A FORMAÇÃO INICIAL EM LÍNGUA INGLESA E A PRÁTICA COM GÊNEROS DISCURSIVOS Terezinha Marcondes Diniz BIAZI Lidia STUTZ (Universidade Estadual do Centro-Oeste, Paraná) ABSTRACT: This work presents a didactic transposition to the teaching of Reading in English as a Foreign Language, focused on the notion of discursive genre of Bakhtin and on the didactic sequence of Schneuwly & Dolz. It is focused on the genre news report from a British newspaper, carried out with undergraduate students, in their first year in a Course for Teachers of English as a Foreign Language, in our university, UNICENTRO. We justify our choice in working with the genre news because 1) it offers consistent teaching practices for the development of the language abilities; 2) we can focus on the textual, discursive and socio-cultural regularities of this genre in order to analyze how this genre is inserted in our social relations; 3) and finally, this genre is part of the content of the didactic material NorthStar, intermediate level, used for our discipline of English Language I. KEYWORDS: discursive genre; didactic sequence; genre news report. 1. Introdução Pretendemos, com este artigo, apresentar nosso trabalho realizado com seqüência didática para o ensino de leitura em Língua Inglesa, em formação inicial, centrada na noção de gêneros discursivos. Desenvolvemos uma experiência de transposição didática, da qual partimos de “um conjunto de conhecimentos científicos e práticos para a construção de uma seqüência didática voltada para o ensino-aprendizagem de um determinado gênero” (Machado, 2000, p.2). Com este artigo, gostaríamos de enfatizar a necessidade de que transposições didáticas em leitura embasadas na noção de gêneros discursivos sejam produzidas e disponibilizadas para a formação do aluno universitário em Língua Inglesa, tanto no sentido de desenvolver sua competência leitora no uso de gêneros quanto de construir sua competência didática para a utilização de gêneros na escola, quando da sua atuação pedagógica. Assim, apresentamos uma seqüência didática elaborada com o gênero notícia, para alunos do primeiro ano do Curso de Letras-Inglês, da Universidade Estadual do CentroOeste – UNICENTRO, e aplicada em sala de aula pelas autoras desta pesquisa. O material utilizado para a seqüência didática foi o gênero notícia, retirada de jornais da impressa britânica, dois tablóides, Daily Mirror’, ‘The Sun’ em um jornal de referência, The Independent’, datados de 14 de abril de 2006. Procedemos, agora, a justificativa da nossa escolha por trabalhar com gêneros do discurso jornalístico bem como da nossa opção em explorar, especificamente, o gênero notícia. Entendemos que os gêneros do discurso jornalístico estão presentes em livros didáticos e em programas de ensino e por meio de seu estudo podemos 1) evidenciar como a linguagem desses gêneros é utilizada nas práticas sociais; 2) propiciar práticas consistentes para o desenvolvimento de habilidades de linguagem; 3) e explorar suas regularidades textuais, discursivas e socioculturais, para compreender como esses gêneros estão inseridos nas nossas relações sociais. Ademais, desejamos reforçar que, cabe à universidade contribuir tanto no desenvolvimento da competência no uso dos mais diferentes gêneros, quanto na conscientização a respeito das práticas discursivas e sociais associadas a eles. Para isso, 1918 buscamos sustentação teórica nas palavras de Meurer (2000, p. 152-153) que argumenta em prol dos estudos baseados em gêneros: a pesquisa e o ensino da linguagem baseados em estudos sobre gêneros textuais poderão estimular o estudo da língua (materna e estrangeira) a se transformar em um contexto destinado ao levantamento das muitas maneiras de manifestações orais e escritas... a investigação e o ensino sistemáticos dos diversos tipos de textos em uso - escritos por quem, para que fins, como, em que ambientes, com que grau de transparência ou de camuflagem hegemônica e ideológica – são essenciais para a formação dos profissionais responsáveis pelo ensino da linguagem. Dada a grande variedade de gêneros textuais encontrados na área de jornal impresso, com propósitos e recursos lingüísticos diferenciados, optamos em estudar o gênero notícia, a partir de dois critérios: a) que o gênero escolhido estivesse relacionado com os textos propostos pelo livro ‘Reading and Writing’, nível intermediário, da Série NorthStar, material adotado para o programa de ensino da disciplina de Língua Inglesa I, do Curso Letras-Inglês e suas Literaturas. Mais especificamente, o gênero notícia é mencionado nesse material na Unidade Cinco, contudo não traz atividades que trabalhem eficazmente com as características desse gênero; b) que, para o estudo de textos pertencentes a esse gênero, houvesse conhecimento já disseminado por profissionais da área do jornalismo sobre as características composicionais e estilo do gênero em questão, e também pesquisas realizadas por estudiosos da teoria do gênero, para que nos facilitasse elaborar a transposição didática. Para atingir nosso objetivo de exemplificar uma seqüência didática de gênero, organizamos este artigo em três partes: na primeira parte, apresentamos o referencial teórico que informa nossa pesquisa. Na segunda parte, explicamos a metodologia utilizada para a elaboração da seqüência didática, e na terceira, apresentamos a proposta de didatização do gênero notícia, transformado como objeto de ensino-aprendizagem. 2. Pressupostos teóricos: gêneros discursivos, a transposição e a seqüência didática; e no âmbito do jornalismo impresso, a notícia. Os pressupostos teóricos deste trabalho serão apresentados em quatro partes; na primeira, noções mais gerais sobre a posição Bakhtiniana sobre linguagem. Na segunda, as orientações referentes à elaboração de seqüências didáticas e, por fim, as especificidades do jornalismo impresso referente à notícia. Prioritariamente à abordagem sobre gêneros discursivos, torna-se necessário tecermos algumas reflexões, que a nosso ver, são indispensáveis, sobre a posição de Bakhtin em relação aos estudos da linguagem. Bakhtin (1992/2003) coloca que a linguagem permeia todas as atividades humanas, e que é, portanto, por meio das mais diferentes formas de linguagem, que o homem constrói usos comunicativos de língua que se fazem específicos em cada campo de atividade humana em que se realizam. Tais usos de língua “efetuam-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo de atividade humana ou outra esfera da atividade humana” (Bakhtin, p. 261). Assim, os enunciados lingüísticos devem ser entendidos como fenômenos sociais, que refletem os movimentos linguajeiros e comunicacionais de cada realização social, e que, portanto, dado sua especificidade, intencionalidade e finalidade, realizam-se de diferentes modos. Essas formas relativas de ocorrências dos enunciados são caracterizadas por Bakhtin, como gêneros do discurso, que, nas palavras do autor, temos a seguinte explicação, “cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados”. (p. 262) 1919 Conforme Bakhtin (1992/2003), devemos considerar três elementos na caracterização do gênero a que pertence determinado enunciado, que, por conseguinte, são: - o conteúdo temático; - construção composicional; - estilo. O conteúdo temático relaciona-se não apenas à seleção do assunto de que vai tratar o enunciado do gênero em questão, mas também envolve as condições de produção do referido gênero, tais como, seu lugar de produção e de circulação e seus interlocutores. Em outras palavras, o conteúdo temático envolve a noção de que para entendermos um texto devemos, necessariamente, entender seu contexto de produção. O contexto de produção de um texto vem a ser a forma como um texto é organizado, sendo que os fatores que influenciam a organização do texto são resultantes de um contexto físico e de um contexto sócio-subjetivo, que podem ser definidos como: O lugar de produção do texto: o lugar concreto em que acontece sua produção; O momento de produção do texto: o tempo concreto em que ocorre sua produção; O emissor: a pessoa que produz concretamente o texto; O receptor: a(s) pessoa(s) concreta(s) que recebe(m) o texto; O enunciador: o papel social que o emissor desempenha numa determinada interação (professor, cliente, amigo, etc.); O destinatário: o papel social que é atribuído ao receptor naquela interação específica (aluno, diretor; colega, etc.); O lugar social do texto: a forma de interação social em que o texto foi produzido (mídia, família, escola, etc.); O objetivo social do texto: o efeito do texto sobre o destinatário. A estrutura composicional está relacionada ao estudo da composição do plano textual global, ou seja, da organização da estrutura do texto. Em relação ao gênero notícia, foco do nosso trabalho, a organização interna focalizada neste plano de capacidade será a estrutura do LEAD, composto das cinco perguntas (os cinco W's) que compõem a estruturação do primeiro parágrafo da notícia, que serão apresentados na seqüência deste artigo. O estilo busca desenvolver o entendimento e reconhecimento das particularidades lingüístico-discursivas próprias de cada gênero de texto para atingir a compreensão global do texto. Para este plano de capacidade, enfocaremos, na nossa seqüência didática elaborada com textos jornalísticos, os mecanismos de textualização referentes aos elementos de coesão verbal e nominal dos títulos de notícias. Esses três elementos devem ser considerados em função do contexto sócio-histórico em que se insere o enunciado, já que este é entendido como um fenômeno social, do qual indivíduos, num dado tempo, espaço e campo de atividade, proferem suas intenções enunciativas. Assim, os três elementos - o conteúdo temático, construção composicional e estilo - que caracterizam um gênero “estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo de comunicação”. (Bakhtin, p. 262) Uma releitura de Bakhtin nos revela que há gêneros mais “padronizados e estereotipados” e gêneros “mais maleáveis, mais plásticos e mais criativos” (p. 282). Em outras palavras, há gêneros produzidos em contextos formais e que, portanto, seguem convenções mais rigorosas de produção como, por exemplo, o gênero da área jurídica, especificamente, pode-se citar um depoimento de acusado. Há, também, os gêneros mais informais, que possibilitam a criatividade. Estes se encontram no campo da literatura, como 1920 exemplificação tem-se o romance, ou, no campo da publicidade, os anúncios. Ainda, no uso cotidiano e espontâneo da linguagem, encontra-se um bilhete, uma piada, entre outros. Como forma de sintetizar nossa discussão sobre gêneros de discurso, listamos, a seguir, algumas colocações relevantes sobre o assunto, defendidas por Bakhtin, (1992/2003) e também sustentadas por Marcuschi (2003). Os gêneros - são tipos ‘relativamente estáveis’ de enunciados; - são reflexos de estruturas sociais recorrentes e típicas de cada cultura; - são definidos por seus propósitos: funções, intenções, interesses; - “são ecológicos, no sentido de que desenvolvem nichos ou ambientes de realização mais adequados” (Marcuschi, 2003, p. 03); - são variáveis em contextos discursivos; - estão ancorados em alguma situação concreta; - são frutos de complexas relações entre um meio, um uso e a linguagem; - são realizados por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas. Considerando que, na acepção bakhtiniana, os gêneros são variados e ricos, tal qual os campos de atividade humana, Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e colaboradores da equipe de Didática de Línguas da Universidade de Genebra entendem que a seleção de gêneros para o ensino deve ser realizada a partir de uma cuidadosa seleção de textos, pois há a necessidade de transformar um determinado corpo de conhecimento científico em conhecimento ensinável, gerando a partir daí, práticas pedagógicas que têm como objeto de ensino, os modelos didáticos de gêneros. Essa transformação foi denominada de transposição didática de gêneros por Schneuwly & Dolz (2004). Assim, chegamos, finalmente, a etapa específica do processo de transposição didática que é o da seqüência didática, direcionada para o ensino-aprendizagem de gêneros discursivos. A seqüência didática seria um conjunto de atividades de ensino focalizando gêneros específicos, planejada progressivamente, com objetivos delimitados, organizada em torno de uma atividade de linguagem que tem como projeto de classe, propiciar a construção de conhecimento oral ou escrito sobre um determinado gênero (Schneuwly & Dolz 1999). Os autores (1999) explicam ainda que para ensinar um gênero, deve-se fazer com que os alunos aprendam a dominar o gênero, conhecendo e compreendendo-o, para então produzi-lo no ambiente escolar e fora dele. Considerando que o trabalho que pretendemos desenvolver é o tratamento didático dos gêneros do jornalismo impresso para a esfera escolar, portanto nossa direção foi no sentido de buscar a compreensão da esfera jornalística, conforme apresentamos, a seguir. Finalmente, abordaremos a última questão do referencial teórico, que trata das especificidades do jornalismo impresso referente à notícia. De acordo com Laje (1999, p.16), do ponto de vista da estrutura, a notícia se define no jornalismo moderno, “como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante”. Apresentamos uma descrição de algumas características do gênero notícia e títulos de notícias em jornal impresso (Laje, 1999, p.31 e Barbosa, 2000, p.166-167), organizadas com base nos três elementos caracterizadores do gênero, na concepção bakhtiniana, o conteúdo temático (quadro 1), construção composicional (quadro 2) e estilo (quadro 3). 1921 Quadro 1 - Contexto de produção da notícia 1. Leitores múltiplos e desconhecidos (conhece-se apenas estatisticamente o perfil de leitor de um determinado jornal); 2. Em alguns casos, o redator é desconhecido (algumas notícias não trazem seus signatários). Em outros casos, o redator aparece identificado; 3. Objeto - acontecimentos ou fatos do mundo (implica em um discurso mais referencial). Uma notícia pretende-se afirmar como verdadeira; 4. Objetivo - (declarado pelos jornais) - informar os leitores, interessando-os pela matéria, fazendo-se entender por eles; 5. Tipos de jornal - determinado pelo público alvo que se pretende atingir, o que implica diferentes tratamentos à matéria jornalística. Quadro 2 - Estrutura da notícia 1. Estruturação geral – na grande maioria das vezes, os eventos são ordenados não por sua seqüência temporal, mas pelo interesse ou importância decrescente na perspectiva de quem conta e, sobretudo, na suposta perspectiva de quem ouve. O que implica uma seleção prévia dos eventos, a determinação dos mais importantes em função do evento principal e uma seleção de ordenação de eventos. Inicia-se por um LEAD (lide) primeiro parágrafo da notícia – que deverá informar os cinco Ws: quem? (who), o quê? (what), onde? (where), quando? (when), por quê?(why). 2. O verbo principal do LEAD aparece quase sempre nos tempos perfectivos (perfeito – se a notícia é de fato acontecido – ou futuro do presente – se a notícia anuncia fato previsto), o que dá mais especificidade ao fato, que é apresentado como concluído ou muito provável de acontecer. 3. No LEAD clássico, a regra específica de ordenação de elementos compreende dois itens: a) não se começa pelo verbo; b) começa-se pelo sintagma nominal sujeito, se é o mais importante ou interessante. Quadro 3 - Marcas lingüísticas da notícia e dos títulos de notícias 1. Usa-se, muitas vezes, o tempo presente nos títulos da matéria, o que causa um efeito de aproximação do leitor com o fato; 2. Emprego de marcas de impessoalidade (uso de passivas); 3. Privilégio do modo indicativo; 4. Palavras curtas nos títulos da matéria; 5. A linguagem da notícia deve ser explícita e objetiva e a construção gramatical utilizada é sujeito-verbo-predicado. 3. Encaminhamentos para a construção do modelo didático Esta seção tratará dos procedimentos tomados para realizar a sistematização das atividades que serão ensináveis. Partiremos da seleção dos jornais, para a análise descritiva da notícia na esfera jornalística e, por fim, apresentaremos os elementos de nossa análise (em tabelas) que utilizaremos para a elaboração da seqüência didática de gênero notícia. Primeiramente, selecionamos notícias de três jornais ingleses, Daily Mirror’, ‘The Sun’ e The Independent’, datadas de 14 de abril de 2006, para compor o corpus de nossa 1922 análise e de nossa seqüência didática. Dos jornais utilizados, dois praticam o jornalismo tablóide, ‘Daily Mirror’ e ‘The Sun’, que tendem, no sentido tradicional do termo, a ter grande ênfase em histórias sensacionalistas. Cada página de um tablóide mede aproximadamente a metade do tamanho de um jornal convencional, as notícias são tratadas num formato mais curto e o número de ilustrações costuma ser maior do que o dos diários de formato tradicional. Pela característica sensacionalista de seus artigos, ‘Daily Mirror’ e ‘The Sun’ atendem a classe trabalhadora e são populares. A linguagem é coloquial, com muitos trocadilhos e gírias. Suas manchetes são sensacionalistas e concentram-se, em geral, em assuntos sem grande ressonância na vida social, política ou econômica. Dedicam-se mais a assuntos marginais, como a vida privada da família real e os escândalos amorosos de músicos e artistas. Ocasionalmente são publicados casos de corrupção de políticos e crimes que chocam a sociedade. Especificamente, o The Sun reflete o pensamento do povão da classe trabalhadora inglesa e tornou-se o tabloid mais popular e agressivo na Inglaterra. O formato basicamente gráfico, dominado por letras garrafais e fotos, diminuindo o espaço para texto. Os tabloids também editam números especiais aos domingos, como o Sunday Mirror e o Mail on Sunday, além dos que só são publicados nesse dia: Sunday People e o News of the World, que mantêm a mesma fórmula popular de ênfase nos esportes, assuntos triviais e fotonovelas. Diferentemente dos dois jornais descritos, ‘The Independent’ é um jornal de referência (‘quality paper’, em inglês), que reduziu em 2005 as suas edições, designando-as por “compact editions”, para evitar a conotação negativa com os tablóides. É um jornal conhecido como referência no panorama jornalístico internacional pelo rigor da informação completa e fundamentada, pela imparcialidade da atitude jornalística, e também pela clareza e concisão de sua escrita. The Independent’ é dirigido ao público que, além das notícias gerais, esteja interessado em uma cobertura detalhada e análise mais acadêmica sobre o que está acontecendo na política, economia, cultura e arte, não somente na Inglaterra, mas também no resto do mundo. Os produtos neles anunciados estão dirigidos para as classes médias e altas, inclusive empregos. Os principais broadsheets são: The Times, The Daily Telegraph, The Guardian, The Independent e o Financial Times. Suas edições mudam aos domingos, quando introduzem mais cadernos, incluem uma revista como encarte e oferecem reportagens mais amplas e especializadas. Esta é a melhor oportunidade para se conhecer a tendência de cada jornal. Após, a seleção das notícias nos três jornais, procedemos ao estudo das características do artigo notícia para compreender o funcionamento da linguagem nesse gênero específico (Laje, 1999, p.31; Barbosa, 2000, p.166-167). Sequencialmente, organizamos o modelo didático do gênero notícia e títulos de notícias a partir da proposta baktiniana de que os gêneros discursivos devem ser trabalhados em seus três elementos caracterizadores - conteúdo temático (que vem a enfocar o contexto de produção do texto), sua construção composicional (que é a organização textual, propriamente dita) e seu estilo (que são as marcas lingüísticas do texto), conforme apresentamos a seguir: 4. O conteúdo temático (contexto de produção do texto) Neste plano, enfocamos o contexto temático, buscando entender as condições de produção da notícia, ou seja, como um texto é organizado, sendo que os fatores que influenciam a organização do texto são resultantes de um contexto físico e de um contexto sócio-subjetivo. 1923 Quadro 4 - O conteúdo temático CONTEXTO DE PRODUÇÃO NOTÍCIA EM JORNAL IMPRESSO O lugar de produção do texto Onde a notícia foi produzida? O momento de produção do texto Quando a notícia foi produzida? O autor Quem escreveu a notícia? Qual é a atitude do autor em relação ao assunto apresentado na notícia? Quem são os prováveis leitores da notícia? O que o autor trata na notícia? Para quem a notícia foi produzida? Por que a notícia foi produzida? O destinatário O conteúdo O lugar social do texto O objetivo social do texto A construção composicional (organização textual) Para o desenvolvimento da construção composicional do texto, procuramos observar a escolha e a disposição dos itens que compõem sua organização interna. No caso da notícia, exploramos o elemento estrutural mais importante da matéria, o LEAD, que se apresenta no primeiro parágrafo da notícia, enfocando os cinco W's: Quadro 5 – a construção composicional ELEMENTOS ESTRUTURANTES DO LEAD NA NOTÍCIA - primeiro parágrafo Quem são os envolvidos? (who) O que aconteceu? (what) Quando aconteceu? (where) Onde aconteceu? (when) Como aconteceu? (how) Por que aconteceu? (why) 5. Estilo (as marcas lingüísticas do texto) Para o desenvolvimento das capacidades lingüístico-discursivas relativas ao uso do gênero em questão buscamos reconhecer os mecanismos de textualização presentes no mesmo. Para tanto, focalizamos nossa atenção nos títulos de notícias, dos quais enfocamos para nosso estudo, os mecanismos de textualização referentes aos elementos de coesão verbal e nominal, conforme segue: 1924 Quadro 6 – Estilo TÍTULOS DE NOTÍCIAS Elementos de coesão verbal uso do presente simples (para enunciar verdades); uso do presente contínuo (para causar grande impacto); uso do infinitivo (para anunciar futuros acontecimentos); uso da passiva (para omitir os participantes). Elementos de coesão nominal utilização de sentenças com palavras breves e de conotação dramática; emprego de nominalizações. 6. A seqüência didática de gênero notícia (da esfera jornalística para a esfera escolar) Apresentamos, abaixo, a seqüência didática, desenvolvida a partir dos estudos feitos sobre o gênero notícia. IN THIS DIDACTIC SEQUENCE WE WILL: - work with newspaper headlines. - read the beginning of a news report and answer: WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY? - learn how a news story is built with notes that answer the 5 W's. - use notes that answer the 5 W's to write a short article. - see the difference in terms of use of language between a tabloid and a quality paper. - Do you know any English newspaper? Do you know what a tabloid is? What about a quality paper? - We will work with news report. Do you know what it is? Every piece of news in a newspaper has a title. What is it called? -Newspaper headlines, what do you know about headlines? What are they for? What about the language? Is it concise and straightforward language that is used? Let’s see something about it? 1925 1. NEWSPAPER HEADLINES The title of news report is also called a HEADLINE. Although headlines are short, they can tell us a lot. Reading a headline requires a lot of guessing from the reader to figure out what the news is about. Read this headline taken from The Independent 14 April 2006. “American enjoys good first season”. What do you think the news will be about? - American football player doing his best in a home game in his first football season. - American opera singer in the first successful performance in a summer season at the New York Opera House. - American dancer who is the Royal Ballet’s first soloist joined the company in January and has received good reviews from critics And your answer is: --------------------------------------------------------------------------------- Now read the news report about the headline “American enjoys good first season” and check your guessing. Do you know that headlines have some special features in terms of language? Let’s have a look at them? 1926 The headline of the news report, taken from the quality paper The Independent 14 April 2006 tells us WHAT the news is about. Which one of the other five W’s - WHERE? WHEN? WHO? WHY? - does this headline answer? Your answer is:___________________________________________________ Now, we are going to work with news report. Do you know what is special about the first paragraph of a news report? What elements does it contain? 2. NEWS REPORT Headlines are written to grab your attention, but don’t tell you everything. If you want to learn more about a news report before reading the whole article, start with the first paragraph. The introduction of a news article tells you what the story will be about. It is clear, just a few sentences long, and is composed of a LEAD, that is, a set of five basic questions WHAT? WHEN? WHO? WHERE? WHY? that good newspapers try to answer in the first paragraph of a news report. Read the first paragraph from the news report “Health warning plan for alcohol sold in pubs and in supermarkets”, taken from the quality paper The Independent 14 April 2006 and answer, who is involved in this event? Your answer s:____________________________________________________ 1927 Let’s work more with the first paragraph from the news report about the alcohol warning campaign, taken from the quality paper The Independent and see about the five W’s. The overall subject of this LEAD is about an alcohol warning campaign. When we know about the topic of the news report, which of the 5’s - WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY? – are we answering? Your answer is:________________________________________________ The phrase “in the places where it is sold” answers which of the 5 W’s - WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY? Your answer is: ________________________________________________ When they tell us in the LEAD that “…is in discussion”, they are referring to which of the 5 W’s - WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY? Your answer is: _________________________________________________ The LEAD informs us WHO is involved in this alcohol warning campaign. Besides the government, WHO else is involved? Your answer is: _________________________________________________ 1928 WHAT is exactly the measure the government is proposing to the drinks industry? Your answer is:___________________________________________________ After this practice, you can see that the LEAD of the article “Health warning plan for alcohol sold in pubs and supermarkets” answers the 5 W’s - WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY. Let’s have more practice on the LEADS of news report! The Daily Mirror also writes about the alcohol warning campaign, on his edition on April 14, 2006. Let’s see how the Daily Mirror develops the LEAD of their news. Let’s check which of the 5 W’s they use and notice how different newspapers approach the same topic in different ways. Now we have the news report “Warnings on booze”, from the Daily Mirror, April 14, 2006 that talks about the same topic of the news we have worked above (a health warning plan on the effects of alcohol). Which of the 5 W’s - WHO? WHAT? WHEN? WHERE? WHY? may we find in the first paragraph? Tick on the board below what you think will be mentioned in the LEAD. REPORTER’S NOTES YES NO pubs and supermarkets Public Health Minister display health warnings industries is in active discussion warnings on bottles and cans Let’s compare the headlines of the two newspapers about this same topic? how are they different? “Health warning plan for alcohol sold in pubs and in supermarkets”, (the quality paper The Independent 14 April 2006); “Warnings on booze”(the tabloid Daily Mirror, April 14, 2006) Your answer is: __________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 1929 Let’s move to more practice, using another piece of news. Reporters take notes at the breaking of the news to remember the basic information. Before they begin writing, they organize their notes. They put the basic facts that answer the 5 W’s in the first paragraph, and the details about the basic facts they put in later paragraphs. Read the reporter’s notes about a traffic accident involving two boys. What should be included in the LEAD to answer WHO, WHAT, WHERE, WHEN, WHY, to convince you to read on? With the most basic information you have chosen, try to write the first paragraph of this news report. Remember: Grab your reader’s attention with the five W’s. Save the details for the rest of the story. 1930 REPORTER’S NOTES YES NO a boy of four and an older lad a blue Renault Laguna last night in critical condition in hospital 49-year-old motorist hit by a car Birmingham Children ’s Hospital suspicion of dangerous driving walked along a pavement arrested serious non-life threatening condition Now, after having written your fist paragraph, let’s compare to what the reporter wrote in the THE SUN April 14 2006, about the accident, and check the 5 W’s used by the reporter. 1931 6. Considerações finais Devemos colocar que esta foi uma primeira seqüência didática desenvolvida para o primeiro ano do Curso de Letras-Inglês, na formação inicial, e que objetivamos explorar com os acadêmicos os aspectos pertinentes ao gênero em questão, trazendo os jornais para sala de aula e trabalhando com esse material, no sentido de desenvolver uma prática de trabalho que buscasse enriquecer o que o livro Northstar apresenta, mas que não aprofunda sobre esse gênero específico, a notícia. Nosso objetivo, com essa primeira seqüência, foi, portanto, de desenvolver um trabalho com gêneros para que percebam os diferentes gêneros discursivos que permeiam nossas práticas sociais enquanto cidadãos. Esse trabalho didático contínuo, focalizando a importância dos gêneros no desenvolvimento das capacidades discursivas dos acadêmicos, resultará, acreditamos, na instrumentalização desses acadêmicos para que, quando de sua futura atuação docente, possam desenvolver trabalhos com gêneros textuais no Ensino Fundamental e Médio, considerando que a proposta das Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira para o Ensino Fundamental do Paraná/2006 e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio - LE/2006 ressalta a importância de trabalhar as questões de linguagem como uma prática conscientizadora, por meio de gêneros. Referências BARBOSA, J. P. Do professor suposto pelos PCNs ao professor real de língua portuguesa: ao os PCNs praticáveis?. In: R. Rojo (org.) A prática de linguagem em sala de aula: praticando os PCNs. São Paulo: EDUC; Campinas: Mercado de Letras, 2000, p. 27-38. BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. 1992/2003gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira (Trad.). São Paulo: Martins Fontes, (Coleção Ensino Superior). BRASIL, MEC. Orientações para o Ensino Médio - Linguagens, Códigos e suas Tecnologias/ Secretaria de Educação Básica. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 239 p. (Orientações curriculares para o ensino médio, volume 1), htpp:// www.mec.gov.bro>> acessado em agosto de 2006. CRISTOVÃO, V. L. Gêneros e ensino de leitura em LE: os modelos didáticos de gêneros na construção e avaliação de material didático. Tese da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: Lingüística Aplicada e Estudos, 2001. Daily Mirror, Friday 14 April, 2006. LAJE, N. A estrutura da notícia. São Paulo: Editora Ática, 1999. MACHADO, A. R. Uma Experiência de Assessoria Docente e de Elaboração de Material Didático para o Ensino de Produção de Textos na Universidade DELTA, v.16 n.1 São Paulo, 2000. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. 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