SALA DE LEITURA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES: EXPERIÊNCIA DE
UMA PARCERIA ENTRE A ENFERMAGEM E O TERCEIRO SETOR ∗
Chirlaine Cristine Gonçalves 1
Celênia Souto Macêdo 2
Isabella Maria Filgueira Guedes Piancó 3
Isabella Barros Almeida 4
RESUMO
O crescimento da cidade de Campina Grande de uma forma geral se deu de forma
desorganizada ao longo da história. Dentro desse cenário de crescimento desordenado, uma
faixa etária bastante vulnerável e que se encontra em risco social, são as crianças e
adolescentes, torna-se necessário que a enfermagem comece a pensar em estratégias que
colaborem, com a formação desses adolescentes, dessa forma traçamos o seguinte objetivo,
construir um espaço de inclusão e conscientização para crianças e adolescentes em idade de
risco social desatinado a atividades que venham contribuir com o desenvolvimento
sustentável e sócio-cultural através de leituras e experiências práticas de pesquisa realizando
palestras educativas. Trata-se de um projeto de extensão, sendo um estudo exploratório e
descritivo, desenvolvido na comunidade localizada no bairro do Itararé, no município de
Campina Grande – PB, realizado com crianças e adolescentes do bairro, inicialmente com o
intuito de conhecer o perfil da comunidade foi aplicado um questionário, foi também
construído um espaço destinado a o projeto sala de leitura, através do apoio do Ministério da
Saúde e do terceiro setor que foi representado pela Fundação Pedro Américo. Para elucidar
os dados sócio-demográficos relacionados à pesquisa, foi feita uma estatística simples,
também foram realizadas palestras educativas. O desenvolvimento do estudo seguiu as
diretrizes emanadas da Resolução 196/96. No que diz respeito aos resultados encontramos
que a população da comunidade esta estimada em 664 habitantes, onde 327 são mulheres
(49%) e 337 homens (51%), do total de moradores 210 correspondem a crianças ou
∗
Parte inédita integrante, do projeto intitulado Sala de Leitura e de responsabilidade ambiental para crianças e
adolescentes: uma construção coletiva. Projeto encaminhado a Fundação Pedro Américo, onde existe hoje o
espaço Sala de Leitura, criado através do apoio do Ministério da Saúde, que premiou o projeto no prêmio
Machado de Assis (o projeto ganhou 1300 livros, dois computadores, todo mobiliário), a Fundação Pedro
Américo, fundação sem fins lucrativos, cedeu o local para criação do espaço
1
Enfermeira, doutoranda em ciência e tecnologia, mestre em saúde coletiva. Professora da FCM, coordenadora
do CEP/CESED.
2
Licenciada em Geografia, mestre em ciências sociais, Coordenadora de Projetos Sociais na Fundação Pedro
Américo – [email protected]
3
Estudante de enfermagem do quarto período da FCM. Email: [email protected]
4
Estudante do quarto período do curso de enfermagem da FCM. Email:[email protected]
adolescentes na faixa etária de 2 a 17 anos, o que representa aproximadamente 32% da
população total do bairro. O bairro esta delimitado em dez ruas, composto por 182 casas,
sendo 151 próprias. A coleta de lixo é realizada em 99,5%. Em relação ao abastecimento de
água pela rede geral 179 possuem esse beneficio (98%). A rede de esgoto do bairro é
subdividida em quatro categorias: geral (60%), fossa (10%), vala (4%) e outros (26%).
Através dos depoimentos de crianças observamos a necessidade de criação de alternativas que
visassem diminuir o risco social, dessa forma foi criado o espaço sala de Leitura, foram
realizadas palestras educativas baseadas nas solicitações da comunidade. Constatamos que o
conhecimento das experiências vividas na comunidade, teve um desempenho satisfatório em
relação ao desenvolvimento geral do projeto.
