A INTERIORIZAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SC: ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE SÃO BENTO DO SUL (SC) Autor: Andréa Maristela Bauer Tamanine 1 Co-autores: Rosa Rodrigues Del Olmo2 Osvalmir Tschoeke3 Adelino Denk4 São Bento do Sul (SC) é pólo econômico da Micro Região do Alto Vale do Rio Negro, a terceira cidade mais populosa da região norte-nordeste catarinense para a qual se prevê crescimento acima da média nacional nos próximos 15 anos. De acordo com Kroehn (2011, p. 69) “São Bento do Sul é a 3ª. cidade brasileira com o maior índice de responsabilidade fiscal, social e de gestão dos últimos sete anos". 5 Os objetivos deste estudo de caso são: 1) registrar e discutir a experiência relativa à interiorização da inovação no estado de SC com base nos trabalhos realizados para a criação de parque tecnológico e instalação de pólo de inovação na cidade de São Bento do Sul; 2) discutir os potenciais efeitos da convergência de estruturas e objetivos em prol de um ambiente estimulante para o empreendedorismo inovador para criação um novo perfil para o município. Os dados da experiência relatada foram coletados entre 2011 e 2013, por meio de pesquisa de campo baseada na observação não estruturada e participante, com foco descritivo e produção de reflexões analíticas e metodológicas, de eventos relacionados ao tecnoparque e ao pólo de inovação na cidade. Os eventos de interesse constituíram-se de diferentes fóruns de trabalho relacionados ao habitat complexo de inovação, cujo sentido aqui proposto é um sistema articulado, composto por espaços de inovação e seus promotores, identificável geograficamente. A observação envolveu atores da Tríplice Hélice da Inovação: economista do governo municipal de São Bento do Sul; gerente da Incubadora tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP; coordenador do Núcleo de Inovação da Universidade da Região de Joinville - Univille. Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente. Podem ser citados como resultados da pesquisa: 1) identificação de necessidades e fragilidades dos elementos da Tríplice Hélice e suas potenciais convergências para o ambiente de inovação; 2) definição de linhas mestras para planejamento integrado entre habitats pré-existentes; 3) descrição dos desafios da sustentabilidade do habitat complexo de inovação, 4) descrição dos desafios da inter-relação entre atores locais para desenvolver a cultura empreendedora no município/micro região; 5) descrição dos gargalos de formação de recursos humanos e 6) discussão sobre a elaboração de políticas municipais para incentivo ao empreendedorismo e à inovação. As limitações do trabalho se configuram pelo estágio inicial das atividades e pelo processo ainda não estar na fase de discussão pública. Apesar das limitações, a criação de uma cidade com ecossistema propício à inovação é o maior impacto previsto pelas ações em andamento e pelo projeto de implantação do tecnoparque e do pólo de inovação, implicando em efeitos positivos de cunho social e econômico no ambiente urbano, impacto científicotecnológico e mudança cultural. A originalidade do estudo se caracteriza pela ótica da Tríplice Hélice sobre os desafios e impactos da criação de um habitat complexo de inovação na região. Palavras-chave: Interiorização da inovação; Tríplice Hélice; Empreendedorismo; Pólo de Inovação; Tecnoparque. 1 Doutora, gestora de inovação. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3461-9156/9947-7717. Email: [email protected]. 2 Especialista, economista. Prefeitura Municipal de São Bento do Sul. Rua Jorge Lacerda, 75. Centro - 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3631- 6000. E-mail: [email protected]. gov.br. 3 Especialista, administrador. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Rua Luiz Fernando Hastreiter, 320. 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. E-mail: [email protected] 4 Mestre, economista. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 3631-9132. E-mail: [email protected]. 5 KROEHN, Márcio. A força das cidades médias. Revista Exame. Out. 2011. p. 68-70. THE INTERIORIZATION OF INNOVATION IN SC: A CASE STUDY IN THE CITY OF SÃO BENTO DO SUL (SC) Author: Andréa Maristela Bauer Tamanine6 Co-authors: Rosa Rodrigues Del Olmo 7 Osvalmir Tschoeke8 Adelino Denk9 São Bento do Sul is the economic hub of the micro region from Alto Vale do Rio Negro, the third most populous city in the north-northeast of Santa Catarina for which expected growth above the national average over the next 15 years. According to Kroehn (2011, p. 69) "São Bento do Sul is the 3rd. Brazilian city with the highest level of fiscal, social and management responsability of the last seven year". The objectives of this case study are: 1) register and discuss the experience relating to the innovation interiorization in the state of SC based on work was done by the technology park creation and installation of the innovation cluster in São Bento do Sul; 2) discuss the potential effects of the convergence of structures and objectives towards a stimulating environment for innovative entrepreneurship to create a new profile for the municipality. Experiment data reported were collected between 2011 and 2013, through field research based on observation and unstructured participant, focusing descriptive and production of analytical and methodological reflections of events related to tecnopark and innovation cluster in town. The events of interest consisted of different forums related to work to innovation complex habitat, whose sense proposed here is an articulated system, composed of spaces for innovation and its promoters, geographically