Romantismo no Brasil
O Romantismo nasce no Brasil poucos anos depois da independência
de Portugal. Por isso, as primeiras obras e os primeiros artistas
românticos estão empenhados em definir um perfil da cultura
brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o
passado histórico, as diferenças regionais, a religião etc. Pode-se
dizer que o nacionalismo é o traço essencial que caracteriza a
produção dos primeiros escritores românticos.
Particularidades do Romantismo no Brasil
A Independência política, em 1822, desperta na consciência
de intelectuais e artistas nacionais à necessidade de criar uma
cultura brasileira identificada com suas próprias raízes históricas,
linguísticas e culturais.
O Romantismo assume na literatura a conotação de um
movimento anticolonialista e antilusitano. Portanto, um dos
traços essenciais é o nacionalismo, abrindo um leque de
possibilidades a serem exploradas:
a) o indianismo
b) o regionalismo
c) a pesquisa histórica, folclórica e linguística
d) crítica aos problemas nacionais
Marco inicial do Romantismo no Brasil:
Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães.
As gerações do Romantismo
Primeira geração
Nacionalista, indianista e religiosa.
Poetas: Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães.
Segunda geração
Marcada pelo mal-do-século, apresenta egocentrismo
exacerbado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Poetas: Álvares
de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
Terceira geração
Marcada pelo condoreirismo: poesia de cunho político e social.
Poeta de maior expressão: Castro Alves.
Gonçalves Dias
“ Um projeto de cultura brasileira”
(1823 - 1864)
Filho de português com uma cafuza, o maranhense fez os primeiros estudos em seu Estado natal e completou-os em Coimbra, onde
cursou Direito. De volta ao Brasil (1845), trouxe em sua bagagem boa
parte de seus escritos. Fixa-se no Rio de Janeiro, e ali publica sua primeira obra Primeiros contos (1846). Fez várias viagens pelo país, incluindo a Amazônia, tendo chegado a escrever uma Dicionário da língua
tupi.
Embora Gonçalves de Magalhães seja considerado o introdu
tor do romantismo no Brasil, foi, na verdade, Gonçalves Dias quem implantou e solidificou a poesia romântica em nossa literatura.
Gonçalves Dias
A obra de Gonçalves Dias pode ser considerada a realização de
um verdadeiro projeto de construção da cultura brasileira.
O autor, buscando captar a sensibilidade e os sentimentos de
nosso povo, criou uma poesia voltada para o índio e para a
natureza brasileira, numa linguagem simples e acessível.
Seus versos, tais como os de sua Canção do exílio, são melódicos e
exploram métricas e ritmos variados. Cultivou também poemas
religiosos, de fundo panteísta (adoração da natureza como
divindade).
Sua obra poética apresenta os gêneros lírico e épico. Na épica,
canta os feitos heróicos de índios valorosos que substituem a
figura do herói medieval europeu (I-Juca -Pirama e Os timbiras). Na
lírica, os temas mais comuns são a pátria, a natureza, Deus, o
índio e o amor não correspondido - em grande parte, decorrente
de sua frustrada paixão por Ana Amélia do Vale.
O Ultra-Romantismo
Nas décadas de 50 e 60 do século XIX, forma-se nos meios
universitários de São Paulo e Rio de Janeiro um novo grupo de
poetas, que vai dar origem à segunda geração da poesia romântica
brasileira. Esses poetas, na maioria, eram jovens que levavam uma
vida desregrada, dividida entre os estudos acadêmicos, o ócio, o caos
amoroso e a leitura de obras literárias européias.
Com estilo de Byron e Musset, essa geração caracterizava-se
pelo espírito do “mal-do-século”, uma onda de pessimismo doentio
diante do mundo que se traduzia no apego a certos valores
decadentes tais como a bebida, o vício, e na atração pela noite e pela
morte.
Os ultra-românticos desprezavam certos temas e posturas da
primeira geração, como o nacionalismo e o indianismo. Acentuavam
traços como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo,
ampliando a experiência da sondagem interior e preparando
terreno para a investigação psicológica que caracterizará o Realismo.
O medo de amar
Quanto ao amor, os ultra-românticos possuem uma visão
dualista, que envolve atração e medo, desejo e culpa.
Os ultra-românticos temem a realização amorosa. O ideal
feminino é normalmente associado a figuras incorpóreas ou
assexuadas, como anjo, criança, virgem etc., e as referências ao amor
físico se dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficialmente.
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucava com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Anjo enlodado nos pauis da terra
Lascivo: sensual
pauis: brejo
Se de ti fujo é que te adoro e muito,
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!...
Álvares de Azevedo
É a principal expressão da geração ultra-romântica da poesia.
Paulista, fez os estudos básicos no Rio de janeiro e cursava o quinto ano
de Direito em São Paulo quando sofreu um acidente, cujas
complicações o levaram à morte, aos 20 anos de idade.
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Toda a sua
produção - sete livros, discursos e cartas - foi escrita em apenas
quatro anos, período em que era estudante universitário.
O condoreirismo
 A terceira geração romântica foi chamada de
condoreira ou de poesia social, pois buscava
demonstrar em sua obra os problemas sociais do
Brasil da época, como escravidão, proletariado e
outros.O seu principal representante foi Castro
Alves.
Obra condoreira
Navio Negreiro
O navio negreiro é um poema de Castro Alves e um
dos mais conhecidos da literatura brasileira. O
poema descreve com imagens e expressões terríveis
a situação dos africanos arrancados de suas terras,
separados de suas famílias e tratados como animais
nos navios negreiros que os traziam para ser
propriedade de senhores e trabalhar sob as ordens
dos feitores.
Navio Negreiro
Tostados pelo sol dos quatro mundos! Crianças que
a procela acalentara No berço destes pélagos
profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba Esta selvagem,
livre poesia Orquestra — é o mar, que ruge pela
proa, E o vento, que nas cordas assobia
Por que foges assim, barco ligeiro? Por que foges do
pávido poeta? Oh! quem me dera acompanhar-te
a esteira Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que
dormes das nuvens entre as gazas, Sacode as
penas, Leviathan do espaço, Albatroz! Albatroz!
dá-me estas asas.
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O navio negreiro