Palavras-chves: Parceria. Enfermagem .Terceiro Setor
INTRODUÇÃO
O rápido crescimento e o porte do processo de urbanização brasileiro foram marcados,
desde seu início há cerca de 50 anos até os dias atuais, por uma acentuada segregação social
que se reflete especialmente no contraste entre as áreas reguladas, infra-estruturadas e, por
vezes, subutilizadas, ocupadas pelos segmentos de rendas média e alta, por um lado, e nos
inúmeros assentamentos irregulares e invasões de áreas públicas e privadas, habitadas pela
população de baixa renda, que passaram a compor as periferias da maioria das cidades do
país. Campina Grande é um dos exemplos deste padrão de urbanização, no qual se apresentam
aos poderes públicos os desafios de controlar o ordenamento do uso e da ocupação do solo e
de assegurar a prestação de serviços públicos a um conjunto considerável de seus habitantes¹.
A humanidade contemporânea dispõe de uma vasta, progressiva e infinita rede de trocas
de vivências e experiências nas mais diversas áreas científicas e campos de atuação
profissional, bem como no seu cotidiano, transformando esta rede de conhecimento em
benefício para a sociedade. Esta é uma função praticada principalmente pelas universidades e
esta vivência acaba por complementar a educação dos universitários.
A responsabilidade social é um dever de todos, e mediante a quantidade de crianças e
adolescentes que residem nas proximidades das IES mantidas pelo CESED precisamente na
Vila Itararé foi idealizado a construção de um projeto de sustentabilidade ambiental e inclusão
social, tendo como meta a educação em saúde despertando para consciência ambiental e a
inclusão dessas crianças e jovens através do universo da leitura de temas relacionados à
qualidade de vida no ambiente urbano, bem como temas relacionados com o desenvolvimento
sustentável, complementado com palestras que de alguma forma despertem e auxiliem na
melhoria da qualidade de vida.
A proposta não se restringiu a criar unicamente uma sala de leitura, mas transformar a
sala de leitura em um lugar que possibilite a construção da história da comunidade para ser
lida por gerações futuras e complementada sempre que um novo jovem ou criança começar a
participar, então é ler, escrever, e utilizar também como fonte de pesquisa os idosos,
promovendo uma relação de respeito e ao mesmo tempo construindo uma história de
valorização da comunidade, do meio ambiente e o encantamento para com o mundo literário e
sócio-cultural.
É importante destacar que foram escolhidos crianças e adolescentes, pelo fato de que a
adolescência demarca a transição da infância à idade adulta, e é caracterizada por um período
de profundas modificações e transformações: psicológicas, culturais, sociais, anatômicas e
fisiológicas, é quando se deixa de ser criança e passa a ser um adulto². Nesse período da
puberdade, a perda do papel infantil gera inquietação, ansiedade e insegurança, pois está
iminente a descobrir um novo mundo cheio de dúvidas, responsabilidades, conflitos e
cobranças. Por isso a adolescência se diferencia de todas as outras fases de transformação da
vida, por ter tais características próprias.
Portanto tornou-se fundamental, a construção de alternativas que atendessem às
diferentes condições biológicas, psicológicas e sociais das crianças e adolescentes,
valorizando a promoção da saúde, nesse sentido grupos de convivência tornam-se ideais, pois
nestes lugares, os jovens encontram uma oportunidade de expressar suas preocupações e
considerar modos alternativos para modificarem seus estilos de vida, consistindo em apoio
social extra familiar.
Diante dessa realidade, este estudo teve por objetivo: Construir um espaço de inclusão
e conscientização para crianças e adolescentes em idade de risco social desatinado a
atividades que venham contribuir com o desenvolvimento sustentável e sócio-cultural através
de leituras e experiências práticas de pesquisa e construção de uma história local voltada para
valorização do pertencer à comunidade chamada Vila Itararé, tecendo uma rede de trocas
simbólicas entre crianças e adolescentes da comunidade e alunas do curso de enfermagem da
Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande.
