26ª Imagem da Semana: Imagem da Semana – Fotografia Enunciado Paciente do sexo feminino, 29 anos, natural de Monte Sião – MG, relata que há cerca de 10 anos começou a apresentar nódulos de tamanhos variados, principalmente na região do tórax e abdome, que vêm aumentando em número. Nega dor e sinais de inflamação. Afirma que o pai possui lesões semelhantes e que ambos nunca procuraram atendimento médico para esclarecimento das mesmas. Após análise da imagem e do caso apresentado pode-se concluir que o diagnóstico mais provável é: a) Esclerose Tuberosa b) Síndrome de McCune-Albright c) Síndrome do Nevo Basocelular d) Neurofibromatose tipo 1 Análise da Imagem Imagem 2: Fotografia da região do abdome evidencia lesões nodulares (neurofibromas) de tamanhos variados e presença de manchas café-com-leite, a maior delas com 1,5cm de diâmetro. Diagnóstico A presença dos neurofibromas e de manchas café-com-leite constituem dois critérios para se suspeitar o diagnóstico deneurofibromatose tipo 1. Somando-se à história familiar positiva para sinais semelhantes em parentes de primeiro grau e a clínica da paciente (crescimento lento a partir da puberdade), o diagnóstico é corroborado. Esclerose Tuberosa: Apesar de também ser uma doença genética com aparecimento de neoplasias benignas em vários órgãos, as manifestações dermatológicas incluem nódulos de cor vermelha, geralmente na região facial. Síndrome de McCune-Albright: Doença genética que, apesar de cursar com a presença de manchas café-com-leite (além de puberdade precoce e displasia óssea), não apresenta neurofibromas. Síndrome do Nevo Basocelular: Síndrome genética caracterizada pelo surgimento de carcinomas basocelulares múltiplos. As lesões, ao contrário do caso apresentado, têm centro ulcerado e bordas elevadas. Discussão do caso A neurofibromatose tipo 1 (NF1) é uma doença genética autossômica dominante e consiste na síndrome neurocutânea mais comum (cerca de 80 mil brasileiros são portadores da doença). As mutações são consideradas como responsáveis por 50% dos casos novos. Sua incidência é de um caso a cada 3000 nascidos vivos e possui distribuição idêntica entre os sexos. A NF1 é resultante de um defeito no gene localizado no cromossomo de número 17 que produz a proteína neurofibromina, envolvida no controle do crescimento celular. A doença pode estar evidente ao nascimento, mas com frequência se manifesta tardiamente, especificamente durante a puberdade, na gravidez ou na menopausa, e tem progressão crônica. Clinicamente, a NF1 se caracteriza por lesões cutâneas, oftalmológicas, musculoesqueléticas e neurológicas, sendo as duas primeiras as mais frequentes. Os critérios de diagnóstico (Health Consensus Development Conference on Neurofibromatosis) para esta forma de neurofibromatose incluem dois ou mais dos seguintes: - Seis ou mais manchas café-com-leite com mais de 0,5cm no seu maior diâmetro em prépúberes e 1,5cm em pós-púberes; - Presença de dois ou mais neurofibromas cutâneos ou mais de um neurofibroma plexiforme; - Duas ou mais sardas axilares ou inguinais (esfélides); - Glioma do nervo óptico; - Dois ou mais nódulos de Lisch (hamartomas pigmentados de iris); - Deformidades esqueléticas congênitas (principalmente displasia esfenoide e da tíbia); - Um parente de primeiro grau com neurofibromatose. Obs: A presença de nódulos de Lisch e sardas axilares ou inguinais são consideradas patognomônicas para NF1. Figuras 1 a 5: Sinais clínicos da neurofibromatose tipo I. A avaliação clínica ambulatorial geralmente é suficiente para o diagnóstico, sendo assim, todos os pacientes devem ser submetidos à mesma, visando o diagnóstico e identificação de possíveis complicações. Os estudos laboratoriais auxiliares devem ser individualizados, determinados pelas manifestações clínicas. Não há nenhum tratamento específico para a neurofibromatose, mas as complicações podem ser melhoradas pelo reconhecimento precoce e intervenção terapêutica imediata. O aconselhamento genético e psicoterapia com aconselhamento familiar são importantes. Aspectos relevantes - A NF1 é uma doença genética autossômica dominante relativamente comum (1:3000 nascidos vivos) resultante de um defeito no cromossomo de número 17; - A doença tem progressão crônica e pode aparecer ao nascimento ou se manifestar mais tardiamente; - Clinicamente a NF1 se caracteriza por lesões cutâneas, oftalmológicas, musculoesqueléticas e neurológicas; - O diagnóstico de NF1 é baseado nos critérios clínicos estabelecidos pelo Health Consensus Development Conference on Neurofibromatosis; - Todos os pacientes devem ser submetidos a uma extensa avaliação clínica para o diagnóstico e identificação das complicações possíveis; - Não há nenhum tratamento específico para a neurofibromatose, mas as complicações podem ser melhoradas pelo reconhecimento precoce e intervenção terapêutica imediata. Referências - Ferner RE, Huson SN, Thomas N, Moss C, Willshaw H, Evans DG, Upadhyaya M, Towers R, Gleeson M, Steiger C, Kirby A. Guidelines for the diagnosis and management of individuals with neurofibromatosis 1. J Med Genet. 2007; 44:81–88. doi: 10.1136/jmg.2006.045906 - Souza, Juliana Ferreira. Neurofibromatose Tipo 1 [manuscrito]: mais comum e mais grave do que se imagina. Juliana Ferreira de Souza. Belo Horizonte: 2008. - Rodrigues LOC et al. O que são as neurofibromatoses? NF tipo 1. Manual para pacientes, familiares e profissionais da área de saúde. Disponível em www.amanf.org.br/NF1_pacientes_10out2007.pdf [acesso 15 de outubro de 2011]. - Minossi JG et al. Neurofibromatose. Relato de caso. Acta Cir Bras 2000; 15(3). Responsável Nikole Nascimento de Albuquerque - Acadêmica do 9º período de Medicina da UFMG. Email: nikalbuq[arroba]hotmail.com Orientador Dr. Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues - Coordenador Clínico do Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da UFMG. Email: rodrigues.loc[arroba]gmail.com Agradecimentos Ao Dr. Armando Monteira, que gentilmente cedeu a imagem que permitiu a confecção do caso. Revisores Marcos Guimarães e Bruno Lage