Tensão Superficial, Surfactantes e Micelas 1 TENSÃO SUPERFICIAL, SURFACTANTES E MICELAS Introdução Embora o nome não seja comum, todos temos em nossas casas dezenas de soluções e misturas com surfactantes, tais como: detergentes, shampoos, condicionadores, sabões, produtos de limpeza, cremes dentais, etc. As nossas células são revestidas por uma parede de surfactantes. O oxigênio é levado dos alvéolos pulmonares até os vasos sangüíneos por surfactantes. Nossos olhos são lubrificados por surfactantes. Cauda hidrofóbica Cabeça hidrofílica Figura 1. Molécula de surfactante: cabeça e cauda. As moléculas de surfactante possuem duas regiões distintas: uma delas apolar, que é a cauda hidrofóbica (insolúvel em água) e outra polar ou iônica, que é a cabeça hidrofílica (solúvel em água). Os surfactantes podem ser neutros ou iônicos. Os iônicos podem ser catiônicos (positivos), aniônicos (negativos) ou ainda anfóteros (quando ambas as cargas estão presentes na molécula). Detergentes a base de surfactantes alquilsulfonatos de sódio são anfóteros. surfactante neutro surfactante anfótero Após uma concentração crítica, as moléculas do surfactante na solução passam a se agregar sob a forma de micelas. São as micelas os “indivíduos” responsáveis pela catálise micelar e solubilização de gorduras. Tensão Superficial, Surfactantes e Micelas 2 Figura 2. A micela. A principal razão para a formação de micelas é a diminuição da área de contato entre as cadeias hidrocarbônicas (cauda apolar) do surfactante e a água (polar), já que são quimicamente incompatíveis. A formação do agregado leva o surfactante a uma situação onde as cabeças hidrofílicas estão muito próximas umas das outras, gerando repulsão eletrostática que se opõe ao processo de micelização. Neste contexto os contraíons (do próprio surfactante ou de aditivos) desempenham um papel fundamental, blindando a carga do agregado e diminuindo o potencial elétrico e a repulsão entre as cabeças das moléculas. Figura 3. Surfactantes com contraíon. Os líquidos tendem a adotar uma forma que minimize a sua área de superfície. Gotas de um líquido tendem a assumir forma esférica, que é a forma com a menor razão superfície/volume. Para se perturbar a superfície de um líquido é necessário realizar algum trabalho. A razão entre o trabalho realizado e a área de deslocamento da superfície do líquido é chamado de tensão superficial. Esta propriedade confere ao líquido uma “capa”de moléculas na superfície, resultado de um desbalanceamento das interações intermoleculares no líquido. A tensão superficial da água é diminuída pela adição de surfactantes. Quando um surfactante é adicionado à água, suas moléculas tentam se arranjar de modo a minimizar a repulsão entre as caudas hidrofóbicas e a água. Os grupos polares (cabeças hidrofílicas) ficam na solução aquosa, próximo da superfície e os grupos apolares (caudas hidrofóbicas) ficam na interface água-ar, minimizando a interação com a água. Isto gera diminuição na tensão superficial da água, pois provoca um desarranjo da sua superfície. Tensão Superficial, Surfactantes e Micelas 3 Figura 4. Atuação do surfactante na superfície da água. Após a agregação das moléculas do surfactante (formação micelar), as micelas ficam distribuídas em toda a solução, não apresentando efeito sobre a tensão superficial da água. Figura 5. Micelização do surfactante na água. Parte Experimental A. BARCO MOVIDO A SURFACTANTE Coloque água numa cuba de vidro e monte um barco de papel. Coloque o barco sobre a superfície da água. Observe. Coloque algumas gotas de detergente e veja o que acontece. Pergunta-se: 1- Por que o barco se move? 2- Por que as moléculas de surfactante ficam na interface água-ar, com as cadeias carbônicas para fora do líquido? Tensão Superficial, Surfactantes e Micelas 4 B. SOLUBILIZANDO A GORDURA Adicione algumas gotas de óleo numa placa de Petry com água. Você irá perceber que ambos formam fases distintas (mistura heterogênea): o óleo não se solubiliza na água, mesmo sob agitação. Adicione, então, algumas gotas de detergente e agite a solução com um bastão de vidro. Observe. Pergunta-se: 1- Por que o óleo não se mistura com a água? 2- Por que o surfactante é capaz de dissolver o óleo na água? Referência Revista eletrônica do departamento de química da universidade federal de Santa Catarina.