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MATERIAL DE AULA (6/6)
CURSO DE REDAÇÃO (2013.2)
REDE LFG/ANHANGUERA
PROF. EDUARDO SABBAG
PROGRAMA: AULAS DE REDAÇÃO
1. Apresentação do Curso; Introdução à temática do Curso (“a arte de redigir”); bibliografia; noção de
parônimos; breve revisão gramatical; noções gerais do texto dissertativo. (1/6)
2. O texto dissertativo (continuação). A dissertação na prática (temas simples I); o bom uso dos
pronomes relativos (problemas com conectivos). (2/6)
3. A dissertação na prática (temas simples II); o texto jurídico (3/6)
4. A dissertação na prática (temas medianos); (4/6)
5. A dissertação na prática (temas abstratos e complexos); (5/6)
6. A dissertação na prática (temas da atualidade). (6/6)
Laboratório de redação:
Quem não consegue postar a redação deverá comprar este recurso na unidade.
Prazos para o 5º (e último) exercício:
Data postagem do exercício: 05/12
Data para envio do exercício pelo aluno: 11/12
Data máxima para correção: 18/12
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RECADO IMPORTANTE: PARTICIPE DO SORTEIO “COMBO DE LIVROS”. ENVIE UM E-MAIL PARA
[email protected] E INFORME:
- NOME COMPLETO;
- UNIDADE LFG;
- E-MAIL(s);
- TELEFONE(s)
LABORATÓRIO 1: TEMA RECORRENTE
PÚBLICOS: A QUESTÃO DA CORRUPÇÃO
EM
PROVAS
DE
REDAÇÃO
PARA
CONCURSOS
(ITA-SP) Redija uma dissertação (em prosa, de aproximadamente 25 linhas) sobre o tema:
A ocasião faz o ladrão?
Para elaborar sua redação, você poderá valer-se, total ou parcialmente, dos argumentos contidos nos
excertos abaixo, refutando-os ou concordando com os mesmos. Não os copie. (Dê um título ao seu
texto. A redação final deve ser feita com caneta azul ou preta.)
1) (...) muito se reclama no Brasil da corrupção pública, que vai do guardinha de trânsito ao
deputado federal. A corrupção privada, no entanto, é igualmente difusa e danosa, embora
ninguém pareça escandalizar-se demais com ela. Quando vou ao Brasil, frequento jornalistas,
cineastas, publicitários, e é impressionante a quantidade de histórias de corrupção privada que
eles têm a contar. Na maior parte dos casos, são atravessadores que faturam uma bonificação
para cada transação comercial que executam. Acredito que em outros campos de trabalho se
verifiquem fatos análogos. Se, em vez de jornalistas, cineastas e publicitários, eu frequentasse
fabricantes de parafusos ou importadores de máquinas agrícolas, acho que acabaria ouvindo o
mesmo número de histórias de corrupção. (Diogo Mainardi. Veja, 5/7/2000.)
2) No Brasil uma pessoa já é considerada honesta apenas porque é medíocre em sua
desonestidade. (Millôr Fernandes. Folha de S. Paulo, 30/7/2000.)
3) Não há povos mais ou menos predispostos à desonestidade. Há sim, sistemas mais permissivos,
mais frouxos, mais corruptos, nos quais ela encontra terreno fértil para plantar suas raízes
profundas — o que estaria ocorrendo no Brasil. (IstoÉ, 20/5/1992.)
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4) Os excertos abaixo foram extraídos da matéria “O bloco dos honestos”, publicada em IstoÉ de
20/5/1992, e adaptados. (A moeda na época era o Cruzeiro.)
G. B. P. — Funcionária do Metrô de São Paulo
– Salário mensal de Cr$ 640 mil; entre suas funções recolhe roupas doadas para os
pobres.
– Trabalhando solitariamente numa sala, encontrou US$ 400* no bolso de um
casaco que lhe foi entregue.
– Passou o dinheiro a seu chefe, que aguarda o verdadeiro dono.
(*)
US$ 400 correspondia a um pouco mais que o dobro do salário da
funcionária, na época.
