UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS – FMT-AM MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS DETECÇÃO DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) NA CÉRVICE UTERINA DE PACIENTES HIV POSITIVAS E EM PORTADORAS DE AIDS PEDRO MAURICIO DE SOUZA MANAUS 2004 PEDRO MAURICIO DE SOUZA DETECÇÃO DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) NA CÉRVICE UTERINA DE PACIENTES HIV POSITIVAS E EM PORTADORAS DE AIDS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação da Universidade do Estado do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. SINÉSIO TALHARI Co-orientadora: Profa CRISTINA MARIA BORBOREMA DOS SANTOS MANAUS 2004 ii FICHA CATALOGRÁFICA SOUZA, Pedro Mauricio Detecção do Papilomavírus humano (HPV) na cérvice uterina de pacientes HIV positivas e em portadoras de AIDS / Pedro Mauricio de Souza – Manaus – AM: UEA; FMT-AM; 2004. 114 p.: il. Dissertação (Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas) 1. HPV 2. PCR 3. HIV 4. Câncer de colo uterino I. Título iii PEDRO MAURICIO DE SOUZA DETECÇÃO DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) NA CÉRVICE UTERINA DE PACIENTES HIV POSITIVAS E EM PORTADORAS DE AIDS Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação da Universidade do Estado do Amazonas, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. BANCA EXAMINADORA: Spartaco Astolfi Filho (Doutor) Universidade Federal do Amazonas-UFAM Luiz Carlos de Lima Ferreira (Doutor) Universidade Federal do Amazonas-UFAM Sinésio Talhari (Doutor) Universidade Federal do Amazonas-UFAM Manaus, 25 de novembro de 2004. iv Este trabalho foi desenvolvido na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas-FMTAM, com recursos parcialmente providos pela Superintendência da Zona Franca de Manaus através do convênio nº 035/2002. v Aos filhos Pedro Junior, Joyce Christina e Victor Fernando, companheiros de todas as viagens, cujo caráter considero o meu melhor trabalho. vi O esforço é grande e o homem é pequeno, E eu, navegador, deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para deante naveguei. A alma é divina e a obra, imperfeita Este padrão signala ao vento e aos céus Que, da parte ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus. Fernando Pessoa 7 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Professor-Doutor Sinésio Talhari, criterioso e exigente na busca pelo conhecimento, parceiro e amigo nas incertezas do caminho. Ao Professor-Doutor Spartaco Astolfi Filho, cujo exemplo em compartilhar o conhecimento, ao abrir as portas da Biologia Molecular da UFAM para um projeto extra-muros, só dignifica aquela instituição. À Professora-Doutora Edith Suzana Elizabeth Fanta, da Universidade Federal do Paraná, valorosa companheira de expedições antárticas, pelo apoio incondicional a este projeto. À Professora Cristina Borborema dos Santos, pelo empenho e dedicação ao colaborar neste projeto, e pela paciência de ensinar a um pesquisador afeito à clínica e à cirurgia, os segredos da manipulação genética e da biologia molecular. À Professora-Doutora Graça Barbosa, pela inestimável compreensão e por ter acreditado neste projeto. Ao Professor-Doutor Worney Silva Miranda Braga, pelas revisões e tratamento estatístico dos dados deste projeto. À Professora Marilaine Martins, a fonte em que bebi da esperança de chegar a um resultado final. À Professora Júnia Dutra, colaboradora que não desanimou mesmo quando as reações insistiam em não dar certo, e pacientemente me ajudou a recomeçar quantas vezes o tempo nos permitiu. À Dra. Leny Passos, ao Doutor Silas Guedes de Oliveira e à Dra. Alba Montarroyos e por extensão à todos da SUSAM, minha casa, pela condescendência nas horas subtraídas e dedicadas a este projeto. Ao Excelentíssimo Sr. Dr. Wilson Duarte Alecrim, atual Secretario de Saúde, por cujas mãos, iniciei esta pós-graduação. Às pacientes HIV positivas da FMTAM, que com seu carinho e seu sorriso confiante, extraído de condições adversas, me legaram a lição maior deste trabalho: a de que viver é a mais importante das conquistas. 8 RESUMO O papilomavírus humano (HPV), associado a doenças imunodepressoras, tais como a ocasionada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), tem sido apontado como agente causal de neoplasias intra-epiteliais, entre elas o câncer de colo uterino. No presente estudo, procurou-se detectar o HPV no colo uterino de pacientes HIV positivas, utilizando-se a reação em cadeia da polimerase (PCR) e os métodos clássicos como a colpocitologia e a colposcopia; estes achados foram correlacionados com os níveis de células T-CD4+ das pacientes. Nos casos em que foi detectado o HPV procurou-se, ainda, identificar o sorotipo infectante, via seqüenciamento do DNA viral, por comparação das seqüências de nucleotídeos encontradas e as armazenadas no Gene Bank. Dentre as 70 pacientes estudadas, detectou-se o HPV, por PCR, em 10 pacientes (14,2%); em 6 destas amostras conseguiu-se identificar o sorotipo de HPV, respectivamente os sorotipos 6, 16 (em duas amostras) e 53, 58, 70, nas demais. A colpocitologia revelou efeitos citopáticos compatíveis com o HPV em 13 pacientes (18,5 %) e a colposcopia permitiu visualizar as lesões indicativas de acometimento pelo HPV em 19 pacientes (27,1 %). A contagem de células T-CD4+ foi inferior a 200/mm3 em 16 pacientes, caracterizando serem portadoras de AIDS, enquanto que as 54 restantes apresentavam T-CD4+ acima de 200/mm3. Os achados indicativos da presença do HPV consubstanciados pela colpocitologia (13), pela colposcopia (19) e os achados de certeza da presença do DNA-HPV obtidos por PCR (10), apresentaram distribuição uniforme e foram significativamente mais presentes no segmento que apresentou contagens de células T-CD4+ abaixo de 200/mm3. A abordagem estatística destes resultados, demonstrou significativa elevação do risco relativo das pacientes com T-CD4+ abaixo de 200/mm3 serem portadoras do HPV, permitindo concluir pela validade destes métodos no rastreamento do papilomavírus. Palavras chaves: papilomavirus humano, reação em cadeia da polimerase, vírus da imunodeficiência humana. 9 ABSTRACT Human Papilomavirus (HPV) associated with immunologic deficiency as related to human immunodeficiency virus (HIV) has been pointed as responsible for intraepithelial neoplasia such as womb cervix cancer. This study intended to find HPV in the womb cervix of HIV positive women by PCR (polymerase chain reaction). The research of HPV was made also through current procedures such as colpocitology (Papanicolaou) and colposcopy linking these findings with T-CD4+ cells levels. When HPV was detected its identification was tried by DNA sequencing procedure, by comparison with HPV stored nucleotides sequences on Gene Bank. In the study of 70 patients with HIV the HPV was found in 10 (14,2%) and 6 sorotipes was identified. Colpocitology revealed celular effects of HPV in 13 pacients and colposcopy allowed to view HPV injuries in 19. T-CD4+ countdown was low than 200/mm3 in 16 patients while in the other 54 the CD4 was above 200/mm3. The statistical approach to these data conduces to a significant increased relative risk to be infected by HPV in the group that shows T-CD4+ cells bellow 200/mm3 and allows to conclude by validity of this methods on papilomavirus research. Keywords: Human papilomavirus, Human Imunodeficiency virus, Polymerase chain reaction. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1.1 Etiologia ........................................................................................................... 1.2 Epidemiologia .................................................................................................. 1.3 Patogênese ..................................................................................................... 1.4 Diagnóstico ...................................................................................................... 01 02 02 04 06 2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 2.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 11 11 11 3 METODOLOGIA ................................................................................................. 3.1 Tipo de estudo ................................................................................................. 3.2 População de estudo ....................................................................................... 3.3 Declaração de consentimento e ficha de triagem ........................................... 3.4 Coleta de material ........................................................................................... 3.5 Extração de DNA ............................................................................................. 3.6 PCR controle do material extraído .................................................................. 3.7 Amplificação do DNA-HPV por PCR ............................................................... 3.8 Eletroforese em gel de agarose ...................................................................... 3.9 Purificação das amostras ................................................................................ 3.10 Reação para seqüenciamento ...................................................................... 3.11 Precipitação do produto da reação de seqüenciamento ............................... 3.12 Eletroforese de seqüenciamento ................................................................... 3.13 Alinhamento das amostras seqüenciadas ..................................................... 3.14 Análise das seqüências nucleotídicas ........................................................... 12 12 12 13 13 14 15 16 17 18 18 19 19 21 21 4 RESULTADOS ................................................................................................... 4.1 Distribuição das pacientes .............................................................................. 4.2 Resultados da PCR ......................................................................................... 4.3 Resultados do seqüenciamento e identificação dos sorotipos de HPV .......... 4.4 Resultados de colpocitologia ........................................................................... 4.5 Resultados de colposcopia ............................................................................. 4.6 Análise conjunta dos resultados e testes de significância .............................. 22 22 23 24 25 26 27 5 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 31 5.1 Considerações gerais ...................................................................................... 31 5.2 Importância dos métodos de detecção do HPV .............................................. 32 11 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 36 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................ 38 ANEXOS ............................................................................................................... 40 1. INTRODUÇÃO O vírus do papiloma humano (HPV) é um DNA-vírus não cultivável, do grupo Papovavírus. Atualmente são conhecidos mais de 80 tipos, sendo divididos em três grupos de acordo com o potencial de oncogenicidade. O grupo de vírus de alto risco oncogênico (subtipos 16, 18, 31, 33 e 45), quando associados a outros co-fatores como, por exemplo, a imunodepressão, têm relação direta com o desenvolvimento das neoplasias intra-epiteliais e do câncer invasor do colo uterino. (1) A infecção pelo papilomavírus humano (HPV), conhecida desde os primórdios da medicina, através de sua manifestação mais evidente, o condiloma acuminado, foi descrita pela primeira vez por Hunter, que em 1786 caracterizou as verrugas genitais como lesões da sífilis. Em 1838, Ricord reconheceu estas lesões como doença não relacionada à Lues. Anos mais tarde em 1954, ao se observar verrugas vulvares em mulheres de soldados que combateram na Coréia, e que apresentavam verrugas penianas, evidenciou-se a infectividade sexual. (2) Atingindo proporções epidêmicas em algumas regiões, a infecção pelo HPV representa um autêntico desafio em termos de saúde pública, pois afeta milhões de indivíduos em todo o mundo. Atualmente, a infecção pelo HPV é a doença sexualmente transmissível (DST) viral mais freqüente na população sexualmente ativa.(3) 1.1 ETIOLOGIA O papilomavírus é membro da família Papovaviridae (vírus produtores de vacúolos), consistindo num vírion icosaédrico com 72 capsômeros. Seu genoma é uma dupla hélice circular de DNA, possuindo cerca de 7900 pares de bases e a 2 análise da seqüência de nucleotídeos é a base do método de classificação dos vários subtipos virais, já tendo sido descritos mais de 80 sorotipos diferentes. (4) Um genoma de HPV é considerado como representativo de um novo tipo quando suas seqüências de genes E6, E7 e L1, (em torno de um terço do genoma), diferem em mais de 10 % de qualquer tipo de HPV previamente conhecido. (5) Os tipos de HPV variam no seu tropismo tecidual, nas suas associações a lesões diferentes e no seu potencial oncogênico. De acordo com a homologia da seqüência de DNA e associação a lesões clínicas, eles podem ser agrupados em: • Tipos mucosos • Tipo cutâneos • Tipos cutâneos associados à epidermodisplasia verruciforme Embora alguns tipos de HPV possam acometer sítios diversos, nosso interesse, neste trabalho, estará voltado para os tipos mais comumente associados às lesões das mucosas, especialmente a mucosa genital. 