrimonial Lodi275 ensina:
A mais importante de todas. Visão de banco de investimentos,
controle de sucessão. Amplia os negócios e economiza tributos
sucessórios e imobiliários. É o ponto mais vulnerável das relações
empresários versus empresas. É de longe a mais necessária
atualmente.
Cada holding deve tem sua finalidade, e deve os objetivos
bem planejados para que o êxito seja alcançado.
As formas societárias muitas vezes são escolhidas pela
tradição em determinada região ou porque o contador está mais habituado com
uma certa forma.
Na verdade a forma societária deve ser feita pelo
empresário, de acordo com o objetivo que as empresas buscam. Os incentivos
272
LODI, João Bosco. Holding. p. 44-45.
LODI, João Bosco. Holding. p. 39.
274
LODI, João Bosco. Holding. p. 46.
275
LODI, João Bosco. Holding. p. 41.
273
78
apresentados pelo governo é um dos pontos que deve-se levar em conta no caso
de uma empresa que tem que ser aberta para a captação de recursos de
terceiros.
O centro do grupo, a holding administrativa, deve ter sua
forma societária definida com muita cautela, observando a que distância está das
pessoas físicas do topo do grupo. Quase unânime é a escolha das sociedades
simples limitadas para as holdings familiares e patrimoniais.
3.4 OBJETIVOS DA HOLDING
O objetivo primeiro da holding é fazer com que o grupo
cresça, controlando-o imparcial, produtiva e economicamente.
A holding deve aplicar recursos de acionistas, controlar a
segurança, multiplicar seus potenciais e garantir que o retorno seja alcançado.
Lodi276 aponta como os objetivos:
Na holding devem-se evitar funções de vendas, produção ou
gerenciamento de serviços de apoio direto à produção. As
atividades de compras serão definidas como um item por uma
diretoria financeira e as atividades de controle, pela diretoria de
controle.
A holding deverá definir sobre os aluguéis que ficarão
estabelecidos para as máquinas, computadores, bens móveis e imóveis, as
prestações de serviços que estabelecerão, determinados negócios especiais 277.
A holding não deve ser vista como uma pequena empresa,
com crescente número de funcionários, ela deve ser enxuta, com profissionais de
alto padrão278.
276
LODI, João Bosco. Holding. p. 54.
LODI, João Bosco. Holding. p. 54.
278
LODI, João Bosco. Holding. p. 54.
277
79
A holding é o instrumento de representação institucional do
grupo, negociando com bancos, governo e associação de classe, no Brasil e
exterior, para a dinamização ou abertura de negócios279.
Deve também estabelecer canais de relacionamento entre
os sócios e acionistas, tendo em vista garantir o exercício organizado dos direitos
e obrigações dos sócios e da empresa280.
A holding representa os próprios sócios, formulando políticas
gerais
de
atuação,
acompanhando
e
deliberando
sobre
os
negócios,
normatizando e implantando sistemas de controle e administrando a liquidez do
grupo281.
Ao prestar serviços para as controladas a holding pode atuar
centralizando certas atividades comuns entre elas, sempre que for mais eficiente
e econômico a todos.
Ser uma holding pura, somente participando em outra
empresa como sócia para receber dividendos, torna ela pouco produtiva perto do
que pode alcançar.
A holding busca muito mais que isso, seu objetivo é muito
mais grandioso para o crescimento do grupo.
A holding soluciona os problemas familiares, o poder que o
fundador possuía é conservado e a conquista do poder é feita de maneira madura
e tranqüila. O poder absoluto é descentralizado para pólos diferentes com funções
diferentes tornando-se assim um poder compartilhado282.
Se os herdeiros têm vocação para um ramo diferente de seu
pai, ele terá liberdade de escolha, sem que rompa a unidade familiar, facilitando o
apoio necessário ao novo investimento283.
279
LODI, João Bosco. Holding. p. 54.
LODI, João Bosco. Holding. p. 55.
281
LODI, João Bosco. Holding. p. 55.
282
LODI, João Bosco. Holding. p. 63.
283
LODI, João Bosco. Holding. p. 64.
280
80
A geração que virá a assumir a empresa poderá ter um
treinamento mais efetivo e se tornar gradativamente responsável pela função a
ser exercida, sem que a geração que passou seja afastada em um único
momento. Estes terão o papel de aconselhadores, por ter uma vasta
experiência284.
As questões fiscais são outro ponto de grande importância.