identifiable. The observation involved actors of the Triple Helix of Innovation: an economist of the municipal government of São Bento do Sul, the manager of the Technology Incubator of Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP, the coordinator of the Center for Innovation at the University of Joinville Region - Univille. Data were analyzed quantitatively and qualitatively. These items can be cited as the research results: 1) identification of needs and weaknesses of the triple elements and their potential convergences; 2) the definition of guidelines for integrated planning between pre-existing habitats; 3) description of the challenges of sustainability of innovation complex habitat, 4) description of the challenges of the interrelationship between local stakeholders to develop the entrepreneurial culture in the municipality/micro region; 5) description of the bottlenecks of human resources training and 6) discussion about the development of municipal policies to encourage entrepreneurship and innovation. Limitations of this study are configured at the initial stage of the activities and the process isn't at the stage of public discussion yet. Despite the limitations, the creation of a city with ecosystem propitious to the innovation is the largest expected impact by the underway actions and by the implantation project of the tecnopark and innovation cluster implying positive effects of social and economic development in the urban environment, impact scientific-technological and cultural change. The originality of the study is characterized by the Triple Helix perspective about the challenges and impacts of creating a complex habitat for innovation in the region. Key-words: Triple Helix; Innovation cluster; Tecnopark. 6 Ph.D., Managing Innovation. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3461-9156/9947-7717. Email: [email protected]. 7 Specialist, Economist. Prefeitura Municipal de São Bento do Sul. Rua Jorge Lacerda, 75. Centro - 89.280-902 - São Bento do Sul - SC. Fone: 47 - 3631- 6000. E-mail: [email protected]. gov.br. 8 Specialist, Administrator. Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa - FETEP. Rua Luiz Fernando Hastreiter, 320. 89.283081 - São Bento do Sul - SC. E-mail: [email protected] 9 Master, Economist. Universidade da Região de Joinville - Univille. Rua Norberto Eduardo Weihermann, 230. Bairro Colonial. 89290-000. São Bento do Sul - SC. Fone: 3631-9132. E-mail: [email protected]. 1. Introdução Ao tratar como objeto de estudo a interiorização da inovação em Santa Catarina, entendeu-se poder contribuir de maneira especial com o tema proposto pelo XXIII Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, haja vista a possibilidade de ser prevista, pelos muitos casos de sucesso conhecidos, a proporção das transformações em uma cidade a partir da implantação do seu Parque Científico e Tecnológico. Apesar das limitações da experiência ora descrita diante de sua fase nascente, da extensa literatura sobre o tema ainda a explorar e das muitas possibilidades futuras de benchmarking e interação com tecnoparques consolidados no Brasil pelo mundo, o registro e divulgação dos fatos que hoje ocorrem na cidade interiorana de São Bento do Sul serão fatores importantes na caminhada para sua caracterização como polo de inovação da região norte-nordeste catarinense. Ao criar e estimular um ambiente propício à inovação nas pequenas e médias cidades, acredita-se que se oportunizará a formação de cidadãos globais oferecendo oportunidades superiores de emprego e renda, criando assim atratividade para o capital humano e gerando desenvolvimento. Portanto, defende-se aqui que os processos de interiorização da inovação são de suma importância para que o Sistema Nacional de Inovação funcione. Assim, ao se pensar em cidades inteligentes e com economia criativa, também se deve pensar no potencial de cidades menores e compactas. Segundo a Lei de Inovação brasileira no 10.973, de 2 de dezembro de 2004, define-se como “Inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”, reafirmando-lhe os requisitos de novidade, aplicabilidade e efetiva introdução no mercado, além de abranger as tecnologias sociais.Em sentido amplo, pode-se dizer que inovar é colocar algo conceitualmente novo no mercado. Esse "algo novo" precisa modificar o comportamento da sociedade em relação ao produto ou processo antes utilizado, ou seja, mesmo que em graus variados, deve haver uma forma de vantagem relativa no processo de adoção de uma inovação. Essa vantagem relativa seria “o grau com que uma inovação é percebida como melhor que o produto que substitui” (TIDD, BESSANT, PAVITT, 2008, p. 291). Rodriguez, Dahlman e Salmi (2008, p. 92), no relatório Knowledge and innovation for competitiveness in Brazil, conceituam inovação de maneira abrangente, englobando “produtos, processos e novas atividades empresariais ou modelos organizacionais”, assim como "também como a primeira vez em que se usa ou se adapta a tecnologia a novos contextos”. Nesse sentido, as características do inovar se tornam mais próximas da maioria dos empreendedores, que precisam aprender a ser mais criativos e a gerir as ideias para que se revertam em conhecimento e em inovação, especialmente nas micro, pequenas e médias empresas, importantes para o desenvolvimento econômico como citam Longnecker et al “Os empreendedores fornecem empregos, introduzem inovações e estimulam o crescimento econômico [...] eles são vistos como energizadores que assumem riscos necessários em uma economia em crescimento” - fatores fundamentais na interiorização da inovação aqui tratada. De acordo com Duarte (2012, web), dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) "apontam que a riqueza de SC depende cada vez menos de Florianópolis. Segundo o instituto, os estados das regiões Norte e Nordeste são os que mostram maior dependência de suas capitais, enquanto SC é o ente da federação mais autônomo em relação à Florianópolis". Complementa o autor que esta característica da capital catarinense é exceção no Brasil, sendo o único estado brasileiro em que a capital não é o município de maior destaque em geração de riqueza, já que "O crescimento no PIB de Florianópolis, que chegou a R$ 9,8 bilhões em 2010, foi de 18,3% em um ano (sem descontar a variação dos preços), pouco acima da média estadual, mas muito distante das líderes em crescimento das principais regiões do Estado". (DUARTE, 2012, web). Duarte (2012, web) ainda informa, sob leitura do economista e professor Robson Gonçalves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que há tendência de que as cidades do interior do estado expandam cada vez mais suas economias enquanto Florianópolis se firma como capital administrativa. Segundo ele, "Os polos econômicos mais dinâmicos de SC estão no interior, o que é incomum no Brasil" (GONÇALVES apud DUARTE, 2012, web, grifo nosso). Nessa esteira se pauta o trabalho ora apresentado, ou seja, ao se pensar em inovação e na sua relação intrínseca e necessariamente sistêmica com o desenvolvimento econômico, tem-se no estado de Santa Catarina um contexto sui generis no que se refere às condições de interiorização da inovação. Dessa forma, ao se pensar em uma capital econômica do estado catarinense, esta seria Joinville, situada no norte do estado, o maior destaque em 2010 quanto ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), com R$ 18,4 bilhões, o que representa um crescimento nominal de 38,4% se comparado ao ano de 2009, alcançando a 25ª posição entre as cidades que mais geram riquezas no país (IBGE, 2010) e considerada uma das cidades brasileiras mais inovadoras (PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS ESPECIAL, 2010). São Bento do Sul localiza-se a apenas 88 quilômetros de Joinville, portanto certamente esta cidade é a referência mais significativa para as mudanças a serem conduzidas na região nortenordeste no que tange à inovação, porém se quer criar uma identidade própria como cidade inovadora. Isto posto, São Bento do Sul desponta como interessante objeto de estudo diante do acompanhamento de seu processo de implantação de um Parque científico e tecnológico e do planejamento de estratégias de disseminação da cultura do empreendedorismo inovador. Para traçar os caminhos deste estudo de caso, estabeleceram-se os seguintes objetivos: 1) registrar e discutir a experiência relativa à interiorização da inovação no estado de SC com base nos trabalhos realizados para a formalização do Parque científico e tecnológico e instalação do Centro de Inovação na cidade de São Bento do Sul; 2) discutir os potenciais efeitos da convergência de estruturas e objetivos em prol de um ambiente estimulante para o empreendedorismo inovador, visando a criação um novo perfil para o município. Os dados da experiência relatada foram coletados entre 2011 e 2013 por meio de pesquisa de campo baseada na observação não estruturada e participante, com foco descritivo e produção de reflexões analíticas e metodológicas de eventos relacionados à criação do tecnoparque e da caracterização da cidade como pólo regional de inovação. Os eventos de interesse constituíram-se de diferentes fóruns de trabalho relacionados ao habitat complexo de inovação, cujo sentido aqui adotado é de um sistema articulado, composto por espaços de inovação e seus promotores, identificável geograficamente em uma cidade, sendo esta determinante dos limites físicos de sua identidade, mas não de sua atuação. (TAMANINE, 2013, p. 19). A coleta envolveu atores da Tríplice Hélice da Inovação: economista do governo municipal de São Bento do Sul; gerente da Incubadora tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP e coordenadora do Núcleo de Inovação (NIT) da Universidade da Região de Joinville - Univille. Ressalta-se aqui o fundamental papel dos NIT no processo de interiorização da inovação em Santa Catarina, haja vista agirem além do seu papel traduzido pela Lei de Inovação e apresentarem duas características especiais de atuação: 1) serem articuladores; 2) constituírem-se em espaço singular da utilização de uma linguagem renovada, fruto da soma da linguagem do empresário, do poder público e do acadêmico, produzindo discurso comum aos três universos sobre o valor de sua integração. Para tratar do tema proposto, primeiramente se apresenta a cidade-alvo, depois se relatam as principais experiências já vividas na localidade com relação a criação de habitats de inovação. Em seguida, focaliza-se a discussão sobre o processo e as diretrizes até então identificadas para a implantação do Parque científico e tecnológico e para o desenvolvimento da cidade de São Bento do Sul como um polo de inovação regional. Conclui-se a apresentação tecendo as considerações finais e propondo a continuidade dos estudos. 