1.2 EPIDEMIOLOGIA Por ser doença de notificação não compulsória, a real prevalência é desconhecida em nosso meio. Em 1996, o “Centers for Disease Control (CDC)”, estimava em 500 mil a 1 milhão de casos novos de infecção pelo HPV por ano nos Estados Unidos. Referia, também, neste ano, 80 mil novos casos de síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), 200 a 500 mil casos de herpes, 100 mil casos de sífilis e 800 mil casos de gonorréia naquele país. Na ocasião, os índices de HPV eram superados apenas pela infecção por Clamídia (4 milhões) e Tricomoníase (3 milhões). (6) 3 Mais recentemente, com o desenvolvimento da técnica da reação em cadeia da polimerase (polymerase chain reaction-PCR), descobriu-se que as infecções pelo HPV podem ser muito mais comuns, atingindo desde portadoras assintomáticas até pacientes com câncer cervical invasivo. A prevalência de DNA-HPV, em geral, considerando diferentes populações femininas do mundo, tem variado entre 4% e 75%, segundo a técnica de PCR. (7) Nos Estados Unidos e na Inglaterra, a incidência de verrugas genitais aumentou de 2,5 a 8 vezes durante as duas últimas décadas. Entre os americanos, a incidência de condiloma acuminado aumentou de 13 para 106 casos por 100.000 entre o início dos anos 50 e o final dos anos 70. Segundo estudos realizados em mulheres sexualmente ativas com citologia oncótica normal, a prevalência do DNAHPV variou entre 3,7% e 47,9%, atingindo até 98% em citologias que apresentavam discariose grave. (8) O interesse pelo HPV tem aumentado desde a primeira identificação das seqüências de DNA (tipos 16 e 18) nas biópsias de câncer cervical. Atualmente, a relação causal entre o HPV e o câncer de cérvice está bem estabelecida. (9) Segundo a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer (IARC), dos mais de 80 tipos conhecidos de HPV, somente 30 parecem infectar a genitália. (10) As verrugas genitais são mais comuns em pessoas sexualmente ativas, entre 20 e 24 anos, independentemente do tipo de HPV. Após esta faixa etária, a prevalência declina gradativamente. Estudos realizados em países desenvolvidos detectaram menos de 10% de positividade ao HPV em indivíduos no grupo de 40 anos. Em crianças com 2 a 11 anos, que sofreram abuso sexual, os índices de DNA-HPV atingem 33%, aproximando-se dos encontrados em adolescentes sexualmente ativas, pós-menarca (19% - 33%). (11) 4 Com o desenvolvimento da técnica de PCR para detecção do DNA viral, os estudos epidemiológicos redesenharam o perfil da infecção cérvico-vaginal pelo HPV. Entretanto, nem todos têm reproduzido uniformemente os mesmos resultados. No Brasil, alguns estudos utilizando a técnica de PCR encontraram diferentes taxas de prevalência. Em estudo de caso-controle realizado em São Paulo, observou-se presença de 17% de DNA-HPV no grupo controle e de 84% no grupo com câncer de colo uterino. (9) No Amazonas, a única publicação existente relacionada ao HPV na cérvice uterina, refere o achado de 32 amostras positivas para o DNA-HPV por PCR em 83 pacientes com câncer de colo uterino (39,8%), atendidas na Fundação Centro de Controle de Oncologia de Manaus, com prevalência do subtipo 16. (12) 1.3 PATOGÊNESE A inoculação viral ocorre nas camadas mais profundas dos epitélios pavimentosos previamente traumatizados, especialmente pelo microtraumas que ocorrem durante o ato sexual. (6) Conforme o recente Consenso Brasileiro de HPV, a história natural da infecção pelo HPV pode ser dividida nas seguintes fases: (1) •Fase 0: Inoculação •Fase I: Incubação •Fase II: Fase precoce •Fase III: Fase tardia 5 1. Fase 0 – INOCULAÇÃO O vírus penetra no novo hospedeiro através de microtraumatismos. A seguir, os vírions progridem até a camada basal, atravessando a membrana citoplasmática. O genoma viral é transportado para o núcleo, onde é traduzido e transcrito. Duas classes de proteínas são codificadas: proteínas transformadoras, que induzem funções na célula hospedeira e proteínas reguladoras, que controlam a expressão dos genes virais. 2. Fase I - INCUBAÇÃO O período de incubação do papilomavírus varia de 2-3 semanas a 8 meses e parece estar relacionado com o estado imunológico individual. A evolução da doença é, por vezes, imprevisível. Remissões espontâneas são observadas com freqüência, sobretudo quando são instituídos melhores cuidados de higiene, bem como quando se elimina parte da lesão. Como o contato sexual não produz verrugas genitais em todos os casos, fica claro que a imunidade celular ou outros fatores locais influenciam decisivamente na transmissão do vírus. De fato, pacientes imunodeprimidos, além de apresentarem maior incidência da doença, costumam responder mal às terapêuticas instituídas. A progressão da fase de inoculação para a de expressão ativa depende de três fatores: da permissividade celular, do tipo de vírus e do estado imunológico do hospedeiro. 3. Fase II – FASE PRECOCE Aproximadamente, três meses após o surgimento das primeiras lesões, inicia-se resposta imune adquirida que pode conter a infecção (regressão) ou ser insuficiente para eliminá-la (fase de expressão ativa). 6 As evidências da importância da imunidade celular na contenção das infecções pelo HPV são: a) Aumento da incidência durante a gravidez; b) Alta freqüência em transplantados e imunocomprometidos; c) Aumento da freqüência, gravidade e recidivas em indivíduos HIVpositivos, principalmente nos que desenvolvem AIDS. 4. Fase III – FASE TARDIA Em torno de nove meses após o aparecimento das primeiras lesões, os pacientes podem apresentar dois tipos de situação clínica: a) Os que continuarão em remissão e potencialmente infectantes para seus parceiros sexuais; e b) Os que recidivarão, expressando doença ativa. 1.4 DIAGNÓSTICO A infecção pelo HPV se manifesta de diversas formas e o diagnóstico pode ser feito através da simples inspeção da genitália, nos casos de condilomatose vulvar; pelo exame ginecológico, através da inspeção das paredes vaginais e do colo uterino ou utilizando-se propedêutica subsidiária, como a colpocitologia, colposcopia, histopatologia e métodos mais sofisticados de biologia molecular – a hibridização in situ, a captura híbrida e a reação em cadeia da polimerase (PCR). (5) Dependendo dos recursos utilizados na sua caracterização, a doença ocasionada pelo HPV é classicamente observada sob três formas distintas: (5) Forma Clínica: ocorre com menor freqüência, sob a forma de verrugas na genitália, por vezes de aparência exuberante, sendo detectadas ao exame 7 convencional, à vista desarmada. São mais freqüentes na região vulvar, e aparecem como tumorações múltiplas, sésseis, amolecidas, de superfície irregular. São menos freqüentes nas paredes vaginais e no colo do útero. Nesta localização, acometem preferencialmente a zona de transformação, como áreas não coráveis ao teste de Schiller (zona iodo negativa). Os condilomas acuminados são geralmente consignados pelos HPV dos tipos 6 e 11 e porisso, raramente se relacionam aos processos neoplásicos malignos. Forma Subclínica: diagnosticada apenas com métodos subsidiários, especialmente a colposcopia. É bem mais freqüente que a anterior. Os achados colposcópicos preditivos da infecção pelo HPV consistem numa micropapilomatose difusa, geralmente pruriginosa. No achado mais característico, o epitélio acetobranco, formado por áreas aparentemente normais ao exame colposcópico não alargado, tornam-se nítidamente esbranquiçadas após a aplicação de ácido acético. A colpocitologia é outro método rastreador, pois permite visualizar os efeitos citopáticos determinados pelo vírus. A alteração mais evidente é a coilocitose, caracterizada por células superficiais e intermediárias, com halo claro, peri-nuclear; podendo haver disceratose e discariose. (5) Forma Latente: consiste na presença do DNA viral, sem quaisquer evidências clínicas ou subclínicas da infecção. Além de ser a mais freqüente, por seu caráter insidioso, é comparada por epidemiologistas à porção submersa de um iceberg. É assintomática, não infectante e não relacionada diretamente à oncogenicidade enquanto não evoluir para uma das outras formas. Somente é diagnosticada, através da detecção