C. A. — Camareira de hotel
– Ganha mensalmente Cr$ 390 mil, trabalhando 10 horas por dia.
– Entrega à gerência dólares, relógios e joias esquecidos pelos hóspedes.
– Sua receita para a honestidade é “não dar chance à tentação”.
H. H. F. — Fiscal Aduaneiro
– Cr$ 3 milhões de salário mensal, fiscalizando a fronteira Brasil-Paraguai.
– Por suas mãos passam diariamente US$ 10 milhões em guias de exportação.
– Irredutível, declara: “A corrupção não compensa, tampouco constrói”.
J. A. S. — Engenheiro
– Salário de Cr$ 2 milhões por mês, examinando loteamentos fora da lei.
– Já interditou mais de 60 empreendimentos imobiliários irregulares.
– Diz que o menor diálogo com “a pilantragem termina em corrupção”.
GABARITO (COMENTÁRIOS DO PROFESSOR):
A prática da corrupção costuma estar ligada a fatores extrínsecos, tais como a presença de um
sistema mais permissivo ou, até mesmo, a formação histórica de uma nação com maior ou menor
propensão a degradantes práticas ilícitas. Por outro lado, é indiscutível que os valores individuais,
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os quais formam o caráter e orientam a conduta dos seres, decidirão se o peso da desonestidade
deverá prevalecer sobre a opção pela integridade.
Aquele que corrompe ou aquele que é corrompido demonstram uma maior suscetibilidade à praxe
criminosa. É fato que a aproximação falsamente sedutora dos que usam tal expediente para se
impor não deverá servir como justificativa para se decidir pela desonestidade. Tudo dependerá,
verdadeiramente, do conjunto de valores individuais, os quais devem se contrapor à torpe
tentação de se corromper.
De outra banda, é fato que a estrutura capitalista estimula o consumo e enaltece a posse, a
evolução patrimonial e o mero prazer pelo “ter”. Se assim o é, naturalmente, a corrupção tenderá
a se ligar à apropriação do poder e à volúpia do consumo, sob pena de aceitarmos a prática pela
simples prática, o que não parece convencer. Nesse passo, em certas pessoas mais propensas ao
ilícito – em virtude do “deficit” de valores individuais –, o “status” do consumo desenfreado
estimula a posse, independentemente do escrúpulo.
Não há dúvida de que a corrupção encontra terreno propício em determinados sistemas, sendo
bem fertilizada no cotidiano daqueles mais propensos à prática vil.
LABORATÓRIO 2:
Redija uma dissertação a tinta, desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo.
Texto I
Cartão-postal brasileiro, o vasto litoral do Rio de Janeiro virou um caso emblemático de regressão a estágios
civilizacionais mais primitivos. Para se ter uma ideia, só no mês de janeiro 3000 toneladas de lixo foram recolhidas
das praias cariocas. Empilhadas, essas toneladas são evidências de vida pouco inteligente e lotariam cinco piscinas
olímpicas. (Sandra Brasil)
Texto II
Pensar a questão do gerenciamento do lixo urbano no Brasil é colocar em jogo um retrato da falta de ação
governamental. Assim, pensar o papel do Estado, sobretudo a sua condição de impulsionador de políticas públicas, é
obrigação de primeira ordem. Uma das soluções mais comuns para a questão do lixo urbano é a expansão dos
aterros sanitários e, especialmente, o reaproveitamento do lixo. A ausência de uma postura mais ativa por parte do
Estado quanto ao gerenciamento de resíduos, não raras vezes, impede a adoção de uma série de medidas que
gerariam ganhos tanto para a sociedade quanto para o meio ambiente de um modo geral.
Adaptado de M.V. Souza, S.L. Boeira, W.V.K. Matos Silva, R.V. Junkes
Texto III
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MACKENZIIE
1. Leitura dos três textos que foram base para a prova do vestibular do Mackenzie.
Base textual produzida:
- A perspectiva do lixo perante a postura dos homens.
- O ato de separar o lixo doméstico para a reciclagem é incipiente no Brasil.
- O papel Estatal de gerenciamento do lixo urbano é claudicante.
