CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MIRELLA SUYANE FREIRE FERREIRA A COMPREENSÃO DAS FAMÍLIAS ACERCA DO DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSOCIAL DAS CRIANÇAS INSERIDAS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL – PETI EM FORTALEZA - CE Fortaleza - Ceará 2013 MIRELLA SUYANE FREIRE FERREIRA A COMPREENSÃO DAS FAMÍLIAS ACERCA DO DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSOCIAL DAS CRIANÇAS INSERIDAS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL – PETI EM FORTALEZA - CE Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de bacharel no Curso de Serviço Social, sob a orientação de conteúdo do Professor Antônio Diogo Cals de Oliveira Filho. Fortaleza - Ceará 2013 F383c Ferreira, Mirella Suyane Freire. A compreensão das famílias acerca do desenvolvimento biopsicosocial das crianças inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI em Fortaleza - CE / Mirella Suyane Freire Ferreira. – 2012. 62 f. Orientador: Prof. Ms. Antônio Diogo Cals de Oliveira Filho. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2012. 1. Trabalho infantil - Brasil. 2. Trabalho infantil - erradicação. 3. Infância. I. Oliveira Filho, Antônio Diogo Cals de. II. Título. CDU 364.4-05.5/.7 Bibliotecária Maria Albaniza de Oliveira CRB-3/867 CDU 338.48-2-055.34 MIRELLA SUYANE FREIRE FERREIRA A COMPREENSÃO BIOPSICOSOCIAL DAS DAS FAMÍLIAS CRIANÇAS ACERCA DO INSERIDAS DESENVOLVIMENTO NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL – PETI EM FORTALEZA - CE Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora professores. Data de aprovação: ____/____/______. BANCA EXAMINADORA _________________________________________________________ Professor Ms. Antônio Diogo Cals de Oliveira Filho _________________________________________________________ Professora Ms. Socorro Letícia Fernandes Peixoto _________________________________________________________ Professora Esp. Priscila Nottingham de Lima pelos Aos meus pais Márcia Maria Freire Ferreira e Pedro Paulo Lopes Ferreira, as pessoas mais importantes da minha vida. As minhas irmãs pela colaboração e apoio incondicional. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me abençoou com o dom da vida e iluminou o meu caminho, tornando-me, com o passar dos dias, mais perseverante. Aos meus pais, Márcia Maria e Pedro Paulo, que são meus exemplos de vida e amor eterno, por me apoiarem a cada decisão tomada. E, principalmente, por terem me proporcionado uma formação familiar condescendente e por serem minha fonte de estímulo para os estudos, os quais me fizeram hoje ser quem eu sou. As minhas irmãs, Paula Ravena e Sayonara Rayane, pelo apoio fraterno, manifestado através do amor incondicional que nos liga fortemente uma a outra e, principalmente, por acreditarem ainda mais em mim quando eu mesma não acreditava mais. Aos Meus avós, Nair e Raimundo, Nilza e a minha bisavó Altina, pelos exemplos de vida e perseverança de cada um deles, e por compreenderem os momentos que precisei me ausentar durante a construção do meu trabalho acadêmico. Aos meus exemplos de amizade verdadeira, minhas amigas eternas: Aline Colares, Kelly Araújo, Mayara Torquato e Mira Raya, pelo apoio, pela compreensão, pelo consolo nos momentos mais difíceis da minha vida e pela alegria que elas me proporcionam a cada dia. A minha equipe querida, “Equipe Master”: Antônia Lira, Caroline Lindolfo, Débora Lemos, Emanuela Vitor e Shirley de Castro. Por acreditarem em mim, mesmo eu sendo a mais nova da turma, por fazerem parte desse momento tão engrandecedor de tanto aprendizado e por todas as notas dez nos trabalhos de equipe. Aos professores que me proporcionaram o conhecimento e me acompanharam nessa longa caminhada, muitíssimo obrigada! Principalmente, a Professora Jane Meyre, com quem primeiro compartilhei o tema que gostaria de abordar na monografia, e que de pronto me envolveu com seu grande incentivo. A toda a equipe do Centro de Referência Especializado da Assistência Social, especialmente a minha supervisora de campo Eveline Lima e a psicóloga Daniele Macedo pelo incentivo e apoio durante o estágio e a pesquisa de campo. E a colaboração dos entrevistados que fizeram parte da pesquisa e que se mostraram disponíveis a responder o roteiro de entrevistas. A minha banca examinadora, Professora Letícia Peixoto e Professora Priscila Nottingham, por se dispor a contribuir para o meu engrandecimento intelectual, e se mostrar disponível. Sem me esquecer do meu querido e complacente Orientador Diogo Cals, pela grande ajuda e por acreditar em mim, mesmo sem me conhecer. Obrigada a todos! “Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria subestância.” (Simone de Beauvoin) RESUMO Este estudo buscou identificar como as famílias das crianças inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI e acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II, em Fortaleza – CE, percebem a passagem dos filhos pelo trabalho infantil. Entendemos que a temática é demasiada desafiadora, e que também é um estudo relevante por se tratar de uma das formas que se expressa à questão social. De acordo com os dados levantados pelo PNAD, o trabalho infantil está reduzindo no Brasil. O principal motivo da luta pela erradicação do trabalho infantil são as consequências, pois de acordo com o Portal da Saúde, o trabalho infanto-juvenil, aumenta em três vezes o abandono escolar e diminui o tempo de laser da criança, tempo em que ela realizaria atividades importantes para o seu desenvolvimento. Realizamos um resgate histórico da infância no Brasil e no mundo, relacionando a exploração do trabalho infantil no Brasil colônia após o advento do capitalismo. Fundamentamos a nossa investigação, nos autores que abordam a significação da infância, como Ariés (2006) e Badinter (1985), e nas políticas públicas e legislações voltadas para a problemática do trabalho infantil. A nossa pesquisa é de caráter qualitativo, a qual realizamos seis entrevistas semi estruturadas com responsáveis familiares de crianças e adolescentes inseridos no PETI. Evidenciamos a forma com que o exercício de atividades laborativas na infância é percebido pelas famílias, e a concepção de infância das mesmas, percebendo a forma naturalizada com que o trabalho infantil é vivenciado. Palavras-chave: infância; erradicação; trabalho infantil. ABSTRACT This study sought to identify how the families of the children involved in the Eradication of Child Labor - PETI and accompanied by the Centre for Social Assistance Specialized Reference - CREAS II, in Fortaleza - CE, perceive the passage of children through child labor. We understand that the issue is too challenging, and it is also an important study because it is one way that expresses the social question. According to data collected by the National Household Survey, is reducing child labor in Brazil. The main reason for the eradication of child labor are the consequences, because according to the Health Portal, the child labor increases at three times the dropout and shortens the laser of the child, at which time she would perform activities important to their development. We conducted a historical childhood in Brazil and worldwide, relating to child labor colony in Brazil after the advent of capitalism. We base our research on authors who address the significance of childhood, as Ariès (2006) and Badinter (1985), and public policy and legislation aimed at the problem of child labor. Our research is qualitative, which conducted six semi-structured interviews with responsible relatives of children and adolescents on PETI. We show the way in which the exercise of labor activities in childhood is perceived by households, and the same conception of childhood, realizing how naturalized with that child labor is experienced. Keywords: childhood; eradication, child labor. Lista de Siglas CRAS - Centros de Referência da Assistência Social CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência Social DAS - Distritos da Assistência Social Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA FNPETI - Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil FEBEMs - Fundação Estadual do Bem-estar o Menor IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LA - Liberdade Assistida ONU - Organização das Nações Unidas OIT - Organização Internacional do Trabalho PNAD - Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio PSC - Prestação de Serviços à Comunidade PBF - Programa Bolsa Família PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PSB - Proteção Social Básica PSE - Proteção Social Especial SDH - Secretaria de Desenvolvimento Humano SER - Secretarias Executivas Regionais SEMAS - Secretaria Municipal de Assistência Social SCFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos TCC - Trabalho de Conclusão de Curso UNICEF - Fundo das Nações Unidas SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................13 1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 1.1 Aproximação e escolha do tema..........................................................................17 1.2 Percurso metodológico........................................................................................18 1.3 O Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II como campo de pesquisa...............................................................................................21 1.3.1 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil................................................23 1.4 Caracterização dos entrevistados........................................................................24 2 PERSPECTIVAS SOBRE A INFÂNCIA E O TRABALHO INFANTIL 2.1 O imaginário social da infância como estorvo: um olhar na história....................27 2.2 Infância no Brasil..................................................................................................33 2.3 A eclosão do sentimento de infância: imaginários sociais de controle e proteção. ..............................................................................................................35 2.4 Trabalho Infantil...................................................................................................38 2.4.1 O trabalho infantil no Brasil..............................................................................41 3 COMPREENDENDO A VISÃO DAS FAMÍLIAS A RESPEITO DA INSERÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO TRABALHO. 3.1 Percepção sobre infância....................................................................................44 3.2 Percepção da família sobre a inserção dos seus filhos no trabalho infantil......48 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................53 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE 13 Introdução A presente pesquisa tem o objetivo de identificar como as famílias das crianças inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI e acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II, em Fortaleza – CE, percebem a passagem dos filhos pelo trabalho infantil. Neste sentido, procuramos entender como os pais observam essa experiência na vida das crianças, especialmente em relação ao desenvolvimento biopsicosocial dos infantes inseridos em uma condição social e econômica onde o trabalho infantil aparece como uma realidade na vida dessas famílias. A fala destes pais foi capaz de trazer elementos importantes para a compreensão da prática laboral dos filhos como uma construção social e histórica, pertencente a uma classe específica e que engendra relações sociais diferenciadas na teia social as quais essas famílias estão inseridas. Com o advento do capitalismo, a revolução industrial levou ao cabo a potencialização do trabalho, inclusive infantil. Mas a partir do século XIX e principalmente XX, se modificou a forma de perceber a infância e a família, e a sociedade começou a ser pressionada no sentido de um enfrentamento ao trabalho e de perceber a criança apenas como um ser em desenvolvimento, que necessitaria de estudo e do brincar, como os principais elementos para sua construção social. O acirramento da questão social brasileira tem gerado uma série de refrações que tem atingido os mais diferenciados públicos. A condição de pobreza advinda de uma sociedade capitalista baseada num processo exclusório, reverbera em diversas expressões da questão social de maneira a produzir novas formas de sociabilidade na sociedade brasileira, dentre as