CAMINHO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, de abordagem quantitativa.
Foi desenvolvido na comunidade localizada no bairro do Itararé, no bairro do Itararé,
localizado na zona sul da cidade de Campina Grande - PB, pertencente ao interior do estado
da Paraíba no agreste paraibano, na parte oriental do Planalto da Borborema.
Inicialmente foi feito um levantamento da população da Vila Itararé, destacando a
quantidade de crianças e adolescentes, tendo como critérios de inclusão e exclusão nas
atividades que são desenvolvidas durante o projeto: ser morador da Vila Itararé , todos os
gêneros, As crianças e adolescentes que fazem parte da pesquisa são
regularmente
matriculados/as na escola, publicas ou privadas, ficando excluídos quem não encaixe, no
perfil acima citado.
A coleta foi realizada na comunidade do Itararé, sendo aplicado um questionário
previamente elaborado, contendo questões objetivas e subjetivas.
Os dados quantitativos foram expostos em porcentagens, e os qualitativo analisados
segundo Bardin4.
O desenvolvimento do estudo seguiu as normas da Declaração de Helsinki, de 1964,
na versão 20005, e as diretrizes emanadas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde 6. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de
Ensino Superior e Desenvolvimento.
ANALISE E DISCUSSÃO
MAPEAMENTO DO BAIRRO ITARARÉ
A Vila Itararé por muito tempo foi chamada pelos de fora de Vila do Lixo. As taperas
eram feitas em taipa e em parte do local ficava em uma lagoa. Nesse espaço se depositava os
resíduos da população do bairro do Catolé e outros no entorno moravam varias famílias.
“O conjunto Itararé, antiga “Comunidade dos Brotos” foi constituída inicialmente por
famílias sem teto que se estalaram no local e construíram seu espaço de moradia”7.
A ausência de saneamento básico, foi de certa forma suprida ao longo da implantação
das faculdades mantidas pelo CESED e adequação por parte do poder público municipal de
alguns serviços como a Unidade Básica de Saúde.
O prêmio Ponto de Leitura Edição Machado de Assis foi a primeira parceria da
entidade que desde 2006 construiu atividades para tentar suprir as lacunas de ausência do
estado no âmbito da Vila.
Ao longo da vida crianças, mulheres e idosos eram privados dos seus direitos básicos
garantidos constitucionalmente e por muito tempo essa situação pendurou. Em dias de chuva
era comum se levar na bolsa um calçado para substituir o que estava no pé após a lavagem do
mesmo pois a lama era certa e a vergonha também.
Durante muitos anos a vida na Vila não parecia mudar, as pessoas que ocupavam os
terrenos e as que tinham a posse legal enfrentavam em parte os mesmos problemas com a
falta de saneamento, o alagamento e o esquecimento daquele recanto da cidade tão especial,
mas ao mesmo tempo tão abandonado. O sonho de melhorias ficava guardado e sobressaia a
luta pela permanência no espaço conquistado.
As poucas visitas e promessas que recebiam eram suficientes para manutenção da
chama acessa por liberdade, igualdade e fraternidade local (bem à moda da Revolução
Francesa). O local que sempre foi marcado pelas ausências é surpreendido com a
possibilidade de ser inserido no progresso educacional e começa outra capitulo do que viria se
constituir como Vila dos Sonhos.
De acordo com moradores do bairro, o terreno onde hoje é constituído o bairro do
Itararé, pertencia ao ex-governador da Paraíba Argemiro de Figueiredo (in memorian), cujo
nome foi dado à avenida localizada as margens do bairro. Com o seu falecimento os herdeiros
deram início ao processo de loteamento do terreno para ser posto a venda e a partir daí, a
Caixa Econômica Federal desta cidade iniciou a construção de diversas casas e as colocou a
venda. Imobiliárias também fizeram parte das vendas de lotes dos terrenos e assim
gradativamente o bairro foi sendo formado.