- As ações governamentais voltadas para o tratamento do lixo urbano são obrigações inafastáveis por
parte daquele que, para além dos comportamentos individuais, deve exteriorizar a preocupação coletiva
de um ambiente ecologicamente equilibrado.
- As soluções propostas para o problema do lixo urbano caracterizam-se pela mesmice de ações que
passam pela expansão de aterros sanitários e reaproveitamento de resíduos. Ocorre, porém, que o
ambiente do “lixão” retrata a desigualdade social quando abriga famílias que dele se alimentam, além de
apontar o grave problema de emissão de gases provocadores do efeito estufa. Desse modo, as soluções
adequadas à questão do lixo urbano requerem possibilidades abrangentes.
- O descomprometimento do Estado e dos cidadãos com relação a uma eficiente gestão do lixo denota a
falta de cultura, própria de estágios civilizacionais primitivos, e insere todos no contexto de catastróficas
consequências naturais, comuns nos tempos atuais/ hodiernos.
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Sugestão para a redação :
Parágrafo introdutório:
- Demonstrar que o gerenciamento do lixo é um problema que deve ser analisado na perspectiva
individual e no contexto do espaço público, em que será colocada à prova a gestão estatal.
- Inserir também a não individualização das consequências desse descomprometimento, que afeta os
cidadãos e o próprio Estado, perante aqueles.
Segundo parágrafo:
- O lixo na perspectiva dos cidadãos (falta de civilidade e falta de cultura; descaso com a reciclagem;
consumismo desenfreado que provoca o aumento da produção de lixo).
Terceiro parágrafo:
- O lixo na perspectiva da gestão estatal (postura claudicante do Estado; falta de criatividade na busca de
soluções: o problema daqueles que buscam a sobrevivência no “lixão” e o da emissão de gases do efeito
estufa).
Quarto parágrafo (conclusão):
- A gestão do lixo requer iniciativa do particular e do Estado sob pena de ambos afundarem na política que
dá as costas à busca de soluções para os cataclismos/hecatombes/ oscilações meteorológicas.
PROPOSTA: TEMA ABSTRATO (TEXTO, FRASE, POEMA E IMAGEM)
Leia atentamente os textos e observe bem a foto.
I.
O olhar que capta tantas imagens, o olhar que depara com as múltiplas telas da mídia —
telas-painéis, telas-letreiros, telas-televisores, telas-games, telas-monitores — esse olhar
educado pela e para a velocidade, saberá ainda deter-se? Saberá fechar-se, para deixar
refletir? Algum antigo já disse: “Os olhos são o espelho da alma”. Serão ainda? Ou
converteram-se em espelhos famintos das imagens velozes do mundo — imagens que
imaginavam devorar, mas que talvez os devorem? (Celso de Oliveira, inédito)
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II. Nos dias de neblina intensa é muito difícil perceber se faz mau tempo. (Millôr Fernandes)
III. “Vem, farol tímido,
dizer-nos que o mundo
de fato é restrito,
cabe num olhar.” (Carlos Drummond de Andrade)
IV.
Os textos e a foto podem ser relacionados em função de um mesmo tema: o olhar.
Redija uma dissertação na qual, considerando as ideias dos textos e a sugestão da foto, você
exponha seu ponto de vista sobre o tema indicado.
GABARITO SUGERIDO PELO PROF. SABBAG
Leia atentamente os textos e observe bem a foto.
I.
O olhar que capta tantas imagens, o olhar que depara com as múltiplas telas da mídia —
telas-painéis, telas-letreiros, telas-televisores, telas-games, telas-monitores — esse olhar
educado pela e para a velocidade, saberá ainda deter-se? Saberá fechar-se, para deixar
refletir? Algum antigo já disse: “Os olhos são o espelho da alma”. Serão ainda? Ou
converteram-se em espelhos famintos das imagens velozes do mundo — imagens que
imaginavam devorar, mas que talvez os devorem? (Celso de Oliveira, inédito)
Idéia núcleo: a velocidade da informação visa ao adestramento de olhares superficiais, famintos de
cores e de imagens superpostas, como um espetáculo visual. Este olhar pouco reflexivo é produto da
alienação imposta pelo sistema, que manipuladoramente, tacha-o de “devorador”, sendo, na verdade,
“devorado”. Portanto, “se os olhos são o espelho da alma” – e com isso se concorda –, dos olhares
pouco reflexivos originarão “almas manipuláveis”, com pouca racionalidade e muita alienação.