da seqüência gênica do DNA dos diversos tipos 8 de HPV. A amplificação em cadeia de um curto segmento de porção do vírus, consegue detectar com segurança a sua presença. (5) Indivíduos imunodeprimidos parecem manter o DNA-HPV de forma persistente. (13) Em lavados cérvico-vaginais de dois grupos de mulheres (124 HIVpositivas e 126 HIV-negativas), a prevalência estimada do HPV foi de 42,8% no primeiro grupo e de 13,4% no segundo. (13) Os condilomas acuminados e as formas subclínicas de infecção pelo HPV estão entre as doenças anogenitais mais comuns em pacientes HIV positivas. Têm transmissão sexual e são causados pelo HPV, principalmente pelos tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33 e 35. Nos (14) pacientes com AIDS ocorre alteração da imunidade celular, representando importante fator de risco para a infecção pelo HPV e para o desenvolvimento de lesões da região anogenital, além de modificar a história natural da infecção por HPV preexistente. (15) Essas lesões são mais agressivas e difíceis de erradicar em pacientes com AIDS, embora os tipos de HPV sejam os mesmos da população soronegativa. (15) Apresentam, no entanto, evolução mais rápida, tanto nas suas formas exofíticas como nas alterações precursoras de câncer do trato genital inferior (neoplasias intra-epiteliais cervical, vulvar, vaginal, etc.). (18) Dados da literatura indicam maior prevalência de infecção pelo HPV nesta população quando comparada à dos soronegativos. (16) O risco de a paciente com AIDS desenvolver câncer do colo uterino encontra relação direta com o grau de imunodeficiência causada pelo HIV no momento da infecção pelo HPV. Já está demonstrado que as lesões intra-epiteliais não estão diretamente associadas ao HIV per se, mas ao grau de imunossupressão que ele desencadeia. (16) 9 Através da análise de casuísticas recentes pode-se observar maior prevalência do HPV em pacientes HIV positivas ou com AIDS, embora os resultados variem de 5,6% a 75,6% de positividade, conforme a população estudada e a metodologia empregada. (1) O total de células T-CD4+ influencia na associação entre as duas viroses, visto que doentes com valores inferiores a 200/mm3 apresentam maior incidência de infecção pelo HPV. (16) Os indivíduos HIV positivos têm maior possibilidade de desenvolver neoplasias intra-epiteliais ou invasoras que a população soronegativa. A progressão das lesões provocadas pelo HPV para neoplasia é inversamente proporcional ao estado imunológico do paciente. O “Centers for Disease Control (CDC)”, há quase uma década, classifica as pacientes HIV positivas com câncer invasivo de colo uterino como portadoras de AIDS, independentemente do número de células TCD4+. (18) O tempo de evolução para o desenvolvimento do câncer invasivo do colo uterino é de aproximadamente uma década; entretanto, nas pacientes HIV positivas, esse período pode diminuir para um ou dois anos. (18) A relação HPV/HIV é clara quanto ao desenvolvimento de neoplasias intraepiteliais, embora o mecanismo de interação entre as duas infecções não seja inteiramente conhecido. No Brasil, segundo a International Agency for Research on Cancer – (IARC), há uma incidência de 24.445 casos anuais de câncer do colo uterino, com 8.815 casos de morte por esta doença. (17) Estima-se que a região norte tenha apresentado ocorrência de 1.120 casos em 2002, sendo 305 (27,2%), com êxito letal segundo o Instituto Nacional do Câncer - INCA. Ainda, segundo dados do INCA, para o ano de 2002, no estado do 10 Amazonas a incidência para o câncer de colo uterino foi de 23,94/100.000 habitantes e a taxa de mortalidade situou-se em 6,47/100.000 habitantes. (18) Dentre as mulheres brasileiras, o câncer cervical tem representado o problema de saúde mais freqüente, sendo a infecção pelo HPV, o principal fator de risco para o desenvolvimento desta enfermidade. Considerando a alta incidência do câncer cervical, a maior suscetibilidade das pacientes imunocomprometidas para as alterações intra-epiteliais precursoras deste câncer e o reconhecido papel de alguns subtipos de HPV como agentes facilitadores desta neoplasia, procuramos, neste trabalho, identificar a coinfecção HPV/HIV. Inicialmente, através do exame ginecológico das pacientes participantes do estudo, subsidiado por propedêutica preditiva da presença do HPV, como a colpocitologia e a colposcopia, seguidas da PCR, correlacionando-a ao grau de imunossupressão. Nas amostras que revelaram a presença do HPV, procurou-se identificar, via seqüenciamento de DNA, os subtipos prevalentes. No estado do Amazonas, segundo a Coordenação Estadual de DST/AIDS, foram notificados desde 1986, 1610 casos de AIDS; deste total, 411 são mulheres. Atualmente, 845 pacientes de ambos os sexos, estão cadastrados para acompanhamento de HIV/AIDS na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Até o presente momento, não dispomos de dados relativos à coinfecção HIV/HPV destas mulheres. Portanto, conhecer o tipo (oncogênico ou não) do HPV é importante para o prognóstico destas pacientes. Este é o principal objetivo deste trabalho. 11 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Investigar a presença do Papilomavírus Humano (HPV) e seus subtipos no colo uterino de pacientes portadoras do vírus da imunodeficiência humana (HIV), utilizando a colposcopia, a colpocitologia e a técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR). 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 2.2.1 Avaliar a validade dos exames clínico-ginecológico, colpocitológico e colposcópico como métodos subsidiários em relação à PCR, na observação de indícios ou evidências de HPV. 2.2.2 Correlacionar a associação do HPV com os níveis de células TCD4+ das pacientes; 2.2.3 Orientar adequadamente as pacientes em relação à necessidade de exames periódicos para a prevenção do carcinoma de colo de útero. 12 3. METODOLOGIA 3.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de estudo prospectivo, em que se fez avaliação clínico-ginecológica de pacientes HIV-positivas ou portadoras de AIDS, coleta de secreção cérvicovaginal para PCR e colpocitologia, seguida de colposcopia. 3.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO A população alvo do presente estudo foi de pacientes portadoras do vírus HIV, da demanda espontânea, atendidas na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, no período de Janeiro a Setembro de 2004. As pacientes foram divididas em dois grupos, segundo a contagem de linfócitos T-CD4+. Foi constituído um grupo de pacientes com contagens de T-CD4+ acima de 200/mm3 e outro, com doentes que apresentavam células T-CD4+ abaixo de 200/mm3. De acordo com o Ministério da Saúde são definidos como portadores de AIDS, os pacientes com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3. O trabalho foi desenvolvido com 70 mulheres HIV positivas que fazem acompanhamento ambulatorial na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMTAM), em Manaus. Estes casos, segundo a Coordenação Estadual de DST/AIDS, correspondem a 18,24% da população feminina, notificadas como portadoras do HIV. Foram incluídas as pacientes que aceitaram participar do projeto. A distribuição da população do estudo em dois grupos, de acordo com a contagem de células T-CD4+ mais recente, teve por finalidade estabelecer, no momento da inclusão no trabalho, aquelas que efetivamente apresentavam 13 o diagnóstico de AIDS, ou seja, com CD4 abaixo de 200/mm3 e as portadoras assintomáticas de HIV. O atendimento consistiu em anamnese dirigida das pacientes, com ênfase nos aspectos ginecológicos de suas queixas principais, seguida de explanação detalhada dos objetivos do estudo e dos procedimentos a que a paciente seria submetida. Estas informações tinham, também, por finalidade, obter o consentimento para inclusão no projeto. 