quais, atinge também de maneira diferenciada o público infanto-juvenil. Levou-se muito tempo até que a criança fosse reconhecida como um sujeito de direitos, pois houve uma época (séc. XIX e XX) que as pessoas eram convenientes com alguns tipos de violações de direitos como por exemplo o castigo físico, em que era repassada a justificativa de educar a criança. Contudo, 14 atualmente, o arcabouço legal que ampara a categoria infanto-juvenil, as violações estão sendo denunciadas. Em Outubro de 1927 foi instituído o Código de Menores, que objetivava abandonar uma postura anterior de reprimir e punir, passando a priorizar a educação, sendo a ideia primordial da legislação menorista: educar e disciplinar as crianças oriundas de “famílias desajustadas” ou da orfandade. O Código constituía uma perspectiva individualizante do problema do menor, culpabilizando a família. No ano de 1979, surgiu o chamado “novo Código de Menores” que não constituiu mudanças significativas, apresentando características que colocam a criança e o adolescente pobres como uma ameaça à ordem vigente. Somente após a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi sancionada a Lei 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente, com o objetivo de ampliar o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente. Assim, devemos refletir quanto ao compromisso que deve ser assumido pela sociedade para garantir os direitos previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Atualmente a erradicação do trabalho infantil vem sendo uma meta prioritária no estado brasileiro. A prova disso é o fato de ter sido instituído o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI. Trata-se da obrigação de proteger a criança e o adolescente de forma integral, pois a existência do trabalho infantil é um tipo de violência por se caracterizar como uma negativa aos direitos da criança e do adolescente. De acordo com o Portal da saúde 1, os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio – PNAD demonstram que, as crianças e adolescentes de 05 a 17 anos em situação de trabalho prosseguiu em queda, passando de 5,3 milhões em 2004, para 4,3 milhões em 2009. Na nossa pesquisa, realizada no Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II, equipamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza, que acompanha famílias em situações de violação de direitos as quais os vínculos familiares não foram rompidos, entrevistamos as famílias das crianças em situação de trabalho infantil acompanhadas pelo PETI. 1 http://portal.saude.gov.br 15 A estrutura desse ensaio monográfico se constitui em três capítulos, sendo o primeiro intitulado, Procedimentos metodológicos. Nesse abordamos como foi realizada a escolha e a aproximação com o tema que se deu durante a nossa experiência de estágio no CREAS II. Como metodologia de pesquisa, realizamos entrevistas semi-estruturadas e utilizamos dados da instituição, o que tornou a nossa pesquisa também documental. No mesmo capítulo falamos sobre o Centro de Referência Especializado da Assistência Social como nosso campo de pesquisa, onde ele se encaixa enquanto política pública, discutimos também como as nossas entrevistas foram realizadas e classificamos o perfil dos entrevistados. Em nosso segundo capítulo, Perspectivas sobre a infância e o trabalho, realizamos um resgate histórico da infância, o qual utilizamos Philippe Arié e suas concepções acerca da família e da infância enquanto categorias sociais. Realizamos também um estudo sobre como se classificava a infância e como a criança era vista naquela época. Mostrando também a evolução dos direitos da criança e do adolescente a partir do século XX, principalmente após a instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Analisamos também a forma com que se iniciou o trabalho infantil no Brasil, bem como o seu processo de naturalização, a precarização do trabalho e a exploração da mão de obra barata. Percebe-se que não se iniciou com a revolução industrial, mas vem desde o descobrimento do Brasil. E, por fim, relacionamos as legislações que foram surgindo a partir da Consolidação das Leis Trabalhistas que proibi a realização de atividades de trabalho antes dos 18 anos de idade. Reforçamos também que a erradicação do trabalho infantil é uma meta do Estado brasileiro e o mesmo vêm tendo êxito com as políticas públicas que existem relativas a isso, até o momento, como podemos observar em pesquisas realizadas que mostram a diminuição de crianças m situação de trabalho. Nosso terceiro e último capítulo, Compreendendo a visão das famílias a respeito da inserção das crianças e adolescentes no trabalho. Analisamos primeiramente a percepção dos entrevistados acerca da infância e a relação das crianças e adolescentes com os demais membros da família e o seu relacionamento com outros alunos e professores da escola que estão frequentando. E por fim, analisamos como as famílias percebem a inserção das crianças e adolescentes no trabalho infantil, a relação que isso pode ter com o passado dos seus responsáveis, 16 buscando perceber também de que forma os pais compreendem o risco que a situação de trabalho pode oferecer a vida de seus filhos. 17 1 Procedimentos metodológicos 1.1 Aproximação e escolha do tema Meu interesse pelo tema iniciou em março de 2011, quando cursava o quinto semestre na experiência de Estágio curricular. A partir desse semestre, as outras duas disciplinas de estágio foram no Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS II), em Fortaleza, que atualmente atende pessoas que residem nas áreas de abrangência das Regionais II e IV 2. A Instituição não atende somente trabalho infantil, mas outros tipos de violações de direitos nas mais diversas formas em que a questão social se expressa. Os casos de trabalho infantil são acompanhados na mesma até que a situação seja superada (em média o acompanhamento acontece durante quatro meses), e então as famílias são encaminhadas para acompanhamento nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), equipamento da Proteção Social Básica (PSB). Durante o período de estágio, tivemos a oportunidade de realizar diversas atividades na instituição, principalmente visitas domiciliares que possibilitaram compreender mais profundamente a realidade de cada um dos usuários visitados e até acompanha-los sugerindo formas de tentar modificar ou melhorar a situação que estava posta. Desde o início, meu interesse maior foi pelos casos de violação de direitos de crianças e adolescentes, sentia-me motivada a entender o que acontecia e o que levava aquela situação de vulnerabilidade social. No segundo semestre de estágio (2011.2), as pessoas em descumprimento com as condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) começaram a ser acompanhado pelo (CREAS), o que nos aproximou das famílias e 2 A Regional II tem como área de abrangência os bairros: Aldeota, Cais do Porto, Cidade 2000, Cocó, De Lourdes, Dionísio Torres, Engenheiro Luciano Calvalcante, Guararapes, Joaquim Távora, Manuel Dias Branco, Meireles, Mucuripe, Papicu, Praia de Iracema, Praia do Futuro I e II, Salinas, São João do Tauape, Varjota e Vicente Pinzon. E a regional IV tem como área de abrangência os bairros: São José Bonifácio, Benfica, Fátima, Jardim América, Damas, Parreão, Bom Futuro, Vila União, Montese, Couto Fernandes, Pan Americano, Demócrito Rocha, Itaoca, Parangaba, Serrinha, Aeroporto Itaperi, Dendê e Vila Pery. 18 do nosso público de interesse. Ao mesmo tempo, iniciamos a elaboração do projeto de intervenção, que nos aproximou das famílias e das crianças em situação de trabalho infantil, despertando nosso interesse pelo tema. A partir das oficinas propostas pelo projeto, fiquei bastante instigada a entender a percepção das famílias acerca do trabalho infantil, visto que, muitos deles não compreendiam que o simples fato de levar as crianças e adolescentes para o trabalho, já os expunham a vulnerabilidade. Principalmente se esse trabalho era insalubre, como na atividade de reciclagem. Nosso projeto de intervenção, foi realizado através de oficinas para orientação, sobre os direitos da Criança e do Adolescente fundamentados no ECA, e com relação as condicionalidades do Programa Bolsa Família que interessa a maioria das famílias justamente porque a frequência ou não nas atividades do PETI repercute no benefício. Diante disso, nossos primeiros questionamentos são: Qual o papel da família neste processo? E de que forma ela percebe e identifica a inserção dos filhos junto ao trabalho infantil? E o terceiro é como as famílias percebem a passagem das crianças pelo trabalho infantil para o seu desenvolvimento biopsicosocial? A partir desses questionamentos, da experiência de estágio e da nossa aguçada curiosidade, percebemos a relevância do tema, principalmente por compreender a dificuldade que é modificar uma realidade, quando não é reconhecida pelos atores sociais inseridos. 1.2 Percurso metodológico De acordo com Bourdieu (2007), [...] o pesquisador precisa ser capaz de apreender a pesquisa como uma atividade racional, não como uma espécie de busca mística, pois acredita que seja a melhor, ou talvez a única maneira de se evitar decepções graves. Nesse caso, o pesquisador precisa ter bastante seriedade em relação a sua pesquisa, para que o resultado não possa ser comprometido. 19 Ainda para o autor, a escolha do objeto de pesquisa, não é algo que se possa escolher tão rapidamente, mas fruto de observações ou de análises, que não tem um plano que se desenhe antecipadamente como um engenheiro, é um trabalho que se realiza pouco a pouco, por uma série de ementas e correções. Este objeto deve ser algo inquietante para o pesquisador, que lhe desperte interesse e o instigue a querer compreender a problemática posta. Nosso objetivo é identificar como as famílias das crianças inseridas no PETI acompanhadas pelo CREAS II em Fortaleza – CE percebem a relação entre infância e trabalho no que tange ao desenvolvimento bio-psico-social dos filhos inseridos precocemente no mercado de trabalho. Para iniciar a pesquisa de campo, estruturamos o projeto de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC e fizemos uma solicitação de autorização para pesquisar na Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS. Quinze dias depois, recebemos uma resposta autorizando a nossa pesquisa e começamos a frequentar o equipamento para realizar as entrevistas. Minayo (1993), analisando por um prisma mais filosófico, considera a pesquisa como atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É um processo inacabado e permanente, uma atividade de aproximação sucessivas da realidade. Realizamos a pesquisa no Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS, que se localiza na Avenida Thompson Bulcão, nº 853, no bairro Luciano Cavalcante no município de Fortaleza. A instituição atende pessoas em situação de violação de direitos, seja violência física, psicológica ou sexual, trabalho infantil, negligência, abandono ou abuso financeiro. Neste âmbito, vamos nos ater somente as famílias das crianças que estão inseridas no PETI, acompanhadas pelo CREAS II. Conforme o pensamento de Bourdieu, Em suma, a pesquisa é uma coisa demasiado séria e demasiado difícil para se poder tomar a liberdade de confundir a rigidez, que é o contrário da inteligência e da invenção, com o rigor, e se ficar privado deste ou daquele 20 recurso entre os vários que podem ser oferecidos pelo conjunto das tradições intelectuais da disciplina[...]. (BOURDIEU, 2007, p. 26). Utilizamos a abordagem qualitativa, procurando enfocar principalmente os aspectos sociais, passivos de investigação para analisar o comportamento das pessoas. De acordo com Minayo, a pesquisa qualitativa trabalha, com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2002, p, 21-22). Como instrumentos de coletas de dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas para conhecer e analisar as famílias a partir de suas particularidades, procurando adentrar no universo simbólico dessas famílias, apreendendo suas falas e suas formas de perceber sua realidade, como afirma Minayo (1998): A entrevista é o procedimento mais usual do trabalho de campo. Através dela o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta das falas relatadas pelos atores enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciaram uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual e/ou coletiva. Através desse procedimento, podemos obter dados subjetivos e objetivos. (MINAYO,1998, p.57) Realizamos entrevista semi-estruturada com 05 (cinco) famílias acompanhadas pelo CREAS II em que as crianças estão inseridas no PETI. Em uma entrevista semi-estruturada, o pesquisador tem um roteiro previsto para ser respondido, isto para manter uma organização, tendo-o como um guia, mas não se atendo somente a esse roteiro. A entrevista tem relativa flexibilidade. As perguntas do roteiro não precisam seguir exatamente a ordem prevista no guia e poderão ser formuladas novas questões no decorrer da entrevista (MATTOS,2005). 