2. O município de São Bento do Sul São Bento do Sul foi fundada no ano de 1873 por imigrantes alemães, oriundos principalmente da região da Baviera. O município possui cerca de 75.000 habitantes (IBGE, 2010), e está localizado no planalto norte-nordeste catarinense. É o principal município da Micro Região do Alto Vale do Rio Negro, formada também por Campo Alegre e Rio Negrinho. A economia da região tem como base principal o setor industrial, seguido do setor comercial e apresenta pequenas iniciativas no setor agrícola e de turismo. A cidade se desenvolveu com um parque industrial concentrado no setor madeira-móveis, sendo que as atividades voltadas à exportação chegaram a lhe creditar, por muito tempo, o título de maior pólo exportador de móveis do país. No entanto, na última década, a oscilação cambial e a competição com os países asiáticos ocasionaram uma grande instabilidade econômica na região e muitas empresas moveleiras foram fechadas. Tal ambiente apontou as fraquezas do setor, em especial a concentração de mão-de-obra na manufatura, a baixa qualificação dos trabalhadores e o pouco investimento em tecnologia, principalmente em desenvolvimento tecnológico próprio (PEIEX/UNIVILLE, 2011 10 ). Assim, o problema econômico refletiu-se em todos os setores da comunidade e suas causas se tornaram desafios para que a cidade mantivesse seu rumo de crescimento. Mais recentemente, em dados de 2010 divulgados pelo Perfil Socioconômico 11 , o setor industrial correspondeu a 70,9% do contexto econômico do município. Nesse segmento, cresceram o setor têxtil (21,1%) e o setor cerâmico (12,5%). Atualmente, o setor moveleiro corresponde a 86% das exportações de São Bento do Sul e se mantém estável, apoiado por parcerias e atuação do APL moveleiro local. Por outro lado, na representação econômica do município, o setor moveleiro passou para a terceira posição, representando 15,9% e o setor metal-mecânico passou à frente, com 16,7%; seguido pelo comércio, com 16,5%. Pôde-se verificar que realmente São Bento do Sul seguiu um bom rumo, apresentando crescimento de 8,6% em 2010. Isso permitiu projetar um PIB de R$ 1,85 bilhão e PIB per capita de R$ 24.833,00 – valor acima da mesma média nacional, calculada em R$ 19.016,00. Também cresceu - em 25% - o número de estudantes no ensino superior (PERFIL SOCIOECONÔMICO, 2011), o que aponta para a ação local na oferta de qualificação, esforço fundamental para que o projeto de cidade inovadora seja realidade. A diversificação promoveu solidez ao crescimento econômico da cidade e, em 2011, os números continuaram indicando fortalecimento desta economia de forma contínua e promissora, segundo mostram resultados do PIB, de emprego e de renda. Com base em dados do Perfil Socioeconômico (PERFIL SOCIOECONÔMICO, 2012, p. 71) “São Bento do Sul 10 O Projeto PEIEX foi realizado pela Univille São Bento do Sul em parceria com o MDIC com apoio do empresariado local, oferecendo dados importantes sobre a necessidade de formação e capacitação para P&D e inovação. 11 O Perfil Socioeconômico é uma publicação produzida pela Univille em parceria com a Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul e disponibilizada gratuitamente. cresceu, expressivamente, 12,37% em 2011, o que projeta um PIB de R$ 1,832 bilhão e PIB per capita de R$ 24.265,00, acima da renda per capita nacional que, em 2011, fechou em R$ 21.252,00". A mesma pesquisa registrou aumento de abertura de empresas e serviços: de 5,6% (2010) para 8,9% (2011) na indústria; nos serviços de 34,8% (2010) para 40,7% (2011) (PERFIL SOCIOECONÔMICO, 2012, p.123-124). De acordo com Kroehn (2011, p. 69) “São Bento do Sul é a 3ª. cidade brasileira com o maior índice de responsabilidade fiscal, social e de gestão dos últimos sete anos”. Para a cidade, se prevê crescimento acima da média nacional nos próximos 15 anos. Na seção seguinte, será apresentada a concretização das primeiras ações direcionadas ao empreendedorismo inovador no município e região até os eventos dos dias atuais. 3. Empreendedores inovadores: dos pioneiros aos atuais agentes pró-inovação em São Bento do Sul O pensamento voltado a tornar São Bento do Sul uma cidade focada em pesquisa e tecnologia não é recente. Em 1975, o então prefeito Osvaldo Zipperer criou uma comissão para estudar a viabilidade da criação de uma fundação municipal que se dedicasse à pesquisa e à formação de mão de obra técnica especializada para o setor moveleiro. Participaram desta comissão expoentes do setor industrial, cultural, político e educacional do município. Como os trabalhos da comissão culminaram em um parecer favorável, em 18 de dezembro de 1975 o prefeito sancionou a Lei Municipal 149, que instituía a FETEP – Fundação de Ensino Tecnologia e Pesquisa. O ocorrido revela que, desde a época, havia a percepção da importância de que atores do governo, das empresas e da educação trabalhassem juntos, relação disseminada nos anos 60 com o "Triângulo de Sábato". Ainda no governo de Osvaldo Zipperer, o município doou para a FETEP uma área de 300 mil metros quadrados no bairro Centenário, na periferia da cidade. Após, submeteu-se projeto à Finep - Agência Brasileira da Inovação, via Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul - BRDE, com aval do Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A - Badesc, para a construção das unidades físicas e aquisição de mobiliário. O recurso permitiu a compra de equipamentos do laboratório de ensaios físicos e químicos, bem como todas as máquinas e ferramentas necessárias para uma fábrica modelo, tudo com o objetivo principal da realização de aulas práticas, testes e o desenvolvimento de protótipos para as empresas de móveis. No entanto, com o passar do tempo, a fundação municipal encontrou dificuldade para continuar os projetos de pesquisa em função da escassez de recursos. Assim, para possibilitar o uso das instalações para o fim planejado, a FETEP permutou parte de sua propriedade com o Serviço Nacional de Aprendizagem Nacional - SENAI e transferiu sua sede para o Bairro Colonial. Com o objetivo de retomar as condições administrativas e financeiras da Fetep, esta acolheu em seu novo prédio as associações empresariais e entidades patronais de São