UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FORMAÇÃO DE TRADUTORES ANDRÉ DA SILVA RODRIGUES MORAES ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE TRADUÇÃO DO ARTIGO: POUR UNE THÉORIE DE LA TRADUCTION INSPIRÉE DE SA PRATIQUE, DE DANICA SELESKOVITCH. Fortaleza - Ceará 2013 ANDRÉ DA SILVA RODRIGUES MORAES ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE TRADUÇÃO DO ARTIGO: POUR UNE THÉORIE DE LA TRADUCTION INSPIRÉE DE SA PRATIQUE, DE DANICA SELESKOVITCH. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Formação de Tradutores, do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará – UECE, como requisito para obtenção do título de especialista. Orientadora: Prof.ª. Ms. Maria da Salete Nunes Fortaleza - Ceará 2013 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central CENTRO DE HUMANIDADES Bibliotecário Responsável – Dóris Day Eliano França – CRB-3/726 M827a Moraes, André da Silva Rodrigues. Análise das estratégias de tradução do artigo: Pour une théorie de La traduction inspirée de sa pratique, de Danica Seleskovitch / André da Silva Rodrigues Moraes. – 2013. CD-ROM. 66 f. ; il. (algumas color.) : 4 ¾ pol. “CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm)”. Monografia (Especialização) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades, Curso de Especialização em Formação de Tradutores, Fortaleza, 2013. Orientação: Profª. Ms. Maria da Salete Nunes. 1. Tradução. 2. Estratégias de tradução. 3. Chesterman. 4. Dificuldades de tradução. I. Título. CDD: 418.02 Desejo que você Não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la. Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes. Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo. Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigála. Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência. Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina, Pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas. Seja um debatedor de ideias. Lute pelo que você ama. Augusto Cury AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu determinação, paciência e força de vontade para concluir este trabalho. Agradeço aos meus pais, Silene e Raimundo, pela minha casa recém construída, pelo amor, pela oportunidade e pelo interesse imenso e constante na minha educação. Agradeço em especial a minha esposa Marcela, que sempre me impulsionou para realização deste trabalho e não deixou de acreditar no meu potencial. Agradeço à minha orientadora, prof a. Salete Nunes, pelos livros, pelas dicas, pelas aulas, pelos telefonemas, e-mails, e pela mão amiga. E mesmo não sendo “do francês” decidiu acolher meu desafio. Agradeço aos amigos: Ernane Silva, pela amizade, pelas dicas e pela companhia no curso de formação de tradutores. Richardson, Erika e Gilberto Jr, pelas conversas, amizade e por mostrarem preocupação com a minha pessoa. Rômulo Reis e Márcia Maria, meus comandantes na Guarda Municipal de Fortaleza, por terem me liberado alguns dias para a realização desta obra. Aos professores que passaram pela minha vida acadêmica, graduação e especialização, do curso de Letras na UECE e do Curso de Formação de Tradutores. E agradeço aos membros da banca examinadora, por terem aceitado o convite e pelo carinho na leitura deste trabalho. RESUMO Este trabalho apresenta um relato do processo tradutório do artigo científico de Danica Seleskovitch, “Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique”, da língua francesa para a língua portuguesa. Trata-se, então, de um artigo que explora o assunto tradução com uma discussão sobre teoria e pratica. Faz-se, inicialmente, um apanhado teórico dos estudos da tradução, com o foco nas definições de tradução, estratégias de tradução e gênero artigo científico. Após esse momento, delineiam-se algumas dificuldades de tradução e alguns recursos tradutórios para facilitar o processo de tradução. Juntamente com o novo texto, articula-se uma análise do processo tradutório e dos resultados com base em algumas estratégias. Para a identificação das estratégias de tradução utilizadas no texto, adotou-se a classificação proposta por Chesterman (1997). Através do uso de dicionários eletrônicos e físicos tanto bilíngues quanto monolíngues, dicionários de sinônimos e tradutores automáticos, foi desenvolvida a tradução. Concluímos que todas as análises foram pertinentes e que foram encontradas várias estratégias que se aplicaram ao processo, enquanto outras não foram contempladas. É destinado para as últimas seções deste trabalho considerações sobre a teoria utilizada e sobre os resultados gerais e específicos que foram obtidos. Palavras-chave: Tradução, estratégias de tradução, Chesterman, dificuldades de tradução. RÉSUMÉ Ce travail présente un compte du processus de traduction de l'article scientifique de Danica Seleskovitch, "Pour Une théorie de la traduction Inspirée sa pratique", de la langue française pour la langue portugaise. Il s'agit d'un article qui explore le sujet de traduction sur la théorie et la pratique. C'est d'abord un aperçu des études théoriques de traduction avec un accent sur les définitions de la traduction, les stratégies de traduction et le genre de l'article scientifique. Après cela, sont délimitées certaines difficultés de traduction et certaines ressources de traduction pour faciliter le processus. Avec le nouveau texte, on articule une analyse du processus de traduction et des résultats basés en quelques stratégies. Pour l'identification des stratégies de traduction utilisées dans ce texte, nous avons adopté la classification proposée par Chesterman (1997). Grâce à l'utilisation de dictionnaires à la fois physiques et électroniques, bilingue et monolingue et traducteurs automatique, la traduction a été développée. Nous avons conclu que toutes les analyses sont pertinentes et qui ont été trouvées plusieurs stratégies qui sont appliquées au processus tandis que d'autres n'avait pas été envisagées. Il est destiné aux dernières sections de ce travail les considérations sur la théorie utilisée et les résultats généraux et spécifiques qui ont été obtenus. Mots-clés: Traduction, stratégies de traduction, Chesterman, difficultés de traduction. SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES INICIAIS___________________________________________12 1.1. Definindo tradução____________________________________________12 1.2. Estratégias de tradução________________________________________14 1.3. O gênero artigo científico e sua tradução _________________________18 1.4. Problemas tradutórios_________________________________________21 2. METODOLOGIA__________________________________________________24 2.1. A tradução do artigo__________________________________________24 2.2. Ferramentas e procedimentos para a tradução____________________25 2.3. Procedimentos de análise de corpus____________________________26 3. ANÁLISE_______________________________________________________27 CONSIDERAÇÕES FINAIS __________________________________________42 REFERÊNCIAS____________________________________________________46 ANEXOS _________________________________________________________49 Anexo I – Texto original_____________________________________________50 Anexo II – texto traduzido___________________________________________59 10 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A intenção de realizar este trabalho de tradução surgiu na disciplina de Tradução de Textos Orais III – Aspectos Teóricos da Interpretação, ministrada pelo prof. Lourival Novais Neto, no Curso de Especialização em Formação de Tradutores – Turma 2. Nessa disciplina tivemos várias atividades de tradução e interpretação, mas uma em particular despertou mais interesse, porque seria publicada. Diante disso, senti uma grande responsabilidade de desenvolver este trabalho de maneira a se aproximar o máximo de uma tradução ‘fiel’ e que chegasse ao receptor da forma mais natural e compreensível possível. Por ser o artigo científico um gênero textual de grande relevância no meio acadêmico, percebi a necessidade de um maior empenho nesta tarefa, sabendo que provavelmente este material seria utilizado por outros profissionais de tradução, especialistas e professores. Foi selecionado um artigo cientifico que versava sobre o assunto de teorias de tradução. Era um artigo em francês da pesquisadora Danica Seleskovitch que se chama Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique (Por uma teoria da tradução inspirada em sua prática). A tradução foi realizada e apresentada para o prof. Lourival para sua apreciação e posterior publicação. Desde então, esta tarefa aparentemente tão simples como um “dever de casa” se tornou um particular trabalho de tradução. Então, despertou o interesse em utilizá-lo, discorrendo sobre estratégias e observando as dificuldades encontradas ao longo do processo tradutório para serem expostas e analisadas nesta investigação. Para o embasamento teórico deste trabalho, foram feitas várias leituras de diversos autores e teóricos do campo da tradução que ajudaram a desenvolver a pesquisa de forma mais segura e fundamentada. Podemos citar os principais autores, a saber: Chesterman (1997), Lefevere (2007), Toury (1995), Pagano (2000), Arrojo (2007), dentre outros. Chesterman teve vital importância para facilitar a caminhada no processo tradutório com suas estratégias de tradução. 11 Não podemos deixar de citar a autora do artigo em questão no nosso trabalho, a pesquisadora Danica Seleskovitch, que desenvolve brilhantemente o tema “La théorie du sens”. Diante do exposto, objetivamos analisar as estratégias de tradução do artigo científico “Por uma teoria da tradução inspirada em sua prática” com base nas estratégias propostas por Chesterman (1997) e mais especificamente relatar o processo tradutório a partir das estratégias utilizadas e das dificuldades vividas na tradução do artigo. Este trabalho está dividido em 3 (três) capítulos. No primeiro, consta a fundamentação teórica, no segundo, a metodologia e no terceiro a análise da tradução interlingual do artigo em questão. No primeiro capítulo fazemos certas considerações a respeito de alguns pontos pertinentes para um melhor desenvolvimento deste trabalho. Iniciamos discorrendo sobre os conceitos de tradução na visão de vários teóricos da área. Em seguida, decidimos falar sobre as estratégias de tradução e citamos alguns teóricos de referência, principalmente Chesterman (1997) com seu esquema de estratégias tradutórias. Logo após, apresentamos o tópico que aborda o tema de gênero do artigo científico, no qual realizamos considerações e abordamos conceitos de autores que trabalham com o tema gêneros textuais. Já no segundo capítulo tratamos da metodologia deste trabalho. Aqui traçamos o passo a passo da pesquisa, como foi desenvolvida a tradução do texto de partida para o texto de chegada e as análises de acordo com as estratégias de tradução propostas por Chesterman (1997). Também citamos algumas alternativas para solucionar certas dificuldades referentes ao processo tradutório. No terceiro capítulo falamos da análise propriamente dita. Colocamos os trechos do texto de partida e do texto de chegada em paralelo dentro de uma tabela um do lado do outro para que pudéssemos ter uma melhor visualização da tradução e sua respectiva estratégia encontrada no termo ou frase em destaque. Cada tabela com seu respectivo comentário imediatamente abaixo. Logo após, concluímos com as considerações finais, manifestando nossas apreciações sobre o trabalho desenvolvido. 12 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1. Definindo tradução Ao longo da história, diversos teóricos trataram da definição do verbo “traduzir”, na busca de compreensão do processo tradutório. No entanto, foi no século XX que, segundo Barbosa (2007), os estudos científicos foram de suma importância para lançar outras visões sobre o tema, graças ao status a que foi elevada a tradução e o reconhecimento da atividade tradutória. Podemos mencionar algumas considerações feitas sobre o assunto a partir das ideias de Catford (1965) e Nida (1964), que para explicar sobre tradução serviram-se da linguística. O primeiro buscou na teoria linguística as bases para sistematização da tradução e o segundo fez uso instrumental da linguística para solucionar questões de tradução. Para Catford (1965/1980, p.27-31), tradução é “substituição de material textual numa língua (Língua Fonte), por outro material textual equivalente noutra língua (Língua Alvo)”. Assim, ele procura detectar “probabilidades linguísticas” a fim de desenvolver “regras de tradução” o que, conforme Rodrigues (2000) dificulta, por ser muito limitado, diversas das alternativas de tradução existentes na LA para um termo (palavra) ou expressão. Conforme comenta Barbosa (2007), para Nida, o conceito de tradução “é a produção de mensagens equivalentes (não iguais)”, levando em consideração três aspectos básicos: a natureza da mensagem; o objetivo do autor e, consequentemente, do tradutor; e qual o público visado pelo texto de partida e pela tradução. Começando deste ponto é feita a tradução, procurando desenvolver um maior número de equivalências possíveis entre as duas mensagens. O autor distingue dois tipos de equivalência: A “equivalência formal”, pautada no conteúdo e na forma do texto da língua-fonte (LF), e a “equivalência dinâmica” cujo propósito é alcançar um alto nível de naturalidade no texto na língua-alvo (LA), causando no leitor do texto traduzido o mesmo resultado que produziu o texto de partida no seu leitor. 13 Outro autor que se ocupou da compreensão e definição do traduzir foi Jakobson (1975/1995), que expandiu o conceito para englobar três modalidades de tradução: Interlingual => interpretação dos signos verbais por meio de outra língua, é uma adaptação sinonímia; Intralingual ou reformulação (rewording) => interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua Intersemiótica ou transmutação => interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais. Para Jakobson, no nível da tradução interlingual, não há comumente equivalência completa entre as unidades de código, ao passo que as mensagens podem servir como interpretações adequadas das unidades de código ou mensagens estrangeiras [...]