21 1.3 O Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II como campo de pesquisa A Prefeitura Municipal de Fortaleza realiza sua administração de forma descentralizada, assim o município de Fortaleza organiza a gestão e a execução através das Secretarias Executivas Regionais (SER) que são compostas por seis regionais. Assim, do período de 2007 a maio de 2010 a execução das ações do CREAS era também descentralizada. Havia um profissional do CREAS lotado nos seis Distritos da Assistência Social (DAS) dessas Secretarias, com a finalidade de facilitar o atendimento e o acesso aos serviços especializados no território onde ocorre a violação de direitos, ou seja, próximo de suas comunidades. Mas a partir de maio de 2010, os profissionais que executavam as atividades do CREAS nos DAS, passaram a estar diretamente vinculados a Proteção Social Especial (PSE)3 e suas demandas de atendimento, além de pertencerem a Proteção Social de Média Complexidade, também passaram a atender demandas da Proteção Social de Alta Complexidade. Contudo, a partir deste período, a equipe técnica do CREAS ficou composta por quatro profissionais para atender a demanda das seis regionais da cidade. No entanto, após o aumento da demanda do atendimento de pessoas em situação de violação de direitos, houve a necessidade de implantação de um novo serviço CREAS para compartilhar as demandas. Com isso, mais cinco educadores sociais passaram a compor as equipes dos CREAS. Atualmente, em Fortaleza, existem quatro CREAS4. 3 A dinâmica institucional se faz necessário o conhecimento das duas Proteções Sociais que fazem parte da PNAS; Proteção Social Básica e Proteção Social Especial. A Proteção Social Básica Destina-se a população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social neste caso o equipamento atuante é o Centro de Referência da Assistência Social - CRAS. E a Proteção Social Especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ ou psíquicos, abuso sexual, uso de substância psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outros, sendo o equipamento responsável o CREAS. 4 O CREAS II, atende as regionais II e IV, funciona na Rua: Thompsom Bulcão, nº 853 Bairro Luciano Cavalcante;O CREAS III, atende as regionais I e III, funciona na Rua: Dom Lino, nº 1001 22 O CREAS é um equipamento social da PSE de Média Complexidade, que atende indivíduos e famílias com seus direitos violados, mas sem rompimento de vínculos familiares e comunitários, e oferece os seguintes serviços, programas e projetos: Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos – PAEFI; Serviço Especializado de Abordagem Social para questões de trabalho infantil; Serviço de proteção social a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); Esse serviço é desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Humano (SDH) e a SEMAS através da PSE acompanha e monitora as ações; Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosos (as) e suas Famílias; Realizações de campanhas sócioeducativas abordando temáticas de violação de direitos, através de palestras, seminários, dentre outros; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. Para a realização de suas ações, os profissionais, inicialmente, verificam as demandas junto ao usuário no âmbito do CREAS II, estabelecendo a duração do acompanhamento a partir de prioridade dos atendimentos, que pode ou não ser estendido se necessário. Depois disso, é visto o acompanhamento psicossocial, que pode ser bastante duradouro. Após a superação da situação, é realizado o desligamento da família e encaminhamento da mesma para inserção nas atividades, programas e projetos, para fortalecer os vínculos da mesma e assim evitar a situação de revitimização dos indivíduos. O Centro de Referência Especializada de Assistência Social tem como missão prestar atendimento à população com seus direitos violados, mas sem rompimento de vínculos familiares e comunitários. Tendo como política geral, atender a população de forma satisfatória, articulando-se com outras instituições para contribuir com a redução de violação de direitos e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Bairro Rodolfo Teófilo;O CREAS V, atende a regional V, funciona na Avenida: F, nº 554, 1ª etapa Bairro Conjunto Ceará; E o CREAS VI, atende a regional VI, funciona na Rua: Crisanto Moreira da Rocha, 650 Bairro Conjunto Alvorada. 23 Durante o trabalho de campo e minha experiência de estágio, foi possível perceber a multiplicidade da atuação dos profissionais do CREAS, pois trabalhar com vínculos familiares em iminência de rompimento de vínculos é um processo complexo e que exige uma intervenção profissional efetiva, trabalhando questões de difícil resolução. 1.3.1 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI De acordo com seu Caderno de Orientações Técnicas 5 (2010), o PETI é um programa de âmbito Nacional que visa proteger e retirar as crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos da prática do trabalho precoce, articulando um conjunto de ações, resguardando o trabalho na condição de aprendiz à partir dos 14 anos, em conformidade com que estabelece a Lei de Aprendizagem (10.097/2000). Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho espacial, ajustado por escrito e por prazo determinado em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e deligência, as tarefas necessárias a essa formação (Art. 428, Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT) O PETI foi lançado pelo Governo Federal em 1996, numa articulação dos três entes federativos com o apoio da Organização Internacional do Trabalho – OIT, primeiramente, no Mato Grosso do Sul e, posteriormente, a sua cobertura foi ampliada para os estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe e Rondônia. Somente após o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI), o PETI foi alcançado por todos os Estados do Brasil, o que mostra sua importância no cenário das políticas públicas de atendimento aos direitos da criança e do adolescente. 5 O Caderno de Orientações Técnicas sobre a gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no Sistema Único de Assistência Social – SUAS , é o conjunto de diretrizes, conceitos, informações, procedimentos e orientações que tem o objetivo de nortear e apoiar os Estados, os Municípios e o Distrito Federal na coordenação, no planejamento, execução e acompanhamento do programa. 24 Em dezembro de 2005, o PETI foi integrado ao Programa Bolsa Família (PBF), fazendo com que se refira aos objetivos de combate à pobreza e erradicação do trabalho infantil. O PETI é executado pelo CREAS e conta com 05 (cinco) educadores sociais em cada equipamento. O seu objetivo é retirar as crianças e adolescentes entre 07 e 15 anos de idade do trabalho considerado perigoso, penoso, insalubre ou degradante, ou seja, daquele trabalho que coloca em risco a saúde e segurança do infante. Acompanhamento das famílias do PETI e do PBF, em especial daquelas em Situação de Descumprimento de Condicionalidades por motivos relacionados a situações de risco pessoal e social, por violação de direitos. (Guia de Orientações Técnicas do CREAS, 2010, p. 40). As crianças e adolescentes devem frequentar a escola em um período e participar das atividades do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV do PETI em outro. As atividades em grupo do PETI ocorrem com seus familiares, participando de três reuniões. Em cada grupo são abordadas temáticas referentes ao Sistema de Garantia de Direitos e trabalho infantil, com o objetivo de proporcionar uma orientação e uma reflexão a essas famílias. 1.4 Caracterização dos entrevistados Realizamos as entrevistas em um período de 15 (quinze) dias com 06 (seis) pessoas. As quatro primeiras foram realizadas no próprio equipamento. Fizemos contato com as famílias, agendamos atendimento que foi feito pela psicóloga do CREAS II e realizamos a pesquisa com estas famílias. As duas últimas foram realizadas em visitas domiciliares. Em uma delas (Entrevistado 05) tivemos um problema, pois ao chegar, fomos informados que o filho da entrevistada teria sido preso e ela estava emocionalmente abalada. Na metade da entrevista, chegou um dos netos da entrevistada, informando que um homem ligou para o telefone dela, perguntou quem estava falando e disse que mataria o seu filho que estava preso. Após sofrer a ameaça, ela ficou bastante confusa e conseguimos continuar e concluir a entrevista com muita dificuldade. Para a preservação da identidade dos entrevistados, utilizaremos nomes fictícios. 25 Entrevistado 01 – Cora Coralina, mulher de 49 anos de idade que se auto intitula negra, nasceu e foi criada em Fortaleza. Atualmente é dona de casa e a renda mensal da sua família se resume exclusivamente ao dinheiro que recebe do Programa Bolsa Família. Não lembra a idade que tinha quando iniciou as suas atividades de trabalho, mas segundo ela, já era maior de idade, e a sua primeira ocupação foi em uma casa de família como empregada doméstica. Mãe do adolescente de 15 anos que realizava venda de roupas no centro da cidade, em Fortaleza, e cursava o Ensino de Jovens e Adultos – EJA 05 até este semestre, mas parou de estudar. Continua realizando as atividades do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do PETI. Entrevistado 02 – Clarice Lispector, mulher de 48 anos de idade que reconhece sua etnia como “morena”, nasceu e foi criada em Fortaleza. Sua atividade profissional atual é de dona de casa e a renda mensal da família é proveniente da atividade de reciclagem que exerce, chegando a arrecadar em torno de 25 reais por semana. Não lembra bem com que idade começou a trabalhar, mas segundo ela já tinha mais de 18 anos, não tem certeza, acha que a sua primeira ocupação foi “trabalhando em casa de família”. Mãe de uma criança do sexo feminino, que tem 11 anos e cursa o 3º ano do ensino fundamental e participa das atividades do PETI, pois também realizava atividade de reciclagem com a mãe na Avenida Beira-mar. Entrevistado 03 – Raquel de Queiroz, mulher de 33 anos de idade, que reconhece sua etnia como “morena”, nascida em Uruburetama no interior do Ceará. Sua atividade profissional atual é de dona de casa e a renda mensal da família não chega a um salário mínimo, proveniente do trabalho autônomo do seu companheiro. Começou a trabalhar aos 12 anos de idade com castanha de caju no interior do Estado. Mãe de uma criança de sexo feminino de 11 anos, que cursa o 5º ano do Ensino Fundamental e realizava atividades de reciclagem com a sua família, por isso agora estuda em um turno e no outro participa das atividades do PETI. Entrevistado 04 – José de Alencar, homem de 35 anos de idade, que reconhece sua etnia como “moreno”, nasceu em Fortaleza. Atualmente, trabalha como motorista e a renda mensal de sua família é em torno de um salário mínimo, proveniente da sua atividade de trabalho. Começou a trabalhar aos 16 anos, como 26 empacotador em um supermercado. Pai de um adolescente do sexo masculino, de 13 anos de idade, que cursa o 6º ano do ensino fundamental e que foi inserido no PETI, porque vendia sardinha na Praia do Futuro. Entrevistado 05 – Adélia Furtado, mulher de 57 anos de idade que se auto intitula negra, nasceu na cidade de Beberibe e veio morar em Fortaleza com 14 anos. Atualmente, vende roupas em uma feira e em sua casa moram oito pessoas, sendo 03 (três) filhos e 04 (quatro) netos. A renda mensal da sua família é de um salário mínimo. Iniciou suas atividades de trabalho quando tinha 08 (oito) anos de idade no roçado junto a sua família na cidade onde morava. Mãe de uma criança de 12 anos do sexo masculino que está cursando o 7º ano do ensino fundamental e participa do PETI, porque realizava atividade de reciclagem junto com a mãe. Entrevistado 06 – Cecília Meireles, Mulher de 46 anos de idade, se reconhece como branca, nasceu na cidade de Mucambo no interior do Estado e veio morar em Fortaleza aos 17 (dezessete) anos de idade. Atualmente, realiza atividades de reciclagem, e a renda da família não chega a um salário mínimo. Começou a trabalhar com 05 (cinco) anos no roçado com a família. Mãe de uma criança do sexo feminino de sete anos de idade que está cursando o 1º ano do ensino fundamental em um horário e realizando as atividades do PETI em outro, porque acompanhava sua mãe na reciclagem. 