A economia por parte da pessoa física. O imposto fortuna, causa mortis, as
transmissões de bens. Muitos destes impostos inerentes da troca de gerações ou
repasse de verbas entre empresas, podem ser contornados com a holding285.
3.4.1 Peculiaridades
A
holding
apresenta
algumas
peculiaridades
quando
observados os lucros tributáveis, os lucros e dividendos recebidos pelas holdings,
assim como os ganhos auferidos pela equivalência patrimonial são excluídos do
calculo, porém as perdas havidas pela equivalência patrimonial são adicionadas
ao lucro tributável286.
Para que as holdings não sejam tributadas, as operadoras
não devem nunca dar prejuízo. Incentivando vendas e diminuindo custos de todas
as áreas, principalmente administrativas.
Lodi287 ensina:
Deve-se fazer a contabilidade pelo lucro real, mas se o orçamento
previsto para o ano seguinte mostrar que o lucro será maior que
35%, pode-se optar pelo lucro presumido no primeiro mês do ano
seguinte. Isso não libera, por questões de controle, o balancete e
todos os registros fiscais.
284
LODI, João Bosco. Holding. p. 64.
LODI, João Bosco. Holding. p. 64.
286
LODI, João Bosco. Holding. p. 65.
287
LODI, João Bosco. Holding. p. 66.
285
81
Em suas peculiaridades a holding apresenta diversas formas
para que a contabilidade do grupo obtenha uma economia significativa nos
tributos.
3.4.2 Do Planejamento Fiscal
Atualmente no Brasil as empresas são sufocadas por
impostos, e a tendência é que eles infelizmente aumentem.
Planejamento fiscal existe para produzir economia tributária.
A redução de impostos é uma obrigação legal e direito do contribuinte.
O planejamento fiscal deve ser atribuída a holding pois ela
tem a visão total do grupo. Uma medida tomada em uma empresa pode gerar ou
aumentar outros impostos nela em outro setor288.
Até a cisão na empresa poderá causar uma duplicidade de
funções e perda de benefícios contábeis.
Lodi289 aponta como a criação de um Comitê um dos pontos
importantes para a redução de tributos:
O Comitê de Planejamento Fiscal, que tem por objetivo minimizar
impostos, maximizar incentivos fiscais, obedecer e controlar a
obediência à lei para evitar os reflexos negativos. Esse comitê
deverá ser administrativo, com a assistência de um técnico
contábil. Ele deverá ser consultado e participar da elaboração dos
planejamentos do grupo, bem como de outras peças básicas da
administração.
Entre suas atribuições o comitê se encarregara do
treinamento e orientação constantes na escrituração fiscal, declarações de
rendimentos, contratos de serviços de terceiros290.
288
LODI, João Bosco. Holding. p. 74.
LODI, João Bosco. Holding. p. 74.
290
LODI, João Bosco. Holding. p. 75.
289
82
O planejamento fiscal é uma peça importante para o
desenvolvimento do grupo, reduzindo a sua carga tributária e disponibilizando
recursos antes desperdiçados.
3.4.3 Tranqüilidade nos Negócios
Em grande parte das empresas os problemas familiares
tornam-se problemas para a empresa, no seu futuro e no futuro das famílias que a
constituem291.
A eficiência nos negócios dependem de concentração e
tranqüilidade para administrar.
O acordo societário deve ser elaborado quando os
fundadores tem a liderança do grupo familiar, a segunda geração já está madura
e a terceira geração começa a despontar. Os fundadores devem ter poder de
argumentação e persuasão. Deixando a tendenciosidade, radicalidade e
intransigência de lado para pensar no grupo e em todos os familiares que
estiverem interessados em realmente colaborar para o crescimento292.
A holding patrimonial neste caso é peça fundamental para
que o grupo não sinta as turbulências econômicas, financeiras e sociais
vivenciadas nestes tempos.
O bom negócio é exercido por pessoas bem treinadas sendo
estes profissionais externos do grupo familiar ou herdeiros. O importante é que
estas pessoas estejam treinadas para exercer os cargos com muito dinamismo e
conscientização293.
291
LODI, João Bosco. Holding. p. 81.
LODI, João Bosco. Holding. p. 81.
293
LODI, João Bosco. Holding. p. 82.
292
83
3.5 ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO DA HOLDING
Nos órgãos de administração da holding encontramos
algumas denominações pertencentes.