. Mais frequentemente, entretanto, ao traduzir de uma língua para outra, substituem-se mensagens em uma das línguas, não por unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é uma forma de discurso indireto: o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes (1975, p. 65). De acordo com Arrojo (2007), a tradução não deve se restringir simplesmente ao transporte ou transferência de significados estáveis de uma língua para outra, uma vez que, ao ser traduzido, o texto passa a ter existência em outra situação, onde deverá ter vida própria. Devemos visualizar a tradução como uma atividade bastante ampla que, além de buscar palavras e termos, deve procurar compreender e levar em consideração os fatores como: o momento histórico, cultural e geográfico em que apareceu o texto, para que ele seja inteligível ao leitor da LA. Conforme explica Bassnet (2003), o processo tradutório, não somente dos recursos dos dicionários e das gramáticas, compreende um amplo conjunto de parâmetros extralinguísticos, que transcendem a simples tradução do “sentido” contido num grupo de signos linguísticos para outro grupo de signos linguísticos. Autores como Gideon Toury e André Lefevere assumem um papel de 14 destaque no desenvolvimento dos estudos descritivos da tradução. Toury compreende que os estudos da tradução devem se direcionar com a finalidade de descobrir a maneira pela qual as traduções se moldam para satisfazer os objetivos do polo receptor, e como as funções que devem preencher influenciam sua produção. A tradução almeja a transformação de um texto na língua de partida num texto equivalente na língua de chegada, considerando o seu conteúdo sintático, semântico e pragmático. Dessa maneira, passamos a considerar a cultura de chegada, para se observar por que causa, segundo Vieira (1996), certa tradução foi transformada (modificada), se por motivação da cultura ou do próprio tradutor, e quais os efeitos dessa tradução. Lefevere (2007) também considera algumas dessas concepções, como a análise do polo receptor, e acrescenta as noções de poder e de reescrita a um determinado texto-fonte. Dessa forma, o autor define a tradução como uma ré escritura, submetida ao mesmo gênero de coerções que a escritura: A relação entre as duas seria até mesmo responsável pelo status de certos autores, pela rejeição de outros e pelas mutações pelas quais passa uma literatura na medida em que a tradução pode contribuir para que siga certos caminhos. Assim, o estudo da ré escritura assume especial relevância para que se possa, por exemplo, saber quem promove a ré escritura, por que, como e para quem. Embora os estudos de Lefevere e de Toury tenham sido desenvolvidos com referência à tradução de textos literários, podemos utilizar muitos de seus princípios na área de tradução de outros tipos de texto. 1.2. Estratégias de tradução O processo de tradução compreende escolhas de elementos linguísticos na língua do texto-alvo que possuam equivalência com a significação do texto de partida, sendo que essas escolhas busquem a ressignificação dos sentidos. Como cada língua manifesta a realidade de modo diferente, cabe ao profissional de tradução a responsabilidade de passar a mensagem da língua de partida para a língua de chegada, sendo o receptor e leitor do texto de partida e o emissor e escritor do texto de chegada. No decorrer deste processo, o tradutor, às vezes de forma inconsciente, se vale da utilização de estratégias para solucionar os 15 problemas e as dificuldades e chegar a um bom produto, ou seja, escrever um texto com boa legibilidade na língua de chegada e passar com naturalidade as ideias do texto de partida. Vale ressaltar a importância da utilização de taxonomias na busca pela formalização da nomenclatura para denominar e estabelecer as estratégias, técnicas, métodos, abordagens de tradução. VINAY E DALBERNET, citados por FAWCETT (1997, p. 36-40), definem algumas técnicas: Tradução Literal, que ocorre quando um texto vai de uma língua para outra sem mudanças, exceto aquelas necessárias para corresponder à gramática da língua alvo. Para eles, quando a tradução literal confere outro sentido, parece não ter sentido, é estruturalmente impossível, não corresponde a nada na metalinguística da língua alvo, tem correspondência com a língua alvo, mas não no mesmo nível, as seguintes técnicas são usadas: Transposição, devido a mudanças gramaticais; Modulação, variação na mensagem por mudança de ponto de vista; Equivalência, tradução de idiomas quando duas línguas referem-se à mesma situação de maneira totalmente diferente; Adaptação, quando a cultura receptora tem pouco ou nada em sua experiência que permitiria o entendimento. Nida, citado por ALBIR & MOLINA (2002, p.502), apresenta outras estratégias, por exemplo: Adição, para esclarecer uma expressão elíptica, para evitar ambiguidade na língua alvo e para modificar uma categoria gramatical; Subtração, para repetições desnecessárias, referências especificadas, conjunções e advérbios; Alteração, para incompatibilidades entre duas línguas. Observamos, então, com o exemplo dos autores acima citados, que a taxonomia tem sua relevância para classificar cada estratégia possivelmente utilizada pelo tradutor. Assim, para que possamos desenvolver uma boa tradução é necessário pensar e trabalhar com algumas técnicas, estratégias e saber dominar e empregar a taxonomia que for utilizada. Nos Estudos da Tradução, Chesterman (1997) aponta que significados não são mais vistos segundo uma visão tradicional e convencional, como sendo algo objetivo, estável, que existe fora de um determinado contexto. Os significados em contexto de tradução são, na 16 verdade, mutáveis, apresentam deslizes, nunca são originais, são sempre relativos. Chesterman (1997) apresenta duas classes de estratégias como sendo principais: “estratégias de redução”, que mudam ou reduzem a mensagem de alguma forma, e “estratégias de realização”, que buscam preservar a mensagem mudando o meio, tal como o uso de paráfrase, aproximação, reestruturação, etc. O teórico tende a favorecer um tipo de estratégia de tradução que proporciona maior liberdade para a produção de uma tradução, reduzindo informações ou utilizando outra estratégia (parafraseando, reestruturando, etc.) para chegar a um texto-alvo que comunique a mensagem de maneira satisfatória. O autor ainda diz que (1997, p. 92), estratégia “[...] é um processo que oferece uma solução para um problema de tradução através de manipulação textual explícita”. A seguir, apresentamos a taxonomia de estratégias de tradução de Chesterman (ibid., p. 92-93) utilizada neste trabalho, dividida em três grupos distintos: Estratégias Sintáticas G1: Tradução Literal G2: Empréstimo, Calque G3: Transposição G4: Deslocamento de Unidade G5: Mudança Estrutural da Frase G6: Mudança Estrutural da Oração G7: Mudança Estrutural de Período G8: Mudança de Coesão O mais próximo possível da estrutura gramatical do texto de partida. Escolha deliberada e consciente. Qualquer mudança de classe de palavra, de substantivo para verbo, de adjetivo para advérbio. Uma unidade do texto de partida (morfema, palavra, frase, oração, sentença, parágrafo) traduzida como uma unidade diferente no texto de chegada. Uma série de mudanças no nível da frase, incluindo número, exatidão e modificação na oração substantiva, pessoa, tempo e modo verbal. Mudanças na estrutura da oração em si, tratando de suas frases constituintes. Está relacionada à estrutura da unidade da sentença. Está relacionada à referência intratextual, elipse, substituição, pronominalização e repetição ou o uso de conectores de vários tipos. 17 G9: Deslocamento de Nível G10: Mudança de Esquema Estratégias Semânticas S1: Sinonímia S2: Antonímia S3: Hiponímia S4: Conversão S5: Mudança de Abstração S6: Mudança de Distribuição S7: Mudança de Ênfase S8: Paráfrase S9: Mudança de Tropos S10: Outras Mudanças Semânticas O modo de expressão de um determinado item muda de um nível (fonológico, morfológico, sintático e lexical) para outro. Tipos de mudanças que tradutores incorporam na tradução de esquemas retóricos, tais como paralelismo, repetição, aliteração, ritmo, métrica, etc. Seleciona não o equivalente óbvio, mas um sinônimo ou um termo „quasesinônimo‟. O tradutor seleciona um antônimo e o combina com um elemento de negação. Mudanças na relação hiponímica. Pares de estruturas (geralmente) verbais que expressam a mesma ideia, mas de pontos de vista opostos, tal como „comprar‟ e „vender‟. Uma seleção de nível de abstração diferente, podendo variar de abstrato para mais concreto ou de concreto para mais abstrato. Mudança na distribuição dos „mesmos‟ componentes semânticos para mais itens (expansão) ou menos itens (compressão). Acrescenta, reduz ou altera a ênfase ou foco temático, por uma razão qualquer. Resulta em uma versão do texto de chegada que pode ser descrita como distante do texto de partida, em alguns casos até sem tradução. Componentes semânticos no nível do lexema tendem a ser ignorados, favorecendo a ideia pragmática de alguma outra unidade, como por exemplo, uma oração inteira. Tradução de tropos retóricos (ex. expressões figurativas). Incluindo outras modulações de vários tipos, tais como a mudança de sentido (físico) ou direção dêitica. 18 Estratégias Pragmáticas Pr1: Filtro Cultural Pr2: Mudança de Explicitação Pr3: Mudança de Informação Pr4: Mudança Interpessoal Pr5: Mudança de Elocução Pr6: Mudança de Coerência Pr7: Tradução Parcial Pr8: Mudança de Visibilidade Pr9: Reedição Pr10: Outras Mudanças Pragmáticas 1.3. Também tratada como naturalização, domesticação ou adaptação. Mais direcionada à informação explícita, ou mais direcionada à informação implícita. Adição de nova informação considerada relevante ao texto de chegada, mas que não está presente no texto original ou a omissão de informações presentes no texto original consideradas irrelevantes. Altera o nível de formalidade, o grau de emotividade e envolvimento, o nível de léxico técnico e assim por diante; o que quer que envolva mudança na relação entre texto/autor e o leitor. Ligada a outras estratégias: mudança do modo verbal do indicativo para o imperativo, mudança de afirmação para pedido. Organização lógica da informação no texto, no nível ideacional. Qualquer tipo de tradução parcial, tais como tradução resumida, transcrição, tradução apenas de sons e assim por diante. Mudança na presença de autoria; ou a inclusão evidente ou em primeiro plano da presença tradutória. Por exemplo, notas de rodapé do tradutor, comentários entre chaves ou comentários adicionais explícitos. A reedição às vezes radical que tradutores precisam fazer com relação a textos originais mal escritos. Mudanças no layout do texto, por exemplo, ou na escolha dialetal. O gênero artigo científico e sua tradução Para traduzir bem um texto, ou mesmo analisar qualquer tradução, é importante conhecer o gênero textual a que pertencem, bem como saber quais são as sequências discursivas mais pertinentes em dado gênero. Tais conhecimentos nos auxiliam no plano estrutural, semântico e sintático de 19 determinado texto, facilitando o trabalho do leitor-tradutor e, assim, a compreensão do leitor a quem está dirigido tal texto. Segundo Bakhtin (1979, p. 280), os gêneros textuais são: [...] tipos relativamente estáveis de enunciados, marcados sóciohistoricamente, que estão direcionados às diferentes situações sociais, e que, por isso, apresentam urna grande variedade, incluindo desde o diálogo oral cotidiano a uma tese de doutoramento. Apresentam conteúdos, propriedades -funcionais, estilo e composição características. Já Marcuschi (2002, p. 19) os caracteriza corno: [...] eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos. Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. Como se percebe, os gêneros textuais são produtos de necessidades históricas e acontecem nas mais diversas situações do cotidiano. Abrangem contextos de fala oral e escrita e possuem composições diferentes, segundo o seu suporte, seu conteúdo, seu destinatário e, principalmente, segundo a sua função dentro da sociedade. De acordo com os autores Lakatos e Marconi (1996), o texto científico, neste caso o artigo científico, deve levar em consideração algumas regras: “Os trabalhos científicos devem ser elaborados de acordo com normas préestabelecidas e com fins a que se destinam. Serem inéditos ou originais e contribuírem não só para a ampliação de conhecimentos ou a compreensão de certos problemas, mas também servirem de modelo ou oferecem subsídios para outros trabalhos”. Nessa perspectiva, Leibruder (2002) assevera que os textos de divulgação científica estão fundamentados nas convenções linguísticas próprias ao texto científico, como por exemplo: o emprego de uma linguagem objetiva, concisa e formal; o padrão lexical (nominalizações, vocabulário técnico e emprego de verbos na 3ª pessoa do singular, acrescido da partícula “se” índice de indeterminação do sujeito), ou na lª pessoa do plural (sujeito universal, ocasionando o apagamento do sujeito). De maneira similar, os artigos científicos 20 apresentariam essas características também. Ainda classificados com como Leibruder, mecanismos esses índices de argumentativos, impessoalidade pretendendo são provar a veracidade e legitimidade do discurso proferido, como também uma forma de afastamento do “eu” e de neutralidade, resultando em uma espécie de indiscutibilidade do discurso proferido. Porém é errônea essa impressão de neutralidade passada no discurso científico, pois a escolha do tema e a maneira como o texto será estruturado já evidencia a existência de um sujeito do discurso. Deste modo, para a construção da discursividade, a subjetividade é um fator imprescindível. Benveniste (1991) define subjetividade como a “capacidade do locutor em se propor como sujeito”. Esse “se propor como sujeito” não significa que o autor do texto o desenvolverá sem cumprir padrões ou regras típicas desse ato, mas que cabe a ele a escolha do tema sobre o qual escreverá ou os autores que fundamentarão seu texto, etc. Essa subjetividade será apresentada nos artigos científicos através de dois aspectos relevantes: as modalizações e as citações. As modalizações são as avaliações elaboradas sobre alguns aspectos do conteúdo temático. Elas corroboram para o estabelecimento de sua coerência pragmática ou interativa e para conduzir o destinatário na interpretação de seu conteúdo temático (Bronckart, 1999). As modalizações são realizadas por partes, unidades ou conjuntos de unidades linguísticas denominadas de modalidades. As modalidades seriam representadas por tempos do verbo no futuro do pretérito, sendo os auxiliares de modalizações (poder, querer, ser necessário, ser preciso, dever, etc.), subconjunto de advérbios (certamente, sem dúvida, talvez, etc.), algumas fra ses impessoais (é evidente que..., é possível que...), etc. Já as citações são uma forma “disfarçada” de expor a subjetividade do autor e garantir a cientificidade de seu texto; já que, num texto científico não se deve, pelo menos superficialmente, ser subjetivo. Em se tratando de tradução de artigo científico, o tradutor deve analisar bem a sua escolha, para que o conteúdo do texto de chegada tenha o mesmo 21 sentido do texto de partida, visto que as informações de um artigo são bastante importantes por se tratar de um estudo cientifico embasado e referenciado. Pode ser o portão de entrada para adquirir