Soluções para revitalizar calçadas de São Paulo
Por Benedito Abbud
Importante por sua extensão e pela qualidade de vida nas cidades, as calçadas são consideradas
o principal elemento por onde as pessoas caminham, além de abrigarem a maior parte da
vegetação urbana. Só em São Paulo as calçadas ocupam 60 mil km lineares, o que corresponde a
uma volta e meia ao redor da Terra. Mas a cidade ainda carece de passeios públicos agradáveis
para os pedestres, o que inclui melhores aspectos estéticos e o uso de materiais ecológicos.
Essa ideia e as soluções para o problema foram apresentadas durante palestra no 2º Seminário
Paulistano de Calçadas, realizado em 6 de novembro na Câmara Municipal de São Paulo.
A função principal da calçada é, juntamente com o sistema viário, ser uma espécie de esteira
rolante, onde descortinamos o espetáculo urbano. Este show se apresenta por meio do percurso,
proporcionando-nos sensações e surpresas agradáveis ou desagradáveis, dependendo da
qualidade da paisagem.
Existem dois tipos de paisagens: aquela com maior incidência antrópica (feita pelo homem) e
com maior incidência da natureza. A primeira delas pode ainda ser harmônica (quando as
edificações são organizadas com alturas parecidas) ou desarmônica (quando há uma serie de
elementos desorganizados causando uma sensação confusa e poluição visual). A natureza,
entretanto, ajuda a corrigir a desarmonia da paisagem, porque entra como se fosse ator principal
e deixa a paisagem de fundo, chamando a atenção para si.
Visando resgatar o hábito de andar com conforto, praticidade e segurança, proponho a
revitalização desses passeios públicos por meio do conceito de Calçada Viva, que surge com base
na integração dos seguintes tipos de calçadas: ecológicas, verdes, acessíveis, saudáveis,
culturais, mobiliadas e técnicas.
Calçadas ecológicas
Talvez seja o mais importante desses conceitos, uma vez que ser ecologicamente correto não
significa simplesmente cuidar da área verde do local. Outras ações são necessárias, tais como o
plantio de espécies frutíferas para atração de pássaros e o uso de um piso drenante, que ajuda a
drenar as águas pluviais e alimenta o lençol freático. Com a adoção desse piso, o problema
recorrente das enchentes de São Paulo será amplamente reduzido.
Hoje, a única medida para contenção das enchentes são os piscinões, cuja função é receber as
águas da chuva que iriam naturalmente para o rio. Assim, quando a chuva passa, as águas do
piscinão são bombeadas ao rio que já deve ter escoado a sobrecarga das águas. Esse processo,
porém, traz problemas como o carreamento do lixo que fica no fundo do piscinão através das
enxurradas e, após o bombeamento, precisa ser retirado, sobrando um “lodo” que atrai insetos e
roedores, além de possíveis maus-cheiros.
Com o tempo, o piso drenante também apresenta colmatação (entupimento dos vazios internos)
através do tempo. O período para que isso ocorra varia de 10 a 15 anos, tempo considerado
suficiente para levar as águas da chuva diretamente para o lençol freático, ao invés de permitir
que as mesmas se dirijam para a boca de lobo, alimentando as enchentes.
Calçadas verdes
Plantar árvores de forma organizada permite que suas copas minimizem a massa construída
descontínua da cidade e propiciem sombreamento. Já os arbustos plantados no alargamento das
calçadas nas esquinas (conceito de traffic calming) e as trepadeiras cobrindo muros geram maior
sensação de verde. O conjunto melhora a qualidade ambiental, retendo o calor durante o dia e
amortecendo a temperatura durante a noite.
Calçadas acessíveis
Pessoas com deficiência ou com dificuldade de locomoção, tais como idosos e gestantes, precisam
ter acessos seguros às calçadas. O piso tátil de alerta e direcional, bem como a rampa de acesso
são equipamentos que estão entre as soluções propostas. Esse tratamento especial permite
entrada, permanência e saída com segurança e autonomia.
Calçadas saudáveis
Com essas calçadas, a ideia é incentivar seu uso como uma opção para a prática de esportes e
cuidado com o corpo. Entre as soluções possíveis podemos destacar pista de caminhada com
marcação de distância e aparelhos para ginástica e alongamento.
Calçadas culturais
Propõe-se a instalação de suportes especialmente desenvolvidos para abrigar exposições
itinerantes com reproduções de obras de arte, fixar as reproduções em tapumes de obra ou
imprimir sobre telas de proteção de edifícios em construção. Pretende-se, assim, levar a arte para
as ruas, democratizando o acesso e interagindo com as pessoas.
Calçadas mobiliadas
Bancos, ponto de ônibus, totem telefônico, bicicletário e postes com design diferenciado, aliado a
uma iluminação estratégica que ressalte os pontos focais do caminho e proporcione segurança à
noite estão entre as propostas de mobiliário urbano que convidam a população ao convívio e
passeio nas calçadas.
Calçadas técnicas
A intenção é criar uma galeria no subsolo permitindo que as fiações da rede elétrica, telefônica,
de TV, fibras óticas, rede de água e esgoto sejam todas embutidas, diminuindo a poluição visual
da cidade. Com isso, facilita também a manutenção das redes sem quebrar ou remendar o piso,
pois as peças drenantes podem ser retiradas uma a uma e recolocadas com facilidade, sem
necessidade de mão de obra especializada.
Fonte: http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=16&Cod=617
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