Instituições culturais públicas Os governos têm papel importante na economia criativa por sua propriedade e operação de instituições culturais públicas, como galerias de arte, museus e sítios históricos. Eles também são proprietários de patrimônio material cultural significativo, tais como edifícios históricos públicos e coleções de obras de arte, artefatos, etc. Essas responsabilidades culturais do governo deveriam ser vistas como parte integrante da economia criativa, especialmente por causa do papel dessas instituições e atividades que estimulam o turismo, promovem a coesão social e fomentam os aspectos benéficos da diversidade cultural. Como tal, o seu capital e as necessidades de despesas correntes devem ser vistos não como itens dispensáveis dos gastos do governo, mas como contribuição essencial para a vitalidade das indústrias criativas. Investir no desenvolvimento de infraestrutura e capacitação para reforçar e promover o empreendedorismo criativo e transmitir uma mensagem clara para o setor privado de que a indústria criativa é um grande negócio, é uma das funções dos legisladores. Além disso, a estrutura de regulação deve estar em vigor para adaptar as políticas fiscais, a lei de concorrência e os regimes de propriedade intelectual. Trechos do Relatório de Economia Criativa 2010 — Economia Criativa: Uma Opção de Desenvolvimento Viável, das Nações Unidas. Este relatório é fruto de um esforço colaborativo liderado pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) e pela Unidade Especial para Cooperação Sul-Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). 8 A importância das Leis de Incentivo para a cultura Por Mariana Sayad As leis de incentivo à cultura existem no Brasil desde a década de 1990, mas ainda são pouco utilizadas pelos empresários, produtores e artistas por diversos motivos, sendo o principal, o desconhecimento de seus mecanismos e benefícios. Como o próprio nome já diz, estas leis visam incentivar às empresas a patrocinarem projetos culturais, através de isenção fiscal. Há a Lei Federal, conhecida como Lei Rouanet, as Leis Estaduais e em apenas alguns municípios mineiros há a lei municipal de incentivo à cultura. Lei Rouanet A Lei n. 8.313/91, de autoria de Paulo Sérgio Rouanet, foi escrita na época do Governo Fernando Collor de Mello. Em resumo, seu primeiro artigo institui o Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura), com o objetivo de facilitar o acesso à cultura, estimular a produção cultural em todas as regiões do Brasil, valorizar as manifestações culturais, proteger as diversidades das expressões culturais de diferentes grupos da sociedade, preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural, histórico brasileiro, estimular a produção e difusão dos bens culturais e priorizar o produto cultural originário do país. As empresas que patrocinarem projetos culturais, previamente aprovados no Ministério da Cultura (MinC), terão o valor investido abatido do Imposto Renda devido. Atenção, apenas empresas tributadas com lucro real podem patrocinar projetos culturais, o que significa apenas 3% do total de empresas em todo o Brasil. Este é um grande limitador para as empresas brasileiras, que na grande maioria é tributada sobre o lucro deduzido. O funcionamento da Lei Rouanet se constitui dos seguintes passos: 1. Proponente cadastra seu projeto no Sistema Salic Web (atualmente, todo o processo de cadastro de projeto é realizado on-line); 2. Depois de analisado e aprovado o projeto, o proponente recebe uma Guia de Mecenato, em que dá o direito de captar recursos para a realização do projeto; 3. Com esta guia e o projeto, o proponente procura as empresas; 4. Quando uma empresa se interessar, ela patrocina o projeto. A empresa que patrocinar um projeto cultural incentivado pela Lei Rouanet poderá utilizar até 4% do seu imposto devido. Pessoa física também pode apoiar projetos culturais, com até 6% do seu imposto devido. Além da isenção fiscal, há outra grande vantagem, que é a divulgação da marca junto ao projeto. O ideal ao patrocinar projetos culturais, é que estes dialoguem diretamente com a campanha Naturale agosto/setembro - 2013 de marketing e comunicação institucional da empresa, assim, como dizem “é marketing de graça”. A maior problemática da Lei Rouanet atualmente é a forte centralização na região Sudeste do Brasil. Na área de artes cênicas (nas outras áreas de cultura e arte, o cenário não é muito diferente), em 2010, 70% dos projetos aprovados foram da região Sudeste, seguido da região Sul, com 13,4%, Nordeste, 8,3%; Centro-oeste, 6,6% e, por último, a Norte com apenas 1,5% dos projetos aprovados pelo MinC. Quando falamos em porcentuais de captação de recursos, mais uma vez as regiões Sul e Sudeste aparecem em destaque, na área de artes cênicas, as duas regiões somam mais de 90% do total de recursos captados. Para tentar minimizar estas diferenças, a lei já passou por diversas alterações e adequações. Em seu texto original há três mecanismos de apoio: Mecenato, FNC (Fundo Nacional de Cultura) e o Ficart (Fundos de Investimento Cultural e Artístico). Atualmente, apenas o Mecenato funciona. O FNC começou a ser utilizado nos últimos anos, mas de maneira muito tímida ainda. Ele foi pensado para projetos pequenos, que não conseguem captar recursos. A vantagem dele é que o proponente não precisa captar, a verba já sai direto do MinC. Esta foi uma das maneiras encontradas pelo Ministério de descentralizar os patrocínios da região Sudeste do país. Parcerias para captação de recursos Muitos produtores e gestores culturais passam por grandes dificuldades na hora de captar recursos para projetos aprovados na Lei Rouanet. A principal reclamação é a falta de acesso às grandes empresas, que muitas vezes já tem projetos pré-selecionados. O que pouca gente sabe é que as empresas de contabilidade podem ser grandes parceiras na hora da captação, por dois principais motivos: o primeiro é que entendem muito sobre a questão fiscal e o segundo é que têm acesso mais fácil às empresas e podem indicar projetos que tenham como contrapartida a isenção fiscal. Seria mais eficaz ainda esta parceria, se houvesse cursos de capacitação voltados aos contadores sobre leis de incentivo, pois muitos ainda desconhecem como “lançar” o patrocínio na declaração do imposto de renda. Em alguns casos, este lançamento pode ser realizado como “despesa operacional”, mas em outros, isso não é possível. Além disso, os profissionais de contabilidade possuem amplos conhecimentos das empresas que realmente podem patrocinar projetos pela Lei Rouanet e também através das Leis Estaduais de Incentivo Fiscal, que normalmente dão isenção do ICMS devido, o que abrange um número muito maior de empresas disponíveis, mas os valores dos projetos devem ser bem menores do que os projetos da Lei Federal. Concluindo, hoje há uma série de recursos para se realizar um projeto cultural através de leis de incentivo fiscal. As parcerias representam uma ferramenta indispensável para a captação de recursos e realização de bons projetos culturais. Além disso, é preciso investir em informação e profissionalização de produtores e gestores culturais para que o mecanismo de isenção fiscal seja realizado de forma vantajosa para todos. Naturale agosto/setembro - 2013 Mulheres Bordando Minas Em Pedralva no Sul de Minas Gerais, muitas mulheres trabalham na panha de café. Para dar oportunidade de trabalho a elas em época fora da colheita, Eliane Marques criou o "Mulheres Bordando Minas". Ela ensinou 25 mulheres dos bairros Sertãozinho e Pitangueiras a bordarem. Com a temática do café, identidade da região, Eliane cria os desenhos que serão bordados em peças de decoração e de vestuário (para homens, mulheres e crianças), e os envia para estas mulheres que aprenderam a arte do bordado, para que tenham uma fonte de renda no período da entressafra. As mãos ágeis que colhem o café passam a bordar as histórias e a representação da cultura cafeeira e dão vida a peças originais e exclusivas. Segundo Eliane, "Mulheres Bordando Minas trouxe a valorização do artesanato, da identidade do município e a certeza de que vale a pena insistir em desenvolver uma atividade para complementar a renda de comunidades rurais". Elas participaram de desfile de moda em Pedralva e em cidades vizinhas. Mulheres Bordando Minas expande seus horizontes levando não apenas o melhor da arte de bordar, mas a cultura da oportunidade social. 9