ou ampliar conhecimentos. Devemos salientar a importância da questão dos termos técnicos nos artigos científicos que podem ser dos mais variados campos do conhecimento. No caso, temos um artigo cientifico que versa sobre o assunto de tradução. Sobre a importância da tradução técnica, Paulo Rónai (1952 apud OTTONI, 2005, p. 116) afirma: Em regra geral o nível de tradução técnica é mais elevado do que o da literária, pelo menos no que diz respeito a fidelidade. Um erro na versão de uma peça de Shakespeare, quando muito, indignará um critico; mas na de uma bula de remédio ou de um formulário de materiais de construção pode ter consequências imprevisíveis. Outro fator a ser analisado é o uso da linguagem formal. Em sua grande maioria os textos da área de divulgação de conhecimentos científicos se utilizam deste tipo de linguagem. A formalidade do texto é de suma importância para dar maior credibilidade ao que foi escrito e para a adequação ao públicoalvo: comunidade acadêmica ou cientifica da língua meta. 1.4. Problemas tradutórios Os autores Faerch e Kasper (1983, p.30-36) evidenciam que problema seria uma insuficiência de conhecimento, momentâneo ou não, que dificulta o sujeito de atingir determinado fim comunicativo. Partindo desta concepção, Corrêa e Neiva (2000, p.36) afirmam ser possível reconhecer um problema tradutório no momento que ocorre uma interrupção do “fluxo tradutório” Contudo, as autoras explicitam que o problema tradutório não é apenas proveniente de uma insuficiência de conhecimento, mas também de uma insuficiência de meios para escolher a melhor alternativa para determinado segmento textual. (CORRÊA E NEIVA, 2000 p.36). E, ainda, conforme as autoras o processo tradutório possui três momentos específicos: o da leitura (orientação) 22 (1), o da busca por equivalentes (redação) (2) e o de refinamento textual (revisão) (3). O primeiro momento é aquele em que o tradutor interpreta o texto (tradutor leitor), no segundo existe uma procura dos equivalentes semânticos, pragmáticos, socioculturais e, por vezes, formais do TLT (texto língua de chegada) para o TLO (texto língua de origem) (tradutor-escrevente), e o último momento é aquele no qual, tendo produzido uma primeira tradução do texto de chegada, o profissional refina seu trabalho para que se aproxime mais de um texto produzido originalmente na língua de tradução (LT) e que produza ao público-alvo os resultados desejados. Assim, os problemas de tradução, segundo Corrêa e Neiva (2000), podem ocorrer durante esses três momentos da tradução. Fazendo referencia a dificuldades do processo tradutório e às estratégias tradutórias para solucionálos, Pagano afirma que: Estabelecendo uma analogia com outras áreas da linguística aplicada, como ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, podemos dizer que, assim como existem estratégias de aprendizagem que o aprendiz bem-sucedido de línguas estrangeiras utiliza, também existem estratégias de tradução que o tradutor experiente utiliza para atingir suas metas e produzir um texto traduzido bem sucedido. (PAGANO, 2000, p.19-20) Nesse pequeno fragmento de texto, Pagano relaciona as estratégias às metas do tradutor e ao atingir estas metas o tradutor alcançaria o “sucesso”. Portanto, entende-se que diferentes metas demandam do tradutor uma boa variedade de estratégias. Motivo pelo qual, antes de requisitar ao tradutor, durante a pesquisa, para traduzir, faz-se necessário designar os objetivos e algumas características, a saber: prazo para entrega, meio em que será entregue (digital ou físico), lugar onde será publicada a tradução. Diferentes objetivos poderiam gerar diferentes estratégias. Deve-se salientar ainda que Pagano (2000) faz uma comparação entre o “aprendiz bem-sucedido” e o “tradutor experiente”. De acordo com a autora, o “aprendiz bem-sucedido” adotaria estratégias de aprendizagem, enquanto o tradutor experiente usaria estratégias de tradução. 23 Atualmente, no mercado de tradução, existem grandes exigências de que o tradutor tenha “eficiência” e “eficácia”. Baseando-nos no dicionário eletrônico Houaiss (2007), eficaz tem uma correlação ao “como” fazer, enquanto que a eficiência teria ligação a “o que fazer”. Consequentemente, eficaz seria o tradutor que realiza a tradução através dos percursos menos tortuosos. E o tradutor eficiente seria aquele que alcança uma tradução que atinge os objetivos comunicativos daquele texto. 24 2. METODOLOGIA Iremos desenvolver neste capítulo os tópicos pertinentes à tradução, análise do processo de tradução e estratégias encontradas ao analisar os trechos escolhidos. Abordaremos primeiramente o corpus de estudo que é o texto traduzido, no qual fizemos algumas considerações sobre tradução literal e livre. Em seguida, trataremos das ferramentas e procedimentos para a tradução. Quais os recursos que foram utilizados e como foram usados. E por último o tópico que versa sobre os procedimentos para a análise do corpus. 2.1. A tradução do artigo Ao iniciar a tradução do artigo, que desenvolve também o assunto de tradução, não poderia deixar de pensar em uma indagação: Qual seria a tradução mais adequada para este artigo? Uma tradução mais literal ao texto ou uma mais voltada para os sentidos das frases? Se escolhêssemos a primeira, traduziríamos todas as frases de uma forma bem rígida e automática, segundo a logica e a gramática. Já se optássemos pela segunda alternativa, poderíamos dar a nossa tradução um ar mais peculiar e leveza, com o uso de frases especialmente relacionadas com as leituras modernas. Analisando desta forma, e tendo em vista que se trata de um artigo científico, seria mais interessante prezar por uma tradução que conservasse todas as características formais e se aproximasse ao máximo do texto de partida. Assim sendo, a escolha mais pertinente foi adequar o texto traduzido ao público-alvo e também, quando possível, aprimorar a tradução de forma que ela parecesse mais natural no idioma de chegada e expressar o que outrora foi dito no texto de partida. De acordo com o filosofo Jaques Derrida (1985 apud ARROJO, 2002, p. 42) traduzir é fazer “[...] uma transformação: uma transformação de uma língua em outra, de um texto em outro.” Desta maneira, então, podemos inferir que o perfil de um tradutor ideal seria aquele que conseguisse mesclar os dois tipos de 25 tradutores descritos acima. Não se pode pensar nem em uma tradução literal, nem em uma tradução livre. O imprescindível é que possamos traduzir de forma a ser o mais equivalente, se aproximando o máximo possível do texto de partida, procedimento que não impede a possibilidade de adequar os sentidos das frases, sempre que necessário. E assim, empregar determinados termos e/ou estruturas à língua de chegada, para que possamos chegar o mais próximo de uma fidelidade e ao mesmo tempo natural. Então optamos por uma tradução eclética para que pudéssemos utilizar os pontos positivos da tradução livre e da literal. 2.2. Ferramentas e procedimentos para a tradução Para a realização deste trabalho foram utilizados diversos recursos e ferramentas de tradução, tanto físicas quanto virtuais. Dentre aquelas que são físicas, palpáveis, temos vários dicionários, tanto da língua portuguesa como dicionários da língua francesa que foram incessantemente utilizados para esta pesquisa. Recorremos a outros trabalhos da autora do texto, Danica Seleskovicht, e diversas pesquisas e artigos sobre o tema. Visitamos alguns sites especializados que discorressem sobre o tema de tradução e outras considerações. O texto que constitui o corpus deste trabalho atende aos aspectos formais de seu gênero, pois é um artigo científico, está publicado em revista científica da área, é escrito por uma especialista da linguagem e está disponível on-line. Retornando ao campo metodológico que nos proporcionou todo o embasamento para o melhor desenvolvimento deste trabalho, podemos dizer que todos os recursos foram importantes. Devemos salientar que os dicionários foram imprescindíveis para execução deste trabalho. Vale salientar uma ferramenta de tradução que atualmente se torna indissociável de qualquer profissional da área de tradução, os tradutores automáticos e as memórias de tradução. Estes estão ganhando ainda mais força no mercado de tradução, por estarem, a cada tradução, se aperfeiçoando e 26 aumentando sua memória de tradução, por exemplo, Wordfast e trados. Podemos citar exemplos de tradutores automáticos encontrados na internet, como o Google toolkit, Babelfish e afins. Utilizamos para desenvolver a tradução do artigo científico a ferramenta de tradução encontrada no site de busca Google, o famoso Google toolkit. Este recurso nos proporcionou uma visualização lado a lado dos textos, do lado esquerdo o texto de partida e do lado direito a tradução automática oferecida pelo programa, com a possibilidade de podermos editá-la e depois salvá-la. É importante citar que todo o trabalho de revisão foi feito pelo autor deste trabalho. 2.3 Procedimentos de análise de corpus As análises de tradução com suas respectivas estratégias foram feitas da seguinte forma. Buscamos no texto traduzido algumas frases, totalizando 20 tabelas de análise, nas quais pudéssemos encontrar as estratégias propostas por Chesterman (1997) nas suas três tabelas (estratégias gramaticais, estratégias semânticas e estratégias pragmáticas). Colocamos o texto de partida e sua respectiva tradução um do lado do outro em uma tabela e destacamos em negrito o termo ou expressão a ser analisado e mencionamos as estratégias que tínhamos encontrado na análise do processo de tradução. 27 3. ANÁLISE DA TRADUÇÃO Neste capítulo trataremos especificamente das estratégias de tradução utilizadas para realizar a tradução do artigo cientifico e também citaremos algumas dificuldades encontradas no desenvolvimento desse processo. Apontaremos as estratégias que foram mais recorrentes, bem como os problemas enfrentados na adaptação de alguns trechos do francês para o português, além de possíveis soluções adotadas para tais problemas. Durante o processo tradutório, foram utilizados diversos recursos, a saber: uso de vários dicionários (convencionais, específicos, visuais) e auxilio da internet, tanto para busca em sites especializados e confiáveis quanto para o acesso a tradutores automáticos. Uma ferramenta de extrema importância para a tradução deste artigo científico foi a ferramenta de tradução automática Google toolkit, facilitando um pouco mais o trabalho do tradutor. Sentimos a necessidade de revisar o texto final na busca de aperfeiçoá-lo. Ainda assim encontramos, de modo geral, dificuldades externas (temporal e espacial) e internas (estrutural e lexical) ao texto. Também devemos citar as dificuldades encontradas no texto de partida em relação a orações muito longas que complicavam um pouco a tradução para o português. Assim, foi necessária, por vezes, a quebra do período para facilitar a compreensão do leitor no texto de chegada. A partir de agora, passaremos a analisar cada uma das 20 tabelas com um trecho do texto de partida e a tradução para o texto de chegada de acordo com as estratégias de tradução de Chesterman (1997). Para uma melhor visualização, destacamos em negrito os trechos analisados nas frases. La première question qu'il convient A primeira pergunta que deve ser feita em de se poser à un colloque réuni pour um débattre des services que la théorie benefícios que a teoria pode trazer para a peut apporter à la pratique est de prática é se realmente há dois campos de savoir ação s'il existe réellement deux colóquio realizado claramente para definidos discutir em que os se 28 champs d'action nettement délimités separariam respectivamente teóricos e os dans profissionais lesquels s'isoleraient da prática, a distinção respectivement les théoriciens et les implicando que estes últimos não saberiam praticiens, la distinction impliquant teorizar, ao passo que os primeiros só que les seconds ne sauraient pas saberiam teorizar. théoriser alors que les premiers ne sauraient que théoriser. Observamos nesta primeira análise a utilização de importantes estratégias de tradução. Poderíamos utilizar instantaneamente a tradução literal, a mais fácil e simples, mas não seria uma leitura muito corrente para o leitor do texto de chegada. Então tivemos que fazer algumas transformações. Na primeira parte em destaque “qu’il convient de se poser” optamos pela tradução “que deve ser feita” por acharmos que seria mais inteligível ao leitor do artigo. Utilizamos a estratégia gramatical deslocamento de unidade (G4), na qual escolhemos outro conjunto de verbos para expressar o sentido da frase no texto de chegada. Ainda no âmbito da frase, outra estratégia se faz notar, por exemplo, a paráfrase (S8), sendo ela do campo da semântica. No caso de “les praticiens” no texto-fonte em língua francesa, optamos pela não utilização do termo imediatamente óbvio que seria a tradução para “prático”, mas nesse caso como se tratava do profissional da prática, aquele que trabalha traduzindo e não teorizando, decidimos alongar o termo para “profissional da prática”, tradução que não causaria um estranhamento em sua leitura no texto de chegada, diferentemente de “prático”. Conclui-se mais uma vez que seja a estratégia gramatical de Deslocamento de unidade (G4), por traduzir uma palavra no texto de partida, diferente no texto de chegada. E semanticamente parafraseando o termo para o português, ‘alongando seu sentido. Outro exemplo de deslocamento de unidade (G4), pois as traduções das palavras em português continuam no campo sintático. Traduzimos então, “les seconds” por “estes”, fazendo referência aos profissionais da prática. Seguimos o mesmo raciocínio na tradução de “les premiers”, vertendo a palavra para 29 “aqueles”, fazendo referencia a teóricos. Notamos aqui a estratégia mudança de esquema (G10) pela tradução para “este e aqueles”(pronomes demonstrativos). Un examen attentif du travail du Uma revisão cuidadosa do trabalho do praticien montre en tout cas que celui- profissional da prática mostra, de qualquer ci témoigne d'un degré considérable forma, que ele detém um nível considerável de théorisation. de teorização. Veremos agora em “un examen” e “uma revisão”, temos um exemplo de sinonímia (S1). Decidimos traduzir “attentif” por “cuidadosa” guardando a concordância no português. A tradução de um termo que está no masculino no texto de partida para um termo feminino que estará no texto-alvo. Neste termo já sentimos uma dificuldade maior em traduzi-lo, que é o caso de “celui-ci temoigne” sendo sua tradução mais literal a “este testemunha”, que não teria uma boa fluidez de leitura no texto traduzido. Optamos pela tradução em “ele detém”. Nesta situação optamos pelo uso do sujeito “ele” ao invés de “este”. No campo da semântica podemos dizer que é uma paráfrase (S8) e no campo gramatical, mais um exemplo de deslocamento de unidade (G4). ..c'est à la réussite de l'opération de ...