CURSO DE APERFEIÇOAMENTO Escola Superior do Ministério Público da União Construção Civil: Segurança e Saúde dos Trabalhadores Carlos Eduardo Ferreira Domingues Auditor Fiscal do Trabalho / MTE Médico do trabalho Brasília, outubro/2013 Construção Civil: Saúde do Trabalhador 1) Introdução 2) Doenças Ocupacionais na Construção Civil 3) Trabalho em Altura 4) PCMSO X Código de Ética Médica 5) Auditoria em PCMSO Introdução Desafios da ST na Construção Civil Informalidade e pequenas empresas Transitoriedade das atividades Baixo nível sócio-econômico dos trabalhadores Introdução Dados estatísticos internacionais USA Construção civil é atividade com maior número de óbitos – 816 (2009) 9,7 óbitos por 100.000 (CC) X 3,3 óbitos por 100.000 (outras atividades) Introdução Dados estatísticos internacionais USA Acidentes de trabalho fatais na construção civil: 34% quedas 16% substâncias ou ambientes agressivos Census of Fatal Occupational Injuries, 2009 US Department of Labour Introdução Dados estatísticos internacionais USA (2009) 3,3 milhões de acidentes de trabalho não fatais e doenças ocupacion. na construção civil 4,3 eventos por 100 trabalhadores 9% dos afastamentos de trabalhadores ocorreram na construção civil Economic News Release Oct 21, 2010 Workplace Injury and Illness Summary US Department of Labour Introdução Dados estatísticos internacionais USA 1990 a 1999 ocorreram mais de 1.000 mortes por pneumoconiose na construção civil Asbestose (702), pneumoconiose carvão (188) e silicose (118) Work-related Lung Disease Surveillance System NIOSH (2012) - CDC Introdução Dados estatísticos nacionais Brasil AT Total AT Típico Doenças Ocupacionais 2010 709.474 417.295 17.177 2011 711.164 423.167 15.083 Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho: AEAT 2011 MTE: MPS, 2012 Introdução Dados estatísticos nacionais Brasil – Construção Civil (quantidade e % do total) AT Total AT Típico Doenças Ocupacionais 2010 55.920 (7,9%) 36.611 (8,8%) 1.052 (6,1%) 2011 59.808 (8,4%) 39.301 (9,3%) 957 (6,3%) Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho: AEAT 2011 MTE: MPS, 2012 Doenças Ocupacionais na Construção Civil Principais agentes Sílica Chumbo Asbestos Ruído H2S – sulfeto de hidrogênio Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sílica (quartzo) Silicose – exposição a sílica livre cristalina O limite de tolerância para poeira respirável: LT(PR) = 8/(%quartzo + 2) mg/m3 O limite de tolerância para poeira total: LT(PT) = 24/(%quartzo + 3) mg/m3 ACGIH – 0,025 / NIOSH – 0,05 / OSHA – 0,1 (mg/m3) Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sílica Exemplo: Poeira respirável = 4,3 mg/m3 --- Sílica livre = 0,039 mg/m3 1) percentual de Sílica (quartzo) = 0,039 / 4,3 x 100 = 0,907% 2) limite de tolerância: LT (PR) = 8 / (0,907 + 2) = 2,75 mg/m3 3) resultado da PR (4,3 mg/m3) está acima do LT calculado Doenças Ocupacionais na Construção Civil Silicose Clínica Crônica (10 a 20 anos de exposição) Acelerada (5 a 10 anos de exposição) Aguda IARC – carcinogênica (grupo 1) Associação com Tuberculose Pulmonar (meses a 5 anos de exposição) Doenças Ocupacionais na Construção Civil Silicose Doenças Ocupacionais na Construção Civil Silicose Doenças Ocupacionais na Construção Civil Silicose Pode ocorrer durante jateamento com areia, uso de britadeira, perfuração de pedras, concreto e granito. Tratamento paliativo broncodilatadores, oxigênio, repouso Doenças Ocupacionais na Construção Civil Silicose PREVENÇÃO: REDUÇÃO DA EXPOSIÇÃO umidificação de processo, coleta instantânea de poeiras MEDIDAS DE HIGIENE ACOMPANHAMENTO MÉDICO E VIGILÂNCIA RX anual e espirometria bienal Doenças Ocupacionais na Construção Civil Chumbo Metal pesado que pode afetar os sistemas nervoso central, cardiovascular, hematológico e reprodutivo e os rins. A absorção é por via inalatória, mas eventualmente pode ocorrer absorção pelo sistema digestivo. OSHA - PEL (permissible exposure limit) = 0,05 mg/m³ NR 15 - LT = 0,1 mg/m³ Doenças Ocupacionais na Construção Civil Chumbo Na construção civil, pode estar associada a atividades como pintura, soldagem e revestimento de tanques. Clínica Aguda (poucos dias de exposição) – encefalopatia aguda Crônica - sintomas iniciais inespecíficos e cólicas abdominais, gosto metálico na boca. Doenças Ocupacionais na Construção Civil Chumbo Exame médico rigoroso acompanhado de exames complementares, incluindo dosagem de Pb, ZPP (zinco protoporfirina) e ácido delta aminolevulínico (ALAu) VR Pb = 40 µg/dl -- ZPP = 40 µg/dl --- ALA(u) = 4,5 mg/g creat IBMP Pb = 60 µg/dl -- ZPP = 100 µg/dl – ALA(u) = 10 mg/g cret Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) Asbesto – grupo de fibras minerais (serpentina e anfibólios) - serpentina = crisotila Baixo custo, resistente a degradação química e térmica, flexibilidade e resistência elétrica. Brasil 3º maior produtor 2º maior exportador 4º maior consumidor U. S. Geological Survey, 2011 Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) Science for a changing world. Informações minerais. Disponível em: http://minerals.usgs.gov/minerals/pubs/country/sa.html Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) Derrame pleural 10 anos Placas pleurais Asbestose 20-40 anos Mesotelioma 35-40 anos Câncer de pulmão 20-30 anos 10- 50 anos Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) IARC – cancerígeno (grupo 1) 1 ano de grande exposição ou 5-10 anos de moderada exposição a asbestos aumento em 2X o risco de CA pulmão Mesotelioma 80% óbito em 12 meses e 95% óbito em 24 meses Mundo (raro) 1-2 por milhão EUA (1975-2004) 1 por 100.000 Figure 1. Posteroanterior radiograph of an asbestos-exposed patient shows a right-sided pleural effusion (arrows). Roach H D et al. Radiographics 2002;22:S167-S184 ©2002 by Radiological Society of North America Figure 2. Posteroanterior radiograph shows extensive calcified pleural plaques (arrows) that affect the chest wall, diaphragm, and pericardium. Roach H D et al. Radiographics 2002;22:S167-S184 ©2002 by Radiological Society of North America Figure 15. Posteroanterior radiograph shows diffuse fine nodular and reticular opacification with irregularity of mediastinal and diaphragmatic contours. Roach H D et al. Radiographics 2002;22:S167-S184 ©2002 by Radiological Society of North America Figure 26. Posteroanterior radiograph shows left-sided lobulated thickening (arrowheads) and pleural effusion (arrow), findings characteristic of malignant mesothelioma. Roach H D et al. Radiographics 2002;22:S167-S184 ©2002 by Radiological Society of North America Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) O amianto na construção civil: pisos vinílicos, telhas, caixas d’água, divisórias, forros, tubulações, vasos de decoração e para plantio e outros artefatos de cimento-amianto e para isolamento acústico ou térmico. LT para fibras respiráveis de asbesto: NR 15 = 2,0 f/cm3 NIOSH / OSHA = 0,1 f/cm3 Doenças Ocupacionais na Construção Civil Asbesto (amianto) Não existe nível de exposição segura para asbesto Prevenção: controle ambiental medidas de higiene BANIMENTO DO AMIANTO Doenças Ocupacionais na Construção Civil Ruído Desafios O nível de ruído varia muito na construção civil. A jornada de trabalho real é, geralmente, diferente da jornada prescrita A associação entre ruído e produtos ototóxicos nunca é considerada Doenças Ocupacionais na Construção Civil Ruído Ototóxicos solventes (tolueno, xileno e tricloroetileno) metais (chumbo) asfixiantes (monóxido de carbono) pesticidas organofosforados (malation) medicamentos (gentamicina e furosemida) Doenças Ocupacionais na Construção Civil Ruído Efeitos do ruído Primários perda auditiva, zumbido, tonteira Secundários HAS, stress Doenças Ocupacionais na Construção Civil Doenças Ocupacionais na Construção Civil Doenças Ocupacionais na Construção Civil Ruído Doenças Ocupacionais na Construção Civil Ruído Como avaliar a saúde auditiva dos trabalhadores na construção civil? Audiometrias PCMSO / PPA Relatório Anual do PCMSO Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) Gás incolor Cheiro de “ovo podre” Inflamável e extremamente tóxico Afeta olhos, vias aéreas e SNC Pode ser gerado por decomposição de material orgânico Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) 0,0004 ppm limiar de reconhecimento 0,01 – 1,5 ppm ovo podre 3-5 ppm máximo incômodo 30 ppm cheiro adocicado Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) 100 ppm perda do olfato com óbito em 48 h 320 ppm edema pulmonar 800 ppm óbito em exposição por 5 minutos 1000 ppm óbito instantâneo Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) Mais pesado do que o ar Na construção civil: espaço confinado atividades em galerias, porões, subsolos atividades em locais inundados ou pantanosos pavimentação asfáltica Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) NIOSH REL 10 ppm OSHA PEL NR 15 Anexo 11 8 ppm 10 ppm Doenças Ocupacionais na Construção Civil Sulfeto de Hidrogênio – H2S (Gás Sulfídrico) Prevenção: considerar a possibilidade de existência de H2S avaliar o ambiente (detector de gases) controle através de medidas de engenharia e administr. uso de EPI Doenças Ocupacionais na Construção Civil Emissão de CAT por Doença Ocupacional Qual a responsabilidade do médico coordenador do PCMSO? Doenças Ocupacionais na Construção Civil RESOLUÇÃO CFM nº 1.488/1998 Art. 3° - Aos médicos que trabalham em empresas, independentemente de sua especialidade, é atribuição: IV - Promover a emissão de Comunicação de Acidente do Trabalho, ou outro documento que comprove o evento infortunístico, sempre que houver acidente ou moléstia causada pelo trabalho. Essa emissão deve ser feita até mesmo na suspeita de nexo causal da doença com o trabalho. Deve ser fornecida cópia dessa documentação ao trabalhador; TRABALHO EM ALTURA Como avaliar o trabalhador? Quais são as exigências legais? Quais exames complementares são obrigatórios? TRABALHO EM ALTURA NR 35 35.4.1.2 Cabe ao empregador avaliar o estado de saúde dos trabalhadores que exercem atividades em altura, garantindo que: a) os exames e a sistemática de avaliação sejam partes integrantes do PCMSO, devendo estar nele consignados; b) a avaliação seja efetuada periodicamente, considerando os riscos envolvidos em cada situação; c) seja realizado exame médico voltado às patologias que poderão originar mal súbito e queda de altura, considerando também os fatores psicossociais. TRABALHO EM ALTURA Sugestão de Conduta Médico Administrativa-SCMA Nº 01/2004 O trabalhador em altura deve ser submetido a cuidadoso exame clínico (anamnese e exame físico) voltado às patologias que poderão originar mal súbito e queda de altura. Nenhum exame complementar, apesar de útil e muitas vezes indispensável, inclusive EEG, ECG, eritrograma e glicemia de jejum, substituem o exame clínico. Associação Nacional de Medicina do Trabalho - ANAMT PCMSO x CEM Norma Regulamentadora 7 7.3 Das responsabilidades Os dados obtidos nos exames médicos, incluindo avaliação clínica e exames complementares, as conclusões e as medidas aplicadas deverão ser registrados em prontuário clínico individual, que ficará sob a responsabilidade do médico coordenador do PCMSO. Código de Ética Médica Resolução CFM Nº 1931/2009 É vedado ao médico: Art. 76. Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade. Código de Ética Médica Resolução CFM Nº 1931/2009 É vedado ao médico: Art. 85. Permitir o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo profissional quando sob sua responsabilidade. Art. 89. Liberar cópias do prontuário sob sua guarda, salvo quando autorizado, por escrito, pelo paciente, para atender ordem judicial ou para a sua própria defesa. § 1º Quando requisitado judicialmente o prontuário será disponibilizado ao perito médico nomeado pelo juiz. Como avaliar a qualidade de um PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional)? PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.2 DIRETRIZES O PCMSO deverá ter caráter de prevenção e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho, além da constatação da existência de casos de doenças profissionais. O PCMSO deve utilizar instrumental clínico-epidemiológico na abordagem da relação entre saúde e trabalho. O PCMSO deverá ser planejado e implantado com base nos riscos à saúde dos trabalhadores, especialmente os identificados nas avaliações previstas nas demais NR. PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.2 DIRETRIZES PPRA - 9.1.3 O PPRA é parte integrante do conjunto mais amplo das iniciativas da empresa no campo da preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, devendo estar articulado com o disposto nas demais NR, em especial com o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PCMSO previsto na NR-7. PPRA PCMSO PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 PPRA NR 9 – 9.3.5.6 O PPRA deve estabelecer critérios e mecanismos de avaliação da eficácia das medidas de proteção implantadas considerando os dados obtidos nas avaliações realizadas e no controle médico da saúde previsto na NR-7. PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.4 DO DESENVOLVIMENTO DO PCMSO O PCMSO deve incluir exames médicos clínicos e complementares admissionais, periódicos, de retorno ao trabalho, de mudança de função e demissionais. Riscos ambientais X Exames complementares Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) Qual trabalhador pode fazer exames periódicos a cada 2 anos? PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.4 DO DESENVOLVIMENTO DO PCMSO A cada 2 anos para trabalhadores entre 18 e 45 anos que não estejam expostos a riscos ou a situações de trabalho que impliquem o desencadeamento ou agravamento de doença ocupacional e que não sejam portadores de doenças crônicas. Anual para todos os outros trabalhadores. Quais os documentos legalmente exigíveis pela NR 7? PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.4 DO DESENVOLVIMENTO DO PCMSO Somente o Atestado de Saúde Ocupacional - ASO (item 7.4.4) e o Relatório Anual (item 7.4.6) são documentos exigíveis. Não há previsão de documento-base do PCMSO. Qual a periodicidade de elaboração do PCMSO? PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.4 DO DESENVOLVIMENTO DO PCMSO O PCMSO só precisa ser renovado quando há alteração no PPRA. Somente o Relatório Anual tem periodicidade. Relatório Anual do PCMSO deve discriminar, por setores da empresa, o número e a natureza dos exames médicos e as estatísticas de resultados considerados anormais PCMSO PRINCIPAIS ITENS DA NR 7 7.4 DO DESENVOLVIMENTO DO PCMSO Como avaliar um Relatório Anual do PCMSO? • • • • Comparar os RA dos últimos 3 anos Identificar os setores com piora nos dados estatísticos Avaliar a consistência dos dados Questionar o médico do trabalho e o engenheiro de segurança sobre os possíveis motivos dessa piora e quais as melhorias propostas PCMSO RESUMO 1) O PCMSO é um programa de prevenção e diagnóstico precoce de doenças ocupacionais. 2) O PCMSO tem que ser elaborado com base nos riscos ambientais descritos no PPRA e esses riscos devem determinar os exames complementares a serem realizados. 3) Os resultados obtidos no PCMSO devem ser descritos no Relatório Anual do PCMSO, o qual é um instrumento de análise da saúde do conjunto dos trabalhadores, assim como uma avaliação das medidas implantadas pelo PPRA. Obrigado pela atenção! Bom curso a todos! Carlos Eduardo Ferreira Domingues [email protected] 24-3347-1868