O texto questiona se o olhar educado “pela” e “para” a velocidade sabe “deter-se”. Se sabe fechar-se,
para a reflexão? Coloca em xeque o aforismo “os olhos são o espelho da alma”. Será que ainda são?
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Ou são apenas o espelho faminto das imagens velozes do mundo... imagens que, antes de serem
devoradas, são verdadeiramente devoradoras...
O texto trabalha com oposições:
Olhar veloz – olhar reflexivo
Olhar que se fecha – olhar que se abre
Olhar que não reflete (superficial) – olhar que reflete (profundo)
olhar faminto, desenfreado - olhar “espelho da alma”
olhar devorado - olhar devorador
II. Nos dias de neblina intensa, é muito difícil perceber se faz mau tempo. (Millôr Fernandes)
Idéia núcleo: a “neblina intensa” da alienação impede que se enxergue o “real-racional”, ou seja, se
há bom ou mau tempo na realidade investigável. O olhar que olha apenas vê a “neblina” da
inconsciência, impedindo a completa observação do caminho a ser seguido. O olhar que enxerga vê
com reflexão, sob a irradiação de luminosidade que a racionalidade proporciona.
A metáfora utilizada com o signo “neblina”: indica ALGO que nos impede de ver e de perceber
(ENXERGANDO) o que de fato ocorre no mundo.
III. “Vem, farol tímido,
dizer-nos que o mundo
de fato é restrito,
cabe num olhar.” (Carlos Drummond de Andrade)
Idéia núcleo: o farol da consciência do ser engajado, ainda que este timidamente se mostre em
menor número no sistema em que se insere, fará com que os fatos caibam num olhar racional, dando
a exata dimensão da realidade.
A realidade do ser alienado é grande e complexa, não sendo por ele bem compreendida. Isso o torna
vítima da neblina da inconsciência na irrealidade na qual vive.
Tendo consciência sobre o mundo – e refletindo sobre este –, ele torna-se restrito, dominável. O
mundo não é amplo como aquele mostrado na tela; sua amplitude é relativa. Tantas informações
indicam algo grande e insuficiente, verdadeiramente, ao alienado; por outro lado, é algo pequeno e
bastante ao engajado. Para quem tem consciência, o mundo fica restrito, cabe num olhar.
IDEIA METAFÓRICA DO “FAROL TÍMIDO”: refere-se à “consciência”; o “iluminar pouco” vem no
sentido de algo que não clareia tudo, mas alguns...
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As telas do primeiro texto mostram o mundo apreensível pelos olhos que apenas veem. Quem
enxerga, vê-os e, além disso, vê mais, indo além da tela.
IV.
Os textos e a foto podem ser relacionados em função de um mesmo tema: o olhar.
Idéia núcleo: o texto é não-verbal, mostrando uma foto de uma mulher sentada à frente de um
computador, o que nos faz voltar ao texto I.
Enquanto as telas mostrarem informações velozes que fragmentam as ideias e impedem a
compreensão totalizante do mundo revelado, o olhar do observador de tais dados será moldado à
semelhança do formato limitador das telas. Este olhar apenas verá o que a tela impõe – é a
“quadradalização” do olhar.
PROPOSTA: TEMA “O MITO DA CAVERNA”
O MITO DA CAVERNA – WIKIPEDIA.
O mito da caverna, também conhecido como alegoria da caverna, prisioneiros da caverna ou
parábola da caverna, foi escrito pelo filósofo grego Platão e encontra-se na obra intitulada A República
(livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos
aprisiona através da luz da verdade.
(...)
Foi justamente por razões como essa que Sócrates foi morto pelos cidadãos de Atenas, inspirando
Platão à escrita da Alegoria da Caverna pela qual Platão nos convida a imaginar que as coisas se
passassem, na existência humana, comparavelmente à situação da caverna: ilusoriamente, com os
homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, ideias enganosas e, por isso tudo, inertes em suas
poucas possibilidades.