é ao sucesso do processo de tradução que traduction qu'il convient d'accrocher la convêm atrelar as reflexões teóricas. réflexion théorique. Aqui nesta situação de tradução preferimos verter a frase para o texto de chegada utilizando o plural. Então, desenvolvemos assim o processo tradutório da frase de “la réflexion théorique” por “as reflexões teóricas.” Tratamos desta forma a tradução por entender, de acordo com a nossa leitura e experiência em tradução, que não fazemos somente uma reflexão sobre o processo de tradução. Aqui, lançamos a opinião do tradutor. 30 Como esta estratégia não está nas descrições das outras 9 estratégias semânticas, consideramos que poderia ser contemplada em outras mudanças semânticas (S10), garantindo o enquadramento em uma estratégia. Podemos enquadrá-la na estratégia gramatical de mudança estrutural de frase (G5), pela mudança de singular para plural. Claude Bernard, parlant en médecin Claude Bernard, falando como médico, dizia praticien, disait de la théorie qu'elle que a teoria era "a hipótese verificada depois était «l'hypothèse vérifiée après qu'elle de ter sido submetida ao controle do ait été soumise au contrôle du raison- raciocínio e da crítica experimental". Ele a nement et de la critique confrontava com a doutrina que "procede expérimentale». Il l'opposait à la por afirmação e por dedução puramente doctrine qui « procède par affirmation lógica." et par déduction purement logique». Aqui podemos notar que houve uma subtração de um termo do texto de partida “médecin praticien”, pois adotamos somente “médico”. Houve esta perda do termo em francês “praticien”, mas acreditamos que não houve prejuízo no sentido da frase. Acreditamos ser o caso da estratégia pragmática de mudança de informação (PR3). Omitimos a tradução do “praticien” por acharmos irrelevante sua participação. Então optamos pelo termo mais geral “médico”, incidindo também, a nosso ver, na estratégia semântica hiperonímia (S3). Já na próxima análise decidimos mudar a tradução óbvia do verbo em francês que seria opor por outro, ficando desta forma: “Il l’opposait à la” pela tradução em “ele a confrontava com”. Não deixa de ter um patamar formal e cremos que a frase com este verbo fica mais compreensível. Outra possível tradução que não podemos deixar de salientar seria “ele a opunha”, mas não seria algo tão comum para uma melhor fluidez do texto e mesmo sendo o pretérito imperfeito o tempo verbal em ambos os casos. Portanto, podemos afirmar que se trata da estratégia semântica de sinonímia (S1) e não deixa de ser uma tradução literal(G1). 31 Nous avons là deux exemples Temos dois exemplos extremos. De um poussés à l'extrême, d'une part une lado, uma prática que não sabe explicar o pratique qui ne sait pas s'expliquer sur que faz, do outro lado, uma doutrina tão ce qu'elle sait faire, d'autre part une arraigada que de não considera a se questionar se doctrine si fermement ancrée qu'elle possibilidade ne songe pas à se remettre en cause afirmando explicitamente. en s'affirmant explicitement. Observa-se que, em alguns casos de processo tradutório faz-se necessário subtrair uma palavra que não terá relevância no contexto, que no francês pode dar uma certa ênfase, mas na língua de chegada não faz diferença. Vejamos “Nous avons là deux exemples poussés à l'extrême” transformamos em “Temos dois exemplos extremos”, retiramos o adjetivo masculino singular “poussés” e o “nous” como sujeito da frase. Temos a estratégia pragmática de tradução parcial (PR7), pois nesta situação reduzimos um pouco a frase do texto de partida. Não seria o caso de mudança de informação (PR3) por acreditarmos que os termos retirados não são considerados importantes no enunciado. Temos a seguir uma estratégia semântica que chamamos de paráfrase. Tivemos uma dificuldade maior em relação à compreensão da frase “une doctrine si fermement ancrée qu'elle ne songe pas à se remettre en cause en s'affirmant explicitement.”, frase com vários verbos em um enunciado bastante complexo, tanto para nossa prática como para os tradutores automáticos que não ajudam nesta hora. Então pensamos em fazer algumas reduções e ignorar alguns componentes para facilitar a compreensão. Valemo-nos da paráfrase (S8) como estratégia semântica e a estratégia gramatical de mudança estrutural de frase (G5). Assim chegamos a esta frase em português “uma doutrina tão arraigada que não considera a possibilidade de se questionar se afirmando explicitamente”. Dessa forma acreditamos que esta tradução não apresenta prejuízo para o sentido da frase no texto de chegada. 32 Le reproche essentiel que le praticien A principal crítica que o profissional da peut faire aux théoriciens qui font pratica abstraction de la pratique est que, abstraem a prática é que, deixando de laissant inexprimée leur hypothèse de expressar sua hipótese de partida, eles são départ, ils sont dans l'incapacité de la incapazes de verificá-la. pode fazer aos teóricos que vérifier. Nesta frase “théoriciens qui font abstraction de la pratique” tivemos o cuidado em traduzi-la para “teóricos que abstraem a prática” mudando a expressão em francês faire abstraction pelo verbo abstrair em português, fazendo uma transposição (G3) do substantivo “abstraction” para o verbo conjugado “abstraem”. ...sans parler de la linguistique des ...sem falar da linguística textual que textes estuda as estruturas transfrásticas da qui étudie les structures transphrastiques de la langue. língua. Apresentaremos aqui a titulo de aprendizado um exemplo de tradução literal (G1) uma tradução que corresponde a quase todos os termos da língua francesa no texto de partida para a língua portuguesa (no caso, português do Brasil) no texto-alvo, exceto a transposição de “des textes” por “textual”, caso de sinonímia (S1). Resultando em “... sans parler de la linguistique des textes qui étudie les structures transphrastiques de la langue.” para “...sem falar da linguística textual que estuda as estruturas transfrásticas da língua.”. Parallèlement deux chercheurs Paralelamente, dois pesquisadores canadiens, Jean Delisle à l'Université canadenses, Jean Delisle da Universidade de d'Ottawa et Denis Juhel à Fredericton Ottawa e Denis Juhel em Fredericton e agora et maintenant Laval, dégageaient de Laval, chegavam a uma conclusão 33 leur enseignement une optique semelhante em suas atividades de ensino. identique. Nesta situação mudamos a frase no texto original para o texto de partida. Às vezes notamos que algumas inversões são necessárias para uma melhor fluidez e um bom entendimento do texto. Fizemos uma simples mudança, mas a semântica da frase continuou a mesma. Houve a mudança de estrutura da frase com “dégageaient de leur enseignement une optique identique.” pela tradução “chegavam a uma conclusão semelhante em suas atividades de ensino.”. Optamos aqui pela estratégia gramatical de mudança estrutural de frase (G4). Assim traduzimos a frase de uma forma mais direta e compassada no texto de chegada. Cette double la Este duplo componente da compreensão se compréhension se fond en un élément funde em um só elemento: o sentido do dizer. unique le sens du dire. À la lecture Ao ler um texto ou ao ouvir um enunciado, d'un o tradutor que compartilha, da mesma forma texte ou composante à de l'audition d'un discours, le traducteur qui partage, au que o destinatário da mensagem,... même titre que le destinataire du message... Nesse caso, trocamos um substantivo abstrato em francês por um infinitivo no português, pois nesta situação não seria uma leitura tão comum para os leitores do texto de chegada. Vejamos algumas possibilidades de tradução: “Na leitura de um texto ou na audição de um discurso”. “Ao ler um texto ou na audição de um discurso”. “Ao ler um texto ou ouvindo um discurso”. “Ao ler um texto ou ao ouvir um discurso” Optamos pela ultima, por guardar a estrutura da frase e uma melhor fluidez na leitura. Estratégia de tradução chamada transposição (G3), saindo de substantivo na frase em francês “Á la lecture” para a tradução em português “Ao 34 ler” e “à l'audition” para “ao ouvir”. Para guardar o paralelismo da oração com os dois substantivos, decidimos utilizar os verbos “ler e ouvir” no infinitivo, mantendo o paralelismo dentro do período. Podemos citar a estratégia mudança de esquema (G10) por incorporar o paralelismo, permanecendo com uma estrutura semelhante. Caso também de sinonímia (S1). par rapport aux contenus sémantiques em relação aos conteúdos semânticos da de la langue, et d'autre part par rapport língua, e por outro lado em relação às aux implications que comporte tout implicações envolvidas em qualquer troca échange verbal, inférences et sous- verbal, inferências e subentendidos que se entendus qui se greffent sur le sens inserem no mais restent inexprimés. expressas. sentido, mas não são Neste quadro observaremos duas traduções em destaque, a primeira é um caso de estratégia gramatical transposição (G3) – “que comporte” optamos pela escolha de “envolvidas”, achamos “que comporta” uma utilização não muito corrente em português. Na ultima frase em negrito temos “mais restent inexprimés.” e sua respectiva tradução em português “mas não são expressas”, mais um caso de deslocamento de unidade (G4) por traduzir a unidade de uma forma diferente no texto-alvo e um caso de estratégia semântica paráfrase (S8) por desenvolver uma versão diferente no texto de chegada. La traduction situe ainsi son domaine Tradução situa assim seu domínio entre a entre celui de la sémantique et celui semântica e a exegese, não sendo nem de l'exégèse, elle n'est ni trans- glosa nem transmutação de línguas. mutation des langues ni glose. 35 Tratamos aqui nesta situação da supressão de um termo do texto de partida em língua francesa para a tradução em português. Achamos desnecessária a tradução e repetição de “celui” no texto de chegada. Então decidimos desenvolver a versão somente desta forma: “celui de la sémantique et celui de l'exégèse” para “semântica e exegese”, simplesmente colocando os substantivos, retirando os “celui de” e permanecendo com o paralelismo no texto de chegada. Interessante que o tradutor automático Google toolkit ofereceu esta possibilidade de tradução para o texto. Como são palavras semelhantes nas duas línguas em questão, foi feita a tradução literal (G1) e utilizada a estratégia gramatical mudança estrutural de frase (G5). No segundo segmento destacado em negrito na tabela, temos a eliminação do sujeito (pronome pessoal) “elle n’est ni” e o transformamos em um gerúndio acompanhado de uma negação, ficando assim “não sendo nem”, identificando um deslocamento de unidade(G4). Nous avons baptisé compléments ... Denominamos de cognitifs les éléments qui contribuent complementos cognitivos os elementos que au sens du discours contribuem para o sentido do discurso, Levamos em consideração neste caso uma escolha mais simples e comum no português, diferente da escolha da autora no texto de partida. Em algumas partes do texto de partida temos sentimento de informalidade no discurso quando ela cita algumas histórias e casos. Claro que não é o caso por se tratar de um artigo cientifico, devendo guardar o máximo de formalidade e prezar pelo discurso acadêmico. A tradução literal para “Nous avons baptisé” seria “nós batizamos” ou somente “batizamos”. Achamos que daria um melhor desenvolvimento à leitura o “Denominamos”. Notamos aqui uma mudança estrutural de frase (G5). 36 Prenons à titre d'exemple, l'expression Tomemos, como exemplo, o termo russo "S russe « S vami Bog» (littéralement : Vami Bog" (literalmente: "convosco, Deus"); «avec vous, Dieu»); imaginons qu'elle imaginemos que ele seja usado por um soit utilisée une fois par un dirigeant dirigente russo e por um dignitário da igreja soviétique, une autre fois par un católica, dignitaire de l'église catholique, Vemos aqui claramente um exemplo de estratégia de tradução gramatical que chamamos de empréstimo (G2), pois era necessária a incorporação dele ao texto de chegada, a saber: “ S vami Bog”. Como este termo teve uma explicação posterior, tivemos que conserva-lo no texto de chegada. Observando agora nossa segunda análise em destaque “dirigeant soviétique” optamos por colocar nesta situação de tradução, por ser um termo ultrapassado e em desuso (soviético), que faz menção a antiga União Soviética (URSS), a tradução “dirigente russo”. Pois, é um termo mais moderno e se refere à Rússia, antiga URSS. Sendo um caso de sinonímia (S1) e porque não considerar uma tradução literal (G1). En montrant que cela n'est pas le cas, Como não é o caso, a prática mostra a sa pratique révèle la différence entre les diferença entre as significações estritamente significations strictement linguistiques linguísticas des paroles échangées et le sens sentido qu'elles prennent en situation. das que palavras trocadas tomam e o quando contextualizadas. Na frase marcada em negrito “et le sens qu'elles prennent en situation.”, transformamos a frase em “e o sentido que tomam quando contextualizadas” . Nesta situação, escolhemos a tradução do termo “en situation” por “contextualizadas”. Podemos dizer que recai na estratégia gramatical que se chama transposição (G3) mudança de classe de palavra do texto-fonte para o texto de chegada sem nenhuma mudança semântica. 