27 2 Perspectivas sobre infância e o trabalho infantil Para Castoriadis: Tudo que se apresenta, no mundo social-histórico, está profundamente entrelaçado com o simbólico. Não que se esgote nele. Os atos reais, individuais ou coletivos, - o trabalho, o consumo, a guerra, o amor a natalidade, os inumeráveis produtos materiais sem os quais nenhuma sociedade poderia viver um só momento, não são (nem sempre foram) símbolos. Mas, uns e outros, são impossíveis fora de uma rede simbólica. (CASTORIADIS, 1982, p.42). Existira assim uma profunda amálgama entre o mundo social e os imaginários, uma vez que em determinadas sociedades e momentos históricos, conjunto de indivíduos constroem esquemas e teias de significações, de “imagens que aparecem” de conceitos que se estabelecem sobre alguma coisa, alguém, ou mesmo sobre outros imaginários, ou sobre em um coletivo de pessoas em determinadas circunstâncias históricas: “através dos imaginários sociais, uma coletividade designa sua identidade; elabora uma certa representação de si, estabelece distribuição dos papéis e das posições sociais, exprime e impõe crenças comuns […]” ( BACKZO, 1985, p. 309). A forma que as crianças são tratadas ao longo da história está embricado com a maneira pela qual os imaginários da infância estabelecem. Neste sentido, vamos estudar os imaginários sociais sobre infância e o trabalho infantil. 28 2.1 O imaginário social da infância como estorvo: um olhar na história. Recorrendo à definição da palavra infância, oriunda do latim infantia, significa “incapacidade de falar”. Nos séculos XIII e XIV, considerava-se que a criança, antes dos 07 anos de idade, não teria condições de falar e expressar seus sentimentos. Assim, podemos compreender que desde a sua gênese a palavra infância remete a incapacidade e a uma condição subalterna. Vamos dar início ao nosso estudo sobre infância, relacionando ao passado, pois é bem verdade que a infância sempre existiu, desde os primórdios da humanidade, mas a sua percepção enquanto categoria social teve início a partir dos séculos XVII e XVIII. As concepções a cerca da infância vão se metamorfoseando ao longo da história e as percepções referentes à categoria modificam. E para compreender o sentimento de infância é necessário fazer um resgate histórico. Na antiga Roma, os recém-nascidos só eram integrados a sociedade romana, depois que o chefe de família o aceitava como filho. Na china, por exemplo, ainda hoje o infanticídio é comum em bebês do sexo feminino. Na Grécia antiga, isso acontecia em crianças que eram portadoras de malformação congênita. Segundo Áries (2006), até o fim do século XIII, não existiam no imaginário social crianças tratadas de forma particular, mas homens em um tamanho reduzido, assim, infância não gerava nenhum sentimento de proteção e cuidado, pois ela era antes de qualquer coisa, uma etapa para chegar a fase adulta. A partir do século XIII, surgiram algumas concepções de tipos de crianças que se aproximam do sentimento moderno. O primeiro tipo de criança é o anjo, que representa a aparência de um rapaz jovem. São crianças educadas para ajudar na missa, uma espécie de seminaristas. No que se refere ao segundo tipo de criança, a infância se ligava ao mistério da maternidade da Virgem, a Nossa Senhora menina e ao menino Jesus, e esse sentimento permaneceu até o século XIV. Um terceiro tipo era a criança 29 nua, o que introduziria essa imagem, seria a alegoria da morte e da alma que ocorreu aproximadamente no final da idade média. De acordo com Áries (2006), de uma forma bastante tímida, a infância religiosa, deixou de se limitar à infância de Jesus. Enquanto a origem dos temas do anjo, das infâncias santas e de suas posteriores evoluções iconográficas remontavam ao século XIII, no século XV, surgiram dois tipos novos de representação da infância: o retrato e o putto. A criança, como vimos, não estava ausente da Idade Média, ao menos a partir do Século XIII, mas nunca era o modelo de um retrato, de um retrato de uma criança real, tal como ela aparecia num determinado momento de sua vida. (ÁRIES, 2006, p.21). Em seu livro, Um amor conquistado: o mito do amor materno, Elisabeth Badinter (1985) cita o filósofo René Descartes, que fala que a infância não passa de uma fraqueza de espírito, período em que o conhecer depende totalmente do corpo. Segundo ele o feto já pensa, mas não passa de ideias confusas, sem discernimento, portanto, podemos concluir que a alma infantil é guiada pelas sensações de prazer e de dor. Outro autor citado no livro é Santo Agostinho que fala sobre o seu entendimento relativo ao “pecado da infância”. Para Santo Agostinho, o pecado de uma criança não é diferente do pecado de seu pai, pois a consciência ou a premeditação não modificam a situação. “Não havia infância inocente”, Santo Agostinho atribuía um valor completamente negativo a categoria. Não é um pecado desejar o seio chorando? Pois se eu desejasse agora, com o mesmo ardor, um alimento conveniente à minha idade, seria alvo de zombaria...trata-se portanto de uma avidez má, visto que, ao crescer, nós a debelamos e rejeitamos (SANTO AGOSTINHO in BADINTER, 1985, p.55) Essa visão é uma representação social e simbólica que percebia a criança como um ser incompleto, dadas as suas necessidades por atenção e cuidados. Nessa época, a criança era considerada um estorvo, pois por vários motivos, e mais especificamente o lactante, parece ser um fardo muito grande, afastando o pai e a mãe, e a maioria dos pais não podia ou não queria arcar com esse fardo. A primeira característica da rejeição é o fato da mãe não querer dar o seio ao filho, sobretudo no período em que disso depende a sobrevivência da criança, recorrendo-se então a uma ama. Quando possuía recursos financeiros, a mãe logo instalava em sua residência uma ama de leite, não os tendo, mandava a criança para a casa da ama. Assim, surge na França o hábito de contratar amas- 30 de-leite, já que a abertura da primeira agência de amas foi em Paris no século XIII, perdurando até o século XVIII, quando há uma escassez de amas. Conforme o pensamento de Badinter (1985), até o final do século XVI, parece que a amamentação mercenária, é procurada apenas pela aristocracia. As mulheres ricas traziam as amas para as suas casas e privavam os filhos das mesmas, do convívio com a sua mãe. No século XVII, o uso de deixar a criança na casa da ama-de-leite se tornou mais comum na burguesia, pois as mulheres dessa classe julgavam que tinham “coisas melhores para fazer” (BADINTER, 1985, p.62). Existia ainda, uma diversidade de soluções para o problema, principalmente o abandono físico e abandono moral da criança, “do infanticídio à indiferença”. Diferente do que se pensa no senso comum, o assassínio de forma alguma é uma forma de indiferença. “É fora de dúvida que o infanticídio puro e simples é geralmente manifestação de um desespero humano considerável”. (BADINTER, 1985, p.63). Somente no século XVIII o envio das crianças para as casas das amas se estende a todas as camadas da sociedade, assim a entrega dos filhos se tornou um fenômeno generalizado. Como sempre, Paris dá o exemplo... em 1780, na capital, em cada grupo de 21 mil crianças que nascem anualmente (numa população de oitocentos a novecentos mil habitantes), menos de mil são amamentadas pelas mães, mil são amamentadas por uma ama a domicílio. Todas as outras, ou seja, 19 mil são enviadas para a casa das amas. (BADINTER, 1985, p. 67) É verdade que um filho gera uma grande dificuldade para as mulheres que precisam trabalhar para viver. Essas mulheres são as grandes fornecedoras de crianças para as amas, pois trabalham ao lado do marido. Assim, em nosso tempo histórico atual, em virtude de outras relações, principalmente aquelas oriundas do mercado de trabalho, os pais também possuem tempo reduzido para a efetivação dos cuidados inicias com o bebe. Em nossa pesquisa, foi possível perceber que essa dificuldade da mãe trabalhadora ainda existe. A metade (três) dos nossos entrevistados são as mães das crianças que durante as entrevistas deixaram muito claro que eram obrigadas a levar as crianças para trabalhar, porque não tinham com quem deixá-las durante o dia. Ainda sobre a questão da amamentação, para Badinter, quanto os casais mais pobres, o que ganhavam mal dava para o sustento, sendo impossível 31 pagar os serviços de uma ama, por mais barata que fosse. Isso fazia dos filhos, uma ameaça para a própria sobrevivência dos pais. As mulheres mais miseráveis aceitavam amamentar por apenas cinco libras, tudo isso, para obter um lucro de duas libras, desta forma as crianças tinham uma grande probabilidade de morrer, sendo enterradas em qualquer lugar,como cita Áries (2006): “A criança era tão insignificante, tão mal entrada na vida, que não se temia que após a morte, ela voltasse para importunar os vivos”. (p.22) De acordo com Badinter (1985), a partir do século XVI, inicia o nascimento da consciência das especificidades da criança. Porém apesar desse progresso, indícios revelam a persistência da sociedade que tenderia a mostrar que a criança não ocuparia uma posição verdadeiramente significativa. O primeiro indício é a representação da criança como um brinquedo. Em seu livro, Badinter cita um autor moralista chamado Crousaz que fala que no século XVIII, os pais começam a tratar as crianças como elas tratam suas bonecas. “Diverti-vos com eles enquanto são engraçados, ingênuos e dizem coisinhas divertidas. Mas quando têm idade e se tornam sérios não vos interessam mais” (CROUSAZ apud BADINTER, 1985, p.78). Assim quando elas crescem, passam a ser consideradas máquinas. O segundo indício da representação usual da criança é que, naquela época, era notável o desinteresse do médico pela infância, tanto que a especialidade na medicina infantil (pediatria) surge apenas no século XIX. Um terceiro indício da insignificação da criança se refere ao lugar que lhe é dado na literatura até a primeira metade do século XVIII, onde ela é tida como um objeto indigno de reter atenção. De acordo com Ariès (2006), a Idade Moderna veio para desmistificar a figura da criança como um adulto pequeno, passando agora a ser criança de fato e de direito. Inicia então o conceito de família e da criança como alguém diferenciado do adulto que possui suas particularidades. Assim observamos, que a transição da Idade Média para a Idade Moderna intensificou a valorização da criança, trazendo seu reconhecimento como criança. Ainda segundo o autor. O surgimento de infância associa-se ao fortalecimento da família, onde a família começou a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância que a criança saiu de seu anonimato, que se tornou impossível 32 perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para cuidar melhor dela. (ARIÈS, 2006, p.12) Em sua obra “A origem da família, da propriedade privada e do Estado”, Engels (1997) afirma que a história da família se confunde bastante com a história da humanidade. No início da sua discussão, Engels fala da família em sua época primitiva, a qual “reinava no seio da tribo, o comércio social sem limites”, em que cada mulher se envolvia com todos os homens e cada homem se envolvia com muitas as mulheres, uma espécie de casamento grupal, tendo como característica principal a família consanguínea. A família consangüínea evoluiu para a família panaluana, que se caracterizava pela exclusão das relações sexuais recíprocas entre irmãos. Excluindo primeiramente os irmãos uterinos e posteriormente os irmãos colaterais, isto é, primos carnais, de segundo e terceiro grau. Essa família novamente evoluiu para a chamada família pré-monogâmica, quando foram se consolidando a formação de casais individuais. Mesmo assim, o homem tinha direito a poligamia e a infidelidade, mas a mulher, em caso de adultério, era castigada. A principal mudança ocorreu com o início da “civilização”, em que as mudanças nas relações de propriedade acarretaram uma evolução que resultou no modelo monogâmico de família, no qual os laços conjugais são mais sólidos. Após algumas mudanças, a partir do desenvolvimento da agricultura no século XVIII, deuse origem a família patriarcal. Denominamos família patriarcal, genericamente, a família na qual os papéis do homem e da mulher e as fronteiras entre o público e o privado são rigidamente definidos: o amor e o sexo são vividos em instancias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do homem e a atribuição de chefe da família é tida como exclusivamente do homem. (GUEIROS, 2002, p. 107) Segundo Áries (1991), até o século XV, mais do que sentimental, a família era uma realidade moral e social. A motivação sentimental quase não existia entre os pobres e, quando havia riqueza, o sentimento de inspirava pela mesma motivação das antigas relações, a condição social. Por volta do século XVII, às crianças, mais especificamente os meninos, começam a ser educados em escolas, e a família vai passar a se concentrar em torno delas, essas crianças começam a participar mais da vida dos adultos, que passam a transmitir seus conhecimentos. 