Avaliação da torta da amêndoa da macaúba como alimento alternativo para o tambaqui Jamille Tayenne Estevão Silva, Rosiane Suelen Santos, Vanessa Silva dos Santos, Diego Lucas Soares de Jesus, Tamilis Mirele Rodrigues Lima, Auriclécia Lopes de Oliveira Aiura, Felipe Shindy Aiura Introdução O tambaqui apresenta bom desempenho em diferentes sistemas de criação, sendo cultivado intensivamente em cativeiro no Brasil, apresentando qualidades zootécnicas, como rusticidade, crescimento rápido, alta produtividade e aceitação a diferentes tipos de alimentos, sendo bastante cultivada na região Norte do Brasil. A busca por alimentos alternativos tem sido o desafio de pesquisadores, visando à substituição parcial ou total dos ingredientes convencionais, com o intuito de reduzir os custos com alimentação no cultivo de peixes. Dentre os alimentos alternativos pode-se destacar a macaúba. No Brasil a macaúba é considerada a palmeira de maior disseminação, com ocorrência de populações naturais em quase todo território nacional, com as maiores concentrações localizadas em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo amplamente espalhada pelas áreas de Cerrado (Ciconini [1]). O óleo extraído da polpa e da amêndoa é o principal componente do fruto da macaúba, em termos de utilização industrial. O conhecimento da digestibilidade dos nutrientes é fundamental para uma correta utilização dos ingredientes na formulação das rações, propiciando um bom balanceamento dos nutrientes, priorizando a qualidade nutricional, promovendo dessa forma a eficiência no desempenho produtivo dos peixes e menor desperdício de nutrientes maximizando os lucros e, principalmente, minimizando o impacto ambiental que alguns desses ingredientes podem proporcionar. Diante disso, objetivou-se avaliar o coeficiente de digestibilidade aparente do resíduo da semente da macaúba como alimento alternativos para o tambaqui na região Norte Mineira. Material e métodos O experimento foi desenvolvido no Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura do Gorutuba (CODEVASF), situado no município de Nova Porteirinha-MG e no Departamento de Ciências Agrárias da UNIMONTES, localizada no município de Janaúba-MG. Utilizou-se 30 tambaquis (Colossoma macropomum), com peso médio de 750,79 ± 209,54g, os quais foram alojados em 6 incubadoras de fibra de vidro de 200 litros, sendo cinco peixes por unidade experimental, adaptadas para a coleta de fezes por gravidade (sistema de Guelph modificado). Os ingredientes que compõem as rações experimentais foram, misturados de acordo com a formulação de cada ração, umedecidos com água destilada e peletizados manualmente com auxilio de um moedor de carne. Em seguida as rações foram secas em estufa de ventilação forçada a uma temperatura de 65ºC por 24 horas. A determinação da digestibilidade aparente do alimento testado foi realizada pelo método indireto de coleta de fezes utilizando 0,1% de óxido de cromo (Cr 2O3) como indicador, adicionado a uma ração-referência purificada e à raçãoteste (Tabela 1). A ração-teste foi composta por 70% da ração-referência e 30% da torta da amêndoa da macaúba, corrigindo-se para o suplemento mineral e vitamínico. Para o ensaio de digestibilidade, os peixes foram alimentados quatro vezes ao dia, à vontade, das 8:00 às 16:00 horas. Após as alimentações no final do período diurno, as incubadoras eram limpas e preparadas para a coleta de fezes na manhã do dia seguinte, totalizando sete dias. As variáveis, temperatura (ºC) e oxigênio dissolvido (mg/L) foram monitoradas com auxilio de um oxímetro digital portátil e o pH através de pHmetro digital portátil. As fezes coletadas a cada dia foram identificadas e secas em estufa de circulação forçada a 65ºC. Após a desidratação foi realizada a retirada de escamas quando necessária, moídas e armazenadas para posteriores análises de proteína bruta, energia bruta e óxido de cromo. As análises químicas da torta da amêndoa da macaúba (matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo, fibra bruta e cinzas), das rações (matéria seca, proteína bruta e energia bruta) e das fezes (matéria seca, proteína bruta, energia bruta e óxido de cromo), foram realizadas conforme descrito por Silva e Queiróz [2]. O coeficiente de digestibilidade aparente da proteína e energia da torta da amêndoa da macaúba foi calculado com base no teor de óxido de cromo e do nutriente na ração e nas fezes. ________________ Apoio financeiro: CODEVASF, FAPEMIG Resultados e Discussão Os valores médios dos parâmetros físico-químicos da água nas incubadoras foram para pH 7,1 ± 0,30, oxigênio dissolvido de 7,00 ± 2,71 mg/L e temperatura de 27,12 ± 0,58ºC. Os valores observados estão dentro dos recomendados