Bento do Sul, mas permaneceu secundária ao trabalho dessas instituições por longo período. Em 2005, durante a gestão da Associação Comercial e Industrial de São Bento do Sul ACISBS presidida pelo empresário Osmar Mühlbauer, iniciou-se por parte da Univille discussões para implantação de uma incubadora de empresas na universidade visando oportunizar novos negócios e investimentos em inovação tecnológica de maneira mais intensa e direcionada no município. O projeto foi apresentado ao presidente da ACISBS e ao Secretário de Desenvolvimento Econômico do governo municipal da época e teve grande aceitação. Nessas reuniões iniciais para tratar da incubadora também participaram representantes de outras instituições, como Sindicato da Indústria do Mobiliário - Sindusmobil, Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas - Sebrae, Universidade do Estado de Santa Catarina - Udesc; Escola Técnica Tupy, Universidade do Contestado e Senai. Ao serem levadas as solicitações ao então prefeito para poder viabilizar recursos para prover a infraestrutura inicial e efetivar a contratação de um gerente para a incubadora, acabou por se decidir que esta deveria ficar vinculada à FETEP por motivos como neutralidade política e aproximação - tanto institucional quanto física - com a comunidade empresarial. Dessa forma, o empreendimento foi oficializado em 05 de novembro de 2005 e denominado de Incubadora Tecnológica do Alto Vale do Rio Negro - ITFETEP. A ITFETEP entrou em operação em julho 2006, com o intuito de proporcionar o desenvolvimento de empresas empreendedoras que pudessem agregar valor aos seus negócios, gerando emprego e renda através da inovação tecnológica. Em 2007, a ITFETEP planejou a FASE 1 de implementação. Para efetivar o projeto, submeteu proposta ao Edital de Incubadoras FAPESC-SEBRAE 01/2007 e teve aprovado o recebimento de R$ 80.000,00. Desse aporte, oportunizou-se infra-estrutura para atendimento a 06 incubados, o que propiciou a geração de 24 empregos diretos, pagando salários que, na média, equivaliam a quase 03 vezes a média paga pela indústria tradicional na região. Novos empreendimentos surgiram e mais 12 incubados foram recebidos nas instalações. Em razão da demanda por espaço, em 2010 buscou-se a captação de recursos para ampliação da Incubadora. O recurso mais contundente veio por meio da aprovação do projeto Implantação da Incubadora Tecnológica do Alto Vale do Rio Negro – ITFETEP, FASE II, submissão conjunta entre Fetep, Univille e Udesc, na monta de R$225.000,00. O recurso serviu para construção da nova sede da incubadora no bairro Centenário, antiga localização da FETEP. Neste prédio, inaugurado em 2012, a Prefeitura Municipal investiu, via Conselho de Desenvolvimento - CODESBS, mais R$ 200.000,00. Portanto, retomou-se a caminhada e deu-se um dos mais importantes passos para que São Bento do Sul pudesse acelerar seu desenvolvimento tecnológico. A Incubadora possibilitou o desenvolvimento de novas empresas de tecnologia e criou "efeito demonstrativo" da importância da inovação para o município. Atualmente, a ITFETEP se destaca dentre as 5 melhores incubadoras tecnológicas de SC. Ressalta-se, portanto, que governo, empresas e universidades, juntos, ofereceram novas oportunidades para o trabalho em prol do empreendedorismo inovador na região ao criarem a incubadora, pois esta também permitiu que ações pró-empreendedorismo se estendessem para as cidades de Rio Negrinho e Campo Alegre. Portanto, em consonância com a política nacional envolvendo a inovação, em São Bento do Sul a política municipal também tem orbitado no esforço conjunto entre Academia, Governo e Empresas. A teoria que defende fortemente esta relação e sua dimensão em espiral é da Tríplice Hélice, proposta por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (2000) na década de 90 e hoje adotada largamente, inclusive no planejamento do tecnoparque são-bentense. Enfim, a proposta inovadora que criou a FETEP em 1975 teve a oportunidade de ser revigorada, ação que permitiu a oportunidade de reorganizar os rumos da cidade e da região para o desenvolvimento de uma economia mais criativa e inteligente. A história da FETEP e da ITFETEP, juntamente com seus parceiros, em especial a Univille, atingiu, em 2012, um momento crucial de sua trajetória: enfrentar o desafio de implantar um parque tecnológico desafio este ainda em andamento, conforme será tratado na seção a seguir. 4. O Parque Científico e Tecnológico de São Bento do Sul e Região Em 2011, ao ser construída a incubadora tecnológica ITFETEP no terreno doado à FETEP nos anos setenta, ainda se identificava um entorno com sérias necessidades de revitalização econômica e social, assim como de industrialização. As instituições de ensino e pesquisa instaladas na área, nesse ano, eram, além do Senai, a Udesc e a Escola Técnica Tupy (Sociesbs). Mais recentemente, em 2012, iniciaram-se os efetivos trabalhos para funcionamento do IFC – Instituto Federal Catarinense e avançaram as tratativas para viabilizar a presença de unidade da Univille. Essa concentração especial de instituições de ensino e pesquisa possibilitou que a proposição do Parque científico e tecnológico tomasse vulto, culminando com a ação do projeto governamental Inova@SC, que identificou a cidade de São Bento do Sul como o polo de inovação da região norte-nordeste de SC e indicou a cidade para receber subsídios para construção de um Centro de Inovação. Na Figura 1 é possível visualizar a área física atual ocupada pelo parque e sua localização mediante pontos de referência das cidades vizinhas de Campo Alegre e Rio Negrinho, assim como Joinville (SC) e Curitiba (PR). Figura 1- Planta superior - Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul (SC) Fonte: Google Earth - FETEP, 2012. A presença das instituições no espaço físico do Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul, assim como a localização daquelas com instalações em projeto, pode ser vista na Figura 2. Figura 2 - Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul (SC) - Fase 3 7 6 4 5 3 4 1 2 Fonte: FETEP/UNC, 2013. Os prédios identificados são: 1) Incubadora Tecnológica ITFETEP; 2) Centro de Inovação; 3) UDESC; 4) Senai; 5) Sociesbs/Tupy; 6) IFSC e 7) Univille. Somando-se as duas perspectivas acima descritas, o cenário para um novo patamar do estímulo à inovação estava definido e exigiu nova mobilização dos atores da Tríplice Hélice na região. 