O sócio ou acionista controlador é a pessoa física ou jurídica
vinculada por acordo de votos ou sob controle comum. Figura como titular de
direito de sócio que assegura permanentemente maioria dos votos nas
deliberações da assembléia geral, e tem poder de eleger a maioria dos
administradores da companhia. Deve também dirigir as atividades sociais, orientar
a companhia. Dentre seus deveres destaca-se ter responsabilidade e lealdade
com os demais participantes da companhia294.
A sociedade controladora, que é a holding, por ser uma
sociedade que detém o controle acionário, será obrigada a reparar os danos
causados a companhia na mesma forma que o sócio controlador, e os direitos
dela muito se confundem com os direitos do sócio controlador, pois cabe a ela
gerenciar as demais operadoras295.
Lodi296 ensina sobre os diretores:
É pessoa física eleita em assembléia de acionistas ou conselho de
administração nas Sociedades Anônimas ou indicado em contrato
social nas Limitadas ou titular de firma individual.
Os atos praticados pelo diretor são aqueles praticados
habitualmente por delegação ou designação de assembléia, diretoria, dirigente ou
contrato social. Dentre os direitos e deveres que são atribuídos aos diretores
encontramos o de representar a sociedade, servir com lealdade, diligência e
probidade, não praticar atos de liberalidade, não utilizar em proveito próprio bens
da companhia. Caso o diretor seja contratado e não sócio da companhia ele não
294
LODI, João Bosco. Holding. p. 107-108.
LODI, João Bosco. Holding. p. 110.
296
LODI, João Bosco. Holding. p. 111.
295
84
será responsável civilmente, e terá seus direitos assegurados na Consolidação
das Leis Trabalhistas297.
No caso de uma sociedade anônima, a administração será
feita por duas pessoas físicas, podendo a holding pertencer a ela após completar
esse numero de pessoas físicas298.
Cada um destes órgãos é de grande valor para a
implantação da holding. A função que lhes foi passada deve ser exercida com o
muito respeito e seriedade, para que o futuro do grupo seja promissor. A holding
deve ser tratada como uma ferramenta administrativa que interliga as operadoras
e seus diversos negócios aos sócios e seus familiares299.
3.6 CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS
No Brasil os grupos surgiram como resultado de três fatores
apontados por Lodi300:

Os limites da economia brasileira que constrangem o
crescimento linear, canalizando a vitalidade empresarial
para diversificação, ou seja, para evitar ser muito grande
em uma economia muito pequena;

A necessidade de diversificar os riscos por meio de um
portfólio no qual haja negócios independentes entre si e,
portanto, menos vulneráveis a uma crise setorial;

O atrativo de espaços vazios nacionais, que o Governo
brasileiro usa para orientar os investimentos privados,
somados à sedução dos incentivos fiscais.
Com um número maior de empresas, o empresário tem uma
menor chance de ser pego por uma crise em todo seu negócio. O crescimento de
uma só empresa pode levá-lo a uma perda de capital muito grande ou até a
falência caso uma crise no setor apareça.
297
LODI, João Bosco. Holding. p. 113-114.
LODI, João Bosco. Holding. p. 115.
299
LODI, João Bosco. Holding. p. 116.
300
LODI, João Bosco. Holding. p. 119-120.
298
85
A constituição de um grupo de fato não vem gerenciada por
uma administração central. Cada empresa ou companhia tem sua própria
atividade e controle administrativo, restando fora delas apenas a holding com
suas próprias funções301.
João Bosco Lodi ao ensina sobre os grupos de fato
menciona que, “a holding é o único elemento aglutinador entre as empresas e
frequentemente atua como mero aplicador de recursos e cobrador de
resultados”302.
A constituição de um grupo de direito é vinculado a uma
convenção de grupo aprovada pelos acionistas de todas as empresas que
compõe o grupo.
Com
a
constituição
deste
grupo
de
direito
uma
administração central é criada para utilizar da concentração de funções de apoio,
planejamento e controle303.
Ao permanecer com empresas sem o vinculo grupal, o
modelo adotado seria do conglomerado puro, o grupo de fato, com sua completa
autonomia administrativa e pagando os serviços das empresas irmãs na base de
contratos de mutualidade. Pelo acionista controlador fazer o papel de holding e
banco de investimento, evita uma central com um numero significante de
empregados304.
Escolhendo o modelo de grupo de direito, adota-se a
administração central do grupo, tendo ela as mais diversas funções, como
finanças, recursos humanos, suprimentos secretaria geral, entre outros 305.
As vantagens para se ter uma visão de grupo de direito são
grandes, a convenção de grupo torna todas as empresas amparadas no contrato,
301
LODI, João Bosco. Holding. p. 120.