37 Ici prononcé au colloque de Toronto Aqui (ici), dito, no colóquio de Toronto têm aurait été compris comme désignant le sido entendido como se referindo ao Old Old Dining Hall de Glendon College, Dinning Hall de Glendon College, Hoje aujourd'hui le 23 mai 1980, vous les (aujourd'hui),23 de maio de 1980, os participants réunis dans cette salle, senhores (vous) como os participantes etc. reunidos nesta sala, etc. Nesta situação de processo tradutório, achamos necessário para manter a compreensão no texto-alvo a adição do termo em francês, porque estava sendo citado na explicação da autora, é uma informação a mais para o leitor. Conservamos o nome do local do colóquio “Old Dinning Hall de Glendon College”. Deparamo-nos aqui com as estratégias empréstimo/calque (G2). O mesmo acontece em “Aqui (ici)”, “Hoje (aujourd'hui)”, “os senhores (vous)”, adicionamos a tradução e o termo traduzido, acreditando serem relevantes ao texto de chegada esses acréscimos. Poderíamos também citar a estratégia pragmática de mudança de visibilidade (PR8), aparecendo de forma tímida a presença tradutória. L'orateur adapte quantitativement son Ele adapta quantitativamente seu discurso ao discours connaissances conhecimento permanente que avalia ser de permanentes qu'il suppute chez son domínio de seu interlocutor; o implícito é interlocuteur; l'implicite est véhiculé transmitido com explícito, constituindo um avec complemento cognitivo que, por sua vez, aux l'explicite, constituant un complément cognitif qui fusionne à son forma um sentido para os destinatários tour en un sens pour le destinataire iniciados. initié. Nesta circunstancia de tradução, encontramos uma série de dificuldades em caracterizar qual seria a estratégia utilizada pelo tradutor. A tradução do termo francês “chez” sempre causa um pouco de complexidade em algumas traduções, neste artigo não seria diferente. Observemos a tradução de 38 “qu'il suppute chez son interlocuteur” para “que avalia ser de domínio de seu interlocutor”. Então decidimos optar pela adição de “ser de domínio” no texto de chegada. Dessa forma, vemos a estratégia de deslocamento de unidade (G4) ao traduzirmos “chez” por “ser de domínio”, sendo uma unidade do texto de partida, traduzida como uma unidade diferente no texto de chegada. Já na tradução da frase “pour le destinataire initié.” por “para os destinatários iniciados.”, adotamos a tradução dos termos do singular para o plural por perceber que é mais corrente seu uso na língua portuguesa. Julgamos que não seria o caso de traduzir para “destinatário iniciante”, podendo causar um estranhamento na leitura do texto de chegada. Assim, visualizamos aqui outras mudanças semânticas (S10), por apresentar uma mudança de um vocábulo do singular para plural, sendo uma estratégia diferente das já nomeadas. Au bagage cognitif permanent A bagagem cognitiva permanente se agrega s'ajoutent ainsi les éléments cognitifs aos elementos cognitivos fornecidos pelo apportés par le discours lui-même et próprio discurso, constituindo complementos constituant des compléments cognitifs cognitivos sendo absorvidos apenas por que seuls peuvent saisir ceux qui l'ont aqueles que seguiram do começo ao fim. O suivi de bout en bout. Le traducteur tradutor toma consciência desse processo, o en prend conscience, à qui l'on donne mesmo tradutor a quem se solicita traduzir parfois à traduire des segments de segmentos de texto que ele não conhece o texte dont il ne connaît pas le début ! começo! Temos nesta situação um exemplo de estratégia semântica de mudança de tropos (S9), na qual temos a expressão francesa “de bout en bout” e a tradução feita em português “do começo ao fim”, a qual acreditou ser a melhor escolha no texto de chegada. Ainda neste caso, entendemos observar a estratégia pragmática filtro cultural (PR1) pela adaptação feita em português. Analisando a próxima frase em destaque – “à qui l'on donne”, decidimos por utilizar a estratégia de tradução semântica dita como paráfrase 39 (S8). O resultado no tradutor automático não foi de grande relevância, outros sites de tradução confiáveis e outros artigos científicos se aproximaram, mas não foram suficientes para suprir esta carência de vocabulário. Logo, decidimos de acordo com o sentido, parafrasear, resultando na tradução de “o mesmo tradutor a quem se solicita”. Dissociant intégralement les deux Ao dissociar a completamente tradução pode as duas langues, la traduction peut respecter línguas, respeitar as les contraintes imposées par le génie restrições impostas pela essência da língua de la langue d'expression. de expressão. Notamos neste primeiro destaque que não preferimos a tradução que seria obvia da língua francesa para a portuguesa no caso de “Dissociant intégralement” para “Ao Dissociar completamente”. Na tradução adotamos o infinitivo dissociar seguido de “completamente” o sinônimo de “intégralement”. Respectivamente a estratégia gramatical de transposição (G3) por sair do gerúndio para o verbo no infinitivo e a estratégia semântica sinonímia (S1). L'écrit en revanche, rémanent par Por outro lado, a escrita remanente por définition, défie les siècles et les definição, desafia o tempo e as distancias, kilomètres de sorte qu'on ne sait pas de forma que não se sabe sempre em toujours dans quelles circonstances un que circunstâncias um texto foi produzido, a texte a été produit, que l'on ignore les que eventos se refere ou o assunto de que événements auxquels il se réfère ou trata. la matière dont il traite. Nesta tradução optamos por utilizar a estratégia de mudança de estrutura de frase (G5), onde desenvolvemos a tradução de “L'écrit en revanche, rémanent par définition” para “Por outro lado, a escrita remanente, por definição ”. 40 Colocamos “por outro lado” no começo da frase e ligamos o seu sujeito ao adjetivo, alteramos a disposição no texto de chegada para dar ainda mais importância à palavra ”escrita”. Foi desfeita a estilística em francês e utilizamos a forma direta na frase no texto-alvo. No nosso próximo caso em destaque podemos notar que a frase “que l'on ignore les événements auxquels il se réfère ou la matière dont il traite. ”, traduzida para “a que eventos se refere ou o assunto de que trata.” teve uma redução na frase, mas guardando o mesmo sentido e concordância. Não houve prejuízo de sentido nesta mudança semântica. Esta estratégia se insere em mudança estrutural de oração (G6). Pas plus qu'il ne faudrait théoriser sur Da mesma maneira que não se deve la marche en étudiant un paraplégique teorizar dans son fauteuil roulant, il ne faut paraplégico em sua cadeira de rodas, não se théoriser sur la traduction à partir des deve difficultés sa dificuldades para a sua realização prática; réalisation pratique ; sinon la pratique caso contrário a prática inspira de forma devient mauvaise inspiratrice de la errada a teoria. qui s'opposent à a caminhada teorizar a tradução estudando a partir um das théorie. Nesta expressão em destaque salientamos que nos trouxe certa dificuldade até chegar a tradução em português, que parece até simples, mas tivemos que recorrer a outras traduções de textos acadêmicos para encontrar o termo mais aproximado e também de melhor compreensão para o leitor do texto de chegada. Então de “Pas plus qu'il” para desenvolvermos até “Da mesma maneira que” utilizamos o deslocamento de unidade (G4) ou podemos citar a paráfrase (S8) como estratégia semântica. Isso por não ser a tradução literal a decisão mais acertada a ser tomada, não seria comum a tradução ”não mais do que” neste contexto de artigo cientifico e em começo de frase. 41 Observemos agora esta frase destacada em negrito, parte do textofonte. A frase “devient mauvaise inspiratrice de la théorie.” foi vertida para o português da seguinte forma “inspira de forma errada a teoria.”. Neste caso suprimimos o “devient” da tradução e transformando o “inspiratrice”, que é substantivo no texto de partida para ser verbo no texto de chegada. Usamos a estratégia gramatical de transposição (G3). 42 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho se iniciou da necessidade de desenvolver uma análise de tradução a qual pudéssemos passo a passo visualizar o processo tradutório e as estratégias utilizadas, bem como o interesse no artigo traduzido, por achar o assunto pertinente e interessante. A curiosidade despertada no Curso de Especialização em Formação de Tradutores se encontrou com a curiosidade do pesquisador, que, ainda, está em formação. Trabalhamos e analisamos um texto longo e, por vezes, complexo. E o objetivo não foi somente traduzi-lo, foi além disso. Após a traduzir o texto, analisamos o processo de tradução com suas respectivas estratégias e fizemos algumas considerações dos 20 trechos selecionados. Podemos dizer que o objetivo aqui é avaliar o resultado e compreender o processo tradutório, levando em consideração as estratégias de Chesterman (1997) aplicadas pelo tradutor. Como visto, traduzir um texto em outra língua não é uma tarefa simples como muitos pensam. É um trabalho espinhoso com muitos procedimentos e responsabilidades. Reescrever sentidos em outra língua, mesmo se tratando de línguas advindas do latim, como é o caso do português e do francês, não é uma atividade fácil. Embora se trabalhe mais com a ideia de tradução literal, não se pode somente fazer a mera substituição dos termos, é necessário analisar se, juntos, constroem sentido e são coerentes. No caso do gênero textual artigo científico, foi visto que sua tradução comporta uma relevância, pois divulga e promove o conhecimento nele contido, que poderá dar início a novos estudos e pesquisas. Desta forma, a tradução necessita sempre acercar-se ao seu público-alvo e deve dar condições para que seu leitor compreenda da melhor forma possível o que está lendo. Assim sendo, para se chegar a uma tradução mais aproximada do sentido real do texto de partida, o tradutor necessita sempre estar atento às estruturas da língua de chegada e da língua de partida, deve ter um bom conhecimento dos idiomas com os quais está trabalhando para diminuir os percalços que irá encontrar no caminho. Deve ter ciência de que, no momento da tradução, aparecerão problemas de várias ordens (temporal, espacial, estrutural, 43 lexical, etc.) e que existem diversos caminhos diferentes para alcançar uma solução mais adequada para cada tipo de dificuldade encontrada. Dessa maneira, tendo ciência de que há uma gama de estratégias que poderá utilizar, o tradutor cumprirá o seu trabalho de forma bem mais segura e eficaz. Neste gráfico abaixo temos uma estatística das estratégias mais utilizadas para a tradução do artigo científico “Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique” de Danica Seleskovitch. Pragmática Semântica Gramatical 0 5 10 15 20 25 30 O número maior de ocorrências de estratégias concentra-se no grupo gramatical com 28 casos encontrados nos trechos selecionados, dentre eles: G1 Tradução literal (4), G2 – Empréstimo, calque (2), G3 – Transposição (6), G4 – Deslocamento de unidade (9), G5 – Mudança estrutural da frase (4), G6 – Mudança estrutural da oração (1), G10 – Mudança de esquema (2). Em segundo lugar, temos o grupo semântico também com algumas ocorrências encontradas na análise do texto. Foram encontrados em 16 trechos as estratégias semânticas: S1 – sinonímia (6), S3 – Hiponímia (1), S8 – Paráfrase (6), S9 – Mudança de Tropos (1) e S10 – Outras mudanças semânticas (2). E por último no grupo pragmático foram encontradas somente 3 ocorrências dos 20 trechos escolhidos para a análise. As estratégias pragmáticas 44 descobertas foram PR3 – Mudança de informação (2) e PR7 – Tradução parcial (1). A tradução desse artigo científico em questão estava mais voltada para as questões gramaticais e semânticas do texto de chegada e isso demostra a preocupação em passar para o público alvo um texto mais acessível possível a sua leitura. O texto de partida é realmente uma leitura um pouco complexa para quem não tem muito domínio na língua francesa, porque tem orações longas que dificultam na compreensão do sentido do texto. Já no texto de chegada tentamos amenizar esta problemática, diminuindo as orações em frases para dar uma melhor fluidez a leitura. Mesmo sendo um artigo científico com um campo lexical diferenciado, a tradução para o português ficou bastante inteligível e acesível aos leitores brasileiros. Observou-se que todas as estratégias utilizadas e encontradas na análise foram úteis para a realização da tradução. O caminho para o qual elas apontaram facilitou o processo tradutório. Vimos nas estratégias de Chesterman (1997) boas técnicas de tradução que contribuíram para um bom relacionamento com o texto, solucionando minuciosamente os problemas. As dificuldades se mostraram bem mais amenas, dando ao trabalho uma melhor fluidez. As escolhas que o profissional de tradução faz são variadas e suas inquietudes com o texto são muitas. O tradutor é um misto de vários papéis, como leitor, escritor, crítico, pesquisador e até teórico. Diante do exposto, buscamos neste trabalho de tradução uma ou várias alternativas para traduzir mais adequadamente o gênero textual artigo científico, evidenciando que, de fato, conhecer o processo tradutório confere ao tradutor maior autonomia. Salientamos que não existe uma tradução “perfeita”. Existem, sim, várias maneiras diferentes de transmitir a mensagem da língua de origem para a língua de chegada. Cabe ao profissional de tradução escolher a opção que melhor lhe parece, para fazer com que a sua tradução seja a mais natural possível aos destinatários. 45 Assim sendo, este trabalho é relevante para o campo da tradução de um modo geral, pois expõe a importância de conhecer o gênero do texto que será traduzido e a relevância das estratégias que serão utilizadas para um melhor desenvolvimento do processo tradutório. 46 REFERÊNCIAS ALBIR, A. H.; MOLINA, L. Translation Techniques Revisited: A Dynamic and Functionalist Approach. Meta, v. XLVII, n.4, p.499-512, 2002. ARROJO, Rosemary. Oficina de Tradução: a teoria e a prática. 5 a ed. São Paulo: Ática, 2007. BÁKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: . Estética da criação verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979. BARBOSA, Heloisa Gonçalves. Procedimentos Técnicos da Tradução: Uma Nova Proposta. 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Disponível em: <http://www.larousse.fr/dictionnaires> 49 ANEXOS 50 ANEXO 1 - Texto original Tradução do artigo: Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique Danica Seleskovitch In meta : Journal des traducteurs / Meta : translators jornal, Vol.25, nº 4, 1980, p.401-408 Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique La première question qu'il convient de se poser à un colloque réuni pour débattre des services que la théorie peut apporter à la pratique est de savoir s'il existe réellement deux champs d'action nettement délimités dans lesquels s'isoleraient respectivement les théoriciens et les praticiens, la distinction impliquant que les seconds ne sauraient pas théoriser alors que les premiers ne sauraient que théoriser. Je ne crois pas que cela soit le cas. Un examen attentif du travail du praticien montre en tout cas que celui-ci témoigne d'un degré considérable de théorisation. La réussite pragmatique, point de départ de ta théorisation Pour le praticien, la théorisation consiste le plus souvent à observer ses succès, à découvrir intuitivement ce qui les implique puis à généraliser les modalités de réussite de l'acte en éliminant peu à peu les causes d'échec. C'est cette itération, cette démarche par approches successives, que les Américains appellent «trial and error». On m'objectera qu'il s'agit là d'une pragmatique et non d'une approche thébrique. Erreur; établir une systématique qui mène toujours à la réussite est une théorisation à laquelle il ne manque que l'explicitation. La réussite suppose la découverte des principes qui so nt en cause, même si leur formulation fait encore défaut. J'ai connu un cas extrême de systématisation qui n'atteignait pas le plan de la formulation verbale : au Texas, dans une station expérimentale de culture de l'arachide, on m'a montré un jour un homme qui triait très rapidement des arachides et en faisait deux tas ; chacun de ces tas correspondait à une variété distincte dont l'apparence ne présentait cependant aucune différence avec l'au tre. Aucun procédé scientifique n'avait permis de découvrir ce oui distinguait les graines. La forme, la couleur, le poids, le grain de la cacahuète, son degré hygrométrique avaient été trouvés semblables dans les deux variétés que seule 51 différenciait leur végétation. Mon planteur les distinguait nettement mais était cependant incapable d'exposer les critères selon lesquels il triait. Par cette anecdote, j'entends dire que toute abstraction qui, à partir des données de l'expérience, permet d'agir en obtenant dans des circonstances analogues des résultats analogues est déjà une théorie. Elle n'est pas encore formulée, mais elle pose les fondements de l'étape d'explicitation. Pour le traducteur, pour l'interprète que je suis, c'est à la réussite de l'opération de traduction qu'il convient d'accrocher la réflexion théorique. Prendre un autre point de départ ne peut à nos yeux mener qu'a des spéculations à vide. Peut-on théoriser en faisant abstraction de la pratique? Claude Bernard, parlant en médecin praticien, disait de la théorie qu'elle était «l'hypothèse vérifiée après qu'elle ait été soumise au contrôle du raisonnement et de la critique expérimentale». Il l'opposait à la doctrine qui « procède par affirmation et par déduction purement logique». Pour théoriser sur la traduction il faut, si l'on est d'accord avec Claude Bernard, poser d'abord une hypothèse d'explication du processus de la traduc tion, puis la soumettre au contrôle du raisonnement et de la critique expérimentale. Le reproche essentiel que le praticien peut faire aux théoriciens qui font abstraction de la pratique est que, laissant inexprimée leur hypothèse de départ, ils sont dans l'incapacité de la vérifier. Je prendrai à nouveau à titre d'exemple une anecdote véridique. Une école d'interprétation et de traduction d'une université européenne a mis au point un test d'aptitude à la traduction sans formuler explicitement d'hypothèse sur la nature de l'opération pour laquelle il s'agit de définir une aptitude. Le test consistait à montrer aux candidats une grille de correspondances entre lettres et nombres telle que cidessous : Grille de correspondance a b c d e f g h i ...etc __________________________________ 3 8 2 5 4 1 7 6 9 ...etc 52 Les lettres sont présentées dans l'ordre alphabétique, les nombres dans le désordre. Après qu'ils aient appris la grille par cœur, les candidats recevaient des séries de chiffres dans le désordre, telles que: 7. 4, 2, 14, 5, 23, 4 etc., et il leur fallait placer les chiffres sous les lettres correspondantes. Étaient consi dérés aptes à la traduction ceux qui avaient, dans le temps le plus court, établi le plus grand nombre de correspondances exactes. Ce test était censé mesurer la « vitesse d'apprentissage» — en clair : la vitesse d'apprentissage d'équivalences entre langues qu'il suffirait, une fois apprises, d'appliquer pour traduire. Il y avait là une hypothèse de départ dont l'absurdité n'apparaissait pas prima fade du fait qu'elle était laissée à l'état implicite : traduire, ce serait appliquer des équivalences et apprendre à traduire, apprendre des équivalences. Cette école affirmait une doctrine mais de façon implicite. Nous avons là deux exemples poussés à l'extrême, d'une part une pratique qui ne sait pas s'expliquer sur ce qu'elle sait faire, d'autre part une doctrine si fermement ancrée qu'elle ne songe pas à se remettre en cause en s'affirmant explicitement. Pour en revenir à la traduction, il existe effectivement deux champs d'action distincts : le premier où oeuvrent depuis des milliers d'années des prati ciens qui n'expliquent pas toujours ce qu'ils font ou ne l'expliquent pas de façon convaincante, et le second où oeuvrent, essentiellement depuis quelques décennies, des théoriciens qui ne formulent pas toujours leurs hypothèses de départ et qui les soumettent moins souvent encore à la vérification expérimentale. Les doctrines linguistiques de la traduction Si, en ouvrant un livre ou un journal, en entendant un discours ou une conversation, nous pensions n'y trouver que du français ou de l'anglais, de l'es pagnol ou du chinois, nous poserions l'hypothèse implicite que la seule connaissance que nous mettons en oeuvre lorsque nous tisons ou écrivons, parlons ou entendons parler, est la connaissance de la langue dans laquelle sont composés ces textes ou ces discours. C'est l'hypothèse implicite posée par les théories linguistiques de la traduction. En plein essor depuis Saussure, la linguistique synchronique s'est donné une assise scientifique en dissociant l'étude des langues et de leur fonctionnement de celle de leur emploi (dichotomie langue-parole). Puis à côté d'un approfondissement des travaux sur les mécanismes et le fonctionnement du langage au niveau de la langue, on a vu au cours des trente dernières années se développer la psycholinguistique, la sociolinguistique, les théories de la communication, les recherches empiriques sur les actes de parole et sur les structures de la conversation, sans parler de la linguistique des textes qui étudie les structures transphrastiques de la langue. Toutes ces études 53 dépassent largement le territoire assigné à la langue par la linguistique postsaussurienne, sans pour autant se départir de leur caractère scientifique. En revanche, des structuralistes comme G. Mounin ou R. Jakobson qui ont traité de la traduction humaine sous l'angle du seul fonctionnement de la langue, un générativiste comme N. Chomsky qui a oeuvré indirectement pour la machine à traduire, n'ont pas su voir que pour étudier la traduction, il faut quitter le domaine des systèmes de signes articulés, le domaine de la compétence linguistique neutre d'un « native speaker», pour pénétrer dans celui de l'acte de communication qui est à la fois actualisation de la langue et expression d'une pensée individuelle, le domaine des messages dont la parole est le porteur et qui sont à la fois composés de langue et de contenus cognitifs qui ne s'attachent que fugitivement aux signes linguistiques. L'étude de la traduction exige que soient pris en considération non seulement la compétence linguistique du sujet comprenant et parlant, mais aussi son bagage cognitif et ses capacités logiques. En se contentant de comparer les langues, les doctrines linguistiques de la traduction analysent le résultat de la traduction et non la traduction ellemême ; celle-ci, obligatoirement, précède toute possibilité de comparaison (cf. Delisle 1980). La comparaison est postérieure à l'acte qui la rend possible à ne voir que son résultat, on ne voit que les deux langues en présence, ce qu'on a appelé la langue de départ et la langue d'arrivée, et il était tentant de conclure de la matière linguistique ainsi observée à la convertibilité de cette matière et d'affirmer implicitement que traduire, c'est convertir une langue en une autre. Le grand reproche que l'on peut faire aux doctrines linguistiques de la traduction est de ne pas avoir formulé explicitement cette affirmation qui est leur hypothèse de base, la soustrayant ainsi à la critique du raisonnement et à la vérification expérimentale. La langue de départ n'est pas le point de départ, la langue d'arrivée n'est pas le point d'aboutissement de l'opération que réalise le traducteur. Celui-ci ne perçoit au départ que des contrastes de noir et blanc sur le papier, qu'il interprète à des degrés variables selon ses connaissances : s'il ne connaît que l'alphabet d'une langue (grec ou cyrillique par exemple) il n'y verra que des caractères d'imprimerie, si on lui présente des énoncés hors contexte et hors situation, il n'y verra que les significations que sa connaissance des langues lui permettra de dégager; en revanche, en situation de communication il y trouvera le sens des messages que leur auteur veut transmettre. La théorie interprétative de la traduction Le sens L'avènement du magnétophone, l'invention des bandes magnétiques per- 54 met aujourd'hui l'observation seconde par seconde de la traduction orale (ou interprétation), ouvrant la voie à une étude scientifique du processus de la traduction. Les interprètes de mon équipe de l'ESIT : Karla Déjean, Mariano Garcia-Landa, Marianne Lederer en ont fait abondamment usage multipliant les expériences et les observations pragmatiques et sortant la traduction de la seule comparaison des langues en présence. Parallèlement deux chercheurs canadiens, Jean Delisle à l'Université d'Ottawa et Denis Juhel à Fredericton et maintenant Laval, dégageaient de leur enseignement une optique identique. Qu'il s'agisse de traduction écrite ou d'interprétation orale, les conclusions auxquelles nous arrivons sont les mêmes : comprendre un texte ou un discours ne consiste pas seulement à identifier les contenus sémantiques permanents des signes linguistiques et à saisir la signification qui se dégage de leur combinaison syntaxique en phrases, mais aussi à discerner les éléments cognitifs autres que linguistiques qui, en une situation donnée, s'attachent à l'énoncé. Cette double composante de la compréhension se fond en un élément unique le sens du dire. À la lecture d'un texte ou à l'audition d'un discours, le traducteur qui partage, au même titre que le destinataire du message, les connaissances supposées chez celui-ci par Fauteur, dégage -le sens en une synthèse immédiate des éléments sensibles et des éléments cognitifs en présence. Pour « traduire», il peut dès lors utiliser toutes les ressources de sa langue materne/le car il n'est plus entravé par l'original. L'observation de la pratique ayant permis de poser l'hypothèse que traduire consiste à comprendre un texte ou un discours puis à faire un texte ou un discours qui ait le même contenu dans une autre langue, il s'agissait de vérif ier, en s'appuyant sur des traductions réussies, en quoi consistaient les adjonctions cognitives qui complétaient le sérnantisme des mots et des phrases, et où s'arrêtait le sens par rapport à l'infini de l'univers conceptuel. Le cadre de cette communication ne me permet pas d'entrer dans le détail des analyses publiées ailleurs (Danica Seleskovitch, 1975, 1976, 1978; Marianne Lederer, 1976, 1980; Jean Delisle 1980), qu'il me suffise de dire que l'interprétation de conférence, que je pratique depuis 30 ans maintenant, m'offrait non seulement une grande facilité expérimentale mais présentait en outre l'immense avantage de correspondre à une situation d'énonciation où toutes les composantes de la communication sont présentes et dans laquelle l'on peut constater sur le champ que, si la traduction ne les prend pas en compte, le dialogue des interlocuteurs s'interrompt ou se fourvoie. Une analyse fine de l'interprétation consécutive puis simultanée m’a permis de délimiter le sens, d’une part par rapport aux contenus sémantiques de la langue, et d'autre part par rapport aux implications que comporte tout échange verbal, inférences et sous-entendus qui se greffent sur le sens mais restent inexprimés. La traduction situe ainsi son domaine entre celui de la sémantique et celui de l'exégèse, elle n'est ni transmutation des langues ni glose. 55 Avant d'examiner les éléments qui différencient le sens réexprimé par la traduction, des significations attachées en permanence aux mots et aux phrases, donnons un exemple rapide des frontières entre la traduction et la glose : Le discours qui dirait : « le chat est dehors», n'exprime pas seulement son sens (le mot chat désigne en l'occurrence ma chatte noire qui est petite et nerveuse, qui est tombée dans jour du 5 étage dans la rue, etc., le mot dehors désigne le bout de jardin qui se trouve derrière la cuisine de notre pavillon de Bourg la Reine, etc.), ce discours possède aussi des implications qui ne relèvent plus du dire du locuteur mais de l'intention de sa communication. Le s paroles « le chat est dehors» impliquaient: «il faut le faire rentrer». En effet, ma chatte avait à ce moment-là une blessure à la patte et il avait été entendu qu'on l'empêcherait de sortir pendant quelques jours; il était d'autant plus important de la faire rentrer qu'il pleuvait et que le jardin était boueux... La traduction s'en tient au sens de « le chat est dehors» ; exprimer l'implication « il faut le faire rentrer» serait une glose qui transgresserait le dire de l'auteur du message, et non une traduction qui le respecte. Mais respecter le dire ne consiste pas pour autant à s'en tenir à la signification hors contexte des mots. Ici les mots le chat ont strictement le même sens que « ma chatte noire», le mot dehors le même sens que « dans le jardin» ; si les exigences idiomatiques d'une autre langue l'imposaient, « le chat est dehors» aurait pu être traduit par « la chatte noire est dans le jardin»; le sens du dire original aurait été strictement respecté. En effet si le traducteur ne se confond pas a vec un exégète, il ne se confond pas non plus avec un sémanticien : les éléments sémantiques ne rendent pas compte du sens du discours, qui n'est compris qu'en fonction des éléments cognitifs qui s'y attachent de façon ad hoc. Les compléments cognitifî Nous avons baptisé compléments cognitifs les éléments qui contribuent au sens du discours; ce sont : les interlocuteurs, la situation qu'ils partagent, le moment où ils se parlent, l'endroit où ils se trouvent, les connaissances qu'ils possèdent les uns et les autres et le souvenir qu'ils gardent de ce qui vient d'être dit. Ces éléments, qui s'adjoignent aux mots et aux phrases sans s'y fixer de façon définitive et donc sans devenir partie intégrante des langues, sont pris en compte intuitivement dans chaque échange verbal. La prise en compte de celui qui parle apporte au traducteur un élément cognitif qui teinte en toutes circonstances le contenu sémantique des paroles. La traduction, en apporte la démonstration. Prenons à titre d'exemple, l'expression russe « S vami Bog» (littéralement : «avec vous, Dieu»); imaginons qu'elle soit utilisée une fois par un dirigeant soviétique, une autre fois par un dignitaire de l'église catholique, et voyons ce qu'en donnerait la 56 traduction dans les deux cas. Nous constaterons qu'au lieu d'appliquer des équivalences pré-établies, nous tiendrons compte du sens de l'expression, c'est-à-dire à la fois du contenu sémantique des signes linguistiques et de celui qui les émet. En quittant Bonn il y a une quinzaine d'années après avoir rétabli entre l'URSS et l'Allemagne de l'Ouest un contact rompu depuis 20 ans, Khroutchev prononça en guise d'adieu les mots « S varni Bog» ; l'interprète les traduisit correctement en allemand en disant «. Alles Gute» (Bonne chance ! Good Luck !) provoquant des commentaires dans la presse allemande, qui aurait préféré une traduction plus littérale sans se