Figura 1: Mostra a Avenida denominada Argemiro de Figueiredo, homenagem ao antigo
propietário do loteamento.
Fonte: ASCOM
Na região existia uma lagoa onde as pessoas jogavam lixo que em pouco tempo foi se
tornando um grande foco de contaminação para a população residente. Diariamente o volume
de lixo depositado foi crescendo e a existência de um matadouro clandestino na vila
contribuiu consideravelmente aumentando o odor refletindo um ar poluído, atraindo vetores
transmissores de doenças. As crianças brincavam nos entulhos do bairro e a maioria das casas
eram de taipa, como mostra as imagens a seguir.
O município de Campina Grande está localizado na Zona Central – Oriental da
Paraíba, a cerca de 120 km da capital. Nesta esta inserida a comunidade do Itararé, antes
conhecida como o “lixão”. A realidade atual é o inverso da situação anterior em termos de
infra-estrutura, valorização, melhor moradia, qualidade de vida, educação e saúde.
A população da comunidade esta estimada em 664 habitantes, onde 327 são mulheres
(49%) e 337 homens (51%), dentre do total 210 correspondem a crianças ou adolescentes na
faixa etária de 2 a 17 anos, o que representa aproximadamente 32% da população total do
bairro.
O bairro esta delimitado em dez ruas, composto por 182 casas, sendo 151 próprias o
que corresponde a aproximadamente 83%, 29 casas não-próprias o que corresponde a
aproximadamente 17%. A coleta de lixo é realizada em 99,5%, o que totaliza uma casa sem a
coleta de lixo. Em relação ao abastecimento de água pela rede geral 179 possuem esse
beneficio (98%) e outras 3 casas possuem outras formas de abastecimento (2%). A rede de
esgoto do bairro é sub dividida em quatro categorias: geral (60%), fossa (10%), vala (4%) e
outros (26%).
ANALISE QUALITATIVA
No intuito de descobrir a opinião das crianças e adolescentes a respeito do que faltava
no bairro, realizamos uma entrevista onde os mesmos foram questionados acerca do que
faziam nos momentos livres em que não freqüentavam a escola, nesse sentido encontramos as
seguintes categorias: categoria I - fica ansioso, categoria II - trabalha
CATEGORIA I: Fica ocioso:
Na fase da adolescência a grande maioria destes jovens apresenta um comportamento
conturbado, como a agressividade, rebeldia, desvio de conduta, comportamentos anti-sociais,
envolvimentos com acidentes, envolvimento com drogas e a descoberta da sexualidade. O
adolescente quer ser ele mesmo, recusando toda lei imposta de fora. É a fase da contestação
onde ele gosta de viver em grupos e sente a necessidade de se auto-afirmar, de amar e ser
amado.
É inconstante nas atitudes e emoções. A falta do que fazer, ou seja, a ociosidade é
demonstrada por muitos das crianças e adolescentes da comunidade, deixando-os ainda mais
expostos a esses tipos de comportamentos e aos riscos sociais que a sociedade proporciona.
“Como não tem nada pra fazer, fica em casa assistindo
televisão e brincando” [96]
CATEGORIA II: Trabalha:
O trabalho infantil aqui no Brasil não é crime, não é uma violação a lei penal crime,
exceto quando envolve tráfico de crianças e adolescentes, exploração sexual, venda de drogas
e trabalho escravo, porém, existem sanções previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente para as famílias que inserem a criança no trabalho, como encaminhamento ao
programa oficial de proteção à família, obrigação de matricular o filho(a) na escola e
acompanhar sua freqüência, advertência, podendo chegar até a perda da guarda e destituição
do pátrio poder.
Uma criança relata em seu depoimento que ele
“Brinca, conversa e quando aparece um trabalho(bico) o mesmo
realiza”.[ 98]
Ao serem questionados acerca do que eles mudariam na sua comunidade, encontramos
as seguintes categorias: categoria I - implantação de lazer, categoria II educação.