33 Para Áries (1978), o século XVII é percebido como um divisor de águas na história da família, esta centra suas atenções em torno dos filhos. Os adultos começam a demonstrar interesse nas expressões das crianças. É neste mesmo século que aparecem as primeiras imagens de crianças vestidas diferente de adultos. Nessa época as crianças eram vistas como pequenos adultos, portanto tinham que ter atitude de adultos e se vestir como tal. Após o século XVII, a família passa a ser o lugar da vida privada, do repouso do trabalhador, sendo o espaço ocupado pelas esposas e os filhos, e o lar, motivo de cuidados devendo ser o mais agradável possível. Assim se inicia o desenvolvimento da família moderna, com uma maior valorização dos laços de família e enfatiza a intimidade familiar. Fatores como a saúde e a educação passaram a ser uma preocupação dos pais neste século, bem como a igualdade entre os filhos, até então desconsiderada pois o primogênito era privilegiado. Dos séculos anteriores, até o início do século XX, as famílias eram bastante grandes, até pelos modelos anteriores de família, em que o homem se relacionava com outras mulheres. Mas essa situação se modificou a com a necessidade de cuidar melhor das crianças. 2.2 Infância no Brasil De acordo com Ramos (2007), na história da Colonização do Brasil, nunca relata o que realmente acontecia nas embarcações que vinham de Portugal rumo a Terra de Santa Cruz. A rota trazia muitos perigos à tripulação, principalmente os grumetes, como eram chamadas as crianças até por volta dos 14 anos de idade. Para o autor as crianças eram um pouco mais consideradas que os animais, e acreditavam que deveriam utilizar toda a sua força de trabalho, pois a sua vida era bastante curta. Haviam duas formas dessas crianças serem recrutadas. A primeira era quando os próprios pais alistavam, buscando aumentar a renda da família, sabendo que seria uma pessoa a menos para alimentar. A outra forma era o rapto de crianças com o uso da força física. 34 Os grumetes eram os que possuíam as piores condições das embarcações, por isso não tinham uma sobrevida muito longa. Além disso, realizavam todas as tarefas que normalmente seriam desempenhadas por um homem. Assim percebemos que a exploração do trabalho infantil vem desde antes do descobrimento do Brasil. [...] apesar de os grumetes não passarem muito, de adolescentes, realizavam a bordo todas as tarefas que normalmente seriam desempenhadas por um homem. Recebiam de soldo, contudo, menos da metade do que um marujo, pertencendo à posição mais baixa dentro da hierarquia da marinha portuguesa. (RAMOS apud CABRAL, 2011, p.03). De acordo com Simões (2011), no início do período colonial, as crianças indígenas, eram afastadas de suas tribos para serem educadas junto aos filhos dos colonos no sistema de catequese dos jesuítas, fazendo parte de um exercito de pequenos jesuítas para colaborar com a pregação cristã. Assim, sua cultura e o seu modo de vida anterior, não eram respeitados eles tiveram que se habituar a novos costumes, diferentes dos que tinham antes em suas tribos. No Brasil patriarcal Freyre (1998) demonstra bem como a criança indígena era tratada, e a ideia de família, onde quem assume o papel principal é a mãe. É ela que assume as responsabilidades que de uma forma convencional seria agregada a figura masculina. E durante a nossa pesquisa, foi possível perceber que isso ainda acontece, principalmente porque quando foi convidado um responsável familiar da criança, a mãe assumia esse papel e demonstrava que era ela mesma que se responsabilizava por toda aquela família. Conforme Simões (2011), a assistência das crianças e adolescentes abandonados no Brasil colônia e na época do Império, era atribuída a entidades religiosas (igreja e irmandades de misericórdia) de caráter caridoso. A partir do século XVII, surge no Brasil uma instituição que teve vida bastante longa (quase por um século e meio) chamada roda dos expostos. De acordo com Freitas (2003) a modalidade de abandono foi inventada na Europa medieval. Era um meio de garantir o anonimato do expositor e estimula-lo a levar o bebê que não desejava à roda ao invés de abandona-los nos bosques, portas de igreja ou casas de família. Desde antes, a igreja católica já havia criado as casas de recolhimento dos expostos (abandonados), mas em situação precária. Era então competência 35 da Câmara de Misericórdia ou de famílias abastadas cuidar dessas crianças. (SIMÕES, 2011, p. 222). Tinha caráter caritativo, pois a assistência era feita por missionários, muito embora as crianças quase sempre morriam de fome, de frio ou acabava sendo alimento de algum animal antes de serem encontradas e recolhidas por almas caridosas, como fala Freitas (2003). Do século XIX para o século XX, as rodas de expostos foram desaparecendo, e a filantropia foi surgindo como modelo de assistência para substituir a caridade. Desta forma atribuía-se a filantropia a tarefa de organizar a assistência nas novas exigências políticas, econômicas e sociais que início no começo do século XX no Brasil. Podemos perceber que a forma com que os direitos das crianças são violados vem de muito tempo, principalmente a negação aos direitos fundamentais como o direito à vida. A noção que se tem hoje da criança enquanto um sujeito de direitos nem sempre existiu. As práticas de violência eram e ainda são bastante comuns em diversas culturas. 2.3 A eclosão do sentimento de infância: imaginários sociais de controle e proteção. As mudanças na sociedade com o capitalismo, também mudaram a alocação da criança e os imaginários sociais referentes à mesma. Conforme o pensamento de Costa (1999 apud Pinheiro), o início da fase republicana combina-se com a ação dos médicos higienistas, que contribuem para instituir as concepções de infância como investimento do Estado, seguiu uma política de expansão populacional. A escolarização também foi bastante importante para a consolidação do sentimento de infância, pois assim, as crianças eram separadas dos adultos e o ambiente escolar propiciaria o desenvolvimento de uma infância prolongada ao serem adotadas medidas pedagógicas como a separação das classes por idade 36 onde as crianças teriam descobertas em conjunto, mas Ariés (2006), à princípio, o senso comum aceitava facilmente a questão da mistura das idades. O colégio tornou-se então uma instituição essencial da sociedade: o colégio com um corpo docente separado, com uma disciplina rigorosa, com classes numerosas, em que se formariam todas as gerações instruídas [...]. (ARIÉS, 2006, p. 111). Em nossa pesquisa, de acordo com os entrevistados, apenas um adolescente não quer mais estudar, os demais frequentam a escola, e quando indagados sobre o relacionamento deles com os outros alunos e com os funcionários da escola, e a maioria disse que tem um bom relacionamento. “Tem um bom relacionamento, mas a professora diz que ela é muito danada”. (Clarice). “Ela é ótima, não é danada, só muito quieta ela, não fala muito.” (Raquel). Nesta mesma época foi havendo uma articulação maior no exterior, a prova disso, é a primeira Declaração dos Direitos Universais da Criança proclamada pela Liga das Nações em 1924 e aperfeiçoada pela Organização das Nações Unidas – ONU com a tentativa de fortalecer e conscientizar a respeito da necessidade de serem instituídas políticas públicas de assistência e proteção à infância necessitada. Reportando-se a isso, houve a Convenção dos Direitos da Criança e do adolescente, que assinala que devido à falta de maturidade, a criança necessita de cuidados especiais, e que para seu pleno desenvolvimento, ela deve “crescer no seio da família, em um ambiente de felicidade, amor e compreensão”. Referindo-se a família como “grupo fundamental da sociedade e ambiente natural para o crescimento e o bem-estar de todos os seus membros, em particular, das crianças”. No Brasil, as legislações que tratam da criança e do adolescente, em particular inicio no mês de Outubro de 1927, quando da instituição do Código de Menores, com a tentativa de abandonar uma postura anterior de reprimir e punir passando a priorizar a educação, sendo a ideia primordial da legislação menorista, educar e disciplinar as famílias oriundas de “famílias desajustadas” ou da orfandade. O Código constituía uma perspectiva individualizante do problema do “menor”, culpabilizando a família e construindo instituições para dar conta do acolhimento de crianças em situação de rua, de trabalho infantil ou “abandonadas”. 37 Conforme Freitas (2003) a partir dos anos de 1960, há uma mudança no modelo de assistência à criança abandonada. Inicia-se a fase do Estado de Bem – Estar com a Lei Federal 4.512 de dezembro de 1964, dando início a Fundação Nacional do Bem-estar do Menor, e a esta competia formular e implantar a Política Nacional do Bem-estar do Menor em todo o território nacional. Em 1967 o Poder Executivo instituiu a Fundação Estadual do Bem-estar o Menor - FEBEMs, administradas pela Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, e destinada a assistir aos menos de faixa etária de zero a 18 anos, tentando prevenir a marginalização contando com a promoção social. Em 1979, surgiu o chamado novo Código de Menores, que não constituiu mudanças significativas, apresentando características que colocam a criança e o adolescente, pobres como uma ameaça à ordem vigente. No final dos anos 1970, com o início do processo de abertura e de democratização, iniciaram-se movimentos de reforma institucional, entrados na crítica ao conceito de menor, em prol da concepção integral e universal da criança e do adolescente, como sujeitos de direitos. (SIMÕES, 2011, p. 226). Neste processo, os imaginários sociais de infância que se estabeleciam eram ligados, como afirma Pinheiro, a noções de controle e coerção. Se manifestam práticas voltadas à garantir a vida do infante. Isso se refere principalmente à proteção da criança pequena. Práticas estas, que combatam o fenômeno do abandono social, realidade a qual, são submetidas as crianças no Brasil. À partir da Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, foi sancionada a Lei 8.069 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, devemos refletir quanto ao compromisso que deve ser assumido pela sociedade para garantir os direitos previstos pelo ECA. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) 38 As crianças e adolescentes eram concebidas como objetos de proteção social, controle e disciplinamento e repressão social, entendendo que tal referência acontece por que as representações sociais são construções da vida social como base construtiva. Analisando tudo que foi realizado para a formulação de um sistema de garantia de direitos para a criança e o adolescente, percebemos o grande avanço que houve depois da Constituição Federal de 1988 e da promulgação da lei do Estatuto da Criança e do Adolescente. Mostrando assim, que o código de menores era um retrocesso no sistema de garantia de direitos. 