5. Os estudos preliminares realizados Com a identificação de São Bento do Sul como cidade polo para impulsionar a inovação na região norte-nordeste de SC, a percepção e o planejamento dos efeitos da atuação do parque científico e tecnológico precisaram ser rapidamente amplificados entre os parceiros. Desta sorte, criaram-se fóruns de discussão e alinhou-se que os municípios da micro-região representarão, com suas instituições de ensino e pesquisa, incubadoras, núcleos de inovação, centros de pesquisa e desenvolvimento das empresas, entre outros espaços promotores de empreendedorismo e inovação, um único habitat de inovação complexo, devendo, portanto, integrar seus diferentes stakeholders e traçar políticas públicas específicas "influenciando as políticas industrial, científica, tecnológica e de inovação vocacionadas ao desenvolvimento local, regional e nacional" (GIUGLIANI, SELIG e SANTOS, 2012, p.57). Assim, decorrente de trabalho interativo para diagnóstico inicial, identificaram-se fraquezas no habitat complexo já existente e que deverão ser trabalhadas diante da complexificação dos processos e dos indicadores de um Parque de Inovação. Entre essas fraquezas, destacaram-se a falta de cultura para a inovação e a falta de capital humano especializado na área; a falta de recursos financeiros adequados à sustentabilidade desejada para o novo empreendimento; processos de gestão ainda ineficientes diante da dinâmica da inovação e, especialmente, a "fuga de cérebros". Neste aspecto, vale ressaltar que para ser inovadora uma cidade precisa ser criativa. Para estimular a criatividade em pequenos municípios, acredita-se ser necessário reter talentos ao criar estratégias de resistência ao apelo profissional e cultural dos grandes centros, assim como atrair talentos oferecendo as vantagens e oportunidades que só as pequenas cidades podem oferecer. Dessa forma, a presença do parque científico e tecnológico no município certamente promoverá espaços para a manifestação da criatividade e sua materialização em benefícios à comunidade, trazendo o melhor dos dois mundos e contribuindo para fixar os talentos na região. Como forças do habitat complexo, puderam ser identificados aspectos como o contexto político atual favorável ao empreendedorismo e à inovação; pré-disposição e conhecimento técnico dos parceiros iniciais para o empreendimento; localização geográfica da cidade; parcerias já consolidadas e sinergia entre atores da Tríplice Hélice; mercado consumidor aquecido; pré-existência de entidades de ensino e pesquisa e incubadora tecnológica geograficamente agrupadas; grande disponibilização de área a ser ocupada por empresas e laboratórios e infraestrutura inicial disponível. Estes dados foram importantes para os estudos preliminares necessários ao planejamento do Parque, pois entendeu-se que, para que se possa definir uma estratégia, é fundamental que se tenha o diagnóstico da situação presente, ou seja, deve-se ter o pleno conhecimento do negócio. (SIQUEIRA e TELLES, 2008). Para abordar os temas discutidos a partir do cenário acima descrito, convém definir o que se compreende por Parque Tecnológico. Segundo a International Association of Science Parks – IASP (2013, web): Um Parque Tecnológico é uma organização gerida por profissionais especializados, que tem como objetivo fundamental incrementar a riqueza da comunidade local, promovendo a cultura da inovação e a competitividade das empresas associadas e instituições baseadas em conhecimento. Para atingir tal fim, um Parque Tecnológico estimula e administra o fluxo de conhecimento e de tecnologia entre as universidades, instituições de pesquisa e desenvolvimento, empresas e o mercado; facilita a criação e o desenvolvimento de empresas baseadas na inovação através da incubação e processos de spin-off; e fornece outros serviços de valor agregado junto com espaço físico e estrutura de alta qualidade. Diante dessa definição, destacaram-se as primeiras questões a serem trabalhadas pelo grupo de estudo: a identificação e preparação de profissionais e a identificação dos ativos de conhecimento. O Programa Inova@SC oportunizou capacitação de profissionais no Curso de Formação de Gestores de Polos de Inovação e Clusters - GEPIC. Entre os estudos realizados, teve-se experiência de benchmarking internacional pelo módulo de atividades realizado no Parque Tecnológico de Barcelona, na Espanha, uma referência mundial em parque científico tecnológico localizado em uma cidade inteligente. A inserção de São Bento do Sul nessa formação levou em conta, novamente, os três atores fundamentais aos processos inovativos e a equipe participante teve um representante das empresas, um da prefeitura municipal e um das universidades. Dessa forma, foi oportunizada a integração dos fluxos de conhecimento de cada eixo da Tríplice Hélice aos estudos iniciais feitos sobre o modelo de parque a ser instalado na cidade. De acordo