rendre compte qu'elle aurait impliqué une révision déchirante de l'idéologie des dirigeants soviétiques! En juin 1979, le Pape Jean-Paul II achevait sa visite en Pologne par les mêmes mots en polonais. Il n'avait pas besoin d'interprète entre lui et la foule, mais peut-on imaginer que l'expression, identique dans sa forme linguistique à celle employée par Kroutchev, ait pu être traduite dans quelque langue que ce soit en omettant la notion de Dieu? Le sens de l'énoncé est différent dans les deux cas, dans «S vami Bog» Khroutehev mettait une amabilité, le pape une bénédiction. Si les langues exprimaient le même sens par les mêmes contenus sémantiques, le traducteur pourrait se contenter de traduire les langues. En montrant que cela n'est pas le cas, sa pratique révèle la différence entre les significations strictement linguistiques des paroles échangées et le sens qu'elles prennent en situation. Voyons d'autres t aasfomations en sens de la signification des mots et des phrases. Ici prononcé au colloque de Toronto aurait été compris comme désignant le Old Dining Hall de Glendon College, aujourd'hui le 23 mai 1980, vous tes participants réunis dans cette salle, etc. Ce n'est pas tout. L'orateur adapte quantitativement son discours aux connaissances permanentes qu'il suppute chez son interlocuteur; l'implicite est véhiculé avec l'explicite, constituant un complément cognitif qui fusionne à son tour en un sens pour le destinataire initié. Il y a quelques mois un haut fonctionnaire coréen déclarait littéralement dans sa langue : « Depuis les événements du 26 octobre...» L'interprète coréenne traduisit : « Depuis le 26 octobre, date de l'assassinat du Général Park...» En coréen et en français le sens des paroles était identique, mais en coréen, l'expression postulait la présence d'un complément cognitif qu'en français elle donnait. La pnaportion d'explicite et d'implicite varie constamment dans la communication en fonction du savoir partagé par les interlocuteurs; on voit les traductions en tenir compte, rendant explicite un implicite dont l'absence empêcherait /a constitution du sens, supprimant aussi bien un explicite qui serait redondant. Aucun interprète n'a jamais traduit pour un Français le « Paris, France» américain autrement que par « Paris», et on est choqué lorsque la traduction ne reflète pas les mécanismes du langage, comme celle-ci : « C'est à Paris que siégeaient les principaux organes du gouvernement, le Parlement et la Chambre des Comptes qui correspondait 57 approximativement à l'Échiquier anglais », en exprimant ce qui aurait dû devenir implicite, la traduction fournit un renseignement déroutant pour le lecteur français. Le complément cognitif constitué par l'implicite véhiculé avec l'explicite ne s'explique pas seulement par des connaissances partagées en permanence; le discours suit le fil des associations d'idées de l'orateur et poursuit un objectif rapidement discerné par ceux à qui il s'adresse, chaque argument étant compris en fonction des arguments qui l'ont précédé. Au bagage cognitif permanent s'ajoutent ainsi les éléments cognitifs apportés par le discours lui même et constituant des compléments cognitifs que seuls peuvent saisir ceux qui l'ont suivi de bout en bout. Le traducteur en prend conscience, à qui l'on donne parfois à traduire des segments de texte dont il ne connaît pas le début ! Benveniste a parié de signes vides : les pronoms, les déictiques sont selon lui des signes qui ont bien une fonction grammaticale mais ne se remplissent sémantiquement qu'en situation de parole. La pratique de la traduction apporte à la théorie du langage l'observation qu'en fait aucun signe linguistique n'est plein et que seule la situation de parole le remplit, donnant aux paroles un sens inédit, ad hoc, car jamais ne se cristallise sur les mêmes paroles un assortissement identique de compléments cognitifs. Les compléments cognitifs permettent de découvrir le rapport qui associe dans le discours des signifiants inchangés et des sens toujours renouvelés — et c'est à partir du sens ainsi éclairé que le traducteur trouve l'expression idoine dans l'autre langue. Voilà qui explique qu'à quelques exceptions près, la traduction est création dans l'autre langue et non application d'équivalences préétablies, offrant à l'étude du fonctionnement de la communication humaine un poste d'observation sans égal. Dissociant intégralement les deux langues, la traduction peut respecter les contraintes imposées par le génie de la langue d'expression. La Stylistique comparée du français et de l'anglais de Vinay et Darbelnet et la théorie interprétative de la traduction que j'expose ici sont, on le voit, complémentaires. La Stylistique souligne l'importance pour l'intelligibilité de la traduction du respect de la langue d'expression, la théorie interprétative affirme que l'objet à exprimer ne se dégage pas seulement de la sémantique étroite de la langue mais bien de l'ensemble des éléments cognitifs qui fusionnent avec la partie stable des significations linguistiques, et que la langue d'expression retrouve tous ses droits à partir du moment où le sens est dégagé. 58 Les difficultés de la pratique et la théorie En exposant la théorie interprétative de la traduction, j'ai amalgamé l'oral et l'écrit, l'interprétation et la traduction. L'expérience montre en effet qu'à condition que tous les facteurs de la chaîne de communication soient présents, le processus est le même dans les deux cas ; devant le sens, traducteurs et interprètes réagissent de façon identique, Mais récrit présente une infinie variété de cas que l'oral ignore. Il ne s'agit pas ici du genre des textes — l'oral a ses discours poétiques ou vulgaires, techniques ou philosophiques. etc., mais il connaît toujours les mêmes circonstances d'émission et de réception. L'écrit en revanche, rémanent par définition, défie les siècles et les kilomètres de sorte qu'on ne sait pas toujours dans quelles circonstances un texte a été produit, que l'on ignore les événements auxquels il se réfère ou la matière dont il traite. Quand les compléments cognitifs commencent à faire défaut, le sens des paro les se rétrécit comme une peau de chagrin, jusqu'à atteindre le point zéro avec l'ignorance complète de tout signifié de la langue_ Tous les stades intermédiaires existent en traduction pour des raisons diverses : textes anciens, civilisations aux moeurs différentes, textes techniques à la traduction desquels s'attaquent les diplômés de nos filières de littérature, etc. Alors manquent les connaissances extra-linguistiques qui leur donneraient du sens. Ce sont là des carences souvent dues à une mauvaise conception des processus de la traduction, inéluctables par contre lorsque l'accès aux informations complémentaires est impossible. Les problèmes pratiques que pose la traduction de textes que le traducteur n'appréhende pas comme un lecteur normal sont considérables, parfois insurmontables mais, si graves qu'ils soient, ce ne sont pas des problèmes théoriques. La traduction est un acte de parole; pour en dégager le processus, il faut l'étudier dans son intégrité en présence de tous les éléments qui interviennent en situation normale de communication. Pas plus qu'il ne faudrait théoriser sur la marche en étudiant un paraplégique dans son fauteuil roulant, il ne faut théoriser sur la traduction à partir des difficultés qui s'opposent à sa réalisation pratique ; sinon la pratique devient mauvaise inspiratrice de la théorie. 59 ANEXO 2 - TEXTO TRADUZIDO Tradução do artigo: Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique Danica Seleskovitch In meta : Journal des traducteurs / Meta : translators jornal, Vol.25, nº 4, 1980, p.401-408 Por uma teoria da tradução inspirada em sua prática A primeira pergunta que deve ser feita em uma conferência realizada para discutir os benefícios que a teoria pode trazer para a prática é se realmente há dois campos de ação claramente definidos em que se separariam respectivamente teóricos e os profissionais da prática, a distinção implicando que estes últimos não saberiam teorizar, ao passo que os primeiros só saberiam teorizar. Não creio que este seja o caso. Uma revisão cuidadosa do trabalho do profissional da prática mostra que, em qualquer caso, ele detém um grau considerável de teorização. A conquista pragmática, ponto de partida da teorização. Para o praticante, a teorização consiste mais frequentemente em observar seus êxitos, em descobrir intuitivamente no que isso implica e, em seguida, generalizar as modalidades de êxito do ato, eliminando gradualmente as causas do fracasso. É essa interação, essa busca por aproximações sucessivas que os americanos denominam de "tentativa e erro". Pode-se objetar que é uma abordagem pragmática e não uma abordagem teórica. É um equivoco. Estabelecer uma sistemática que sempre leva ao sucesso é uma teoria que falta apenas a explicitação. O êxito supõe a descoberta dos princípios que estão envolvidos, mesmo que a sua formulação ainda esteja falhando. Conheci um caso de sistematização extrema que não atingia o nível de formulação verbal: no Texas, em uma estação experimental de cultivo de amendoim. Um dia, eles me mostraram um homem que separava muito rapidamente os amendoins, fazendo duas pilhas, cada pilha correspondia a uma variedade distinta, cujo aspecto não aparentava nenhuma diferença. Nenhum procedimento científico tinha permitido descobrir o que distinguia as sementes. A forma, a cor, o peso, o grão de amendoim, seu nível higrométrico eram 60 semelhantes nas duas variedades, que apenas se diferenciavam pela sua vegetação. Meu plantador distinguia claramente, mas era incapaz de explicar os critérios pelos quais ele selecionava. Com esta história, quero dizer que qualquer abstração, a partir dos dados da experiência, que pode agir em circunstâncias semelhantes na obtenção de resultados semelhantes já é uma teoria. Ainda não está formulada, mas estabelece as bases da etapa de explicação. Como tradutora e interprete que sou, é ao sucesso do processo de tradução que convêm atrelar as reflexões teóricas. Tomar outro ponto de partida, a nosso ver, apenas leva a especulações vazias. Podemos teorizar fazendo abstração da prática? Claude Bernard, falando como médico, dizia que a teoria era "a hipótese verificada depois de ter sido submetida ao controle do raciocínio e da crítica experimental". Ele a opunha à doutrina que "procede por afirmação e por dedução puramente lógica.”. Para teorizar sobre a tradução, é preciso, se estamos de acordo com Claude Bernard, primeiramente levantar uma hipótese de explicação do processo de tradução e, em seguida, submetê-lo ao controle do raciocínio e da critica experimental. A principal crítica que o profissional da prática pode fazer aos teóricos que ignoram a prática é que, deixando de expressar sua hipótese de partida, eles são incapazes de verificá-la. Vou dar novamente o exemplo de uma história real. Em uma escola de interpretação e tradução de uma universidade europeia, desenvolveu-se um teste de aptidão para a tradução sem formular explicitamente uma hipótese sobre a natureza da operação, para a qual se trata de definir uma aptidão. O teste era mostrar aos candidatos uma tabela de correspondências entre letras e números como abaixo: Tabela de correspondência a b c d e f g h i ...etc __________________________________ 3 8 2 5 4 1 7 6 9 ...etc As letras são apresentadas em ordem alfabética, os números em desordem. Depois que eles decorassem a tabela, os candidatos recebiam uma série de números em desordem, tais como: 7. 4, 2, 14, 5, 23, 4, etc. E era preciso colocar os números nas letras correspondentes. Eram considerados aptos a traduzir aqueles que, em menor tempo, estabeleciam o maior número de correspondências exatas. Este teste era para medir a "velocidade de aprendizagem" - em suma: a velocidade de aprendizagem de equivalências entre as línguas seria suficiente, uma vez aprendida, aplicar para traduzir. Havia uma 61 suposição cujo absurdo não aparecia à primeira vista, porque ela estava implícita: traduzir seria aplicar equivalências e aprender a traduzir, aprender as equivalências. Essa escola pregava uma doutrina, mas de forma implícita. Temos dois exemplos extremos. De um lado, uma prática que não sabe explicar o que faz, do outro lado, uma doutrina tão arraigada que não sabe se questionar se afirmando explicitamente. Retornando à tradução, na verdade existem dois campos distintos de atuação: primeiro, onde há milhares de anos profissionais de prática que nem sempre explicam o que fazem ou não explicam de forma convincente. Já no segundo, onde trabalham essencialmente nas últimas décadas, teóricos que nem sempre formulam suas hipóteses de partida as quais são com menos frequência submetidas a verificação experimental. As doutrinas linguísticas da tradução Se, ao abrir um livro ou um jornal, ao ouvir um discurso ou uma conversa, pensássemos encontrar somente francês, inglês, espanhol ou chinês, levantaríamos a hipótese implícita que o único conhecimento que processamos quando lemos ou escrevemos, falamos ou ouvimos falar, é o conhecimento da língua na qual são compostos esses textos ou discursos. É a hipótese implícita das teorias linguísticas da tradução. Em plena expansão a partir de Saussure, a linguística sincrônica criou uma base científica, dissociando o estudo das línguas e de seu funcionamento do estudo de seu emprego (dicotomia língua-fala). Em seguida, ao lado de um aprofundamento dos trabalhos sobre os mecanismos e o funcionamento da linguagem no nível da língua, vimos se desenvolver nos últimos trinta anos a psicolinguística, a sociolinguística, as teorias da comunicação, as pesquisas empíricas sobre os atos de fala e sobre as estruturas da conversação, sem falar da linguística textual que estuda as estruturas transfrásticas da língua. Todos esses estudos superam largamente o território atribuído à língua pela linguística pós-saussuriana, sem abrir mão de seu caráter científico. Por outro lado, estruturalistas como G. Mounin ou R. Jakobson que trataram a tradução humana unicamente sob o ângulo do funcionamento da língua, um gerativista como N. Chomsky que trabalhou indiretamente para a máquina de tradução, não souberam ver que para estudar tradução é necessário sair do domínio dos sistemas de signos articulados, do domínio da competência linguística neutra de um “falante nativo”, para penetrar no domínio do ato de comunicação que é, ao mesmo tempo, atualização da língua e expressão de um pensamento individual, do domínio das mensagens em que a fala é o emissor, e 62 que são compostas pela língua e por conteúdos cognitivos que pouco se vinculam aos signos linguísticos. O estudo da tradução exige que sejam considerados não apenas a competência linguística do sujeito entendedor e falante, mas também sua bagagem cognitiva e sua capacidade lógica. Contentando-se em comparar as línguas, as doutrinas linguísticas da tradução analisam o resultado da tradução e não a própria tradução, a qual precede, obrigatoriamente, qualquer possibilidade de comparação (cf. Delisle 1980). A comparação é posterior ao ato que a torna possível; vendo somente seu resultado, constatamos somente as duas línguas em questão, o que chamamos de língua de partida e língua de chegada. Poder-se-ia concluir sobre a matéria linguística observada conforme a convertibilidade desta matéria e afirmar implicitamente que traduzir é converter uma língua em outra. A grande crítica que podemos fazer às doutrinas linguísticas da tradução é a de não ter formulado explicitamente esta afirmação que é sua hipótese de base, afastando-a assim da crítica racional e da verificação experimental. A língua de partida não é o ponto de partida, a língua de chegada não é a finalização da operação que o tradutor realiza. Este percebe no início somente contrastes preto e branco no papel, que interpreta em graus diferentes de acordo com seus conhecimentos: se ele só conhece o alfabeto de uma língua (grego ou cirílico, por exemplo) verá somente caracteres de impressão, se lhe apresentamos enunciados fora de contexto e de situação, ele verá apenas as significações que seu conhecimento das línguas permitirá compreender; por outro lado, em situação de comunicação, ele encontrará o sentido das mensagens que o autor deseja transmitir. A teoria interpretativa da tradução O sentido O advento do gravador, a invenção das fitas magnéticas permite atualmente a observação de segundo por segundo da tradução oral (ou interpretação), abrindo caminho para um estudo científico sobre o processo de tradução. Os intérpretes da minha equipe da ESIT, Karla Dejean, Mariano Garcia-Landa, Marianne Lederer fizeram uso intensivo, multiplicando as experiências e as observações pragmáticas e tirando a tradução somente da comparação entres as línguas envolvidas. Paralelamente, dois pesquisadores canadenses, Jean Delisle da Universidade de Ottawa e Denis Juhel em Fredericton e agora Laval, chegavam a uma conclusão semelhante em suas atividades de ensino. Tratando-se de tradução escrita ou de interpretação oral, as conclusões a que chegamos é a mesma: para entender um texto ou um discurso não é apenas identificar o 63 conteúdo semântico permanente de signos linguísticos e em compreender o significado de sua combinação sintática que emerge de suas frases, mas também em identificar os elementos cognitivos além dos linguísticos, que, em uma determinada situação, estão ligados ao enunciado. Este duplo componente da compreensão se funde em um só elemento: o sentido do dizer. Ao ler um texto ou ao ouvir um enunciado, o tradutor que compartilha, da mesma forma que o destinatário da mensagem, os conhecimentos nele supostos pelo autor, depreende o sentido de uma síntese imediata dos elementos sensíveis e dos elementos cognitivos. Para "traduzir" ele pode usar todos os recursos de sua língua materna, pois o original não lhe é mais um entrave. A observação da prática que permite a hipótese de que a tradução é entender um texto ou um discurso e, em seguida, um texto ou um discurso que tem o mesmo conteúdo em um idioma diferente, fez-se necessário verificar, baseandose em traduções bem sucedidas, em que consistiam as adições cognitivas que completavam o semantismo das palavras e das frases, e onde terminava o sentido em relação ao infinito do universo conceitual. O quadro desta comunicação não me permite entrar em detalhes nas outras análises publicadas (Danica Seleskovitch, 1975, 1976, 1978, Marianne Lederer, 1976, 1980, Jean Delisle 1980), basta dizer que a interpretação de conferência, que eu pratico há 30 anos, deu-me não só uma grande facilidade experimental, mas também tinha a imensa vantagem de corresponder a uma situação de enunciação onde todos os componentes da comunicação estão presentes e em o que pode ser constatar de imediato que, se a tradução não os leva em conta, o dialogo dos interlocutores se interrompe ou se perde. Uma análise detalhada da interpretação consecutiva e depois simultânea me permitiu delimitar o sentido. Por um lado, em relação aos conteúdos semânticos da língua, por outro lado, em relação às implicações envolvidas em qualquer troca verbal, inferências e subentendidos que se inserem no sentido, mas não são expressos. A tradução situa assim seu domínio entre a semântica e exegese, não sendo nem glosa nem transmutação de línguas. Antes de examinar os elementos que diferenciam o sentido ressignificado pela tradução, significações ligadas permanentemente às palavras e às frases. Tomemos um exemplo rápido das fronteiras entre a tradução e a glosa: O discurso que diz: "O gato está lá fora", expressa não só o seu significado, (a palavra gato, significa neste caso, minha gata preta, pequena e nervosa, que caiu um dia do 5º andar na rua, etc, e lá fora designa o fim do jardim atrás da cozinha de nossa casa em Bourg la Reine, etc.), Esse discurso também tem implicações que não procedem mais do dizer do locutor mas da intenção de sua comunicação. A frase "o gato está fora", implica em "é preciso fazê-lo entrar". Na verdade, como minha gata tinha, naquela ocasião, uma lesão na pata, foi combinado que não a deixaríamos sair por alguns dias, era ainda mais importante fazê-la entrar, pois estava chovendo, o jardim estava cheio de lama. A tradução se prende ao sentido de "o gato está fora"; expressar a implicação "é preciso fazê-lo entrar" seria uma glosa que transgrediria o dizer do autor da mensagem, e não uma tradução que respeita esse dizer. Mas respeitar o dizer 64 não consiste em prender-se à significação fora de contexto das palavras. Aqui, a palavra gato tem exatamente o mesmo significado que "minha gata preta", a palavra “lá fora” o mesmo significado que "no jardim", se as exigências idiomáticas de outra língua o impusessem, "o gato está lá fora" poderia ser traduzido como "a gata preta está no jardim" e o sentido do dizer original teria sido rigorosamente respeitado. De fato, se o tradutor não se confunde com um exegeta, ele também não deve ser confundido com semanticista: os elementos semânticos não dão conta do significado do discurso, que apenas é entendido em função dos elementos cognitivos que se ligam a ele de modo ad hoc. Os complementos cognitivos Denominamos de complementos cognitivos os elementos que contribuem para o sentido do discurso, que são: os interlocutores, a situação que eles compartilham, quando falam, onde eles estão, o conhecimento que eles possuem e a lembrança do que guardam do que acabou de ser dito. Esses elementos que se unem às palavras e frases, sem se fixar de maneira permanente e, portanto, sem se tornar parte das línguas são levados em conta de forma intuitiva em cada troca verbal. Levando em consideração que "aquele que fala" proporciona ao tradutor um elemento cognitivo que dá o tom em todas as circunstâncias ao conteúdo semântico das palavras. É o que a tradução traz. Tomemos, como exemplo, o termo russo "S Vami Bog" (literalmente: "convosco, Deus"); imaginemos que ele seja usado por um dirigente russo e por um dignitário da igreja católica, e vejamos no que daria a tradução em ambos os casos. Veremos que em vez de aplicar equivalências pré-estabelecidas, vamos considerar o significado da expressão, isto é, tanto o conteúdo semântico de signos linguísticos e de quem os emite. Ao deixar Bonn, há quinze anos, após restabelecer um contato rompido por 20 anos entre a Rússia e a Alemanha Ocidental, Khrushchev falou essas palavras em sua despedida "S varni Bog" (Boa sorte!), provocando comentários na impressa alemã, que teria preferido uma tradução mais literal, sem perceber que isso implicaria em uma revisão drástica da ideologia dos líderes soviéticos. Em junho de 1979, o Papa João Paulo II encerrou sua visita à Polônia, com as mesmas palavras em polonês. Ele não precisava de intérprete entre ele e o público, mas você pode imaginar a expressão, em linguagem idêntica à sua forma linguística utilizada por Khrushchev, poderia ser traduzida para qualquer idioma omitindo conceito de Deus? O significado do enunciado é diferente em ambos os casos, no "S Vami Bog" de Khroutehev, ele foi amável, já no caso do Papa, uma bênção. Se as línguas expressassem o mesmo sentido pelos mesmos conteúdos semânticos, o tradutor poderia apenas se contentar em traduzir. Como não é o caso, a prática mostra a diferença entre as significações estritamente linguísticas das palavras trocadas e o sentido que tomam quando contextualizadas. Outras transformações podem ser observadas quanto a significação das palavras e das frases. Aqui (ici), dito, no colóquio de Toronto teria sido entendido como se referindo ao Old Dinning Hall de Glendon College, Hoje (aujourd'hui), 23 65 de maio de 1980, os senhores (vous) como os participantes reunidos nesta sala, etc. Isso não é tudo. Ele adapta quantitativamente seu discurso ao conhecimento permanente que avalia ser de domínio de seu interlocutor; o implícito é transmitido com explícito, constituindo um complemento cognitivo que, por sua vez, forma um sentido para os destinatários iniciados. Há alguns meses, um alto funcionário coreano disse, literalmente, em sua própria língua: "Desde os eventos de 26 de outubro..." O intérprete coreano traduziu: "Desde 26 de outubro, data do assassinato do General Park...”. Tanto em Coreano como em francês, o significado das palavras era o mesmo, mas em coreano, a expressão postulou a presença de uma adição cognitiva que apareceu em francês. A proporção de explícito e implícito varia constantemente na comunicação função do saber compartilhado pelos interlocutores, os tradutores sabem avaliar esta proporção, explicitando um implícito que impediria a constituição de sentido, retirando o explicito que seria redundante. Nenhum interprete nunca traduziu para o francês um "Paris, França" americano de outra maneira que por "Paris". A tradução choca quando não reflete os mecanismos da linguagem como esta: “Em Paris estava sediado os principais órgãos do governo, do Parlamento e do Tribunal de Contas, que correspondia aproximadamente ao Tesouro Inglês”. Expressando o que deveria ter ficado implícito, tradução fornece uma informação confusa para o leitor francês. O complemento cognitivo feito pelo implícito transmitida com o explícito, não pode ser explicado apenas pelos conhecimentos compartilhados; o discurso segue a linha da associação de ideias do falante e procura um objetivo rapidamente discernido por aqueles a quem se dirige, sendo cada argumento entendido em função aos argumentos que o precederam. A bagagem cognitiva permanente se agrega aos elementos cognitivos fornecidos pelo próprio discurso constituindo complementos cognitivos sendo absorvidos apenas por aqueles que seguiram do começo ao fim. O tradutor toma consciência desse processo, o mesmo tradutor a quem se solicita traduzir segmentos de texto que ele não conhece o começo. Benveniste menciona os signos vazios: segundo ele os pronomes, os dêiticos são signos que tem uma função gramatical, mas apenas se complementam semanticamente em situação de fala .A prática de tradução traz para a teoria da linguagem a informação de que nenhum signo linguístico é completo e somente se completa em situação de fala, dando as palavras um sentido inédito ad hoc, porque nunca se consolida com as mesmas palavras uma combinação semelhante de complementos cognitivos. Os complementos cognitivos podem descobrir a relação que combina no discurso significantes inalterados e sentidos renovados, e é a partir do sentido assim informado que o tradutor encontra expressão adequada na outra língua. Isso explica que, salvo algumas exceções, a tradução é criação na outra língua e não aplicação da equivalência pré-definidas, oferecendo-se para o estudo do funcionamento da comunicação humana, um posto de observação sem igual. 66 Ao dissociar completamente as duas línguas, a tradução pode respeitar as restrições impostas pela essência da língua de expressão. A estilística comparada do francês e do inglês (La Stylistique comparée du français et de l'anglais) de Vinay e Darbelnet e a teoria interpretativa da tradução que eu apresento aqui, são comentários complementares. A estilística destaca a importância que a inteligibilidade da tradução, do respeito língua de expressão. Afirma a teoria interpretativa que o objeto a ser expresso não flui apenas da semântica da língua, mas também do conjunto dos elementos cognitivos que se fundem com a parte estável das significações linguísticas e que a língua de expressão encontra todos os seus direitos a partir do momento em que o significado é claro. As dificuldades da prática e a teoria Expondo a teoria interpretativa da tradução, amalgamei o oral e a escrita, interpretação e tradução. A experiência mostra que, desde que todos os elementos da cadeia de comunicação estejam presentes, o processo é o mesmo em ambos os casos, diante do sentido, tradutores e intérpretes reagem da mesma maneira, mas a escrita apresenta uma variedade infinita de casos que o oral ignora. Não se trata aqui do tipo de textos - o oral tem seus discursos poéticos ou vulgares, técnicos ou filosóficos, mas apresenta sempre as mesmas circunstâncias de emissão e de recepção. Por outro lado, a escrita remanente, por definição, desafia o tempo e as distancias, de forma que não se sabe sempre em que circunstâncias um texto foi produzido, a que eventos se refere ou o assunto de que trata. Quando os complementos cognitivos começam a falhar, o significado da palavra diminui de forma drástica, atingindo o ponto zero com o completo desconhecimento de qualquer significado da língua_ Todos os estágios intermediários existem na tradução por razões variadas: textos antigos, civilizações de costumes diferentes, textos técnicos em tradução sobre os quais se inclinam os diplomados em literatura, etc. Faltam, então, os conhecimentos extralinguísticos para dar-lhes um sentido. Estão aí muitas das deficiências, devido à má concepção do processo de tradução, inevitáveis, contudo, quando o acesso às informações complementares é impossível. Os problemas práticos da tradução de textos que o tradutor não apreende como um leitor comum são consideráveis, às vezes intransponíveis, mas se eles são sérios, eles não são problemas teóricos. A tradução é um ato de fala, para identificar tal processo, é preciso estudá-lo na sua totalidade, na presença de todos os elementos envolvidos na situação normal de comunicação. Da mesma maneira que não se deve teorizar a caminhada estudando um paraplégico em sua cadeira de rodas, não se deve teorizar a tradução a partir das dificuldades para a sua realização prática; caso contrário, a prática inspira de forma errada a teoria.