LODI, João Bosco. Holding. p. 120.
303
LODI, João Bosco. Holding. p. 121.
304
LODI, João Bosco. Holding. p. 134.
305
LODI, João Bosco. Holding. p. 134.
302
86
garantindo a aplicação de capital para todas pertencentes, benefícios fiscais entre
outros306.
3.7 RELACIONAMENTO DA HOLDING COM AS CONTROLADAS
O poder e política, assim como os estilos que cada
integrante possui, torna muitas vezes tensas as relações entre os executivos da
holding e os das controladas307.
O presidente da holding tem o papel fundamental de
controlar estas situações e alimentar um clima de cooperação entre controladas e
controladora.
As
controladas
têm
uma
tendência
controladoras possuem uma forte tendência centralizadora
A
harmonização
entre
estas
auto-suficiente
e
as
308
.
relações
muitas
vezes
conflituosas deve ser fortalecida pelo presidente da holding que deve usar seu
poder e tato para manter a política interna a serviço dos resultados do grupo.
É o entendimento de Lodi309:
Os presidentes ou superintendentes das controlada estão
subordinados somente ao diretor-presidente da holding, a quem
respondem pelos resultados de suas empresas. Em cada
controlada, os diretores estão hierarquicamente subordinados a
seus presidentes ou superintendentes. Portanto, um diretor de
holding, por mais poderoso ou importante que seja, não tem
autoridade hierárquica sobre qualquer diretoria de uma controlada,
exercendo apenas e com habilidade a autoridade funcional,
normativa ou técnica dentro de sua especialidade.
A centralização de controle e descentralização de operações
indica que o nível da holding deve ter uma estrutura que assegure planejamento e
306
LODI, João Bosco. Holding. p. 135.
LODI, João Bosco. Holding. p. 154.
308
LODI, João Bosco. Holding. p. 154.
309
LODI, João Bosco. Holding. p. 154.
307
87
controle, aperfeiçoando a avaliação e acompanhamento de desempenho das
controladas.
A responsabilidade pelo resultado de cada empresa do
grupo é diretamente ligada ao diretor-superintendente de cada controlada. O
presidente
da
superintendentes,
holding
é
responsável
comandando
e
pela
supervisão
orientando-os
em
de
todos
os
cada
meta
ou
responsabilidades que deverão cumprir310.
Os diretores das holding, não tomam qualquer iniciativa,
comando ou decisão, cumprem o papel de autoridade funcional das normas
administrativas, fiscais e contábeis da holding311.
Sobre os diretores da holding Lodi312 ensina:
Os diretores da holding não são superiores hierárquicos dos
diretores-superintendentes das divisões, porém, detêm uma
autoridade funcional ou técnica nas suas respectivas áreas de
jurisdição, respeitando na figura dos diretores-superintendentes o
principio de unidade de comando hierárquico da controlada.
Essa autoridade hierárquica é aquela onde o superior tem o
poder de admitir, remunerar, disciplinar, acompanhar no dia-a-dia as atividades e
exigir informações e relatórios, sempre consultando as outras áreas funcionais e
seus superiores imediatos313.
Já a autoridade funcional, onde o diretor da holding tem o
poder de prescrever normas técnicas de trabalho e cronogramas, determinar
taxas e custos de operação em sua área de atuação funcional, sempre
consultando as hierarquias constituídas em que se situam os que irão cumprir as
normas314.
310
LODI, João Bosco. Holding. p. 156.
LODI, João Bosco. Holding. p. 156.
312
LODI, João Bosco. Holding. p. 157.
313
LODI, João Bosco. Holding. p. 157.
314
LODI, João Bosco. Holding. p. 157.
311
88
A integração e coordenação das diretorias são feitas através
do comitê executivo, onde todos os diretores da holding e das controladas
deverão reunir-se para definir, coordenar, avaliar objetivos315.
A gestão centralizada é a função do relacionamento entre
acionistas e conselheiros, além de toda a documentação relativa, que estão
centralizadas na holding316.
No grupo a diretoria financeira da holding cumpre o papel de
um Banco Central, contratando recursos acima do limite de cada controlada,
alocando, realocando e aplicando disponibilidades317.
Lodi318 ensina sobre a diretoria financeira:
Ficam afetas à diretoria financeira as áreas de contabilidade,
planejamento fiscal, custos, orçamentos, sistemas e auditoria
interna e externa no nível corporativo.
Na política de planejamento de cada controlada, os
diretores-superintendentes tem a responsabilidade de apresentar o planejamento
anual, podendo este ser integrado a um planejamento feito pela holding, para
viabilizar entre todas as controladas conjuntamente319.
Os serviços de apoio ao usuário devem estar o mais próximo
possível de cada um, por isso que as controladas têm sua área administrativa
própria com serviços gerais e de pessoal. Pela economia de áreas centrais,
desaparecem áreas como de recursos humanos, informática entre outros 320.
O fluxo de informação entre o grupo deve ser constante. Os
setores de cada controlada devem transmitir informações para o setor de nível
superior da holding321.
315
LODI, João Bosco. Holding. p. 158.
LODI, João Bosco. Holding. p. 158.
317
LODI, João Bosco. Holding. p. 158.
318
LODI, João Bosco. Holding. p. 158.
319
LODI, João Bosco. Holding. p. 159.
320
LODI, João Bosco. Holding. p. 159.
321
LODI, João Bosco. Holding. p. 159.
316
89
A holding, como sociedade controladora que é, tem a
responsabilidade por gerenciar as demais sociedades do grupo, visando sempre o
desenvolvimento de todas, cada uma com seu objetivo a alcançar, porém sem
deixar nenhum momento em pensar para dentro do grupo, sendo egocêntrica. A
boa administração e a tranqüilidade nos negócios sejam por fatores familiares ou
do grupo sempre são resguardados pela holding.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo investigar as holdings, com
base na legislação e na doutrina pátria, buscando suas características, efeitos e a
forma como este tipo de sociedade controladora pode desenvolver o universo
administrativo das empresas.
Em seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido em
três capítulos. No primeiro capitulo, abordou-se as sociedades propriamente ditas,
traçando diferenças entre as não-personalizadas e as personalizadas, que são as
estatutárias e contratuais, apresentando as características de cada uma destas
sociedades.
No
segundo
capítulo
foram
analisados
os
aspectos
conceituais e jurídicos dos grupos de sociedades, demonstrando-se as
características entre as sociedades controladoras e controladas, bem como a
forma em que são constituídos, quando forem registrados, portanto de direito, ou
pelo simples agrupamento, sem que se registre os grupos, somente constituídos
de fato.
No terceiro e último capítulo, trabalhou-se a holding, sua
conceituação e caracterização, destacando-se e explicando-se sua forma de
controlar o grupo de sociedades, bem como a maneira adotada para a
administração de cada empresa do grupo.
Registra-se que as hipóteses que nortearam o presente
trabalho restaram integralmente confirmadas. Sendo válido retomá-las:

Havendo um grupo de empresas a holding pode orientar e unificar
procedimentos.

A holding, desempenhando seu papel de sociedade controladora,
consegue fazer com que cada sociedade pertencente ao grupo
alcance um nível maior de desenvolvimento e crescimento.
91
Quanto à primeira hipótese, observou-se que a mesma foi
confirmada, uma vez que a holding, como uma sociedade controladora dentro do
grupo de sociedades, tem como premissa orientar as demais controladas para
que todas caminhem na mesma direção, com o mesmo crescimento. O objetivo
do grupo é fazer com que todas as sociedades cresçam, sendo necessário que os
procedimentos sejam sempre paralelos entre as sociedades.
Quanto a segunda hipótese, a mesma foi confirmada, visto
que a holding detem um capital significativo na união de todas as sociedades,
podendo investir em uma determinada empresa, que naquele momento esteja
necessitando, sem que haja necessidade de transferência de capital entre as
sociedades. Essa facilidade na transferência de capital entre elas torna-se muito
eficaz para que todas as empresas desenvolvam-se e cresçam juntas.
Com a conclusão do presente trabalho, qualifica-se a holding
como um mecanismo muito eficaz para o grupo de sociedades. O interesse dos
fundadores e sucessores em tornar o grupo ainda mais sólido e forte, organizando
a estrutura do grupo com uma holding, possibilita diversos avanços na área
administrativa,
assim
como
a
tranqüilidade
na
troca
de
gerações,
e
conseqüentemente fazendo com que a empresa permaneça no mercado por mais
tempo. Com o quadro de sucessores bem elaborado e com uma administração
competente, gerindo as operadoras com profissionalismo, o grupo de sociedades
tem plenas condições de desenvolver-se com tranqüilidade e agilidade. Com a
holding, as sociedades deixam de lado as questões emocionais envolvidas nas
sociedades, e seus sócios concentram os esforços no desenvolvimento do grupo.
92
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SOCIEDADE CONTROLADORA: HOLDING