CATEGORIA I: Implantação de lazer:
Torna-se fundamental, a construção de alternativas que atendam às diferentes
condições biológicas, psicológicas e sociais dos adolescentes, valorizando a promoção da
saúde, nesse sentido grupos de convivência tornam-se ideais, pois nestes lugares, os jovens
encontram uma oportunidade de expressar suas preocupações e considerar modos alternativos
para modificarem seus estilos de vida, consistindo em apoio social extra familiar.
“Colocaria uma quadra para praticar esportes” [34]
“A implantação de um clube esportivo, um posto policial e um campo
de futebol” [41]
CATEGORIA II: Educação:
É de extrema importância e dever das autoridades oferecer uma educação de qualidade
para todos, independente de sua classe social. Porem sabemos que infelizmente essa não é a
realidade do nosso País, pensando nisso o projeto Sala de Leitura se preocupou com as
crianças e adolescentes e estudou em uma possibilidade, que em seguida resultou em uma
biblioteca que conta com materiais literários riquíssimos para uma melhoria da educação e da
cultura dos mesmo,visando o futuro melhor para eles e consequentemente para o nosso país.
“Tiraria os motéis, e colocaria pontos de estudo para criança,
adolescente e adultos” [98]
“Colocaria biblioteca, escolas de ensino fundamental e médio e parque”
[112]
Ao serem questionados acerca do que representa a criação de uma sala de leitura e de
responsabilidade social para eles na comunidade, encontramos as seguintes categorias,
categoria I - esperança de um futuro melhor, categoria II - melhoria de vida através da
educação.
CATEGORIA I: Esperança de um futuro melhor:
Os entrevistados revelam que o projeto de enfermagem presente na comunidade do
Itararé representa um “futuro garantido”, já que hoje em dia tudo depende do estudo. A sala
de leitura vem para oferecer as crianças e adolescentes uma oportunidade de educação, além
do que eles recebem na escola.
“A faculdade é o futuro das pessoas, queria muito estudar na faculdade
mas diz não tinha condição, porém com o sala de leitura a gente pode
ler livros que não tínhamos, estudar o meio ambiente, aprender coisas”
(65).
CATEGORIA II: Melhoria de vida através da educação
Relataram também que o projeto representa melhoria de vida para os jovens e toda a
comunidade, desde a infra-estrutura até a importância com o ser humano. O projeto torna-se
sendo mais uma oportunidade para a comunidade, que agrega o lazer e a educação.
“O projeto melhorou a vida dos moradores do Itararé, porque pobre
nunca tem vez e o projeto vem proporcionando coisas maravilhosas
para os jovens e toda a comunidade” (34)
Diante do exposto, nos discursos, observamos a urgência da criação de um espaço
direcionado as crianças e adolescentes, e que visasse estabelecer um atendimento a essas
crianças e adolescentes que residem na Vila do Itararé, promovendo assim a inclusão social
através do envolvimento deles no universo da leitura, e dos cuidados ao meio ambiente
visando uma melhoria da qualidade de vida e desenvolvendo dessa forma momentos
agradáveis de lazer.
DESPERTAR DE UM SONHO: CONSTRUÇÃO DO PONTO DE LEITURA
Um lugar que já foi considerado um não lugar desabrocha quando as vozes antes
caladas pelas ausências ressurgem em gritos de esperança por dias sem lama e sem abandono.
Os de fora confortam e trazem planos, mas os de dentro necessitam construir a possibilidade
da aprendizagem, de matar a fome de leitura, de música, arte. Essa fome toma novos rumos
quando os setores se unem para ouvir e não para calar. Essa sede de conhecimento iniciou sua
trajetória em um Ponto de Leitura, homenageando Machado de Assis, em 2008.
Seguindo seu percurso, a fome e a sede transformaram-se em num impulso para a
busca de melhorias, devido à necessidade, mesmo enfrentando as dificuldades e obstáculos.