para o tambaqui conforme Kubitza [3]. O coeficiente de digestibilidade da proteína foi de 79,89% (tabela 2). A literatura é bastante escassa de resultados da utilização desse ingrediente em peixes. Oliveira et al. [4], trabalhando com o pacu, encontraram coeficientes de digestibilidade aparente para o farelo de coco e torta de dendê, respectivamente, 83,35 e 75,76% para proteína bruta. Pezzato et al. [5] encontraram coeficiente de digestibilidade da proteína para o farelo de coco de 86,78%, em tilápia-do-Nilo e concluíram que os melhores resultados de ganho de peso foram obtidos com a inclusão de 30% do produto. O coeficiente de digestibilidade da energia bruta para a torta da amêndoa da macaúba foi de 42,09% (tabela 2). Santos et al. [6] encontraram coeficiente de digestibilidade de 37,10% para tilápia-do-Nilo. Entretanto Pezzato et al. [7] encontraram coeficiente melhor de 59,80% da energia do farelo de coco em tilápia-do-Nilo. Um dos fatores que pode contribuir com essas variações e prejudicar a digestibilidade dos nutrientes seria a quantidade de fibra. Rodrigues et al. [8], recomenda no máximo 9% de fibra bruta nas rações para juvenis de pacu, para evitar prejuízos ao desempenho produtivo. A torta da amêndoa da macaúba apresentou um bom potencial de utilização em relação à fração protéica, entretanto deve-se atentar para a fração energética, a fim de evitar excessos de nutrientes perdidos através das fezes, o que pode contribuir para a diminuição da qualidade da água nos sistemas de cultivos. Conclusão/Considerações finais O resíduo da semente da macaúba apresenta coeficiente de digestibilidade de 79,89% da proteína bruta e 42,09% da energia para o tambaqui. Agradecimentos À CODEVASF, à FAPEMIG e ao CNPq. Referências [1] CICONINI, G. Caracterização de frutos e óleo de polpa de macaúba dos biomas Cerrado e Pantanal do estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Campo Grande (MS). Universidade Católica Dom Bosco. Dissertação (Mestrado em biotecnologia). p. 128. 2012. [2] SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C. Análises de alimentos (métodos químicos e biológicos). Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002. p. 253. [3] KUBITZA, F. Qualidade da água no cultivo de peixes e camarões. Jundiaí. SP, 229pp. 2003 [4] OLIVEIRA, A.C.B. et al. Coeficiente de digestibilidade aparente da torta de dendê e do farelo de coco em pacu (Piaractus mesopotamicus). Revista Unimar, v.19, n.3, p.897-903, 1997. [5] PEZZATO, L.E. et al. Valor nutritivo do farelo de coco para a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Acta Scientiarium, v.22, n.3, p.695-699, 2000. [6] SANTOS, E.L. et al. Digestibilidade aparente do farelo de coco e resíduo de goiaba pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Revista Caatinga, v.22, n.2, p.175180, 2009. [7] PEZZATO, L.E. et al. Digestibilidade aparente da matéria seca e da proteína bruta e a energia digestível de alguns alimentos alternativos pela tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.26, n.3, p.329-337, 2004. [8] RODRUIGUES, L.A. et al. Desempenho produtivo, composição corporal e parâmetros fisiológicos de pacu alimentado com níveis crescentes de fibra. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.45, n.8, p.897-902, 2010 Tabela 1. Composição percentual das dietas experimentais utilizadas na determinação do coeficiente de digestibilidade aparente da torta da amêndoa da macaúba para o tambaqui. Ingrediente Ração-referência Ração-teste Albumina 42,00 29,40 Gelatina 8,50 6,00 Amido de milho 31,50 22,00 Óleo de soja 6,50 4,50 Celulose 6,85 4,70 Fosfato bicálcico 3,50 2,40 Suplemento vitamínico e mineral a 0,50 0,50 Antioxidante BHT 0,05 0,05 Sal comum 0,50 0,50 Óxido de crômio 0,10 0,10 Alimento teste 0,00 29,85 100,00 100,00 Total a Níveis de garantia por kg do produto: Vit. A, 1.200.000UI; Vit. D , 200.000UI; Vit. E, 12.000mg; Vit. K 3, 2.400 mg; Vit. B1, 4.800 mg; Vit. B2, 4.800 mg; Vit. B6, 4.000 mg; Vit. B12, 4.800 mg; Ác. Fólico, 1.200 mg; Pantotenato Ca, 12.000 mg; Vit. C, 48.000 mg; Biotina, 48 mg; Colina, 65.000 mg; Niacina, 24.000 mg; Fe, 10.000 mg; Cu, 6.000 mg; Mn, 4.000 mg; Zn, 6.000mg; I, 20 mg; Co, 2mg; Se, 20 mg. Tabela 2. Composição química, expressa na matéria seca, coeficientes de digestibilidade aparente da proteína e da energia e valores de proteína e energia digestíveis da torta da amêndoa da macaúba para o tambaqui. Variáveis Matéria seca Proteína Bruta Extrato etéreo Matéria mineral Fibra bruta Energia bruta (kcal/kg) Coeficiente de digestibilidade da proteína Coeficiente de digestibilidade da energia Proteína digestível Energia digestível (kcal/kg) % 91,98 33,58 9,51 4,25 25,06 4.582 79,89 42,09 26,83 1928.56