(...)
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à
importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a
passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o
conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso,
mas na causalidade.
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Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência, isto é, do conhecimento
abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia e pístis) e o domínio das idéias (diánoia e
nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias - um mundo real e verdadeiro - e a maioria
da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo das coisas sensíveis - este mundo -, no grau da
apreensão de imagens (eikasia), as quais são mutáveis, não são perfeitas como as coisas no mundo das
idéias e, por isso, não são objetos suficientemente bons para gerar conhecimento perfeito.
CHARGE PARA AULA: http://www.youtube.com/watch?v=64EB3judzXE
O Mito da Caverna
Extraído de "A República" de Platão . 6° ed. Ed. Atena, 1956, p. 287-291
SÓCRATES – Figura-te agora o estado da natureza humana, em relação à ciência e à ignorância,
sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e
cavernosa que dá entrada livre à luz em toda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e
as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos
pelas cadeias, não podem voltar o rosto. Atrás deles, a certa distância e altura, um fogo cuja luz os alumia;
entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido
com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos
bonecos maravilhosos que lhes exibem.
GLAUCO - Imagino tudo isso.
SÓCRATES - Supõe ainda homens que passam ao longo deste muro, com figuras e objetos que se
elevam acima dele, figuras de homens e animais de toda a espécie, talhados em pedra ou madeira.
Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em conversa, outros guardam em silêncio.
GLAUCO - Similar quadro e não menos singulares cativos!
SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si
mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede
que lhes fica fronteira?
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras
que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?
GLAUCO - Sem dúvida.
SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não
julgariam certo que os sons fossem articulados pelas sombras dos objetos?
GLAUCO - Claro que sim.
SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que
desfilaram.
GLAUCO - Necessariamente.
SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do erro
em que laboravam. Imaginemos um destes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a
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cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sobre
ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via.
Que te parece agora que ele responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto
fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais
perfeição? Supõe agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o
obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que
antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?
GLAUCO - Sem dúvida nenhuma.
SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia
ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visíveis que os objetos ora mostrados?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só
o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados
de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível
discernir os objetos que o comum dos homens tem por serem reais?
GLAUCO - A princípio nada veria.
SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior.
Primeiramente, só discerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros seres refletidos
nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros
da noite que o pleno resplendor do dia.
GLAUCO - Não há dúvida.
SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro
refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.
GLAUCO - Fora de dúvida.
SÓCRATES - Refletindo depois sobre a natureza deste astro, compreenderia que é o que produz as
estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que ele e
seus companheiros viam na caverna.
GLAUCO - É claro que gradualmente chegaria a todas essas conclusões.
SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e
da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao
mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?
GLAUCO - Evidentemente.
SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais
prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam,
seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas
que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados?
Não preferiria mil vezes, como o herói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no
mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?
GLAUCO - Não há dúvida de que suportaria toda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da
maneira antiga.
SÓCRATES - Atenção ainda para este ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e
vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam
os olhos como submersos em trevas?
GLAUCO - Certamente.
SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que
os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse ele de dar opinião sobre as sombras e a este
respeito entrasse em discussão com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria
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rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera a pena o esforço, e que
assim, se alguém quisesse fazer com eles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e
morto?
GLAUCO - Por certo que o fariam.
SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCO, é só aplicar com toda a exatidão esta imagem da
caverna a tudo o que antes havíamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é
a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível.
Ou, antes, já que
o queres saber, é este, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro.
Quanto à mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do
bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa
universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da
verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com
sabedoria nos negócios particulares e públicos.
VIDEOS PARA AULA:
VIDEO 1: http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=Lhy44UYK_nc
VIDEO 2: http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=WkWQ6jB3jm0
III. A PRÁTICA DA REDAÇÃO: O ATO DE RESUMIR
TEXTO 1: Sobre o recebimento do Prêmio Nobel por José Saramago
Em Portugal, sabe (o escritor) que não houve só boas reações ao Prêmio Nobel (ou "Nobél", como
diz José Saramago seguindo a fonética sueca).