com o Estudo sobre Parques Tecnológicos no Brasil, realizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), os parques tecnológicos são considerados "alavancas para o desenvolvimento" e são definidos como "um modelo de concentração, conexão, organização, articulação, implantação e promoção de empreendimentos inovadores visando fortalecer este segmento dentro de uma perspectiva de globalização e desenvolvimento sustentável" (ABDI-ANPROTEC, 2007, p.7). Assim, no que se refere ao desafio assumido para o planejamento do Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul, levou-se em conta, essencialmente, a importância da definição de estratégias para que o agrupamento inicial passasse a integrar ações direcionadas à região cujo efeito seja a competitividade com sustentabilidade, alinhando-se ao desenvolvimento do Sistema Regional de Inovação. Nesse sentido, será necessário identificar e mapear os ativos de conhecimento presentes no Sistema Regional de Inovação: a) Universidades: conhecimentos na área das engenharias, sociais aplicadas, saúde; construção de projetos; formação de “mentes de obra”, sistematização do conhecimento, conhecimento novo, laboratórios de pesquisa e testes, especialistas e pesquisadores, parcerias nacionais e internacionais. b) Governo: políticas públicas, políticas de regulamentação e de incentivo; controles fiscal e tributário, aporte de capital, gestão da educação básica e da saúde; gestão do plano diretor do município. c) Empresas: aparato tecnológico, capital, conhecimento tácito, conhecimento de mercado, mão de obra e mentes de obra, laboratórios, agilidade, capacidade de difusão da inovação (GEPIC, 2012). Esse mapeamento permitirá que se saiba como o processo de criação de conhecimento poderá ser sustentado, permitindo que o processo de interiorização da inovação seja efetivado de forma eficiente e identificando como este conhecimento poderá gerar valor para o habitat de inovação complexo (NONAKA E TAKEUCHI, 1997). Por outro lado, para a implantação de um parque científico e tecnológico e manutenção de uma lógica de concentração e expansão espacial, sabe-se ser preciso ir além da mera observação e buscar conhecimento sistemático e aprofundado das redes de relações que compõem o agrupamento e seu estágio de maturidade. Dessa forma, permite-se priorizar ações a serem realizadas em conjunto com a comunidade a ser envolvida. Para isso, a necessidade de sensibilização e ganho de confiança da comunidade da região instituiu-se como outra etapa complexa a ser planejada para execução de forma contínua. Nos estudos realizados no GEPIC, a equipe de São Bento do Sul identificou como pontos fundamentais a comporem os planos de ação para estruturação da relação de confiança: a) criação e manutenção de canais de comunicação abertos e integrados; b) instrumentos formais adequados (contratos, termos de confidencialidade); c) estratégias de quebra-gelo (visitas, cafés da manhã, viagens/trabalhos conjuntos); d) formação e capacitação; e) estímulo ao relacionamento interpessoal; e f) estímulo ao comprometimento (valorização do capital humano e intelectual, reconhecimento). Já na perspectiva da gestão da inovação desejada, definiu-se um modelo geral de aplicação dos processos de gestão para que o parque se configure como mediador da inovação junto aos stakeholders. Entendeu-se que o modelo de Inovação Aberta (Open Innovation), proposto por Chesbrough (2003), seria mais adequado do que outros modelos tradicionais. Figura 3- Modelo da Inovação Aberta Fonte: Chesbrough, 2003. O conceito criado por Chesbrough (2003) se baseia especialmente no fato de que fontes externas de conhecimentos e informações são fatores relevantes em atividades de inovação e desenvolvimento de novos produtos, ou seja, se podem aplicar tecnologias de fora da empresa para reduzir o custo e o risco e compartilhar os benefícios com outros. Os atores internos à organização também são fonte importante de idéias. Enfim, a palavra-chave da Inovação Aberta é colaboração, contrapondo-se ao modelo de Inovação Fechada, em que o controle é o cerne. Entre as vantagens percebidas no modelo de Inovação Aberta, destaca-se a redução de custos para inovar. O modelo aberto permite que os usuários/clientes sejam envolvidos e contribuam na geração de idéias para novos produtos, em testes finais de produtos e com suporte de produtos aos usuários finais - tudo isso com um baixo custo para as empresas. Outra vantagem do modelo é utilizar parcerias para a atividade de P&D a fim de empregá-la em empresas ou atividades exteriores e levar à sociedade melhorias de forma mais rápida. A mobilidade dos profissionais que integram as organizações é outra característica vantajosa trazida pela Inovação Aberta. Seu caráter democrático e colaborativo no que se refere a geração e implementação de ideias, tanto no sentido de dentro para fora quanto no de fora para dentro da organização, amplia as formas de interação. No entanto, o caráter coletivo não é suficiente para gerar melhores resultados, pois se a energia e a sabedoria de um grupo não forem geridas da forma adequada, o seu potencial inovativo será perdido. Nesse aspecto, o modelo de Inovação Aberta traz o desafio de transformação de ideias em produtos e serviços, destacando-se aí a importância do gerenciamento de recursos, do controle de riscos e da aprendizagem com as falhas. O papel das universidades fica evidenciado nesse modelo pela oportunidade que sua parceria em projetos de inovação pode representar para as empresas e outras instituições de pesquisa no sentido de "gastar menos e ganhar mais", um estímulo à parceria universidade-empresa fundamental à configuração