3.3 DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO E FICHA DE TRIAGEM As pacientes foram previamente esclarecidas quanto aos benefícios e riscos que envolviam a sua participação nos grupos e após consentirem, assinaram Declaração de Consentimento (Anexo A) e responderam a Questionário Padrão de Identificação (Anexo B), ficando-lhes assegurada a inteira confidencialidade dos dados ali registrados. 3.4 COLETA DE MATERIAL Os procedimentos foram hierarquizados de forma a não interferirem nos resultados subseqüentes, seja pelo uso de corantes ou pela insuficiência de material para coletas posteriores. Assim, estabeleceu-se a seqüência de iniciarem-se os procedimentos pela inspeção da genitália externa, à procura de indícios ou lesões evidentes de condilomatose, seguida de exame especular, com inspeção das paredes vaginais e do colo uterino. A seguir, procedeu-se à coleta de material da endocérvice para posterior análise e detecção de colpocitologia DNA-HPV. oncótica Posteriormente, (Papanicolaou). coletou-se Por último, material foi para a realizada a 14 colposcopia, com videocolposcópio, sendo feita a colposcopia convencional e a colposcopia alargada, após tratamento com ácido acético e posterior embrocação do colo com solução de Lugol. As amostras foram coletadas com o auxílio de escova do tipo citobrush, devidamente acondicionadas em microtubos de 1,5 mL contendo 400 µL de solução tampão TE ( Tris-HCl 50mM pH 8,0 e EDTA 1mM ) e mantidas a 20ºC. A seguir foram encaminhadas ao Laboratório de Biologia Molecular da Universidade Federal do Amazonas, para serem submetidas à extração do DNA e os procedimentos para a detecção de HPV e seqüenciamento do DNA. Para a realização da colpocitologia (Papanicolaou), fez-se esfregaço de ectocérvice e de endocérvice. Este material foi analisado pelo serviço de Anatomia Patológica da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. 3.5 EXTRAÇÃO DE DNA Para a extração do DNA, foram adicionados 400 µL de “TPK”a 400 µL da amostra coletada, descrita no item anterior. A solução de “TPK” consiste em mistura de 900µL de TE (Tris HCl 50mM + EDTA 1mM pH 8,0) + 100µL de Tween 20 a 20% + 20µL de proteinase K µ10 mg/mL. Essa mistura foi levada ao banho–maria a 55ºC por 1 hora e depois, fervida por 10 minutos, conforme a técnica descrita por Bauer & Manos em 1998. (19) As pacientes apresentando colo uterino com zona de erosão, friável ao toque da escova, apresentaram sangue nas amostras; isto exigiu que a extração do DNA fosse realizada pelo método que utiliza o Fenol-Clorofórmio, conforme descrito por Sambrook. (20) 15 Para a extração por Fenol-Clorofórmio, utilizou-se 200 µL da preparação acima citada, aos quais foram adicionados 200 µL de Fenol e homogeneizados por 10 minutos, seguindo-se 10 minutos de centrifugação a 14.000 r.p.m. Coletou-se o sobrenadante (cerca de 200 µL) e adicionou-se 200 µL de solução de fenolclorofórmio-álcool isoamílico. Após ser homogeneizado por 10 minutos, centrifugouse por 10 minutos. Coletou-se o sobrenadante (cerca de 150 µL) e adicionou-se 150 µL de clorofórmio hidratado. Agitou-se suavemente por 10 minutos e centrifugamos por mais 10 minutos. Coletou-se o sobrenadante (cerca de 100µL) e adicionou-se 1/10 deste volume, de NaCl 5M, ou seja, 10 µL de NaCl 5M mais 1000 µL de etanol absoluto com 2 µL de glicogênio, que é utilizado apenas para facilitar a visualização do “pellet”, que consiste em DNA precipitado e sedimentado. Esta mistura deve então ser bem homogeneizada. Deixou-se precipitando a menos 70 ºC durante 3 horas. Centrifugou-se então a 12.000 g, a 4ºC por 15 minutos. O sobrenadante foi descartado com o auxílio de uma micropipeta. A seguir, lavou-se o “pellet” com 500 µL de etanol a 70 % gelado. Centrifugou-se a 10.000 g por 5 minutos. Descartou-se o sobrenadante com cuidado para não perder o concentrado de DNA. Deixou-se secar e ressuspendeu-se o “pellet” em 30 µL de TE (Tris HCl + EDTA). Deixou-se na geladeira por uma noite para dissolver bem. Deve-se conservar esta amostra de DNA extraído em congelador, a menos 20 ºC. 3.6 PCR CONTROLE DO DNA EXTRAÍDO Paralelamente à PCR, que utilizou os iniciadores (primers) MY09 e MY11, foi feita a reação de amplificação para controle do DNA da amostra em estudo. Foram utilizados os iniciadores que amplificam uma região de microsatélite do cromossomo 15, de 170 pares de bases. (21) 16 3.7 AMPLIFICAÇÃO DO DNA-HPV POR PCR A amplificação por PCR foi realizada com os iniciadores específicos degenerados MY09 e MY11, que têm como alvo a região L1, porção altamente conservada de diversos tipos do HPV, segundo técnica originalmente descrita por Bauer & Manos em 1998.(25) Estes primers promovem a amplificação de fragmentos de 450 pares de bases de, pelo menos, 25 tipos distintos de HPV que infectam o trato genital. (13) As reações de PCR foram realizadas com 35 ciclos de amplificação em aparelho termociclador Eppendorf - Mastercycler Gradient, conforme o seguinte programa: 1 minuto à 95ºC para desnaturação, 1 minuto à 55ºC para anelamento e 1 minuto à 72ºC para a síntese. Após os 35 ciclos, seguiram-se 5 minutos a 72ºC para extensão. (19) Na tabela 1 são apresentadas as sequências de bases orgânicas nitrogenadas componentes dos iniciadores MY 09 e MY 11. Tabela 1: Descrição dos iniciadores MY 09 e MY 11 OLIGONUCLEOTÍDEOS DNA ALVO 5' → 3' MY11 ACIMA HPV L1 GCMCAGGGWCATAAYAATGG MY09 ABAIXO HPV L1 CGTCCMAARGGAWACTGATC W = A + T; R = A + G; M = A + C; K = G + T; Y = C + T. O sistema de PCR foi composto de: 31µL de água Milli-Q; 5,0µL de Tp 10x (500mM KCl e 100mM Tris-HCl (pH 8,5)); 1,5µL de MgCl 2 50mM; 1,0µL do “pool” de dNTP (10mM); 3,0µL do primer MY09 (5pmol); 3,0µL do primer MY11 (5pmol); 0,5µL da Enzima Taq polimerase 5U/µL e 5,0µL da solução contendo a 17 amostra de DNA, totalizando um volume final de 50µL, conforme a técnica de Bauer & Manos, 1998. (19) 3.8 ELETROFORESE EM GEL DE AGAROSE Os produtos da PCR foram analisados por eletroforese, em gel de agarose a 1,5%, corado com brometo de etídio (1,0µg/ml) por vinte minutos, para posterior visualizalização sob luz ultravioleta. Para as fotografias, utilizouse equipamento da Pharmacia Biotech, Image Master VDS FTI-500. Na figura 1, o gel de agarose fotografado, evidencia maior positividade para a presença de DNA-HPV, para as amostras cuja extração do DNA foi realizada pelo fenolclorofórmio, independentemente da concentração de DNA contida na amostra. 