2.4 Trabalho infantil A inserção da criança no trabalho é um fenômeno bastante antigo, que envolve fatores culturais, sociais e econômicos, por isso, é uma pratica que vem se sustentando ao longo dos anos e que têm profundas referencias com a simbologias e imaginários relacionadas à criança e ao adolescente trabalhadas nos itens anteriores. O trabalho infantil é ainda um processo de construção histórica e processual, ou seja, suas formas de se organizar no cotidiano dependem tanto das simbologias dominantes de infância quanto das relações objetivas postas aos indivíduos em seus determinantes de trabalho no plano de fundo do capitalismo. Como falado anteriormente, de acordo com Ramos(2007), antes mesmo do descobrimento do Brasil, as crianças já eram inseridas no mercado de trabalho, recrutadas como marujos nas embarcações. De acordo com Ariés (2006) o trabalho era uma forma de socializar adultos e crianças na Idade Média, mas logo deixa de ser vista dessa forma, e passa a ser uma atividade incentivada desde cedo para formar e educar “pequenos adultos”. O trabalho com as crianças conservou uma característica com a sociedade medieval: a precocidade da passagem para a idade adulta. Toda a complexidade da vida foi modificada pelas diferenças do tratamento escolar da criança burguesa e da criança do povo. (ARIÉS, 2006, p. 130). Discorra mais sobre isso no sentido de dizer que enquanto um “adulto em miniatura” o trabalho infantil fazia parte da vida das crianças na idade média. Enquanto representação social o trabalho infantil se reatualiza, nos séculos 39 seguintes de maneira diferenciada, e os estudos que dão conta dessa matéria, em geral, circunscrevem o agravamento dessa realidade principalmente a partir de do século XIX e XX com o advento de uma sociedade industrial, e as leituras marxistas de crítica ao capitalismo e a exploração do trabalho. Como sabemos a temática da infância nunca foi o tema central de Marx e Engels, mas ocupa uma posição de destaque por se caracterizar pela violenta exploração do trabalho infantil que se potencializa na indústria capitalista. Com a revolução industrial, um dos focos de Marx se torna a ampliação da força de trabalho infantil feminina, uma vez que o capital em seu processo “civilizatório”, não faz distinção quanto a mão de obra, desde que possa ser explorada. Segundo Nogueira (1990), seria uma análise incorreta supor que o trabalho infantil se iniciou no século XIX, e que a Revolução industrial foi responsável por isso, pois em épocas anteriores, já se fazia uso da força de trabalho da criança mesmo que de outras formas. No meio rural, a criança já ocupava certas tarefas como, por exemplo, guiar o rebanho, e trabalho domiciliar. Porém, a emergência da indústria potencializa o fenômeno, sobretudo as péssimas condições em que ele passa a se dar. Marx, no primeiro livro de O capital fala de trabalho como um exemplo convincente de trabalho infantil: Se, portanto, em nosso esboço histórico desempenha papel importante, de um lado, a moderna indústria e, de outro, o trabalho dos que não física e juridicamente menores, a primeira funcionou apenas como esfera específica, o segundo como exemplo particularmente convincente da exploração do trabalho. (MARX apud LOMBARDI, 2012). Além da exploração do trabalho físico, os salários pagos eram baixíssimos, geralmente não passando da metade ou terça parte do salário pago ao operário adulto, segundo relata Engels em sua obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra (1986). Esta situação continua sendo vivida por muitos infantes em situação de trabalho infantil. Podemos observar na nossa pesquisa, que todas as crianças e adolescentes das famílias entrevistadas realizavam atividades insalubres e de baixa remuneração. Destas, quatro realizavam atividades de reciclagem, outra vendia 40 roupas no centro da cidade e outra trabalhava vendendo sardinha na praia. A partir dos relatos, percebemos que além da venda da força de trabalho, as crianças recebem salário inferior ao de um adulto, situação compatível com a época referida por Marx, na Revolução Industrial. Os baixos salários pagos ás crianças conduzia a redução dos salários dos adultos, que por sua vez levaram a necessidade dos pais levarem seus filhos para trabalharem, assim, o valor da força de trabalho passava a ser determinado não apenas pelo tempo de trabalho do trabalhador individual, mas de toda família. O valor da força de trabalho era determinado pelo tempo de trabalho não só necessário para a manutenção do trabalhador individual adulto, mas para a manutenção da família do trabalhador. A maquinaria, ao lançar todos os membros da família do trabalhador no mercado de trabalho, reparte o valor da força de trabalho do homem por toda sua família. (MARX apud LOMBARDI, 2012). O trabalho infantil é uma das refrações da questão social, se encontrando mais presente justamente nas populações em situação de vulnerabilidade. Principalmente porque, segundo Araque (2006), a pobreza, sem dúvida, é um fator determinante da atividade laboral infantil, porém, não é o único. Muito tem se falado desde a movimentação para erradicação do trabalho infantil, mas as mobilizações não tem sido suficientes para erradicar os mitos que permeiam a questão. Desde o início do século XVII até a contemporaneidade, vem se mostrando uma verdadeira chaga social. Conforme cita Araque (2006) Eis alguns mitos O trabalho enobrece; é determinante na formação dos jovens, além de afastá-los das ruas e da marginalidade; na falta de condições de sobrevivência da família, natural que suas crianças e adolescentes se voltem ao trabalho para suprir sua subsistência. (ARAQUE, 2006, p. 10). Estas são justificativas presentes na sociedade, que tornam o trabalho infantil, um fenômeno natural, o que contribui para a sua permanência e para o seu crescimento. 41 2.4.1 O trabalho infantil no Brasil Os primeiros relatos da existência de trabalho infantil no Brasil ocorrem na época da escravidão. Onde os filhos dos escravos realizavam atividades laborativas que exigiam esforços muito superiores a sua capacidade. Conforme Lombardi (2010), o trabalho infantil se inicia antes, mas passa pelo seu ápice no período da Revolução Industrial, com a intensificação da utilização da força de trabalho de trabalho de mulheres e crianças. Nesse período, os fabricantes das indústrias necessitam reduzir os gastos e procuram a mão de obra mais barata. Por sua vez, as famílias inteiras trabalhavam e cediam aos baixos salários devido a sua situação econômica. De acordo com o Guia de Orientações Técnicas do PETI, no contexto brasileiro, as causas do trabalho infantil são bastante complexas, e os mais diversos motivos levam a inserção das crianças no trabalho infantil. Porém, existem três causas que predominam na decisão da incorporação infanto-juvenil no mundo do trabalho: a necessidade econômica de manutenção da família; a reprodução cultural dos mitos sobre trabalho infantil e a falta de universalização das políticas públicas de atendimento aos direitos de crianças, adolescentes e suas famílias. Em se tratando do tema na contemporaneidade no ano de 1946 foi criado pela ONU a UNICEF, Fundo das Nações Unidas específico para a infância para contribuir com o desenvolvimento da criança e prestar ajuda na garantia dos seus direitos fundamentais. Outras legislações foram surgindo como a Declaração Universal dos Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1959, que diz em seu 9º princípio: Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; De nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira em seu desenvolvimento físico, mental ou moral. (BRASIL, 1959) De acordo com a Constituição Federal brasileira, o trabalho é permitido a partir dos 16 anos, exceto nos casos de trabalho noturno, perigoso ou insalubre em que a idade mínima é 18 anos. Atualmente, são estabelecidas exceções (Art. 42 227,parágrafo 3º, I) admitindo o trabalho a partir dos 14 anos na condição de aprendiz. No dia 13 de julho de 1990 é instituído pela lei 1069 o Estatuto da Criança e do Adolescente com intuito de garantir os direitos das crianças e adolescentes. Que cita em seu art. 60: É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. (o artigo 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal, com nova redação dada pela Ementa Constitucional nº20, de 1998, assim disciplina o trabalho de menores: “proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos”.) (BRASIL, 1990). Desde o início de 1990, a erradicação do trabalho infantil vem se tornando uma prioridade das políticas públicas no Brasil. E no que diz respeito à PNAD é ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o trabalho infantil está reduzindo no Brasil. No ano de 2004, haviam 5,3 milhões de trabalhadores de 05 a 17 anos de idade; em 2008, esse número reduziu para 4,5 milhões; e em 2009 para 4,3 milhões. O IBGE divulgou os dados do censo 2010 acerca do trabalho infantil, que comparados aos dados de 2000, verifica-se uma diminuição de 13,4 % com idade entre 10 e 17 anos. O principal motivo da luta pela erradicação do trabalho infantil são as consequências. De acordo com o Portal da Saúde, o trabalho diminui o tempo disponível para o lazer da criança, para a educação e para a vida em família, além do tempo de convivência com outras pessoas da comunidade em geral. Conforme o Portal, especialistas afirmam que o abandono escolar é três vezes maior quando as crianças e adolescentes realizam atividades de trabalho. Segundo o Guia de Orientações Técnicas do PETI os principais efeitos do trabalho infantil, envolve a área socioeconômica, pois gera uma precarização nas relações de trabalho, gerando uma remuneração inferior e exploração do trabalho, além da redução das oportunidades de emprego e inserção profissional dos adultos reforçando o circulo vicioso, e o aumento da informalidade no mercado de trabalho. Perpassa a questão da educação, que apresenta sérias consequências no desenvolvimento das crianças e adolescentes, isso porque, afeta diretamente o 43 acesso às oportunidades e ao desempenho escolar de qualidade, além do abandono escolar, fazendo com que as crianças e adolescentes sejam influenciados pelo mercado de trabalho, impedindo a educação e reforçando a exclusão social. Outro grave efeito é com relação à saúde das crianças e adolescentes, pois os trabalhos desenvolvidos podem causar danos físicos e psicológicos, como: a obrigação de assumir responsabilidades incompatíveis com as suas etapas de desenvolvimento. Além da “exposição à insalubridade, à periculosidade, às doenças, afetando a saúde, violando e retardando o desenvolvimento físico, psíquico e cognitivo”. Por terem uma capacidade limitada à resistência as crianças e adolescentes estão mais vulneráveis e se sujeitam à fadiga devido a exposição às árduas condições climáticas. É importante ressaltar, que o trabalho infantil, inverte as responsabilidades de forma que a família, o Estado e a sociedade se eximem da responsabilidade de garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, levando até a fragilização dos vínculos familiares e comunitários. 44 3 Compreendendo a visão das famílias a respeito da inserção das crianças e adolescentes no trabalho. 