A dificuldade de acesso a leitura por parte das crianças pertencentes aos grupos menos
favorecidos vem sendo demonstrado no rendimento escolar e na dificuldade de inserção
dessas crianças no que tange as oportunidades no contexto social de vida digna, e acesso aos
meios possíveis através de ações e políticas públicas voltadas para essa finalidade. Por isto,
conforme índices apontados pelo próprio poder público, há a necessidade de despertar as
crianças para a leitura como forma de ampliação do conhecimento e interação sobre as
temáticas diversas.
Há uma grande situação de desigualdade econômica e de injustiça social de nossas
populações, inclusive nas infantis. Nestas classes, há uma grande heterogeneidade cultural, o
que também acarreta consequências para a formação dos profissionais da educação infantil.
Por isso é que é importante mostrar a leitura como necessidade vem sendo a arma usada para
atrair olhares, quantos autores, quanta coisa para ler e transformar realidades8.
O ponto de leitura e de Cultura da Fundação Pedro Américo, em parceria com o
CESED, o Ministério da Cultura e educação, abriu o Sala de Leitura, um espaço sem fins
lucrativos, que foi criado pois diante dos discursos dos adolescentes, observamos a urgência
da criação de um espaço direcionado as crianças e adolescentes, e que visasse estabelecer um
atendimento a essas crianças e adolescentes que residem na Vila do Itararé, promovendo
assim a inclusão social através do envolvimento deles no universo da leitura, e dos cuidados
ao meio ambiente visando uma melhoria da qualidade de vida e desenvolvendo dessa forma
momentos agradáveis de lazer.
O projeto sala de leitura, era um sonho distante, pois mesmo com todo apoio dos
voluntários, precisávamos de um local e de materiais que pudessem nos auxiliar nessa etapa,
o que demandava custos financeiros, porém em 2008 surgiu o concurso pontos de leitura do
ministério da cultura, e nos debruçamos no projeto a fim de adquirirmos o material que
faltava para construção desse sonho, ganhamos a premiação e hoje contamos com um acervo
que tem grande beneficio para os usuários, que totaliza 1.300 obras sendo 50% ficção, 25%
não-ficção e quadrinhos, e 25% de referência passando por literatura brasileira, africana e
indígena, além de história e ciência. Um acervo diversificado somado ainda a alguns volumes
de vídeo, contamos com computadores e um espaço destinado as palestras, cursos, aulas, e
recreação.
Figura 2: Montagem da Sede do Projeto Sala de Leitura
O projeto já vem realizando palestras educativas, em parcerias com alunos da IES
inserida no bairro, com alunos do curso de enfermagem, como por exemplo, a primeira
atividade exercida com os adolescentes que foi um work shop sobre dengue, DST’s,
destacando que o tema foi escolhido pelo clube de mães, oficinas sobre higiene com crianças,
podemos também destacar como exemplo a oficina de materiais reciclados em parceria com
alunos do curso de arquitetura, que proporcionou uma tarde de lazer e de conscientização da
preservação ambiental, tivemos também uma caminhada ecológica no bairro mostrando os
pontos positivos no bairro, e o que já havia sido mudado no bairro, realizamos em parceria
com o curso de enfermagem uma semana de saúde, realizamos em parceria com o grupo da
terceira idade do Itararé um encontro de interação do passado com o presente, tentando
valorizar a história de vida de cada um, entre outras ações, o projeto é coordenado e
desenvolvido por uma professora de enfermagem e por graduandos de enfermagem.
Realizamos em parceria com a prefeitura de Campina Grande, uma semana de incentivo a
leitura e aos cuidados com a saúde, em um parque da cidade, dentre outras atividades.
Figura 3: Atividades educativas: Dengue e os caras pintadas
I WORKSHOP SOBRE DST COM FOCO EM HIV: "QUANDO O MAIOR
REMÉDIO É A ORIENTAÇÃO”
A responsabilidade social está presente em ações de intervenção social do Projeto Sala
de Leitura e responsabilidade ambiental para crianças e adolescentes: Uma construção
coletiva, buscando passar de forma interativa e dinâmica problemáticas relacionados à sua
faixa etária correspondente, sendo abordada de acordo com a necessidade local que sentimos
sobre a temática, que é construída levando em conta pré-supostos teóricos metodológicos e de
cunho social.
Os jovens são um segmento vulnerável em todas as sociedades no mundo globalizado.
A cada 14 segundos um jovem entre 15 e 24 anos é infectado pelo HIV, e de todas as novas
infecções, cerca da metade ocorre nessa faixa etária. Daí se deu a importância de um trabalho
voltado a educação em saúde e a implementação de programas de prevenção e informação
voltados para os jovens, antes que eles iniciem práticas comportamentais que possam
aumentar o risco de transmissão do HIV.
Os adolescentes constituem um contingente populacional prioritário das ações de
prevenção para controle das DST, HIV e AIDS, diante disto surgiu à necessidade de realizar
atividades de educação em saúde, buscando atingir e promover um maior conhecimento e
entendimento à cerca da importância que se tem o tema proposto para a determinada faixa
etária facilitando assim uma melhoria de qualidade de vida desses jovens,considerando assim
que o melhor remédio é a orientação.
A palestra educativa em saúde proporcionou aos adolescestes da Vila do Itararé uma
tarde de aprendizado por meio da apresentação oral e visual do assunto abordado – HIV/AIDS
proporcionando um debate esclarecedor das suas supostas dúvidas á cerca da sexualidade,
frisando sempre que o melhor remédio é a orientação e a prevenção.
Figura 3: Palestra DST/AIDS
DENGUE: A PREVENÇÃO É O MELHOR COMBATE
Uma grande problemática que vem atingindo a população Brasileira há décadas é o
Dengue transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e que já fez milhares de vitimas ao longo
dos anos. Diante desta problemática o Projeto Sala de Leitura e responsabilidade ambiental
para crianças e adolescentes: Uma construção coletiva de responsabilidade está presente
social em ações de intervenção social, discutindo temas da atualidade de acordo com a
necessidade sentida.
O dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é um grave e crescente problema
de saúde pública no mundo, e que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 80
milhões de pessoas se infectam anualmente, com cerca de 550 mil hospitalizações e 20 mil
óbitos em conseqüência da dengue. Diante dos dados obtidos percebe-se a realidade mundial
a cerca da doença, pensando nisso propomos atividades que contribuam com a diminuição
desse número de infectados e óbitos, fazendo isso de forma dinâmica, atingindo uma faixa
etária crescente crianças de 5 à 8 anos passando o conteúdo de forma interativa, contribuindo
e facilitando o aprendizado dos mesmos diante do assunto exposto7.
Diante do problema que a saúde pública mundial não só brasileira enfrenta com a
gravidade da doença, o Projeto Sala de Leitura e de Responsabilidade ambiental para crianças
e adolescentes: Uma construção coletiva notou que é de grande valia a execução de um
workshop para as crianças da comunidade do Itararé – Campina Grande/PB. Com uma
palestra educativa com o objetivo de promover a melhoria de qualidade de vida, mostrando os
riscos que a doença proporciona, quais os sintomas, a melhor forma de diagnosticar a doença,
o tratamento adequado para o tipo de dengue e a implementação de programas do combate da
doença.
Acredita-se que o melhor remédio para um bem-estar biológico, psicológico e social é
a prevenção, por isso a iniciativa do projeto em aborda temas e problemáticas da atualidade.
Visando proporcionar momentos de aprendizado de forma interativa e dinâmica para a faixa
etária escolhida, pois é na educação em saúde que identificamos a forma mais eficaz de
controle das doenças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De modo geral o presente trabalho constatou que o conhecimento das experiências
vividas pelas crianças e adolescentes da comunidade do Itararé, teve um desempenho
satisfatório em relação às palestras educativas realizadas e oficina de conscientização da
preservação ambiental.
A adolescência é um período de transição para a vida adulta, onde este grupo
particularmente esta ainda mais exposto aos riscos sociais que as ruas oferecem, tais como:
violência, gravidez na adolescência, doenças venéreas, drogas, prostituição. Visto que estes
precisam de uma atenção maior voltada para a educação, notoriamente esse projeto vem o
intuito de preencher o tempo livre e oferecer lazer de uma maneira educativa.
A importância da atividade é de ampliar seus conhecimentos literários auxiliando na
vida escolar e despertar cada vez mais o hábito da leitura. A premiação do concurso do
ministério da cultura proporcionou então o sonho da construção de uma sala de leitura,
podendo proporcionar dessa forma a realização sucinta das atividades programadas.
Para a enfermagem, que tem como lema “a arte do cuidar”, o projeto estabelece a
relação do cuidar para com o outro, já que a adolescência necessita de um cuidado e atenção
mais priorizada.
Contudo devem-se estabelecer parcerias com os pais, realizando atividades em
conjunto a nível de ambiente familiar para fortalecer esse elo de educação, estabelecendo
assim uma forma dinâmica de conversação entre pais e filhos sobre temas variados que na
maioria das vezes é de difícil diálogo. Então, o projeto visa uma promoção da saúde e
educação de maneira integral para os mesmo.
Portanto torna-se essencial o desenvolvimento de grupos de apoio, de espaços de
leitura e lazer, de espaços que valorizem o meio ambiente e a diversidade cultural, ou seja
locais que tentem minimizar as necessidades de crianças e adolescentes, visto que são nesses
espaços onde se identificam questões que podem aumentar o grau de vulnerabilidade frente
aos riscos, tais como: questões de gênero associadas com raça/etnia e classe social, condições
de vida, condições de saúde, acesso ou não à informação, insuficiência de políticas públicas
em saúde e educação ambiental, são nesses espaços que medidas certas para enfrentar os
problemas da sociedade são desenvolvidas e encontradas, são nesses espaços onde são
apresentadas medidas preventivas para evitar o uso da droga, onde são influenciados os
esporte e trabalhados seus dotes. Esta atitude pode ser vista como proteção frente às situações
de risco, às quais estão expostas crianças e adolescentes continuamente estão expostas.
REFERÊNCIAS
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm> Acessado em 12 out.
2007, 15:47:40
2. COLLI, A.S. Conceito de Adolescência. IN: MARCONDES, E. et al. Pediatria Básica, 9°
ed. São Paulo: Sarvier. 2003.
3. MOREIRA, T.M.M. et al. Conflitos vivenciados pelas adolescentes com a descoberta da
gravidez. Revista Escola de Enfermagem da USP, 42(2) p. 312-320, junho, 2008.
4. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979
5. World Medical Association. 52ª General assembly of the World Medical Association.
Declaration of Helsinki: Recommendation guiding physicians in biomedical research
involving humans subjects, 1964. Edinburgo: World Medical Association; 2000.
6. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa – CONEP. Resolução 196/96, dispõe sobre pesquisa envolvendo seres
humanos. Brasília; 1996.
7. GADELHA, G.B.N. Projeto Brotar. 1º Projeto Elaborado para Vila Itararé. Fundação Pedro
Américo. Campina Grande, 2005
8.MACHADO, S. W. S.; MACHADO. M. S.; BARROS. A. M. A. Gabinete de crise:
gerenciamento
de
epidemia
no
Rio
de
Janeiro,
2010.
Disponível
em:
http://www.defesacivil.uff.br/defencil_5/Artigo_Anais_Eletronicos_Defencil_17.pdf. Data de
acesso: 20 de agosto de 2010.
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