1 µL de DNA-HPV BR 06 12 13 12 FC 2 µL de DNA-HPV 13 M 06 12 13 3 µL de DNA-HPV 12 FC 13 FC 06 12 13 12 FC BR: branco (sem DNA); FC: fenol-clorofórmio; M: marcador Figura 1: Fotografia de gel de agarose, corado com brometo de etídio, com amostras positivas em diferentes concentrações de DNA-HPV. 18 3.9 PURIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS As amostras que revelaram a amplificação do fragmento de 450 pb foram submetidas à purificação em colunas “QIAquick PCR Purification Kit – QIAGEN”, para seqüenciamento. Para a purificação das amostras de PCR adotou-se os seguintes procedimentos: a) Adicionou-se 5 volumes do tampão PB para cada volume de amostra amplificada; b) Colocou-se o volume total com o “QIAquick spin column” em tubo Eppendorf de 2 ml; c) Para ligar o DNA, aplicou-se a amostra do “QIAquick” e centrifugou-se por 60 segundos; d) Descartou-se o líquido que fluiu da coluna e colocou-se o “Qiaquick” de volta no mesmo tubo; e) Lavou-se com 750 ml de tampão PE e centrifugou-se novamente por 60 segundos; f) Para isolar o DNA, adicionou-se 50 µL do tampão EB. 3.10 REAÇÃO PARA SEQUENCIAMENTO As amostras foram seqüenciadas utilizando-se o primer MY09 ou o MY11, em seqüenciador automático MegaBace 1000 (Amersham Biociences). Para o seqüenciamento foi utilizado o seguinte sistema de reação: 5,0µL do DNA; 4,0 µL do pré – mix DYEnamic ET – terminator Kit; 1,0µL do primer MY09 ou MY11, 5 pmol/µL, tendo sido realizado o seguinte programa: 95ºC por 25 segundos; 19 95ºC por 15 segundos; 50ºC por 20 segundos; 60ºC, por 1 minuto, repetidos por 30 ciclos de amplificação. 3.11 PRECIPITAÇÃO DO PRODUTO DA REAÇÃO DE SEQUENCIAMENTO Após a reação de seqüenciamento foi realizada a precipitação. Ao produto da reação de seqüenciamento foi adicionado 1µL de acetato de amônia e 40µL de etanol absoluto. Este sistema foi misturado, utilizando-se o agitador por alguns minutos e incubado durante vinte minutos à temperatura ambiente. A placa necessita ser envolvida em papel alumínio para evitar a incidência de luz. Após incubação, a placa foi centrifugada a 4.000 rpm por quarenta minutos, em centrífuga refrigerada 5804R da Eppendorf. O sobrenadante foi descartado. 3.12 ELETROFORESE PARA SEQÜENCIAMENTO A decodificação de seqüência nucleotídica do fragmento amplificado foi realizada em seqüenciador automático MegaBace 1000 (Amersham Biociences – Pharmacia). A eletroforese capilar em gel de poliacrilamida foi realizada segundo as recomendações padrão do fabricante. Para injeção utilizou-se 2,5KV por 80 segundos. A corrida processou-se a 6KV, por 350 minutos, sob temperatura de 44ºC. Na figura 2 é apresentado um quadro demonstrativo das amostras submetidas à eletroforese para seqüenciamento. As cores verde e amarelo, significam que o seqüenciamento foi satisfatório para posterior análise e identificação do tipo de HPV. 20 Figura 2: Quadro demonstrativo emitido pelo MegaBace, com as amostras passíveis de análise e identificação (score card). 21 3.13 ALINHAMENTO DAS AMOSTRAS SEQUENCIADAS Para o alinhamento das seqüências de nucleotídeos obtidas foi utilizado o programa de computador CLUSTAL W (BioEdit). 3.14 ANÁLISE DAS SEQÜÊNCIAS NUCLEOTÍDICAS Para a confirmação e identificação do tipo do HPV, foi realizada comparação de todas as seqüências nucleotídicas das amostras seqüenciadas, submetendo-as ao Banco de Dados Mundial de Nucleotídeos – GeneBank. Utilizouse o programa BLAST, conforme procedimento proposto por Altschul em 1997, através do site: www.ncbi.nlm.nih.gov 22 4. RESULTADOS 4.1 DISTRIBUIÇÃO DAS PACIENTES Foram estudadas 70 pacientes, 54 HIV positivo assintomáticas, com células T-CD4+ acima de 200/mm3 e 16 pacientes com AIDS, apresentando células T-CD4 + abaixo de 200/mm3. Na tabela 5 são apresentados os dados relativos à contagem de células T-CD4+. Tabela 5: Avaliação das pacientes estudadas, segundo a contagem de células TCD4+. CONTAGEM DE T-CD4+ Acima de 200/mm PACIENTES PERCENTUAL 3 54 77,1 % 3 16 22,9 % 70 100 % Abaixo de 200/mm TOTAL Para a pesquisa das células T-CD4+, considerou-se o resultado mais recente, existente no prontuário, no momento da inclusão no estudo. Na figura 5 são apresentados os casos com AIDS e as portadoras de HIV, assintomáticas. 23 CD4<200 23% CD4>200 77% Figura 5: Distribuição dos dois grupos de pacientes HIV +, segundo a contagem de células T-CD4+. 4.2 RESULTADOS DA PCR Entre as 70 pacientes investigadas, 10 foram positivas para o HPV pela PCR. As amostras positivas foram as de número 06, 12, 13, 24, 25, 39, 48, 49 e 52, totalizando 14,2% das amostras investigadas. Na figura 3 são apresentadas fotografias de gel de agarose, sob luz ultra-violeta, relativas às amostras positivas. BR 06 12 13 25 BR 29 39 48 49 52 Figura 3: Resultados de amostras com PCR positiva para a presença do DNA-HPV 24 Dentre as 10 amostras positivas para a presença do DNA-HPV, 7 pertenciam ao grupo com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3 e as outras 3, ao grupo com células T-CD4+ acima de 200/mm3. 4.3 RESULTADOS DO SEQÜENCIAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DOS SOROTIPOS DE HPV A identificação dos sorotipos de HPV, feita por comparação das seqüências de nucleotídeos encontradas nas amostras positivas, com os dados armazenados no Gene Bank, permitiu identificar 6 sorotipos de HPV (Tabela 2). Tabela 2: Relação das amostras positivas para o HPV por PCR e os sorotipos identificados. O grau de coincidência entre a amostra seqüenciada e os dados do Gene Bank, fornecido pelo programa, está expresso em percentagem. AMOSTRA POSITIVA PARA O DNA-HPV TIPO DE HPV CONFIABILIDADE 06 12 13 24 25 29 39 48 49 52 Não identificado 70 Não identificado Não identificado 16 68 Não identificado 56 16 58 97 % 99 % 95 % 96 % 92% 95% Na figura 4 é possível visualizar, dentre as amostras positivas pela PCR, os percentuais de sorotipos de HPV mais prevalentes. 25 Sorotipo 16 20% Sorotipo N.I. 40% Sorotipo 53 10% Sorotipo 70 10% Sorotipo 68 10% Sorotipo 58 10% Figura 4: Identificação dos sorotipos de HPV nas amostras PCR positivas. 4.4 RESULTADOS DE COLPOCITOLOGIA Na tabela 3 são apresentados os resultados de colpocitologia, com os achados sugestivos da presença do HPV e a quantificação das amostras encontrados. As lâminas com presença de sangue ou outros materiais que inviabilizaram o exame, estão descritas como material inadequado. Outros dados do exame colpocitológico como as alterações celulares benignas, os aspectos inflamatórios e os achados de flora microbiológica embora tenham sido considerados no tratamento clínico das pacientes, não foram avaliados, por não terem relação com os objetivos deste trabalho. Tabela 3: Resultados de colpocitologia oncótica em 70 pacientes ALTERAÇÕES CELULARES BENIGNAS E ACHADOS DE MICROBIOLOGIA ALTERAÇÕES EM CÉLULAS ESCAMOSAS Efeito citopático compatível com HPV Atipias indeterminadas (ASCUS) NIC I (Displasia leve) NIC II (Displasia moderada) NIC III (Displasia acentuada-Carcinoma in situ) MATERIAL INADEQUADO PARA EXAME TOTAL 46 13 1 1 1 8 70 26 Entre as 13 amostras indicativas para a presença do HPV, 9 pertenciam ao grupo de pacientes com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3 e as outras 4, ao grupo de doentes com células T-CD4+ acima de 200/mm3 . 