de parque e ao projeto de cidade inteligente desejados. Como já dito, o modelo do Parque Tecnológico de São Bento do Sul deve atender a uma eficiência local e regional. Portanto, a aplicação de modelos abertos ao funcionamento do parque traria ao habitat a flexibilidade necessária para lidar, de forma especial, com: 1) o potencial colaborativo dos stakeholders; 2) o melhor aproveitamento de recursos/competências externos internamente; e 3) a disseminação de recursos/competências internos externamente. Assim, à medida que gera efeitos positivos na região de entorno, apoiando a sustentação e a criação de atividades econômicas, o Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul deve gerar dinamismo entre agentes locais. O modelo escolhido precisa ter potencial para gerar sociabilidade, enriquecer as relações humanas e criar novas interações sociais, mas também precisa apoiar novas formas de ação para se tornar, de fato, eficaz. Ter uma governança instituída se torna primordial e especial desafio ao sucesso do Parque Tecnológico de São Bento do Sul. A governança deve existir de forma bem instituída para que a vantagem competitiva e a relação ganha-ganha sejam mantidas e para que haja "[...] 10. formas e/ou condições estruturadas de absorção e de introdução de novas tecnologias; 11. existência, passível de identificação e efetivamente praticada, de estratégia para competir como cluster12" (SIQUEIRA e TELLES, 2008, p. 182). A governança se torna fundamento sine qua non do planejamento a ser construído Essa governança precisa estar baseada em quatro linhas mestras: A transparência, a prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa. Para tanto, o conselho de administração deve exercer seu papel, estabelecendo estratégias para a empresa, elegendo e destituindo o principal executivo, fiscalizando e avaliando o desempenho da gestão e escolhendo a auditoria independente (IBGC, 2013, web). Também torna-se essencial ao funcionamento do parque e ao projeto de cidade inteligente a criação de políticas públicas consistentes para apoiar o trabalho dessa governança. A inovação deve ser uma diretriz de Estado, suprapartidária, sistematizada e intermitente. Diante das considerações realizadas nesta seção, os resultados iniciais dos trabalhos realizados indicam nortes importantes ao processo de planejamento do Parque científico e tecnológico: 1) definição de linhas mestras para planejamento integrado entre habitats préexistentes a partir da identificação dos ativos de conhecimento; 2) identificação de necessidades e oportunidades para sinergia da Tríplice Hélice e destaque de suas potenciais convergências para o ambiente de inovação; 3) identificação dos gargalos da sustentabilidade do habitat complexo de inovação para busca de soluções; 4) identificação de estratégias para desenvolver a cultura empreendedora na micro-região; 5) estudo dos gargalos de formação de recursos humanos e 6) elaboração de políticas municipais integradas para incentivo ao empreendedorismo e à inovação. Isto posto, parte-se para as considerações finais. 6. Considerações finais Os estudos para o planejamento do Parque científico e tecnológico de São Bento do Sul e as ações para sua caracterização como cidade inovadora - e inteligente - estão longe de serem concluídos, afinal a inovação é um processo dinâmico e assim se configura seu desenvolvimento e sua gestão. No entanto, considera-se que os dados até então obtidos oportunizarão base importante para efetiva aplicação do conhecimento ao modelo de gestão do Parque, a ser estabelecido com os parceiros ainda em 2013. Sabe-se das limitações, porém a criação de uma cidade com ecossistema propício à inovação teve seu início. Sabe-se que o tempo urge e que os estudos e ações precisarão ser intensificados. 12 [...] neste caso como Parque científico e tecnológico, além de formar as necessárias Redes de Inovação (observação nossa). No Brasil, ao se tratar das barreiras para P&D&l, o Relatório da Unesco (2010) alerta para três grandes problemas a serem superados: 1) intensificar a P&D empresarial por meio de ambiente adequado e interação entre comunidades de pesquisa públicas e empresariais; 2) internacionalizar as melhores universidades para que se tornem centros de excelência em nível mundial; 3) ampliar as fronteiras da excelência científica para além da região sudeste e grandes centros. Logo, acredita-se que o Parque Tecnológico de São Bento do Sul e os demais habitats complexos de inovação disseminados pelo estado de Santa Catarina contribuirão na busca da superação de todas estas barreiras, em especial à última, pois fortalece a importância do processo de interiorização da inovação iniciado, principal motivo desta discussão. Os frutos desse processo podem não ser colhidos plenamente na gestão pública ou privada da próxima década, ou até mesmo não serão aproveitados em sua totalidade pelas próximas gerações de empreendedores, no entanto, tem-se a certeza de que o já realizado implicará na responsabilidade pela sua continuidade, tornando-se, portanto, relevante na conquista da cidade inteligente almejada. 7. Referências ABDI (Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Parques tecnológicos no Brasil: estudo, análise e proposições. Brasília: ABDI-Anprotec. 2007. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Estudo/Parques/.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013. CHESBROUGH, H. W. The era of Open Innovation. MIT Sloan Management Review Vol. 44, n. 3, p. 35-41, 2003. DUARTE, Danilo. As cidades de Santa Catarina crescem acima da média registrada no país. Diário Catarinense. 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