3.1 Percepção sobre infância As diversas concepções de infância foram construídas ao longo do tempo, para que hoje a criança seja vista como um ser social, que deve ser tratada de forma diferenciada de um adulto, não como um adulto em um tamanho reduzido como no final do século XIII. Em nossa entrevista, quando indagadas sobre o que é ser criança, a maioria dos entrevistados respondeu que é bom, mas não souberam explicar o motivo. Um dos entrevistados respondeu que é necessário ter muita paciência com os filhos, que na sua infância não fazia o que as crianças de hoje em dia fazem: “Eu acho que não dava trabalho ao meu pai, a gente vivia em casa, no cercado, só fazia plantar fruta e eu gostava” ressaltou ainda que era muito feliz (Cecília). Já outra entrevistada respondeu que: “Ser criança é bom, é brincar, ter laser e carinho”. Para Áries (1978), o século XVII é percebido como um divisor de águas na história da família, esta centra suas atenções em torno dos filhos. Os adultos começam a demonstrar interesse nas expressões das crianças. É neste mesmo século que aparecem as primeiras imagens de crianças vestidas diferente de adultos. Nessa época as crianças eram vistas como pequenos adultos, portanto tinham que ter atitude de adultos e se vestir como tal. 45 Assim observamos que para (Cecília), as simbologias e imaginários referentes à infância são ainda muito ligados às predominantes no século XIX. Isso se dá pelo fato de que as crianças, muitas vezes, eram tratadas como adultos. Esta mesma entrevistada fala sobre o comportamento da filha e diz que ela é muito desobediente, e confessou utilizar força física como uma medida disciplinar. “Ela só obedece quando eu pego um cipó ou uma corda, porque eu grito é muito com ela e ela não ta nem aí”. De acordo com Guerra, A violência doméstica contra crianças e adolescentes representa todo ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra criança e/ou adolescente que sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima implica, de um lado, uma transgressão do poder/ dever de proteção do adulto, e de outro, uma coisificação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento. (GUERRA, 2001, p.32). Ainda de acordo com Guerra (2001), a violência física ocorre quando o adulto usa sua autoridade e força física direcionando a criança. O espancamento começa em uma palmada e a falta de paciência dos pais ou responsáveis faz com que utilizem a violência para conter a criança. Conforme Ariés (2006), por volta dos séculos XIX e XX a família vai se tornando o lugar de uma afeição necessária entre pai, mãe e filhos, afeição essa, que passou a se atribuir à educação. “Não se tratava mais apenas de estabelecer os filhos em função dos bens e da honra, tratava-se de um sentimento novo.” (p. 138). Em nossa pesquisa de campo, todos afirmaram que as crianças e adolescentes tem um bom relacionamento com a família. É bom, mais ela é muito braba, ignorante, nada demais, acho que é da idade mesmo. (Raquel) Bom, mais quando se zanga... ele é um menino muito doce, sensível, mais quando se aborrece é de verdade. (Adélia). Ela era um pouco agressiva, mais agora que ela toma medicamento ela está mais calma. (Cecília). Observamos assim, que a afeição das crianças com a família se torna muito importante para o seu desenvolvimento. Porém é perceptível em algumas das 46 crianças, consequências psicológicas da situação de trabalho infantil, que pode comprometer de forma negativa o relacionamento familiar. De acordo com o Guia de Orientações Técnicas do PETI: As consequências psicológicas podem ser muito graves, pois se exigem das crianças e dos adolescentes no mundo do trabalho comportamentos próprios de adultos, substituindo as etapas essenciais de desenvolvimento. (2010, p.30). Por volta do século XV as crianças vão passando gradativamente a ser educados nas escolas. Por isso, o adulto tem um papel muito importante na vida de uma criança, principalmente no que diz respeito à educação, fazendo com que a responsabilidade com esta, se torne uma parceria entre as duas instituições, escola e família. Segundo Gueiros (2002), a família se concentrou em torno das crianças, para garantir entre outras coisas a transmissão de conhecimentos de toda uma geração à outra através da participação das crianças na vida dos adultos principalmente dos pais. Em nossa pesquisa, a maioria dos entrevistados falaram na escola e no acompanhamento escolar como papel do adulto na educação dos filhos. Vale ressaltar que dos seis entrevistados, apenas um adolescente abandonou os estudos, os demais frequentam a escola normalmente. Eu acho que uma mãe é para educar seus filhos, acompanhar no colégio pra saber como ele está. (Cora) Colocar eles na escola, levar para as atividades. (Adélia) Porém a educação da criança, na fala dos entrevistados, não se resume a escola e ao acompanhamento escolar, mas a limites e ao afeto que deve ser proporcionado pela família como citam outros entrevistados: O adulto tem que conversar ver o que a criança está fazendo, ver a hora que sai e a hora que chega, pra poder orientar. (Raquel). Conversar, dar educação mesmo. (José). 47 Ao conversar com Cecília, um dos seus relatos nos fez compreender um pouco da infância da entrevistada para analisar o seu pensamento em relação à infância da sua filha. Eu acho que ela tem é sorte, porque quando eu fui criada eu não tinha nem a comida. Eu faço tudo que é possível, converso com ela, ela estuda e pronto. (Cecília). Além da educação, as crianças e adolescentes devem participar de atividades educativas que ajudem no desenvolvimento do seu lado lúdico e que façam parte do seu lazer. As crianças precisam de tempo para brincar entre elas, definindo tipos de brincadeira, papéis, tempos, regras e normas. A escola das crianças de 6 a 10 anos, principalmente, não pode negligenciar esse ponto. As atividades livres são tão importantes quanto às dirigidas, não só para brincar, mas para a escolha de um livro, escolha de um colega de trabalho ou brincadeira, definição da organização de uma atividade, das cores para usar num desenho, entre muitas outras possibilidades. Essas decisões têm relevância para a construção da segurança interna, autonomia e responsabilidade da criança (GOULART, 2007, p. 81). Constatamos em nossa pesquisa que o que as crianças mais gostam de fazer durante o dia é brincar. Seja jogar bola, seja com brinquedos, ou brincar na rua com os colegas, a resposta foi unânime. Quando perguntamos as atividades que uma criança tem que participar, todos relataram e deixaram bem claro que o essencial é estudar, quaisquer outras atividades ficam em segundo plano ou são “descenessárias”. A maioria citou ainda, que a criança deve além de estudar, brincar, outro citou que a criança deve ajudar em casa. Estudar, o principal é estudar (Cora). Estudar, brincar e ajudar em casa (Clarisce). Tem que estudar e brincar (Rauqel). Tem que jogar bola e obedecer o pai e a mãe (José) Tem que participar de muitas atividades (Adélia) Apenas uma das entrevistadas fez um relato completamente diferenciado dos anteriores, apesar de concordar que a criança também deve estudar ela citou: 48 “... eu não acho que seja ruim uma criança trabalhar, tem que estudar e ajudar em casa. Trabalhar e estudar pra ocupar o tempo” (Cecília). Diante do relato sentimos a necessidade de perguntar o que ela acha sobre a criança ter um momento de laser, e ela nos respondeu: Enquanto eu estou varrendo a casa, eu estou brincando, quando eu estou lavando roupa, eu estou brincando, eu também não lavava as roupas das bonecas e era brincando?! Quando eu estou dobrando as roupas eu também estou brincando. (Cecília) Percebemos assim, que a mãe não compreende o trabalho infantil como trabalho penoso e, consequentemente, não reconhece quão pungente e degradante é o exercício dessas atividades para a sua filha. Com relação ao futuro das crianças, todos citaram que querem que as crianças trabalhem e tenham um bom emprego para tentar modificar a condição financeira da família, ajudar aos pais e avós. E dizem que isso só será possível se eles estudarem para tentar garantir um futuro melhor. 3.2 Percepção da família sobre a inserção dos seus filhos no trabalho infantil. Como foi abordado anteriormente, o trabalho infantil vem se estendendo desde o descobrimento do Brasil ao longo dos séculos se classificando como uma mão de obra barata. De acordo com Eliane Araque, em artigo publicado a Revista do Tribunal Superior do Trabalho diz que, se tratando de trabalho infantil, deve-se ressaltar as péssimas condições de trabalho, ao desrespeito aos direitos trabalhistas e a não remuneração. As crianças são um alvo fácil porque além de dóceis não são conhecedores de seus direitos. Dos nossos seis entrevistados, quatro estiveram em situação de trabalho infantil: Comecei a trabalhar com 12 anos com castanha no roçado (Raquel). 49 Com 16 anos trabalhava como empacotador de supermercado (José). Trabalhava no roçado, tirava caju, castanha, tudo que tinha no interior, com farinha de mandioca, com tudo. Tinha 08 anos (Adélia). Com 05 anos, trabalhava no roçado mesmo (Cecília). Todos eles realizavam atividades que tinham que utilizar bastante a força física, podendo prejudicar a saúde. Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego, a permanência em posturas viciosas provocam deformações principalmente na coluna, sendo prejudicial ao crescimento e podendo acarretar no aparecimento de dores crônicas. As crianças e adolescentes das famílias entrevistadas também se encontravam em situação de trabalho infantil insalubre. Quatro delas realizavam atividade de reciclagem que segundo os entrevistados, era algo realizado por toda a família. Fizeram questão de dizer ainda que elas não trabalhavam, apenas acompanhavam os pais. E das outras duas, uma vendia roupas no centro da cidade e outra vendia sardinhas na Praia do Futuro. A realização de trabalho nas ruas antes dos 18 anos é proibida desde a Consolidação das Leis Trabalhistas em 1943. Conforme o guia de orientações técnicas do PETI (2010), a proibição se dá devido a “natural falta de atenção das crianças e adolescentes que, nas ruas, estão sujeitos a um maior risco de acidentes e perigos”. (p. 33) Diante de todos esses riscos, perguntamos em entrevista as famílias, o que eles achavam do fato das suas crianças e adolescentes estarem em situação de trabalho. Dois dos entrevistados responderam que era ruim pelo perigo e porque eles deveriam estar na escola. Os outros entrevistados diziam que não achavam que era ruim, e tentavam justificar de alguma forma. Eu nunca achei que ela devesse estar fazendo aquilo, não era o que eu queria dar aos meus filhos. Mais quando a coisa aperta, tem que ajudar, a gente levava até para eles não ficarem só em casa. (Raquel) Percebemos então, que essa família acredita em um dos mitos tradados no Guia de orientações técnicas do PETI, que se trata do mito de que a criança ou 50 adolescente está ajudando os pais. Porém, de acordo com Guia, 48% das crianças e adolescentes que trabalha não recebem remuneração alguma, e a outra parte deles recebem valores insuficientes para a sua sobrevida. As outras três famílias afirmavam que não achavam ruim que as crianças trabalhassem. A primeira entrevistada chegou a cair em outro mito, o de que é melhor trabalhar do que ficar nas ruas. Eu acho que quando ele trabalhava a vida dele era melhor. Ele trabalhava, quando chegava ia para o colégio, e agora ele não trabalha mais, quer ficar com os meninos na rua e também não quer saber de estudar. (Cora) Porém, é uma falsa dicotomia, por reduzir as alternativas de atenção à criança e ao adolescente. Dando margem a compreensão de que para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social serve qualquer alternativa, desconsiderando os direitos conquistados. E as outras duas entrevistadas deixaram claro que não acham ruim que os filhos trabalhem, demonstrando que isso se dá em um processo natural. De acordo com Eliane Araque (2006) Existem várias justificativas no imaginário da sociedade brasileira que tornam o trabalho infantil um fenômeno natural, o que contribui com a sua permanência e para a falta de políticas públicas que deem apoio à essas famílias. Ele não trabalhava tanto não, ia só pra ajudar. A gente só ia quando não tinha nada pra merendar em casa. (Adélia) Trabalhar ela não trabalhava, ela me acompanhava na reciclagem. Eu não acho que trabalhar seja ruim pra criança não, eu mando ela arrumar as coisas dela. De vez em quando uma mãe pegar e mandar a filha lavar um copo, um prato não é ruim. (Cecília) Desta forma, também é possível perceber que os pais não reconhecem a atividade que as crianças e adolescentes realizam enquanto trabalho infantil. O discurso é que as crianças não estão trabalhando, estão apenas “acompanhando os pais”. Diante desse discurso, todos os entrevistados afirmaram que as crianças e adolescentes ficam expostos a vários riscos. Os que realizavam atividades de reciclagem tinham outro risco maior que é o fato de estar vulnerável a vários tipos de 51 doenças que podem ser adquiridas a partir do contato com os resíduos que contém no lixo. Quando perguntamos à Raquel se ela achava que o filho ficava exposto a algum tipo de risco, a mesma chegou a dizer ”Tanto ela quanto a gente. Muitas das vezes a gente abre um saco de lixo daqueles e tem um gato morto, ou cachorro”. Os outros dois falaram que a rua em si tem muito risco principalmente devido o trajeto que era realizado por eles. Para compreender melhor como as famílias percebem a inserção das suas crianças e adolescentes no mundo do trabalho, perguntamos se eles acham que o fato da criança ou adolescente estar em situação de trabalho contribui para o desenvolvimento. Quatro dos entrevistados responderam que não. Uma delas (Cecília) disse que não vai contribuir para o futuro da sua filha porque ela frequenta a escola e vai ter mais possibilidades, “vai arranjar um emprego melhor”. Dos outros dois entrevistados, (Cora) citou que achava que o trabalho contribuía sim para o desenvolvimento do seu filho, principalmente porque servia