4.5 RESULTADOS DE COLPOSCOPIA Epitélio aceto-branco, indicativo da presença do HPV, foi encontrado em 19 pacientes. Os resultados estão listados na tabela 4. Os casos em que o exame não pôde ser realizado encontram-se assinalados como colposcopia insatisfatória. Tabela 4: Resultados de colposcopia, com os achados sugestivos da presença do HPV ACHADOS COLPOSCÓPICOS NORMAIS 24 ACHADOS COLPOSCÓPICOS ANORMAIS Epitélio Aceto-Branco Epitélio Iodo-Negativo Mosaico Vasos Atípicos Leucoplasia Pontilhado COLPOSCOPIA INSATISFATÓRIA TOTAL 19 16 1 1 9 70 Entre os 19 exames sugestivos de lesões induzidas pelo HPV, 14 pertenciam ao grupo com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3 e os outros 5, ao grupo com células T-CD4+ acima de 200/mm3 . 27 4.6 ANÁLISE CONJUNTA DOS RESULTADOS E TESTES DE SIGNIFICÂNCIA De acordo com a análise conjunta dos resultados da PCR, colpocitologia e colposcopia, pode-se observar na tabela 6, certa uniformidade na distribuição dos dados, que apresentam pouca dispersão em torno da média de 14 (x=14). Tabela 6: Análise conjunta dos resultados de PCR, colpocitologia e colposcopia. PARÂMETRO PCR COLPOCITOLOGIA COLPOSCOPIA MÉDIA Pacientes 10 13 19 14 Na figura 6 estão representados em conjunto, os resultados positivos para a presença do HPV, evidenciando-se a distribuição uniforme destes dados. 70 70 60 50 40 30 19 20 13 10 10 0 TOTAL COLPOSCOPIA CITOLOGIA PCR Figura 6: Total de pacientes estudadas, com exames sugestivos de HPV na colposcopia e colpocitologia e total de casos com PCR positiva. Na tabela 7 são descritos os achados, segundo os laudos de colpocitologia e de colposcopia, das pacientes cujas amostras foram positivas pela PCR. 28 Tabela 7: Achados de colpocitologia e de colposcopia nas amostras positivas à PCR PACIENTES ACHADOS CITOLÓGICOS ACHADOS COLPOSCÓPICOS PCR SOROTIPO 06 Efeitos citopáticos compatíveis com HPVmetaplasia escamosa Condilomatose vulvar – lesão aceto-branca às 6 h – zona iodo negativa no lábio posterior + Não identificado 12 Efeitos citopáticos compatíveis com HPV – inflamação-Metaplasiadisplasia leve - NICI Epitélio vaginal hiperceratósico sugestivo de condiloma, lesão aceto-branca às 12 h, compatível com LSIL + 70 13 Esfregaço normal Colo epitelizado, JEC 0, Schiller negativo + Não identificado 24 Inflamação, metaplasia escamosa. Lesão aceto-branca no lábio inferior + Não identificado 25 Inflamação, metaplasia escamosa, efeitos citopáticos compatíveis com HPV, lactobacilos – NIC III Extensa lesão aceto-branca em torno do orifício externo do colo, presença de vascularização atípica + 16 29 Inflamação, efeitos citopáticos compatíveis com HPV, lactobacilos Lesão aceto-branca no lábio posterior, + 68 39 Inflamação, metaplasia escamosa, efeitos citopáticos compatíveis com HPV Lesão aceto-branca peri-orificial + Não identificado 48 Inflamação, lactobacilos, esfregaço hemorrágico Lesão aceto-branca, em placas, às 15 e 19 h + 53 49 Inflamação, metaplasia escamosa, coilocitose Lesão aceto-branca comprometendo o lábio anterior + 16 52 Inflamação, células binucleadas, coilocitose Gardnerella vaginalis Colo parcialmente retirado por conização. Sem achados colposcópicos significativos + 58 Na correlação entre os resultados obtidos e a contagem de linfócitosT-CD4+ das pacientes, verificamos significativa concentração de resultados positivos para o 29 HPV no segmento com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3 . A correlação entre os métodos de pesquisa do HPV e a contagem de células T-CD4 + das pacientes pode ser observada na figura 7. 70 PCR 60 COLPOCITOLOGIA 50 PCR COLPOSCOPIA 40 CITO TOTAL COLP 30 TOTAL 20 10 0 CD4<200 CD4>200 TOTAL Figura 7: Comparação entre a detecção do HPV e a contagem de células T-CD4+ das pacientes. Na análise estatística dos exames positivos para o HPV, através do utilitário “StatCalc” do programa “EpiInfo”, obtivemos os seguintes resultados: Esta análise é apresentada na tabela 8. Tabela 8: Razão de prevalência do HPV segundo os resultados de PCR, colpocitologia e colposcopia, para o segmento com células T-CD4+ abaixo de 200/mm3 . MÉTODO DE DIAGNÓSTICO OR (ODDS-RATIO) RAZÃO DE PREVALÊNCIA INTERVALO DE CONFIANÇA A 95% P-VALOR PCR 13,22 7,88 2,30<RR<27,00 0,0006 COLPOCITOLOGIA 16,07 7,59 2,59<RR<21,43 0,00005 COLPOSCOPIA 68,60 9,45 4,02<RR<22,23 0,0000000 30 Através da análise pelo StatCalc, verifica-se que as pacientes com T-CD4+ menor que 200/mm3 têm, aproximadamente, 8 vezes mais chances de serem portadoras de HPV, segundo os resultados da PCR (risco relativo de 7,88). Este resultado é confirmado pela razão de prevalência obtida, analisando-se os resultados de colpocitologia (risco relativo de 7,59). Também, os resultados da colposcopia indicam ser o HPV em torno de 9 vezes mais freqüente no grupo mais imunodeprimido (risco relativo de 9,45). 31 5. DISCUSSÃO 5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS O encontro de 10 pacientes com HPV (14,2 %), através da PCR, situa-se dentro de ampla e variada faixa de achados da literatura mundial, que vão de 4,79%, com populações hígidas, a 98% em pacientes com neoplasia cervical invasiva. Alguns comentários sobre a metodologia empregada e a população estudada em nossa investigação parecem-nos ser importantes. Ao trabalharmos com os “primers” MY 09 e MY 11, devemos levar em conta que estas sondas amplificam uma significativa quantidade de tipos de HPV, mas não todos. (20 ) O segmento populacional estudado consistiu de pacientes portadoras de HIV que fazem, regularmente, acompanhamento clínico-laboratorial e terapêutico. Encontram-se sob controle tanto das intercorrências, como dos seus níveis de células T-CD4 +. Julgamos importante recente trabalho de Carrasco, que aponta para a diminuição da incidência do HPV nas pacientes que utilizam ou utilizaram drogas anti retro-virais. (22) A detecção do HPV na cérvice uterina das pacientes HIV positivas se fundamentou em quatro parâmetros – a PCR, a colpocitologia e a colposcopia (como métodos de diagnóstico) e o estado imunológico das pacientes, configurado na contagem de células CD4, (como medida da suscetibilidade destas ao HPV). Apesar de constituirem métodos e procedimentos diferentes, totalmente independentes e realizados em épocas e locais diferentes, observou-se significativa 32 uniformidade da positividade para o HPV, na PCR, colpocitologia e colposcopia, situando-se em média, em torno de 14, a positividade para o HPV pelos diferentes métodos. Os procedimentos da PCR, para detecção e seqüenciamento, foram realizados no Laboratório de Biologia Molecular da UFAM; os exames de colpocitologia foram efetuados na FMTAM, ao longo do corrente ano, e a colposcopia fez-se durante o exame clínico da paciente. Ao correlacionarmos os resultados com os níveis de células T-CD4+, observamos que os três métodos revelaram maior positividade no segmento mais imunologicamente comprometido, isto é, nas pacientes que apresentaram CD4 abaixo de 200. Estatisticamente, demonstrou-se que as pacientes com menor taxa de linfócitos T-CD4+ apresentaram risco 7 a 9 vezes maior de serem portadoras de HPV que as outras, HIV positivo, com CD4 acima de 200. Estes dados estão de acordo com a literatura mundial que aponta maior suscetibilidade à infecção pelo HPV nas pacientes com maior imunodepressão. 