Houve quem confundisse a grandeza do prêmio com o comprometimento político do escritor. Mas
disso Saramago prefere não falar.
“A inveja é o sentimento mais mesquinho que existe", diz; “não devemos perder tempo a falar de
sentimentos maus, falemos antes dos bons sentimentos", frisa o autor.
É para falar de coisas boas que o escritor vai estar em Lisboa e depois no Porto, onde tal como já
estava combinado antes, vai participar num encontro de escritores ibero-americanos. "Porque os escritores
não fazem cimeiras, encontram-se para falar". (in Diário de Notícias , Portugal; 13.10.98)
GABARITO 1 (PROPOSTO EM SALA DE AULA);
GABARITO 2:
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Resumo: O Prêmio Nobel concedido a José Saramago gerou reações variadas em Portugal. A par das boas
impressões, houve aqueles que associaram o prêmio ao comprometimento político do escritor, o que ele
evita comentar.
Aliás, Saramago irá a Lisboa e, depois, ao Porto, onde participará de um encontro de escritores iberoamericanos, que, em sua visão, reúnem-se para falar, e não para perder tempo com inveja e sentimentos
maus.
TEXTO 2: Um presente muito especial
“João não via a hora que chegasse seu aniversário, no inicio do mês de agosto. Contava os dias, as horas e os
minutos, pois sabia que ganharia um jogo eletrônico, pelo qual esperava com tanta ansiedade.
O tempo passou lentamente, mas finalmente chegou o dia tão esperado. Ao acordar, olhou para o lado e junto
à sua cama estava o brinquedo de seus sonhos.
Súbito saltou da cama, deu pulos de alegria e correu para chamar o irmão e mostrar-lhe seu presente. Seus
olhos brilhavam de satisfação quando, juntamente com o irmãozinho, começou a brincar.
Durante toda a tarde não saíram de perto do novo brinquedo. Foi só quando já estava quase escurecendo que
se lembraram de convidar um amigo de João, o qual morava no mesmo prédio, para brincar com eles.
Assim que telefonou para o amigo, ele correu para o apartamento e os três brincaram até a hora do jantar.”
GABARITO:
Resumo: João aguardava ansiosamente pelo dia do seu aniversário, no inicio do mês de agosto, pois ganharia um jogo
eletrônico. Ao acordar, nesse dia, encontrou o presente. Foi correndo mostrá-lo ao irmão, com o qual brincou durante toda a
tarde. Lembrou-se de telefonar para um amigo que morava no mesmo prédio, chamando-o para brincar também. Os três se
divertiram muito com o jogo até a hora do jantar.
IV. A PRÁTICA DA REDAÇÃO: O ATO DE PARAFRASEAR (TESTES)
A PARÁFRASE é uma atividade de “reformulação” de partes ou da totalidade de um texto. É
um mecanismo sintático que cria alternativas de expressão para um mesmo conteúdo.
1. Leia com atenção o trecho abaixo e anote a alternativa em que não ocorre uma paráfrase.
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“O homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado, por não reconhecer no seu íntimo
a importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.”
a) Frequentemente sem rumo, segue o homem pela vida, por não reconhecer no seu íntimo o valor de todos os
instantes, de todas as coisas, sejam simples ou grandiosas.
b) Não reconhecendo em seu âmago a importância de todos os momentos, de todas as coisas, simples ou
grandiosas, o homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado.
c) Como não reconhece no seu íntimo o valor de todos os momentos, de todas as coisas, sejam elas simples ou não,
o homem vai pela vida frequentemente desnorteado.
d) O ser humano segue, com frequência, vida afora, sem rumo, porquanto não reconhece, em seu interior, a
importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.
e) O homem caminha pela vida sempre desnorteado, por não reconhecer, em seu mundo íntimo, o valor de cada
momento, de cada coisa, seja ela simples ou grandiosa.
RESPOSTA: LETRA E
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MATERIAL DE AULA (6/6) - Professor Eduardo Sabbag