para ocupar o tempo dele. Já a entrevistada Raquel citou que ajudava sim no desenvolvimento do seu filho. Eu creio que foi bom, quando ela for maior e for trabalhar ela já vai saber porque já trabalhou. Eu trabalhei quando era criança e nunca fiz mal a ninguém, nunca usei droga, nunca peguei nada de ninguém. Se os pais estivessem onde os filhos estivessem, não aconteceria tanta coisa ruim. (Raquel). Assim, percebemos que a família têm experiências de vida que fazem com que se perceba o trabalho infantil desta forma, a qual, o Guia de orientações técnicas do PETI, cita que a criança e/ou adolescente que trabalha fica mais esperto e tem melhores condições de lidar com as imposições da vida. Porém, ainda segundo o Guia de Orientações técnica do PETI (2010), o trabalho infantil não antecipa as etapas de desenvolvimento da criança e do adolescente, ele subtrai seus direitos fundamentais; a responsabilidade precoce com o trabalho impede as possibilidades de desenvolvimento integral. Referindo-nos a visão das crianças e adolescentes acerca da situação de trabalho, três dos pais informaram que eles não gostavam de ir, estes eles realizavam atividade de reciclagem. Os outros três, afirmaram que as crianças 52 gostavam porque se sentiam beneficiadas, seja com o dinheiro ou no caso da reciclagem como uma das entrevistadas citou que encontrava brinquedos para a filha. Ainda se tratando da visão das crianças e adolescentes, perguntamos se elas chegaram a falar se construíram algum tipo de laço afetivo com as pessoas que tinha convívio nas atividades de trabalho e somente a entrevistada 01 (um), disse que seu filho falava que ficava conversando com umas mulheres, mas não tinha amizade, somente conversava. Todos os entrevistados citaram que seus filhos nunca chegaram a comentar se teriam sofrido algum tipo de violência. E os que realizavam atividades de reciclagem citaram ainda que a família inteira exerce a mesma atividade e nunca ninguém foi vítima de violência. Em se tratando da renda da família, e do que era arrecadado com a força de trabalho das crianças e adolescentes, a metade das famílias informou que o fato deles estarem em situação de trabalho infantil não ajudava muito, pois a renda que recebiam era irrelevante e não contribuía de uma forma decisiva na renda familiar. Reforçando assim, a ideia de outro mito que é citado no Caderno de Orientações Técnicas do PETI, de que o dinheiro que a criança recebe com o seu trabalho é tão pouco que não é capaz de suprir as condições básicas da família. Os demais falaram que esse dinheiro realmente contribuía muito para a renda da casa. Ajudava, dava o dinheiro pra mim. Quando ela parou de trabalhar ficou ruim porque é menos dinheiro em casa. (Clarice) O que ela apurava era tudo pra dentro de casa, a não ser que tivesse sorte de achar alguma coisinha melhor, na época de natal mesmo ela ganhava muita coisa. (Raquel) Ajuda bastante. (Cecília) Em entrevista as quatro famílias das crianças e adolescentes que realizavam atividades de reciclagem afirmara que não tinha fiscalização alguma no momento da realização das suas atividades. E os outros dois afirmaram não saber por que não viam e não faziam ideia se havia ou não algum tipo de fiscalização. 53 Considerações finais O processo de produção desse documento foi deveras desafiador. A escolha e delimitação do tema, o aprofundamento teórico, a pesquisa de campo e todas as tarefas importantes durante esse percurso, foram indispensáveis para a elaboração do projeto que culminou na realização desse ensaio monográfico. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social II – CREAS II foi um colaborador e parceiro efetivo, mostrando-se solicito e sensível às necessidades eventuais, com profissionais comprometidos e qualificados. Hoje posso afirmar que o tempo que passei em estágio e pesquisa foi muito importante para que eu pudesse me interessar ainda mais pela temática. O levantamento e a obtenção das informações ocorreram através de entrevistas semi-estruturadas, para que pudéssemos analisar cada caso em uma pesquisa de caráter qualitativo. A seleção da amostra se deu de forma bastante simples: entrevistamos famílias acompanhadas pelo CREAS II que foram inseridas no serviço devido seu envolvimento com o trabalho infantil. Todos os entrevistados pais ou mães de crianças e adolescentes inseridos no PETI. Na aplicação das entrevistas, além da obtenção de dados, foi possível conhecer um pouco a respeito do cotidiano dos entrevistados. Os participantes não tiveram dificuldades para responder o roteiro, porém, algumas vezes, algumas perguntas tiveram que ser repetidas, porque eles começavam a tratar outros assuntos e deixavam de focar nas perguntas que havia sido feitas. Ainda tivemos que lidar com as dificuldades das entrevistas realizadas nos domicílios, pois é um local de bastantes distrações. Em uma entrevista realizada na casa de uma das 54 mães participantes, segura em seu ambiente residencial, a mesma relutou negando que a filha trabalhava, disse que a filha apenas a acompanhava. Ao analisar os dados de um modo geral, inclinamos-nos a concluir que na ótica dos pais a situação de trabalho infantil é algo natural. Principalmente, pelo fato de quatro dos entrevistados terem trabalhado durante a infância, e isso eles utilizam como uma justificativa. No que se refere o papel do adulto no desenvolvimento das crianças e adolescentes, todos resumem a educação puramente a frequência escolar, um dos entrevistados chegando a dizer que a criança deve estudar e trabalhar para que possa ocupar o tempo. E quando perguntamos das atividades que as crianças devem participar, eles também classificaram o estudo como algo primordial, como se as atividades lúdicas como o brincar não tivesse importância alguma para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Isso se contradiz bastante quando perguntamos o que seus filhos gostam de fazer durante o dia, pois todos respondem que eles gostam de brincar, seja de bola, ou de correr, a resposta foi unânime. Possibilitando-nos concluir que a criança ainda não tem voz, pois o que ela geralmente faz e o que gostaria de fazer tem um distanciamento muito grande do que o adulto pretende que ela faça. Outra contradição que ocorre, é que ao perguntar o que os entrevistados acham das crianças estarem trabalhando, metade responde que não acha ruim. Porém ao perguntar se eles consideram que o trabalho expõe os filhos a alguns tipos de riscos, eles são unânimes ao dizer que todos ficam expostos a riscos, tanto relativos à saúde, quanto à violência. Nos casos estudados, também foi possível perceber e concluir que o trabalho infantil não é a única situação de vulnerabilidade que a crianças estão expostas. Mas uma delas sofre também violência física por parte da mãe, além de outros tipos de riscos devido à localização em que é inserida a sua residência. A realização desta pesquisa nos possibilitou um conhecimento mais amplo a cerca da temática do trabalho infantil. Pudemos constituir dados relativos ao trabalho realizado pelas crianças e adolescentes e perceber como os pais e 55 responsáveis os consideram algo natural a ponto de não se sentirem incomodados de falar sobre o assunto. Desta forma, foi possível perceber que a visão de infância e da prática de atividades laborais na infância é cultural, principalmente quando os pais estiveram em situação de trabalho infantil. Desejo profundamente que os dados coletados nessa pesquisa possam evoluir para realidades mais agradáveis no que concerne esse tema. Espero que tenha apreciado esta leitura e que outros atores possam colaborar com a discussão para engrandecer a pesquisa. 56 Referências bibliográficas AMARAL, Carlos.; CAMPINEIRO, Débora; SILVEIRA, Caio. Trabalho infantil: examinando o problema, avaliando estratégias de erradicação. NAPP/UNICEF, Rio de Janeiro, 2000. Disponível em: http://www.iets.org.br/biblioteca/Trabalho_infantil_examinando_o_problema_avaliando_estra tegias_de_erradicacao.pdf . Acesso em: 18/10/2012. ARAQUE, Eliade. A naturalização do trabalho infantil. In Revista do tribunal superior do trabalho, volume 72, set/dez, 2006, p. 103/ 122. ARIÈS. Philippe. História Social da criança e da família, 2ª ed. Rio de Janeiro. LTC, 1981. BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,1985. BEZERRA, Cássica de Castro. Trabalho infantil e publicidade: criança é a alma do negócio. ABRAPSO, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 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Idade:_____________________________________________________ 3. Qual o vínculo e/ou grau de parentesco com a criança/adolescente: ( ) mãe ( ) pai ( ) irmão ( ) irmã ( ) Avô ( ) Avó ( ) Outro. Especificar:__________________________________ 4. Atividade profissional atual:____________________________________________ 5. Renda mensal: ( ) Menos de 1 salário mínimo b) ( ) 1 salário mínimo ( ) De 1 a 2 salários mínimos d) ( ) Mais de 2 a 3 salários mínimos ( ) Não possui renda 6. Etnia referida: ( ) Branca b) ( )Negra c) ( ) Parda d) ( ) Não sabe ( ) Outra. Especificar: ___________________________________________ Naturalidade:_____________________________________________ 7. Com que idade você começou a trabalhar? 8. Qual foi a sua primeira ocupação? Dados da criança 1. Nome:__________________________________________Idade:_______ 2. Convive com outras crianças? Sim ( ) Não ( ) 3. Escolaridade:________________________ 4. Como é a criança na escola? Relacionamento com os professores e as outras crianças? 62 _____________________________________________________________ 5. Qual a relação da criança com a família? Concepção de infância: 1. O que é ser criança para você? 2. Quais as atividades que uma criança tem que participar? 3. Qual o papel do adulto na educação da criança? 4. O que a criança mais gosta de fazer durante o dia? 5. Quando você pensa em um futuro para a criança, como você o imagina? Trabalho infantil 1. Qual a atividade de trabalho que a criança participa/ participava? 2. O que você acha da criança estar trabalhando? 3. Você acha que no trabalho ele fica exposto a algum tipo de risco? 4. Você acha que estar trabalhando contribui para o desenvolvimento da criança? 5. Quando seu filho trabalhava, ele gostava do que fazia? 6. Seu filho construiu amizades, ou outras relações de proximidade enquanto trabalhava? 7. Seu filho passou por algum tipo de situação de rua? Sofreu algum tipo de violência? 8. A renda que era trazida pelo trabalho do seu (suas) filho/a contribuía decisivamente para a renda familiar? Como esta situação ficou quando ele parou e trabalhar? 9. Existia algum tipo de fiscalização do trabalho da criança? Ou ela trabalhava só? 63 Faculdade Cearense - FAC Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo tema é Trabalho infantil, tendo por objetivo: Identificar como as famílias das crianças inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS II em Fortaleza – CE percebem a relação entre infância e trabalho no que tange ao desenvolvimento biopsico-social dos filhos inseridos precocemente no mercado de trabalho. Sua participação é voluntária, não causando nenhum dano a sua qualidade de vida. A qualquer momento, poderá desistir de participar do estudo sem qualquer prejuízo e todas as informações obtidas serão mantidas em sigilo assim como sua identidade. A pesquisa será realizada através de entrevista semi-estruturada. Destacamos que a entrevista será individualizada e gravada para que não haja perda do conteúdo. Comprometemo-nos a utilizar os dados coletados somente para a pesquisa e os resultados poderão ser veiculados através de artigos científicos, em revistas especializadas e/ou encontros científicos, sem a identificação do entrevistado. Em caso de dúvidas ou para outras informações, poderá entrar em contato com a pesquisadora responsável, Mirella Suyane Freire Ferreira, pelo telefone (85) 88173039. Este termo terá duas vias iguais, sendo uma para o sujeito participante da pesquisa ou para seu responsável legal e outro para o arquivo da pesquisadora. Desse modo, tendo tomado conhecimento sobre o teor da pesquisa concordo em participar dela de forma livre e esclarecida. Nome:______________________________________________________________ Telefone:________________________ Data: ____________________________ Assinatura:__________________________________________________________ ______________________________________________________ Assinatura do Pesquisador