5.2 IMPORTÂNCIA DOS MÉTODOS DE DETECÇÃO DO HPV As técnicas clássicas para o diagnóstico do HPV na cérvice uterina compreendem o exame citológico e histopatológico em biópsias colposcopicamente orientadas para a coleta de área com aspecto anormal. As técnicas de biologia molecular, ainda não universalmente disponíveis, permitem comprovar com maior segurança os achados destes exames rotineiros. Além disso, permitem identificar o sorotipo de HPV, um aspecto fundamental para o prognóstico das pacientes, haja vista que alguns são potencialmente oncogênicos. Em nosso estudo houve concomitância dos indícios da presença do HPV pelos métodos tradicionais e a 33 PCR. Julgamos importante ressaltar que na sorotipagem detectou-se o HPV 16 em duas pacientes, confirmando os achados de Castro, que pesquisou HPV em pacientes da Fundação Cecon, em Manaus, onde também o HPV 16 foi prevalente. Como sabemos, este HPV é altamente oncogênico. (11) Na colpocitologia são observadas as alterações celulares benignas, tais como as reações inflamatórias, metaplasia escamosa e achados de flora microbiológica eventualmente presentes, como a colonização da mucosa por fungos, parasitos e bactérias. Embora todos estes aspectos tenham sido avaliados e considerados no tratamento ginecológico das pacientes pesquisadas, de acordo com os objetivos do presente trabalho, procuramos nos ater às alterações em células epiteliais, especialmente nas células escamosas, ou seja, aqueles que representam os efeitos citopáticos do HPV nestas células, sendo portanto, indicativos de sua presença na amostra estudada. A colposcopia revelou lesões associadas ao comprometimento pelo HPV em 19 pacientes, confirmando dados da literatura sobre a alta sensibilidade deste exame para as alterações induzidas pelo HPV, conferindo a este método um valor inquestionável para o diagnóstico presuntivo de papilomavirose do colo, ao lado do método mais custo-específico que é a colpocitologia. (5) Bastante ilustrativo da validade dos métodos acima aludidos é o da paciente protocolada sob número 25, pertencente ao grupo com AIDS, que já havia evoluído para carcinoma “in situ”: apresentou todas as evidências que estes métodos oferecem ao ginecologista para o diagnóstico. Os exames laboratoriais realizados rotineiramente e a sorotipagem do HPV são fundamentais para o acompanhamento destas pacientes – o diagnóstico precoce, como o que se verificou nesta doente 34 possibilitará a cura da neoplasia, evitando-se as graves conseqüências dos tumores invasivos. 35 6. CONCLUSÃO No presente trabalho verificou-se que: a) Os métodos diagnósticos presuntivos da presença do HPV na cérvice uterina comumente utilizados, a colpocitologia e a colposcopia, apresentaram resultados uniformes, confirmados em sua maioria, através da PCR. b) As doentes portadoras de HIV/AIDS, apresentando contagens de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200/mm3 são, significativamente, mais propensas à infecção pelo HPV. c) O sorotipo HPV-16, de alto potencial oncogênico, foi prevalente nas amostras positivas para o DNA-HPV, ressaltando a importância da identificação do sorotipo infectante na prevenção do câncer de colo uterino. Os resultados obtidos no presente trabalho, com demonstração de significativa incidência de HPV, inclusive com sorotipos altamente oncogênicos, sugerem que as pacientes HIV positivo ou com AIDS sejam rigorosamente acompanhadas pelo ginecologista. Sempre que possível, deve-se fazer a PCR e a sorotipagem nos casos com PCR positiva. 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 CONSENSO BRASILEIRO DE HPV. São Paulo: 1999. 2 BARRET, T. J.; SILBAR, J. D.; McGINLEY, J. Genital warts: a venereal disease. JAMA, 154:333. 1954. 3 CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Sexually transmitted diseases treatment guidelines. MMWR; 51 (RR-6). 2002. 4 CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Guidelines for treatment of sexually transmitted diseases. MMWR; 47 (RR-1). 1998. 5 GROSS, E. G.; BARRASSO, R. Infecção por Papilomavírus Humano – Atlas Clínico de HPV. Porto Alegre: Artmed, 1999. 6 CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Sexually transmitted diseases treatment guidelines. MMWR; 51 (RR-6). 2002. 7 NONNENMACHER, B. et al. Identificação do papilomavírus humano por biologia molecular em mulheres assintomáticas. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 36, n. 1, p. 95-100, fev. 2002. 8 SCHIFFMAN, M.H. et al. 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Para tal, permitirei a coleta do material endocervical, o qual será submetido ao teste colpocitológico e método PCR, (exame ginecológico conhecido como “preventivo”), não havendo necessidade de outros testes laboratoriais nem de hospitalização, visto que todos os procedimentos necessários serão realizados em apenas uma ocasião. Através dos resultados dos referidos testes será feita uma avaliação das mulheres desses grupos que são portadoras de algum tipo de HPV, resultados estes os quais terei o direito de conhecer, sendo-me notificada qualquer informação julgada importante. Como participante do grupo terei a oportunidade de ser beneficiada com o exame citológico e/ou colpocitológico, que é de suma importância para o acompanhamento da saúde da mulher. Reservo-me ainda, ao direito de deixar de participar do grupo investigado a qualquer momento, sem que isto incorra para mim prejuízos de qualquer natureza. Tenho ciência de que os registros e/ou resultados do estudo em questão serão divulgados ao meio científico e autoridades de saúde pública, para que se busquem soluções em prol da saúde da população. 41 Deixo registrados alguns dados referentes à minha saúde e condições de vida, constantes de questionário que ficará de posse da equipe investigadora, sendo que as declarações que faço são de caráter confidencial, e como tal serão mantidas em sigilo, bem como minha identidade. Caso haja necessidade de contatar-me, ligar para o telefone ______________________. Após ter recebido todas as informações acima citadas, de maneira clara, concordo com minha participação no estudo". Nome da paciente Assinatura da paciente Data Nome do pesquisador Assinatura do pesquisador Data 42 ANEXO B - FICHA DE ATENDIMENTO “DETECÇÃO DO PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) NA CÉRVICE UTERINA DE MULHERES SOROPOSITIVAS PARA O VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV) ATENDIDAS NA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DO AMAZONAS” DADOS CLÍNICOS DE PARTICIPANTE DO PROJETO NOME:_________________________________________________________ N° DO PRONTUÁRIO:______________IDADE_______TEL:_______________ ENDEREÇO: ____________________________________________________ HIV +:___/___/___ ÚLTIMO CD4:___/___/___ VALOR__________________ INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS:_____________________________________ ÚLTIMA MENSTRUAÇÃO:___/____/____COLPOCITOLOGIA:____/____/____ DADOS DE EXAME GINECOLÓGICO:________________________________ _______________________________________________________________ COLPOSCOPIA:__________________________________________________ PESQUISA DE HPV:____/____/____ RESULTADO: ___ SUBTIPO: ________ OBSERVAÇÕES: