ASMA Carlos Alberto Mauricio Júnior Coordenação: Elisa de Carvalho Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF Definição CIBA Foundation Guest Symposium (1959): uma doença pulmonar obstrutiva intermitente ou reversível. American Thoracic Society (1962): uma doença caracterizada por aumento da resposta das vias aéreas, o qual modifica sua gravidade tanto espontaneamente como através de tratamento American Thoracic Society (1987): é uma síndrome clínica caracterizada por aumento da responsividade das vias aéreas a vários estímulos Definição Global Strategy for Asthma Management and Prevention (1995): Asma é uma doença crônica inflamatória das vias aéreas, em que muitas células desempenham um importante papel, em particular os mastócitos, eosinófilos e linfócitos T. III Consenso Brasileiro no Manejo da Asma (2002): Asma é uma doença inflamatória crônica caracterizada por hiper-responsividade (HR) das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento. Resulta de uma interação entre genética, exposição ambiental e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas Definição dos termos • Responsividade das vias aéreas= tendência normal destas para contrair sob influência de diversos estímulos. • Hiper responsividade das vias aéreas = resposta supranormal de contração das v. aéreas a um determinado estímulo. O termo hiper responsividade também engloba a hipersensibilidade e hiper reatividade. • Limitação variável ao fluxo de ar = broncoconstrição variável (espontânea ou em resposta ao tratamento) conseqüente a diversos estímulos. • Se a asma não for bem controlada, ela pode: – Tornar-se crônica c/limitação permanente ao fluxo aéreo. – Levar limitação física e social importante. – Causar morte por ataques graves. Epidemiologia • No Ocidente a asma é a única doença crônica tratável que aumenta em prevalência e em número de internações Epidemiologia • A prevalência no mundo varia de 0,7 a 18,4% da população geral Epidemiologia • Cerca de 50% dos casos iniciam-se antes da idade de dez anos • Nas crianças há predomínio do sexo masculino, variando entre 3:2 a 2:1 • O índice passa a 1:1 entre os 10 e 12 anos, quando a relação diâmetro/comprimento passa a ser a mesma para ambos os sexos, quando ocorrem mudanças no tamanho do tórax em meninos, o que não acontece com as meninas. • Na idade adulta passa a ocorrer predomínio do sexo feminino. Cerca de 25% dos casos iniciam-se após a idade dos 40 anos, quando passa a predominar o sexo feminino. Epidemiologia • Nos EUA a prevalência da asma vem aumentando desde o início da década de 1980 para todas as idades, sexos e grupos raciais. Dados do CDC de 1980 a 1993, indica que a taxa anual por asma entre 0 e 24 anos aumentou 118% e a taxa de hospitalização 28%. Epidemiologia • DATASUS do Ministério da Saúde: ocorrem de 300 a 350.000 internações por asma/ano • 3° ou 4° causa de hospitalizações pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme o grupo etário considerado. • Na faixa dos adultos jovens, de 20 a 29 nos de idade, tornou-se até, em alguns anos, a primeira causa de internação. Epidemiologia • A asma é uma das doenças que mais consome recursos em países desenvolvidos. Em termos mundiais, os custos com a asma superam os da tuberculose e HIV/AIDS somados. Patologia / Patogenia • • • A inflamação brônquica constitui o mais importante fator fisiopatogênico da asma. É resultante de interações complexas entre células inflamatórias, mediadores e células estruturais das vias aéreas Está presente em pacientes com asma de início recente, em pacientes com formas leves da doença e mesmo entre os assintomáticos Patologia / Patogenia Patologia/Patogenia • Sensibilização: o antígeno é fagocitado pela célula dendrítica (célula apresentadora). Expressa esse antígeno em sua membrana plasmática ligado ao MHC II • Linfócito CD4 Tipo Th2 dá início ao processo de ativação imunológica. • Ocorre produção de IL-4 (proliferação e diferenciação de mastócitos) e IL-5 (proliferação e diferenciação de eosinófilos) • As moléculas de IgE secretadas pelos linfócitos B ligam-se às membranas dos mastócitos e basófilos Patologia/Patogenia • Resposta Imediata: Após re-exposição ao antígeno • O antígeno liga-se ao IgE na superfície dos mastócitos promovendo liberação de mediadores químicos de ação inflamatória (ex.: histamina, leucotrienos, bradicinina...) • Conseqüências: Os Eosinófilos são atraídos Broncoconstrição Vasodilatação - Edema Produção de Muco Ativação de terminações nervosas secretam citocinas LESÃO Patologia/Patogenia • Resposta Tardia: os mastócitos e eosinófilos liberam mediadores quimiotáticos para neutrófilos, monócitos e linfócitos. • Após o acúmulo de leucócitos, há produção abundante de mediadores que contribuem para a atividade inflamatória e para a broncoconstrição, além de promover a degeneração de células epiteliais, que descamam para o lúmem brônquico, juntamente com o muco Diagnóstico: 1. Clinico: • • • • • • Dispnéia (crises / noturnas ou manhã) Tosse crônica (noturna ou manhã/ alérgenos/ atividade física). Sibilos (noturna/ alérgenos / atividade física). Sintomas episódicos (crises). Melhora espontânea ou pelo uso medicação especifica para asma (broncodilatadores / corticóides). Descartadas outras causas (bronquiolite viral, bronquiomalácia, aspiração de corpo estranho, etc) Diagnóstico: 2.Exame físico: Inspeção estática :avaliar abaulamento retrações, cicatrizes e lesões. Inspeção dinâmica: freqüência respiratória, tipo de respiração (torácica / abdominal) presença de tiragem. Palpação:expansibilidade, elasticidade e FTV. Percussão:Som claro pulmonar / maciço e Hipersonoro. Ausculta: Murmúrio vesicular / laringo traqueal. Ruídos adventícios. Diagnóstico: 3.Funcional: Espirometria : - obstrução das vias aéreas caracterizada por redução do VEF1 (inferior a 80% do previsto) e da relação VEF1/CVF (inferior a 75 em adultos e a 86 em crianças) Diagnóstico 3.Funcional: Espirometria : obstrução ao fluxo aéreo que desaparece ou melhora significativamente após uso de broncodilatador (aumento do VEF1 de 7% em relação ao valor previsto e 200ml em valor absoluto, após inalação de b2 de curta duração); limitação ao fluxo aéreo sem resposta ao broncodilatador em teste isolado não deve ser interpretado como obstrução irreversível das vias aéreas Diagnóstico 3.Funcional: Espirometria : aumentos espontâneos do VEF1 no decorrer do tempo ou após uso de corticosteróides (30 a 40mg/dia VO, por duas semanas) de 20%, excedendo 250ml Diagnóstico 3. Funcional: • Pico de Fluxo Expiratório: diferença percentual média entre a maior de três medidas de PEF efetuadas pela manhã e à noite com amplitude superior a 20% em um período de duas a três semanas • aumento de 20% nos adultos e de 30% nas crianças no PFE, 15 minutos após uso de b2 de curta duração Diagnóstico : • Atopia: Capacidade de produzir anticorpos da classe IgE contra aeroalergênicos, o que pode ser demonstrado por níveis séricos aumentados de IgE e / ou por testes cutâneos positivos para estes alergênios. - Aeroalergênios= são alergênios carreados em partículas inaláveis. – Teste cutâneo (puntura + extratos biológicos padronizados (ácaro dermatophagoides pteronyssinus). Diagnóstico Diferencial Classificação gravidade • Intermitente • Persistente • Leve • Moderada • Grave Asma Aguda Grave - Escore para Avaliação Clínica da Asma Variáveis 0 PaO2 70 –100 em ar ambiente Cianose Sons inspiratórios Uso de músculos acessórios Sibilos expiratórios Função cerebral Não Normal Não Não Normal 1 70 em ar ambiente Em ar ambiente Desigual Moderado Moderado Deprimido ou agitado 2 70 em FiO2 de 40% Em FiO2 de 40% Diminuído ou ausente Máximo Intenso Coma Wood, DW, Downes JJ, Lecks HI. A clinical scoring system for the diagnosis of respiratory failure. Am J Dis Child 1972; 123:227 5 : Insuficiência respiratória iminente 7 : Insuficiência respiratória instalada Tratamento • 1. 2. 3. 4. 5. 6. Medicamentos mais usados: -2 agonista curta duração. -2 agonista longa duração. Brometo ipratrópio. Corticóide sistêmico / inalatórios. Antileucotrienos. Xantinas (Aminofilina, Teofilina) Tratamento manutenção: I. Asma intermitente – -2 de curta duração (crises). II. Asma persistente leve: A.Crise: 2 curta duração. B.Manutenção: • corticóide inalatório baixa dose (beclometasona 200-400mg/dia) (budesonida 200-400 mg/dia) • Antileucotrienos. Tratamento manutenção: III. Asma persistente moderada: Crise – 2 curta duração Manutenção: A. B. 1. 2. Corticóide inalatório (Etapa II) + 2 longa duração (formoterol/salmeterol)ou duplicar a dose corticóide inalatório. Utilizar doses altas de corticóide inalatório (beclometasona: 400-800 mg/dia; Budesonida: 400-800 mg/dia) + 2 longa duração + antileucotrienos e/ou teofilina. Tratamento manutenção: IV. Asma persistente grave: A. B. • • Crise: 2 curta duração Manutenção: Corticóide oral (prednisona 1 mg/kg/dia) + corticóide inalatório (800-1600mg/dia) + 2 de longa duração. Curso breve de corticóide oral (5-7 dias) pode ser necessário em qualquer etapa em caso exacerbação (prednisona 40 mg/dia). Boa Resposta Resposta Incompleta Má Resposta Asma no Lactente • A presença de atopia predispõe a sensibilização por alérgenos ambientais ou irritantes, levando a quadros recorrentes de sibilância • O desenvolvimento de atopia em fase precoce da vida parece relacionar-se à presença de hiper-responsividade brônquica em idade posterior Asma no Lactente • Por outro lado, dados conflitantes apontam para o fato de que a “asma” iniciada nos 2 primeiros anos de vida pode resultar em função pulmonar reduzida na idade adulta, indicando possível ação deletéria da asma no desenvolvimento da função pulmonar Asma no Lactente • Manejo do lactente com sibilância: usar ou não usar corticosteróide? Asma no Lactente • Argumentos contra o uso: - Condição transitória, necessitando de medicação sintomática somente - Cerca de 80% dos lactentes chiadores não continuarão a apresentar crises na infância e adolescência - A maioria dos episódios é de origem viral - Existem poucos estudos em animais sobre o uso de corticosteróide inalatório e crescimento pulmonar Referências Bibliográficas • III CONSENSO BRASILEIRO NO MANEJO DA ASMA (2002) – Jornal de Pneumologia, disponível em www.jornaldepneumologia.com.br • Atualizações Terapêuticas – 1998 • Filho, Pierre d'Almeida Telles – Asma Brônquica, disponível em www.asmabronquica.com.br • Manejo da Asma Grave – Hospital Sírio Libanês